quinta-feira, 18 de julho de 2024

O peixinho dourado


Naquela manhã, o humilde pescador saiu cedo a procurar sustento, dele e da esposa. Os dois viviam na penúria. Moravam numa palhoça junto de bela praia, onde o mar quase sempre trazia numerosos cardumes de peixes deliciosos. Dessa vez, porém, a facilidade não se repetia. Pescou horas e horas, sem nenhum resultado positivo.

Quando quisera desistir, um peixinho dourado, de tamanho insignificante, veio nas malhas da rede que jogava. Muito pouco, no entanto, para suprir a fome do casal. Nisto, ao segurar entre os dedos o pequenino peixe, uma voz inesperada se fez ouvir:

- Meu bondoso pescador, deixe que eu permaneça vivo - as palavras saíam claras da boca do ser minúsculo. - Para nada sirvo pelo pouco que tenho. E, além do mais, posso ser mais útil vivendo, pois posso atender a todo pedido que o senhor me fizer.

Aturdido com aquela inesperada ocorrência, o pobre pescador quis comprovar aquela promessa que ouvia. Muitas histórias dão notícia de coisas assim - ficou imaginando gênios e outras maravilhas, ao que deve haver uma razão de existir. E um tanto temeroso, de imediato retrucou:

- Peixinho, me disponho a examinar o que dizes. Por isso, primeiro, pedirei que quando eu chegar em casa encontre a mesa posta com pratos dos melhores sabores. Caso atenda ao pedido, devolverei a tua liberdade. Disse e fez prumo de voltar ao lar.

De longe, avistou sua mulher, eufórica acenando da porta de casa, vindo-lhe ao encontro. Dizia que um rico banquete os esperava na sala de jantar.

Enquanto saboreava os manjares, o homem foi contando o que se passava. Daí trataram logo de preparar novo pedido. Iriam morar no palácio mais bonito que houvesse na Terra.

Libertado o peixe, de acordo com a palavra, este passou a servir com fidelidade e constância ao pescador e à sua mulher, agora habitantes de um palácio de sonhos.

Na sequência do tempo, a mulher pretendeu desfrutar da riqueza de uma rainha poderosa, sendo nisso também atendida. Depois, quis ocupar o lugar do papa. O peixe, sem desobedecer, de novo correspondeu à reivindicação que lhe fora apresentada.

Para quem vivia na miséria, sob os cuidados daquele peixinho misterioso, a existência deles se transformara num paraíso. Todo o tempo do mundo era pouco para aproveitar bem os inúmeros presentes recebidos. Notava-se nos dois até um certo fastio pelo tanto de coisas que ganhavam do bom amigo.

Num belo dia, a mulher chegou para o seu companheiro e transmitiu-lhe mais outro dos seus desejos imaginosos. Dessa vez superaria em exigência todas as vezes anteriores, pois ela queria, vejam bem, ocupar a posição mais elevada que existe e desfrutar nada menos do que das funções supremas de ser Deus, o criador do Universo.

O início, o marido reagiu boquiaberto, pois, pelo equívoco do pedido, anteviu os resultados que sucederiam à soberba da esposa. Porém não reuniu forças suficientes de lhe contrariar, seguindo triste com o pedido em direção ao peixinho, no lugar habitual.

Chegou, esperou, esperou... Mas nada de peixe.

Tão só o mar silencioso respondia aos seus insistentes chamados. Dessa vez, o pescador não voltaria mais a rever o servidor fiel. Cabisbaixo, sem planos, na tarde cinzenta daquele dia, retornou à mesma casinha modesta do início da história. Apesar de tudo, no entanto, provara do conceito antigo que diz: Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem.

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