quarta-feira, 31 de julho de 2013

O barraco apertado

A luz dos relâmpagos que entrava pelas frestas da taipa clareou-lhe também o juízo. Manhãzinha cedo e buscaria o velho cigano na procura de conselho. Há muito tempo deixara de visitá-lo, achando que sofrimento afeiçoa o espírito, vem e volta com o sol de cada dia, aprimorando sem precisão de viver ocupando a vida alheia. Mas o cigano gostava de companhia. Bom de conversa, melhor de conselho. Cedo, pois, retornaria ao homem solitário da Várzea Grande.

Família numerosa, sertão de sustento difícil e, depois de tudo, o mais pesaroso que achava, dormiam naquela choça pequena, de quarto e cozinha, uns, no barro, outros, nas redes puídas que restavam; menino novo; o escuro das noites; e as goteiras friorentas por cima, na época de chuvas. Preocupação, nada resolve. Ação, sim.

Agiu. Logo cedo antes de cair no eito, se arrancou, achou o homem esfregando os olhos enquanto curiava a fervura da água do café, acocorado no chão da cozinha. Voz escorrida, o semblante sereno de quem gastou as reservas de pressa e renunciava de juntar coisas perdidas desse mundo. Cumpridas as formalidades, largou num canto as raízes de macaxeira que trouxera de agrado, e desfiou o rosário das amarguras.

O cigano, obsequioso, calado, ouviu toda a história, que para ele nada de novo acrescentava ao passado, calejado nos cortes da experiência. Sob o recolhimento voluntário, tomava a capricho auxiliar as pessoas. Sabia da força que a palavra possui. Clareia estradas, refaz percursos. Pelo tom que escutava julgou o tamanho da dificuldade.

- Pode conseguir uma vaca de bezerro novo? - quis saber o ancião. Ante o aceno positivo, prosseguiu: - Eis aí o jeito. Bote ele dois para dormir no meio da sua família e só volte depois que passados quinze dias.

Decerto sucedeu o esperado. Problema cresceu de volume no mocó já humilde. A dormida antes sofrida se tornou insuportável sob todos os aspectos acrescentados. Porém o pai manteve o trato. No fim dos quinze dias, regressou ainda mais esgotado que da vez primeira, disso não duvidava quando pisou de volta o terreiro do amigo para buscar ajustar conformação.

- Pois agora, meu filho, retire a vaca e o bezerro e sinta o gosto do paraíso em que vocês antes viviam - completou o cigano, assim inteirando a lição.


Só desse modo o homem compreendeu aquilo de se dizer que desgraça pouca é bobagem e dos males o menor. Por vezes, diante das penúrias indescritíveis, o sofrimento se dilui na impossibilidade para sofrer um tanto mais e chega no limite da resistência, igual à bonança que vem no depois das tempestades.

Anos de Chumbo

No bojo das boas notícias deste mês de julho de 2013, o Jurandy Temóteo trouxe à lume obra de fôlego dedicada aos idos de um Brasil recente, Anos de Chumbo: O Movimento Político Estudantil e a Diratura Militar no Crato. Em formato de reportagens acrescidas de entrevistas de algumas testemunhas do Movimento de 1964, esse livro, de 360 páginas, chega sob o selo de A Província Editora e contempla aspectos importantes de fase ainda pouco aprofundada na vida nacional, quando o País viveu experiência de exceção político-administrativa que romperia moldes conceituais da democracia.

De acordo com Fábio Cavalvante Queiróz em texto da contracapa de Anos de Chumbo: Os seus oito capítulos – mais os anexos –refletem e condensam anos de pequisas de arquivo combinadas com uma oitiva de testemunhas que só enriquece o (...) trabalho. Doutro lado, a valorização dos aspectos iconográficos ajuda magistralmente na recuperação dos detalhes de uma época que ameaça escapar entre os dedos da memória.

Eu conheci Jurandy Temóteo logo que cheguei ao Colégio Diocesano do Crato, isso no ano de 1961. Ele editava o jornal O Ideal, cujas redação e oficinas funcionavam numa das dependências do tradicional estabelecimento. Rodeado de outros jovens, confeccionava o jornal a portas abertas, uma escola dentro da outra. Mais adiante, Jurandy fundaria o jornal Folha do Cariri, que, ao lado de A Ação, marcaram época na imprensa interiorana do Ceará.

Ali em O Ideal, pela vi de perto, primeira vez, a prática do jornalismo, o que influenciaria sobremaneira minha juventude e me conduziu a escrever e editar livros, jornais e revistas à sombra desse mestre, o qual, desde bem jovem, vim conhecer e imitar no gosto pelas letras e edições.

Rico de fotografias e comentários, o livro do Prof. Jurandy reflete espírito investigativo que o caracteriza, votado à cultura de nosso meio, havendo preservado valores e nomes importantes da literatura caririense em diversos dos seus livros, considerando também o empenho diuturno que dedica à continuação da revista A Província, ora circulando no 31.º número, coleção que divulga autores regionais e preserva as tradições culturais que deram origem à publicação nos anos 50.


Por isso, face ao lançamento deste livro, Anos de Chumbo, a história regional ganha os palcos do momento cearense e o público agora conta nas mãos com material de ótima qualidade. De parabéns a nossa intelectualidade. 

terça-feira, 30 de julho de 2013

Passar com a verdade

Na tradição popular, existem histórias que perpetuam através dos séculos registros da vida de Jesus os quais passam de geração a geração, suprindo lacunas bíblicas e enriquecendo a imaginação das pessoas de detalhes instrutivos quanto à presença do Mestre divino entre os humanos.

Uma dessas lendas, sem origem definida, por exemplo, narra o episódio da fuga para o Egito, ocasião do morticínio das crianças praticado a mando de Herodes, capítulo abominável daquele período.

Ao notarem a estrela que nascera no Oriente, os reis magos haviam se dirigido a Jerusalém à procura do Rei dos Judeus. Com suas estadas na capital da província, segundo Mateus, Herodes perturbou-se e toda Jerusalém com ele. Por isso, chamou os magos e pediu que voltassem de Belém e trouxessem as notícias de onde nascera Jesus, para que ele também pudesse adorá-lo.

Após as palavras do rei, puseram-se a caminho. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. Ao ver a estrela sentiram grande alegria, e entrando na casa viram o menino com Maria, sua mãe. Prostraram-se, adoraram-no e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra (Mateus, 2, 9-11).

Avisados em sonho, no entanto, os magos deixaram de atender ao soberano.

José, por sua vez, depois de receber avisos de um anjo, pegou Maria e o Menino, e com eles fugiu na direção do Egito.

Nesse meio tempo, vendo-se enganado pelos magos, Herodes mandou executar todas crianças de dois anos abaixo, nascidas em Belém e suas proximidades.

No transcurso da longa viagem, ainda em solo palestino, a Família Sagrada se aproximava de uma barreira policial. Mediante a revista de todos viajantes, aflita, Maria ouviu em si a voz do anjo lhe dizia:

- Passe com a verdade!

Quando abordados pelos romanos, que indagaram do conteúdo do cesto que transportava na lua-da-sela da montaria, ela respondeu:

- Aqui vem uma criança.

Ao ouvir a resposta, os guardas se entreolharam e prorromperam numa sonora gargalhada, enquanto um deles considerava em altos brados:

- Caso fosse mesmo uma criança o que levaria nesse cesto jamais teria a coragem de revelar.


E permitiram que eles continuassem a jornada sem qualquer objeção.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A corrupção que atinge o cotidiano

Através de exemplos que vêm de cima da pirâmide, a corrupção parece querer dominar os costumes. Olhares em volta detectam inúmeros profissionais de enganar os irmãos, o que virou moda nos quadrantes cinzentos sociais. Aonde observar, ali crescem autores da crise moral que solapa resistência das gerações, trajados e falantes, senhores de vida e morte. Do pequenino ao maior, vírus nefasto da ausência de zelo com o bem público infesta partidos, instituições e os poderes da República, estados, municípios, câmaras municipais, tribunais, conselhos, fábricas, mercados, ruas, praças, becos, favelas, subúrbios, num tsunami de proporções apocalípticas, época das tecnologias de ponta que prevalecem a qualquer custo. Jamais, quais agora, autoridades seguem o código dos corruptos, no entanto andam soltos com direitos nunca vistos, a ponto de circular nos voos domésticos e internacionais posando de vestais, mandando e desmandando tudo quanto é lado.

Havia profecias que davam conta do risco disso um dia constranger o mundo, porém ninguém avaliaria chegasse a essas proporções que invadem nações inteiras, sem limites e escrúpulos. O homem lobo do homem exercita instintos e as garras da ferocidade nos esquemas e fraudes de perversões incalculáveis, além da pura violência, porquanto adotam meios desvanecedores e torpes. Gangues avançam descontroladas ao erário das coletividades, simulam correção e vendem imagem de puros às multidões, instrumentos democráticos no serviço dos piores, marca do tempo da enganação desenfreada.

Por mais diga palavras que definam o quadro de miséria ocasionada pelos invasores da alma popular, restam perdidas no fundo das gavetas da burocracia as faces escuras, longe de tocarem o coração de quem possa reverter o quadro endêmico da dor dos pesadelos.
Corruptos afirmam de boca cheia que eles existem de comum acordo com seus adorados corruptores, os mesmos negociadores de votos, aliciadores que aproveitam dos postos de comando a preço de banana, nos turnos eleitorais de triste memória. Poucos, raros, formadores de opinião, talvez disponham da força de modificar o painel do desencanto, tarefa hercúlea, entretanto. Às vezes, merece avaliar que a humanidade cava deste modo e maneira precipícios que neles cairá, segundo as previsões dos videntes nas várias civilizações. Disso, então, passada a procela, nascerá o período sadio na história que constituirá, só então, a honestidade no melhor dos mundos.

Ainda que constem hipóteses dignas de prova no imaginário popular, onda de limpeza moral da raça em vias de contaminação generalizada pede esperança monumental aos valores eternos da bondade. Justiça soberana alimentará a seu jeito preservação da boa vontade no caminho infinito dos séculos em fim, amém.        

O anjo libertador

Clima de extrema repressão dominara a Palestina após o sacrifício de Jesus. Com isso, narra capítulo 12 de Atos dos Apóstolos, um episódio marcante na vida de São Pedro, dessa época encarniçada, quando os primeiros cristãos padeceriam dores cruéis a mando de Herodes, filho do outro Herodes que perseguira o Mestre nos primeiros tempos da sua presença na Terra.

Após haver morto Tiago, este irmão de João, Herodes se voltara contra Pedro, mantendo-o no cárcere para quando viesse a Páscoa; então, o apresentaria ao povo, na intenção de barganhar sua confiança.

Grupos de quatro soldados se revezavam na vigilância ao apóstolo, mantido a ferros em cárcere de estrita segurança. Enquanto na igreja primitiva, sob o império do medo, os seguidores de Jesus se revezam, pedindo a Deus pelo prisioneiro.
Na noite de sua apresentação à turba, como prevista pelo monarca, acorrentado, no meio de dois dos soldados que lhe montavam guarda, dormia Pedro. À porta, as outras duas sentinelas reforçavam a prisão.

No meio de luminosidade intensa, adentrou o recinto escuro da cela um anjo, emissário da glória divina, e, silencioso, se aproximou de Pedro e lhe tocar o corpo a dizer:

- Ergue-te! Vamos embora! Recompõe as vestes, que agora sairemos deste lugar.

Surpreso, livre das cadeias que caíram ao solo, o apóstolo atendeu às providências solicitadas, buscando obedecer ao inesperado visitante.

O episódio bíblico ainda registra que Pedro seguiu mesmo sem compreender que era real o que se fazia por intermédio de um anjo, julgando que era uma visão.

Juntos, passaram pelas duas sentinelas que guarneciam a masmorra, cuja porta se abriu qual em passe mágico, sem precisar de ninguém nela tocar.

Seguiram para logo se verem no lado de fora, à luz fosca das ruas desertas da cidade.

Sob o impacto da ocorrência, Pedro apenas se deu conta de ver o anjo a deixá-lo e sair noutra direção.

Assustando com tamanho prodígio, falando de si para consigo reconheceu a providencial circunstância de sair inteiro das garras do perverso soberano em vista do poder inigualável do Senhor.

Em mais alguns instantes, parado à sombra das casas, considerou o melhor jeito de se livrar dos adversários. Lembrou a casa de Maria onde os irmãos de fé tantas vezes se congregavam, ali guiando os passos. Ao chegar e chamar no portão causou espanto inavaliável.  


Conta o livro que, aos primeiros raios do amanhecer, pânico descomunal se estabeleceu entre os guardas tomados de pânico, temerosos da reação que o desaparecimento do prisioneiro ocasionaria. Interpelados e não justificando a fuga, foram de imediato seriam executados.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Crueldade pedagógica II

Todas as transformações pedem o exercício da prudência, porém bem pouca, ou nenhuma, prudência demonstram aqueles que comandam os destinos da raça dos homens, pelo menos em termos visíveis, quando as doses e os remédios ministrados geram descompasso com a cura que desejam, isto em relação aos tratamentos que administram nas sociedades doentes do momento.

Numa fase histórica quando dificuldades parecem dominar a prática do bom senso, a educação se mostraria qual a alternativa fundamental. Valorização de professores, estabelecimentos, alunos, equipamentos, exigem resultados e firmeza de determinação, consciência limpa e espírito de humanidade, nos níveis elevados da cultura de sobrevivência da civilização decadente.

Ao observar os jovens estudantes submetidos à sanha capitalista, onde o valor principal é a imitação massificada nos países ricos, se identifica algumas punições em consequência da irresponsabildade adotada em razão dos métodos e encamin hamentos. Se é que aprenderam, os mentores não praticam a cultura que indicam as instituições oficiais, haja vista a improvisação que virou a história.
  
Outro dia, presencieii a cena de criança entre 4 e 5 anos recurvada sob o peso de mochila enorme (5 a 7 kg), onde transportava seu material didático, que caiu de costas sacudindo braços e pernas, presa às alças do esquisito paraquedas, sem força voltar a ficar de pé. A imagem que guardei foi de uma tartaruguinha saída do ovo, virada de costas, submetida ao contrapeso do casco, indefesa, a pedir mão amiga que lhe pudesse desvirar.

Para que tanta bagagem sobre ombros tão frágeis? Seria um castigo indireto à fraqueza dos pais, omissos diante da sordidez deste mundo? Existe algo a ser modificado, eu sei que existe, sim; rumos a corrigir; erros a denunciar; que participar das renovações pelos exemplos ativos das pessoas que acreditam em mudança. Existe, busque e encontre na vontade de produzir os tecidos novos dessa colcha esgaçada.  

Coisa alguma justificaria os gastos em livros se só a fim de municiar as editoras apaniguadas, em prejuízo dos filhos; enriquecer trustes editoriais sem computar os excessos, crime continuado, conivência. Às autoridades cabem defender, sobretudo, o bolso do cidadão que lhes delega o poder; fora com as máfias do livro didático e outras mais!


Transigir com a saúde familiar, as matas, a riqueza do subsolo, e, de quebra, empenar o espinhaço dos filhos por conta da ausência de seriedade, nessa época e nesse chão de conformismos, isso dói na alma da gente. 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Intercessão valiosa

Das inúmeras ocorrências verificadas no decurso da Confederação do Equador, no Ceará, idos de 1824, episódio impressionante narrou Esperidião de Queiroz Lima, no livro Tempos Heróicos, que narramos aos que ainda não leram a referida publicação.

Trata-se da execução de um dos sentenciados pelo tribunal militar conhecido por Comissão Matuta, no mês de outubro daquele ano, instalado para punir as hostes rebeldes. Depois de julgados e condenados, cinco líderes republicanos seriam fuzilados no pátio da Cadeia Pública de Icó. Um desses, Antônio de Oliveira Pluma, autodenominado Pau Brasil, conforme sua assinatura no manifesto do movimento, insatisfeito com o resultado a que se via submetido, reagiu em altos brados, protestando misericórdia de quem ali se achava.

Recusara mesmo permanecer de pé, mas, sendo assim, forçaram-no em cordas a se sentar numa cadeira, onde, com olhos vendados, ainda pedia que o deixassem viver.

De nada lhe valeram as rogativas, pois logo em seguida o pelotão recebeu a ordem de preparação:

- Apontar!

E, ante os disparos iminentes, o pânico pareceu querer tomar a alma do condenado em face da morte inevitável, sob o monto de todo o idealismo que até ali dominara os atos de sua razão da existência. Outra vez, um gesto cresceu de sua voz, explodindo mais alto em reclamações de amparo, lançadas aos planos superiores:

- Valei-me, Senhor do Bonfim!

Nisto foi secundado pelo toque de comando: - Fogo!

Cessada a fumaceira, as balas achavam-se cravadas no muro onde o revolucionário permanecera incólume, sacudindo de espanto os presentes. Seguiu-se nova carga de munição. Restabeleceu-se a ordem preparatória, e se fez no ar outro grito de socorro:

- Valei-me, Senhor do Bonfim!

- Fogo! - foi a ordem marcial.
Resultado: o alvo manteve-se intacto. Os tiros voltaram a ferir tão só e apenas o muro, para desânimo da escolta. Em meio do inesperado, tonto, pálido, o comandante reclamava prática melhor de tiro a seus homens, visando manter os praças no cumprimento do dever, tratando de retomar as determinações da próxima tentativa, que foi precedida pelo mesmo grito do condenado, tão pungente quando sincero:

- Valei-me, Senhor do Bonfim!

Os disparos se deram, de acordo com a obediência. Desta vez Pluma fora atingido por algumas balas, mas continuava vivo, segundo narra em seu livro Queiroz Lima.

Os soldados de pronto se movimentavam para um quarto fogo. Nesse instante, a população presente, tocada de simpatia pelo confederado, se ergueu coesa e exigiu o direito do réu ser libertado, qual merecesse o valimento dos céus. Em seguida, essas pessoas levaram-no consigo, alheado e preso à cadeira do martírio, até à Igreja do Senhor do Bonfim, distante cerca de 200m do ponto onde a cena ocorrera, entre preces e benditos fervorosos.

Há registros do ano de 184l que dão conta de que o sobrevivente veio a ser titular da Promotoria Pública da comarca de Baturité, no Ceará, o que bem comprova sua resistência aos ferimentos naquele dia recebidos, na tentativa de execução de que fora objeto e sobrevivera, no município de Icó, 17 anos passados.        

sábado, 20 de julho de 2013

Livre das prisões do passado

Andar em círculo, qual aquilo do peru circassiano dentro do traço de giz no chão, ser o suficiente de restar preso às malhas dos tempos antigos, que de certeza nem existem mais onde quer que queira. Enquanto lá fora viver produz a sucessão dos momentos eternos, repetição do aqui e agora inextinguíveis, sem começo, sem fim. No turbilhão das repetições, o céu abre portas à espera dos retardatários de dramas guardados nas folhas amarelas de memórias apagadas, espécies de insetos aborrecidos em voos monótonos...

Durante as horas alegres da existência, sóis nascendo a todo dia, pássaros alumiando as matas e os edifícios das cidades cinzas de brincadeiras soltas no ar, claridades mil nas cores espalhadas em tudo, música sobrevoando sonhos das vontades, e há ranço enferrujando ainda, que fere o sentimento das estrelas e corrói a fortuna eterna das horas.

Alguns, contudo, insistem noutros mistérios, vagar sofridos no futuro que também ainda não mostrou seu rosto... Prudentes e sábios acreditam nas possibilidades infinitas da consciência dos seres positivos. Eles alimentam certezas de melhores alternativas que nascem das gerações novas, atuais.

Bom, sofrimento gruda nos dentes dos habitantes da Terra devido aos pensamentos deles. Consequência de causas individuais, a dor navega junto das almas que querem sofrer em pensar e, por isso, sofrem. Dominar o pensamento representa, destarte, dominar os sentimentos com relação a si e as 10 mil coisas.  

Escolher cabe ao sujeito dessa história pessoal, isto é, ao titular da conta da consciência. Qualquer resultado representa o desgosto (ou o gosto) da própria pessoa que comanda a orquestra da percepção desse mundo, o eu pequeno, voltado às qualidades grosseiras, ou o Eu de vistas erguidas aos céus.

Logo a seguir, porém, as luzes do instante presente, os universos saborosos de todo meio oferecem o direito de conquistar outros melhores ensaios, além, pois, da rotina das inutilidades dolorosas.

Estirar os braços e abrir as mãos, atitudes invitáveis aos libertos dos cascalhos e ruínas do que virou bagaço nas estradas do Infinito breve da existência.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Em que tudo se resume

Amor, eis o resumo de toda a aventura dos seres humanos, que correm, correm, numa busca desarvorada, contudo exercitam milhares de habilidades e estripolias no entanto reservadas tão aos desencantos. E achar ser isso o fruto principal da vida, nesta ou noutras existências, depois de tantas frustrações e tantos desesperos. O Amor que ativa os sistemas da busca frenética, porém dentro de si reserva essencial que virá à tona cessadas as milhões de vaidades.

Nunca esperar de outros aquilo que já se possui na prática das horas. De olhos fitos no prazer imediato, as sumidades humanas conduzem seus fachos da vitória por trilhas escuras de tentativas inúteis, cheios de empáfia e zelo, nas ações pretensiosas das pistas, largando de lado o valor principal de todo aquele tempo perdido. Batem nas portas de bens materiais e da fama, entretanto perdem o bonde quando veêm as oportunidades sumir pelo ralo da poeira, deixando escorrer a energia de fazer o bem e amar os semelhantes.

Ali perto, nas atividades diárias, os entes aguardam a transformação dos demais, sem saber que transformação de si conta os pontos necessários de vencer todos campeonatos e receber todas medalhas, nessa resenha que acontece nos raramentes das histórias individuais e coletivas.

Há quem descreva a corrida do ouro espiritual, da Estrada de Damasco, da demanda do Santo Graal, isso que resume a senda maior do Amor todos os meses da Eternidade. O desejo de felicidade por isso contém no canto principal a construção dentro de si do Amor, pedra de toque dos alquimistas e razão fundamental das cartilhas da Verdade imensa.

Quiséssemos pois indicar o jeito de tranquilizar a mente dos estresses da civilização dos homens, ali haveria o programa de nutrir as malhas do Amor no coração da gente, lição que significa a plenificação do Ser. E querer jamais justificar ausência de orientação, quando nascemos do amor santo dos amantes e chegamos à entrega física e dolorosa das nossas mães no momento instante doloroso do parto de indefesos filhos.


terça-feira, 16 de julho de 2013

Delitos de audição

No ano de 1969, chegavam os primeiros sinais de televisão ao Cariri, e um pai de família alegava, em alto e bom tom, que não queria televisores em sua residência porque nela só entrava quem ele permitia, expressando assim o motivo que lhe levava a prevenir que recebesse na sua sala intrusos trazidos pela programação televisiva.

Naquele tempo, fase mais tímida do ponto de vista dos quilos tecnológicos de equipamentos de som desenvolvidos nos turnos posteriores, havia menos facilidade para que clandestinos invadissem as intimidades com os esturros tribais dagora.

A paz auditiva de hoje virou gênero de primeira necessidade e raro de obter, máxime as legislações estabelecidas e pouco respeitadas.
Armas perigosas, possantes caixas de som dominam os ares, sob os olhos das autoridades responsáveis pelo assunto, sobretudo movidas a interesses comerciais e doses etílicas eufóricas vaidosas dos fins de semana. Para onde a pessoa se vira, o bicho corrosivo espreita, nas artérias centrais das cidades, nos parques de diversão, terreiros das bodegas, mercearias e bares, permitidos ou não. Carrões dispõem das traseiras cheias de maiores capacitores lesivos, por transportar os elementos do delito com inteira permissão financeira. Invadem lares pelas frestas de portas e janelas, pelas telhas, basculantes, combogós, narizes, bocas e poros, quais insetos cruéis da civilização desses bárbaros modernos agressivos.

Espécie de infecção promulgada nos costumes tortos, isso representa vibriões do tipo psicológico de tortura. Poucos escapam, nas bolas de mato que ainda restam das florestas destruídas. Neurose informe comprime dedos eletrônicos sobre gargantas, cabreiras, impotentes, de um mundo zoadento, em forma de epidemia atual. Existissem apenas os altos brados dessa poluição estrondosa, inconveniente, algo sobraria para agradecer aos céus.

No entanto, de quebra, vai junto outro fator, a estridente má qualidade das peças que transmite a deslavada sem-cerimônia. Talvez por conta disso, ou a título disso, o projeto da música brasileira desapareceu num abrir e fechar de olhos. Até dizer que o que se grava na mídia merece o nome de música deixa a deseja quanto aos valores estéticos e morais.

No auge do desrespeito impune, circula, entre outras violências contemporâneas, um cidadão médio refém da acomodação a que se rendeu e dorme sobressaltado, para sonhar na praça da aldeia das festas interioranas, época quando avaliava poder determinar que lhe chegasse à sala de visita tão só quem permitisse, do alto de sua ingênua cordialidade, desfeita na força da Era Industrial.


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Costumes bárbaros

As lideranças se mobilizam através de sucessivas manifestações públicas. Passeatas. Assembleias. Faixas. Entrevistas. Discursos. Audiências. Uma delegacia da mulher criada para o Crato. Outra para o Juazeiro.

Essa brutalidade reedita as fases negras da história das sociedades humanas, quando o valor da vida chegava às raias da gratuidade, pessoas vendidas nas praças quais coisas e animais.

A infeliz repetição das maldades pede atitudes firmes. Nessas horas, a liderança deverá cumprir suas reais funções. O que fazer? Como agir em resposta à periculosidade dos autores dos crimes? A quais instituições cabem as providências? Somos uma sociedade organizada para fazer frente a esse desafio da força bruta? Perguntas insistem na busca da solução do enigma.

As causas desse estado de coisas merecem avaliação. Vive-se um tempo de contradições sociais nunca resolvidas. A pobreza material sai da busca da sobrevivência para as ruas. A falta de alimento físico chegou à falta de educação formal e moral. A ganância dos corruptos comeu a alma do povo. O tecido comunitário desatinou. Os jovens não enxergam mais o bom exemplo nas gerações antecedentes.

Isso tudo somado à ideologia do lucro que predomina entre os meios de comunicação de massa. A grande imprensa brada aos quatro ventos o crime em suas variadas espécies, e acrescenta a impunidade que lhe acompanha. Os poderes da república recebem sucessivas derrotas dos marginais melhor organizados do que a grande sociedade.

Aquilo que resolveram denominar de banalização da violência são as piores arbitrariedades praticadas e que recebem foro de normalidade. Desde a guerra brutal das superpotências, a dizimaram povos mais fracos, até regras leoninas de mercado e produção de bens visando tão só a multiplicação do capital, em mundo acostumado com as facilidades e os padrões estabelecidos quais leis definitivas.

O ser humano rende-se alienado à grande estrutura. Virou bicho. Coisa.


No entanto, no que pesem tais aspectos, existem perspectivas de retorno à esperança, ao otimismo, sim, por intermédio da formação de um consciência histórica comprometida com o reparo desse quadro torto. Só assim chegar-se-á na porta de saída do erro. As dificuldades determinam o quanto investir na unidade do grupo social e na sua mobilização coletiva. Ao trabalho quem aspira melhores dias. O trabalho dignifica o ser humano. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Ficções de anonimato

Observo na televisão, num desses programas de meio dia, moço estirado no chão tosco de bairro periférico, cercado de gente aflita e de policiais. Escapara por pouco de linchamento, flagrado em delito revoltante; bermudas, joelhos maiores do que a cabeça, chinelas japonesas, feições transtornadas, olhos esbugalhados. Imagino a folha corrida que o espera, na ocasião de ouvir seu passado escrito nas máquinas em rede. Seres humanos vigiados tornamo-nos todos. Alguns mais perto, outros a longa distância, porém objetos de acompanhamento e investigação permanente da sociedade plenipotenciária dos dias científicos.

Dentre as histórias dos tempos revolucionários há notícias das perseguições a Che Guevara por meio de satélites. Seguiram as marcas que ele deixava nas selvas latinoamericanas, registrando o roteiro por causa das três pedras utilizadas de pequeno fogão noturno, que aprendera da campanha chinesa de Mao Tsé-Tung, no qual aquecia o alimento. Apagadas as chamas, contudo, o calor das pedras seria captado por satélite em raios infravermelhos. De tal modo lhe acompanharam, até que pereceria em ponto estratégico, sob as miras do exército boliviano.

Alarmada que informações na internet cairão nas malhas das agências mundiais de espionagem, moeda de dominar pessoas e lugares, a grande maioria desconhece o poder de controle da atualidade, isso qual houvesse real e absoluta privacidade a quem quer que fosse. Na hora do cidadão nascer, recebe registro e, com isso, ganha o primeiro número. Daí segue até a certidão de óbito, no longo curso dos algarismos que obriga percorrer o itinerário de condições populacionais, na Geografia econômica.

Países privilegiam dados supranacionais e os trabalham, cotidianamente, junto a comércio, indústria, agricultura, pecuária, segurança, transportes, migrações, alimentação, abastecimento, ilusão galopante pois pretender que exista reduto isento às tramas e aos poderes do Estado tentacular.


Admiração com que respondem a tamanha estrutura resta só na cota dos sonhos de liberdade da raça, já nos primórdios escondida em cavernas, joguete que fora dos fenômenos desconhecidos e misteriosos da Natureza. A ninguém, no entanto, é dado ignorar a lei, no axioma do Direito positivo. Entretanto, a lei jamais ignorará os seus cidadãos. 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Estrangeiros de si

Quer saber mais dos reais propósitos, finalidade última de andar neste chão de tantos mortos, em que pisar faceira representa o desfilar das gerações. Numas dessas tardes de sábado quando coisas seguem apesar dos trâmites equivocados e suas rotinas, imensos vazios parecem tomar conta das circunstâncias, na lembrança vaga da luz na consciência à procura do sentido.

Contudo a quem escreve cabe o solitário dever das respostas, invés de perguntas, autor presente, leitor ausente... Leitor presente, autor ausente.

Nisso, algumas vezes questões podem vir erguidas nos aspectos comuns, meandros e impressões aonde viver significa reunir experiência comum e individual.

Por exemplo, quando padecem das dores atrozes de existir criaturas submetidas ao crivo de penas atrozes, tragédias aos olhos da rua, no bojo de paredes isoladas, residências, hospitais, manicômios, presídios, becos escuros, vilas descalças, período em que outros, no tempo paralelo, riem e festejam turnos ilusórios da idade, a chamada juventude, tronos atapetados, parques alegres, salas de espetáculo, estádios, mostras faraônicas do estado sólido da matéria, puro adiamento dos dramas porvindouros, quando chegar a época da prestação de contas.

Desta forma, entre lágrimas e sorrisos há distância infinita não superior, no entanto, a milímetros estreitos que dividem os dois lados de uma mesma moeda.

Aquilo de lembrar os vizinhos abandonados dos amantes fogosos em noite de núpcias, flagrante se impõe na contradição da roleta da sorte na escola do mundo.

E cresce o enigma de viver diante da lei da compensação: Alimentar sonhos de felicidade perene em meio às guerras e crises, valores da busca incessante do ser. Noutras palavras, equilibrar dos pratos da balança da fortuna pessoal requer o mínimo de senso de justiça, no princípio de não fazer ao outro aquilo que não quer a si, nas palavras de Jesus.

Afirmações exigem, pois, esforço de transmitir o que se quer, intenção clara que representa a luta de encontrar o si próprio (Self), no intuito de superar a trajetória impermanente de morar um corpo de carne até chegar a espírito puro, sublime instante da revelação final da essência existencial.

Todos, sem exceção, transitam nessa faixa de personalidade com o destino traçado de chegar a ser eterno, percurso das vidas reencarnadas. Ninguém vem aqui só a passeio. Nas horas amargas do conflito, afloram as possibilidades do infinito encontro com o Verdadeiro Eu, na morte da vida temporal e no renascimento para a eterna vida.


Este parto cósmico requer conhecimento e renúncia, qual largar a Terra rumo às estrelas, vez se ser delas peregrino. Nessa hora de chegar à casa do Pai celestial, fruto dos degraus da natureza, gemido calado rompe o peito de solitários humanos, nascido no coração. Assim, primeiros raios do sol da manhã invadem a alma com o brilho de bênçãos, cessando dores lancinantes, malha do aço resistente da melhor esperança em golpe certeiro do amor de Deus.  

domingo, 7 de julho de 2013

Transporte perigoso

Terça-feira, 25 de junho de 2013, quando a Folha da Manhã divulgou em letras maiores: Acidentes com motos mataram 6 no final de semana no Cariri. Isso indica que tantas vidas ceifadas reclamam, no mínimo, alguma reflexão de tempos velozes e fugazes. Sobretudo são jovens quem perece vítimas das condições do arriscado transporte em duas rodas. Bólides da insegurança, motoqueiros jamais, com absoluta certeza, avaliam os prejuízos a que se acham sujeitos na aventura das ruas desencontradas, esburacadas, de sinalização precária e lotadas de outros veículos motorizados, nas pressas de chegar e regressar dos dias.

A sobrevivência pede velocidade, mas velocidade incerta impõe perdas irreparáveis ao contingente humano, de traumas e incertezas várias.

O País hoje possui algo em volta de 970 mil motocicletas espalhadas pelas estradas e cidades, revoada imensa de pilotos sob a pressão tensa das estatísticas desfavoráveis. Além das perdas de vida no auge da doce juventude, plena força de trabalho da Nação, há consequências nefastas em termos de mutilações, o que enche hospitais, profundas marcas de uma guerra urbana.

Enquanto isso, quais instrumentos de aperfeiçoar o meio de transporte que expõe a tais agruras que leis produzir na intenção de minorar a precariedade da insuficiência quando alguém utiliza recorrendo às os motos quase só com o capacete, defesa da cabeça, e o resto do corpo? Estudos existem, contudo os limites impostos pela força da gravidade superam o zelo da resistência e dos cuidados oferecidos.

Ainda que desse modo, a calamidade nos alerta na esperança de descobrir formas menos dolorosas de vencer as distâncias. Lembrar dos outros nós que, de comum, movimentam a sociedade, querendo cumprir seus compromissos. Essa imensa preocupação paira no ar sobre as cabeças, qual necessidade urgente de modificação do improviso do transporte. Sem possibilidades que haja, muitos jogam na roleta das incertezas a existência física, ameaçando famílias e sonhos, entregues à pura sorte dos destinos.

Longe de soluções claras dos graves riscos em que importa a utilização da tecnologia, o barco da civilização vaga nos mares da incerteza, na espera do respeito à própria saúde pública.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

As ilegitimidades

Qual agora, quando pessoas, de faces encobertas, saem às ruas e quebram lojas, incendeiam veículos e depredam prédios logo o Grande Irmão repercute na mídia, sua voz, que vândalos destroem o patrimônio particular e público, numas ações coletivas repudiáveis aos comezinhos exames, riqueza eliminada sem produzir benefícios. Verdade nua e crua. Porém detrás de qualquer prática há motivos. O motivo das tamanhas agressões da massa enfurecida são as ilegitimidades, no outro lado da mesa, do próprio poder, ocasião das práticas ilícitas de governantes em atos deslumbrados e insanos, proprietários desautorizados dos destinos em crise lá embaixo.

Adianta pouco perguntar as causas dos distúrbios sem fazer a autocrítica do sistema que domina empavonado. Reações significam ações de resposta no sentido contrário, lei reconhecida há séculos.

Nada permanecerá impune, ou fora das recompensas merecedoras. No entanto se chega a imaginar que ainda existam políticos que contem vantagens da impunidade dos seus feitos nocivos guardados debaixo das sete capas da ilusão, mera ilusão. Leis superiores persistirão para sempre e julgarão os culpados das mínimas contrariedades, ao momento certo. Ignorância galopante avaliar doutro jeito a história dos homens na ordem natural das coisas.

E nisso é que ocorrem as movimentações que ora deixam a gente de queixo caído, melancólicos, aguardando tempos outros, resultado das voltas das esferas no sentido da normalidade. Talvez as tantas luas que vão e vêm deixem rastros nos céus que quase ninguém quer conhecer, nas aulas deste chão.

Ao erguer o braço e destruir honrados e belos patrimônios a si mesmo pertencentes, o povo responda a efeitos brutais lá de dentro dos secretos paraísos, ele, de quem abafaram as vozes e não deixaram encontrar alternativa de expressar doutro modo as dores que lhe oprimem o peito. Enquanto que sicranos e beltranos refestelam vaidades nas ilhas de sonhos que nutriram nas urnas dos antigamentes, crianças padecem fome; mães e filhos morrem à míngua nos hospitais públicos desaparelhados; estudantes pouco adquirem dos instrumentos essenciais de sobreviver na selva das gerações esquecidas; trabalhadores sofrem as dores de cargas tributárias infames; os rios, matas e mares apodrecem na ausência de critério de exploração da civilização industrial. O desconforto das injustiças viverá sujeito a explosões a toda hora. Pois violência gera violência, perante determinações universais maiores até do que todos nós.  

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Realidade mais interessante que as novelas

Do pouco que aprendi ao trabalhar com cinema é que os filmes mesmos acontecem de verdade, em essência, logo ali detrás das câmeras, nos sets e locações, nos relacionamentos e movimentação dos diretores, produtores, atores e técnicos, enquanto o que restará, depois, as histórias projetadas, contará quase nada do drama original. Serve nisso aquela comparação da tal ponta do iceberg.

Nos tempos bicudos, quando novelas perdem pontos para as ruas, quando o povo resolve utilizar a manifestação coletiva a título de argumento e reivindicações, desencantado das urnas periódicas, retorna o que a vida imita a arte. Só que vida vivida é pura arte, a arte de viver, identificar os limites da criação nos destinos humanos. O caderno das horas, então, pede a todo tempo que pessoas e seus sonhos pratiquem vida com autenticidade e autoliderança, valores nem sempre levados em conta.

Olhe bem o que a multidão diz nos clamores, que predominem as exigências inevitáveis da honestidade. Perante sistema estabelecido sob os tentáculos invisíveis dos palácios, o charme da honestidade reclama espaço de justiça longe das corporações escondidas.

Ninguém melhor que os jovens na viagem da infância à idade adulta, hora da verdade, enxergaria o drama da ilusão e o cio da fortuna, fama, influência, desespero de sobreviver dos veteranos que chegaram aos extremos das gerações.

Esse filme agora cresce na linha de fogo do horizonte, semelhante ao sol quando vem nascer.

Instante de esconder a cabeça na areia passou que nem as nuvens brancas do céu de junho. A claridade dos dias, porém, exigirá coerência nos que cheguem a fim de novas praticas e o primor da Verdade, que discursem e exercitem os roteiros mais limpos detrás das câmeras, sem trair os ideais da real honestidade.