quinta-feira, 22 de março de 2018

Domínio do pensamento

Ele exerce função primordial, tanto quanto essencial, no entanto somos nós mais do que ele, vez que se não o dominarmos, ele nos dominará. Alguns comparam o pensamento a um macaco solto na selva das existências. Vaga impaciente à procura de tudo, contudo sem objetivo certo, pois somos a sua guia. Qual instrumento de busca, nos oferece oportunidades mil, apelos infinitos que, transformados em desejos, amores e prazeres, sujeitam os humanos ao estresse das contradições em delírio.

O pensamento, quando acelerado aos extremos, significa uma pedra de tropeço nos quadrantes dos dias. Lente de aumento das atribuições individuais, ele arrasta o dono em todos os sentidos e pede comando tal as pipas nos céus a pedir linha.


A necessidade do domínio sobre o pensamento, portanto, eis o portal das maravilhas deste mundo, abertura principal do território do Inconsciente. Joia rara por demais, requer conhecimento, devoção, atitude a qualquer ocasião, agente transformador dos destinos. Não raro confundimos pensamento com personalidade, quando, na verdade, representa o caçador dos elementos que a compõem, seja através da observação ou da determinação de nossas ações.

Por isso, na meditação das escolas místicas o segredo vital do crescimento rumo à perfeição requer o refinamento dos instintos do pensamento. Nas palavras do budismo, por exemplo: Difícil de conter, arisco, vagando por onde lhe apraz, tal é o pensamento. Domá-lo é coisa salutar; domado ele granjeia felicidade.

E quando esgotadas as funções do pensamento, no limbo das existências, isto em planos elevados da consciência, ver-nos-emos face a face com o que determinamos nos idos deste chão. Ali, segundo as possibilidades da imortalidade, aquela máquina intensa de luzes e impaciência dormirá à sombra da árvore que plantou, sejamos quem sejamos, frutos dela, dele, do pensamento. Então, qual criança travessa, passadas as peripécias aonde nos levou, rirá de nós ou viverá as eternidades do que fizemos juntos, eu e meus pensamentos, nas oficinas da Salvação.

terça-feira, 20 de março de 2018

Vontade e liberdade

Uma não existiria sem a outra. Inexistisse vontade, a liberdade jamais existiria, porquanto esta nasce da iniciativa daquela, sua matriz e ação original. A liberdade, pois, é vontade em movimento. E a vontade, liberdade em potência. Ambas nisso equivalentes a causa e efeito. Daí dizer que não existe efeito sem causa, enquanto o efeito realiza a causa, daquela sendo resultante.

No desenrolar das ações humanas, mecanismo interior dos dramas terrenos, a liberdade repousa na vontade e a vontade se estende na liberdade. Sem vontade não há liberdade. Sem liberdade jamais existe vontade, portanto. Disso o pressuposto de que somos livres até onde deixam que o sejamos, de Sartre, assim dominem a vontade de terceiros.

Porém outro fator também existe fundamental por demais nas tais avaliações, a tal consciência. Seriam nisso as duas asas dos pássaros, e a cauda que as conduz, a consciência. Vontade e liberdade vagam perdidas nas ondas do mar do caos e em nada chegariam. Qual Sêneca a falar: - Não existe porto às naus sem rumo.

Os seres em potência na vontade e a ânsia das fortes liberdades seriam quais dois animais perdidos nas cordilheiras de tempo e espaço, sem causalidade determinante, a consciência. Apenas matérias primas da possibilidade, entretanto animais largados nas selvas da incredulidade, no dizer das populações: Um cego puxando um aleijado. 

Nas manhãs depois das tempestades humanas, tentativas frívolas da impetuosidade, restarão, todavia, duas lesmas estiradas ao sol, a liberdade e sua mãe, a vontade, estéril, doce, aventureira, errante, das pessoas, culturas e civilizações. Sonhar, sonharam; bateram nos rochedos da inconsciência; porquanto saíram cedo e esqueceram de que lado onde morava a razão, filha dileta da causalidade. Elétrons e prótons, céu e mar, no entanto longe do sol das almas, asas de cera de Ícaro acima dos penhascos e da destruição.

Assim, vontade e liberdade, heroínas da História, contaria de serem mártires da inCoerência. 

segunda-feira, 19 de março de 2018

Choque de realidade

Nós humanos gastamos vidas e vidas fingindo concretude nas produções que juntamos no decorrer dos tempos, nas gerações. Um tal de acumular bens, fortunas, qual dizem, montar as heranças, e nisso perder o bem mais precioso, o gosto de viver a vida em sua essência. Escorrem pelas pontas dos dedos as alimárias dos dias, metais derretidos, suculentos predicados de conquistas vãs e, lá certo dia, contudo, a onça caetana chega de olhos reluzentes e zap! engole num átimo os valores, apegos e maravilhas dos mortais atoleimados. Nós, eles mesmos. 

Todavia há que ser assim, porquanto as determinações do impossível facilitam desse modo que assim seja. Restaria tão só aceitar os lenitivos e padecer as sortes várias que percorrem o calendário livre. Vigia, no entanto. Lembrai as parábolas e os místicos. Jesus a narrar o destino do agricultor que obtivera larga safra e tratava de construir novos silos para neles guardar os víveres consignados. Depois do tanto de trabalho, sentaria na varada do sítio a comentar consigo da virtude que agora dispunha a lhe oferecer tranquilidade nos dias de escassez que viessem. 

E dos bastidores o Senhor comenta: − Triste alma, nem sabe que nesta noite virão cessar os seus dias.

...

Quanta insegurança vaga pelo seio das lutas humanas... Quanto alvoroço na busca desesperadas de migalhas largadas logo após. E a raça que somos de enxergar pouco nos mistérios tenebrosos o Infinito. Catadores de ilusão, eis o que seríamos em termos de lenitivo. Pescadores de talvez, de quimeras e afetos imediatos, nadamos nas águas profundas aonde sumiremos feitos heróis de fantasia. Criamos justificativas de persistir nos sonhos que, despertos, alimentamos de ocupação dos instantes quais inconscientes do que nos esperam os termos do  desconhecido imediato.

Igualmente contamos as histórias dos guerreiros que galgaram sucesso e viveram em paz diante dos valores eternos. Nada está perdido quando os propósitos revelarem em nós a perfeição de quanto existe durante as leis da Natureza. 

(Ilustração: Leonardo da Vinci).

sexta-feira, 16 de março de 2018

Wando

Ali assim pelos idos de 2005, até 2011, 2012, fui convidado por Sebastião Falcão para desempenhar as funções de Diretor Administrativo do Jornal do Cariri, época em que também acumularia a revisão da publicação. Todo santo dia, exceto aos domingos, pois o jornal não circulava às segundas, eu saía de Crato aos finais de tarde e cumpria essa papel, isto durante sete meses e dois dias, que chovesse ou fizesse sol. A sede do órgão ficava nas imediações da Praça Almirante Alexandrino, no centro de Juazeiro do Norte, onde passou algum tempo.


Numa dessas ocasiões, trazido à redação pelo radialista José Carlos Barbosa, conheci o cantor e compositor Wando. E na ausência de um repórter plantonista, coube a mim entrevistá-lo, que estava no Cariri em mais um dos shows que aqui realizava. 

Alegre, espontâneo, educado, nisso levaríamos longo papo quanto a sua carreira artística, no que fomos escafrunchando a vida dele, considerado exímio cantor das paixões desenfreadas, dos delírios enamorados e trilha sonora de amantes fortuitos e desvairados. Bom, toquei na tecla do quanto desenvolvia da inspiração clandestina dessas músicas dos corações despedaçados. E ele, que incorporava a dramaticidade das suas produções em apresentações marcadas pelo furor uterino, por vezes a beirar histeria coletiva e receber no palco peças íntimas das fãs entusiasmadas, bem que admitiu dar de conta do compromisso desse tal naipe de composições. 

No entanto, logo depois, lembraria também possuir outras canções consideradas pela crítica música popular brasileira da melhor qualidade, dotadas de melodia e letra de beleza ímpar. Daí veio recordando uma a uma ditas e valiosas peças de cancioneiro mais refinado e eterno. 

Um tanto mais adiante, menos de uma década (2012), e Wando deixaria órfão seu público fiel. Destarte, dever de justo reconhecimento, face ao gosto dos que apreciam o lado clássico das composições que produziu, há de sempre se ouvir com prazer as páginas imortais que produziu, essas hoje enfeixadas no disco Wando MPB.

terça-feira, 13 de março de 2018

De ser um lugar só

Dessa contingência dos mundos, de andar aqui, ficar aqui aonde for e nunca sair do mesmo lugar. Olhar distante, no entanto aqui permanecer de olhos colados na distância impossível de ir e só aqui permanecer. Sair e regressar sem sair, sem regressar. Esse eu imortal e só vagando solto no mar das tormentas humanas. Doce às vezes, amargo, talvez, noutras, mar de no entantos. Tais desta, a natureza dos objetos, dos animais, dos universos. Marcas indeléveis de pródigas torturas e lentas felicidades em forma das nuvens que passam no horizonte azul. 

Lá longe, contudo, em que as dores ferem e matam, na Síria, no Afeganistão, em Uganda, ali está o coração da humanidade inteira, uma só criatura espalhada pelas folhas soltas do tempo. Há clamor de justiça e paz, enquanto o mundo segue sua forma de preencher as páginas da história. Mexe por dentro do corpo das criaturas ausentes no lá longe vontade intensa de apenas preencher as páginas da história sem que tivessem de entregar corpos e vidas diante das aventuras dos grupos em luta. Outros assim iguais na esperança erguem aos céus o desejo das horas de pensar e ser que nunca pedissem partes de si, dos amores, da família, do lar, do trabalho e da beleza, nos sóis da Natureza mãe.

Quantos e tantos que pedem ao menos fugir de ser naqueles lugares em guerra, Enquanto isso, bem aqui ferem de angústia o não saber resolver os dramas humanos criados pelos próprios seres que disso alimentam e se alimentam, de ser um lugar só, em um só lugar. Clamores de justiça, harmonia e respeito, fatores mínimos que alimentam o instinto de preservar a existência do mistério que somos todos neste mar de possibilidades. Amor o que virá nos dias e trará véus de luz aos planos em andamento neste lugar de todos e oficina dos amores justos.

segunda-feira, 12 de março de 2018

Eternidade humana

Este o título de mais um dos livros do autor cearense Márcio Catunda, que já conta na sua criação literária outras revelações do interior dos humanos, ao se votar às ciências espirituais naquilo que escreve desde as primeiras obras, e, desta feita, em prosa poética exímia conduz o leitor à presença de 63 figuras luminares da alma nas múltiplas civilizações. Demonstração do vínculo que alimenta de esclarecer os apreciadores da literatura, viaja pelo tempo e nisso permite banquete opíparo através das personagens que formam essa história da consciência entre os povos. Livro milionário de expressão e virtuose, reverencia nomes recolhidos na jornada de letras e cultura, e permite escutar a sinfonia do conteúdo místico que embalou períodos sucessivos a partir de Mnemosine, a memória dos oráculos gregos, e perpassa surpreendente gama de gênios que iluminam a espécie pensante.

Seguimos por meio das vertentes mágicas daquele Oriente original, em reconhecimento dos tantos e expoentes imortais que deslizam nas páginas posteriores, Teseu, Orfeu, Ulisses, a chegar em Hermes Trismegisto, ao Egito de Akhenaton , à clarividência de Salomão, Lao Tsé, Chuang Tsé, às profundezas dos hindus, de Buda, Jesus, Rumi, Gandhi, aos filósofos e autores do teatro ateniense, dos místicos católicos, músicos divinais da arte clássica, poetas, dramaturgos, revolucionários, pintores, escultores, entre outros sobreviventes da beleza do pensamento universal, sem descurar os mestres das línguas portuguesa e espanhola, nisto se esmera a batuta fiel do sapiente escritor.

À busca de registrar minha satisfação de ler Márcio Catunda também neste seu Eternidade humana, patenteio júbilo e admiração de usufruir com gosto a disposição que mantém de oferecer tamanha percepção da religiosidade que assinada a literatura das vidas neste Chão. Sob os mais diversos matizes de compreensão dos mistérios da Consciência, os seres humanos dispõem, sim, durante todo momento, dos astros a lhes indicar os destinos do espírito, na presença constante da infinita magnitude que guia e esclarece o sentido de viver.

Assim, de um relance poético de superior qualidade, nesta produção gráfica da Thesaurus Editora, Brasília DF, 2018, percorremos as entranhas esclarecidas do pensamento eterno por meio de instantâneos obtidos nos mergulhos abissais e lúcidos de autor indispensável aos prodígios da humana imortalidade. 

terça-feira, 6 de março de 2018

O império da vontade

Feitos crianças birrentas, os humanos insistem preservar antigos caprichos, os mesmos que os levaram a construir aleijões nessa civilização que predomina diante do Chão. Se não sabem, decerto também não querem saber. O impacto do instinto resume, pois, as ações do que constroem, na supervalorização do egoísmo de classes dominantes nos inúmeros países. Criam leis, edificam palacetes de injustiças e lavam mãos já carcomidas no desleixo das dores que provocam. As guerras. Os falsos cultos dos prazeres insanos. Os travos amargos da iconoclastia das posses materiais. A irresponsabilidade pelos atos tornados de lama e pó. Eis o império dos impérios da raça dos homens, adúlteros confessos da imprevidência e do arbítrio. 

Bom, mas avaliam os filósofos, as pitonisas, os santos, que haverá de conter os impulsos dessa tal vontade a qualquer custo a fim de encontrar a porta de saída de paz tanto apregoaram nos séculos e milênios da vasta cultura. Isto será a única alternativa à inutilidade dos projetos que ora somos todos. Um senso coerente a transmutar aquele quadro nefasto de tamanhas apreensões. Isso crença de quem espera melhorar o destino das massas. Deixar correr frouxo, no entanto, também cabe nos desacertos particulares. 

Nisso, os valores, as virtudes. Pleitear sabedoria, invés de deitar e mandar a máquina passar por cima. Elevar as aspirações da verdade na forma de uma consciência prática. Usufruir daquilo que chamam inteligência;conhecer de perto a esperança dos sonhos. Responder ao enigma dos tempos. Resta controlar a vontade, vez que, segundo consta dos resultados oficiais, a espécie como um todo virou bicho de sete cabeças e esquece-se de alimentar a chama liberdade humana, no que pese pagar as consequências da farra homérica. Então existe essa tal prerrogativa, recorrer ao domínio da vontade e reverter o quadro de horrores, ao menos em termos das particulares atitudes. Faça a sua parte, portanto.

domingo, 4 de março de 2018

Transformações

Aos olhos vistos, mudanças aconteceram nesses tempos em razão das novas tecnologias. Os meios de comunicação demonstram com facilidade tais ocorrências de larga repercussão. A utilização de veículos há pouco de amplas possibilidades e mercado, em poucas décadas, duas talvez, deixou de apresentar crescimento e rentabilidade. A mídia impressa, jornais e revistas, reduzem tiragens e principiam a fechar as portas. O disco, em princípio que dividia espaço com fitas, depois com CD, agora demonstra impossível continuidade, forçando os produtores a recorrer às mídias de internet e experimentar matrizes outras até então desconhecidas. Os filmes, sucedâneos do teatro, dos VHS aos DVD também perderam mercado e as locadoras se veem na condição de insolvência inevitável. O livro ao seu modo, ainda que resistente durante certo período, hoje mantém o espaço de venda tão só aos raros letrados que leem, espécie de elite dos iniciados.

Isso em menos de três décadas e o mundo da comunicação de massa já reúne mutações jamais imaginadas, face ao desenvolvimento da transmissão de dados e aos fatores da técnica eletrônica dos condutores aperfeiçoados nos materiais de uso, surpresa dos mais audaciosos ficcionistas. Portanto, as tais inovações exigem criatividade extrema de artistas e empreendedores da industrial cultural. Ainda que busquem acelerar o processo de adaptação, persistirá uma longa defasagem a ser superada, isto sem a suficiente capacidade humana que corresponda vencer os desafios.

O rádio, a televisão, eis outros meios em xeque diante de tudo o que logo virá no desmonte verificado. Os telefones celulares agora significam salas de cinema, veículos de comunicação de massa portáteis, espécies de computadores de bolso, pedra de toque de tudo quanto circula no pensamento da atualidade, de largo poder de penetração e portabilidade. Espécie de segunda natureza da civilização, esses equipamentos representam o resultado de toda busca da transmissão de informação ambicionada durante toda a história. Resumo das pesquisas da indústria técnica e instrumento de propagação das modas e das ideias, nunca houve tanta expectativa com relação aos frutos de uma invenção humana de tamanha envergadura.

quinta-feira, 1 de março de 2018

A solidão da liberdade

Ser livre, isto de um sonho real há que ser lá num dia. Qual disse Fernando Pessoa, A liberdade é a possibilidade da solidão. Esse o direito clássico de imitar a Jesus no infinito de ser livre um dia. Abraçar livremente a paixão e se deixar imolar na força da perfeição do Ser sozinho. Abrir com as próprias unhas o teto do firmamento e chegar ao Pai de alma viva e virtudes. Enfim, ser livre no sentido de tudo, sem mácula, sem maiores interrogações. Aceitar de plena consciência a transcendência e amar definitivamente o sonho da liberdade na essência e no penhor das existências.

Face, pois, ao absurdo da mais plena liberdade em todos os sentidos e possibilidades, promover nisto a individualidade no caminho da plenitude. Aceitar de bom grado os passos aonde desfazer a lógica dos corpos e nascerem torreões de igualdade e justiça, no pacto do Amor. Isto sempre nos momentos e nas condições que impõe o viver maior das consequências. Longe do receio das ausências e diante do desapego de formas e desafetos. Existir, porém na presença da unidade pessoal absoluta, num ente distante dos conceitos prontos de qualquer cultura ou civilização.

Sair assim solto no céu do silêncio, espécies de centro do Universo e senhor da Eternidade, pai das criaturas viventes e dos titãs imaginários. Liberdade desde o princípio, agora sobrevivente das limitações humanas. Conhecer e realizar o poder lendário do Espírito nas planícies da imortalidade. Encontrar a sombra com a luz bem no íntimo do coração, libertos do medo e da culpa, da dor e do prazer. Só pureza e sentimento, e leveza da inocência primeira diante da Criação.

Bem nessa hora a Paz reinará e os brandos herdarão a fortuna da Felicidade; vozes ecoarão pelas nuvens, e nenhuma das profecias deixará de produzir seus efeitos práticos de iluminar a amplidão dos oceanos.