quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Pensamentos

Lá um dia, a espécie achou de trabalhar as leis da Natureza e dominar, nos céus, o mais pesado que o ar. Voou. Voamos. Através do mistério do ar agora cruzamos o horizonte e vemos a Terra do alto, por vezes sem nunca imaginar o tanto da maravilha em que deslizamos a nossa imagem de pretensões mil. Ali seguimos rápido quem só as aves antes. Olhos fixos, talvez, nos velhos bulevares, sujeitos ainda presos às gaiolas sujas dos antigamentes, talvez. 

Mas existem muito e mais a descobrir, qual, por exemplo, falar por meio dos pensamentos. Aos outros e a nós próprios. Abrir ouvidos aos pensamentos. Realizar o desejo das multidões de comunicar o silêncio entre os humanos. Criar mensagens e trazer isso uns aos outros, quais, na certa feita, dominamos o mais pesado que o ar e realizamos o sonho dos primeiros pássaros.

As ideias que circulavam soltas nas cabeças dos profetas sem ter de prestar contas aos carcereiros da memória, imaginaram que quanto alguém pensa noutra pessoa, estaria aquela pensando nele, eis a lei dos indícios de que já existe a lógica no invisível de que houvera nos visionários de voar perante os ares. No entanto quando dois apaixonados se comunicam pelos pensamentos que não é por pensar no outro que o outro há de haver pensando. No entanto na hora em que pensou, o pensamento ativaria no outro o pensamento, e assim eles dois, entes queridos, gerariam força de ondas e partículas suficiente a utilizar esse poder do pensamento, e estabelecer a comunicação dos dois espíritos.

Que existem situações reais disso acontecendo são diversos os testemunhos de transmissão das mensagens mentais, porquanto vivemos o âmbito dos impossíveis possível, dentro do mundo das ideias vivas. 

Por sorte, persistem infinitos a desbravar até que pisemos definitivos o solo da invisibilidade pensante. Homens de tantas imprevisibilidades, seguem os primatas de cabeça erguida, por certo no rumo da sorte boa dos segredos eternos.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Sois deuses

... E não o sabeis, qual disse Jesus. Nascer e renascer a cada fração de tempo, e se perder no reencontro doutras vezes. Um eterno continuar ainda feito um traste a se bater nas paredes da concha, a pérola lacrimosa de si próprio. Luz que brilha aos céus e brilhará a Si. Busca profana da santidade, autores do gesto desconhecido do ser de perfeição que não conhece, nem sabe, da certeza de existir. Isto, de se ser Deus e não saber.

Andar pelas ruas de país estranho, à cata do endereço que o carrega consigo bem no âmago do coração. Desejo da satisfação já satisfeita da completude invisível nas brumas do destino. Almas salvas, porém audazes e renitentes pecadoras. Sorri sarcástico da sorte dos mártires sendo um deles a caminho do sacrifício. Aceitar de bom grado a condição dos perdidos, todavia ciente da eterna salvação.

Que precisa mais, quando o Cristo nos salvou?!... É tão só aceitar de bom grado o mistério e abraçar o Paraíso. Renunciar a si e dever ser sempre aquilo que renunciou. Abraçar, reviver a paixão e esquecer sonhos de carne. Abandonar o transitório e entregar os apelos desse chão na despedida do inevitável. Nem só de pão viverá o homem, mas de cada palavra quem vem da boca de Deus.

Quantos olhos e nenhum. Soma de todas as cores na luz do silêncio absoluto, nas manhãs esplendorosas. Tudo e todos em mistério algum. O lírio branco das flores. O teto do Infinito. As portas da libertação do Eterno. A imensidão do Sol que plenifica o Tempo e santifica os animais. As crianças alegres.

Do animal a Deus, epopeia das expedições na existência exclusiva do único princípio sem mácula. Desafio de revelar o mapa da Criação nos labirintos deste começo que jamais terá final. Portanto, adotar o princípio da plenitude qual resposta de toda interrogação. 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Neoescravatura

Há dias imaginei tratar esse tema, outrossim contive a vontade, visto figurar constatação grave na relação dos humanos com eles mesmos, isso num tempo de sérias contradições. Falar de assuntos que remexam as feridas nem sempre seria por demais conveniente, porém necessário. Bom, em sendo assim, vamos lá, pois as drogas escravizam. 


Olhar em volta e chegar a determinadas conclusões claro que magoa o conforto, sobretudo quando nos vemos nisso envolvidos. Olhar e ver, invés de passar por cima. Ver o quanto os instrumentos se voltaram contra os artesões das novas modas. As peças com que contávamos de modificar o sistema, oferecer meios de viver melhor, deram na senzala que ora toma conta desse mundo. Quiseram investir na tecnologia, e a tecnologia parece haver dominando seus investidores. Trabalharam teoremas e fórmulas, e a física moderna rendeu o que agora invade o território das liberdades e fez do homem boneco de papel nas ilhas do faz de conta.

Aceitassem ver, saber-se-ia a que distância andávamos da sonhada felicidade. O carro, por exemplo, comedor das dimensões, controla as ruas e praças, sequenciado das motos, síndromes de estatísticas e sustos que avassalam. Prisões, currais, viraram o Planeta de cabeça no chão, afã de manter em funcionamento as máquinas rebeladas. A extensão dos lares, o ventre das baleias das cidades, gerou fome de lugares, parques de estacionamento, campos de concentração contemporâneos, sujeitos ao domínio dos ditadores anônimos, ativos em algum ponto da propaganda; um Estado fora de qualquer controle. Aquele cidadão médio dos humanismos não mais existe. Nuvens isoladas de poder apenas agitam membros isolados, na ilusão de conduzir processos abstratos e sórdidos de administração pública. Ainda inexistem rotas de fuga. Dependência extrema impõe tais condições inevitáveis, pois as drogas escravizam. 

Tudo representa a apreensão dos profetas dos livros antigos; Moloc habita lá no alto da pirâmide, entretanto invisível, talvez inexistente; números, ondas elétricas, fábricas, resultados matemáticos de instituições arcaicas e frágeis. As ficções do século XX bem que descreviam o que hoje acontece, sob o olhar flamejante dos visionários. No presente, os quadros aí demonstram, sem precedentes, os escravos da própria criação, criadores das ferramentas que viraram enigma, neocativos de outras revelações em vias de acontecer. 

domingo, 26 de novembro de 2017

A prática e as palavras

Dizer e não praticar, eis a raiz de contradição. Faça o que digo e não o que faço, raiz da hipocrisia. Bem dos humanos tais providências. Cheios de empáfia, salvam o mundo sem salvar nem a si. A boca está cheio do que não vai no coração. A palavra como um valor social, sem a correspondente prática individual. Enchem livros e livros de belas tiradas românticas a interesse próprio. Criam partidos de programas matematicamente perfeitos, mas de sócios imperfeitos e débeis. A cara deste mundo. A certeza da dúvida na dúvida das pessoais certezas. Filosofias e religiões exatas de homens surdos. 


De que vale ganhar este mundo e perder a Eternidade, afirma Jesus. Viver de artificialismos e representar a mera falsidade. Comer cascas e jogar fora os frutos. Isso que estampam os cartazes da história desde que são feitos os primeiros registros. E julgam seus pares com essas metralhas deficientes da personalidade e impõem condições, determinam oportunidades e sobrevivem (agonizam) nos braços da ilusão. Ninguém parece avaliar isso, e admitir inteligência, racionalidade, prudência.

No ato, a justiça da prática. Nas ações particulares, o julgamento generalizado de uma sociedade em crise. Vinha assim e atravessava o tempo qual nada houvesse além da conta. No entanto o Planeta vinha enchendo de gente e os vícios ora superam as virtudes do meio original. Não fosse a propagação dos vícios e, talvez, ainda existisse espaço de tocar adiante os desmandos antigos. 

A realidade, porém, já reclama resposta coerente das individualidades. O fôlego dos recursos naturais, o prejuízo nos fenômenos, as visões deficientes da moral, as injustiças, uma série de sintomas que apresentam a importância urgente de rever as práticas, sob pena das consequências exigirem provas superiores à capacidade humana de reequilibrar os sistemas ameaçados face da irresponsabilidade egoísta, e daqui à frente o preço reverterá impagável em termos de paz e sucesso.

(Ilustração: O grito, de Edvard Munch).

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Superposição


As notícias que leio conheço, já sabia antes mesmo de ler.
                                          Torquato Neto

A velocidade dos acontecimentos supera os próprios acontecimentos. Isto nesses 40 anos que deixam margem a largas avaliações quanto aos meios de comunicação de massa, efeito colateral da evolução tecnológica dos humanos. Lembro quando estudava, em Salvador, no curso de Comunicação, e que discutíamos anterior preocupação do teatro em face do crescimento do cinema. E o teatro seguiu seu curso, já com forte perda de público, que o cinema carreava. Depois, o cinema, a examinar o crescimento da televisão e suas novelas de qualidade duvidosa. Que também arrastou as longas as longas filas cinematográficas dos anos 50 e 60.  

Lá adiante novas preocupações entre os meios e que se configurariam no atual surgimento avassalador da mídia internética, somada à tevê de assinatura. Outra avalanche cresceu, envolvendo inclusive a mídia impressa de jornais, revistas e livros, estes vista a concorrência do livro digital. Nesse bojo também fora envolvido o computador pessoal, cooptado nos notebooks e tablets, 

Agora, explode numa aceleração incontida os computadores de bolso, os tais celulares da geração do momento, que açambarcam teatro, televisão, jornais, livros, revistas, o escambau, até os velhos computadores de mesa, numa revirada geral de assustar e criar notícias além dos velhos acontecimentos diários, feitos meros factoides, ou fenômenos de guetos, os quais ocorrem fora da mídia oficial, a manipular a consciência capenga das massas ignaras. Essa mídia inesperada, que perde altura e passa a ser financiada pelos orçamentos públicos e empresariais vinculados aos serviços de estado. 

Ninguém mais sabe direito aonde conduzir apreensões, a quem dirigir as buscas de reivindicações, se é que de interesse público. O mercado escapa entre os dedos da realidade virtual. Vertigens tomam conta do pensamento acadêmico empalidecido na acomodação das vaidades. O que antes era só ficção e laboratório da imaginação, no instante de hoje impõe leis inesperadas e efêmeras. A notícia, que significava a divulgação dos eventos de interesse público através dos meios de comunicação, estes uma concessão do Estado, vem sendo elaborada nos propósitos de minorias de poder encoberta na complexidade dos tempos. A política virou assunto de polícia. E a justiça dos homens, objeto de preocupação e expectativa, numa crise sem precedentes de valores qual jamais considerada pelas mentes galopantes dos visionários e profetas. 


(Ilustração: Torre de Babel, de Pieter Brueguel o Velho).


Praça Siqueira Campos

Houve um tempo em Crato quando o centro de tudo se fixava na Praça Siqueira Campos, o foco da vida social, fazendo-a símbolo de participação efetiva nos acontecimentos distantes e próximos. Isto bem presenciei pelo menos durante três décadas, desde os anos 50, quando minha família viera morar na cidade, aos anos 60, de largas movimentações políticas e culturais, e parte dos anos 70, quando das primeiras emissões de televisão, que chegariam ao interior cearense através das antenas repetidoras, trazendo de volta as famílias aos lares. Deixavam de lado o convívio e as atividades espontâneas das ruas e praças. Foram décadas marcantes aquelas. Quem viveu o período deve recordar a presença constante da população que priorizava o comparecimento à Siqueira Campos, com ênfase nas noites de sábado e domingo. Palco bem iluminado, ajardinado com primor e acolhedor em sentido amplo. 

Eram verdadeiras confraternizações o que ali acontecia de livre e espontânea vontade. Desde às lideranças tradicionais aos jovens, o logradouro significava clube social a céu aberto e efusivamente participado. Vestidos nas melhores domingueiras, a satisfação de todos seria passear na praça dos sonhos e de tantos amores; de alegres conversações e fonte noticiosa do que ocorria no resto do mundo àquela hora. Um polo típico de atrações inigualáveis. 

Defronte ficavam o Cine Cassino, prédio do antigo Cassino Sul Americano, de épocas anteriores, e o Café Líder, onde frequentavam os principais nomes da vida cultural e empresarial de Crato, então a metrópole consagrada do Cariri. Logo adiante, indo pela Rua José de Alencar, existia o Cine Moderno. Era a Praça Siqueira Campos e, face disso, ao poder agregador, o mais da zona urbana seria tão só periferia nos momentos do raro fervor coletivo, eis o que resumia a vida noturna daquelas épocas.

Desse fenômeno amplamente consolidado durante tanto tempo, nasceu o livro Praça Siqueira Campos, de uma plêiade excelente de autoras, que ora aqui consideramos. Vale, sim, de registro competente e pródigo das lembranças da fase platinada de tantos, cujas vivências encontram o marco da história de vida dessas várias gerações. 

As memórias necessitam de artífices a quem jamais desaparecem os detalhes e as histórias imortais dos povos. Por vezes, as qualidades de uma equipe de testemunhas reunidas em volta de valores idênticos rendem muito, a ponto de ganhar o fôlego das novas gerações e edições em livro, igual ao que ora verificamos. Com satisfação quero, pois, consignar a importância sociocultural desta produção, motivo da preservação de uma fatia de tempo dotada dos melhores dias dos que viveram as belezas dessas horas felizes e indeléveis. 

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Em Si há consciência

Isso de projetar lá fora a superação da condição humana deixou de ter prioridade, conquanto existem suficientes testemunhos dos meios de revelar à consciência pelos caminhos de libertar o ser em Si. Através dos instrumentos de que dispomos, a resposta indica outra dimensão além da matéria aonde seguimos habitando. Que daqui nada se leva resta claro por demais. Os insistentes tendem a entrar em pânico diante da realidade do tempo infalível. 

Porém a inteligência reclama alternativa. Tão sábios, bonitos, ricos, poderosos, trabalhadores, importantes, e simplesmente morrer ao término da jornada horroriza sobremodo aos audazes das estrelas, deste mundo farto de tudo e quase nada. A quem aguentar possa, o mistério indica esse portal de libertação através da ciência espiritual. Há um Poder maior, há imortalidade nas almas, há seguimento desta vida...

Vem de dentro da alma a Salvação. A Humanidade dispõe desse conhecimento. Insistir na desistência de superar a materialidade significa regressar tantas vezes quantas necessárias sejam de achar a porta que liberta. A isto chamamos Reencarnação. Apenas negar conhecer representa unicamente perder as oportunidades do encontro consigo mesmo neste corpo. São respostas inevitáveis. 

A prática do que aprende representam as virtudes morais que sustentam a limpeza do coração. Renunciar ao desespero e exercitar o ânimo de viver com sabedoria, eis a equação definitiva de equilibrar as funções do raciocínio com as normas do sentimento. Escolas falam disto a quantos buscarem. 

O transcorrer das civilizações revelou possibilidades espirituais aos humanos, que agora investem na autopreservação largando os apegos materiais e desenvolvendo o aspecto místico da personalidade, nos propalados sinais do fim dos tempos conhecidos. Haveria de chegar a isso as múltiplas experiências vividas no transcorrer das muitas eras.

O esforço dos grupamentos nos trouxe a tais compreensões. A saída, pois, virá de dentro do indivíduo, no salto da quantidade material à qualidade espiritual, jeito único de sobreviver ao desaparecimento. 

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Sempre servir

O Cristianismo, dentre outras escolas religiosas, ensina a importância do serviço aos semelhantes qual disposição principal do crescimento dos seres. Já agora, deste modo, há um céu aqui no chão. O gosto de ser útil aos demais, e a si mesmo, eis razão fundamental de trabalhar as consciências. Trabalhar em prol de mitigar dores, evitar o mal e construir o bem nos corações. Isto em todo lugar, em qualquer ocasião. Descobrir a forma de utilizar a força vital em favor dos necessitados.

São Paulo deixa claro o propósito de que a vida se reveste dessa finalidade essencial. Serve e passa, quando ao final seremos só servos inúteis. Criar as mínimas condições de erguer da terra os ideais da evolução dos humanos através da fraternidade. Oferecer de si aos outros, meios inquestionáveis de encontrar o crescimento espiritual, o que mais representa cultura e desenvolvimento.

Isso por vezes indagamos diante das atrocidades e crises das sociedades: O que resta fazer que possa equilibrar os acontecimentos?  Aonde foram aqueles que ocupam o lugar da autoridade, que detêm a delegação de mostrar as bases às comunidades e comandar os pelotões de pessoas no afã de sobreviver com dignidade? Nada justifica atingir níveis altos de qualidade dos instrumentos sociais sem oferecer aos iguais a oportunidade idêntica, porquanto muito se aprendeu de fórmulas para ordenar os grupamentos e permitir vidas em harmonia, em que fortes possam auxiliar fracos através dos campos de ideias e trabalho; oportunidades aos jovens; estudo, educação, saúde, moradia, segurança, transporte, lazer, felicidade...


O que esperar dos que têm mais senão alternativas aos que pouco possuem, numa perspectiva de bem-estar livre de competição, concorrência deslavada e guerras de conquistas? Jesus ensina assim, amar qual se ama e servir incondicionalmente. Jamais sermos felizes mediante a infelicidade alheia, pois todos somos um único ser da Natureza. Chega, por isso, de ignorar esta verdade primordial de uma paz coletiva e justa. 

Choque de realidade

Ontem inventei de caminhar pela cidade dos homens. Eu de todos os sonhos reunidos, e isso que está ali fora, milhares de automóveis invadindo o chão que antes só pertencia às árvores e aos pássaros, à natureza. Carros, bólides, meteoritos, asteroides apressados nos mais diversos destinos e formatos, a velha indústria do ferro temperado que tomaria de conta do universo. Ruas dos seres esquisitos que vezes trafegam indiferentes, velocidades barulhentas, exóticas, quais solos estridentes das guitarras amarelas dos anos 60. Focos perdidos pelas distâncias do impossível suspenso no ar; quadros surreais doutras cinzentas galáxias. Casais alucinados em cenas eróticas. Ruídos raspados de animais desconhecidos, que arrastam no pescoço os sinais dos tempos. Revistas largadas no chão dos corredores sujos. Clima de festas que chegaram ao fim, nas torpes madrugadas suarentas.

No entanto ela corre nua de olhos acesos e deixa vontade imensa que exista nalgum lugar, logo adiante, os encontros fortuitos. As marcas deixadas no coração pelas inesquecíveis paixões. Outros que insistem buscar saídas na esperança das preces. A certeza dessa vitória a caminho da luz, pois forças vivas jamais nos deixarão abandonados. Certeza. Certezas.

Conquanto limitado ao território de nós mesmos, há indícios claros dos dias melhores que vêm vindo pela resistência, alimento do desejo. Religiosos sinceros, invés de comerciantes da fé. Os eleitos da alma, que mantêm a consciência ligada nos amores puros. Eles, que existem no silêncio das multidões. Numa conspiração de virtudes, circulam calados, porém firmes nos seus propósitos.


Em clima de término de missão, desse modo perene a vida continua entre as minas da civilização, nos equívocos egoístas das gentes de cara assustada e faminta. Zumbis entregues aos afazeres dos instintos criam motivos artificiais nas salas vazias. Cenas de filmes mudos ainda lembram esses povos que imaginavam salvar o mundo e, depois, perderiam o trilho da história. 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

A luz do Sol

Quiséssemos fazer uma comparação, seria o Sol o coração da Via Láctea. Em nós, esta força do coração, que reúne tanta energia da gravitação de nossos elementos quanto o Astro Rei na manutenção dos movimentos em torno do seu poder magnífico. Quanto querer, quanto equilíbrio infinito acontece todo tempo em torno das ondas magnéticas e dos raios luminosos. Assim também no exercício do poder o Coração, foco das determinações da Natureza ao giro de nossas forças e virtudes.

Algumas considerações ocasionais quanto aos mistérios da existência incluem as imagens dos evangelhos nas palavras de Jesus, ao afirmar ser Seu o caminho do Coração, o sol das almas. Caminho, verdade e vida, ninguém indo a Deus a não ser por meio dEle. Daí os raios da luz do Sol alimentar a vida que nasce em todo momento através das existências.

Sois deuses... E não saber, qual disse o Mestre Divino. Nascer e renascer a cada fração de tempo, e merecer o reencontro, outras vezes, até a libertação definitiva. Um eterno continuar feito apenas um traste parcial a bater nas paredes da concha, pérola de Si próprio. Luz que brilha nos céus sem brilhar a si, mas que lá um dia verá a Luz. Busca profana da santidade, autores do gesto desconhecido de ser a perfeição que não conhece, nem saber da certeza de existir. Isto, de se ser Deus e não o saber ainda.

Andar pelas ruas de país estranho à busca de endereço impossível, pois já o carrega consigo no âmago do coração. Desejo da satisfação já satisfeita, da completude invisível nas brumas do destino futuro. Almas salvas, porém audazes e renitentes, pecadoras em fase de transformação para melhor. Sorrir ingênuas da sorte dos mártires, e será um deles logo mais a caminho do sacrifício extremo. Aceitar de bom grado a condição dos perdidos, todavia cientes da eterna Salvação que lhes aguarda de braço aberto às luzes da Manhã.
  

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Razões da existência

Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.                                                                                                                                                                                    Shakespeare 

Reunir forças suficientes de manter a calma face aos desafios. Estabelecer metas claras de aonde chegar diante dos embates. Desenvolver disposição necessária ao prosseguimento dos dias, nas determinações do tempo. Lembro-me de uma peça que, certa vez, assisti no Teatro Vila Velha, em Salvador, cujo título, O que mantém o homem vivo, indicava essa busca incessante da sustentação diante dos passos seguintes da existência. Quais meios utilizar no sentido de achar as respostas perante circunstâncias nem sempre favoráveis de viver, e sobreviver.

Eterno ir e vir representa, pois, a humana situação. Selecionamos, assim, escolhas e tocamos em frente o comboio de nós mesmos. Nalgumas horas, forçamos a marcha e superamos obstáculos. Noutras, sujeitamos o instinto à paciência e revelamos conhecimentos que jamais imagináramos possuir. Há de viver e descobrir o jeito justo de ser feliz. 

Que respostas oferecer aos trilhos das nossas histórias, eis o resumo dos muitos espetáculos a representar, neste palco da existência. Ninguém abandona o próprio barco ao léu. São as vivências guardadas e práticas constantes que somam a realidade nisso, e impõem leis que ensinam e exigem nossas reservas físicas e morais, no dever de caminhar. Quando alguém adquire métodos ideais, vem logo a seguir o instante de regressar rumo ao desconhecido donde viera.

Qual modelo pessoal, vimos criando nossos rebanhos de experiências e demonstrando o quanto aprendemos, nessa escola incessante. Quais professores e alunos, agimos e aprendemos no espelho das nossas ações, no fim de orientar à gente mesma. Ninguém foge da pretensa liberdade no agir, mas quantos quebram a cara porém ajeitam de continuar, sempre oferecendo razões que acalmem o gosto de viver. 

Portanto, a arte de resistir e vencer significa essa ciência principal que explicaria existir. Aqueles que desistem, desaparecem com mais rapidez e facilidade. Independente do nosso prazer e bem estar, resta-nos obedecer às condições inevitáveis que defrontamos, isso por norma de meridiana sabedoria. Continuar... Continuar... 

domingo, 19 de novembro de 2017

Notícias daqui de dentro

Reencontrar pessoas oferece meios de reunir os pedaços da gente que ficaram largados pela estrada do tempo. O passado já existira no presente, e hoje virou matéria de memória. Há quem diga que domar o pensamento é controlar o passado. Só que tarefa por demais difícil, mas não impossível. Dominar o desejo significa dominar o pensamento, se não ele nos domina. Então, qual dizíamos, reencontrar pessoas representa isto de escavar a lama do que ficou atrás e trazer às malhas do presente e, quem sabe?, limpar, reaproveitar, organizar, compreender. Por vezes esquecemos as peças deixadas no espaço sem a devida compreensão. Errar vem a ser isso, interpretar de jeito equivocado os méritos, ou enlamear as virtudes. Houvesse o mínimo de bom senso, seríamos autores de outras histórias produtivas, felizes.

Nesse passo, visto corresponder a única existência que somos, e desejar usufruir daquilo que não nos cabe, perdemos direito a concentrar individualidade no sentido da harmonia. Pisamos as costas dos parceiros e viramos o barco da paz. A inveja, o ciúme, os recalques, o medo, sujeitam tomar o comando e jogar a carga da energia de uma vida inteira no abismo da perdição. Precisa de pulso forte, firmeza, a fim de frear os desejos equivocados e nunca romper a ordem de onde estamos situados.

Sofrimento, pois, na visão budista, equivale à irrealização do desejo. O pensamento cria necessidades abstratas e pretende, a todo custo, que estas venham à realidade. O ser pensante, contudo, existe abaixo da ordem universal. Seu desejo conta pouco, ou nem conta. Assim, invés de ver a concretização daquilo que deseja, deve obedecer e aceitar o que lhe aconteça. O que deseja, por isso, equivale à matriz da irrealização. E sofre a consequência dos caprichos irrealizados. Aceitar e amar, eis os instrumentos através de que descobre a realização de Si, portal das melhores alegrias. 


Um amigo meu bem que disse: Encontrar um amigo nosso do passado e dar-lhe um abraço abre essas perspectivas a novas possibilidades. 

Histórias alheias IV

Vou contar uma história que, outro dia, li no livro Sobre a rocha, de Mark Finley, que diz respeito às imposturas dos humanos, que ainda se acham sujeitos ao transcorrer das eras escuras. A época, idos de 1820, quando se iniciaram graves atentados contra a população do estado indiano de Kolhapur. Um bando por demais agressivo de salteadores passou a aterrorizar os lares, tomando tudo de valor que pudesse rapinar.


Com isso, vieram as preocupações do principal dirigente, o rajá daquele território, senhor de ricas propriedades, ouro e pedrarias. Exposto aos vexames das ações nefastas, logo cuidou de reforçar a guarda pessoal do palácio, escolhendo a capricho homens de inteira confiança. No entanto nada obteria em reduzir as perversidades executadas pelos meliantes, às sombras das noites.

Donatário do poder absoluto, tal governador pronunciava decretos extremos aos que fossem flagrados na autoria dos sanguinários crimes, sem, todavia, disto resultar coisa alguma em termos concretos. Os delitos campeariam soltos até os derradeiros dias de vida do soberano, e na província ninguém seria feito prisioneiro, ou quaisquer resultados produziram as atitudes defensivas. 

Só após a morte do rajá seria desvendado o tamanho mistério. As razões de aquilo durar encoberto por décadas fio: A autoria dos crimes fora do próprio nobre que ocupava o trono. Debaixo do manto da impunidade com que os atentados aconteciam, ele manteve o bando formado nos seus quadros administrativos, longe dos olhos dos súditos de quem tomava o que visse pela frente, e a cada dia engrossava o tesouro real.

Exerceu, aquele facínora, o papel duplo de monstro e de tutor de seu povo, sob a influência das forças inferiores, semelhante à dualidade registrada no comportamento de tantos da massa que habita o chão da Terra. Feras na pele de cordeiro, sepulcros caiados, branquidão por fora e devassidão por dentro. Isto é, fazem da fortuna o troco do que pilham os cidadãos, quase sempre em nome das leis e da pretensa honradez. Esquecem que autoridade é o lugar de quem ocupa, e não a pessoa que esteja ocupando o lugar, esta mero figurante dos destinos infalíveis.


sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Apólogo II

Numa dessas manhãs ensolaradas, cedo, reunida no chiqueiro da fazenda, a bicharada examinava o dia a dia depois de haver escutado as conversas ouvidas na casa grande. Assunto grave era trazido pelo carneiro, de si bem apreensivo, de que a dona da casa fora vítima da picada de um dos mais venenosos escorpiões, à véspera, e na noite ninguém conseguira pregar o olho. 

Mas os bichos analisavam a notícia com total indiferença; evitavam maiores envolvimentos naquilo tudo. Desde logo, a cabra dissera que não era consigo. Que deixassem que eles lá resolvessem os problemas da casa, e a gente resolvesse os nossos aqui.

O galo acrescentou que procurava solucionar as dificuldades do galinheiro, que deixassem situações de gentes com elas e as dos animais com eles, de si um tanto limitados que viviam nas suas ações particulares. 

- É, foi falando o jumento, bem que penso assim também. Cada macaco no seu galho. Vamos cuidar das nossas vidas, o que até facilita as ocupações do proprietário. O porco, pachorrento, largado na primeira poça de lama do inverno, ainda teve tempo de manifestar opinião igual à dos demais companheiros. 

Nessa hora, o dia foi crescendo, crescendo, e o movimento na residência do coronel ficando acelerado. Daí a pouco, saía o primeiro portador à busca de auxílio. Traria o farmacêutico e os medicamentos. Pelo início da tarde, praticamente o quadro ficaria pior. O pessoal da copa mandou de vez pegar o galo e dele preparar uma canja, a servir à enferma no jantar.

Qual o quê, na meia noite e meia, zás que a dona da casa deixava este mundo e as lágrimas tomavam por completo o seio da família.

Pelo escuro da madrugada, o capataz mandou selar o jumento e seguiu indo esperar os primeiros parentes, que vinham chegando; enquanto isto, a notícia ganhou mundo e aumentaram as precisões das panelas no vai-e-vem da residência. Tiveram de executar a cabra, no almoço do dia, antes mesmo de virem chegar os familiares doutros sítios. 

Resultado: Seguiram dias de juízo na fazenda, pois as visitas demoraram quase a semana toda e consumiram várias galinhas, dois porcos e alguns carneiros, além de uma dúzia de marrecos, quase dando cabo da reserva do criatório, face ao inesperado efeito daquele inseto peçonhento.

Ao serem levados, um a um, em estado de choque, os animais se entreolhavam aparvalhados face duas realidades. Primeira, do comodismo indiferente com que, desde o início, haviam tratado a dura ocorrência; depois, visto desconhecer quase por completo o destino que lhes defrontaria, jamais pensaram do que, dali adiante, seria o seu destino.  

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Revelação

Vi num sonho que, mesmo diante de toda a maldade que ainda existe no mundo, o bem há de sobreviver para sempre. Todos os momentos bons, certos e justos persistirão existindo no coração de quem os viver. As horas de rara felicidade, as ocasiões de paz e harmonia, que tocaram os esteios da esperança e da fé, que nutram a beleza no sentimento, essas jamais desaparecerão, no que pesem obstáculos e perseguições; as consequências que as fustigaram naquelas situações jamais as destruíram, por maior seja o mal, mas que regressarão à consciência de quem as experimenta, e lhes preservam as lembranças. 

A força que possui o que é bom oferece motivo da continuação dessa bondade ao infinito dos que merecerem conhecer essa pureza original. Nisso, todos dispomos da condição de resistir, nos sonhos vividos. A manutenção de tais oportunidades se faz de modo natural, porquanto o poder dessa bondade as circunscreve no seu íntimo e mantém acima do desgaste dos tempos e das circunstâncias. Diante daquele esfacelamento das lembranças, estas lembranças positivas contêm os elementos necessários à própria realização constante. Significa uma eterna infância da originalidade, face à pureza da inocência.

Os lugares e as ocorrências de valor positivo, portanto, merecem do equilíbrio universal as tais respostas em nós próprios, testemunhas e autores dos aspectos puros, matéria prima da renovação das manifestações com que a face definitiva das existências far-se-á já agora, e no coração dos protagonistas no amanhã. A lei que estabelece a conservação dos instantes felizes, pois, representa o fator básico da criação das eras de Luz que norteia as existências durante todo tempo. Enquanto isto, a criatura revela em si o poder de preservar os primeiros passos da suprema transformação que ora acontece, qual partícipe, autor e também criador, numa espécie de protagonismo efetivo, espelho real de tudo quanto até aqui veio à tona durante todo tempo, nos campos da boa consciência, vez que matéria era só a não existência do Ser.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

O cristal da consciência

Somos nós quem polirá este bem tão precioso de que somos depositários e transportadores aos portos da Eternidade, a consciência. Eis o valor principal de tudo quanto persiste durante todo o tempo. Existir vem significar essa ação de lapidar e, em dia maior, depositar aos braços da imortalidade a sua essência mais pura. Resumirá, afinal, o motivo das tantas filosofias e buscas. 

No intuito de polir o cristal da consciência ora feita humana aqui existimos a pisar este chão e vagamos de tenda em tenda ao sabor dos desertos das horas. Por vezes até sorrimos diante da oficina e suas máquinas esquisitas. Olhamos pelas janelas que mostram a paisagem do alheio esforço e devoramos com as vistas o desejo de que fosse diferente. Quanta fome, quanto apego a que assim pudéssemos destruir o cristal ou guarda-lo só em nosso tesouro egoísta, a nosso critério, enquanto fizéssemos e acontecêssemos ao sabor dos instintos frágeis dos animais selvagens. Porém viemos com certeza de missão perante a Lei, cativos até ao ponto que nos foi determinado lá nas primeiras visões. 

Ninguém que se preza haveria de fugir ao destino de polidores do cristal da consciência, sob a pena de sofrer o desencanto do nada e regressar tantas vezes tantas quantas necessário seja, a cumprir o desiderato de enxergar através dela o tempo da Salvação. Será, sim, por meio disto que virá a chance de adquirir a liberdade, escapar da infame vaidade. Jamais ocorrerá, por isso, o fracasso, porquanto o intervalo do início e ao fim são falhas abandonadas pela escrita dos tempos, mera poeira do inexistente, fagulhas de traços no ar, as reencarnações, as estações do percurso. Lá, num momento santo, advirá o limite, e a consciência translúcida indicará o teto da libertação. Todos, no risco firme do critério absoluto, então, mereceremos a luz que ainda vive presa na consciência individual. Seremos o Ser em Si, senhores de uma festa perene, nos campos da Felicidade plena. 

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

O balbuciar das canções

Houvesse o Sol ter que nascer sem o cantar dos passarinhos, sustento minhas dúvidas se com isso Deus concordaria. Nalgumas frases apenas as canções tocam forte nas fibras da alma da gente. Querer justificar o que cativam as melodias, nas letras, nos fás sustenidos, nas longas e breves, ninguém explica. E de onde elas vêm, quem sabe?! Doutros astrais, de longe das vistas, de longe, bem de longe decerto. Do campo das musas de profundas inspirações. Chegam aos abismos de dentro e ali permanecem plantadas para sempre na consciência distante. A beleza da poesia, da arte, da essência, que alimenta o desejo de felicidade traz consigo as pautas, os ritmos, o andamento...

Nunca esqueço o clima das canções que me fizeram a cabeça. Dos dias, daquelas horas santas de quando as ouvi. Bem claros os momentos, o estado de espírito, os sonhos incendiários. Lembro até das pessoas com quem, à época, mantinha aproximação e dividia as apreensões. Juntos tais pedaços de existências, posso, inclusive, formar, de novo, aquele eu que pensava ser e vagava nas calçadas do passado, e sofria, e angustiava, e ansiava. Espécie de romantismo crônico invadia os estágios entre as duas realidades e as canções trazidas à trilha sonora dessa perpetuação que hoje observo reviver nas audições daqueles turnos e de agora, únicas e iguais nos labirintos dos ouvidos. 

É quando escutamos a melodia, as letras, os tons, que daí advêm quadros que apresentam primeiro os sentimentos, e só depois os pensamentos que dali nasciam e salvos continuam. Tantas épocas de milhões de rostos anônimos que desfilavam à frente dos olhos, enquanto aos ouvidos vem esse comando insistente, definitivo, da música imaginária.

De comum, resumem ser saudade isso que se sente diante do que foi sem chances de regressar, a não ser que a música não houvesse, pois, de voltar. Saudade, que disseram tratar de palavra do Português no Brasil, com exclusividade. Saudade que vem de solidão, solidade, sordade, até virar saudade, tal jiló que arde nas entranhas da pessoa que padece. A música possui  condão de mexer o íntimo e reinventar do que sobrou através da arte, na sensibilidade, no sentimento que resta ao fim de nada mais. Uma fala doce que sussurra no peito as mesmas emoções antes vividas, tocadas de perto, guardadas com extremo zelo nos acordes e percussões.

De tanto esperar o invisível dos tempos, terminamos aceitando escutar, pelo sentido espiritual da audição, a presença forte e distante de tudo que retivemos às dobras do sentimento; são as músicas, que falam disso e alimentam a certeza da alegria eternizada em nós escondido na ausência. Por isso, bem melhor agora abrigar os acordes da canção no prazer de estar bem aqui e viver de novo tudo de bom.

domingo, 12 de novembro de 2017

Aqui

Nas luzes de todo momento, só alegria e paz. Amar e viver, independente de tudo quanto dispersa o sentimento de Si. Conter nisso o tanto de olhar o Infinito e sentir felicidade em ser face ao fluir das gerações, pois somos o que sempre teremos de ser, desde que queiramos. Um segredo que fala na alma da gente e confessa o prazer gostoso de existir perante as nuvens que passam e trazem o tempo gravado nos céus. Confidencia os sons da Eternidade em nosso humano coração, eis bem aqui a porta do Destino. 


Por isso, o hoje é o centro da satisfação de persistir na busca das respostas que viemos buscar neste chão. Aceitar os limites, porém querer todos os direitos que isto significa. Preencher a pauta dos instantes com pensamentos harmoniosos até onde pudermos chegar, e chegar. Nada de investir nas saudades do sem jeito. Animar o poder de construir os filmes bons da oportunidade e produzir arte de pura sabedoria e bom gosto, senso de esperança constante, livre das lembranças desnecessárias que perdidas ao vento vão embora. Apenas interessa o que somar de satisfação, e só. 

O bom das histórias de final feliz, sem final; os sucessos das missões impossíveis; a beleza das manhãs; sorrisos mil nas faces; a tranquilidade dos santos; amizades e festas; telas de rara luminosidade; as músicas que tocam a essência; as horas inesquecíveis que se repetem na presença das manifestações de solidariedade; os sonhos das muitas revelações espirituais; momentos de iluminação há tanto esperados; serenidade, qualidade, trabalho, dignidade, honestidade, justiça, equilíbrio; resultados positivos, enfim; a união dos ideais nobres da evolução; e frutos saborosos das práticas fiéis. 

Desenvolver tais habilidades e rever valores de transformar o mundo em nós. Crescer com o sol dos dias, permitir a liberdade dos irmãos que somam conosco, na função de oferecer saúde aos bons propósitos. Usufruir da intensidade de ricas ocasiões que nos convidam a mudar ao melhor; se estiver precisando; achar o trilho da real objetividade. Isto sem jamais desviar a força de conduzir nossos passos aos lugares certos, sob as condições que a Natureza oferecer, e pede atenção, no lado sadio da inigualável presença desses mistérios de Deus. 

sábado, 11 de novembro de 2017

Os amores desta vida

Ao sabor de todos nós, eis esta ânsia que toca os dias como sinos da ilusão. Preencher de vazios os sentimentos já desde nunca vazios, nos sonhos de quem esteja bem ali do lado. Vontade soberana de envolver menos solidão na solidão de alguém. Fome, pois, de companhia. Ninguém que queira olhar em volta e desistir. Daí parceiros de virtudes em forma de sintonia, ao mar aberto dos sóis entre nuvens cinza. Algo a interpretar essa vontade soberana que deixa livre os lugares próximos e esquece as horas longínquas, quando haverá de haver, por isso, um senso de posse que resolva o desenvolvimento das ideias que somos nós enquanto vida, habitantes cósmicos das florestas virgens. 

Até então, vislumbrar as possibilidades disso, de encher de sentido essa ausência de tudo, no completar das interrogações, que deslizem os amantes suavemente pelas árvores do deserto da solidão. Todavia o espaço útil perfaz o tempo de tantas definições das vidas sucessivas e que nenhuma fosse. Ainda em tudo a preencher, sói de querer sempre novos desejos em forma de pessoas, na busca do outro nos hemisférios da gente mesmo. Enquanto isso, a sombra seguirá sua vocação eterna de buscar saída inexistente nos mundos lá de fora. Nunca, depois, para sempre, os temores de ser, jamais... As pontes imaginárias apenas permitem divagar, andar aos gestos, aos tombos, deixar correr vultos de mistérios de outras vontades também ocultas, adiamentos de novos encontros. Desencontros em movimento. 

Quiséssemos, entretanto, admitir, saberíamos de bom grado o peso das existências reais. Contudo mistificamos, mascamos em pincéis azuis as velhas portas da ficção dessa angústia paterna. Saber-se-ia isolado no meio das pedras em atividade, no claro das marés que assustariam até os heróis nas lendas. Crer-se largados nos oceanos bravios de vivos parceiros ainda soltos nos acasos ferve de não ter tamanho a melhor das consciências agora. Há nisso que criar modelos de respostas, a fim de salvar o instante e manter em chamas eternas a esperança e a pureza dos traços mais inocentes. 

Conquistar o coração

Que de nada adiantaria ao homem conquistar este mundo e perder a Eternidade, nas palavras de Jesus. Por isso, conquista o teu coração, que com isso conquistarás eterna a Felicidade. As migalhas daqueles acontecimentos tão só visíveis no que impõem condições inatingíveis daquilo que nunca permaneceria, frações do sempre, busca que forma as nuvens e elas que jamais reaparecem quando salvas o coração. Lições vivas que perenes determinam o senso de Si próprio e vivem desde agora o sonho da impermanência, e isto significar busca da paz interior no pouso certo da esperança. Tarefa por isso necessária, vencer o mundo, conquistar o coração, dominar o sentido das inutilidades humanas. Esse esforço de sobreviver que determina, em consequência, o primeiro traço dos que esperam subir a ladeira das virtudes e concentrar pensamentos no caminho da certeza. Há muito a percorrer nesse transcurso das horas céleres que jamais regressam. 

Iluminar e iluminar-se, eis o valor de tudo acima dos apegos da matéria. Purificar o que foge no depois de todo vão momento. Conter a lágrima dos dias e os traços da ilusão. Aceitar o ser em si qual quem recebe a luz do Tempo e agasalha junto da alma, na essência dos sentimentos, pois quem sente é o coração. As marcas vivas de um coração que fala da pureza, do mistério e da humana consciência de Deus.

O mais que vem na trilha dos passos. Andar através das marcas de quem viveu e reunir pedaços do que foi no decorrer dos dias. Somar as partes de nós mesmos, instante supremo das realidades plenas. Ativar o Universo que habita a nossa habitação solitária de tudo quanto há. O Senhor dos sonhos da existência, conduzirá, assim, os amores aos pastos dessa paz duradoura, inesgotável. Coração, essa presença inteira dos santos no sacrário dos Céus.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Os seresteiros

Eu me oriento por meio do passar dos acontecimentos que desfilam soltos em meus pensamentos. Eles vêm na maior sem cerimônia, e na maior sem cerimônia também desaparecem debaixo dos dias. Quando estou focado neles, o que acontece de vez em quando, chego mesmo a segurar alguns quase fisicamente, e, nisso, escrevo, descrevo partes da visão do mistério de tal fenômeno. São memórias, lembranças soltas pela caixa vadia dos movimentos internos, quais ondas de maior intensidade e inexistência, mas que têm a força de manifestar a presença em mim, também este ser inexistente que sacode as marés dos pensamentos e balbucia gestos e faíscas. Batem nos rochedos de praias desertas, e que deixo falar através das palavras e dos conteúdos. 

Por exemplo, hoje, ao lembrar tempos anteriores, quando ainda criança em Crato e vivenciava algumas atividades artísticas de cantores nascidos no meio da população e que permaneceram assim, só nascidos no meio da população sem chegar ao estrelato dos púlpitos. Eram mecânicos, alfaiates, sapateiros, vendedores ambulantes, pequenos comerciantes, caixeiros de loja, bancários, viajantes, pedreiros, no entanto resolviam e cantavam as modinhas do cancioneiro popular daquela hora, nas madrugadas frias, às janelas dos apaixonados, em programas de auditório das emissoras do lugar, nas praças, nas quermesses da igreja, nas festinhas de aniversários e outras comemorações. 

Eles permanecem ali bem vivos nas suas apresentações de dentro dessa pretensa existência à margem das outras realidades que circulam soltas pelos corredores das memórias da gente. Maviosos intérpretes de sucessos que ainda hoje servem de trilha sonora àquele mundo teimoso sempre vivo na alma dos que o viveram. Recordo com relativa facilidade nomes quais Célio Silva, Luís Soares, Geraldo, José Flávio Teles, Peixoto e outros que trazem a fisionomia e precisaria persistir no esforço de lembrar até virem à tona. Havia, também, os músicos que lhes acompanhavam, todos virtuoses e consagrados entre os fãs fiéis que ouviam de olhos acesos, Audísio Gomes, Rivadávia, Hildelito Parente, Nélio Cleiton, Expedito Padeiro, estes que formavam o chamado regional, que dava o tom e mantinha a qualidade inesquecível das peças musicais dos saraus de boleros, sambas canções, guarânias, valsas, de que se sabe existir no mundo inteiro na mesma fase do tempo. 

À época, uma era de inocência acústica e respeito ao silêncio, o tônico das inspirações restava por conta das bebidas alcóolicas, isto quase livres do que um dia já fomos da sonoridade agressiva desta intolerável tecnologia de penitência dos atuais paredões.

O pequeno rouxinol

Princípios da década de 60, havia em Crato, no auditório da recentemente inaugurada Rádio Educadora, famosos e animados programas de auditório, com frequência assegurada de boa parte da população. Dentre os apresentadores lembro-me de Gilberto Pinheiro e Heron Aquino. Das atrações principais, dotadas de nomes eternos do cancioneiro caririense, constava um garoto, José Roberto Brito, que fez enorme sucesso cantando sobretudo as músicas de Joselito, a voz que emocionava plateias pelo mundo, naquela hora. Cantor e ator de renome, com mais de uma dezena de filmes, destacara-se qual das vozes infantis melhor consideradas do século XX.  


José Jiménez Fernández, nascido na Espanha, em Beas de Segura, Jaén, em 11 de Fevereiro de 1943, teve o seu apogeu quando criança. No correr da carreira, no entanto, após fama internacional de alguns anos, já no início da idade adulta, ver-se-ia envolvido em processos judiciais momentosos, sob a acusação de participar da guerra civil em Angola, na África. Constaram contra ele envolvimentos como mercenário e traficante de armas e drogas. Alegaria inocência, visto justificar sucessivas viagens ao continente africano a título de caçador e colecionador, sendo, outrossim, condenado a cinco anos de prisão, dos quais cumpriria apenas dois, face a bom comportamento.

Ao ser libertado, regressaria aos palcos cantando baladas românticas, longe, porém, do destaque obtido na primeira fase da carreira artística. Seguiria profissionalmente a desempenhar funções de empresário de outros cantores. Hoje há registros de sua história através da rede internacional de computadores, inclusive de cenas de seus filmes e páginas de suas interpretações memoráveis. 

À época que citei, primeiros dos anos 60, Joselito marcaria de modo particular a história de Crato face ao desempenho de Zé Roberto nesses programas de auditório da Rádio Educadora, também com voz de rara beleza, em noites inesquecíveis à nossa geração.  

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Contagem regressiva

O pulsar do coração das interrogações, parecido com esses quadros de televisão dos se vira nos 30, aqui nos vemos a fim de responder qual o sentido disso tudo em que formulamos a própria história. Pergunta gigante crepita no espaço entre o prazer e a consciência. Nem adiante gemer alto, porquanto quem escuta também participava do jogo. Nem correr na frente, pois sujeita chegar mais cedo no limite da resistência e não responder o enigma fatal. Todos temos seu jeito de fugir, poucos de aceitar o desafio. Dizem os santos das ruas que malandro demais atrapalha. Temos, porém, esse motivo forte de alegria, achar a razão de estar aqui circulando nas paredes deste chão sem paredes do Infinito, e desvendar o mistério de nós mesmos, oferecer as opções corretas de existir, chova ou faça sol.

Uns apostam nas escolhas e se jogam de cabeça no precipício da lida. Outros, entretanto, reclamam de dar notícias. Apontam de tudo quais razões de impossibilidades, no entanto se arrastam no intuito de aprender o sentido de haver chegado aqui, participar do regimento e, lá um dia, regressar aos páramos celestiais de alma lavada. Nisso, o bobo coração prossegue marcando os passos da contagem de regresso. Dos lados, pássaros cantam, sóis nascem, estrelas brilham e haja necessidades que justifiquem o direito de tocar adiante o rebanho dos humanos. Indivíduo a indivíduo, numa permanência curta ou longa, seguem os contingentes das eras.

Descobrir, pois, o justo peso da gente merecer tais oportunidades traz um charme de não ter tamanho. Quantos perguntam quem permite a chance de aprimorar o conhecimento e abrir as portas da felicidade, causa primeira de todas as ações pessoais. Dia menos dia, risca no mar das existências o eletrocardiograma das virtudes. Preciso seja determinar, pois, a ordem no meio das horas intermitentes. Trabalhar o segredo que mora dentro do peito. Livres de angústias e desesperos, que sejamos bem felizes agora e sempre.

(Ilustração: A tentação de Santo Antônio, Salvador Dali).

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A lenda de São Cristóvão

Vivia às margens de rio de intensa correnteza em que auxiliava a transportar pessoas durante a travessia perigosa. Ele, de estatura além da média e que conhecia os trechos das águas, merecia a confiança dos viajores. Nalgumas situações, havia de transportá-los às costas. Sempre demonstrava dedicação ao seu trabalho e cumpria com abnegação a tarefa de servir às populações daquele lugar, nas terras do Império Romano à época do imperador Décio. 

Lá um dia, num final de tarde em Cristóvão acabava de realizar seus afazeres, se viu chamado a cruzar mais uma vez o rio, porquanto na outra margem havia uma criança que precisava chegar ao outro lado das águas turbulentas. 

Desprender largos esforços no movimento daquele dia, e considerava já ter cumprido o que a ele coubera fazer. Ainda assim, gritos insistiam em que cruzasse de novo a correnteza e fosse buscar o menino que aguardava o valioso auxílio de alguém lhe carregar às costas no difícil trecho da viagem. 

Nada que dissesse serviria para acalmar os chamados persistentes que ouvira. Nenhum argumento, nenhuma desculpa. E Cristóvão fez da fraqueza a força e resolveu atender ao pedido. Rumou à outra margem do rio e avistou garoto que o aguardava esperançoso.

Aproximadamente no centro das águas, que surpresa aguardava Cristóvão ao ouvir da criança ser ela o Criador e Redentor do mundo, o Menino Jesus, e que vieira a ele trazer a Salvação, vindo daí o seu nome, aquele que transportou o Cristo. 

Ao chegar na terra firme, a criança ordenou a Cristóvão que fixasse seu bastão ao solo, daí nascendo de imediato um palmeira frondosa, o que muitos presenciaram e consideraram milagre de Deus. Nisso várias das testemunhas se converteriam à fé cristã. No entanto, a fama do operário chegaria aos poderosos de então, que perseguiam seguidores de Jesus. Por tal motivo, Cristóvão seria martirizado. Eram os primeiros tempos do Cristianismo.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Portas da visão

O jeito de olhar o mundo lá de fora determinava tudo, enfim. Deixar vir apenas o que alegrar. Limpar a barra quando se nos parece impossível deglutir a realidade dos dias. Eis, assim é se nos parece, do dizer das populações. Nada importa o que pensavam os oráculos de antes. Viemos, sim, buscar o fogo sagrado e desempenhar aqui a missão da descoberta.

Na viagem interestelar, descobrimos o bem que a isto responde o enigma de salvar os elementos. Fomos e seremos agentes, nessa função, mesmo que a muitos parecesse uma causa perdida. Porém tudo acontecia de acordo com as previsões do necessário. Os gestos e as versões apenas representaram peças isoladas do processo infinito. Ninguém está fora de contexto. Acima ou abaixo, todos, sem exceção desempenharam o papel que lhes coube.

Foram longas filas e demorados gestos, corredores imensos a deslizar aos pés e os festivais de atravessar noites escuras. Ainda que difíceis de cruzar, eram o que competia naquele momento do drama milenar hoje comédia. Jogo de cartas marcadas. Deuses sabiam de tudo, haviam escrito o roteiro, enquanto nós aprendíamos viver e sorrir diante das câmeras. Muitos filmes que mergulharam fundo nas telas da memória. Equívocos que representariam frações da monumental esfinge de olhos arregalados e movimentos constantes. 

E fugir disso nunca haveria aonde nem quando. Alguns quiseram sair de cena, no entanto também fizeram sua parte com igual perfeição. As farras homéricas, por exemplo, constaram do texto original, e tantos aceitavam tamanha exatidão que aprenderam a somar pontos e ganhar prêmios e flores. 

Tais bichos do animado zoológico da visão, cumprimos à risca nossa parte, e agora chegam suavemente os instantes solenes da Paz que encherá o firmamento enquanto os anjos entoarão cânticos de louvor no encontro da gente e da Eternidade.

(Ilustração: Prometeu, Rubens).

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

As circunstâncias

De andar através dos corredores deste chão, vim ver o quanto distantes ainda vivem os instintos de mostrar a face do verdadeiro mistério. Quisera puder apressar o passo, e talvez encontrasse mais cedo os primeiros sinais na manhã lá fora. No entanto há um ritmo a respeitar como o dever de ofício. Ninguém que se preze insiste desobedecer, porquanto as normas do Tempo impõem, além de toda expectativa irreverente dos animais. Portanto, resistir, não a isso, ao regulamento, mas aos instintos da pressa vazia. Primeiro, pois, aceitar as circunstâncias inevitáveis.


Diante disso, logo bem cedo, à presença dos primeiros raios de sol, trato logo de conciliar comigo mesmo o regulamento. Baixar a cabeça e admitir que as decisões de comando chegam nas ocasiões certas, livres do perigo das nossas apreensões. Porquanto resta cumprir na risca o trilho traçado na cartografia bem à frente, no painel principal. Vieram previstos todos os segmentos da longa viagem. Pouco importa obstáculo. Resta cumprir, isto sim, cumprir a cartografia toda hora...

Coincidente ou não com o gosto coletivo, agora cabe tão só preservar o roteiro inicial. Somos nós, nós e o regulamento; ponto fechado. As circunstâncias, pois, são normas de uso inteligente. Disso, saber da existência desses pontos marcados nos créditos da consciência significa, no mínimo, a razão da paz interior. Aceitar o momento e a Lei dos mundos, internos e externos. Nunca, porém, fugir de si. Tal representaria grave risco de perder de vez o senso e sucumbir para sempre na solidão do firmamento.

Dou alguns passos mais e chego próximo dos botões acesos na tela de cores intensas, e toco de leve, a configurar nítido o roteiro da volta. Abro as escotilhas e deixo entrar o calor intenso da manhã que alimenta o frio e tranquiliza os instintos. Espécie de mão invisível sustentará os desejos do coração, que também permanece calmo, aliado, que permite a nave deslizar suavemente no caminho do Infinito.

domingo, 5 de novembro de 2017

Tempos eletrônicos

Essa fria solidão dos instrumentos mexe com a gente. Quando parecia que aceitávamos sair da caverna, eis quando eles chegaram, os tais cacarecos eletrônicos, a nos deter tanto mais agarrados às paredes ásperas do final de túnel. Algum pretexto haveria de haver. Da gente com a gente, diálogo impossível através das redes, espécie de lesma grudada dentro da alma. Teimosia de egoísmo. 

Isso, no entanto, só num tom de avaliação, porquanto pouco de nada adiantaria rever os planos quando o senso comum bem aceita tudo isto em nome da pretensa liberdade. Festa no céu das horas. Aonde virar, ali estariam todos de equipamentos, na busca desesperada dos contatos invisíveis com os seres de si próprios. Ansiedade. Busca acelerada de superar o princípio da destruição e do isolamento. O poço dos desejos ao nível dos dedos, corações no pulso. Máquinas e sonhos. Espelhos que, de novo, invertem o processo da civilização, selvagens na floresta virgem.

Abrimos os olhos, e a primeira ação representa, pois, atualizar os calendários antigos, gestos de pura ingenuidade mecânica. Porém como superar isso tudo e preservar alegria? Admitir que existe saída. Evitar melancolia. Aceitar as fases de aprender através dos meios de comunicação. Esperar em atividade, sem levar em conta o imprevisível da condição dos humanos. 

Significação: Reverter o processo utilizando os elementos internos da pessoa, desde que transforme conhecimento em prática. Os profetas vieram ensinar que os painéis das naves dispõem dos comandos certos de modificar o curso e encontrar a consciência. Através da vontade, buscar os dispositivos de controlar o instinto e descobrir a razão principal de seguir a caminho.

Largar os apegos ao cenário que esfarela nos olhos vistos. Ninguém duvida mais da perecividade das ilusões que fogem apressadas. Contudo, procurar o definitivo servirá de guia, nas esquinas escuras dos mares bravios. Responder às questões abertas aqui no fruir do tempo. 

sábado, 4 de novembro de 2017

A busca de todos

Sem exceção, todos buscam o minério da existência. Do menor ao maior. Do papa ao sacristão. O ato de viver significa, por isso, tocar os passos no sentido de achar o pouso de tanta correria. Mais do que adquirir bens, ganhar fama, fortuna, poder, a aventura humana possui a força de continuar em rumo do que virá na sequência de tudo que restou. Uns até imaginando saber mais do que outros aonde quer chegar. No entanto o limite do caminho dará de cara com o abismo do desconhecido, pouco representanto a importância obtida no decorrer das ações.


Conta a tradição indiana que, em certo dia, Buda fora procurado por uma mãe sobraçando o filho morto. No auge do desespero, pediu ao santo lhe reavivasse o amado filho, razão principal da sua existência.

Buda, então, pediria que deixasse o corpo da criança e fosse localizar alguém que nunca houvesse perdido alguém, que nunca passara pelo que ela, naquele instante, vivenciava com tamanha amargura.

Aquela mãe, tocada pela dolorosa separação do filho, sairia de casa em casa, o dia inteiro, a perguntar por pessoa que jamais fora vítima do luto. A jornada continuaria até o dia terminar, sem que obtivesse qualquer sucesso na esforçada tarefa.

Desse modo, a mãe retornou ao místico e prestou conta da missão, momento quando também já trazia consigo o repouso da conformação face à perda que atravessava. Conta a história que, em consequência, tornar-se-ia discípula do Mestre, a quem seguiria na caminhada espiritual.

Quem, indagamos, estaria isento de domar a angústia, o desespero humano, justa medida que impõe a condição de viver neste mundo? Todos defrontam essa busca de responder ao enigma dos dias, razão essencial de tudo quanto há. Por vezes, alguns dão notícias de revelar a consciência, no entanto são poucos, raros. Ainda que diante das ilusões que só se desmancham no ar, existe o império da vontade nessa busca incessante.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Atitudes de fé

Os quais procedimentos de quem resolve aceitar que existe um trilho que liberta e permite meios outros de tocar em frente as vidas aqui iniciadas; são ações de fé, as práticas e os procedimentos que oferecem normas de achar a  consistência do outro lado das palavras e crenças. Porquanto quase todos admitem sofrer na medida em que o tempo evoluiu. Adiante, por vezes, desistem de sonhar, quando os apetites pesam e nem de longe mais os controla.

A tal pressa em sobreviver aos caprichos e prazeres fáceis determina exigências mil. E provocados pelas dores do desespero vadio, permitem que momentos destruam toda e qualquer chance de nutrir convicções, nas lidas deste chão. Seriam séculos a fim de largar de vez hábitos nocivos em favor dos Céus e da Felicidade, face à fome do desejo. Comer, beber, gozar. Braços dados nos artifícios, mergulham destarte nas ondas do inútil, abraçados a sargaços e rochedos, alimárias da desesperança, portas adentro do sabor e dos instintos.


Bem isto, pois, de exercitar a coerência entre pensar e fazer. Oferecer à convicção certezas do que virá. No entanto quem larga, pois, ao vento do passado os impulsos de satisfazer os apetites da vontade em nome de um Ser soberano? Raros, raríssimos, só alienígenas contrários à razão vulgar, exóticos personagens das ficções, meros andarilhos de sagas imaginárias, cavaleiros andantes das madrugadas insones, que ainda arrastam ferros nas galés da solidão...

Há que decidir, mesmo assim. Coragem romântica dos místicos acelerados que rasgaram as vestes da ilusão e abandonaram o senso do estabelecido aos furacões e às feras do mistério. Trituradoras de sonhos, nesse meio tempo, deixam nascer das horas, pelas gretas do Coração, planos maiores de paz na Consciência. 

Transcendência

Nas batalhas entre exércitos que combatem, no campo de manobras resta margem de respiração, no meio dos dois territórios. Aquela faixa recebe o nome de Terra de Ninguém. Zona intermediária por demais importante, exige de ambos os lados condições mínimas de respeito, a título da segurança das tropas. 

Assim, nos humanos. De um aspecto, o mundo ilusório. Do outro, a transcendência do Ser. Qual fruto em fase de amadurecimento, a existência permanece o tempo inevitável de, um dia, cruzar fronteiras e unir a divisão dos dois eus na fase de elaborar o sonho da Salvação. 

Presos ao Chão daqui, estamos nessa época de vencer as terras de ninguém e desvendar os bosques da libertação na individualidade. Disso, a busca da Luz da espiritualidade. Largar os apegos da matéria e conduzir o barco aos oceanos do Infinito, razões principais da Consciência. Permitir ao barco do Ser navegar as águas da Perfeição.

Nessa epopeia da realização, o trilho há de iluminar a alma da gente. Primeiro, saber disso. Desvendar o primor da possibilidade. Admitir o senso da procura e caminhar rumo de sua concretização. Trabalhar em si os meios de querer e dar os primeiros passos. Exercitar o conhecimento através dos meandros por vezes escuros daquela zona de luta de nós conosco próprios. 

Transcender, eis o nome que resume as ações de vencer montanhas e precipícios da zona desmilitarizada dentro do campo de batalha que somos nós. Converter a permanência em impermanência e deixar margem a transpor o espaço das contradições, até revelar ao ser interior o mistério da superação. Isto bem significa o transcorrer da busca imortal.

Ausentes disso, dessa condição determinada nas leis eternas, fora daquele território neutro, antes só impera a inexistência, as cavernas da ilusão. Requer, por isso, a coragem vencer fronteiras nos céus e chegar aos braços eternos do Amor, fonte da Vida.