quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Equipe 88

 No meu segundo ano de Salvador, morei em um pensionato administrado pela mãe de Joaquim, colega de banco, situado na Barra, Rua Milton de Oliveira. O apartamento que nos abrigava preenchia o terceiro andar de prédio cinquentenário e espaçoso, com três quartos, divisória na sala, cozinha e varanda de onde avistava o mar. Ali vivíamos com aquela família baiana proveniente de Nilo Peçanha, cidade do interior, formada de uma senhora, D. Ivone Cavalcanti, e dois dos seus cinco filhos, Joaquim e Roque. Os demais moradores éramos todos funcionários da agência Centro-Salvador do Banco do Brasil: Messias, sergipano; Sebastião, alagoano; Muanis, mineiro; e eu, cearense. 

O bairro compunha capítulo inevitável do roteiro turístico da Boa Terra, próximo de uma praia freqüentada todo o ano. Descíamos a pé em nossas oportunidades de lazer, angariando novas amizades e observando a movimentação festeira que dominava a constante rotina do lugar.

Há poucos meses, comprara um carro e buscava companhias para as peregrinações dos momentos vagos, principalmente aos lugares típicos e folclóricos. Resolvera viver com intensidade o universo da metrópole nas sobras de tempo investido nas responsabilidades profissionais e universitárias.

A convite de Muanis, um dos companheiros da pensão, aceitei me inscrever numa gincana promovida no meio do ano de 1972 pela TV Itapoan Canal 5. Em torno de uma centena de equipes agitariam Salvador durante um final de semana inteiro, festa sem precedentes, mediante a apresentação de tarefas desde peças raras da história colonial a pessoas nascidas em países exóticos, animais raros, gravações preciosas, tipos humanos de características diversas e inusitadas. 

Antes não conhecera o teor dessa atividade, porém, sob a influência dos integrantes do meu grupo, participei de reuniões preparatórias na casa dos líderes e logo me inteirei do regulamento, abrindo portas para conhecer pessoas e construir outros relacionamentos. Formávamos a Equipe 88, composta de um contingente de 50 carros, ou de mais até.

Foi uma agitação e tanto, dia e noite; isso causou reviravolta, agitação e espanto no mundo de relativa calma dos habitantes da cidade, pegos de surpresa pelo grau de furor da competição, o que exigiu ações enérgicas dos órgãos oficiais para conter os excessos no trânsito. Concorrentes e automóveis, em alta velocidade, buscavam a todo custo superar seus opositores, por vezes esquecidos da esportividade e das regras de boa paz, propostas iniciais da programação.

Eram dias intensos de emoção e risco, época, no entanto, que já demonstrava os avanços da farra tecnológica sobre o bucolismo da Velha Bahia, aos poucos ameaçado pelas chamas do futuro.


terça-feira, 29 de setembro de 2020

Deuses dos pés de barro


É que a sustentação de tudo quanto existe neste Chão bem que representa só isto, de grandes monumentos postos sobre estruturas frágeis, incompletas, conquanto há uma destinação que diluirá aquilo que implica nas criações parciais do universo estreito que ainda somos no mundo da matéria. Claro que se quer que assim não seja, no entanto nenhuma alternativa de provar o contrário persiste diante do medo constante da inexistência. Argumentos não subsistem perante a queda livre inevitável das coisas e dos dias desse plano escorregadio que redunda em nada.

Face esses no entanto, aonde, pois, segurar o aparentemente seguro? Acreditar seria insuficiente Daí a larga interrogação dos argumentos de tantos que apostam nas casas da destruição e jogam fora a vida, a alma, o futuro, a história, os sonhos, nas empresas destinadas ao definitivo nas esquinas logo ali em frente. O que faz com que seja deste modo, de apostar nas casas da perdição quais dementes, quase sempre a roer os ossos da existência precária dos homens.

O cidadão imprime todo esforço em querer ser grande perante a sobrevivência, mesmo sabendo que nada persistirá. Todavia acredita no impossível e deixa a ilusão morar lá onde devesse alimentar outros motivos. Jogam a paz, o senso e a felicidade num lance de dados, largando o patrimônio da vida no escuro dos desenganos, levando consigo o desgosto e a inutilidade. Raros, raros, agem doutra maneira.

Estes querem acertar e renunciam ao descaso com que os inúmeros trabalham no acúmulo de riquezas, prazeres celerados, dramas e angústias, apenas a título de realizar a leviandade dos instintos. Tais vidas, tais mortes... Porquanto desacreditam, sem convicção, na continuidade dos seres que ora somos. Escolhem a letra que mata e desprezam o espírito que vivifica. Firmam os pés no lodaçal da fragilidade e desprezam o êxito de uma verdade maior. Escolhas versus escolhas...


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Os versos


Minha infância depois dos cinco anos vivia em casa ampla onde morávamos, na Rua Padre Ibiapina, bairro Pinto Madeira, em Crato, vizinha a serraria de meu pai e de um tio, irmão de minha mãe, Quinco Monteiro. Na área em frente daquele sobrado de dois pavimentos construído pelo dentista Pergentino Silva na década de 40, empilhavam carradas de toros de cedro acinzentados do barro das margens do rio São Francisco, de onde procediam. Daí, demoravam utilizar em portas, janelas e móveis, confeccionadas por exímios marceneiros e carpinteiros.

Meus dois irmãos mais velhos, Everardo e Lydia, frequentavam o grupo escolar no turno da manhã, enquanto eu ficava no período a brincar no terreiro com os meninos da rua, ou vendendo a lenha, que sobrava do sarrafo das madeiras, utilizada em fogões domésticos anteriores aos de gás butano de hoje.

À tarde, seria minha vez de ir à escola, o Grupo Dom Quintino, no mesmo quarteirão, esquina da Rua São Francisco com a Monsenhor Esmeraldo.

No intervalo do trabalho, entre onze e uma hora da tarde, alguns dos operários, que procediam, na maioria, de Juazeiro do Norte, preparavam a refeição em cozinha improvisada num dos cantos da serraria. Alimentados, buscavam lugares mais amenos debaixo dos galpões para ouvir a leitura de folhetos de literatura de cordel que compravam na feira semanal.

Reservavam emoções especiais a esses momentos, mistura de mágica com recantos agradáveis de países distantes, aventuras em viagens fantásticas, batalhas de mouros e cristãos, príncipes, princesas, reinados esplendorosos, animais diferentes, bravatas, desafios, sonhos. Eu, ao meu turno, terminava rápido minha refeição já com endereço certo de ficar junto daquela confraria dos apreciadores atenciosos dos trechos lidos pelos operários. Acabou sendo esse o meu primeiro contato com a literatura. Eles denominavam versos aqueles livretos populares, nome genérico destinado a cada um, sem exceção.

O interesse de menino que demonstrava pelos cordéis me habilitava recolhê-los ao final quando se completava a leitura e reiniciavam a faina do trabalho. Com esses versos formaria bela coleção que guardava na gaveta da mesa principal da nossa casa, lugar mais seguro que encontrara, apenas por mim utilizada e fora da atenção das outras pessoas. Ocorria, raras vezes, no entanto, dos operários pedirem que trouxesse de volta para releitura algum dos volumes.

Passadas décadas, ainda me recordo o título de vários daqueles livretos que conheci na infância: Romance do pavão misterioso, Juvenal e o dragão, A triste partida (que chamavam de O verso da seca, da autoria de Patativa do Assaré), A chegada de Lampião no Inferno, A peleja de Zé Pretinho com o Cego Aderaldo, Aladim e a lâmpada misteriosa, Proezas de João Grilo, História de Roberto do Diabo, História do valente sertanejo Zé Garcia, O prêmio da inocência, A bela adormecida no bosque, A batalha de Oliveiros e Ferrabrás, A força do amor – Alonso e Marina, O soldado jogador, A vida de Cancão de Fogo e seu testamento, A prisão de Oliveiros, A filha do pescador, Os doze pares de França, dentre outros.

O mistério que existe nos livros eu descobri, pois, sua existência nesse tempo, através da literatura de cordel, este mundo encantado da tradição popular.

Curas musicais


 Certa vez, na década de 80, encontrei Luiz Gonzaga numa loja de móveis, em Crato, quando pude escutá-lo a falar algumas coisas sobre o poder de curar que tem a música, guardando, dessa ocasião, as duas histórias que agora escrevo.

Transcorriam os anos de ouro da Rádio Nacional do Rio, a cujo cast pertenceram os maiores talentos da música brasileira daquela época, dentre eles se inseria Gonzaga. Aos domingos, havia programa noturno da mais ampla audiência. Numa dessas ocasiões, o nordestino foi procurado por Netinho, trompetista que fazia parte da orquestra da emissora, a lhe dizer que estava com um filho enfermo, vítima de problema grave, o qual a medicina não conseguira diagnosticar. Por ser o garoto fã incondicional do Rei do Baião, queria o pai fazer-lhe uma surpresa e convidava o músico a visitar sua residência. 

De pronto, Luiz aceitou o convite, oferecendo, inclusive, seu automóvel como transporte para, tão logo concluíssem o trabalho noturno, seguirem até o bairro afastado onde residia a família do colega, assim, ocorrendo. 

Chegados à casa, o cantor, munido da famosa sanfona, se dirigiu aos aposentos da criança, que feliz pode ouvir as  músicas de sua preferência interpretadas pelo próprio ídolo.

Quase em seguida, para espanto de quem presenciava a cena, o menino, antes tomado por intensa febre que lhe prendia ao leito, esboçou imediata recuperação e, já na despedida, levantou-se, indo à porta, de todo refeito do mal que se vira acometido.

Ocorrência semelhante também se dera, de acordo com as palavras de Luiz Gonzaga, numa visita que ele e dona Helena fizeram a amigos, na cidade fluminense de Macaé. 

Tratava-se de casal de origem sírio-libanesa, estando o esposo a passar momentos difíceis por causa de doença incurável que lhe roubara o entusiasmo de viver. Informado da ocorrência, pouco antes do show que faria na cidade, Lua decidiu ver o amigo, indo a sua procura, mesmo sabendo que seria mínima a demora, dada a programação prevista. 

Depois de efetivada a deferência, seguiu em busca do compromisso, onde um grande público lotava a praça principal, esperando os acordes inesquecíveis do menestrel.          

Da hora em que saíra da casa do amigo até aquele instante não se passara muito tempo. Achava-se nas primeiras músicas da apresentação, entoava o Baião da Penha, quando percebeu algumas pessoas abrirem caminho no meio da multidão, oferecendo espaço a um automóvel que rumava na direção do palco. Nele vinha, junto da esposa, o dito senhor que Luiz Gonzaga há pouco visitara; aproximando-se, foram alçados ao palanque, onde permaneceram no decorrer da grande festa. Depois disso, conforme o relato daquele que protagonizou o ocorrido, desapareceram de todo e para sempre os sintomas da enfermidade e o amigo pode, sadio, viver ainda muitos anos.


sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Transcendência

 Nas batalhas, entre exércitos que combatem, no campo de manobras resta margem de respiração no meio dos dois territórios. Aquela faixa recebe o nome de Terra de Ninguém. Zona intermediária por demais importante, exige de ambos os lados condições mínimas de respeito a título de segurança das tropas. 


Assim nos humanos. De um aspecto, o mundo ilusório. Do outro, a transcendência do Ser. Qual fruto em fase de amadurecimento, a existência permanece o tempo inevitável de, um dia, cruzar a fronteira e unir a divisão dos dois eus que ainda elaborar o sonho da Salvação. 

Presos ao Chão daqui, estamos nessa época de cruzar a Terra de Ninguém e desvendar os bosques da libertação da individualidade. Nisso, a busca da Luz da espiritualidade. Largar os apegos da matéria e conduz o barco aos oceanos do Infinito, razões principais da Consciência. O barco do Ser que se permitir navegar em águas da Perfeição.

Nessa epopeia de realização, o trilho há de iluminar a alma da gente. Primeiro, saber disso. Desvendar o primor da possibilidade. Admitir o senso da procura e caminhar rumo da concretização. Trabalhar em si os meios de querer e dar o primeiro passo. Exercitar o conhecimento através dos meandros por vezes escuros daquela zona de luta de nós conosco próprios. 

Transcender, eis o nome que resume as ações de vencer as montanhas e os precipícios da zona desmilitarizada dentro do campo de batalha que somos nós mesmos. Converter a permanência em impermanência e deixar margem a transpor o espaço das contradições, até revelar ao ser interior o mistério da superação. Isto significa bem o decorrer das buscas.

Ausentes disso, dessa condição determinada através das leis eternas, fora daquele território neutro, impera a inexistência, cavernas da ilusão. Requer coragem vencer as barreiras dos céus e chegar aos braços do Amor, fonte da Vida. 


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Tempo, o senhor da Razão e dos acontecimentos


No transcorrer das gerações só não aprende quem não quiser. São as ondas repetidas do mesmo oceano do Tempo que quebram sucessivas nas praias dos destinos. Dizem que o uso do cachimbo é que faz a boca torta, no costume daquilo que vira comportamento. E nisso existe uma escola aberta aos que queiram reconhecer as lições da verdade, da justiça e da paz. Essa aparente ingenuidade que ocasiona os erros de comportamento nada significa além de pouca inteligência moral daqueles que repetem os desmandos que ficaram lá atrás na crueza do passado. Falamos isto a propósito da falta de critério que empana os dias de hoje no mundo inteiro, que, se nenhuma consideração pelos resultados negativos até aqui apresentados pelos modelos praticados, agem quais vítimas de si mesmos.

Avaliemos isto pelas lideranças que nos trouxeram até aqui e detectemos o tanto de fragilidade nos costumes da Raça. Quero crer nem ser necessário indicar culpados, conquanto todos o somos, autores e vítimas dos próprios atos, pois a evolução dos meios políticos e sociais levaram a trabalhar as escolhas. Ninguém alegue desconhecer o jeito certo de selecionar as lideranças que conduzirão as instituições coletivas logo depois dos pleitos eleitorais. 

No entanto até parece que andamos de marcha ré, face dos resultados que vêm à tona horas sem fim. As crises do Planeta apontam os desmandos de verdadeiras feras da ganância, causas das divisões de classe, da exploração das nações pelos impérios, destruição inconsequente da natureza, escravidão dos fracos e acumulação deslavada de minorias perversas. Entretanto o barco segue seu curso pelo rio dos acontecimentos, todo instante a oferecer novas chances de lucidez quase constantemente atiradas ao lixo da História.

Bom, este é o quadro por demais conhecido de um egoísmo crônico que persiste na geopolítica, apesar de tanto conhecimento acumulado, ausente, no entanto, da consciência geral, sobretudo no que tange às lideranças emergentes, reconhecendo, porém, ser larga culpa que cabe aos responsáveis pelas más seleções, vez que os indivíduos são eles e suas escolhas, afirmam os sábios.

Ilustração: Os colhedores, de Pieter Brueguel (o Velho).


terça-feira, 22 de setembro de 2020

Há uma luz acesa no coração


Vem de dentro do silêncio essa voz que embala o sentido das existências, luz que ilumina a firme disposição de continuar pelas vidas afora. A força do querer. Ninguém que se preze fugiria de admitir este poder indomável de querer seguir mesmo diante dos obstáculos que sujeitem os dias. Autores da vontade de viver a todo o momento depois de lançados na correnteza, os humanos sobrevivem às intempéries mais duras, sempre no ímpeto de preservar a oportunidade deste chão por vezes tão inóspito. Os maiores apuros jamais desvanecem o impulso das vidas, por menos e válidos elementos estejam disponíveis.

Esse querer de sobreviver nasce de luz que ilumina o coração da gente, a reclamar espaço no invisível do tempo. Independente, pois, das condições necessárias, se quer a qualquer custo alimentar a ânsia de existir, tanger adiante o processo de estar aqui agora, fruto das escolhas logo após o nascimento. Paladinos desse apostolado, nem sempre conhecemos a fonte origem de tanto empenho, porém há, sim, uma luz bem acesa no coração da gente, que alguns denominam fé, outros coragem, esperança, convicção, ideal, amor, justiça, paz, etc.

Autores existencialistas esclarecem tais razões quis sejam vontade, exercício de liberdade, sonho de poder, enquanto os outros indivíduos estabelecem limites aos demais sob que exercitar esse tal estado de potência; a nós correspondem as escolhas daquilo que nos permitam escolher. Todavia persiste e luz acesa na alma das criaturas humanas, foco das atitudes dia após dia.

Quanto à resposta que seja dos viventes caberão, outrossim, variações de pessoa a pessoa, vindo desde então os tantos desempenhos e práticas trazidas às histórias das gerações. Isto varia ao infinito, conquanto demasiadamente, no território entre o fracasso e o sucesso, dos dramas às alegrias, retratos fieis das epopeias deste mundo fruto da compreensão dessa luz que ilumina no coração de todos o desejo de viver.


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Sombra e Luz


A China preserva uma tradição milenar, vistas as técnicas de registro que desenvolveu como nenhuma outra civilização. A propósito, vale lembrar que fabricou o papel, aperfeiçoou a porcelana e a seda, além de produzir instrumentos de orientação, depois usados pelos ocidentais quando de suas viagens marítimas para conhecer o resto do Planeta.                                   

Dentre os consagrados gênios do pensamento chinês figura Fo-Hi, denominado Imperador Amarelo, que se destacou pelas pesquisas no campo da Ciência Universal. Sábio avançado para sua época, voltou-se a conhecer a natureza humana e sua busca de adaptação com o meio em que vive. E dos conhecimentos que deixou à posteridade um queremos aqui avaliar: o do Princípio Único da Bipolaridade, que afirma tudo ter o seu contrário para poder existir. Ou Yin/Yang, a Lei Universal na matéria, base de todo progresso tecnológico.

Sobre o assunto alguma coisa pode ser falada, ainda que de modo rápido, devido às dimensões restritas deste pequeno instrumento de divulgação. 

Após passarem a existir, sem que avaliemos o mérito disto, os seres animados e inanimados se vêem situados entre dois extremos de força, o centrífugo e o centrípeto. Na energia elétrica, são eles os dois pólos, negativo e positivo, a terra e a fase. 

Caso analisados sob o prisma do equilíbrio entre as partes, fenômenos e objetos a se apresentam dentro da obediência deste princípio. Lua e Sol. Noite e dia. Açúcar e sal. Mulher e homem. Escuro e claro. Baixo e alto. Frio e quente. Esquerdo e direito. Tudo tem seu outro lado, possibilitando a relação cooperativa e complementar na outra extremidade. Friedrich Hegel (filósofo alemão) demonstrou, na Filosofia, esta lei, quando criou o método dialético da tese e da antítese a gerarem uma síntese, início de nova tese, aspectos distintos do processo energético do movimento na matéria.

  

SETAS ESPIRITUAIS

  

As religiões também se utilizam referências idênticas, desde a mais distante antiguidade, registrada em livro, no Hinduísmo, onde se lê, na Sublime Canção dos Vedas (Bhagavad Gita), o diálogo entre Arjuna, um guerreiro em conflito quanto a lutar ou se omitir face batalha extrema, e Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, a lhe indicar o caminho da Verdade e manter o seu ânimo de lutar. 

Depois, veio o Budismo, fruto da evolução individual de Gautama, que desperta em si o Eu Búdico, ou o Buda (O Iluminado), no outro lado de si mesmo, o Eu Superior. 

No Cristianismo, Jesus de Nazaré, após os 40 dias no deserto, virá às margens do rio Jordão, no Batismo, dividir a História com a manifestação do Cristo (Escolhido de Deus), sua outra natureza, seu lado interno, transformação que passa a transmitir em andanças persistentes através da Palestina, anunciando o Reino Divino existente no coração de cada ser humano - Sois deuses e não o sabeis. 

 Meu caminho é o do coração. Ninguém chegará ao Pai a não ser por mim.                                                            Buscai a porta estreita, porque larga é a da perdição.

 Não saiba a vossa mão esquerda o que dá a vossa mão direita. 

 Se vosso olho é mau, todo o vosso corpo é mau. Se vosso olho é bom, todo o vosso corpo é bom.

 Brilhe a vossa luz. 

A mesma lei veio também de orientar a Psicologia moderna, pois o mesmo princípio passa por todas as coisas do Universo, segundo afirmativa de Hermes Trismegisto, sábio consagrado no Antigo Egito. 

No campo da pesquisa psicológica, os resultados demonstram que a essência da personalidade compreende uma harmonia que se faz no funcionamento proporcional do ego e do Eu Superior, os mesmos dois valores ora aqui abordados. 

    

OS HEMISFÉRIOS

  

Distantes dos conceitos apenas abstratos, vemos, na composição física do corpo, em sua arquitetura, que o nosso cérebro se estrutura em dois hemisférios, esquerdo e direito, a se entrecruzarem nas ligações nervosas para com o restante dos órgãos, a coordenarem os lados interno e externo complementares, enquanto que se comunicam por estreita faixa denominada corpo caloso – uma espécie de ponte correspondente a 25% da área de fronteira destes dois territórios, qual traço de união.

Estudos de funcionalidade avaliam que existe uma proporção de predominância, na razão de l para 3, de um lado sobre o outro, as mesmas equivalências de terra e água, na face da Terra. 

Como visto, o mesmo princípio também forma tudo o que existe, e se sabe que um dos aspectos possui luz própria, no contexto da própria Lei, sem que sejam necessários juízos de valor, a indicar que a Verdade existe, independente das escolhas individuais das criaturas humanas, qual coisa em si, além das interpretações e escolhas particulares. 

A luz do Sol é própria; a da Lua, refletida. 

Na energia elétrica, apenas o positivo dispõe da fase, ou fogo, com mostra a experiência cotidiana; o outro pólo, a terra, poderá se trazer na ocasião da exteriorização da força, como se dá nos sistemas de fornecimento que utilizam apenas de um único cabo para transportar a eletrificação, exemplo adotado como alternativa de menores custos. 

Nesta seqüência de raciocínio, a lógica reflete uma norma original, onde o progresso se evidencia qual tendência natural, onde as águas correm sempre para o mar, como diz a sabedoria do povo. As trevas fogem da luz, porém a luz não foge das trevas. E o Homem se vê na condição inevitável de um dia ser feliz, pelo triunfo definitivo do Amor sobre a morte. 

No entanto, isto compete ao livre-arbítrio de cada criatura pensante, que deve evoluir por esforço exclusivo, sendo-lhe permitido o plantio de uma colheita eterna e justa, como propõem as filosofias e religiões: A cada um conforme o seu merecimento. 

    

A TRAVESSIA

  

Deveremos mudar de lado, romper o cristal que nos divide, conduzidos pelo poder maior da Consciência, e passar ao outro hemisfério cerebral, que também nós somos. Para percorrer este caminho de libertação, atravessemos o Mar Vermelho, a seiva colorida que nos irriga vasos, veias e artérias, para chegar na Terra da Promissão e viver o sonho da real felicidade. Eis o mito hebreu da Passash, ou Páscoa, a significar, em hebraico, passar sobre (atravessar), da escravidão para a libertação. 

Quando Saulo de Tasso, na estrada de Damasco, se refazia do impacto vivido na presença da Luz, se depara com tamanha mudança interior que passa de Saulo a Paulo, e afirma: - Não sou eu quem vive. É o Cristo que vive em mim. 

Portanto, a capacidade humana de se auto-avaliar demonstra conteúdo espontâneo de um fenômeno biológico permanente, em cumprimento de trilha universal organizada desde a origem de tudo, qual o mesmo percurso da Terra em volta de um eixo imaginário, iluminando-se ao Sol, que a clareia do Leste para o Oeste.   Do olho esquerdo para o direito - na rotação própria da evolução - quando cada olho corresponde a um dos hemisférios de predominância do uso cerebral, no espaço físico do próprio corpo. 

A história de Jesus revela bem claro este enfoque, por muitos usado para dominar os outros, como fonte de poder temporal, revestindo de mistério o simples de sentir e viver, criando bloqueios à percepção daquilo que nos acompanha pela vida. Fundaram até, em proveito de pompas e privilégios, os conceitos indeclináveis de secreto, tabu, mágico, milagroso, dentre outros, sempre em prejuízo da maioria social e a favor de uma elite prestigiosa e impenitente. 

Com a perspectiva ampla das oportunidades, veio a propagação das idéias, fase em movimentação, no seio da espécie humana. Recordamos, deste tempo, a invenção da imprensa ocidental, que deu publicidade à cultura letrada, propiciando o espaço fértil de textos antes retidos a sete chaves, para tão só beneficiar grupos de poder. 

  

O EXEMPLO CRISTÃO

  

Quando massacrado por judeus e romanos, na colina do Gólgota, próxima a Jerusalém, foi Jesus submetido à crucificação entre dois ladrões. Observemos que tudo faz sentido na linguagem divina. Pois Gólgota quer dizer crânio e os dois ladrões representam os dois olhos, a nos retirar da concentração interior, levados aos chamamentos das ilusões exteriores. Um ruim, outro bom, segundo a tradição; porque ambos revelam a sintonia polar da avaliação aqui proposta: negativo e positivo. Ao centro, no alto, acima dos olhos, uma glândula, também pesquisada pela ciência em certas escolas iniciáticas, denominada terceiro olho, corpo pineal, olho de Shiva, consciência cósmica, olho da vidência, etc.

No Zen-Budismo, as modalidades de despertamento se dão através do samadhi, vislumbre de uma consciência nova, qual lampejo luminescente (insight) - a se completar, pela prática fiel e virtuosa, no Nirvana, encontro definitivo com Deus. Lembremo-nos de Jesus, quando disse: - Aquele que perseverar até o fim será salvo.  

Face à constatação de que se pode transmitir a energia elétrica via um único cabo, como dissemos, e ao se pensar que o ego equivaleria ao fio terra, ou o nosso corpo de matéria; o Eu, por sua vez, o Espírito (o outro lado), que continua vivo após o desaparecimento do invólucro material, podendo depois vir a se manifestar noutro corpo (pelo princípio da Reencarnação), levado pelo aspecto abstrato da existência energética, ou semimatéria, instrumento de que se reveste o Espírito imortal até a sua total libertação deste mundo.                                                                                            

Se um atributo é matéria, o outro se opõe na característica, por meio de corpo imperecível. 

Numa escala constante de graduação, as pessoas crescem para o Bem Eterno, dentro de sua capacidade de comando, ou grau de memória. A quem muito foi dado mais lhe será pedido. E o momento em que cada um de nós existe pode ser avaliado pelo modo de seu comportamento. Pelo fruto se conhece a árvore. Árvore má não dá bons frutos; árvore boa não dá maus frutos, na afirmação evangélica. 

  

ONDE ESTAMOS? 

  

Perante a dúvida de qual hemisfério se usa como predominância, busquemos classificar nossos próprios pensamentos, sentimentos, atitudes. 

Quando positivos, otimistas, construtivos - sinais evidentes da utilização do hemisfério do coração. Caso inverso - o da fria razão. Isso fica nítido, sobretudo quando proliferam tantas escolas do pensamento quais remédios universais para tantos males. 

Existem, sim, estudos avançados sobre as polaridades hemisféricas cerebrais. Ainda na década de 70 do século passado, no Brasil, o jornal Movimento (nº.s 122 e 123), publicava artigo do teórico canadense de comunicação Marshall McLuhan, a considerar que se a Humanidade adotar o outro hemisfério cerebral solucionará os graves problemas da inflação, da fome, guerra, angústia, drogas, desigualdades sociais, desemprego, ganância, egoísmo. 

Quando se sabe do certo, despreza-se o errado - norma comezinha da inteligência prática. 

Assim decidimos pela divulgação que ora fazemos, dado o pressuposto de que Deus é a simplicidade das coisas mais simples, como aprendemos dos experientes na arte do bom viver. Tomamos por método compartilhar a emoção do sentir junto daqueles que, por vezes, acham por demais remotas as possibilidades da transformação. (Não poderá ver o Reino Divino quem não nascer outra vez). 

- Não se acende uma lâmpada para ser escondida, mas para que se eleve e ilumine toda a casa. 

Sabe-se de pessoas que questionam este ponto de vista. Entretanto isto jamais justificaria o desuso no direito de falar. Deste modo, como outros também fazem, apresentamos estas idéias, fruto de nossa história. 

  

SOM E IMAGEM

  

 Quisemos amarrar o burro nas orelhas do dono, dizendo e mostrando, em nós próprios ser possível a mudança de alternativa hemisférica, para aqueles que quiserem ver. Contra fatos não há argumentos, num axioma clássico de domínio público. 

- Uma imagem vale por dez mil palavras – asseguram os mestres orientais. 

Palavras faladas se propagam à velocidade do som, a 343m/s. As imagens, à da luz, a 299.792km/s, sem termo de comparação em nível de rapidez, portanto. 

Numa outra conhecida comprovação, Mcluhan conclui que o meio é a mensagem, isto trazendo à baila as palavras de São Francisco de Assis, que defendia a tese de que as palavras convencem, mas o que arrasta é o exemplo. 

Tais como estações de ondas curtas (a porta estreita) e médias (a porta larga) trabalhamos, na face do Universo recebendo e transmitindo vibrações eletromagnéticas, tanto negativas, quanto positivas, cabendo-nos definir a nossa predileção. Um vibrando para o bem equivale a milhões vibrando para o mal, eis o que afirmava Mahatma Gandhi, o mentor da independência da Índia. 

Muito ainda mais se dirá sobre o que aqui trouxemos, e que todos possam sempre usufruir, livres de preconceitos e limitações. De novo citamos Jesus, em frase de beleza incomparável, a informar que os que comerem deste pão jamais terão fome, e beberem desta água jamais sentirão sede. Então, quedemo-nos quais crianças, a escutar as notícias dos páramos da Luz Superior no mais íntimo de nós mesmos. 


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Enquanto botamos a culpa só nos outros


E nós o que estamos fazendo de tão diferente que nos dê elementos a indicar nos demais as dependências que ainda regem esse mundo? O que de melhor temos a oferecer, que esperamos um dia poder fazê-lo e transformar o quadro de miséria que invade países, toma os noticiários e fabricam armas sofisticadas para eliminar os irmãos? Que novos equipamentos inventamos que refaçam as esperanças de tantos perdidos na escuridão do desespero? (Aguenta mais um pouco?) Quais medidas drásticas já aplicamos ao nosso ritual de acomodações e vícios que transmitam confiança e justiça diante dos métodos até então levados à prática? Que exemplos de sinceridade no trato da coisa pública, das carências sociais e dos métodos de respeito mútuo, que não gerem descompasso e cobrança no decorrer da história, seremos os autores? O sal na sua intensidade, que tem tanto sabor e com que iremos salgar o gosto de profundas revisões nos costumes coletivos, aguarda a milênios nossa participação atual.

Nisso, enquanto apontamos o erro nos olhos dos outros, a trava encobre nossa autocrítica de rever os conceitos, trabalhar valores dignos e somar as partes do grande universo na expectativa de solução. Guardamos dons e talentos só na intenção da festa maior do dia da vitória, invés de agir hoje no patamar das próprias pernas, arautos da verdade e senhores da razão de agá. 

A comunidade apresenta exata a nossa cara... Resulta dos bilhões que somos a humanidade espalhada entre solidão e guerras, rebanhos afeitos ao interesse particular e dos grupos exclusivos, largados nas vestes do egoísmo, infestados da ansiedade torpe do poder terreno. Abrir mão dos desejos individuais, nisto nem pensar. 

Quando, pois, quisermos revidar os erros dos que nós mesmos pomos no poder, merece avaliar o quanto de responsabilidade precisa que assumamos e tratemos disso logo agora, na disposição de recriar as expectativas deixadas pelos fracassos e perdas. Homem algum é uma ilha, dissera John Donne, poeta inglês. Chega de omissão e fuga da realidade real, nos gestos e fraquezas. Se há que mudar o mundo, comecemos de nós mesmos, então. Unicamente desse jeito de mudar a nossa cara, veremos caras novas a seguir conosco nesta jornada infinita das estrelas.


sábado, 12 de setembro de 2020

As andorinhas dos fins de tarde

 


Nasci numa fazenda (o Tatu) no município cearense de Lavras da Mangabeira. Próximo da casa de meus pais havia uma capela em volta da qual, aos finais das tardes, acorriam bandos de andorinhas em dança festiva a formar coreografia insistente que envolvia o escurecer num ritual misterioso, nuvens mágicas das aves em chilrei que, ainda hoje, ecoa pelos corredores da minha memória. Lembro como sendo vivência recente a observar admirado os volteis aéreos dos pequenos pássaros na sua escrita primorosa dos céus quase escuros. As calçadas em volta eram de tijolo nu bem no tom avermelhado dos barros do sertão, de cujos espaços vazios cresciam pés de carro santo, planta de verde musgo e folhas espinhentas. Sentado nos batentes da pequena igreja, contemplava essa paisagem do poente aonde o Sol descia com reflexos derradeiros sobre as águas do Riacho do Meio, lá embaixo logo depois dos canaviais do brejo.

Recordo essas cenas muitas vezes no decorrer dos dias. Sem nenhuma intenção, me vejo, de novo, nos entremeios da memória secundária que nos acompanha toda hora, a presenciar a pureza rara dos entardeceres daquelas calçadas da igrejinha. Ali de junto havia, também, um sombreado fícus benjamim, o chiqueiro das ovelhas, defronte às pedras de antiga construção que se perdera no tempo e, vizinho, a casa de Seu João Preto, o morador responsável pela criação.

Assim, involuntariamente, de comum, ao reviver esses retalhos de passado distante, vêm de junto histórias guardadas sob os refolhos de mim mesmo, a pedir atenção, e que termino por narrar pouco a pouco no desejo insistente de procurar o nexo de tudo isso que chamam existir.

Vejo essas percepções, também, ao escutar algumas músicas que trazem de volta lembranças bucólicas de vidas sertanejas dos compositores e poetas, matéria prima dos sonhos da infância de quando viveram as doçuras dos rincões interioranos, o que lhes acompanha vidas inteiras.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Enquanto a Eternidade trabalha...


 ... As flores nascem e o coração aperfeiçoa passo a passo. O Amor é bom. Andar de mãos dadas no sentido das cores em festa, e quantos sonhos bem vivos na memória. O Sol vem a todo tempo, todo dia o mesmo desejo de que ele permaneça sempre... E no final dos dias, lá ele regressa ao ninho. Nós aqui de olhos postos nessa vontade que permanecesse, quando muito teremos que guardá-lo no íntimo fruto das nossas conquistas de verdades. Nisso o itinerário repete o mesmo cenário aos nossos olhos, convite permanente de satisfação a que lá certa feita despertaremos de deixar continuar dentro da alma os seus raios e viver a firmeza dos reais sentimentos. 

Assim são as lições das aulas repetidas de transformação do ser parcial em seres totais por meio da consciência, a trilha do despertamento. Já a natureza fala disto a todo instante, portas abertas da imortalidade que transportamos conosco através da perfeição de que somos elaborados, corpos de luz em formação. 

Passados que foram tantos sóis, outros mais virão nas vivas lembranças do que ora somos guardadas no sentimento da evolução. Fagulhas da Luz, trabalhamos os planos da realização do Ser em nós, moléculas da Criação em desenvolvimento, máquinas de achar a claridade nessa imensidão do Universo, senhores da liberdade e projetos de luminosidade vidas afora.

Tais artífices de nós próprios, elaboramos a matéria prima dos destinos em movimento. Ao nosso lado, os elementos de que carecemos até concretizar o momento fugidio em constante presente. Tudo trabalha neste seguimento, desde locais aonde chegamos ao mistério que reviveremos no rumo das circunstâncias eternas. 

Pousos de felicidade, porém, num processo efetivo de mudança até estabelecer as bases definitivas da Salvação, são esses operários em dedicação permanente, a braços com as aspirações de paz no lugar em que vivemos agora. 


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Alegria qual fator de sobrevivência

 


A todo momento vem a urgência de uma visão positiva da realidade qual fator inevitável da sobrevivência. Isso por conta das demandas negativas que ainda preocupam tanto quanto, nuvens escuras que varreram o mundo. Nuvens de desencontros que sujeitaram a barra dos dias de pandemia. No próprio relacionamento com os demais, nódoas de incompreensão e aflições diante do enredo cotidiano que fustiga o humor, a ponto de criar bichos tortos pelas frestas do tempo em tudo que é país.

Daí ser importante uma vocação pouco utilizada. Bloquear o senso de agressividade, numa certeza firme da precisão de sorrir aos dissabores. Interpor gosto pelos bons instintos, livre das situações adversas que invadiram o cotidiano. Isso até parece meio irresponsável, porém sábio. 

Olhar o Universo de olhos limpos, eis a condição de evitar dissabores, desavenças, abusos. A depressão, na opinião corrente, virou o mal da atualidade, covardia moral no papel de vítimas irremediáveis do destino. Erguer a mente à cima da linha do horizonte, porquanto acontecerá nas áreas do cérebro encarregadas de gerar a satisfação e perspectivas outras. Longe de apenas pensar no bom, viver o que é bom no instante presente, a base da positividade em tudo.

Por isso, trabalhar os detalhes do momento seguinte logo agora. Saber e praticar, norma primeira da alegria. Querer e poder, nas providências pessoais. Pequenas doses de bom humor representarão, pois, saúde, paz e resultados produtivos nos pensamentos e sentimentos, quando o sujeito responsável pela visão existencial existe dentro da criatura humana.

Com isto, sendo o método da permanente felicidade ocasionar os filmes de boa qualidade no firmamento individual, se produzirá a peça da vontade positiva, primeiro na pessoa, depois na sociedade inteira. 

Esta a ideia principal do comentário, aprender na experiência que querer bem, pensar bem e agir bem resultarão na força da alegria, matéria prima do sucesso.


terça-feira, 8 de setembro de 2020

Herança


Nas vastidões geladas do Ártico, em meio a naturais dificuldades, viviam pai e filho, únicos habitantes de cabana modesta, longe dos valores da civilização, num tempo em que pouco se sabia dos atuais degelos, quando se prevê outra glaciação na Terra. 

Era costume do povo do lugar a existência das pessoas restrita à capacidade individual para se sustentar do necessário através da caça e da pesca, sob os rigores do clima abaixo de zero. Após a decrepitude, as famílias agiam com naturalidade depositando nas planuras desérticas idosos ou doentes sem cura, qual cumprissem a lei da sobrevivência. 

Naquela casa, porém, o filho retardava a providência quanto ao pai já em fase que chegava na época do despejo, quando surgia no filho a disposição de constituir família e iniciar outro sistema de vida, restando-lhe apenas se livrar do genitor e liberar a vaga para noiva bela e intransigente.           

Mesmo admitindo aquele procedimento, o filho insistia manter em casa o velho pai, além até dos hábitos de grupo, pois não sabia justificar o que de vantagem propiciavam as tradições do lugar. Ao menos para si, no íntimo, achava certo querer consigo por mais algum tempo quem tanto sacrifício fizera na sua criação e na continuidade do lar.

Os dias prosperavam, no entanto.  A noiva nutria pelo sogro sentimentos agradáveis, os quais, todavia, diminuíam em face do instinto conjugal. Dotada de especial talento, tecera bela manta que pretendia ofertá-la quando da viagem definitiva do idoso aos penhascos gelados, em data sem muita demora, segundo planejado.

Nisso, não tardou a madrugada quando movimentos diferentes sacudiram a humilde choça. O filho atava os cães ao trenó, reuniu alguns poucos trastes, ligeiros mantimentos, e instalara o pai no meio da carga, fazendo-se a caminho. 

Depois de tempestuosa jornada, se viram numa longa planície branca circundada de montanhas sombrias e ameaçadoras. Tão logo o escuro da noite principiou envolver o mundo, cumpriram a parada definitiva. Naquele sítio cinzento, dar-se-ia o desfecho da longa espera. 

Sem trocarem palavras, de cabeça pendida no peito, os dois se olharam pela derradeira vez, num adeus quase primitivo, selvagem, assim podemos dizer. O ancião buscou tirar por menos, desviando-se para fora da trilha, de olhos presos na solidão, exercitando compreender o peso daquela hora. O filho refazia o que restava da bagagem; alimentou os animais e deu mostras de ter cumprido a missão, pronto para retornar. Após sacudir no espaço as dobras do relho com que tangia seus cães, de súbito ainda ouviu a voz do pai a chamá-lo:

- Filho, filho! - gritos ecoaram no vazio gelado e de suas mãos pendia a manta que a nora confeccionara. – Quero isso não, é desnecessário para mim. Prefiro que a conserves contigo e uses quando teu filho vier aqui, um dia, te oferecer ao desconhecido.

 

Lá onde andam os sentimentos


Nas fibras do imenso coração deste mundo, olhos fixos nos sonhos maiores, as almas de todos os dias ligadas à alma da gente, bem ali, no íntimo das madrugadas febris da percepção, das doces saudades, dos sonhos reais, nas luzes sombrias das ruas desertas, andam os sentimentos encapuzados, alimentados do frio suave da solidão. Terra fértil da esperança, no seio das flores iluminadas de cores e perfume, plumas leves da natureza, passo-ante-passo, pisam o macio os sentimentos, razão das existências, motivo crucial dos dias e das gerações. Eles, que pouco ou quase nada pensam, sobem os caminhos da felicidade na maior sem cerimônia, à busca da paixão, qual quem conhece por demais o direito de amar incondicionalmente o amor desmedido.

Quisesse parar e mergulhar a pele dos sentimentos, ver-nos-íamos braços dados com a verdade inextinguível das existências. Abraçaríamos as causas da Criação original e bem compreenderíamos o que planejara Deus ao distinguir os seres com a força do bem maior do coração. Daí, dormiríamos em paz conosco próprios, de saber da alegria dos que vivem toda intensidade dos que amam e se permitem usufruir do motivo que lhes deu a vida.

Território de plena espontaneidade, dos sentimentos vem a essência dos fenômenos e causa do que nos traz aqui perante os Céus que nos aguardam de braços abertos de quando revelarmos a Consciência. Música da espiritualidade, alimentam o compasso da história e aguardam o momento exato de quando abrir a todos nós os portais da Luz.

Por isso, enquanto esgotamos desejos do Chão, há na condição humana oportunidade perene de revelar a trilha da iluminação que transportamos vidas afora, sinete da herança divina que nós somos. Assim inexiste perdição definitiva, porquanto mais cedo ou mais tarde chegaremos à casa do Pai, por via dos sentimentos limpos e do conhecimento da Verdade. 


quinta-feira, 3 de setembro de 2020

A certeza de Deus


Essa busca pelos caminhos do Infinito, que justifica a existência de tudo quanto há e nos dispõe preencher as horas quais sendo a derradeira a cada momento. O sentido da religiosidade que alimenta o sequenciar das civilizações desde sempre face toda aventura de uma humanidade ausente dos significados superiores. A intenção do encontro principal consigo mesmo, com o próximo e com Ele, Deus, na paz do coração. A fome e a sede que nutrem esta jornada dos seres humanos vidas a fora. A vontade maior de sobreviver diante das intempéries do Destino. Luz que ilumina o Cosmos e indica o desejo e os fenômenos pelos séculos dos séculos. Razão, pois, acima das razões, ali está o que todos anseiam diante dos mistérios, a certeza de Deus na alma.

E nós aqui vagamos, neste mar de dúvidas atrozes, prisioneiros do pensamento, enquanto os sentimentos puros aguardam ocasião de entrar em cena, livres de tensões e de meras considerações teóricas, ali quando a calma dos instintos resultar no merecimento de receber da Eternidade o salvo-conduto, isto nos permitirá vencer as barreiras da incompreensão e nos libertar no mundo ideal de uma vida verdadeira. Tão próximos e tão distantes, pois, pisamos a linha fronteiriça de todas as possibilidades, durante o que apenas sonhávamos com o instante de concretizar em definitivo a perfeição dentro de nós.

Esse o plano de todas as filosofias, psicologias e religiões, interpretar o mapa da Salvação na essência do Ser. No ponto equidistante da profundeza dos abismos e das estrelas do céu, no foco central da imortalidade, bem assim viveremos por força de uma nova percepção que permitirá vencer as circunstâncias materiais. Nessa hora, esperança viva de todos viventes, o Sol se fará mais nítido e Lua esplendorosa brilhará no seio do Universo.  


Um breve roteiro de escolher candidatos


Isso em qualquer tempo, conquanto resulta nas sérias transformações de que carecemos nessas horas difíceis. Foram séculos e séculos até chegar à urgente necessidade que se vive, não só no Brasil, mas no mundo todo. Criaram a ciência da comunicação e os políticos viram nisso os novos meios de transmitir informações, resultando fase esquisita de domínio dos poderosos sobre a massa ignara, despreparada e sofredora. Verdadeiros gênios da maquinação de imagem influenciam multidões inteiras à procura de manter a dominação social, numa escravização das consciências. Daí a urgência de rever os conceitos do que seja o candidato ideal, pesando e medindo, revirando pelo avesso, mergulhando fundo nas consequências do que produzirá na sociedade pelos atos que praticar nos comandos. 

O País atravessa um tempo de república corporativa. onde grupos de domínio detêm a hegemonia da sua história mantendo as populações desfavorecidas sob o tacão dos impostos e taxas, enquanto preservam seus privilégios de casta impenitente, sugadora e abastada.

Daí a gravíssima importância de saber escolher bons líderes, honestos, trabalhadores, fieis aos princípios da real democracia, do espírito público, o que vem sendo raro, raríssimo, nos dias dagora, enquanto a ação político-partidária virou trampolim de carreira profissional, triste verdade que rasga os olhos até dos menos esclarecidos. Comprar e vender votos, eita mercado pecaminoso que clama a justiça dos Céus. Porém, qual disse Nélson Rodrigues: Toda nudez será castigada. Quem achar que uma chuveirada lavaria tudo terá dolorosa frustração no correr dos seguimentos imortais.

Ninguém melhor do que Bertolt Brecht, célebre poeta alemão, que viveu as contradições dolorosas das Grandes Guerras na Europa, poderia definir mais claramente o que seja o mercado negro dos votos, no poema O analfabeto político, a saber: 

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Eis, pois, aqui esta pequena contribuição ao cidadão às vésperas de novo turno eleitoral, porta dos próximos quatro anos em cada município brasileiro.


terça-feira, 1 de setembro de 2020

Luiz Gonzaga de Oliveira


O Gonzaguinha, autor de fotos clássicas do passado cratense, dentre as quais a tradicional do Cassino Sul-Americano, da Praça Siqueira Campos. Além de manusear com esmero as câmeras de lambe-lambe, sucesso à época, também dedicou atividades à propagação do cinema em nossa Região por meio de um equipamento denominado Lanterna Mágica, sendo com isto o primeiro exibidor de filmes no Cariri. Mandara vir do Rio de Janeiro um daqueles primeiros projetores rudimentares das películas cinematográficas com o qual instalaria uma sala de exibição, a deliciar seus contemporâneos e lhes apresentar a nova comunicação ainda restrita às capitais e grandes cidades.

A propósito, um bisneto de Gonzaguinha, Jackson de Oliveira Bantim, o Bola, vem dedicado parte de seu tempo à preservação do acervo desse consagrado fotógrafo, inclusive instalando em Crato o Memorial da Imagem e do Som Luiz Gonzaga de Oliveira, que funciona junto ao Instituto Cultural do Cariri, à Praça Filemon Teles.

Luiz Gonzaga foi casado com Dona Dasdores, ao lado de quem teve sete filhos. Sua atuação profissional preenche o período de 1885 a 1930, deixando acervo dos registros que efetivou na arte da fotografia preto e branco, que podem ser vistos junto ao Museu Histórico do Crato e ao Memorial acima citado. As fotografias que mais se destacam pela importância histórica da cidade no período que aqui exerceu a profissão seriam as do Cine Cassino e do Seminário São José. Vale citar também registro fotográfico relativo à Travessa do Rosário (atual Praça Juarez Távora). São de sua autoria retratos de personalidade locais que imortalizou nas imagens.

Ao saber da existência dos primeiros projetores cinematográficos, viajaria em lombo de animal a Fortaleza, de onde trouxe equipamento de exibição, causando entusiasmo às primeiras plateias de cinema do Cariri cearense. Instalou a sala de exibição em prédio localizado na Rua Grande (hoje Dr. João Pessoa), na sede do Clube Romeiros do Porvir. O empreendimento de Gonzaguinha daria margem a que, posteriormente, chegasse o primeiro cinema com sede própria, o Cinema Paraíso, sob a iniciativa do italiano Di Mayo, em 1911. Depois, em 1919, seria instalado o Cassino Sul-Americano. Eram os primórdios da sétima arte, fase inicial do cinema mudo, com música instrumental ao vivo.

Naquele tempo, o teatro também teve grande evidência na cidade por intermédio da liderança de Soriano Albuquerque, isto por meio dos Romeiros do Porvir, grupo de arte cênica no qual Luiz Gonzaga de Oliveira desempenhou figurações cênicas juntamente com outros destacados diretores e atores da ocasião.

Deixamos aqui, neste momento, estas palavras de respeito a esse personagem que marcou época e fomentou a nossa cultura nos primórdios das artes visuais no interior cearense.