domingo, 30 de outubro de 2016

O mistério de Deus

Desde sempre que nós humanos buscamos desvendar a causa primeira da existência, mergulhando as razões que justifiquem a tamanha perfeição da Natureza mãe e mestra. Ninguém foge ao sonho de conhecer as raízes da perfeição absoluta e, com isso, estudar as camadas mais profundas do saber da transcendência, no amplo desejo de revelar a si o mistério esplendoroso da divindade. São os milênios da história dotados dessas avaliações da inteligência, porém limitadas aos lampejos vagos do quanto de profundidade ainda persiste, no Universo, a investigar e tocar as raias da exatidão cósmica. 

Assim, diante dos fenômenos e dos seres, há de tudo ainda nos primórdios das pesquisas, considerados avanços maiores dos luminares do pensamento, que confessam a distância abissal entre o homem e o saber de Deus.

No entanto, a vida segue seu curso. Nisso, as criaturas desenvolvem o conhecimento através das atividades planetárias e admitem, por vezes, a inferioridade que persiste em considerar a imensidão dos acontecimentos originais sob a mentalidade limitada com que medem o mundo. Baixam a cabeça e o coração, e conduzem o progresso da espécie de forma sofrida, pois reconhecem a pequenez de suas ações de sobrevivência, nalgumas horas em flagrante contradição com o mistério do Infinito. Agem às tontas e recebem respostas insuficientes quanto à presença maior deste Ser que a tudo rege e transforma.

Gandhi afirmou que o amor de Deus “... e sua piedade são tão imensuráveis que Ele permite que os homens O neguem de maneira insolente, que discordem dEle e até mesmo cortem a cabeça dos próprios pares. Como podemos medir a grandeza de Deus, que é tão clemente e tão divino?

A razão trabalha com vontade, entretanto esbarra no inimitável do método científico, porquanto Deus, tal o mistério do Amor, adota nas suas exclusivas revelações noutra linguagem, o que só será permitido sentir pelo Coração, e lá um dia interpretar e transmitir.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Geração

Quando nos dias onde as clareiras da dúvida abrem espaço às certezas, paro e olho a barra dos mistérios a iluminar no horizonte. Nessas horas, lampejos enormes, quais ondas descomunais, invadem praias ensolaradas, despejando revelações que se escondiam na plena luz desses dias.

Nalgum desses, diante das tantas artimanhas de um cotidiano moroso e estéril, algo apresenta versões definitivas da realidade real. Assim qual quando observo o apego das mães aos filhos pequeninos, a carregá-los entre a face e o pescoço, sobre os ombros, interpreto a verdade maior que tudo. Tais frágeis bênçãos a transcorrer anônimas os trilhos, elas ali vão, crianças de meses, à busca do futuro. Tanta fragilidade sob tamanho de carinho das parturientes são vivas chamas da geração de amanhã.

Prova maior inexiste da sequência da Eternidade. Mães/filhos, filhos/mães, solda de energia e vida, fatores determinantes de toda Criação. Isto dá segurança de vencer a dúvida e os desafios do presente, porquanto em qual território persistiria o segredo universal tão de junto de nós, mortais vaidosos e letárgicos. Testemunhos do poder de seguir em frente, as crianças durante as crises.

A força das gerações que desafiam para sempre o direito e o dever da imortalidade. Filhos, as flores e os frutos a brotar das árvores que nascem e crescem. Ato e potência numa só forma da Natureza determinar o percurso vida. Amor em forma de canção, a luta da sobrevivência no que tanja a falta de jeito dos milênios das contradições. Humanas contradições em símbolos de esperança.

Observo constante essa fúria de resistir aos impactos deste chão e demonstrar a insistência, superar os limites da dor e trazer adiante o fenômeno da existência em forma de gente, e com isso ganhar as alturas.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Eleições municipais no Cariri Central

As características eleitorais do corrente ano mostraram feições diferenciadas com relação a resultados anteriores. Ainda que surgissem alternativas empresariais postulando o cargo majoritário, a escolha recaiu em segmentos tradicionais e meios políticos vigentes, com o predomínio em Crato da influência do governador Camilo Santana a obter maioria expressiva através do candidato José Ailton Brasil. Em Juazeiro do Norte, regressa ao poder a família Bezerra de Menezes, com o candidato eleito José Arnon. Em Barbalha, porém, no que pesasse o governo petista de José Leite em dois mandatos, coube ao candidato do PMDB, Argemiro Sampaio, superar Fernando Santana e reverter o quadro partidário local.

Dessa forma, as cartas foram postas e o destino caririense destaca, na presença de um conterrâneo à frente do Executivo estadual, frutos somente obtidos nos idos do governador Adauto Bezerra, que propiciou meios a recebermos benesses e atenções de importância política e econômica, agora restabelecidos diante da bem sucedida administração de Camilo Santana, um caririense no Poder cearense. Serão tempos de expectativa favorável à abertura de novos ganhos e vislumbres positivos.

Com isso, face aos planejamentos da interiorização do progresso, dias melhores virão na forma de políticas públicas e maior acompanhamento do litoral quanto ao interior do Estado. Porquanto o excessivo crescimento populacional da Capital, mais do que nunca exige métodos inovadores de redistribuição da riqueza e dos cuidados administrativos em voga ao polo do Sertão.

A população da Zona Metropolitana do Cariri aguarda, pois, a revivescência que permitirá haustos de crescimento e oportunidades de realizações.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Escolhas certas

Inúmeras vezes afirmam isso a propósito das escolhas durante a existência, de que frutificam resultados e delas se viverá a essência do Ser. Que viver é escolher e colher o que se plantar. Espaço de respiração do gesto de ser livre, escolhas determinam os passos da caminhada pelo chão. Sempre lançar as sementes daquilo que queiramos colher, sendo as tais escolhas essas sementes. Gestos, palavras e atitudes. 

Conquanto cientes, nem tanto assim acontecem as práticas correspondentes. Preciso, no entanto, agir de acordo com nossos sonhos. Fazer aos outros o que queiramos para nós, regra de ouro no eito da plantação. Nisto, as escolhas, ações e produções.

A visão evangélica de que Jesus morreu na cruz para limpar os nossos pecados significa bem o exemplo que ofereceu de a gente utilizar do seu exemplo em nome da própria salvação. Com isso, Ele abriu o caminho aos que vêm na missão de vencer o mundo. Longe, pois, de pensar que agora que demonstrou qual vencer e conquistar o Reino Divino que podemos cruzar os braços e entregar ao mero acaso o resultado da nossa participação. Tal os bons professores, o Mestre indicou jeito exato de dominar a matéria e chegar ao nível de obter vitória sobre as limitações da carne.

Cabe, por isso, na prática, o meio de oferecer as respostas da perfeição ainda no decorrer das histórias pessoais e desenvolver os métodos do Rabi da Galileia, transcendo as limitações oriundas de uma condição de aparente condenação.

Os instrumentos, as escolhas. Olhar de frente o dever da Purificação, e nisso espíritos transpõem as barreiras da matéria, tributo de superar os apegos das fraquezas humanas. 

Escolher com arte cada passo da libertação, eis a norma principal de superar a condição de que chegaremos à limpeza do pensamento na luz da Consciência pura.

(Ilustração: Vincent Van Gogh).

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Rumo ao Sol

Quando anoitece, ali inicia seu curso o novo dia que vem vindo. Asas de sombras cobrem o cenário silencioso; pássaros buscam os ninhos; massa escura envolve as cores e formas e ondas, e o tempo fecha a cortina de sobre os objetos. Naquele momento precioso a saudade extrema do que foi trancará as portas do mistério e naves acesas principiam riscar o firmamento. Bem ali, logo depois nascerá do horizonte o facho de luz intensa do Sol.

Enquanto assim, pelas janelas da noite os peregrinos abrem o coração aos rios das emoções que falam nos ouvidos da alma e sangram o Amor imenso, por vezes nas dores atrozes de ausências, rastros de passados soltos na poeira dos céus e um desejo sem tamanho aspira preservar o fugidio.

Atores desse drama, são eles os braços exaustos do ser em descompasso e purificação. Quer-se ficar, porém há que seguir a qualquer custo, face leis inevitáveis de continuidade. Olhar em volta e ter de admitir a pequenez da compreensão e aceitar de bom grado o que determina a Natureza. Só e apenas isso. Render homenagem à dor de sucumbir rumo ao Sol. Largar as partes perecíveis e sonhar com a Eternidade em gestação.

Porquanto lá dentro do Sol existirá amplidão, infinitude, a única sobrevivência do Ser. Tão e exclusivamente habita o Sol a ânsia da Salvação, a vitória do definitivo, objetivo das existências. O sol das almas, o Sol ente absoluto da missão dos humanos. 

Apesar dos tantos apegos do prazer inigualável daqui, charmes deste chão, ainda não é esse o polo positivo das ações, o imortal, o eterno. Conquanto o brilho dos sabores, só lá em frente tudo soma e convergirá. Transcrita, pois, a parábola das vidas, resta prosseguir, erguer os olhos e, já na ponta dos pés, demasiadamente tocar as chamas douradas do Sol, e permitir à luz envolver toda a razão no longo e sublime abraço da realização de Si.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Os deuses de barro

De comum existe uma idolatria dominante nos costumes individuais. Nesse patamar habitam inúmeros patronos da aventura humana. Espécie de escolha permanente, as pessoas postam fichas em valores particulares, com isso encontrando respostas parciais ao grande sentido de existir. Os exemplos variam ao infinito, desde apegos frios a vícios prejudiciais à saúde, quais drogas, alcoólicos, doces, frituras, carnes, refrigerantes, às dependências excessivas a clubes de futebol, sexo, violência, manias e fanatismos vários. Onde está o teu tesouro, aí está teu coração, afirmou Jesus de Nazaré.

Diante, pois, da gama desordenada dos instrumentos que oferece a sociedade global desses tempos, surgiram os meios de comunicação portáteis denominados celulares, ora promovidos a computadores de bolso, brinquedo por vezes nocivo enquanto não encaminhados aos níveis de peças eficazes e valiosas de produção e cultura.

Mas a cada um de acordo com o merecimento, lei infalível da justiça superior; nem sempre os usuários dispõem da consciência desenvolvida a utilizar com sabedoria os recursos da civilização. O que poderia servir de equipamento de aproximação sadia entre os seres humanos incorre no grave risco de reunir escórias e destruir a boa comunicação, arrastando consigo, inclusive, conquistas morais imprescindíveis à boa convivência. 

Nisso afloram as limitações do momento, fase intermediária que requer maior consciência. quando solitários agem dentro de princípios éticos desnecessários. A ausência é atrevida, qual diz o saber popular. E na conta de utilizar o instrumento poderoso da comunicação de forma a ocorrerem as audácias da clandestinidade. Quantos e quantos atentados ao pudor vêm sendo cometidos nas tais situações de isolamento. O que ninguém imaginaria, afloram instintos e perversões, gerando maldades multiplicadas. 

O que antes dar-se-ia apenas esporadicamente no escuro das solidões, agora impera também nos presídios e nas masmorras, provocando o poder das trevas entre os repastos da cidadania permitida. São deuses eletrônicos que investem contra o inventor, alarme rude e interrogativo das novas esfinges: Decifra-me ou te devoro. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Alguma coisa acontece no meu coração - Janaína Lacerda


O sensível é tão assim, né? E a música, a música é tão coisada quanto. Sempre acho que as palavras não dão conta do que até a gente às vezes deixa escapar. Eu tava agorinha ouvindo aquele programa na rádio, que Arthur tem toda quinta, e lembrei de ti, de novo, mas lembrei primeiro do Cariri, com uma canção que Xangai tava cantando, mas que eu acho que nem é dele, aquela que diz assim macambira morre, xique-xique seca, juriti se muda, e me lembrou o Cariri porque acho que essa música gosta de ser tocada na ExpoCrato, aquela festa agropecuária que é o evento da cidade, e já sinto o friozinho, o cheiro, já vejo o povo, tô meio nostálgica esses últimos dias ou foi a viagem ao Crato que fiz? Ou foi a música? Sempre acho que foi a música. Mas,voltando,lembrei de ti porque há uns quatro meses atrás eu tava ouvindo essa mesma rádio enquanto a gente decidia se dava um tempo ou não, ou sim, ou terminava logo, ou se eu ia pra São Paulo contigo (sempre lembro daquela de Belchior também, mas a mulher que eu amei não pode me seguir), e aí eu, na minha frieza, vã tentativa de fingir que não dói, compartilhei com Clara que eu nem tava tão triste com tudo isso (ô desnecessidade de não sofrer, Arthur sempre diz que tem que ter um momento pra sofrer...), e aí tocou aquela música de Dominguinhos,chora sanfona sentida, e meu coração se apertou todo e ficou murchinho, logo aquela que a gente ouviu em tantas ocasiões e que eu sempre botava pra tocar pra te ter mais perto de mim, chora sanfona sentida em meu peito gemendo vai machucando e meu peito de amor vai morrendo, e a música vinha até mim descrevendo o que tava acontecendo por dentro e me deixando ali, sentindo aquela dor e fazendo eu mentir sem querer, pra Clara. 

Foi a segunda vez que me lembro de ter expressado algo e sentido um outro algo mais forte por dentro me contradizendo. Nunca esqueci de uma memória de infância, na qual meu pai viajava pra um lugar qualquer, coisa pouco costumeira, e eu de dentro do banheiro gritava pra mãinha, que tava a assistir televisão na sala, nem tô com saudades de painho, e assim que eu disse um nó se fez na minha garganta, trazendo à tona toda a saudade que eu sentia. Quase como se tivesse tocado aquela música.

A gangorra do destino

De vestido longo e sete saias, ela dança naquele salão enorme, cabelos ao vento; e dançando, dançando, no som do sentimento e dos acordes de Bach, a boca amarga, o peito arde e a tarde ferve.

Fala por meio do diálogo deles dois aflitos, na expectativa de receber algo hipotético, todavia que não cessa o tempo de anunciar nas frestas das conchas, nas histórias do povo e na prática obstinada de esperar o que de vindouro vem; virá um dia. Os personagens, sempre os mesmos, de olhos postos nas dobras do infinito, que guardam certeza de receber a encomenda ao toque impetuoso do teclado longo e surdo; aquilo dos dramas-comédia, das ranhuras na alma, tudo fixo numa infalível anunciação.

Pacote amarrotado ou carta boa, recheada dessas quaisquer surpresas, há, sim, patentes, à espera, festas de otimismo, saudade do ser feliz. O que sabia disso, contudo, alimentava suficientes sonhos, na luz das prendas escondidas sob as pálpebras ressequidas. Ninguém aceitaria respostas inadequadas diante de tanto desejo reprimido.

A cigarra toca avisando o correio no portão. E essa carta que, chegando, chegando, nunca chega. Mas chegará de algum modo. O caminho mais curto?... Ninguém sabe. Sabe-se, sim, que virá a passos longos e breves pelo corredor interminável das horas...  

Na conta disso, olhos nas movimentações da rua, acima e abaixo, ouve o caminhão do lixo. Lembra ser sábado, e que não passará correio naquele dia. Então, assim também é bom, porquanto ficará tranquilo noutra tarde. Alguma correspondência chegará, porém. Irá cuidar dos bichos, seus iguais. Sonhar, filmar, ouvir telefones, contar fantasias, contemplar as flores, no jardim da praça; escutar pássaros, aos começos de noite. Quando chegar, pretende recebê-la a caráter, de modos bons, tantas vezes, horas, meses, séculos alimentados no seio do coração. Com braços pregados em cruz, na mesa do jantar, entre xícaras, talheres, bolos e bules fumegantes, e sorrirá de alegria.     

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Sem mais delongas

No dia 27 de julho de 1889, em Natal, Rio Grande do Norte, falecia o sacerdote católico Antônio Francisco Arêas Junior, Padre Arêas. Nascido na mesma cidade, no ano de 1835, fora suspenso de ordem por conta de sua vinculação à Maçonaria. Filho de Antônio Francisco Arêas e Inácia Genoveva Arêas, exercera o vicariato em freguesias de Pernambuco e da Paraíba. Dentre outros ofícios, destacara-se como escritor, poeta, político e deputado provincial, isso em meados de 1860.

De temperamento bem característico, era, no dizer de Luís da Câmara Cascudo, de estatura baixa, forte, robusto, impulsivo, orador.. Fizera-se respeitar através de verso satírico infatigável e de rima brincalhona.

Conta Gutemberg Costa, no livro O riso de batina, um episódio típico a propósito do Padre Arêas, também conhecido por nunca levar desaforo pra casa. Certa feita, celebrava uma missa na Igreja do Bom Jesus das Dores, no bairro da Ribeira, em Natal, quando um popular afoito resolveu entrar e soltar inoportuno buscapé bem no meio da ala feminina do templo.

Formou-se, então, dos mais desencontrados tumultos, dificultando sobremaneira a continuação do cerimonial. Gritos. Correria. Mulheres em polvorosa, aperreadas com as saias em risco, face ao infortunoso artefato que ágil corria no recinto, estabelecendo situação das mais apreensivas.

Nessa hora, o padre, que, arrebatado, desenvolvia belo sermão, suspendeu sua oratória. Vestido nos paramentos da ocasião, numa pressa desembalada, perseguiu o responsável pelo ato pecaminoso. Rua acima, rua abaixo, pega-não-pega, chegou junto dele quando no cruzamento das ruas Ferreira Chaves e Frei Miguelinho, segundo conta Cascudo.

Firme sustentou o meliante e desceu a ripa. Socos e murros exemplares. Aplicou-lhe disciplina de causar espanto naqueles que olhavam admirados o quadro (padre Áreas, de trajes eclesiais, a surrar um homem, no pleno da luz do dia).

Terminada a lição memorável, ele voltou no mesmo passo. Sem haver perdido o fio da meada, no púlpito, calmo, prosseguiu suas palavras de onde deixara, nada se esquecendo do que antes dizia. O andamento da missa pareceu que nenhum intervalo estabelecera.

Inclusive, fala Gutemberg no seu livro, que o responsável pela presepada nunca, dali em diante, nem de longe pensou em vir ao bairro da Ribeira, temendo dar de cara com o sacerdote naquela valente disposição.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Um caos só aparente

Quando diante das situações vexatórias, de comum ele admite frutos favoráveis, de acordo com experiências antigas. Invés de fincar as garras no pescoço do destino e exigir satisfação, ergue olhos aos céus e lembra as vezes em que fora atendido com boas safras nos anos anteriores devido ao plantio das flores. Nisso alimenta o senso da certeza nos dias melhores. Fecha as portas, mas abre janelas de passar a luz intensa da esperança.

Conquanto parecidos em dificuldade, porém nada significam tais impactos próximos ao desespero que invadiria o oásis, não fosse chegar respostas firmes da presença do poder além da conta. Aplaina as estradas do sofrer e redefine meios de trazer a calma dos sentidos. Transporta em distâncias descomunais aparentes razões da desistência. Destarte, herdeiro fiel naquelas horas extremas, quer sobremodo evitar desencanto e manter o fluxo da consciência; nisso abraçar de bom grado o que jamais esquece aos que confiam e agem na obediência honesta.

Várias, várias ocasiões pedem, portanto, atitude benfazeja de aceitação do fio das histórias. Seriam como provas do limite da confiança ao sabor da fé. Pede apenas o quanto praticar de respeito à justiça e receber o que cabe a cada um.

Ele chegou a confiar nas tais presenças soberanas perante a fragilidade dos elementos em jogo. Resolveu descobrir domínio absoluto do gênio face aos testes pelos quais houve de passar. Precisou daí qualidade moral. Longe de pagar a pena e sofrer apreensões imaginárias, aceitou a espera do tempo certo. 

Igualmente reconheceu o mérito em possuir direito universal adquirido e não sucumbir diante a descrença em nenhuma circunstância. Apresentada essa condição, o próximo minuto acompanhará os meios de salvação e viverá sinais luminosos de viver o que é pleno e bom ainda aqui neste chão.

domingo, 16 de outubro de 2016

Noites de Lua Cheia

Passar o tempo neste apartamento de livros, quadros e fotografias me deixa precisando de repouso. Os discos, bons companheiros antigos, se transformaram em trecos repetitivos, lineares e aborrecidos.

- Vida de cidade grande. CIDADE GRANDE -, argumentos anêmicos. Razões do passado, quando plástico era elemento curioso, como espelhos e fitas coloridas dos portugueses aos índios.

Hoje, tudo ficou diferente, perdido que está o sonho da combinação artificial das cores. Aquilo de se ser um pouco de humano - de necessitar da natureza - não mais pode ter compensação nas noitadas em frente aos vídeos, jogos de futebol e cinema. Quer-se viver de verdade. Viver de verdade (engraçado, não fosse trágico). Hora de decisão. Onde sobra querer demorar um pouco mais.

É noite de lua cheia. (- Mas hoje não é quarto crescente?).

Pouco importa a lua. Vivemos o expediente. Quinze para as quatro, esquina da Piedade amanhã. Viver. Vegetar. Utopia em antítese. O retorno, a síntese.

As mariposas nunca mais procuraram a luz. Luz artificial industrial. Noites de cidade. As noites de apartamento. Ausência de vida pelo ar. Um cheiro de incenso envelhecido, de mofo. Vidas artificiosas nos jornais, nas revistas. Sonhos andam escassos, esgotados pelos desanos (anos de desenganos). Ausência completa de neologismo. Um mundo de silogismo e sofismas. Saudades amarelecidas, nos varais em volta.

Como dizem os que quebraram a cara: - Do erro, a recuperação.

De uma falha burocrática de antes, a máquina tomou o lugar do Homem, dono do Planeta, na ordem natural das coisas. Alguns sacrificaram todos. Cidades em volta das fábricas. Cidades em tudo. Monstros de ferro e fogo. A própria brutalidade envidraçada.

Assim, muitos anos. Assim, em volta espiralada. Sofisticação universal de centros cercados de substâncias apodrecidas. Noites de floresta. O mundo fantasioso dos ancestrais. As histórias de Bradbury. Vida marciana. A beleza em tudo. O amor. A consciência. A justiça. A igualdade. O sonho. A liberdade. A vida. O trabalho. A honestidade. O equilíbrio. O frio. O quente. O açúcar. O sal. O som. As flores. As árvores. A criação. Deus.

A Coca-Cola chocou. A raça se levanta devagar. Levagar. O ovo. O novo. Tempo transcorrendo no vento e uma sensação de calor. Uns descem, outros sobem a avenida Sete, às 9:00 horas de um sábado de Primavera, no fervor do comércio. O sol. A procura do não se sabe o quê. Do não se sabe onde. Preço químico dos acrílicos bocejantes nas encostas dos morros. O rapa expulsou os hippies. Salvador do turismo, como meretriz sorridente, segue pras bandas da praça da Sé - pela rua Chile. Cheiro baiano de África, de Continente Negro. A manhã - a manha... amores de dendê - de onda do mar - de areia branca - das madrugadas de Itapuã - de sabor de sal na pele o dia todo.

Uma noite a mais pela frente. A lua crescendo. Os discos nem sempre silenciam. Mesmo porque (de que adiantaria?)... os carros cobririam o silêncio. Apartamento é como caixa de som, tem vibração, tem tudo.

28.10.76.

sábado, 15 de outubro de 2016

As lembranças bem guardadas

O meu amigo Thiago Duarte mora em Crato. Antes estudara e fora casado em Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde deixara uma filha, Aline, que agora tem oito anos e vive junto da família da mãe, longe, pois, do pai, que este ano resolveu visitá-la na quinta-feira da semana que antecedia o segundo domingo de agosto, o Dia dos Pais.

Chegou à Cidade do Sal em tempo suficiente de participar da festinha anual do colégio que homenagearia os pais dos alunos. Passara rápido no hotel, tomara um banho e rumara ao local.

Às 16h, ocorreria a solenidade na quadra do colégio, sob os olhos animados de professores, alunos e familiares. Ao terminarem os pronunciamentos, apresentações artísticas e outras movimentações, os pais seguiram até as salas, no sentido de receberem algumas lembrancinhas dos filhos, como organizam os colégios em tais datas.

Nessa hora, Thiago observou que Aline recebera a sua lembrança das mãos da professora, mas evitara lhe repassar na mesma ocasião, qual faziam os demais colegas. Cuidadosa, guardara na bolsa a prenda e dirigira-se ao pai convidando-o para descerem ao pátio do colégio.

Ali, num ponto reservado, de mãozinhas delicadas, abriu a pequena bolsa e disse ao genitor:

- Papai, nos anos em que o senhor não pode vim eu guardei as lembrancinhas para o senhor. – Nessa hora, Thiago, que já disfarçava algumas lágrimas, observou emocionado surgirem enfileirados os mimos que a menina carinhosa guardara ano a ano.


Eram elas um chaveiro de moto feito um cordão grande e a medalhinha de São José na extremidade. Outra, uma lanterna pequenina, já meio gasta pelo uso, o que decerto a criança usara nas suas brincadeiras. A terceira, moldurazinha de praia de uns 10 cm de altura por uns 5 de largura, realçando fotografia de um pai pegado com o filho, levando-o ao alto, e a frase Pai, você é o meu herói. E, por fim, a lembrança atual, boné decorado pela inscrição do nome do colégio.

Em seguida, Aline também tiraria da bolsa desenho de seu próprio punho onde mostrava três figuras. A dela, Aline, e a palavra filha. De Gabriela, e a palavra irmã. Na outra, um homem e as palavras papai, Thiago. Todos felizes. Do lado, uma árvore bem delineada e um sol risonho. Em cima do desenho, este pensamento: Agora a família está completa.

As luas do coração

Pois ele tem lá suas fases. Flutua quais marés de sentimentos. Vem num ritmo e desanda, e anda, e desanda. E anda de novo. Que seja eterno enquanto dure. (MORAES, 1962) Sofre e faz sofrer por isso. Vacila e erra por isso. Mas acerta por isso, também. Morre, nasce, reascende no Nascente.

Ah, coração! que recebe tanta culpa e condenação diante das vezes quando cruzava linhas imaginárias de amar e buscar a felicidade. Sofre e ama, verbos tão primos entre si. Primos que se amam. Bem dos primos. 

Na teoria, o coração passeia feito as palavras, que nem sabem ler. Sai vagando nas flutuações e oscila no céu das contraditórias criaturas. Ora alimenta tradições clássicas; ora naufraga nos folhetins da perdição. Quarto minguante. Crescente. Cheia. Nova.

Em uma jornada imaginária, aventureira, ofereceria prazer aos outros, venderia o corpo freguês a fregueses ocasionais; sujaria a alma; desvairaria; e padeceria ali de junto. Fases escandinavas, contraditórias, de quem quer ser feliz à toa, nas incertezas sem conta. Desesperada mergulharia fundo nas noites e aprenderia noutros universos bem longe dali. Nas mágoas e desgostos. São as tais funções de crescer pela dor, jeito estúpido de evoluir, porém que existiria.

Vacila e morre o coração. Vacila e revive, no entanto, o heroico coração imortal. Muda de fases como quem troca de roupa, e descobre, um dia, que existe salvação. Nisso largará de lado seu jeito de lua e diferentes sabores dos instantes, e revelará natureza plena, que seja definitiva, o Sol de si. O Si, o sol de tantos fulgores e horas que ficaram pelo caminho.

Porquanto o itinerário dos corações é chegar no Sol, ser sol certo dia. Nisso haverá de reunir o teto do amor maior, centro de tudo; equilíbrio; o Sol das gerações que antes percorriam a janela do Tempo. E pousará assim o campo de marte da Eternidade. 

Quantas fases, até tocar o piso do Sol, ninguém saberá antes do dia. De Lua a Sol, transcurso das evoluções de tantas luas correndo os céus do sentimento... E um sol que brilhará no todo e sempre.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Decisão acertada

No que pesem as outras notícias, hoje quero saber tão só e exclusivo de assuntos bons, agradáveis. Chega das notas sensacionalistas da grande mídia. Basta com isso de focar o desgaste, as peças rotas, bloqueios. Quero saber dos frutos sadios da árvore da vida. O canto limpo dos pássaros. As flores que brotam leves nas matas, na beira das estradas asfálticas. Há um céu, um Sol, um clima de festa na mãe Natureza, que pede atenção, cuidado. Quero erguer os olhos de equívocos e ver o dia aberto numa luz de alegria. Conhecer o território da esperança nos dias melhores. Alimentar a força da continuação dos bons sentimentos. Conhecer espaços de mim mesmo aonde possa acreditar no que acreditam os romeiros mais fiéis, os santos, as pessoas dedicadas às causas nobres, e que salvam aquilo que o tempo oferece de firmeza e paz. Sonhar de olhos abertos com a realização de tempos novos a cada instante momento. Sustentar o mais íntimo do ser na convicção dos ideais de bondade e amor. Resistir a todo custo aos impulsos; evitar pensamentos vãos. Só valores positivos interessam nesta hora. 

Construir dias de plena luminosidade. Limpar os armários, rever saldos que ficaram lá atrás e deles colher apenas os resultados de bênçãos e carinho. 

Basta de notícias arrevesadas. Venham as verdades eternas depois de cruzar os mares agitados, e agora obter êxitos de sucesso com sabedoria e trabalho honesto. Evidenciar os tons intensos da certeza nos minutos auspiciosos e somar recursos de promissão nas estradas deste chão. 

Jornal das notícias boas, que engrandeçam e revelam aspectos poderosos da consciência, e ajustem os códigos da saúde, do bem acima de tudo. 

Isto, acordar em meio a transformação que revolva os mistérios do Universo e tragam a desejada essência dos justos ao coração das pessoas. Viver e nortear as existências às maravilhas de uma Criação plena e próspera. Logo, logo, desde o momento presente e sempre, que seja assim. E guardar com amabilidade este objetivo no seio de um coração renovado...

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Indecisos cordões

Aonde seguem as multidões amestradas que ainda buscam saber dos profetas adormecidos? O tanto que falaram e tudo aquilo virou matéria insuficiente. Quem agora comanda o trem da história no nível das realizações humanas, ninguém sabe, ninguém conhece, ninguém... Quem pranteia os jovens pobres mortos nas periferias entontecidas, ninguém dar de conta. Massa indolente de possuidores de fuscas vaga solta nas avenidas, apressados viandantes, enovelados na própria inutilidade. Ninguém sabe ou conhece quem, ninguém, alguém que fosse.


Por isso as palavras soltas ao vento viraram desejo enorme de que assim todos pudessem ser irmãos. Contudo há drogados, viciados nas bocas, no traste de perder tempo, na corrupção, na discórdia, no pouco caso e nenhuma imaginação . Eles não são felizes, entretanto. Eles também não são alegres, igualmente. Fazem algazarra nas praças, porém sofrem dores atrozes, as dores da impermanência, que passa numa velocidade estúpida. Contar o quê, indagam contrafeitos diante dos objetos. Maquinam saídas inexistentes e perdem o derradeiro trem da história noite adentro.

Espontâneos perdidos diante do inevitável, entregam o corpo ao carrasco do destino e nutrem a fome descomunal de (quem sabe?) revelar o mistério da consciência nas lajes dos túmulos vazios. Quisessem e talvez descobrissem as portas da Eternidade. No entanto, padecem da impaciência e da fome do prazer irresponsável; vendem a alma no mercado negro da ilusão a qualquer preço de banana podre. Deixam fugir de si as oportunidades e os valores, e caem de bruços faces nos açougues do egoísmo idiota. 

E os indecisos cordões, de quem falava Vandré, deslizam soltos sobre a mata de cimento e escorregam perigosamente na lama do asfalto. As vontades das transformações as esqueceram nas mesas de bar e nos becos da miséria moral. Largaram fora o amor em troca de gozos estéreis animalescos. Tontos barcos de esquadras fantasmas, arrastam pela sarjeta imunda horas mortas e a perdição enlatada.

Bom, mas admitir todos iguais significaria, pois, total ausência de equilíbrio, o que negaria as forças justas da Natureza e pediria melhor compreensão dos que mostram a mais pura das verdades, a sonhada luz da Salvação.

(Ilustração: Joan Miró).

(Ilustração: Joan Miró).

Ouvi de Lysâneas

No ano de 1975, em Salvador, ainda no regime de exceção, assisti inflamada palestra do então deputado federal Lysâneas Maciel, numa cruzada que empreendeu por vários estados para denunciar o clima de repressão que constrangia o povo brasileiro. Sabia-se mesmo sujeito à cassação de que seria vítima logo no ano seguinte, atingindo também outro corajoso parlamentar, o cearense Alencar Furtado.
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De verbo fluente, destemido, sensibilizou com profundidade todos os presentes no auditório superlotado, a interpretar de forma contundente o momento de transição que enfrentávamos sob o clima rígido da força totalitária no comando das instituições políticas nacionais.  

Dentre os recursos adotados na ocasião, bem aos moldes da melhor oratória evangélica, pastor que era, Lysâneas narrou episódio verificado com um pastor protestante, na Alemanha durante o regime nazista.

Zelava reverente pela sua comunidade religiosa, quando ocorreram as primeiras detenções do período negro que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, a prenderem primeiro os líderes comunistas. Ele pensou consigo: - Não sou comunista, portanto nada tenho com isso. E omitiu-se de reagir em face da violência cruel encetada contra seres humanos.

Os senhores da ditadura de Hitler seguiram na escalada dolorosa de terror, vindo deter também os socialistas, motivando no religioso idêntico comportamento de descompromisso. Por não ser socialista, indiferente permaneceu, aceitando as manobras policiais da Gestapo.

Depois, seriam levados os homossexuais, as prostitutas, os ciganos e outras minorias perseguidas. O raciocínio se repetia, de ficar quieto diante de tudo o que observava, sem, no mínimo, falar ou demonstrar qualquer atitude contrária, perante as pessoas de sua comunidade.

Mais adiante, também prenderiam os judeus, os católicos, enquanto nada alterava das relações com as forças do poder, pois achava fora do enquadramento nos grupos perseguidos. Nem de longe avaliava possuir qualquer responsabilidade pelas vítimas das arbitrariedades. 

Até que, dias adiante, bateram na porta da sua igreja para levá-lo preso, e nessa hora ninguém havia que mobilizasse forças em seu auxílio e levantasse a voz pela sua liberdade, pelos seus direitos, sua cidadania democrática.

Eis, assim, exemplo de ocasiões quando os nossos rostos vêm à mostra, por conta dessa atitude sincera e verdadeira de Dom Edmilson Cruz, oportuna e atualizada, de um valor inestimável, para que não nos acomodemos aos vícios da política desvirtuada, como não sendo conosco a crua responsabilidade que a todos compete todo tempo. Admiro, pois, a coerência de pessoas deste tipo.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Antônio Marcos

Por volta de 1968, quando os primeiros sinais de televisão chegaram ao interior cearense pelas ondas da Tupi, estação líder em audiência e carro-chefe dos Diários Associados, me achava trabalhando no Banco do Brasil em Brejo Santo, onde permaneceria até 1971. Nesse período, Flávio Cavalcanti apresentava dois programas de sucesso na emissora, Um instante maestro e Esta noite se improvisa.


No primeiro desses, vi pela primeira vez Antônio Marcos. Mostrava composições suas sob a égide daquele famoso apresentador. Magro, de cabeça raspada, expressão agressiva, originava-se do Movimento Artístico Universitário, grupo teatral que sofrera consequências repressoras do desmonte cultural de anos anteriores.

De feições ainda adolescentes, cantava e se acompanhava ao violão, inspiração talentosa e letras sentimentais, com personalidade deixava notar o êxito que conseguira no mercado fonográfico, conquistando a Jovem Guarda, junto de Roberto e Erasmo Carlos. 

Suas aparições se repetiriam nos programas da Tupi, enquanto sua produção ganhava o rádio no País inteiro, levando-o ao estrelado, um dos símbolos da juventude, na década de 70. Quem viveu esse tempo lembra de Menina de trança, Porque chora a tarde, Sempre no meu coração, Seu eu pudesse conversar com Deus, Como vai você, Namorada, Sonhos de um palhaço, Sou eu, Última canção, Vamos dar as mãos e cantar, O Homem de Nazaré, Tenho um amor melhor do que o seu e outras mais.

Em 1969, Marcos deixaria o grupo Os Iguais, com quem gravara compactos e um lp de canções estrangeiras (Yesterday, California dreaming e Yellow submarine, dentre outras), para começar carreira solo no disco Antônio Marcos, responsável por vender mais de 300 mil cópias.  

Depois, faria cinema como ator (Pais quadrados, filhos avançados, de J. B. Tanko) e teatro (Hair, peça dirigida no Brasil por Altair Lima), em 1970.

Uniões amorosas intensas caracterizariam a imagem do artista. Casaria com Débora Duarte, atriz de reconhecida fama e, após tempestuoso romance desfeito, seria o marido da cantora Vanusa, e, por fim, de uma filha do rei Roberto Carlos, Ana Paula.

Nos inícios da década de 80, eu retornara ao Crato, e vim a conhecer Antônio Marcos, no Hotel Municipal de Juazeiro do Norte, apresentado por Francis Vale. Realizara uma apresentação no Cariri e conversamos longamente à beira da piscina da residência de Benedito Braz de Almeida, situada na Lagoa Seca, enquanto ele bebia e cantava.

Na oportunidade ouvi dele algumas revelações pessoais, ao revelar que usara cocaína durante 17 anos. E seus amigos lhe diziam: - Tu és um verdadeiro cavalo, cheirar coca todo esse tempo e ainda estar aqui para contar a história.  

Já havia vencido a batalha contra aquela droga terrível, porém cairia sob as garras do álcool, de quem se tornaria vítima, alguns anos depois. Antes disso, ainda visitaria o Cariri, dando vexame, cantando embriagado e fora de si na Iguatemi Shows, no Triângulo Crajubar, aonde planejei comparecer, mas que não pude fazê-lo, a fim de rever o ídolo popular de tão notória consagração. 

Eram os meses finais e melancólicos da brilhante carreira artístico-musical do moço triste, que eu conhecera através do vídeo menos de um quarto de século atrás. Em 05 de abril de 1992, vítima de parada cardíaca em função de uma insuficiência hepática fulminante, morreria em São Paulo, com apenas 47 anos de idade.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

As missas das nove

Sempre nos domingos. Vinha com meu pai e minha mãe à igreja de São Vicente, na Praça Três de Maio. Descíamos de casa de roupa domingueira, olhos acesos naquilo que Padre Frederico iria dizer, ele que se alegrava reservando as primeiras filas do templo às crianças. Cantava de ficar suado e ainda mais vermelho, do alto de seu corpanzil germânico. Ele era a primeira daquelas crianças, inocente e emocionado ao falar em Jesus Menino. A alegria em pessoa.

Espalhados nos demais espaços da nave, os adultos acompanhava o ritual festivo, também ligados nos movimentos do sacerdote. Guardo comigo a certeza de que havia Deus nas missas de Padre Frederico, pela força que circulava no meio daquele povo. Horas tantas de emoção religiosa pareciam querer tomar conta de tudo. Querer maior que o daquela gente enfatiota, dentro de uma religiosidade poderosa. Essa paz que acalma o furor dos dias e traz notícias melhores que emanam dos lugares santos das religiões bem praticadas. Desde que fiéis aos preceitos, estabelecidos sobre bases prudentes, significam paz aos corações que carecem de amor. 

Lembranças das missas das nove em Crato servem, assim, de pouso seguro aos arquivos do passado, quais elementos de reflexão do quanto a infância poderá receber de orientações a mundos espirituais. Apesar do afã dos tempos vorazes, vejo só poucos sinais de procura espiritual na faixa da população infantil. Aonde vão as crianças e os jovens abastecer sua fome e esperança nesse tempo da tecnologia? Inda enxergo pouca qualidade nas telas e nos redutos da moda contemporânea.

Há, isto sim, franquia no coração dos queres que seja preenchido pelo sentimento, alentos de verdade que nasçam logo das expectativas humanas. Mas quando e quem resolver cuidar de Si espera decisão interior de nossas criaturas. Deus persiste junto daqui da humana presença de Paz.

domingo, 9 de outubro de 2016

As ausências e o tempo

Isso de gostar dos objetos, das pessoas e dos lugares alimenta o desejo incontido da perpetuação dos indivíduos. Eis assim uma afirmação aparentemente trágica, porquanto ninguém aqui permanecerá além do triturar das moendas da Eternidade que nunca recolherão seus tentáculos. Trágica, contudo pura e verdadeira. Quem, de alma em punho, fugiria dos anseios de fixar o que transcorre perante nossas vistas sem, contudo, obter o mínimo êxito. Suster do desespero as ausências; amar as saudades vertiginosas, incandescentes; nutrir o senso de seguir sozinho, mesmo que todo o Universo conspire e destrua com suas garras de destinos.


Quantos amam e sabem da fragilidade desses momentos do amor... Quantos... De sentimentos acesos no apego, oram pela permanência, ainda que cientes da transitoriedade dos objetos, pessoas e lugares. Qual tremor frio das madrugadas, cessam rápido nos fulgores do alvorecer. Tinta de cores inimagináveis os sonhos da noite, e rompem o dia no auge das circunstâncias. Deixam cair cortinas de escuridão e desnudam a velocidade infalível do presente.

Entretanto amar quer persistir, ainda que ofereça apenas a transformação do momento em nuvens evanescentes. Amar, essa força poderosa de conter a solidão durante algumas e poucas frações infinitesimais, transação solitária equivalente a morrer nas praias da Perfeição. Amar, a luz de todos os verbos conjugados à porta da Felicidade.

Quando a pulsão de mudar é maior que a de permanecer, a gente muda, isto no dizer de Sigmund Freud. Um querer semelhante a mudar de trilha e achar dentro de si próprio o mistério dos sonhos. Animar a permanência de viver e a renunciar todas as ausências e amar desesperadamente os sabores da real sobrevivência do Ser.

No exótico ritmo da salvação, a herança restará do íntimo do desejo de todos, afeitos, no entanto, ao poder nascido de querer sempre e sincero. Sofrer a saudade e jamais desistir de amar.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O espetáculo tem de continuar

Lemos nalgum lugar história triste de palhaço que perdera a esposa e se achava na condição de comparecer, naquele dia, ao picadeiro de um circo e fazer rir a platéia que lotava o espetáculo, aonde, outras vezes, levara apresentações em condições satisfatórias.


No momento, quando todos gargalhavam com desempenho magistral, dentro dele fervilhava a mais pungente amargura e desciam lavas amargas de dor disfarçadas com maestria pela máscara que lhe cobria o rosto banhado de lágrimas.

Enquanto alegria sem igual naquela hora contagiava o distinto público, no peito do homem ardia crise sem precedentes, no propósito de quem conduz vida, produz emoções nos outros lá fora.

A situação descrita, mudando o que merece mudar, caberia feita luva na circunstância que se verificou em Crato, no Espaço Navegarte e assistíamos a uma apresentação musical.

Lá no palco, o cantor pernambucano Geraldo Azevedo, voz e violão, oferecia a numerosa plateia bela música. Aplausos efusivos animavam o lugar, evidenciando, nos flashs dos fotógrafos, o bom acontecimento.

Duas ou três canções antes do término da cena, porém, nas falas com que ilustrava os intervalos das canções, o músico comunica aos presentes que, na véspera daquela data, ocorrera a passagem de sua genitora desta vida para a outra, pondo-se, logo depois, a interpretar uma composição de autoria dela, refletindo na voz o sentimento que se pode imaginar de filho em situação semelhante.

Ao lembrar os detalhes disso, nos vemos emocionado, a refletir quanto à condição dos artistas e sua proximidade com multidões desconhecidas, vínculos que se estabelecem no decorrer da existência coletiva. Enquanto dentro de si lhes sacodem coração macerado pela imprevisão dolorosa, repassam, igualmente, a imagem de quem habita condomínios da mais pura felicidade. 

Missão semelhante, a exemplo do palhaço de que falamos no início, uns dançam, riem, se divertem. Outros padecem, representam, dissimulam. De íntimo transtornado pelos ardores do sofrimento de perder a mãe querida, o músico prosseguiu com a função até o fim, debulhando versos e notas, na batida intensa do expressivo violão solitário, ausente das convenções deste mundo. Isso tudo em nome do amor ao sonho da arte, herói sobranceiro da magna inspiração, porquanto o show haverá sempre de manter o curso dos corações em festa.         
             

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Reféns da solidão

E nem adiantaria teimar contra as evidências. Pronde correr e lá estarão eles todos, eles, os dois: a máquina e seu vassalo fiel. São as pessoas na cata de si mesmas pelos corredores de longa estrada. Há espécie de cumplicidade, um pacto de relacionamento. Lembro nisso do conceito da Gestalt de que um mais um é sempre mais que dois. Esforço hercúleo em vias de amadurecer o fruto da vinha que descobriu brinquedo mágico de esconder a individualidade debaixo das sete capas do isolamento deste homem contemporâneo. Ver nas dobras da própria encruzilhada através das dores do viver assim...

Falar das tais maquinetas que dominaram o ser humano em dias atuais parece troço fácil, porquanto aonde olhar se ver os dois agarrados em pleno conúbio. Enfeitiçados pelas frestas dos equipamentos, a senhora viaja, a jovem sonha, o senhor negocia, o jovem obtém sucessos noturnos, e as crianças postulam meios ainda melhores de crescer, invés de repetir a perdição dos adultos, face aos engenhos de geração embriagada na luz virtual.

Somos nós os autores e as vítimas dos crimes da humanidade que custam incorporar fórmulas que libertem a dor e produzem os santos do amanhã. De dedos em punho, coçam as telas mágicas dos pequenos computadores, espécie de espelhos em que o futuro reflete a imagem dos aprendizes que ora formos de todos nós seres isolados na mísera invenção.

Embriões e chips dos teclados em fúria, eles cruzarão faroestes e florestas encantadas feitos cavaleiros andantes das artes de sobreviver a dramas que nem sabem ser verdades ou ficções, poemas ou romances, imaginação ou realidade teimosa do resistir. Seguem, no entanto, os traços do sonho entre dormindo e acordados, conduzidos aos porões do mistério pelas mãos invisíveis da solidão onde escolheram criar os heróis anônimos de depois.

Política, debate e necessidade

Quando a gente avista um jabuti em cima de algum poste, a certeza é certa, alguém o botou naquelas alturas, pois jabuti não sobe em poste. Essa constatação ouvi u lá no interior do Pará; nem sei por que tive de andar tanto a descobrir tal evidência. A conversa, naquela hora, girava em torno da política e dos políticos.

Noutras ocasiões, Da. Violeta Arraes, com quem tive oportunidade de trabalhar quando reitora da Universidade Regional do Cariri, falava da importância com que o povo francês encara os turnos das eleições e acompanha o mandato dos políticos que elege. Isso face ao quanto já sofreu, durante a história, vistas más escolhas dos líderes postados no comando das instituições públicas. Raras, raríssimas famílias francesas são livres das tragédias em face das guerras, tudo debitado na conta dos comandantes ruins que instalaram no poder em nações europeias.

Quando vereador em Crato, idos de 1989 a 1992, algumas vezes, nas minhas falas, afirmei que política é a fase que antecede as guerras, sejam guerras civis ou entre nações. Daí, quando ouço falar em anular voto, votar em branco, não votar e pagar a multa irrisória, fico meio sem graça, pois algo mexe por dentro das ideais, afirmando que desse jeito o cidadão joga na lata do lixo a única oportunidade que lhe resta de exercer o pacto social firmado a duras penas através das normas constitucionais e leis complementares. 

Hoje, o que se vê: Quantos execram os postulantes aos cargos eletivos, achincalham, nivelam por baixo; falam de comprar e vender votos, conchavos espúrios, perversidades mil contra a Nação, as gerações; e o desleixo das propagandas, além dessa imbecilidade chamada carreata, a gastar o sangue da civilização contemporânea, os combustíveis, em exibições de forças idiotas, além de aborrecer os que nada querem com isso, atrapalhando o bom funcionamento das cidades, ostentação digna dos manuais esdrúxulos da ignorância. Aonde achar nomes dignos da sábia organização social, em que cova sumiram as opiniões elevadas, os bons propósitos, verdadeiros e necessários, o que poucos sabem, poucos viram.  

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Fidelidade doutrinária

Dentre as argumentações de Allan Kardec a propósito da verdade espírita como instrumento divino de redenção, há uma que, por si, suficiente seria à defesa da tese: a concordância dos ensinos, na mesma ocasião, em todos os lugares onde eram recolhidos através do fenômeno mediúnico.

Quando as guarnições do Espírito da Verdade se lançaram a campo, nos diversos centros, distantes ou próximos, sobretudo na Europa, médiuns foram acionados e o confronto das comunicações coincidiu em seus postulados essenciais.

Os temas abordados deixaram entrever, com clareza, conceitos reencarnatórios, de mundos habitados, escala dos espíritos, leis morais, dentre outros, sem contradições que comprometessem a brisa nova que percorria a crosta terrestre.

Depois, o trabalho veio se materializar com a participação firme de Kardec, o bom senso encarnado, no dizer de Camille Flammarion. Em O Livro dos Espíritos se localizam as estruturas basilares da filosofia transformadora, em l.0l9 perguntas, feitas pelo Codificador, numa visão científica da necessidade humana de conhecer os segredos universais e respondidas pelos espíritos a serviço da Terceira Revelação.

Em tudo, e por tudo, há coerência lógica. Os membros da Sociedade de Ciências de Paris, no ano de l857, na ocasião do lançamento de tal obra, foram unânimes em asseverar que ali estavam respondidas todas as perguntas que qualquer estudioso, de sã consciência, faria sobre a vida após a morte.

Esse patrimônio, hoje, supre as interrogações que se arrastaram durante tantos séculos, herança benfazeja daqueles que têm o merecimento de alcançar. Portanto, digno do respeito das coisas sublimes, alívio dos aflitos, alimento dos famintos, bálsamo dos feridos e código do Amor de Deus, a informação espiritista deve ser, desta forma, apreendida e praticada, para mostrar toda a sua pujança transformadora.

Pois se trata de edifício doutrinário que não contém reparos, nem os comporta, uma vez apagar as dúvidas com fachos luminosos de transparência sem precedente na história dos humanos.

Felizes dos seres que galgarem a compreensão da Doutrina dos Espíritos, estabelecendo vidas em suas pautas de Luz. Quando assim se der com a Humanidade inteira, a Terra será morada de uma raça espiritual superior, e Jesus-Cristo voltará a viver no meio de nós.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

As agruras do amor romântico

As infinitas formas de amar circulam pela órbita dos corações. Houvesse uma paleta com todas as cores existentes, inclusive que não capta a visão humana, e resultaria essa chance de pintar o quadro de todas as possibilidades do amor que vadeiam livres nos céus do sentimento. Desde o amor mais vagabundo, que de amor nada apresenta de justo e concreto, até sublimidades inigualáveis dos voos siderais, viagens maravilhosas. Desde as sandices do desespero de querer a pulso o objeto de amar à santidade suprema do amor verdadeiro. Do zero à totalidade platônica do amor sem mácula. Do amor usurpado ao amor justo, merecido Tudo em tudo, por conta do exercício da liberdade dos seres inteligentes.

Conceitos estes somam realização com imaginação, e os fenômenos da busca de satisfazer o desejo de amar cobrem o mundo inteiro. Daí os acontecimentos do decorrer dessa aventura por vezes palco de tragédias e doutras a alegria, porquanto amar significa a causa principal de estar aqui neste mundo.

Ninguém, no sentido amplo desse termo, atravessará a ponte das vidas sem que exerça a função de amar e ser amado. Ninguém, pois, fugirá ao destino de amar, vez que amar e viver são duas faces de uma só individualidade. De uma, o instinto, da outra, o sentido da plenitude. Afinal viver e amar nascerão do órgão essencial à existência, o palco do coração na carne, onde palpita o mesmo coração espiritual da libertação.

Uns amam objetos, instintos, apetites, apegos animais. Já outros investem a qualidade da existência em valores maiores, puros, nobres, da dignidade definitiva. São as taras da guerra material, de um dos lados, e o esforço da real felicidade mística em atividade. 

Ainda que longe dos programas honestos da imortalidade, sonho perene de realização das almas, seguem os louvores de toda essa gente que precisa ser amado, que ama e exercita internas camadas do Ser. Amar, por isso, qual justificativa única de pisar os próprios passos, motiva a causa origem do que conhecemos sob o nome de Deus, Deus do amor, que está no coração a ponto de trazer a descoberta de amar na Consciência.  

domingo, 2 de outubro de 2016

Minha fé

Amor é um estado de alma. Uma entrega de nós com a gente mesma.

Ruim é se jogar em aventuras, ilusões, e ter que pagar a conta depois, os abusos, os desgastes, as doenças, as mágoas... Bom que seja aguardar, alimentar uma fé. Crer em Deus, minha amiga, crer de todo o coração. Existe, sim. Existe. Acredite em mim de todo ser. Deus é pura realidade. De uma hora a outra tudo pode mudar quando a gente não põe a perder. Alimente. Busque um amigo, uma amiga, que seja religioso no real sentido do termo, e se jogue de alma inteira no que estou lhe dizendo. Vai ter largas surpresas. Será o início de tudo que esperar com tanta vontade de ser feliz, de mudar a vida para melhor. Para o bem. Jamais se desespere; nunca se entregue, pois, ao desânimo. De uma tenho certeza, não é o pessimismo, nem a revolta, o que resolverá, que isso a ninguém agrada, nem à gente sequer.

Onde anda é que leva a isso. Busque outros lugares. Neste mundo há pessoas de bem. Só transa fica devendo muito aos propósitos de Deus aos homens. Existem as virtudes; não é só de instinto que se vive.

Seja leve consigo. Em nada alimente a paz de quem se revolta e nega a existência que levar. Erga os pensamentos. Reconstrua seu interior de outra forma.

A roupa quem saber é quem veste, por isso aproveite a vida que recebeu. Trabalhe seu eu, estude, viaje, faça amizades novas, seja simpática, agradável.

E dê uma tinta nova em sua vida.

Resta ser feliz do seu modo. Aceite a vida, que os dias se abrirão diferentes.

Gosto de ser gostado, mas invisto nisso minha vida. Se não gostam de mim não é problema meu.

Não bebo álcool, não uso droga, não alimento desgosto, nem tristeza...

Um caso raro de aceitação, ainda que nem sempre as situações me sejam favoráveis. Tenho meus achaques, minhas limitações pela vida... No entanto me acho feliz dentro do meu merecimento, do meu possível de ser aqui.

Mas estou de asas abertas pelos céus de minha imaginação, olhos fixos na paz que me espera, um dia, lá na frente, de braços abertos.