domingo, 28 de janeiro de 2018

Dias de hoje

Mediante os desafios deste tempo, existem as mil alternativas de sobreviver, que a isso indicam forças poderosas e vivas dentro das pessoas. O instinto de resistir favorece a continuar independente dos limites imaginários que gritam na escuridão. Claro que, diante do crescimento das populações, o mundo inteiro apresenta problemas de proporções jamais vistas. Contudo desistir nunca mais. 

Os humanos pertencem, pois, à Natureza mãe. Formam em si o todo inevitável dos labirintos de um ser universal e dispõem do quanto necessário a responder aos enigmas, abrir na imensidão infinita até então desconhecida e trabalhar o tempo no espaço, e viver de sonhos de real felicidade. As leis estão às mãos, no fluir das gerações, enquanto valores pedem coerência de princípios e motivo das atitudes. 

Há uma linha divisória intransponível entre o errado e o certo, isto além da pura opinião das maiorias. Artistas, profetas, filósofos, místicos, trabalham à busca da solução, já conscientes das leis morais que regem o processo das existências. De nada significa o confronto das experiências individuais voltadas ao erro, porquanto as normas do certo estão bem divulgadas ao vento.

Entre vícios e virtudes imperam as providências dos homens. Tantos fracassaram e deverão restituir o que levaram sem ter o direito de fazê-lo. A ninguém é dado justificar os erros em nome da ignorância, vez que haverão de restituir o que não lhe pertence fazer. Enquanto que existe uma Força Maior que a tudo determina desde o dia criou o que contém no Universo. A todos, à medida do que mereçam. Ordem plena, luz das criaturas em tudo. Isso tranquiliza, ainda que o caos mostre seus dentes. Há uma verdade maior que persistirá. Daí plantar e colher sob os padrões da Lei, sem medo, sem culpa, leves asas de pássaros canoros. 

Agora e para sempre, a expansão da coerência na Criação. Assim, almas de olhos fixos na paz transformarão o mundo em um pomar do Paraíso.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Memórias do sentimento

Nas horas das despedidas de que lembrar? Momentos extremos de vidas que esvaem no infinito, as pessoas seguem o curso natural das existências... Somem pelas encruzilhadas do nunca mais e um dia retornam em outros corpos, em outra geração, noutras idades, qual dizem os reencarnacionistas... De que lembrar quando virão, se nunca antes isto acontecera? Isso vale também aos amigos que tocaram em frente suas histórias imortais diante dos vendavais do destino e desapareceram nas curvas do tempo. 

Nesses dias, revemos quais caminhos alumiaram através do exemplo que viveram com alegria e coragem. Semearam a boa semente no coração de nós todos, sempre disponíveis à causa que abraçaram, na força da simplicidade, do talento.

Há, sim, o dia quando os dois planos encontram na razão de ser e destinam as criaturas aos braços do Eterno, na busca incessante das novas oportunidades e do crescimento espiritual. Cruzaram longos percursos de dores físicas, tratamentos, expectativas. Depois, no entanto, deixam este pedaço de mundo e uma ausência que rasga o seio das comunidades, tocadas nos sentimentos, em face da saudade. Agora resta exercitar o que ensinaram nas atitudes e nos praticados, motivo de responsabilidade aos que testemunharam as histórias ricas de transformação e coerência. 

Bem isto de falar nos sentimentos que ganham espaço da memória e esvaziam o leito das ausências, nas várzeas dos lugares em que passaram. A situação atual dos humanos limita arranjos de compreensão aos objetos, aos túmulos daqui do chão. Quando alguns aceitam melhor o desaparecimento dos entes queridos, estes são raros, por vezes estudiosos e vinculados a denominações religiosas. A conformação diante das perdas é, pois, fruta rara nos dias de agora. 

Porém desde longe que todos querem, incessantemente, as provas do despertar no mundo invisível dos que existiram na matéria. A Natureza possui virtudes inimagináveis, ainda desconhecidas, contudo de sabedoria extrema. Viver significa, antes de qualquer coisa, vinculação com a imortalidade, segundo tantos e em toda civilização.

(Ilustração: Maurice de Vlaminck).

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Histórias alheias VI

Rei da Prússia, Frederico II visitava, certo dia, um presídio da Capital do reinado, Berlim. De cela em cela, ia escutando as queixas insistentes dos apenados ali reunidos, que clamavam do soberano a revisão das suas condenações, alegando injustiça, impropriedades, e que as punições estavam fora de propósito. Justificavam as atitudes delituosas de haverem sido mal consideradas pelos julgadores e firmavam os pés na mais pura das inocências dos atos que lhes jogaram no infeliz calabouço. 

O monarca, atento, escutava as narrativas de um a um, sem maiores reações. Num determinado momento, enquanto observou, meio distante dos demais, a presença de prisioneiro quieto e afastado. Cauteloso, se dirigiu até ele, perguntando: - E o senhor, o que cometeu de tão grave que lhe trouxesse a este lugar?

O sentenciado, de pronto, respondeu: - Um assalto. Fui flagrado em um assalto nas estradas, e aqui estou pagando a pena, majestade.

Daí, o rei seguiria o interrogatório: - E o senhor na verdade é responsável por isso de que foi punido?

- Sim, majestade. Pago pena que mereço, vista a ação criminosa que pratiquei no passado.

Pensativo, Frederico II matutou um pouco; em seguida, chamaria o carcereiro, dizendo: - Agora mesmo, pode soltar este homem. Não quero que permaneça um só dia nesta prisão, pois ele está influenciado de modo negativo os outros presos, todos eles inocentes e injustiçados.

Assim, cumpririam os responsáveis pela instituição penal as ordens do Rei, pondo em liberdade o único detento que não alegara ser vítima da lei, naquele país distante.


(Narrativa que li no livro Sobre a rocha, de Mark Finley). 

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

A força de viver

Vemos isso diante dos quadros bonitos, nas ondas mar, nos sonhos, no tempo que vai e vem na mesma intensidade contínua da visão. O Sol, exemplo de persistência e novidade sempre. Enfim, que quer ver e transformar as limitações da resistência em coragem ilimitada. Baixar a cabeça diante das injúrias isto fugiria sobremaneira das lições da Natureza.

Olhar o lado bom dos elementos de tudo, vivos em volta. Sustentar a firmeza de propósitos e vislumbrar perspectivas recentes; abrir caminhos na alma da gente. Sorrir ao senso vulgar das fraquezas e elevar o gosto de viver aos níveis jamais imaginados de quando tudo dará certo, independente dos desânimos que ficarem lá atrás, nas cordas rotas do passado. 

Aceitar o desejo do melhor qual disposição necessária de continuar o filme da história longe dos interesses de grupos exclusivistas e sórdidos. Saber que há um Poder além dos poderes menores deste chão. Que Ele manterá o braço forte da liberdade, ainda quando disserem que o certo estaria fora do prumo. Esta vontade férrea dos místicos, eles que encerram no coração o gosto de revelar em si o dever da justa sobrevivência.

Acordar plenos da intensidade maior do bem-estar; dirigir os passos aos caminhos da honestidade e da paz; ser acima dos que falem palavras escuras. Sábia existência de quem descobre a riqueza do trabalho e ama fazer da possibilidade plena castelos, nas planícies da felicidade. Bem isto de saber em definitivo que somos simples moléculas da perfeição que em nós realiza os planos da eterna divindade.

Querer, acima das circunstâncias ocasionais, os páramos da pura realização do Ser. A isto viemos e cresceremos através desses minutos que vibram em pensamentos e alimentam de verdades nossos passos pelo mistério das tantas maravilhas às mãos do que viermos aqui elaborar.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Vozes da rua


Todos numa vida em movimento, subterrâneos escondidos e misteriosos até naqueles que só trocavam passos nessas histórias de viver. Sabem o que querem, o que sentem, o que pensam, se é que sabem. Mas quero crer que sabem, sim, de verdade, à sua maneira por vezes acidental. Tropeçam, caem e se levantam meio assustados de existir, e tocam o caudal de folhas secas por vezes aparentemente sem sentido. Descobrem aqui e ali razões parciais e sobrevivem pelas páginas dos jornais, filmes, ficções que vagam soltas nos noticiários, nas versões das outras pessoas, nunca a real realidade das noites que somem. Admitem compreender as notícias, fora de saber que são meros manipulados ao sabor de interesses outros que não os seus. As paredes do tempo até que passam rápido nas faces do Eterno.

Noutras ocasiões, manipulam os corpos, seu e alheios, e jogam dados nos tabuleiros deste universo, quais campeões de times imaginários. Abraçam a si próprios e congratulam vitórias fantasiosas de sorrisos abstratos, seres doutras visões. Ah! Quantas bocas eles ainda beijarão antes de serem beijados?!. A tantas flores que, por certo, aspirarão novos perfumes, tais pássaros que cantam o silêncio e adormecem felizes rumo ao desconhecido. Olhos que nada veem do dia seguinte. Valorosos guerreiros da doce felicidade.

Nisso, saem às ruas à busca de renovar o repertório das cantigas e guardar a sensação dos desejos no íntimo do coração. Nem de longe avaliam haver nalgum lugar do Paraíso grandes painéis que a tudo controlam e determinam esse ritmo do fluir das gerações. Bom assim, porquanto nos dias sem conta os pássaros cantam e as pessoas regressam aos leitos nos braços dos sonhos. E um rio de água pura, lá um dia, passeará na perfeição das almas, enquanto palavras voarão livres ao sol das manhãs. Ninguém estará sozinho no Infinito, na face do amor que limpa a vontade e desvenda cicatrizes deixadas nas consciências despertas. 

(Ilustração: Pancetti).

sábado, 20 de janeiro de 2018

Há um céu acima deste

Que fica logo ali adiante, depois, logo depois, daquelas nuvens mais altas que deslizam suaves no meio desse azul. Este daqui termina na face do céu da boca de uma onça, que espera de dentes amolados, debaixo das árvores secas do solo rude, no sertão. Bem ali, no entanto, há um céu acima deste. Assim se conversam os anjos metálicos neste chão das estruturas atuais. E certo é que quase ninguém, ninguém, talvez, digamos mesmo, está nem um pouco disposto a encarar com fidelidade os programas dos computadores mais modernos. Chegaram até descobrir a programação neurolinguística, de ressignificar os conceitos internos das criaturas humanos com base na linguagem mecânica. No entanto experimentam as modas recentes e largam de lado feitas revistas velhas. E saem à procura de novos sons, novas produções musicais, na ânsia de responder o quanto antes à sede do absoluto relativo que domina o mercado das ações artificiais. 

Bom, mas o que interessa, na verdade, são as funções delas, das máquinas atraentes, brilhosas. Agora mais recente descobriram um aplicativo, o limpador extraordinário, que limpa o lixo das pessoas numa velocidade supersônica. Isso estão usando nos templos das crenças matemáticas a fim de limpar as mentes dos astronautas em suas viagens pelos céus das almas. De vez em quando eles descobrem um novo planeta de uma galáxia até então desconhecida, os denominam de títulos diferentes, põem nas enciclopédias digitais e esquecem onde os deixaram, e saem à procura de novos planetas perdidos pelo espaço. Pois este céu daqui de baixo tem um céu acima dele, numa outra dimensão em que as onças nunca chegam, e nunca os irão devorar na ânsia de encher o subsolo dos restos que alimentam as máquinas do futuro.

De tanto repetir as cifras e os códigos, aqueles heróis anônimos param nos asteroides abandonados, subúrbios do Universo, e conversam entre si feitos senhores de quase tudo, porém cientes de preencherem as telas dos horizontes de palavras, imagens e movimentos que durarão apenas alguns segundos, desfeitos no nada. Sabem por demais, que outros sóis iluminam as esferas lá do outro lado de tudo, aonde permanecerão para sempre quando passarem deste céu e desta terra daqui dagora. 

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Autenticidade

Essa coerência entre o que alguém diz e o que pratica, isto de ser autêntico. Longe, com o mínimo de atenção, se torna possível perceber quando o ora dito corresponde ao ora vivido, quando vem a busca de autenticidade nos seres humanos, pois tal prática representa fatia reduzidíssima no gesto das pessoas. A exigência disso, ocorre sobretudo no seio da juventude, carente de exemplos de viver; existe nela um largo esforço de achar quem mereça respeito e aceitação em face da autenticidade com que vive, nos dias do presente.

Na peleja de ensinar, os professores trabalham a matéria prima da sociedade numa missão extraordinária, porquanto crianças e jovens gritam pelos exemplos justos, pelas práticas de vida compatíveis, em época cercada de leis de todos os lados, de muitos caciques e pouca retidão. Só afirmar pura e simplesmente é insuficiente, no percurso da sala de aula à civilização, nesses tempos escuros de tantas contradições. 

E quando não avista autenticidade no universo das suas histórias, os jovens padecem e reagem por vezes de modo experimental, a desenvolver métodos arriscados, aventureiros, de achar respostas, motivando estados de coisas da sociedade transformada em terra de ninguém; uns escondidos nos guetos e outros vagando à mercê dos desenganos, enquanto os comandos parecem perdidos de tudo e de todos.

Há que revê, o quanto antes, os padrões de comportamento da raça, presa na ausência de esperança. Os indivíduos necessitam, por demais, de exemplos sinceros, espelhos honestos e caminhos limpos de perfeição, nos dias atuais. Desde políticos a cidadãos comuns, merecemos maiores compromissos de todos, em todas as nações, todas as culturas, sob pena da inexistência custar preços elevadíssimos em termos de resultados e consequências. 

Admito, sim, que dias melhores virão, no entanto isso exige atitude dos que compõem a Humanidade em época de egoísmo e sofrimento. Pesa sobre os seres inteligentes tamanha responsabilidade, ponte que nos salvará das marcas da alienação, que só muito amor salvará este mundo e os que aqui ainda viverem.

sábado, 13 de janeiro de 2018

A aceitação do inevitável

Nós, humanos, somos meros prisioneiros do desconhecido... Qual encarar a vaidade dos espelhos e admitir que sabemos que nada sabemos? De nada que sabemos vagamos feitos meros instrumentos do prazer nas praças da ilusão. Quer-se saber ainda que sabe nada, o que é tudo. Tudo. Invadir as vaidades e dominá-las, quando se é delas dominados. Heróis das antigas sagas dos que esqueceram as aparências e subiram intrépidos, quase sem forças mais, o rio do Tempo... Venceram a correnteza das horas diante da voragem do momento que escorria na velocidade intermitente das horas. Ser o não-ser, e ser. 

Esse o desafio da dança cósmica que dançamos, queiramos aceitar ou teimemos contra a sorte impessoal. Baixar a cabeça quando a incredulidade manda levantá-la e confrontar o Poder além de nós, menores detalhes do enorme descomunal, o poder Soberano que avança aos nacos de nadas que somos todos. Ser antiCristos quando o Cristo na cruz aceitou de bom grado sucumbir desfeito na aceitação da Verdade contundente. Amaciar no peito as dores do mundo e nunca mais perder de vista do eterno ser que somos sem saber ser. E saber significa compreender o incompreensível, enxergar o invisível, mergulhar a ausência de universo e desse jeito assim sorrir feitos criança. 

Apreender o fugidio na vasilha limitada da impessoalidade pura. Descobrir o mistério do insondável e agasalhar consigo o próprio vazio da matéria, ela que se esvai sem deixar rastros, pedaços de mim nas dobras do vento. 

Permanecer preso no que passa é passar e desaparecer. Coragem, dizem os fortes, a coragem que conta nos que sobrevivem; que representa bem isso de vencer a correnteza e subir o rio de volta à fonte; afrontar o pergaminho dos séculos e resistir ao abstrato que constrange as coisas, os corpos de carne, os edifícios de lama e aço. A fé, a vida verdadeira, o Reino. Disso foram mestres os primeiros cristãos, quando trocavam os corpos pelas chamas das fogueiras nos circos romanos. Olhavam o céu e nele viam os Céus. Envolver em si na beleza dos instantes e transformar em definitivo o sacrário da Consciência, código secreto dos místicos. 

Ir de bom grado ao objetivo lá além das estações que deixamos atrás. Abandonar o aparentemente verdadeiro e seus mil sabores, suas mil cores, mil sons, e abrir o peito aos ares silenciosos das ausências abissais. Largar os rochedos pela pureza do mar aberto de dentro de nós. 

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Sinfonia de sabiás

Em face das primeiras chuvas deste janeiro, os finais de tarde na Serra se enchem de sonoridade; cigarras e sabiás estabelecem diálogo puro e melodioso, entremeados de tinidos de outros pássaros, na música divina, esplendorosa, longe das aflições dos humanos perdidos lá embaixo, na distância do vale. Tais bandos de borboletas coloridas, cigarras circulam de cicios a solidão da mata em sucessivas ondas, tecendo de surpresa o silêncio que aos poucos regressa e logo invadirá a Terra.


Houvesse dúvidas do poder infinito da Criação, essas horas bem que desfariam e se refariam nas almas por demais embrutecidas por causa das fainas do chão. Sinais imensos, magistrais, da grandeza dos Céus, as aves insistem nisso de convencer as últimas resistências dos sórdidos. Em orações continuadas, persistem reverter quadros da ilusão das mentes dos últimos ateus; limam presas derradeiras nas feras do Sertão bravio; e suavizam de paz os corações enternecidos.

Horas a fio, no longe das distâncias intransponíveis desses brejos do espírito, o invisível do eco festeja as estrelas que virão às praias de amores e luzes, na saudade feliz dos mais perfeitos sonhos. Leves instrumentos em mãos misteriosas, os acordes calmos, tons inesgotáveis da pura condição dos seres inocentes, mergulham na tarde que esvai e pinta aquarelas interiores nos horizontes da beleza. Avisos. Convites. Notícias doutros mundos santos; doces palavras em forma de cores e acordes.

Esse abismo entre o ser e a percepção da realidade cresce, pois, no espaço do sentimento, e a natureza fala. A Eternidade, em miríades de sons, portas dos segredos universais, desce seu manto da escuridão e desfaz réstias do dia nas promessas de comunhão dos ouvidos e do vazio, enquanto somem as intenções dos homens de reter a verdade que querem dominar. Some o que ainda existia de promessas e claridade. Responde assim, alegres, os pássaros, em desafios harmônicos, a esperança das primeiras chuvas e deixam as canções do dia no coração que ali incendeia.       

Na mala, só a viagem

No dia 07 de janeiro de 2018, foi lançando, em todas as plataformas digitais, o novo EP de Tiago Araripe: Na Mala, Só a Viagem. São quatro composições inéditas, gravadas com a sonoridade da nova música pernambucana. Para seguir os passos do lançamento, visite a página: www.facebook.com/AraripeTiago

Em arranjos primorosos, característica do cantor e compositor Tiago Araripe, temos às mãos esta sua nova produção artística. São algumas das faixas que comporão seu próximo disco, chances de conhecer de perto o que nos reserva a criação sempre surpreendente do músico. 

Enquanto trabalho estas palavras, ouço, através da Spotfy, as quatro composições que constarão do novo álbum: Bem aquiDas horasPerder alguém e De passagem, músicas que me fazem percorrer o itinerário do que ele até aqui produziu numa vida rica de revelações e criatividade. Dotado de talento refinado, pleno de imaginação positiva e comunicabilidade, sabe reunir, em letras e arranjos, poemas leves e profundos, em uma obra luminosa e reveladora. 

De longe sigo a história musical de Tiago Araripe, desde os anos 70, nos primeiros lampejos do que seria a surpreendente história deste autor, desde seus ensaios através dos planos literários e musicais. Nos inícios, fora estudante de Arquitetura e escrevia contos instigantes, surreais, isto ainda na adolescência. Adiante, migraria às hostes sonoras, em que tão bem se desenvolve e acrescenta de valores estéticos.

Depois, houve os passos em Recife, ao tempo do Nuvem 33, grupo de vanguarda junto de quem exercitou os voos na composição; em São Paulo, o grupo Papa Poluição, de proposta também revolucionária, quando gravaria um compacto e seguiria rumo ao primeiro LP, Cabelos de Sansão, relançado mais recentemente. Houve, em 2013, o Baião de nós, disco produzido por Zeca Baleiro, de consistência e primor musical, já consolidando a importância do artista no panorama da música popular brasileira, onde marca posição digna dos seus maiores nomes.

domingo, 7 de janeiro de 2018

Marli

Princípio de ano quando resolvi visitar dois amigos, Flamínio e o Prof. Bebeto, em sítios próximos da sede do distrito de Santa Fé, em Crato. Momentos alegres, horas de natureza, frutas, plantas e pássaros. Já sabia um pouco a propósito de Marli, garça que, há cinco, seis anos, se aproximara do Sítio Fábrica, onde Bebeto ali passa agradáveis finais de semana.

Ela chegou às margens do açudinho que existe ao lado da casa. Ao vê-la, Huberto observou que trazia ferimento numa das asas. Sozinha, triste, aquietou nas proximidades da água. Daí, ele e Toinho, o caseiro, trataram de lhe oferecer alimento que mitigasse a fome e a fraqueza. Nisso, aos poucos ganhariam a confiança de Marli, que assim a batizara.

Depois permaneceria por perto recebendo o carinho dos alimentos, peixinhos pescados de anzol. Resultado, ela e o novo amigo se afeiçoaram. Contudo alguns meses adiante, Marli sumiria por seis meses, ou mais. Bebeto deduziu que talvez houvesse perdido a vida num outro atentado. No entanto voltaria. Feliz de receber alimentação, demonstrou reconhecer o pouso e o amigo. 

Sempre que chamada, agora acorre atenciosa aos peixes fisgados de anzol, pequenas tilápias do reservatório. Basta chamar pelo nome, rápido desce e fica no aguardo da ração. 

Assim tem transcorrido. Some dois, três meses, e regressa familiarizada qual amiga fiel. Vimos bem isto acontecer. Mesmo que de todo ausente, tão logo ouve seu nome aparece entre as árvores e fica à espera do alimento, em perfeita simbiose de ser humano e ave pernalta. 

As cenas que eu e Flamínio presenciamos naquela tarde, do entrosamento de Huberto Tavares e da garça que buscou refúgio junto dele, fizeram que eu voltasse no tempo e me visse criança a presenciar bandos de garças sobrevoando as represas do açude do Tatu, em Lavras, onde nasci. Considerei o que teria imaginado à época visse o que agora vejo. Por certo desejaria ser, quando crescesse, tal aquele senhor às margens de um açudinho a oferecer peixes a Marli, cercado de árvores e flores, esquecido do mundo, a reviver dias da infância, na paz do sítio aprazível, distante, lá no sopé da Serra do Araripe.

Neste mar de sentimentos

Por mais que sejam movidos a pensamentos, durante todo tempo os humanos estão sujeitos aos sentimentos. Eles evitam sentir, pois sentir dói um tanto. Porém ninguém foge ao poder dos sentimentos, função principal de existir neste chão. Embriagados, entorpecidos, dependentes, no entanto rodam, rodam, e chegam ao mesmo lugar, à casa das emoções, na matriz do coração. A única porta de sair dessa escravidão da carne ali permanece fechada aos apelos e apegos, por mais que insistam vencer o destino inevitável. Nisso pena o espírito, até chegar do lado de dentro de si.

Já foram turbilhões de passados e os indivíduos persistem no velho desespero de revelar rotas de fuga; contudo são frustrados na memória das experiências, das ambições deslavadas, que amarguram no vazio de respostas a que pudessem dominar esse território. Tão ausentes de conforto permanente, andam açoitados pela fria razão, e nunca realizam plenamente a ânsia do absoluto.

Nadar no mar desse infinito significa, por isso, tocar adiante as frustrações e vencer o desencanto. Incríveis as lições do próprio corpo, cercado de sentidos, centrais de identificação da consciência aprendiz. A angústia, portanto, é viver de contradições. Querem ser felizes, todavia praticam egoísmo crônico. Planejam vencer os instintos, mas deixam que reinem soberanos. Entre animais ferozes e desafios diários, encaram a certeza do fim quais pagãos sentenciados à procura de novas ilusões.

Ondas gigantes por vezes parecem anular a sombra dos apetites; marchas colossais de sonhos brilham nas praias; nuvens encobrem os sentimentos, contudo jamais largaram os barcos ao tédio de quando tudo terminar em cada existência perdida. Apenas isso, heróis inacabados, prisioneiros de pensamentos andam em círculo à volta da única resposta, abrir de vez por todas o cristal da compreensão e aceitar os sentimentos que levam à estação da real Felicidade.

(Ilustração: Hieronymus Bosch).

sábado, 6 de janeiro de 2018

Pau Pereira

Este o título de livro do ex-deputado federal cearense Iranildo Pereira, cujo lançamento se deu em Crato, no Bar da Praça do Jambo, Bairro do Pimenta, dia 06 de janeiro de 2018, ao qual tive oportunidade de comparecer em nome do Instituto Cultural do Cariri. São memórias de vivências do político, natural de Santana do Cariri, no Ceará, a contemplar sua trajetória desde os tempos heroicos do Movimento Democrático Brasileiro, de saudosa ausência das hostes históricas do nosso País. 

Iranildo marcou presença em campanhas imemoráveis ao período recente di Brasil. Ao lado de nomes que assinalaram os esforços imprescindíveis na redemocratização pós Ditadura Militar, restou conhecido pelo verbo corajoso dos seus pronunciamentos e intervenções, a somar, com personalidades marcantes quais outros cearenses, Alencar Furtado, Paes de Andrade, Mauro Benevides, da mesma geração, e Lysaneas Maciel, Saturnino Braga, Teotonho Vilela, Freitas Nobre, Ulysses Guimarães, dentre outros mais, nos outros estados, fase crítica daquela fase. 

Quando necessário, cerraram fileiras na busca de trazer de volta o estado de direito, e que, nas eleições de 1978, causariam espécie diante dos esforços empreendidos pelo MDB original, baluarte na defesa das instituições democráticas, momentos de rara unanimidade nas escolhas das populações.

Em seu livro, Iranildo Pereira narra de modo espontâneo tais momentos diversos dos embates essenciais que viveu naqueles meandros da vida pública. Instantâneos do que presenciou o credenciam, pois, a testemunhar com nitidez horas cruciais experienciadas cheio de denoto e resistência. Revela, inclusive, detalhes fundamentais do que esteve envolvido nas horas graves da nacionalidade, além de acrescentar particularidades das suas origens caririenses nos aspectos familiares e comunitários das lides interioranas. 

Assim, numa espécie de relíquias do passado de quando a política ainda permitia os voos idealistas e sociais, esse paladino das legendas parlamentares oferece esta obra útil às interpretações da nossa história. 

Em confecção bem cuidada da RDS Gráfica e Editora Ltda., Fortaleza CE, o livro traz na capa ilustração do artista Audifax Rios, há pouco desaparecido, prefácio do ex-governador Gonzaga Mota, apresentação da deputada federal Gorete Pereira e edição de Dorian Sampaio Filho. 

A luz do Sol

Quiséssemos fazer uma comparação, seria o Sol o coração da Via Láctea. Em nós, esta força do coração, que reúne tanta energia da gravitação de nossos elementos quanto o Astro Rei na manutenção dos movimentos em torno do seu poder magnífico. Quanto querer, quanto equilíbrio infinito acontece todo tempo em torno das ondas magnéticas e dos raios luminosos. Assim também no exercício do poder o Coração, foco das determinações da Natureza ao giro de nossas forças e virtudes.


Algumas considerações ocasionais quanto aos mistérios da existência incluem as imagens dos evangelhos nas palavras de Jesus, ao afirmar ser Seu o caminho do Coração, o sol das almas. Caminho, verdade e vida, ninguém indo a Deus a não ser por meio dEle. Daí os raios da luz do Sol alimentar a vida que nasce em todo momento através das existências.

Sois deuses... E não saber, qual disse o Mestre Divino. Nascer e renascer a cada fração de tempo, e merecer o reencontro, outras vezes, até a libertação definitiva. Um eterno continuar feito apenas um traste parcial a bater nas paredes da concha, pérola de Si próprio. Luz que brilha nos céus sem brilhar a si, mas que lá um dia verá a Luz. Busca profana da santidade, autores do gesto desconhecido de ser a perfeição que não conhece, nem saber da certeza de existir. Isto, de se ser Deus e não o saber ainda.

Andar pelas ruas de país estranho à busca de endereço impossível, pois já o carrega consigo no âmago do coração. Desejo da satisfação já satisfeita, da completude invisível nas brumas do destino futuro. Almas salvas, porém audazes e renitentes, pecadoras em fase de transformação para melhor. Sorrir ingênuas da sorte dos mártires, e será um deles logo mais a caminho do sacrifício extremo. Aceitar de bom grado a condição dos perdidos, todavia cientes da eterna Salvação que lhes aguarda de braço aberto às luzes da Manhã.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Um sonho de cura


Seu Chico, amigo que mora em Juazeiro, outro dia me contou que Francisca, um dos filhos que teve com Maria Xavier Pereira, sua companheira, logo bem jovem sofria de crises epiléticas, mal que a todos constrangia e preocupava sobremodo aos da família. Na busca de uma cura ansiada, chegaram a procurar alternativas em viagem a Fortaleza, onde a submeteram aos facultativos médicos e procederam às investigações necessárias, mesmo que penosas diante da situação financeira que atravessavam. Recorreram aos médicos que viram raras chances de melhora. Pediriam os exames de rotina, no entanto quase nenhuma esperança alimentaram.  

Durante fase tão difícil, lá certa noite, a esposa lhe narraria uma orientação que tivera num sonho da noite. Que vira o Padre Cícero, e este dissera que Francisca poderia ficar curada se bebesse o chá da crista de galo, planta nativa do Sertão, de fácil localização nas ribeiras de Juazeiro do Norte, onde eles vivem até hoje.

Sem maiores esforços, Seu Chico buscou o arbusto e tratou de preparar o chá que fora, no sonho, indicado a Dona Maria, o que a filha passou a utilizar com regularidade. Daí, seguiram na observação da saúde da filha diante da sequência dos acontecimentos.

Desde então até os dias atuais, em que Francisca já é uma senhora e mãe de família, nunca mais voltaria a sentir as dificuldades clínicas de que fora acometida quando ainda na infância. 

Enquanto isso, Francisco Ferreira da Silva sempre lembra de contar a providencial ocorrência a qual considera um verdadeiro milagre do Patriarca do Juazeiro, Padre Cícero Romão Batista, santo popular das multidões do Nordeste brasileiro, a quem dedica mais profunda devoção.   

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

A beleza das histórias

Conta Nair Lacerda, no livro Grandes anedotas da História, que Charles Dickens, o escritor inglês, certa vez fora questionado quanto a persistir na educação infantil as histórias de fantasia, os fabulosos contos infantis. Amigo seu afirmava que o ensino deveria começar de forma austera, técnica, objetiva. Que as disciplinas que envolviam o lendário, o maravilhoso das ficções deveriam permanecer ausentes das salas de aula desde cedo, da infância dos alunos. 

Sem contestar, Dickens escutava atencioso as considerações daquele amigo que insistia em defender uma educação submetida só aos padrões da mais fria austeridade, quando entra voluteando pela sala borboleta de belas asas. O inseto chega aos pés do escritor, que, presto, o detém cuidadosamente, e principia limpar as cores e o brilho que compunham suas asas. Enquanto o amigo ainda insistia na argumentação que iniciara; nisso observa o gesto e silencia a analisar aquela atitude. 

Depois de limpar bem toda a superfície das asas do pequeno ser, indo até a janela do cômodo onde se achavam, o homem lançaria ao espaço o que sobrara da pobre borboleta, que saiu apressada pelos ares. Em seguimento ao que fizera, Charles Dickens considerou, segundo Nair Lacerda:

- Mas eu apenas fiz com a borboleta o que pretende fazer com seu sistema de educação. Tirei-lhe os enfeites inúteis. Quem sabe se assim ela voará melhor. 

...

Somos tais constituídos de aspectos diversos. Há países pelo mundo que aperfeiçoam e valorizam sobretudo os sentidos da técnica, dos princípios  materiais, físicos, do conhecimento, largando de lado as possibilidades infinitas do imaginário e das divagações artísticas, ficcionais. Presos aos conceitos exclusivos da racionalidade, esquecem a importância do imprevisível e suas viagens fantásticas, imaginativas. 

A natureza viva, no entanto, oferece pródigas oportunidades, nessa demonstração de cores, sons, formas, enredos, movimentos, que evidenciam sobremodo a certeza das criações inesperadas e ricas das riquezas originais, lição por demais valiosa no que tange a formação do pensamento humano, destarte também queremos crer.  

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Face a face

Horas de realidade favoreceram, pois, a compreensão dos mistérios do invisível. O grau de materialidade determinara, contudo, a libertação dos conceitos só físicos. A insistência em não querer ver gerou isso, prisões na crosta dos objetos, bichos perdidos soltos na floresta dos ausentes, desde o corpo largado aos prazeres a limitações de aceitar possibilidades eternas da Salvação.

Nisso, o mínimo de exigência pedia consciência. A linha do horizonte dos dias orientava através de sofrer quando aprisionados na matéria. Quer desvendar outros níveis de percepção, porém andam amarrados às malhas do instinto, à espera de outras forças senão as suas. Olhos fixos no espelho, ausentes de tudo de real, largam de lado a certeza de ser pela pretensão do não ser das ilusões. Bem tais sacrifícios impostos a si mesmo. Mergulhar de cara do apetite dos corredores da morte até perder as chances de revelar a Verdade no foco do sentimento. Saudades mórbidas do erro, do vício, da fome não correspondida, são véus da justiça acompanhando determinadas o que virá aos que nunca tiveram cuidado com as visões do Paraíso. Questão de alguns dias, talvez.

No entanto alguns poucos resolvem proceder à principal descoberta da existência e sair daquelas sombras em busca de luz. Quais numa loteria de Babilônia, esses humanos caminham nas avenidas do vazio e perdem as derradeiras economias, tanto um a um, quanto nas multidões embriagadas.  Jogam entranhas na lata do lixo do antigo. Quais cães à cata do próprio rabo, giram escravos em círculo, nas escórias do destino. Jogaram com a sorte que nunca mais possuíram. Alimentaram as quimeras que os devoravam.

A gente fala nos rastros deixados pelos céus, luzes que acenderam um dia na alma de quem aceitou. Perante todas as dúvidas, depois dos vales e campinas, haverá meios de iluminar as fibras do coração. Frases dizem isto, mostram na circulação dos amores verdadeiros a grandeza da Eternidade. Longe, lá longe dos castelos de areia, habitavam os sonhos da infinita determinação. Todos os ganhos que significam apenas nada além de ser feliz. 

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

A religião da Natureza


Esse equilíbrio original que reflete a luz do Universo em todos seus fenômenos. A força de a espontaneidade fluir das gerações, nos amores mil livres ao vento; as certezas que sustentam o instinto de sobreviver das formas; dos seres vivos. A música no ar, a liberdade pura dos acordes em festa na alma da gente, a beleza do bom gosto da Criação. Alegria. Gosto de permanecer no rolar do tempo. Exemplos de preservação das espécies, nos animais, nas pessoas; o senso que resiste à imbecilidade dos maus; a organização social; o trabalho honesto; as virtudes. 

Independente de fatores empresariais, a religião existe na alma e no coração. A busca das práticas fiéis, o clamor da solidariedade humana, a rejeição às práticas nefastas de uma civilização, que mata, fere, discrimina, escoiceia feito fera. As notícias que marcam a história, de crianças utilizadas nas guerras, adotadas de escudos nas escaramuças mais brutais. Esconder de nós mesmos, seus contemporâneos, isso ninguém conseguirá. 

Enquanto países ricos jogam alimentos no lixo milhões morrem de fome nos países africanos. Enquanto isto, apenas o silêncio das nações vem de resposta. Dores atrozes que persistem depois de tanto que se existiu neste chão comum. Máquinas da indiferença constrangem até viver em época assim, diante de ausência de sensibilidade das lideranças e dos excessos de violência contra jovens menos aquinhoados, classes vítimas dos favorecidos nos recursos econômicos que pertencem à humanidade inteira.

No entanto a sabedoria dos povos haverá de construir mundo renovado, nascido na coragem dos que acreditam nessa possibilidade interna de transformar no mínimo a nós mesmos.

Creio que tantos agem de tal modo e que a sequência dos acontecimentos virá sob esse prisma de paz tão necessário. Das razões de imaginar isso, primeiro, a urgência dos dias melhores, conquanto baste de amargura e sofrimento. Plantemos nos dias atuais o presente de que necessitamos agora e sempre. 


(Ilustração: Carme Solé Vendrell).