sábado, 30 de março de 2019

As quatro paredes do destino

Onde estávamos mesmo? Sim, bem aqui próximo, agora lembro. Aguardava o momento exato quando a máquina abriria sua tela e permitiria fazer dp mada coisa alguma, no inventário desses dias volumosos; os reverto em palavras esquecidas no lombo da tartaruga das horas que logo irão fugir na busca das sombras da noite. Tempo, esse ente que escorre pelos dedos ainda peguentos de chocolate e inunda de pensamentos o abismo das pulsações, feito espião intermitente, sussurros aos quatro ventos da inexistência; alguém nalgum lugar da tarde; será, por isso, o ponto central do Universo inteiro, objeto único que trepida sobre as pernas e sacode braços entre as nuvens da dúvida. Lugar vazio, aqui, bem aqui e para sempre, jamais tão contundente, porém nada além disso.

Nós, assim, soltos neste oceano de ilusões, que vão e nos larga de volta, borbulhas de uma praia sideral, imensa... Peças do vestuário invisível das peças encenadas no palco das tradições abandonadas. Agora, sim, pequenos animais vagando soltos num deserto de infinitas proporções. 

Tudo que fala dessas cores do tempo em formato de raízes dizem do ser que somos, razão dos códigos de todos quanto há e nas mãos de um só, contudo sendo ele o autor dos próprios roteiros e objetivos. Contar o quê, divisar aonde, aceitar que motivos de estar neste sítio de infindas proporções? Espaço sem limites, entretanto preso ao quê das dimensões, sujeito aos valores inevitáveis e fincado nas bases desconhecidas do insólito destino. 

São incontáveis seres sujeitos a determinações que tangem o barco a correr nos dias; joias de um brilho sem par, entregues aos mendigos e as feras, que experimentam, copiosamente, o sabor de fazer delas o anzol dos infiéis e sorvedouro das inocências, das meras aparências, no enlevo das certezas e portos seguros dos amores definitivos. 

Nós, muitas vezes pássaros suaves e asas do depois; qualidades; astros em formação nos céus da liberdade... Olhos que acedem ao cair dos mistérios e dos dias... Contudo caminhos limpos da plena existência que virá da Criação...   

(Ilustração: Colagem, Emerson Monteiro).

quarta-feira, 27 de março de 2019

Considerações ocasionais

Esses cuidados filosóficos e políticos de mudar a realidade exigem mais de nós do que dos tempos em volta. Reclamar, forçar, protestar, e nós em que fazemos a diferença diante do que aí está espalhado no vento? Pouca ou nenhuma diferença faz que criemos motivos de mudar sem que isto signifique as sérias mudanças de que carece o mundo. Por vezes, serve de rejeição ao correr dos dias, sem, no entanto, representar força necessária às grandes realizações. Bons de fala, porém grosseiros pacientes das sortes inúteis, deitados nas crostas da acomodação. 

Forte de ouvir, no entanto realista parente os acontecimentos que tomam conta das pautas e enchem de urgência de transformações, o que requer a tal civilização nos praticados. Erros mil sucessivos de larga monta, desde que existem as levas humanas espalhadas neste chão parecem querer dominar e impor consequências tortas. 

Fôssemos organizar os sistemas de modo amplo, quase nada ou muito pouco sobraria, no jeito que aí está. Classes, castas de poder, interesses de grupos, absurdos de guerras e fabricação de armas; drogas, prostituição, jogo; injustiça variada no meio dos povos; sobraria o que propriamente?

Assim, contudo, viver a título de obrigação, sofrimento e perdição dói que nem ferro em brasa na pele dos animais que ainda somos. Pequenas minorias privilegiadas e o resto em massa de manobra. Que território ficaria senão mergulhar em nós mesmos e buscar a revelação de outros meios de exercer a função que nos compete. Há maior inteligência a dominar o Universo. Desvendar o céu das virtudes e providenciar a justiça bem corresponde ao sentido de tudo.

As lições circulam nas mentes, batem firmes nas praias do conhecimento e oferecem os instrumentos de construir um novo ser que já transportamos; dar cor de si nas melhores chances da real felicidade. Portanto, longe de esperar dos outros, cumpramos a nossa missão de salvar a nós próprios sem com isso destruir o Planeta. 

segunda-feira, 25 de março de 2019

As sempre novas emoções

Meios a significar disposição de querer novas as possibilidades diante do passar das horas; escolher fórmulas recentes de tanger os dias. Isso a quem parar e resolver estruturar pensamentos de modo a colher sensações renovadoras do cotidiano que nunca se repete. Ainda que diante dos achincalhes das rotinas, permitir serem vistos acontecimentos de modo consciente e saboroso. Viver com alegria e surpreender em si mesmo métodos criativos de aceitar que seja assim o senso de existir, força poderosa, acessível a todos.

Bem isto, saborear o gesto de viver utilizando os recursos da sabedoria; adotar um jeito ativo de administrar os pensamentos e sentimentos que permita usufruir diariamente da arte que em tudo persiste, a depender tão só das atitudes dos viventes. 

Numa consideração mais aprofundada, saber que entre o zero e o infinito moram todos os habitantes do Universo, e que somos eles, os autores atuais do processo vida, instrumento grandioso em nossas mãos. Tratar o tempo qual amigo de tudo quanto há, norma de lucidez suficiente a reconsiderar detalhes antes escuros sob as luzes esplendorosas de positividade e determinação. Praticar o momento sob a força de vencer prováveis obstáculos e dominar o inesperado. Sobreviver ao mistério do desaparecimento, porém dotados de possibilidade plena, amor e vontade.

...

As perguntas chegam à medida que respondemos as anteriores, e somos quais senhores do instante, uma vez que aceitemos o fator da liberdade que bate às nossas portas do modo próprio de transformar a existência em recursos de satisfação. 

Por isso, dizer que o mundo é subjetivo, que lhe damos a essência na medida em que sejamos os responsáveis pelo ofício de classificar fenômenos e objetos que se nos oferecem a conhecer. Seremos, destarte, criados a fim de dar vida às vidas e os viventes. Sejamos, pois, consciências do mundo e tudo será novo sempre e agora.

sexta-feira, 22 de março de 2019

Por dentro do sonho

Essa porta do universo mais íntimo das criaturas, os sonhos. Olhos por vezes incompreensíveis numa longa viagem aos recônditos de si mesmo. Transes de inferno ou paraíso, somos os próprios passageiros dessas paisagens sem igual aonde nos deparamos com as camadas imensas do ser. Nisso, cruzamos as notass dessa melodia abissal, luz da consciência, raiz do presente dos deuses aos sóis. Bem igualitário, nos levam a mundos ignotos, furnas sepulcrais, pois nos sonhos conversamos face a face, ainda que aprendizes dos códigos da natureza.

Muitas histórias de revelações nascem dos sonhos. Mensagens de fontes sagradas, orientações e avisos valiosos. Diversos nas civilizações, santos e heróis praticam a arte das notícias que eles trazem dos astros e saem vitoriosos nas batalhas, vida afora. Acordes no merecimento das pessoas, chegam na hora certa; os sortilégios e presságios; anelos de salvação de crises, amarguras e dúvidas.

Há notícias constantes dos sonhos quais instrumentos de transformação dos destinos de grupos inteiros, à força dos empreendimentos e movimentações. Existem, inclusive, métodos de avaliação dos símbolos oníricos a fim de mostrar o resultado das mensagens que recebem seus autores, na leitura dos sonhos. Métodos de anotar para poder depois recordar as partes que, de comum, ficariam perdidas na memória. Existem os sonhos lúcidos, daqueles que sabem que sonham e nem por isso acordam e prosseguem nas funções e descobertas no território dos sonhos, verdadeiros pesquisadores do conteúdo interior da humana existência. Viajam por dentro dos segredos da sorte e vasculham o vale das sombras, escafandristas dessa terra de ninguém em que habita o Inconsciente, matéria prima das compreensões. 

Sonhos de duas espécies, os da mente em atividade diária, os sonhos de rotina, superficiais, somatório despretensioso das emoções cotidianas; e os sonhos maiores, formados de conteúdos profundos, provenientes dos mistérios superiores. Aqueles neutralizam e descarregam excessos nervosos; enquanto estes significam respostas necessárias ao processo evolutivo dos Espíritos nas lides da evolução. 

terça-feira, 19 de março de 2019

Um fenômeno que pensa

Meros estágios, pois, de uma mesma onda, assim são os humanos, movimento que pensa à medida que presencia o teor das ocorrências em constante transição, eles, fronteiras entre o tudo e o nada. Detalhes de todo inexistente, avistam na ilusão o sentido de a avaliar que existem, forma de controlar o incontrolável, que, de dentro dessa aparente realidade, resiste ao fim daquilo que nada resta, nem o nada absoluto por inteiro, muito menos o tudo.

Nesse lusco-fusco das inexistências em que sobrevive um turno, aparências em queda livre, no decorrer das situações de viver, de tal modo sequenciam o aprendizado que os levará à descoberta definitiva da razão de estar aqui. Foram (serão) frações de incontáveis sustos qual mostram na face diante dos instantes e logo ali somem de ninguém mais saber aonde desapareceram. Segundos em ação no instante das percepções, que só se desfazem no ar da imaginação impertinente.

No entanto há que contar, saber das consciências que acendem e apagam o transcorrer das vivências. Enquanto formam conceitos, concepções e registros, seriam quem que anota o tempo e o espaço, meros fatores de composição em decomposição, do gesto ao inexistir. O tempo, que some; o espaço, que se desfaz à medida do tempo que fora; e a presença dos seres que reconhecem neles tais sinais, através de sensações e emoções, a formular pensamentos e sucumbir perante a própria sorte impossível de continuar e conhecer logo depois do que acontece.

Eles, nós, fenômenos naturais da humana consciência desta inconsciência, imagens das ilusões em desfalecimento, contudo persistem no querer das percepções, enquanto as ondas agitam o mar de mil histórias, detalhes e fragmentos dos átomos e das partículas desfeitas e refeitas à medida que buscam superar o desfalecimento continuado, sucessivo. 

O furor intenso dos elementos, no panorama das horas, bem significa motivos originais das idas e vindas que preenchem as existências e nutrem de sabor original as circunstâncias e os prazeres da consciência na busca de dominar o fugidio, santificar a si e os segredos do Universo.

(Ilustração: Colagem, Emerson Monteiro).

domingo, 17 de março de 2019

As dimensões da Consciência

Os tantos níveis da compreensão dos humanos deixam margem a classificar eles serem distribuídos em diversos graus de aceitação da mesma realidade, porquanto nem os dedos das mãos são iguais Há de quase tudo nesse universo das pessoas. Até parecem espécimes de raças estranhas e em conflito. Ora reagem pelos pés, ora pela cabeça, nos diferentes campos das experiências, desde guerreiros e pacifistas, a crápulas e santos.


Do zero ao infinito, pois, vagueiam feitos senhores do inevitável e dançam nas incertezas das noites, sujeitos da sorte e do inesperado que plantam e colhem à medida que clamam por liberdade. Vadios no mar aberto das circunstâncias, só preenchem as gerações e abusam das aparências que sustentam enquanto vivem as cotas de viver.

Tais dimensões escorrem dos lábios, semelhantes aos pendores nascidos no instinto e na inteligência, quais fossem de verdade, sendo, no entanto, meros fantoches da dúvida. - Será que estou certo? Eles são muitos, de tamanhos e cores, caprichos e pendores, vilões e mocinhos, nadas em formação, nuvens do espaço e do tempo.

...

Querer pensar em errado e certo agora significa tão só dois hemisférios da existência indivisível, lá na faixa estreita dos trilhos da Lei, encontro deles dois tarde ou cedo, quando ver-nos-emos face a face com a real fisionomia da Consciência. Dias enormes de chances que fecham, as portas apenas mostram o travo das palavras atiradas pela janela, vindas do coração da gente nas paixões. Seremos, sim, deuses que, contudo, já o somos, porém na proporção das realizações que as histórias determinam, habitantes dessas amarras que, soltas, voam pelo firmamento, bólides acesas em fórmulas esquecidas. O que parecia estágio definitivo vira, em poucas horas, traços nos céus, e nunca mais será o que antes fora.

sexta-feira, 15 de março de 2019

A roda do destino

Numa espécie de prisão aberta a que se submetem os humanos, ora estão em cima, ora embaixo, feitos fantoches de uma roda gigante de proporções monumentais que envolvem o Universo inteiro, e mais houvesse a envolver que fosse. Todos os seres, afinal, vivem nisto, sob as iguais condições de realizar o segredo adormecido das eras. Não nos cai único cabelo da cabeça, folha de uma árvore, sem a permissão de uma Lei...  

A isso chamam carma, ou lei do retorno, ou de causa e efeito, de reciprocidade, justiça, justiça, justiça... Em que lugar aonde fugir, esconder das peripécias e armadas este mundo interno, inexistência absoluta de saída; só o imenso, silencioso, território das atitudes a sol aberto, na manhã das histórias e dos vazios contundentes. 

Quem planta o bem, colhe o bem; que faz o mal, nada tem, diz o poeta. Viver permite experimentar no bom senso os resultados que a ninguém deixam de fora, no correr das aventuras siderais. A caverna de Aladim e a busca da lâmpada maravilhosa da sorte amiga. Às apalpadelas, senhores da escuridão percorrem as paredes do inesperado, quase nunca dotados de coerência, amor, paciência.

...

Plantar, experimentar, sofrer, ter prazer, sonhar, viver, continuar, sofrer, alimentar, existir, imaginar, sentir, caminhar, semear, somar, conhecer, sofrer, conhecer, vivenciar, ensinar, aprender; círculos e movimentos espiralados em volta de si e dos demais. Vez em quando, acertar, esquecer, prosseguir, investir, expandir na consciência. Descobrir a essência que em tudo contém. 

Desde as primeiras impressões, as pessoas sentiram essa possibilidade da revelação de novas descobertas na face dos mistérios. Aos poucos, crescem no desejo de identificar a justa solução dos dramas com que se deparam. Nutrem sacrifícios, vaidades, experiências, em troca das virtudes que iluminam o caminho da fortuna. Desfazem as ilusões dos apegos e abrem portas aos valores de filosofar e crer. Vem sendo assim desde o início, olhos abertos, inesperado e heróis, enquanto giram os céus noites sem fim. Olhos presos nas estrelas, vasculham as entranhas da alma na busca da felicidade... Criaturas, gerações e circunstâncias; à roda destas aventuras... Enquanto giram os céus, noites sem fim. 

terça-feira, 12 de março de 2019

A teia dos pensamentos

Máquinas de criar existências, eis o que somos de juntar pedaços de significados e elaborar os dias inevitáveis do horizonte; instrumentos da natureza de retrabalhar os elementos dos sentidos e dizer a nós próprios a que viemos. Conter a química dos momentos e aferventar a ração diária das horas em forma de realidades, em detrimento da grande realidade que permanece incógnita sob a pele do firmamento, enquanto a que criamos quando muito ficará restrita às memórias de quem escreve, fotografa, grava, filma, e larga às hostes do passado, deixando, nas plataformas do tempo, estações sucessivas que se vão intermitentes pela janela do comboio. 

Nós, entretanto, fazemos caso do pouco que nos cabe desses valores em movimento; corremos contra a fluidez dos episódios insistentes, lições continuadas de persistência; desejos de prosseguir além das barreiras do depois; só desejo, mera soma de fatores e fragilidades; nós, cavaleiros errantes do presente, sombras que deslizam apressadas na tela dos pensamentos. Às vezes pergunto o que restará dos fragmentos nas refeições de todo dia, quando nem de ontem nos lembraremos de mais?

Bom, mas insistem os pássaros a cantar, a flores a florir, o Sol a percorrer os céus; aonde dirigiremos tanta aflição de permanecer durante a faina do constante desaparecimento? Quantas músicas, livros, filmes, histórias, esperam de nós a compreensão, sabor e felicidade? Expedicionários do destino, pois, tangemos esses rebanhos das circunstâncias e sonhamos viver eternamente diante do fugidio que, esplendoroso, passa ritmado.

Ainda assim herdeiros da beleza universal que desfrutamos, no mistério do Paraíso das existências e usufruir do poder de ser infinito sem saber, à medida que interpretarmos o enigma da Consciência seremos parceiros fieis da Criação e tocaremos a valsa do instante, senhores de Si, porém que haverão de conhecer o segredo das virtudes logo ali nas dobras do caminho. Luzes em crescimento, nisso elaboramos a finalidade que nos traz aqui e alimenta, generosa, o jardim das nossas almas, filhos diletos do Amor maior.


(Ilustração: Colagem, Emerson Monteiro).

Mundo de ficção

Mas, que outro se não esse daqui, palco da mais pura ficção, aonde os seres jamais morrem, e sim se encantam feitos pedras sagradas?! Eles, os alienígenas do espaço que fogem apressados quais farsas debaixo das nuvens, nas horas, e só desaparecem livres. Somem, simplesmente, astros de outras histórias que, de uma hora a outra, resolvem aceitar que autores os excluam da memória dos deuses e do capítulo seguinte, aqueles tais que antes fizeram a alegria de gerações inteiras, nos programas de auditório dos domingos à tarde, ou das tiras matutinas dos jornais, nas segundas-feiras. Surpresas desfeitas no ar, espécies de mágica de saltimbancos alucinados em feiras distantes, e nem apresentam as derradeiras cenas de despedida; só vão embora pelas portas dos fundos, e nunca mais. 

São que nem peças de museus abandonados depois das guerras; elas viram sucatas de ponta de rua, largadas nas calçadas dos ferralheiros embriagados, ainda com o odor esquisito de fumo velho misturado a incenso das farras escurecidas, sombras das chuvas ao soluço do Verão. Isto que significa longas trajetórias das epopeias clássicas, heróis adormecidos e amarrados na popa dos barcos, a que nunca escutem o canto das sereias, restos de paixão e desengano. 

Esses tais passageiros da agonia quando aqui descobrem, pois, que podem encantar-se nos mistérios gozosos, souvenires de antigas civilizações, saem conduzidos no bojo das naves interplanetárias. Bom saber quando descobrem o senso dessa imortalidade ainda durante o correr das luas; nisso, bem viver os acordos de paz e dormir sobre as vestes imundas de si póprios, lá longe dos temores e pesadelos. Mártires de lendas fantásticas alimentadas séculos para sempre, serão senhores de vida e morte, agora que encenam felizes diante da Eternidade. Nós, criaturas às vezes desumanas que passeiam pelas veredas da Sorte, os salvos que a isto esperam até o momento de regressar aos braços carinhosos da divina Consciência.  

(Ilustração: Foto, Emerson Monteiro).

terça-feira, 5 de março de 2019

As Naus do Infinito II

Outro dia, conversava com Gabriel, meu neto, a propósito da história que eu contara dos que seguiram ao planeta Marte na busca de alternativa de a raça  viver uma civilização diferente desta; deles que partiram com a promessa de regressar, enquanto daqui ficaram aguardando, etc., etc. Levamos adiante o episódio de aportarem lá, enfrentarem as condições e lutarem na intenção de, belo dia, voltar à Terra, porém careceriam de meios e técnicas, isso que os impediam por enquanto. 

Daí, imaginamos a sequência dos acontecimentos, a extensão da história noutros momentos, de lá e dos que permaneceram. Já soubéramos que, de tanto esperar sem resultado, as gerações se sucediam; criaram religião de manter as tradições da viagem e rezavam nas noites, olhos postos nos céus à busca dos sinais dos que saíram naquela missão. Isso vindo mais dos jovens, apegados na ideia de vencer as dificuldades deste mundo. 

Víramos as reuniões em que previam o momento de chegarem, ocasião de adoração aos expedicionários, e nisso procediam rituais sagrados e rezas de poder. As lembranças deles, as relíquias que deixaram, casas, animais, amigos... Estabeleciam jornadas de vigília ao longo de datas marcantes, congregados em volta das fogueiras acesas, sempre ligados nos riscos do firmamento.

Horas e horas de retiro fora das cidades, junto da natureza, a ouvir sons da floresta; seguiam a reviver a presença deles, esperançosos da missão libertadora, apegados aos planos futuros nas outras estrelas, longe, bem longe, do que deixariam para trás; felizes, no entanto. Agora, só as recordações quase apagadas na memória, contudo preservadas com empenho pelos seguidores do novo credo.

Bem distantes, eles mantinham o pensamento dirigido aos da Terra, também a realizar convívios noturnos de lembranças dos tempos arcaicos, isto já a constituírem novas famílias em outras gerações.

Gabriel e eu discorremos nalgumas dessas narrativas que pudessem continuar a história. Dentro de algum tempo, comungamos daqueles sentimentos que alimentavam os peregrinos da lenda. Até os títulos dos capítulos vieram à tona: As Naus do Infinito II; As Naus do Infinito, o retorno, ....

sexta-feira, 1 de março de 2019

Mecanismos da oração


Orar é a respiração da alma. 
                                                Gandhi

Quando deparo o extremo das crises espirituais, ali perante o eterno ser vivente que há em tudo, assustado, permaneço quieto qual quem saberá sair de mais um transe; revejo os meios ao dispor, no longo das estradas dos pensamentos, enquanto o corpo dói nalgum lugar da geografia silenciosa do sentimento; e observo em volta, semelhante aos que se perdem nos lugares desconhecidos. Analiso as partes do todo. 

Nessa hora, crio as mínimas condições de imaginar que não seja comigo o que vivencio, que persiste aqui do lado um eu que sara as culpas que carrego e deposita em lugar fora de mim aonde possa rever e corrigir em dado momento futuro, reencontrar o que possa substituir na evolução em frente e conter a fúria das interrogações de agora, o que não suportaria naquelas ocasiões de quando errara.

O que tantos chamam de fé, que existe nos que na têm... Energia soberana da natureza de que somos formados, que alimenta nas dores e oferece os instrumentos de reconstituir o caminho até então ignorado, por isso contrariado pelas ações impensadas.

Cabe descobrir o território de si próprio que ofereça melhores recursos de sobrevir diante dos limites da paz em polvorosa. Vêm as ofertas da religiosidade, os sonhados mecanismos da cura espiritual de que ouvira falar no decorrer do tempo, de que outros obtiveram frutos doces e coexistem no seio de nós mesmos. 

Erguer aos céus os olhos da alma e clamar misericórdia, alento no coração da tempestade avassaladora... Baixar a cerviz e exercitar os músculos da esperança de ser, um dia, recebido nas mãos da Graça superior e aceitar o poder infinito da prece, das luzes celestiais na Consciência. 

Sem desespero ou revolta, ou medo, ou agonia, elevar o padrão mental a um estado de concentração que possa permitir encontrar a força suficiente de exercitar as certezas de um Bem maior que rege e domina todo o Universo em nós.

(Ilustração: Angelus, de Jean-François Millet).