sexta-feira, 19 de julho de 2024

Tesouro da Juventude


Na segunda metade da década de 50, os viajantes da editora W. M. Jackson, Inc. inundaram o País de coleções dos livros de Machado de Assis, Humberto de Campos, obras completas, e de História Universal, de Cesare Cantu, Mundo Pitoresco e Tesouro da Juventude, sendo que esta detinha a preferência, enciclopédia montada numa linguagem cuidada, cheia de bem intencionados conteúdos, no propósito de indicar, sobretudo aos jovens, variadas vocações, para isso dirigida.

Os 18 volumes, confeccionados em papel resistente, encadernações luxuosas e graúdas, traziam painel do que havia de mais atual, desde literatura, ciências e artes, a resgatar histórias infantis de todos os tempos, poemas tradicionais da língua portuguesa ou traduzidos; enfocar países, com detalhes culturais, arquitetura, costumes, ricas ilustrações; realçar momentos históricos importantes para a cultura ocidental, satisfazendo a curiosidade sobre temas da natureza; e oferecer métodos de artesanato, folguedos e jogos divertidos.

Nesse período, poucos estudantes deixaram de pesquisar naqueles livrões de capa azul, na busca de esclarecer os diversos fenômenos naturais, circunstanciar resumos de romances brasileiros ou estrangeiros, ou descobrir novidades ao gosto dos professores do ensino médio; ainda não possuíamos, no Cariri, escolas superiores; enriquecendo bibliotecas e lares com as luzes do saber.

O despertar para a leitura encontrou nessa coleção trilha fértil, de rica proposta. Os jovens, por seu turno, acolheram de bom grado esse manual, sem ter de cruzar a massa de informações que a cada dia se despeja nas bancas de jornais e revistas, nos tempos eletrônicos dagora.

Todas essas particularidades nos vêm à lembrança quando se observa a peleja das gerações de hoje para desenvolver o hábito da redação, exigência constante dos vestibulares, visto se saber que o primeiro requisito do estilo terá sempre respaldo na boa leitura.

A propósito do Tesouro da Juventude, eis um exemplo de texto dessa bela coleção:

TIRANOS DE SIRACUSA.

Conta uma história antiga que Dionísio, tirano de Siracusa, geralmente detestado por todos os seus súditos, encontrava frequentemente em seu caminho uma mulher muito velha, que sempre exclamava quando o via:

- Deus dê longa vida ao Rei Dionísio!

Admirado daquilo, o tirano, que se sabia cordialmente odiado por todos, indagou-lhe, uma vez, do motivo de seus bons votos.

A mulher respondeu:

- Eu sou velha, muito velha. Vi o pai de V. Majestade e o avô de V. Majestade. Seu avô era um tirano de imensa maldade; seu pai era pior ainda; V. Majestade é ainda pior do que os dois anteriores. De modo que rogo aos céus darem longa vida a V. Majestade, porque tenho medo daquele que possa vir depois.

Como se vê, esta célebre história da velha de Siracusa aplica-se bem a muitas épocas.

(Ilustração: Reprodução (https://jogosuperclicks.com.br/parabeeees-para-o-livro-nesta-daaaaaata/).


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