terça-feira, 31 de julho de 2018

A Cor das Palavras

Este o título de livro a ser lançado na próxima quinta-feira, dia 02 de agosto de 2018, no Salão de Atos da Universidade Regional do Cariri, em Crato, da autoria de Francisco de Assis Silvino da Silva, nascido em Fortaleza. Mora em Crato há 30 anos. Casado com Maria Augusta Brito Silvino, são eles os pais de Pablo, Luíza e Bárbara. Exerce o magistério como Professor Efetivo do Curso de Direito da Universidade Regional do Cariri – URCA, e cursa Letras na mesma instituição acadêmica. Originário de uma família de músicos, desde criança conviveu com as artes. Toca gaita cromática e faz apresentações instrumentais no Cariri e em Fortaleza. 

Nessa publicação individual de estreia, o livro de poemas A Cor das Palavras vem a público revelar a vocação das letras. Entendo que a poesia desperta sentimentos, sensações. Por esse motivo é que escrevo. Porque já li muita poesia é que escrevo. Muito dos poetas que eu li está presente nos poemas desse livro. A eles, minha gratidão. Escrevo, também, ou por isso mesmo, por um mundo melhor. Por um mundo de paz. Entendo que a poesia pode ser uma ferramenta poderosa de construção da paz. Espero, então, que minha poesia seja um instrumento de paz. Assim resume Francisco Silvino seus pendores às palavras.

No trabalho de artista, há tempos evidencia, através, inclusive, de letras de canções que compõe, verve literária plena de imagens e sentimentos, força e inspiração, algumas dessas produções a merecer prêmios em festivais regionais e gravações de interpretes do cancioneiro cearense.

Além de apreciável instrumentista, Silvino revela talento no que tange à redação de crônicas, algumas constantes da obra em lançamento nos dias próximos. Além disto, traz consigo outras conquistas, tanto na área acadêmica, quanto no campo da música, pois, juntamente com sua esposa, Maria Augusta, promove a divulgação do canto coral em grupos que regem e organizam. 

Nisto, a região do Cariri recebe de bom grado mais essa produção gráfica desenhada com esmero pelo diagramador Cláudio Henrique Peixoto, dotada de bela capa em excelente feitio, marcando presença efetiva do autor na rica literatura do Sul cearense.

O Deus de todos nós

Essa vontade descomunal de obter êxito na busca da resposta universal do quanto existe, o encontro com Deus que todos aspiram discriminadamente no decorrer das épocas, e requer prudência e nenhuma acomodação. A fome de realização, da Realização do Ser que somos isso que Rabindranath Tagore, o poeta indiano, denominou de a Religião do Homem, e ele resume a dizer que a religião do homem é o próprio ser humano; encontro consigo mesmo; a identificação do Si para consigo em si.

Sob tais considerações, diante da aventura humana de responder ao enigma fundamental das vidas, há de se deparar com infinitos credos, códigos, seitas, religiões, denominações, estruturadas face tal jornada do Espírito enquanto vive na matéria pensante. Gama variável de acordo com as culturas espraiadas pelo Chão, significam conquistas de evidências e a criação de instituições; a escritura de livros; a missão dos profetas, dos santos; fundação das comunidades messiânicas; guerras raciais; surtos fanáticos; núcleos de promessa.

Acaba que, num misto de materialidade e espiritualidade, ressurge vezes sem conta o drama das humanidades, dos grupos sociais, das nações e dos líderes místicos. Enquanto isto, as interrogações sujeitam perder o fio da meada, em algumas ocasiões. Chegar bem perto de Deus e morrer de inanição, as vítimas da incúria e dos dogmas; revolucionários escravos dos ideais libertadores; arautos daquilo que lhes jogaria às calandras do Inferno de que tanto fugiam, e nelas sucumbem de braços erguidos aos Céus.

Bem isso que vemos no presente das horas. Nunca os humanos galgaram tamanhas proporções de conhecimento e vastas multiplicações de saber, no entanto persistem viver as antigas contradições das ausências de crenças, quais renitentes primitivos das cavernas lá do princípio de tudo. O esforço de gritar mais alto que seriam donos da Verdade enrouquece multidões e nenhuma realidade plena manifesta a certeza da paz e das virtudes que toque a plenitude tão sonhada. Porém consta das aspirações religiosas desde sempre a Esperança e a Fé que irão salvar o mundo na alma de todos.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Sentido de viver II

Quando falamos da incapacidade de mudar uma situação, enfrentamos o enorme desafio de mudar a nós mesmos.

                                                                    Viktor E. Frankl

A finalidade disto, de estar aqui, no desvendar do mistério de existir. Lição principal, vez que defronte dela nos vemos a todo instante. Malas prontas à continuar vidas afora, razão essencial de levar adiante o sentido de somar os elementos que motivam viver. A isto denominam sentido. Há um autor, Viktor Emil Frankl, judeu austríaco que esteve prisioneiro em três dos campos de concentração nazistas na Segunda Grande Guerra, que trabalhou a necessidade deste sentido de viver, a justificar o objetivo das ações dos humanos enquanto neste chão. Doutra vezes, noutra ocasião, eu falara disto, desses estudos, a que seu autor converteu numa técnica, a Logoterapia, a terapia do Sentido.

Antes da guerra, ele buscava essa importância de todos termos uma razão principal que justifique cruzar a barreira do tempo e seus desafios e jamais perder a fleuma de levar em frente o comboio da existência. Este sentido interior oferece força suficiente a ultrapassar dificuldades e criar consistência de vencer os limites da personalidade, no tempo e no espaço. Seja a realização de uma obra social, a concretização de um talento, os amores, os sonhos, a família, a religião, as ideias, os ideais, as produções empresariais, as viagens, os reencontros, as justificativas de revelar a que vale a pena ser feliz.

Daí a importância dos credos, das leis, dos grupamentos e das vontades que norteiam o domínio do ser sobre a natureza, traços do invisível na história das criaturas, em que todos lá um dia descobriremos, no justo fator de tocar mais além, o desejo soberano de sobreviver às intempéries dos dias e sustentar  apego de encontrar a Verdade superior através de nós e do mundo.

Isto em forma de ciência traz sabor de religiosidade e respeito uns pelos outros, conquanto isto em vista de anotar o trilho aonde evoluir e chegar às revelações daquilo a que viemos e devemos viver até construir um caráter definitivo.

Lifanco

Quero falar a propósito de um músico contemporâneo de nossa Região, Francisco Macário da Silva Filho, Lifanco Kariri, nascido em Juazeiro do Norte a 14 de julho de 1955, que desde cedo que descobriria a vocação musical. A primeira vez que ouvi Beatles, a música tornou-se minha companheira inseparável. Aos 15 anos me aventurava mundo afora vendendo cítara, um pequeno instrumento que fabricavam em Juazeiro. Já sabia alguns acordes que aprendi graças a um vizinho que, vendo minha atenção, não se negou a me emprestar seu violão enquanto estava no trabalho. 

Nas suas andanças pelo mundo, aonde chegava procurava se enturmar com os músicos locais, resultando fazer parte de bandas de baile e apresentações autorais, formas que achava de ajudar financeiramente a família. 

De volta ao Cariri, continuou a tocar em bandas e a participar de festivais de música, tendo, inclusive, obtido boas colocações em festivais de outros estados. Passaria a frequentar os grupos da cidade de Crato, envolvendo-se na cultura local e trabalhado com seus artistas, dentre esses Abidoral Jamacaru, de quem cuidou da direção e dos arranjos de várias das suas músicas, o que lhe abriria portas a que fizesse trilhas de peças de teatro, de curtas metragens, e trabalhasse com outros compositores e intérpretes. 

Daí, Lifanco se integrou à cultura cratense e hoje reside na cidade e a adotou como segunda pátria, iniciando atividade na comunidade da Vila Lobo com crianças dessa área, em manifestações populares infantis junto ao Reisado do Mestre Aldenir, e gravaria CD independente com músicas compostas a partir das histórias contadas pelas próprias crianças, pessoas e mestres da cultura popular. Adiante mudaria o nome do trabalho para Reisado Nação.

Na produção desse artista existem mais CDs gravados, dentre eles Alpendres do Brasil e, mais recentemente, Valores, estes ainda sem um lançamento oficial. É também da criação de Lifanco os arranjos de compacto duplo realizado nas homenagens dos 80 anos do poeta Patativa do Assaré, 80 anos de luz, patrocinado pela Universidade Regional do Cariri.

Conheço Lifanco Kariri há bom tempo, face à sua presença nos movimentos artísticos regionais, o que evidencia o quanto de talento possui e que o manifesta entre nós, a promover espetáculos nas oportunidades quando manifesta boa vontade e dedicação ao que realiza, exemplo aos tantos músicos das novas gerações. 

domingo, 29 de julho de 2018

Livre só pensar

Qual quem mancha tecidos, assim é escrever. Manchar com tintas indeléveis, definitivas; escrever é assim. Largar aos borbotões o direito de ser só e silencioso, indolente. Contar daqui de dentro ali fora o que aconteceria nas malhas dos pensamentos impacientes. Dizer na pura intenção de permanecer além do tempo, lá nos meandros daquilo que apenas passava, e no entanto frenou o circular dos acontecimentos em um instante sólido, feito palha seca, porém palha e seca forrada de gestos e concretude. 

Quando havia, durante décadas, a coluna que Millôr Fernandes publicava na imprensa brasileira e assinava com o pseudônimo Vão Gogo, usava o subtítulo de Livre pensar é só pensar. Nisso, deduzia que pensar torna livres, se for livre o que só pensamos. Longe das amarras das repetições, lugares comuns, chavões e frioleiras. Pegar firme no jeito de reverter o quadro das acomodações e rotinas em palavras e frases a montar o movimento da fala em textos e construções. Usar da coragem de aventurar o escafandro da dúvida e percorrer o tecido que queira manchar sem o medo de perder o senso.

Isso tal qual escrever; ousar pelos territórios virgens do silêncio e saber que haverá, nalgum lugar distante, sobreviventes que leem. Avançar sobre a carne das palavras e retalhar ossos e nervos numa espécie de piratas das noites  escuras à busca dos galeões abandonados em que se transformou o vazio das letras caladas. Passo ante passo, e percorrer o destino das ideias a lançá-las feridas e sórdidas longe da inocência original. Fazer face às garras da previsão de sentido e ferir as telas e as tardes; contar em fúria o que nunca passaria de mero vômito do presente a cada imagem do que iria e jamais voltaria a ser de novo, não fosse audácia impetuosa dos que falam, contam, escrevem; dizer nas entrelinhas das ausências em queda livre as visões e os sonhos que testemunhavam inconformados em perdê-los.

Virarão depois em telas abandonadas a correr da pena e do tocar dos dedos nos teclados aquilo tão querido, fagulhas de vidas retemperadas, fervidas e enviadas a outros aventureiros da leitura, nesse mundo afora. 

Escrever, pois, espécie de repartir clandestino do pouco que somos em pequenos mercados de tintas e papéis deixados à margem dos firmamentos e guardados bem íntimo das horas eternas, fragmentos dos que feriram a exaustão da inutilidade e resolveram multiplicar possibilidades no dizer acontecer que viraram gritos de vontades e flores secas ao Sol.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Interpretações


Andar pelo território da alma da gente e descobrir gradualmente a que leva a peregrinação das existências. Palmilhar entre as pedras de si mesmo os calvário da libertação. Descobrir aonde nos leva a viagem de tantos milênios transcorridos nas civilizações pela reencarnação. Revelar os mistérios de conhecer com lucidez e iluminar os refolhos das sombras que carregamos profundamente vidas afora. Enfim interpretar os ditames das possibilidades através das próprias incursões aos pousos distantes do objetivo de andar e construir o mundo nas cordilheiras da espiritualidade, o que nos é dado fazer tal missão fundamental de tudo quanto há no Universo inteiro. Nós, os parceiros diretos da Criação e copartícipes da divindade.


Sim, isto de interpretar os mínimos detalhes do itinerário da Salvação por meio dos caminhos da consciência em movimento, a isto aqui nos vemos. Matérias primas da edificação cósmica das espécies ao Infinito, vimos tocar em frente o destino dos elementos em comunhão nos humanos, o campo de ensaio da totalização do Ser. Segredos por excelência, o Poder assim estabelece a inteligência em desenvolvimento no quanto de equilíbrio necessário à iluminação das nebulosas dos céus da experiência. 

Doutrinas oferecem os instrumentos de resolver o conflito essencial das duas metades que nos formam e nelas equacionamos a vontade. Aprender na atividade efetiva da razão e da emoção, recursos de conciliação entre essas funções estruturais de tudo, nas luzes da Natureza. Bem no imo do coração, ali se inscreve a caligrafia de Deus. Imortais modeladores, pois, das certezas eternas, somos os artífices da Perfeição. Conhecer e trazer à prática fiel, eis o espaço a transitar, transmutar, transcender...

Ninguém, senão nós, a responder o enigma dos tempos. Em ninguém mais, senão em nós, o destino das gerações traçadas no teto do firmamento, astros entre os astros, filhos diletos da sublime felicidade, autores e senhores da árvore do Amor. 

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Dor e realidade

Isto porque a ausência de realidade leva a sentir dor; na dor, a ilusão de quando se desfazem as paixões; por exemplo, quanto preço, quanto preço cobra o mercado das ilusões. O freguês espera, que virá sempre e nunca mais... Mais cedo, menos cedo, chega a conta dos vacilos numa bandeja de latão. Vem acima, vai abaixo, e há de carregar o preço do que consumiu às vezes dentro das tremendas irresponsabilidades, ao sabor do sofrimento alheio. Da ausência de respeito pela dor alheia. Quanto acontece a todo instante nesse mar de sargaços em que virou a velocidade dos dias nos tabuleiros das horas.


Achar que pimenta nos olhos dos outros é refresco gera isso de sadomasoquismo das sacanagens humanas. Escondidos da consciência, erram que nem podiam ser. Da Justiça ninguém escapará, nem os reis, nem os barões. Tempos além, chega às malhas dos tribunais da eterna sapiência de tudo, e respondem ao furor das tentações a que cederam no jogo pálido das relações de cidadão a cidadão. Pouco senso, pouco siso, imaginar passar impune. Pouca inteligência, nenhuma prevenção de saúde moral, espiritual. Daí, deixar o cipó de aroeira romper as fraquezas e despertar a realidade extrema que nasceu no fugir das gerações.

Às vezes nos pegamos a estudar um jeito de romper as amarras aos ditames da perfeição, e inevitavelmente resulta de responder aos erros, quando não desta vida, das vidas anteriores. Nenhum foge ao seu destino, porquanto no Universo tudo cabe, ruge, desde séculos sem fim, amém. Assim, depois das contas ajustadas no juízo das histórias virá a bonança, custe o que custar. A dor tem esse condão de ser o ajuste dos pesos na balança da Eternidade. Aí não fosse desse modo, e perder-se-ia nos lixões da inutilidade. Porém o peso justo das eras soma e subtrai, revelando a beleza da imortalidade da alma da gente. Amiga dor; bendita realidade.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Aceitação

De comum há sinais de resistência a quase tudo, sobremodo quando reclama algum sacrifício da parte de quem deve aceitar. Animais ainda limitados ao conhecimento restrito, os humanos jogam rápido diante das crises. Sempre correr na frente virou norma de combate diante dos embates e circunstâncias. Querer qual verbo intransitivo. Querer por querer, independente dos valores em xeque. De então, eis o quadro que apresentam os dias atuais, época de largas interrogações no cio e surpresas.

Mas nem é disso que quero tratar, não. Quero passear pela memória e descobrir alguns instrumentos de tranquilidade no que aí se fala, aí se faz. Aceitar mesmo as contradições tais dos fatores de aprendizado, máxime face às leis que a tudo regem, nada fora do lugar, longe de cair um cabelo da cabeça da gente sem o consentimento do Poder. Admitir que sempre haverá situações e desafios a superar, porquanto vivemos de aprender, de revelar no íntimo os mistérios da Criação através dos aprendizados, até chegar na Sabedoria plena. O mais descompassa, desmancha no coro dos contentes, alimenta querelas e preocupações. Disso jamais vêm bons frutos.

Aceitação desses limites da capacidade no desvendar as razões de estarmos aqui diante do Infinito, heróis da Salvação, seres inteligentes e sal da Terra. - Se perder o sabor, com que se irá salgar? – indaga Jesus. Usufruir do potencial do sonho de amar e amar muito, ao nível das dimensões do sabor da Consciência. 

Conciliar consigo, com os outros e com o Universo, eis a missão. Abraçar a sorte dos eleitos, dos senhores das almas e dos sentimentos, sobreviventes e peregrinos das estrelas. O que de melhor existirá no espaço das eras e dos signos, matemática das esferas, viajores da luminosidade, espécies imbatíveis dos destinos e das bênçãos. Seguem seus autores a sorte dos voos descomunais rumo da perfeição nos céus, pássaros das alturas e luzes em forma de ciência. Um tudo no ser da verdade, o que bem resume a realização em movimento por meio do mínimo ora que significamos. 

sábado, 21 de julho de 2018

A resposta da resposta

Na junção entre a razão e a felicidade, bem ali naquela forquilha, o mundo gira e nós apreciamos o movimento disso no nosso modo de viver. Cogitamos muito e realizamos pouco daquilo em que pensamos longas vezes. A mesma crise que vivem os filósofos nas suas elucubrações. Face a face com interrogações e destinos, imaginam milhões de resultados, e insistem continuar na busca feitos cães de caça que farejam as sombras do tempo sem tocar a essência do que passam numa velocidade estúpida. Neles, nesses perscrutadores do silêncio, a impaciência de provar que há lógica no Universo acaba por deixá-los ainda mais ignorantes do que outros que assim desconsideram. 

Nisso, Voltaire parou seus estudos a fim de colecionar a importância real do saber diante do frechar dos dias, vez que tantas horas saber representam contrariedades e contradições em relação às perguntas que nascem das perguntas e nunca desvelam respostas à resposta. Desejo de imaginar o mundo deles, dominados no que pensam, deixa tais sábios de plantão prisioneiros das palavras e raciocínios que propiciam, porém fora das certezas que alimentavam. Seria pedir em excesso conhecer o incognoscível e andar às tontas em terra nenhuma pisada pelos pés dos humanos pensadores.

Destarte, virá ocasião quando o sábio, nessas agruras dos pensamentos, dará de cara com pessoas felizes sem que conheçam o que ele conhece, e vivem no mar de rosas das limitações que a vida lhes permite. Cumpridores, pois, dos deveres mínimos da sobrevivência, esquecem até de ignorar as lonjuras, sem, no entanto, sofrer disso qualquer inconveniência. 

E o festejado filósofo francês considerava aceitar as limitações do pensamento quais, talvez, justificativa honrosa da simplicidade, que reza pelo sentimento e vive a honestidade dos dias independente de respostas e descobertas intelectuais.  

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Bons pensamentos

Eles é que geram as boas vibrações de que tanto carecemos a fim de viver em paz. Quantas são as vezes em que sujeitamos atravessar os dias sob o crivo das preocupações, esquecidos da força que em nós mesmos existe. A ciência disso vem espalhando novos conhecimentos àqueles que desejem realizar as chances da bondade, do amor, em si. Relativamente poucos, ainda, em relação aos habitantes todos da Terra, que de comum fazem do sofrimento a razão principal de tocar em frente o instinto de sobreviver. Creditam a atitudes limitadas o que pertence ao Infinito. 

A razão de falar isso leva em conta que a alguns desses habitantes acontece de ler o que aqui vai, qual correspondência fruto da vontade de traçamos juntos e transformaremos o quadro precário em que, nalgumas ocasiões, parece dominar os dias desses tempos bicudos. Sempre há dificuldades a vencer, eis a lei da existência, uma vez que chegamos no sentido de aprender a vencer e vencer o nível limitado dos seres que somos. 

No entanto exige paciência e determinação cruzar os limites das fraquezas humanas e obter o passaporte às outras dimensões bem mais verdadeiras, conquanto de comum a ilusão prevalece nos contágios dessa história que desaparece nos grotões do passado. Uns nem sabem como e apenas usufruem dos prazeres mundanos, sapientes desesperados nas hordas do instante que escapole das próprias mãos.

Existem, pois, instrumentos de reverter o teto das alturas que aprisiona as pessoas nos ossos e na carne, corpos que não lhes pertence. A natureza oferece de bom grado, mas o cobrará ao final da peça que viemos encenar. Esse princípio da percepção e dos sentidos desaparecerá entre as nuvens da ausência tais fantasmas das películas cinematográficas. Ficam as lendas, as saudades, a memória, isto durante certo período mais. Depois, o silêncio das interrogações prevalecerá nas gentes e dessa oportunidade restará apenas o valor dos pensamentos, naqueles que insistirem continuar outro tanto no barco dessas visões que se desmancham e saem de cena.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Além da dualidade

Dualidade, que significa a duplicidade com que as forças da natureza desenvolvem seu procedimento. Dois lados. Os dois pratos da balança que norteiam o sentido de todos os elementos. Aonde ir, ali haverá tais condições aqui no Chão. Nem adianta esconder de si essa dependência ao duplo na condição material, porquanto isto significa a Lei, o princípio único de tudo ter o seu contrário, a fim de poder existir nessa condição material. 

Tanto nos céus, quanto na terra. E dentro dos seres humanos, bem no íntimo do ser. Só que é este um estado transitório, face atual das existências dos que vivem no mundo físico e têm de obedecer a leis e princípios. Fugir sem ter direção. E caracteriza o laço da presença dos viventes em meio aos desafios desse estado dagora, que resta compreender a que viemos e qual a sucessão natural dos acontecimentos. 

Filósofos perduram, no decorrer dos tempos, a dizer que essas funções bipolares dos organismos correspondem à possibilidade da resposta do viver através da consciência, até achar o pouso definitivo que aos místicos corresponde totalizar um ente maior, a inteligência suprema, Deus. Nisto vivemos, de um dia chegar a Ele, ao Pai de todos nós. 

Mesmo que dentro da gente persistam as duas naturezas numa peleja entre elas, contudo há o fiel dessa balança se completará um dia. Nesse equilíbrio, a luz far-se-á. Conquanto negativo e positivo perdurem na troca de passos da estrada, o destino será a união dos dois polos num encontro definitivo com a Razão maior que a tudo rege e domina. E nisso estaremos cientes da sabedoria inigualável da Natureza mãe, senhora absoluta de toda a perfeição harmoniosa da Criação.

Desde sempre, portanto, que os humanos buscam interpretar os códigos sob quais existem e sobrevivem, amam e crescem. A sinfonia encantadora dos mistérios e dos sonhos a isto conduzirá na história e nos seus protagonistas.

terça-feira, 17 de julho de 2018

Acalmar o mundo em mim

Insisto nisso que ouvi tantas vezes, li tantas vezes, de que as escolas místicas orientais querem primeiro que silenciemos o pensamento. Só e depois, bem depois, imaginam fazer outras ações que correspondam à busca da real consciência. Isso mexe comigo, porquanto por mais que queira silenciar o tal pensamento, ainda não obtive êxito. Corro de um lado a outro e lá me encontro, de novo, com a intenção constante de controlar os acontecimentos através dos pensamentos e nada de concreto naquele mundo abstrato. 

Se sejam religiões, ciências, literatura, providências sociais, ali paira o senso de pensar e juntar palavras, argumentos, elocubrações. Planejar que seja o mínimo, as palavras vêm à tona na maior naturalidade, qual que fossem eu invés de antes serem elas, que liberdade não têm mais invadem o meu território mental e sustentam teses e norteiam histórias mil que nem são minhas. Parar de pensar hoje equivale ao sonho de controlar o juízo, porquanto à medida que penso chegam lembranças; nelas os tempos que ficaram atrás, e as pessoas, e as emoções, e as frustrações...

Quando lembro os momentos ruins, afloram arrependimentos, contrariedades, más querenças, tristezas, vergonhas. E se, em sentido inverso, advêm lembranças boas, ora só, vêm saudades, as perdas do que sumiu e jamais outro tanto voltarão. Por isso, essa vontade insistente de dominar as palavras que formam as lembranças e os roteiros de antigamente largados nos firmamentos.

Quando quis escrever há pouco, a inspiração mostrava outro título desta página: O Deus do silêncio, ou o deus do Silêncio. Duas visões místicas a propósito do mesmo tema. Deus maiúsculo que a tudo domina, inclusive o silêncio. Ou um deus mitológico que mora nos subterrâneos da gente, e que também domina os sons e o Silêncio. Noutras palavras, um deus de mistério do ser que somos, e que de Deus tudo tem, inclusive a existência. 

Assim, acalmar o mundo em mim pede silêncio na alma e no coração. Além da vontade, pois. Quanto fala o coração das vidas espalhadas em folhas secas ao vento. No brilho do Sol nas ondas que passam nessa velocidade da vida, algo conta da necessidade infinita de parar um dia e encontrar consigo nas marcas indeléveis do tempo eterno, e então falar em mim das forças da Natureza que dormem inocentes nos silêncios deste céu que pede paz e alimenta de bondade a existência de que seremos sempre instrumento e autor. 

domingo, 15 de julho de 2018

Dias alegres

Os olhos que enxergam a paisagem são os nossos olhos. A cor da paisagem quem vê somos nós. O mundo existe independente, mas nós lhe damos o tom, a melodia. A paisagem existe lá fora, no entanto de dentro quem a vê seremos sempre nós. Daí a imaginação de que fomos criados a fim de dar sentido aos mundos e seres. Isto é, o panorama existe objetivamente, não fosse, contudo, a nossa existência ninguém registraria tais existências. Somos o sujeito das existências, inclusive de saber da nossa existência. 

Dizem os existencialistas que, nos outros seres, a essência precede a existência. Vêm do jeito que serão. Já nos seres humanos a existência precede a essência; ainda não sabem o que virão a ser ao sair de volta. Animais, coisas e lugares nascem animais, coisas e lugares. O ser humano haverá de se fazer ser humano, deixar de ser só um objeto em movimento ocasional. A essência, o ser, nos humanos virá depois que existir, condição necessária. Se não, estará sendo tão só mais um animal, ou coisa, ou lugar, em que a essência estaria em potência sem realização daquilo que trazia quando chegara à existência.

Bom, essas tiradas conceituais resolvem o desejo de contemplar a paisagem do dia, uma manhã bonita de nuvens de chuva, chão molhado e frio gostoso pelo ar. Os dias que sucedem aos dias. As belas manhãs que enchem de vistas a alegria, quando a gente abre o coração e recebe de bom grado viver com intensidade o deslindar do tempo. As certezas, as pessoas integradas no gesto de viver em paz que elas delas conseguem obter. Horas de boa vontade. 

Todo instante traz frutos bons, desde que plantemos à luz dos sóis em nossas almas, trabalho de quem busca inteiro o motivo de viver. Há, no que há, religiosidade plena, que nos resta desvendar através da sabedoria. Oferecer o melhor de si aos acontecimentos do Universo. Espécie de doação boa a nós próprios, viver pede inspiração. Dias alegres durante as existências, eis, em resumo, a razão principal do ato de existir. 

(Ilustração: Wassily Kandinsky, em Composição VII).

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Na face da Terra

Isto, no reino das tais aparentes contradições, eles andam vergados debaixo do peso de dúvidas imensas; contingentes assim se arrastam rumo do despenhadeiro, porquanto é dado ao homem morrer uma só vez e nascer na vida eterna. Sucumbir ao peso das eras, isso deixa margem a longas discussões do penhor que oferece a troca das noites do prazer pelo arrependimento. 

Retrato da própria face ao espelho da dúvida, os passageiros desse trem do desconhecido reveem assim horas sucessivas de incertezas que demonstravam os limites da liberdade, vítimas da cegueira e da ignorância. Origem de paixões dolorosas, o instinto domina muitas vezes as atitudes que trouxeram até aqui. Quais folhas ao vento, nalgumas horas caem perdidos na lama e afundam no desgosto da solidão. Isso pede justiça, e dela ninguém escapa. Tropas, pois, de bandoleiros, as pessoas pisam o chão feito meras aprendizes dos equívocos e das leis. Quais atores dos dramas particulares, estonteiam as linhas do destino e jogam nos tribunais aquilo que serviria de instrumento de felicidade, contudo utilizado em causa imprópria. Vítimas de si, joguetes nas mãos da sorte, peças das tramas do azar e fagulhas de fogueiras apagadas, vacilam soltos no teto das lojas abandonadas. 

Bom, quis refletir diante dos erros que serviram à construção da Torre de Babel das individualidades. Histórias delirantes da vaidade fecharam as portas aos extremos deste lugar onde andam às tontas. Que sejam reis ou serviçais no palácio, fogem às condições de olhar quanto veriam tão só do quanto resta de viver os dias e regressar aos planos, que deles nem se lembram de lá terem vindo. Eis o que fere a natureza das criaturas humanas, de saber tanto e conhecer quase coisa alguma. Parceiros dos sonhos da Eternidade, deitam sob a terra o pouco que restava ao final de tudo. E ausentes dormem o silêncio profundo e misterioso de memórias inexistentes nas profundezas do mar. 

(Ilustração: Jacek Yerka)

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Um isolamento impossível

Nenhum homem é uma ilha. Água solta, ou estagna ou evapora. Existe vida no corpo social que realimenta a vida nos indivíduos. A solidariedade, a fraternidade, não são favores, são realimentação dessa existência do grupo e das pessoas, e o isolamento representaria ausência de nutrição às partes do corpo que somos todos, a ponto de indicar o egoísmo como um autocídio; e o isolamento, uma atitude autodestrutiva sob o prisma da sobrevivência individual.

São as leis da Natureza a favor da preservação das espécies. Um animal fora do rebanho adquire atitudes só parciais de resposta à ausência do grupo. Isto significa acomodações transitórias e sinais dos desaparecimentos posteriores. O que Henri Bergson denomina de eu social tem esse tal caráter, fator de rendição ao processo natural de continuar a existência. Perante as escolas da sociedade, o ser social encontra energia que lhe indica o percurso diante dos desafios e dos sistemas. Daí os instrumentos da moral, dos costumes, da cultura e das leis. No outro o espelho da própria adequação aos mistérios da existência. Uns que orientam os demais através da comunicação, pela educação e pelas tradições.

Ainda que parecesse menos oneroso viver longe da coletividade, o quanto o grupo social tem a oferecer em termos de benefícios é incomparável. Assim a importância da linguagem, dos relacionamentos, da convivência, disso ultrapassando os desgastes das desigualdades e dos conflitos.

Ninguém é uma ilha nesse mar de sargaços da natureza. Mesmo transitoriamente fadado a isolamentos parciais, a ânsia do regresso perpassa todas as qualidades humanas durante todo tempo, sujeitando prejuízos face às guerras e suas consequências, no detrimento das nações e das famílias. Há que começar tudo outra vez, noutros lugares, noutras civilizações. Nisto, o sagrado das relações sociais e da necessidade da propagação da riqueza entre povos e países.

(Ilustração: Hieronymus Bosch, em O jardim das delícias terrenas).

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Pátria amada

Diante dos oráculos e dos céus, ora me pego a lembrar de um poema de Vinícius de Morais, Pátria Minha, e nas razões do sentimento do poeta, meu Brasil, ora vejo o que fazem contigo e tripudiam? Sinto na própria carne os estragos que perfazem nas tuas carnes, nos teus amores e sonhos, lá eles os fraudadores dos destinos. Dos tantos valores positivos de que a história testemunha, de tantas lutas e resistências que apresentas perante as contradições dos humanos que aqui aportaram, insisto em te querer cada vez mais, que não tens culpa dos que te maltratam, exploram, surrupiam. Porquanto, nunca esconderei de mim o quanto planejo de ver teus filhos felizes, livres da corrupção endêmica da raça, das perversões, dos desleixos de gerações que rasgam tuas leis, destroem tuas florestas, poluem teus rios e mares, prostituem tuas mulheres, aviltam a honra das famílias; que, há séculos, traficam tuas riquezas, ferem tua honra, a dignidade dos que mourejam ao sol e derramam lágrimas e suor ao teu desenvolvimento vilipendiado. Já chega de tamanhas rapinagens. Elevemos bem alto nossos louvores e tenhamos a firmeza na sincera honestidade que saldará os teus brios e promoverá a tua vocação de liberdade e grandeza.

De certo que amarguro quando te desconsideram e criticam, a confundir os crápulas contigo. Promovem chalaças com as tuas cores de quanta beleza, e misturam os que te maltratam com o teu espírito varonil. Sacode meus brios saber que te violentam em proveito pessoal e de grupos escusos, interesseiros e perversos. Apesar das noites escuras, dia virá em toda a luminosidade dos trópicos, quando a soberana Justiça suprirá de bênçãos redentoras os que a ti querem libertar das invenções dos maus gestores e representantes e filhos ingratos, renegados. Pois bem maior há de triunfar, e hei de presenciar tamanha satisfação de viver, no coração, a pureza do meu País.

Há um Brasil vivo, pujante, na alma da tua gente, que sobreviverá a todo custo ao que ainda promovem de equívocos, e suprirá a solidão de muitos injustiçados, e oferecerá, sobranceiro, em festa, a esperança de que carece o mundo inteiro. Dentre os teus filhos existem, sim, heróis autênticos e fiéis, que sustentarão de fé e vontade os que te respeitam, Minha Pátria! E serás, enfim, livre e amada de multidões infinitas que também te amam na mesma intensidade.

Agora chamarei a amiga cotovia / E pedirei que peça ao rouxinol do dia / Que peça ao sabiá / Para levar-te presto este avigrama: / "Pátria minha, saudades de quem te ama... / Vinícius de Moraes."

segunda-feira, 9 de julho de 2018

A essência do Ser

O encontro de si mesmo revelará quanto existe de Deus em tudo, na Natureza. Além das constituições humanas, no plano da liberdade do que existe bem ali habita vivo o reino que plenifica e conduz os acontecimentos dos quais somos testemunhas e atores. A nau que permitirá de isso vir à tona e plenificar a essência do Ser persiste em nós a cada passo, no Espírito que o somos. Portal de libertação, de salvação da voragem da matéria, máquina de cria e descriar, a matéria oferece os meios de revelar este poder infinito também permitido aos seres através dos humanos. 

Desde sempre que buscam a luz nos elementos onde imperam pela vontade. Eles compõem o quadro no que se veem inseridos e em movimento ascendente. Apenas, pois, de usar os instrumentos que vibram ao seu dispor, nisso realizará o senso do perfeito possui na concepção em que moureja e sonha. Requer atitude positiva, ação efetiva de marcar sua presença face aos tantos valores da própria alma, fruto da lama com que foi criado.

O efeito dessa busca incessante, que é a vida verdadeira, resultará, lá um dia, no transcorrer das eras e providências, naquilo que de tanto resta descobrir e aceitar, a que os místicos denominam conversão, ou realização do Ser. Tão simples, de causar admiração, enquanto multidões percorrem os pomos do Universo e agarram só o imediato em detrimento da essência, e perdem as virtuosas chances da escolha acertada, isto no curto itinerário deste chão transitório. 

Não sou eu quem vive; é o Cristo que vive em mim, assim resume Paulo de Tarso  esse largo conceito, depois do caminho de Damasco. As religiões institucionais existem a fim de propagar essa perspectiva do valor principal, apesar dos quantos equívocos nas providências e ações de responsáveis que as administram. Contudo isto jamais justificará a fuga das oportunidades que oferecem os livros religiosos, verdadeiros compêndios de orientação aos que devem compreender o mistério das existências e o sentido que eles transmitem. 

(Ilustração: Tintoretto, em Adoração dos pastores).

sábado, 7 de julho de 2018

A balança do querer

Eis a base dos resultados na sequência natural dos acontecimentos. O homem põe. Deus dispõe. E a Natureza impõe. No que andar, resultados apresentam frutos do que plantamos na seara do Tempo. Isto no querer que produz, inevitáveis, as ações. Chega de longos discursos, quando o instante exige atitudes. De tanto falar, perdem sentido os palavreados à toa. 

Nisso, entre a razão e a sensibilidade, mora o fiel desta balança do ser. Oportunidades mil de realizar felicidade fogem nas quebradas à medida que os ânimos ficam presos nas chances jogadas fora. Quantas e tantas oportunidades de ouro, e o querer pende noutras direções. Grandes naus, grandes tormentas. Nem era por não querer simplesmente. Era não querer a intenção ideal dos resultados a que aspirávamos. Vencer por vezes a cor do desejo de satisfazer os instintos. Caem as barreiras de contenção e vêm abaixo os sonhos de muitas ocasiões ricas perdidas que foram de amores verdadeiros. Lembro isso do passado, sobretudo na adolescência, fase que sujeita prolongar por mais tempo, o que dizem os clínicos, até que um dia termina e chega o senso.

Naquele período, os caminhos ficavam estreitos na disposição de fugir de si e se esconder longe dos silêncios reveladores. Atormentados no vão da sorte que a liberdade oferece, quais um animal selvagem, éramos espécie de donos do Universo, a promover respostas improvisadas, deduzindo que a vida logo sumiria na imensidão das ausências. Carrascos da alma, nos achávamos à beira do Infinito, e quebrar a cara, então, viraria solução. 

Resultado, imensas florestas perderam a doce coerência. A outra metade da existência passaria a pagar pelos erros cometidos. Todavia, ainda que fosse de tal modo, chances hoje persistem de usufruir os raros acertos na forma de amizades, paciência, descobertas de justiça no coração e luz nas manhãs de céu aberto.  

A urna de barro

Quero aqui narrar um achado arqueológico de que fui testemunha, isto no decorrer de 196l, em Crato. À época, o DNOCS, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, realizava na cidade a renovação da rede de distribuição de água, melhoramento de valor exponencial ao crescimento urbano, de extensa durabilidade. Eu cursava o primeiro ano do Curso Ginasial, hoje início do Ensino Médio, no Colégio Diocesano.

Numa manhã, fomos avisados de que, na Praça da Sé, nas escavações que realizavam, fora encontrada uma igaçaba, peça que os indígenas adotaram a fim de sepultar os seus mortos. Então, logo no intervalo das aulas, juntamente com outros colegas, nos dirigimos ao local. 

Os operários haviam localizado essa raridade na esquina da praça, início da Rua Senador Pompeu, defronte ao prédio onde funcionava, no primeiro pavimento, a Prefeitura Municipal, e no térreo a Delegacia e a Cadeia Pública. Vimos os restos daquele pote rústico de cerâmica, redondo, enegrecido pelo tempo de ter ficado debaixo da terra, o qual, no decorrer das escavações, se vira danificado em sua parte superior pela ação dos trabalhadores ao fazer as valas destinadas aos canos da futura instalação hidráulica.

Aqueles cacos de restaram ainda os pude avistar, noutra oportunidade, entre peças que compunham o acervo do Museu Histórico do Crato. Descoberta do passado histórico da Região, tais elementos oferecem meios, inclusive, de estudos mais acurados quanto à herança deixada pelos anteriores habitantes do lugar. Hoje, através da datação por meio de carbono, há como constatar importantes dados de pesquisa quanto às origens dos povos que viveram neste setor da Civilização. 

Deveras impressionante o que vimos naquela ocasião. Chamou a atenção dos populares, que formaram grupos em volta das escavações. Ficamos admirados diante das tais relíquias históricas, e ainda hoje lembro com facilidade o momento em que isto aconteceu. 

quarta-feira, 4 de julho de 2018

A coragem dos deuses


Pois, muito mais do que ninguém, eles sabem que são inexpugnáveis, imbatíveis perante os desgastes do tempo material. Voam, sobrevoam, somem lá longe entre as naves dos céus; caem de alturas memoráveis; batem no teto; afundam no chão, nos mares; afrontam os piores e vencem longe de qualquer apelação. Os deuses são demais, são por serem deuses. Puxados aos super-heróis da DC e da Marvel, combatem o mal na maior sem cerimônia, e sempre vencem ao final dos seriados. Porquanto sendo deus, quem há de se supor que, mesmo num dia de azar, eles possam nunca sucumbir ou desaparecer do Olimpo feitos os reles patifes, canalhas, sem caráter, que combatem e dominam. Ah, que quem não quer ser deus no meio dos outros deuses invencíveis? 

Não fosse isso, talvez houvesse nova era glacial, que o mundo encobrisse de neve e gelo, e as baixas temperaturas congelassem tudo enfim, transformando o molho da natureza animal em pedras e pó? Outrossim eles existem e persistem, através do Universo perene, infinito. Rasgam as páginas dos diários da dor feitos animais de aço e platina, dotando de verdades existenciais os heróis consagrados de dramas e soluções que sejamos nós certo dia. Nascem elaborados no sentido pleno de jamais perder batalha alguma e sempre destronar os pistoleiros de aluguel, vilões e desclassificados. Simbolizam todas as virtudes em todo tempo, os deuses. 

Estudos indicam, também, que tais representações esclarecem o conteúdo que possuem os humanos no íntimo de si, e nascem nesse campo neutro que borda pensamentos e sentimentos, a ser preenchidas por figuras, profecias e santidades. Atendem a todos os desejos que pessoas ofereçam a meio da realidade e da criação, nos sonhos. Respondem os predicados necessários de viver e cruzar as tempestades, eles, os deuses. Potestades que, de antemão, sairão vitoriosas nos embates da história, permitem que enxerguemos de olhos fitos na Eternidade, aonde eles vivem e nos acompanham; eles, santos, deuses e heróis invisíveis do Espírito imortal.

(Ilustração: Universo Marvel - Wikipédia).

segunda-feira, 2 de julho de 2018

O ocaso das ideologias


Deixemos bem claro, ideologias são verdades aparentes que atendem  a circunstâncias ocasionais de grupos ou pessoas. Enquanto doutrinas significam conteúdos expressos de constatações definidas no decorrer das civilizações. Esse intento de realizar pretensões só particulares, fechadas, cria as ideologias. Numa possível comparação, ideologias andam passo a passo com a moral, que se vinculam a tempos e costumes. Já doutrinas buscam identificação na Ética, ou nos valores absolutos, ou seja, formam conjunto de normas e preceitos valorativos de indivíduos, grupos sociais ou sociedades.


Nos tempos dagora, dispostas as experiências que levaram às ideologias, vazio imenso se estende no caminho das alternativas sociais jogadas fora. Insistir nas previsões anteriores das verdades supostas e impostas a sangue e fogo, esse período esfarinhou a história. Demasiadas situações de risco correm os grupamentos humanos à busca de concretizar verdades aparentes, o que custou gerações sucessivas e traumas, no decorrer das aventuras disso tudo de governos parciais e cruéis. Líderes dotados de carisma e determinação impuseram modelos trágicos de estados só ideológicos, a ponto de marcar gerações inteiras com os frutos das artificialidades totalitárias.

Porquanto ideologias demonstram o esgotamento das discussões de princípios e reservam a si o mérito de donas exclusivas da certeza; na prática, o preço de tais imposições de interesses a serviço de grupos de poder representam estados de polícia em detrimento dos postulados do poder pelo povo.

Quis ingênuos instrumentos em mãos inescrupulosas, os humanos baixam a cabeça diante das tais intenções ideológicas, ao ponto de aceitar, pela ausência de atitudes, o turno político dos famigerados ditadores. A memória coletiva, no entanto, guarda os traumas ocasionais das guerras civis e das conflagrações generalizadas, daí formulando, no decorrer dos séculos, a consciência do tanto que necessita de progresso e conquistas civilizatórias vindas da organização política.

Enquanto ruem os surtos ideológicos em decadência, vêm dias claros da paz e dos sonhos de épocas benfazejas, porém a levar em conta o empenho dos cidadãos em adotar doutrinas dignas e lúcidas no transcorrer das suas escolhas dos tempos atuais.     

(Ilustração: Rembrandt, em A ronda da noite).

domingo, 1 de julho de 2018

Mundo das sensações II

Nós, esse mundo. Qual num fosso de morar este tempo desta hora na cápsula do que somos. Habitar determinada superfície, que faz parte do infinito, e sentir nela as sensações do que convencionaram de viver. Experimentar. Usufruir. Contestar. Porém senso único de ser. Um objeto que pensa, ri, fala, enjeita, procria, supervisiona, domina; tudo só nalgumas décadas, no entanto. Nós, esse lugar de viver o Universo de que somos componentes. 

Espécie de células da Natureza, sofisticamos o gosto de existir a ponto de questionar o motivo da vida sem respostas claras, plausíveis, contudo inevitáveis, de preencher o vazio enorme que, na alma, transportamos vidas afora. Uns objetos que persistem nos instintos e nas experiências, quais instrumentos do destino geral em seguimento. E coexistir ao lado de outros da mesma espécie, perguntas ambulantes no mercado das ideias e das ruas. 

Disso ninguém pode duvidar, de que registra sensações permanentes, sensores dalgum Ser. Desfruta da oportunidade das constantes percepções no decorrer do itinerário das histórias humanas. Só mais adiante, então, surgirão os questionamentos do quem somos, a que estamos aqui e aonde iremos. São as paredes do sistema em que habitamos que, às apalpadelas, fazemos nelas a caminhada pelos corredores do chão. Destarte, além de sensações, queremos descobrir a razão de vir a este lugar e trazer outras demais interrogações ainda que sofisticadas. 

Bom, disso possuímos a segurança necessária: Vivos que sentem e pensam e fazer questionamentos. Grosso modo, eis as características principais em processo de elaboração, princípio básico do quanto produzimos de respostas ao Desconhecido. Essa a metafísica de viver com arte e dignidade, invés de meter os pés pelas mãos, virar o mistério em vulgaridade, tantas vezes. Crescer nos estados de alma, que elevarão as tendências em satisfação e consciência, disto deteremos graves segredos de revelações inexplicáveis; formamos o direito sagrado das existências, sóis dos próprios céus; isto que somos bem além dos sonhos e suprema realização das vagas em frutos bons de tudo quanto há.