terça-feira, 31 de janeiro de 2023

A música do coração


O empenho dos compositores na busca de revelar as letras do coração em seus ritmos vários faz da música esse bem precioso dentre as artes. Afinal o pouso dos sentimentos mora ali em seu calor intenso. Correm-se léguas até chegar. Falam de doces melodias que nascem quase espontaneamente ao som das pulsações inesgotáveis. Lugar de imensas trajetórias de paixões, dramas e desafios, o coração presta, com facilidade, a trazer as melhores composições.

Num retrospectiva da música brasileira, houve época de grandes autores e intérpretes. Mesmo porque a música pede inspiração. Adiante, em face da indústria de massa, vieram os empresários das noitadas que aceleraram o processo criativo a gerar um descompasso, tanto no Brasil quanto no mundo em termos de qualidade e inspiração.

No entanto, graças aos meios de gravação, a herança das melhores produções persiste e temos chance, agora, de ouvir infinitas peças de boa qualidade que vieram do passado. Assim também face às produções cinematográficas de tantas escolas, e vasta literatura de épocas e lugares.  

Então, estas gerações atuais dispõem do acervo de todas as demais. através da tecnologia contemporânea, livros, discos, filmes, dando margem ao conhecimento de toda herança humana. Ninguém que seja tem direito de reclamar de ausência no sentido da informação de construir o mundo novo de que tanto falam, de todo tempo. Resta tão só exercitar o aprendizado e construir novos tempos, nova civilização, fruto do potencial de saberes ora existente.

Nesse intervalo entre a cultura e a civilização sobrevivem os sonhos da tecnologia e do sentimento, pela formação do que seja exercitar filosofias e ciências no exercício pleno de uma realidade ideal.

Por tanto amor, por tanta emoção / A vida me fez assim / Doce ou atroz, manso ou feroz / Eu, caçador de mim. / Preso a canções / Entregue a paixões / Que nunca tiveram fim / Vou me encontrar longe do meu lugar / Eu, caçador de mim. Composição de Luís Carlos Sá e Sérgio Magrão.

Seguimos, pois, nesta função de encontrar as notas certas que farão de nossas almas criaturas fortes e altivas naquilo que aprendemos de uma época de riquezas raras, a trilha sonora de nossa geração.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Ler a cidade


De outras vezes tenho contado disso, das aventuras antigas largadas pela cidade e que insistem continuar vivas para sempre. Filmes mil espalhados nas praças e ruas, nas casas e esquinas. São pessoas a multidões que seguem a sina de haver existido lá um dia e dever existir no céu doutros mares. Enredos deixados nas calçadas e calçamentos, impressões indeléveis que ali permanecem no silêncio do passado sobrevivente. Um dia, me contaram de alguém que sonhou com seu compadre que havia morrido. Este dizia que ninguém morre, que, de comum, segue vivendo nos mesmos lugares onde antes viveram. Daí acrescentava, dia desse, numa segunda-feira, quando o compadre entrava no armazém de Jorge Romualdo, se eu não saísse do meio o compadre teria esbarrado em mim.

Aqueles tais personagens das histórias que vivi persistem, pois, vivos pelas ruas, basta que pare um pouco e observe as cenas quais de um carrossel inextinguível que gira, gira, gira, a nossa frente, reativando situações vistas e vividas desde o antigamente. São comparáveis às películas do Cassino, do Moderno, Educadora, espraiadas pelas ruas, com seus artistas inesquecíveis e as cenas em movimento. Eles se misturam com as outras nossas memórias e seguem ativos nos corredores da consciência a contar, quiçá, outros lances das velhas histórias que não morreram mais.

Assim o mundo, neste Universo inteiro, equivale a pedaços colados do tempo no espaço, panorama das epopeias de tantos, tantas moléculas, células eternas no calabouço de outrora e disponíveis, a serem acesas no depois quando quiser. Lastros imensos de saudades, fantasias, verdades, ligadas ao crivo deste Ser maravilhoso que nos iniciou e conduz Infinito adentro, dotado de responsabilidade e sabedoria.

De um jeito valioso por demais, tocamos este barco das vidas e histórias adiante, feitos seus próprios autores, à luz das nossas lembranças que preenchem o ser que ora somos e, nisso, compomos no silêncio da gente a sinfonia de perfeição da Natureza em que temos participação imperecível, admirável.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Poção mágica


Há que se admitir o forte desejo de perfeição que insiste tanger as almas humanas nesse caminho durante todo tempo. Num senso de posse que nem sempre corresponde ao mundo real, as pessoas vagam pelas eras feitas folhas secas no rio em movimento. Essa fome de dominar o impossível prevalece nos dias, tais sementes plantadas em solo seco à espera de revelações.

Numas vezes, até que obtêm sucesso parcial naquilo que alimentam, no entanto a se saber que lá na frente defrontarão com o vazio da matéria e sucumbirão às hostes do mistério, espécies de supostas aparências de si mesmas. Vem sendo assim milênios a fio, conquanto os livros santos  tratem dos vencedores nesse jogo de claro/escuro. Estes recentes dias da História falam bem disso, das situações que se repetem, porém cobertas de interrogações e profecias em transe. Meros expectadores do destino observam, pois, de olhos fechados os tentáculos do futuro a lhes constranger os ossos. De quase tudo se experimentou até então no transcorrer do tempo em termos de experiências sociais. Testaram melhores filosofias, a ponto de usar métodos os mais esquisitos e cruéis. Entretanto continuam em aberto as cartas da tal perfeição em termos coletivos. Uns chegam primeiro e fecham as portas aos que virão. Outros improvisam aparentes vitórias e aceitam as leis quais fantoches de pudores imaginários.

Face aos supostos êxitos, mergulham no marasmo do isolamento das classes emergentes e somem pelos orçamentos coletivos. Noutras palavras, foram tantas as aventuras errantes que estatísticas pouco ou nada merecem de crédito. Ainda que desse modo, os seres crescem, as luas surgem diferente a todo dia, os galos cantam notas de uma epifania que enche os templos, e rendemos graças à Inteligência Maior de Todas no exercício da sua exatidão que, decerto, apartará o joio e o trigo no porto do definitivo, independente das nossas opiniões ou apesar delas.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Tempos outros


E conversava com Gabriel, meu neto, quanto às vivências pelas quais até agora passei nesta vida e de que sou testemunha, pois venho da geração do pós-Segunda Grande Guerra. Meu pai fora reservista e por muito pouco não embarcou com destino aos campos da Itália. Nem enfriaram as armas e começava a Guerra da Coreia, que terminaria em 1953, com a derrota das tropas americanas, após largos e sangrentos combates. Década de 60 e já começava a Guerra do Vietnam, a terminar nos inícios dos anos 70, e a derrota dos ocidentais que haviam vencido a Segunda Guerra, esperança que fosse a derradeira e o homem criaria juízo. Isso entremeado com os movimentos bélicos da Rússia na Hungria e noutros país da Cortina de Ferro. O palco da Europa, a bem dizer, permanecia sob o signo da insegurança, ainda que em plena existência da Organização das Nações Unidas, a nortear as diplomacias e evitar outros conflitos. A década de 60 também correspondeu aos movimentos estudantis de Paris, de larga repercussão na juventude do mundo inteiro, época dos hippies, do rock, de paz e amor, à busca das alternativas diferentes de tudo o que existira até ali na sociedade humana. Porém seguir-se-ia avistando a Humanidade fabricar novas e poderosas armas, espalhadas pelo mundo, a gerar insistentes conflitos, sobretudo na disputa dos mercados e das jazidas minerais, retrato fiel do que hoje existe.

Essa ânsia pelo poder e o desenvolvimento da tecnologia, invés de reverter a sanha da agressividade, aliada aos valores ideológicos, ocasionou este momento atual na História.

Apesar de tantos ensinamentos de paz, o mesmo ser humano incorre nos velhos costumes bárbaros da ganância pela ganância e do instinto bélico em razão da pretensa felicidade material. São assim os colonizadores e dominantes, que dizem desejar o bem-estar dos povos, mas à custa da destruição dos menos favorecidos e não afeitos aos métodos guerreiros (Queres a Paz, prepara-te para a guerra).  

E o que vemos qual ordem do dia, domínio da força bruta e espoliação escravagista, em detrimento do tanto de progresso e conhecimento adquiridos. Há que haver, no entanto, um motivo incansável que transcenda esses métodos e cheguemos numa fase que supere as dores do doloroso parto e que construa nova civilização tão sonhada desde sempre, e vivámos tempos de harmonia e justiça aos moldes da evolução espiritual, com trabalho e disposição de todos.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Esquinas do silêncio


O Tempo, sinônimo de existência de tudo que existe nas vagas e partículas do espaço, feito guardião das luzes que vez em quando brilham nas almas e nas pessoas, as transforma em artesões da felicidade absoluta de que somos parceiros exclusivos. Ele pousa de modo suave na face única da realidade. Reconhece pouco a pouco o terreno. Avista os antes e os depois. Soma e diminui, divide e multiplica os sentimentos que arrastam as multidões. A todos permite esses instrumentos de resolver o quanto precisam em termos de selecionar o resultado das equações movimento. Nisso somos criadores da qualidade pura dos momentos. Evitamos as dores e promulgamos resultados favoráveis de ver o mundo, sempre sob o olhar atencioso do Tempo.

Ele, Tempo, concede meios de fabricar as horas das criaturas, matéria prima das produções individuais. Ninguém deixa de merecer o que evitar ou dificultar. Olha-se o panorama ao estilo de solucionar as oportunidades disponíveis. Jogar fora os bons sabores sujeita machucar o astral das pessoas. Má vontade significaria tal resposta que virá ou não virá, a cada um conforme o que merece. Artífices hábeis jamais danificam a peça que trabalhem, porquanto caberá a si o ônus de conhecer o tanto de manusear horas, recursos e a chance ímpar da ocasião, do agora elaborar o instante, na valsa nobre da autenticidade pessoal.

Ninguém, pois, alegará ausência de condições na construção das esquinas de paz que mora o íntimo quando atira nas calçadas a fama e o direito de reverter quadros e situações todo tempo, no infinito da Lei entregue em suas mãos de minerador da vida.

Fugir de esse poder infinito apenas representa pouca habilidade no desejo, dando de cara nas muralhas intransponíveis do destino, horas mortas nas próprias correntes de valor a si depositadas pelo carinho da Liberdade, personagem primo e irmão da Sorte, o ser amacia o gosto de encontrar harmonia. Poucos, nenhum que seja, fugirá aos caprichos daquilo que estabelecer nas atitudes face de eles oferecidas nas curvas do provável. Senhores de si e do direito sobre o que criar, vamos no barco dos fiéis do agora mesmo imaginar, porquanto o autor de tudo assim permite de poder. 

domingo, 22 de janeiro de 2023

Ostras ao vento


Hoje há um ano seguia viagem o monge budista Thich Nhat Hanh. Isto depois de 95 anos de vida. Todos os dias nos envolvemos em milagres que sequer reconhecemos: o céu azul, as nuvens brancas, as folhas verdes, os olhos negros e curiosos de uma criança - nossos próprios olhos. Tudo é um milagre.

Thích Nht Hnh foi um monge budista, pacifista, escritor e poeta vietnamita - sendo Thích um título honorífico dado aos monges, significando "do clã Sakya". Nascido como Nguyn Xuân Bo, foi um dos mestres do zen-budismo mais conhecidos e respeitados no mundo de hoje, poeta e ativista da paz e dos direitos humanos. Wikipédia

As oportunidades que se nos oferecem de conhecer pensadores dessa estirpe, leves e profundos, são por demais facilitadas nos tempos atuais, diante dos recursos da Internet. Essas andanças interiores através de nós mesmos pedem, no entanto, disposição a fim de criar em um pensamento próprio.

Esses domínios do pensamento requer, por isso, vida interior. Razões de ser assim, normas de sabedoria. Caminhar dentro de si e desvendar a fonte do conhecimento que mora em nós. Integrar a essência o ser que somos ainda em formação. Reunir as bases do quebra-cabeça que tocamos vidas e vidas. Espécie de pássaros soltos no firmamento da existência, buscamos pouso nalgum hemisfério. Por vezes retidos nos sótãos de uma escuridão apenas aparente, distinguimos, a princípio muito pouco, do quanto necessário seja de acender o sol da Consciência. Contudo há de ser desse modo o sequencias das histórias que escrevemos nas páginas da alma. Por isso, as escolas, os mosteiros, conventos, religiões, falas.   

No sentido de salvar a essência do que é o Eu Real, distinguimos passo a passo, nos sonhos de viver, o teto dessa compreensão. Autores da nossa autodescoberta, vagamos os trilhos da paz que norteiam, para sempre, o coração de todos bem na sua origem.   

sábado, 21 de janeiro de 2023

O que de bom


Reverter, ou seja o que na Neorolinguística dizem ressignificar, é bem isso, de interpretar de outro modo as situações que se apresentam a todo momento. Vê-las pelo lado positivo, mesmo nos aspectos negativos, e exercitar isto constantemente. As palavras, ao seu jeito, prestam largo serviço aos pensamentos na seleção dessa prática, pois tudo, enfim, traz as importantes lições que aqui viemos desvendar.

Sei não ser fácil tal exercício. Porém vivemos a tal finalidade. De tanto investimentos que nos faz a Natureza há que encontrar as respostas necessárias às respostas. Vez existir duas direções, experimentar o que leva à lucidez, por que deixar de lado a que nos oferece melhores resultados?

Assim, carregamos conosco a força de nos harmonizar perante os desafios. Espécie de relê, a Lei da Compensação, ao atingir o grau máximo de saturação os sistemas dispõem do mecanismo de neutralizar os excessos. Somos quais vasos comunicantes. Trazemos em nós o mecanismo de reequilibrar as funções e chegar aos níveis de paz de que carecemos.

Daí o senso da paciência, da conformação, face aos impasses com que nos deparamos. Operários de viver e ser felizes, orientamos nossos passos ao território da realização que habita em todos. Do que precisamos já guardamos em si, modo único da perfeição de que somos consciência em evolução.

A afinação do Eu cabe a todo indivíduo, nos caminhos onde andamos. Quais palavras reveladoras, os sentimentos oferecem meios de interpretar o destino. Só deixar de lado as meras teorias e praticar o sentido de ser. Fugir dos apegos que geram dores e aceitar de bom grado as virtudes que a existência oferece todo tempo. Separar joio e trigo, eis as atribuições da inteligência. Com isso, largamos hábitos ilusórios e encontraremos a Luz.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

O peso das memórias


Qual quem transporta vida afora uma caixa de significados, conduzimos nossos passos. Junta daqui, junta dali, num afã de vaidades ativas, formamos o traste desse fardo e tocamos com ele adiante. Feitos alimárias (bestas de carga), transportamos a nós mesmos. De olhos fixos na beira das estradas, arrecadamos quinquilharias que preenchem a tal bagagem. Lembro meu avô paterno, que possuía um baú aonde recolhia o que visse que um dia lhe prestaria algum favor, ainda que esse dia nunca chegasse. São restos de qualquer objeto, clipes, folhas de meia face branca, ligas de dinheiro, porcas de parafuso, pregos quase enferrujados, canetas pela metade, algo que, mesmo fora do âmbito da hora, servisse lá um tempo a qualquer finalidade.

Assim somos nós, a recolher nomes e definições de todo jeito, pedaços largados nas bordas de caminhos, fragmentos da vista da gente que guardem sentido que seja. Pois disso vive a memória, de rescaldos ansiados do sumo que corre ligeiro entre os dedos. Tal desesperados da sorte de ver sumir as nuvens desse céu que o contemplamos em si, iremos ser, por certo, meros colecionadores de aparências. Heranças do que vimos e fomos, acumulamos nesse caldeirão de sonhos, à busca do definitivo lugar.

Frente a essas carcaças de histórias findas, dos rios que deslizam céleres rumo a oceanos imaginados, bem aqui vamos tangendo o barco das testemunhas e dos desaparecimentos, a dizer as palavras, fixar as datas, repetir as versões e desfiam o novelo da memória a nós e aos outros, mágicos da imortalidade. Meninos, eu vi, em volta das fogueiras, nos poemas de antigamente.

Lembro, como se fosse hoje, das pessoas com quem estive, das paixões efervescentes de idos e vividos; das provas e lutas no meio de dores e esperanças; dos amigos, das festas, dos livros, filmes, familiares queridos que seguiram antes rumo ao desconhecido; das músicas que ressoam a qualquer dia, nas lembranças e saudades; dos invernos, das viagens, passeios que deixaram marcas inesquecíveis; das cidades; um tudo afinal desse carrossel deslumbrante das eras que se foram e continuam intensas na alma, uma certeza inevitável de ser assim até nunca mais.

(Ilustração: Alegria de luxúria, de Hieronymus Bosch.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Eterna transformação


Nada se cria. Tudo se transforma.
Antoine Lavoisier

 ... A mudança qual lei definitiva, numa conclusão valiosa desta vida. A eterna face do mistério, a força do movimento constante. Inclusive dentro da gente, na caixa dos pensamentos, sentimentos e formas de ver. Que bom que assim seja. Quanta perfeição diante da Natureza mãe.

Disso, duas consequências práticas vêm à tona, que nada sendo permanente daí some a acomodação face aos estados negativos de espírito. Isto é, desnecessário seguir embraçado nas antigas situações, por mais ingratas ou felizes que significaram. Bom senso impõe tal norma de entendimento, deixa as contingências ganharem seu caminho na medida do tempo que não estaciona (Não apresse o rio, ele corre sozinho).

Dessas conclusões vem o sentido de encarar a história no ponto de vista do plantio que façamos. Há um propósito que os valores representam. São tantos fatores ainda por nós desconhecidos que sabedoria exige prudência perante todo acontecimento. Desde o que pensar, ao dizer, ao fazer, somos parte de um universo indivisível, exato.

Conquanto submetidos a condições várias, também delas fazemos parte na medida em que a consciência revela normas de seguir em frente sob novas alternativas ao nosso dispor durante nossos passos. Em resumo, ninguém pode inventar as existências, senão obedecer a um poder intransponível. Na medida do tempo eis a coerência do absoluto em nossas mãos. Artífices da perfeição plena, pouco a pouco construímos o mundo ideal que buscamos.  

Padecer ou ter prazer representa, destarte, o resultado do que plantamos em nós e entre os seres vivos. Sem ser alienado, ajustamos o jeito de continuar e afinamos o instrumento de caminhar vida afora. Conter os instintos perversos e formular atitudes de paz em si próprio, e com isto vivemos a paz que aguardamos, pois.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Somos nós quem faz o mundo


A hora de ser feliz é esta de agora. Juntar todas as forças que dispomos e resolver construir um mundo melhor, o que tanto desejamos avistar. Olhar em volta e rever os séculos em movimento junto da gente. Aceitar as condições quais temporárias numa fase de transformação. A intensidade dos dias que passam por nós em nossas mãos. Estabelecer os padrões de felicidade com que sempre sonhamos. Alimentar a vida através dos meios ao nosso dispor, em forma de renovação constante. Crer piamente no senso de organização da própria História de que somos partes ativas. Saber de bom grado o quando de valioso persiste nos fenômenos em uma constante realização. Silenciar a voz dos desencantos e somar aos bens que a Natureza insiste fornecer a todos a todo instante. Usufruir o quanto já vivemos e praticar a voz da experiência, pois aprendemos no instinto de chegar a bom termo. Ver as cores de tudo em nosso íntimo, autores que somos de nossos pensamentos e sentimentos. Primar pelos melhores momentos quais artífices do que virá, pois. Sonhar com a paz de todos nós, seres humanos. Querer o caminho da honestidade, da gratidão, dos valores maiores da consciência. Arquitetar e produzir aquilo que faz bem nos moldes da coletividade mais feliz. Saber que trazemos no ser que somos tudo o que a imaginação pode revelar. Todas as escrituras sagradas vivê-las plenamente. Partilhar junto à vida o que de verdadeiro oferece a humana condição, isso em todos os lugares. Sustentar a oportunidade que queremos a que outros também possam chegar. Resolver de vez a transmutação da existência em novas intenções. Salvar o mundo, salvar a nós e a todos através do poder que temos à espera de nossas atitudes positivas. Porquanto aqui estamos só e exclusivamente nesta finalidade, neste destino de avivar a face do tempo através de nossa presença de criaturas em eterna evolução e artífices do Amor.

(Ilustração: Orange (1923), de Vasily Kandinsky.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Nítidas presenças


Sem mais, nem menos, lá surgem elas, as lembranças insistentes que ficaram ali guardadas nem sei precisar em que ponto do Infinito. Linhas perfeitas dos acontecimentos que ficaram atrás, elas chegam velozmente e tomam de conta do universo inteiro daqui da gente. Até poderia diz que invadem, pois dominam poderosas o território da mente quais senhoras absolutas de nós mesmos, almas superiores do que fôramos. Isso em milhares, milhões de fragmentos de muitas cores e formas, ocorridos no passar do tempo, onde tivemos participação dalgum modo. Qualquer nome assim de histórias fantásticas, são elas os personagens pessoais de cada um. Amoldam-se na gente, invés de serem amoldados por nós. Fantasmas, mal assombros, visagens, sei não, que constrangem a superfície da individualidade, o ser, e avançam feitas histórias surrealistas... o que, na verdade, vive, substitui a presença dos que lhes recebem, com ou não de bom grado.

Esses entes, essas figuras acesas que crescem do furor das horas aonde formos, preenchem o teto do momento e nos arrastam pelos mesmos lugares antigos de nós andados pelas calçadas, praças, habitações, quermesses, tudo adredemente engendrado na roda viva dos pensamentos, a ponto de, em certas ocasiões menos sufocantes, se imaginar que sejam espécie de outros viventes aqui do lado bem perto, que, de uma hora a outra, resolvem vir à tona, entrar em cena e representar aqueles papeis amarelados de nós que exercitamos naquelas cenas, dos velhos ensaios, que ora retorna ao palco do presente e encobre a existência atual. E crescem, e dominam, e trazem repetições vindas de dentro do que achávamos houvesse só esquecidas situações.

Bom, de comum são elas que vivem, não nós. Aqueles pedaços dos instantes de que passávamos apressados, talvez, quem sabe?!, desinteressados; no entanto que agora afloram sem qualquer outra oportunidade às fugas mirabolantes do que fôramos desde então e em que sempre acreditávamos irrelevantes e perdidas para nunca mais.

Nisso, moldam o que aqui poderíamos haver, todavia meros escravos daquilo que vivêramos sem avaliar o tamanho da responsabilidade de quando acreditávamo-nos criaturas livres, independentes.

Vejo, porém, o tanto de compromisso que assumia naquelas ocasiões nunca esvoaçantes e hoje donatárias de mim a ponto de causar espanto, náusea, arrependimento, porém longe que seja de rever, recriar, sarar, a não ser construindo do nada que considerava histórias, novos passados em formação, que, decerto, virá também a regressar na minha presença depois, o que devesse ter produzido de melhor na liberdade às minhas mãos, tamanha facilidade por vezes apenas jogada ao relento, e que regressará numa intensidade jamais antes prevista. Hoje sei, sim.

domingo, 15 de janeiro de 2023

As cigarras do fim de tarde


Entre o ciciar das palmeiras e o silêncio, a trilha sonora do vento. Horas de paz envolvem o mundo. As derradeiras cores do dia adormecem em um rosa avermelhado cobrindo de mistério o tempo. São luzes que acendem na alma da gente e formam seus primeiros rastros de saudade incontida. Sons. Músicas. Harmonia pura. Vozes da natureza em volta. Presença inesquecível do equilíbrio e da fala intermitente do coração. Perfeição absoluta. Quadro magistral da Consciência a envolver a imensidão de pureza e vozes distantes.

Dentro, nos refolhos de um cenário definitivo, todas as peças, livros, histórias, deslizam através do tom que resulta nas notas exatas da melodia dos destinos. Escuta, e cala. Tranquiliza. Tange de leve o barco das horas através do firmamento e das existências. Sorrir. Alimenta de sentimentos a paisagem sem par dessa lâmina eterna dos céus.

Por vezes, lembranças que escorrem da memória e embebem de suavidade tudo em volta. Pessoas. Momentos vários. Circunstâncias que se fazem nas páginas já escurecidas que agora cercam de noite as estradas; nuvens lá no alto que perpassam de sol os pensamentos, vindo de novo na força de continuar o quanto seja nas profundezas das vidas.

Tantas vezes que trazem de novo a chama de antes, enquanto buscamos o sabor dos momentos em nós. Sobrevivemos o ser de que fomos um dia e não mais existe em lugar algum. Há que construir outro edifício do que sejamos adiante, pois. Uma série de pequenos enganos, espécimes de seres viventes do solo de nós mesmos, que vêm devagarinho e acham o íntimo de todos nas marcas deixadas indeléveis do que buscávamos.

Assim, nem de longe ter aonde fugir. Receber de bom grado o quanto nos cabe e aclarar o senso, e no fim revelar a essência do que nos basta. Deter de palavras o aluvião das verdades que percorremos e admitir sermos parte integrante de tudo, qual dos acordes dessa inefável sinfonia.

 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

O abismo da Eternidade


Lá de onde se ouve o som cavo da inexistência de tudo isto que ora vemos aqui de perto. Uma barreira de raios invisíveis que percorre o céu das almas. Ali de quando o vazio demonstra um resumo de todos os dramas da ilusão. A mata virgem do futuro hoje aos nossos pés. Quem, de consciência plena, traz consigo a resposta do quanto haverá depois no silêncio? Apenas isso, o eco distante dos trovões da Eternidade.

Bem esse tanto que caracteriza as vidas vagando pelo oceano das horas, puro sentido de tudo quanto existe aos nossos olhos. Pouco ou nada importa,  as opiniões contrárias que insistem na ausência qual solução, resposta vaga às perguntas feitas aos céus. Conquanto tais considerações habitem nos seres, a firmeza de continuar permanece presa à crosta do Universo, enigma que fala (grita) no nosso coração em todo momento.

O próprio ritmo das ondas desse mar movimenta o que nos parece pertencer e a que nós nem de longe pertencemos, e repete a melodia dos objetivos constantes de querer ser eternos. Menos prudentes que sejam, porém, que sejam os aventureiros do Destino, logo adiante a se deparar com o abismo das horas. Átomos em decomposição na matéria. São tragados pelas marés do esquecimento e mergulham nas mesmas ânsias sempre incontidas.

É isto de falar que haverá portas a serem abertas em si. Música encantadora dos festivais de antigamente, ouvimos na essência o motivo de andar nessa trilha de tantos mártires e mistérios. Ao parar e silenciar o pensamento, restam apenas a dúvida que domina o instinto de sobrevivência. Nem de distância restam as justificativas antes aparentes do que fazer das madrugadas insones que nos invadiam ao menor desejo de avaliar a razão de estar neste chão, ou nada não.

Nos séculos de todas as palavras, uma voz que sussurra aos nossos ouvidos os novos penhores de fé e as certezas ainda em formação na consciência da gente. Fôssemos afirmar de tudo o que esperamos das notas musicais e das novas manhãs ensolaradas e admitiríamos viver mais vezes, a pretexto de sonhar e achar de tudo a imortalidade.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Viver positivo


Nas suas variadas práticas, as palavras se prestam a muitas finalidades, dentre essas, e a principal, sobreviver em meios adversos, oferecendo formas de superar bloqueios e contradições. Há sempre palavras que mostram alternativas, conduzem negócios, informam possibilidades. O desdobramento dos acontecimentos abre janelas e portas donde saem, das palavras, os conceitos, seguindo-se as atitudes.

Viver, por isso, quase significa estabelecer estados de compreensão das coisas deste mundo, através das palavras que formulam os pensamentos e dos pensamentos que formulam palavras, no juízo de cada criatura humana.

Desta forma, a relação desses conceitos com as ações e os sentimentos determina o estilo de vida que prevalece na vontade individual.

Assim, pessoas aborrecidas quase nunca sabem formular conceitos diferentes daquilo que todo dia praticam. Desempenham palavras e  pensamentos com o que se acostumaram, na prática cotidiana de “usar o cachimbo e se pôr de boca torta.” Criaram os ditos hábitos nocivos e deles se alimentam qual num ficção natural, como quem diz a si não haver outro jeito de exercitar a existência.

Noutras palavras, conformam-se naquilo que lhes prejudica. Mesmo tolerando os altos tombos, existem quis seres frustrados e arrependidos, em tudo e por tudo vítimas na incoerência do sistema de vida que adotam.

“Navegar é preciso; viver não é preciso”, considerou Fernando Pessoa, num verso que casa feito luva no modo existencial do viver por viver, ao sabor da maré, entregue às ondas, nesse caso, às ondas tempestuosas do desânimo e da malquerença.

No entanto, queremos falar de outro viver, do viver positivo. Daquilo de reagir ao gesto mecânico de apenas se abandonar às vagas da pura sorte. Porquanto há o estilo melhorado de viver, com o trato habilidoso de formular os conceitos e gerar palavras e sentimentos agradáveis, nas malhas da vontade e, em conseqüência, elaborar atitudes de ânimo construtivas em si e na sociedade.

Depois da religião, a ciência trabalha métodos e exercícios com essa qualidade inerente aos seres pensantes, de estabelecer nas palavras e nos conceitos novas modalidades de sintonia com as coisas sábias da Natureza, pois não nos achamos abandonados e sozinhos no Universo. Situamo-nos, sim, dentro de um conjunto harmônico de leis permanentes, às quais  recorremos no instante de usufruir os valores da enorme sabedoria universal, quer de modo negativo, quer de modo positivo.

Por exemplo, pensar positivo conduz aos resultados positivos. A fé que remove montanhas. “Descobrirás a Verdade e ela vos libertarás”, afirma Jesus no Evangelho.

Trabalhar essa movimentação de vida faz infinitas transformações na história dos indivíduos, a ponto de se pensar em coisas maravilhosas. Todavia, a infinitude do poder de Deus ultrapassar os limites do  imaginável, à disposição da gente, no instrumento de vida que somos nós.

Enquanto isso, tantos insistem nas formulações de compreensão menor, naquilo do povo dizer que comem as cascas e jogam o fruto fora, num viver desencontrado consigo próprios.

Amar, eis o nome do jeito bom de viver com alegria, confiança e determinação, equivalente ao nosso poder de renovar todo dia o viver. Os mestres vêm mostrando isso, no entanto resta largo território para dominar, em termos de positividade, no seio do nosso coração, porque isto requer o crescimento da consciência e praticas correspondentes destas palavras em conceitos, pensamentos e sentimentos. Em resumo, pensar positivo é viver melhor.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

A razão da consciência


O Senhor deu aos seres humanos inteligência e consciência; ninguém pode se esconder de si mesmo.
Salomão

Esse fator principal das existências, que sem ela ninguém é ninguém. Essa função essencial de se perceber no mundo. O senso da compreensão de si. A força da finalidade dos seres. Consciência. Valor sem o qual nada haveria diante do Infinito. A pura identificação da ordem do Universo através das pessoas. Isso de poder desvendar os mistérios de estar aqui. Motivo de pensamentos e palavras, permite realizar o Ser no fluir do Tempo. Espécie de linha entre nós e a Eternidade, oferece o sabor de tudo por meio das formas de viver. São muitos fatores que contribuem na formação da consciência humana: desde a vontade, à imaginação, à vida que transportamos passo a passo. Ao comportamento coletivo. À experiência. Ao firmamento que se contempla de olhos abertos. Aos astros. Ao alimento. À família. Aos relacionamentos. Ao corpo. À fala. Aos sonhos. Complexo de tantos ganhos e perdas, o ar, a temperatura, às águas, ao alimento, à natureza.

Enquanto que, em nós, desliza tão só, filme inevitável, constante, enigmático, no cristal de todo momento, aos nossos pendores, sensações, indagações, numa busca primordial pela causa de ser assim. Nós, esta interrogação infinitesimal às mãos de destino enigmático, pródigo, perene. Nós, tudo enfim. Marcas deixadas no abismo sagrado de um futuro persistente que nos rasga as vistas e exigência do mínimo de comprometimento.

Espécie de trilho invisível que percorre nossos pés, arrasta a todos ao mesmo mar de intensidade, isto sem discriminação ou justificativa. Ele, o Tempo, a quem nos grudamos desde sempre em forma de um longo itinerário, vidas a fora. Enquanto ela, a consciência, pede paz; reclama compromisso conosco próprios, num afã sem limite, o sentido de todas as razões maiores do quanto existe ou existirá. Pedaços de um imenso quebra-cabeça, formamos as paisagens de Deus no íntimo dessa longa jornada e, pouco a pouco, divisamos as luzes do decorrer da História.

(Ilustração: O escritor e as palavras (reprodução).


domingo, 8 de janeiro de 2023

Entre escolhas e desafios


Que pensar, que dizer, diante da esperança do povo brasileiro face aos novos governantes que chegam ao poder neste princípio de 2023, tempos incógnitos não só neste país, mas no mundo inteiro?! Qual a quem pisa no chão pela primeira vez, são inúmeros os desafios que crescem no horizonte da História, a reclamar uma força descomunal em termos de atitude e escolhas. Não que os problemas coletivos deste momento se apresentem além da compreensão e da capacidade humana, porém que exigem ações as mais coerentes e adequadas, em face da urgência dos dasafios crônicos que vêm seguindo as nações em desenvolvimento, neste mundo crítico que ora vivemos.

A arte da política, vinda dos gregos, no decorrer dos séculos ampliou sua gama de interesses e partilhas, sobretudo entre as classes melhor aquinhoadas pelos bens materiais. E hoje prepondera, além das contradições individuais, o jogo de favorecimento e acumulação daqueles que alçam ao poder e manuseiam o erário público.

O século XX serviu de campo de ensaio aos valores ditos socialistas, sem, no entanto, angariar o tão sonhado êxito, apesar das variadas experiências nas diversas nações. Nesse diapasão de procura de transformações igualitárias coletivas, esta fase de agora requer senso por demais dos novos líderes, nas atitudes de quem impera, quiçá, a sobrevivência de todos por inteiro, na administração das instituições e dos recursos naturais da Terra em suas mãos.

Há que considerar, por isso, a importância de uma extrema sapiência e metodologias convenientes na prática dos valores políticos, a bem dizer em época de necessidade nunca antes vista ou imaginada, máxime nos países, qual o nosso, dotados de ampla área territorial passível de correta exploração em favor da Humanidade, com solo próprio à produção de alimentos em época de superpopulação do globo.

Nisto, ensejamos aos atuais dirigentes da Nação votos de plena realização de dos ideais de união e equilíbrio nas práticas políticas e numa visão social fraterna e justa.

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

A presença da Luz


Viemos a isto, de localizar nas tantas fronteiras onde habitamos a imensa claridade de uma luz esplendorosa que há de nos erguer desse chão fragmentado. Desvendar os mistérios de morrer e achar a trilha da eterna sobrevivência, que nela existe de verdade. E dentro de nós existe lugar de paz, de consciência; revelação plena do que nos contavam do Amor. Paragem profunda do ser que ora somos, e ali viveremos todos os sonhos bons que antes buscávamos nas vidas e vidas.

O mapa dos destinos oferece, todo tempo, a tal possibilidade, oferta de esperança e bom sentimento. Andamos nessa floresta de milhões de árvores, a nossa existência, na ânsia de lá no raiar de um momento ver de perto essa força que transportamos quais inocentes portadores, no entanto dotados de sinais que nos sacodem a alma. Aparentemente só isto daqui, de entes materiais, quando intuímos mil vezes a presença dos valores maiores que falam disso em nossos passos.

Ainda que, por vezes, distantes, persistimos pela vontade que nos alimenta do mistério deste sonho individual. Tocamos a sequência dessa longa procura vivendo, porém, as contradições de suportar uma longa espera. Improvisamos histórias inúmeras, a fim de sobreviver ao delírio da dúvida. Aguardamos, na espécie de loteria desse prêmio maior de todos que virá certa feita e desvendaremos o mar das vidas em nós próprios. Aventureiros de larga espera, desempenhamos, pois, os inúmeros papeis contudo só provisórios e que passam através dos filmes do Infinito. Cores sucessivas das mais lindas melodias sobrepõem da coragem suficiente de nunca desistir, mesmo porque de nada adiantaria tamanha contradição às leis da Natureza.

Conquanto sabedores do pouco de liberdade que resta de acertar com esse objetivo essencial, nenhuma outra possibilidade existirá de que assim não seja, na jornada para sempre que cumprimos. Até que, em raro instante, haveremos de ver a luz por meio da nossa humana consciência, fator preponderante do ser que somos, e despertaremos das vidas conhecidas e cresceremos de tudo na alegria de uma Paz definitiva.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

O Amor e o Tempo


Só o Nada é eterno, no território infinito entre o Amor e o Tempo.... Nuvens escuros que passam, sonhos que permanecem. Luzes, muitas luzes a clarear a noite dos séculos no coração das pessoas. Porquanto o amor verdadeiro este jamais há de sumir, porque insiste de continuar lá dentro das fornalhas do esquecimento, vidas adiante, nas hostes do Paraíso que trazemos conosco. Corações estes em brasa, firmes na fé da certeza, marcas definitivas dos sóis esplendorosos dos momentos em flor. Algo além da pura transição de perdidos acontecimentos, depois disto enlaçados em haveres encontrados um no outro nessa tamanha certeza.

Foram, pois, nascidos nas eras do querer e daqui nunca mais há de passar... Isto sem explicações, justificativas que fossem, que seriam, que sejam... Apegos de si... Fusão de seres no mais absoluto do mistério. Seres entranhados no apego à unidade, valor de extrema beleza, a paz do silêncio, a força da verdade maior. Numa palavra, a transcendência daquilo que parecia sumir enquanto circunstâncias e saudades. Ali permanece, no entanto, quais presença do definitivo na mesma busca de tantos e tantos.  

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Resta bem isto, o Amor qual momentos em formação no decorrer das existências. Seres em seres. Luz que acende no íntimo das criaturas e refaz o percurso do Tempo até chegar à consciência. Em passos por vezes lentos, incertos, contudo que atravessam as florestas sombrias da alma dos tais seres em constante movimento. Pequenos fragmentos de sentimentos e palavras ali vão lançados à sorte. São recordações das vidas sucessivas. Sombras soturnas. Mantras deixados pelos acordes místicos das horas no seio de todos nós. Enquanto isso, o Tempo registra nas folhas dos livros santos o que deixa largado nas encostas de montanhas intransponíveis pela grandeza e sublimidade.

E todos eles, todos nós, nesse caudal de sacrifício, resistindo a ferro e fogo os tendões de um poder que afirma sua vontade nos corações em festa. Doces dias gravados no zinco de suas histórias individuais. Longas filas que atravessam os desertos e a imaginação, e adormecem nas bordas do abismo, alimentos mornos da vontade dos deuses.

(Ilustração: Cavalos de fogo (Sombra dos ancestrais esquecidos), filme de Sergei Paradianov).