Na frente da casa grande do Tatu havia uma calçada alta com uma varanda coberta de telhas situadas sobre alguns balaustres de madeira e ponto de alguns bancos sem encosto, ali defronte ao quarto do meu avô com janela que dava para o terreiro principal. Dessa varanda, levantando a vista, estava, na paisagem, a bagaceira e, num outeiro, a capelinha de Nossa Senhora da Conceição, próxima de onde morara minha família.
Ao lado, o engenho. Entre este
e a casa grande, o que chamavam de beco, passava a antiga estrada de Lavras da
Mangabeira a Caririaçu, que incluía no curso a estreita parede do açude grande,
avistada logo que transcorria o beco.
Nas noites escuras do sertão,
assim que o firmamento abria o manto das estrelas, começava a movimentação no
terreiro. O alpendre se tornava uma festa a cada noite. Vinham os moradores da
fazenda, que visitavam os da casa grande, sentavam nos bancos, pegavam lá de
dentro as cadeiras, ou permaneciam sentados no chão, com pernas penduradas para
fora da calçada.
Meu avô costumava ficar numa
cadeira de couro apoiada nos dois pés traseiros e escorada de encontro à
parede. Punha as mãos cruzadas por trás da cabeça e arriava o corpo no mesmo sentido
vertical da cadeira. Ele falava só o necessário. As conversas rolavam nas falas
dos demais, os puxadores de assunto. Vinham, então, perguntas, notícias de
longe, de perto, comentários, anedotas, histórias de Troncoso, intercaladas
pelos sons distantes das imediações, trilado de grilos cantadores, latidos afastados
de cães, pios noturnos de corujas e outros pássaros noctívagos, chocalhos de
gado no curral, berros de animais. Nenhuma iluminação, a não ser a lua, nas suas
noites, ou as estrelas, no céu. Luzes da casa clareavam apenas a sala, com um
farol a querosene. Isso às vezes compensado pelo riscar de fósforos e cigarros
brabos dos caboclos, querendo também espantar as muriçocas que mordiam
insistentes, combatidas na fumaça do estrume incandescente do gado, que
acendiam nessa finalidade.
No interior, os cômodos
permaneciam às escuras e fechadas as portas e janelas que davam para o quintal.
Os viventes todos achavam motivos de sobra no alpendre.
Naquelas noites, que iam, no
máximo, até 21h, jamais faltavam lendas e contos mal-assombrados, atiçando a
imaginação dos presentes. As partes mais assustadoras apareciam quando o sono
começava a descer asas sobre as crianças, dispondo-as a procurar, na claridade dos
dormitórios, o conforto de pessoas adultas. Eram a atração principal das noites,
essas histórias. Os narradores consagrados se reservavam para a ocasião e
apimentavam os enredos da matéria prima recolhida, sobretudo, na tradição das
localidades
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