O mistério da vida não é algo para resolver, mas para viver. Alan Watts
Essa mesma insistência que tem o passado em querer se repetir incessantemente causa ânsias de vômito nas incontidas vezes. São velhas lições guardadas que rompem as cascas enrijecidas dos móveis antigos da alma. Vêm e voltam à medida do tempo, nos ciciar das folhas lá de fora, às brisas de outro Verão. Chegam assim desconfiadas de querer viver outra vez aquilo entornado em taças escurecidas, presas que foram aos últimos segredos das histórias estonteantes de cenas sexo explícito, restos dos filmes de décadas remotas, que regressam e insistem nos mesmos cartazes de antigamente presos às paredes dos remotos cinemas de interior. Quais olhos deixados embaixo das lonas de circos que nem existiram sequer, fixam atenção numa nova atualidade que, também, não existirá constante daqui a pouco, e seguirá vivendo noutros corações.
Nisto as literaturas acorrentadas aos trens fantasmagóricos,
a mostrar sinais doutras horas pelos relentos das tardes mornas desses amores
adormecidos. Quantas vidas, pois, numa única vida. Apenas isto, dos desejos
frenéticos que formaram daquilo tão emocionante, porém feitos motivo de saudades
e sonhos. Tais derradeiras nuvens avermelhadas, banhadas nos raios do poente, frações
de inúteis dramas escondem a razão de tanta felicidade, agora meros riscos das telas
do Infinito.
Em tudo um pouco, no entanto, que permanece diante dos
mínimos resquícios na gente mesma, de onde viemos, trastes e visões inesperadas
que regressam por si numa velocidade semelhante à de quando sumiram certa
feita. Heranças de emoções estarrecidas, persistem a contragosto, impulsos de
todo instante vário. Noutras palavras, somos disto frações de igual teor do que
antes fôramos e jamais deixaremos de ser.
Ainda fruto dos desejos mais antigos, sustentamos o instinto
das novas tradições que guardaremos conosco no transcorrer de toda geração e
aonde chegar, lá noutros universos, onde haverá sempre ânimo de viver,
porquanto a isso existimos.
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