sábado, 29 de junho de 2013

Aguardar o melhor

Rompêssemos o cristal do pensamento, qual rolada uma melancia para se contar os caroços do lugar aberto, e defrontar-nos-íamos com feixe de nervos, carne, sangue, veias, artérias, músculos, ossos, tendões, medulas, mergulhando em universo itinerante que se afirma enquanto respira, trabalha, come e se relaciona,  internos circuitos permanentes da busca de transformação.

As cidades, também assim paralisadas, circunstanciariam museus de cera, mistura clássica de um espaço tridimensional. Pedestres, animais, veículos, lojas, residências, bancos, repartições públicas, máquinas e consultórios. Tabuleiros de xadrez estruturados de forma a se pensar que tudo isso (e mais nada) faz sentido, único caminho imaginário para múltiplas projeções de ansiedades.

Afastados ficássemos, viríamos as regiões. Os cercados, o gado, as plantações, os estábulos, moradas, engenhos. A produção vinda da terra, como resultado de tradições técnicas redivivas no correr de séculos. Do campo, a vida - o alimento como preservador essencial das espécies (aceitemos ou refugamos a idéia). Ninguém vive por hipótese. Daí o célebre esforço das gerações em juntar homem e solo. O agricultor à gleba, que pertenceria ao patrão.

Pretendíamos resumir, no entanto se formaram essas divagações subsidiárias, para facilitar o tema: uma visão crítica do homem quanto ao Homem, o salto do nada ao incalculável, do grão de areia a sóis monumentais. Monumentais.

Poder-se-ia (quem sabe?) denegar os objetos e as pessoas, sob argumentos niilistas, prudentes, materialistas; referências fugidias, no fluxo energético que se esfuma, fachos de lua no espelho das horas; coágulos de pó que se fundem nos traços do desconhecido. Poder-se-ia... o que não nos interessa fazer.

Uma semente, quando germinada, conta segredos diferentes disso. Para cada porção, desde o homem (pensamento) à cidade (renovação de humor), à região (produzir, experimentar novas culturas), ao Estado (perspectivas abertas de coordenação), ao País (pujança, economia organizada, reforma agrária, seriedade política, independência), ao Continente (união de nacionalidades irmãs), ao Mundo (paz na transpiração das consciências), certezas novas aspiram construir uma civilização perene, livre dos jogos dúbios de isoladas bandeiras.

Isto lembra o quanto as batalhas sangrentas distorcem intenções e nutrem a imbecilidade, como filtros teimosos dos erros insistentes, que purificam bárbaros trazidos pelo vento. Desnecessário supor limite, uma fronteira, caso busquemos nos fazer antes dos outros (à medida do ter, que nunca enche).

Essa mentalidade míope gera injustiça e fabrica as armas. Querer admitir o exclusivismo como coisa prática (pragmatismo dominante) simboliza sustentar os ferrões à frente.

Das guerras todos saem derrotados. Os vencidos, por serem de fato. E os vencedores, ao esquecerem sua parcela de culpa, em meio a discursos, vinhos e fanfarras, nos salões em festa.

terça-feira, 25 de junho de 2013

O grito da multidão

Ligeiro as respostas começam demonstrar que a gordura das instituições nacionais aguardava tão só esse grito estridente da multidão que tomou conta das ruas de todo o País. A letargia dos três poderes atrasava o pacto federativo durante dois longos séculos e agora indícios apontaram a profundas reformas reclamadas há tempo de sobra. Perguntas chovem, pois, nas cabeças dos porquês e por quês, depois de demorar o quanto de acordarem os políticos que preenchem cargos vitais dos escalões. Propostas populares em mensagens  rascunhadas às pressas forçam existir a consciência dos poderosos, gente feita na brasa dos palácios, já que dormiram além da conta.

As razões das reformas necessárias na política mofaram uma eternidade nas gavetas emperradas, enquanto os cofres da Nação nutriam generosos as tetas das corporações e seus fregueses típicos do subdesenvolvimento, que feria o couro grosso da população bondosa. É preciso agir dessa vez como em nenhuma outra mais. Eis o marco zero da renovação e do amadurecimento.

Mudanças ninguém duvidava da urgência, eleição após eleição a cara dos mesmos trabalhava o espaço dos votos. Porém só os discursos que seguiam sendo ditos aos quatro ventos que os índices atendiam em tudo, a ponto de o Brasil servir de modelo do resto do mundo. Que diagnóstico, que oportunidade valiosa obtêm as gerações.

Protestos que causam movimentos a nível geral indicam possibilidades dos donatários das capitanias abrirem o coração e deixarem escorrer atividade justa no cenário já tão macerado e envilecido de sociedade ingênua do ponto de vista da consciência cidadã.

Um passo importante na história brasileira, ventos inéditos e transformadores que o ânimo extremado despertou pelas vozes unidas que organizam o projeto de uma época fértil e querida.


As narrativas históricas contaram de ação coletiva jamais vista no concerto dos países, desde que o aproveitamento corresponda na verdade aos desejos dos que saem do comodismo e depositam seus direitos nas mãos dos sonhos de justiça, trabalho, dignidade e progresso.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Deu formiga no sal

Mais cedo ou mais tarde essas coisas viriam a ocorrer (se é que coisas estejam ocorrendo que já não o houvesse antes). Bom, o que nos leva a pensar além das notícias, que existem intenções sinceras, vem do tempo de quando pessoas alimentavam o sonho do novo, a significar renovação no sentido real. Nesse quadro, começamos falando nos dias atuais.

Poeiras de substituição dos figurantes e normas ainda nem baixaram direito, e se inicia movimento dos políticos a favor de emenda parlamentarista de carta constitucional, talvez no instinto dos olhos fundos chorarem cedo, quando querem reduzir o poder investigativo do Ministério Público.

Promessas de campanha entraram na fase de execução, na zona financeira, tantos debates soporíferos das barrigas cheias entrando pela madrugada, 
enquanto expectativas convergem  às mudanças de estratégias nas mãos dos timoneiros, em mares turvos.

Vozes de ventríloquos insistem na comédia dos erros arqueológicos das administrações pretéritas. Outras descobrem que as águas desceram para outros pavimentos, donde fica impossível recuperação. No entanto, o custo de esperar e conferir também pesa na balança dos cem primeiros dias.

Para as bandas dos municípios, histórias crônicas parecem repetir feitos antigos. Cerca-se daqui, se arrodeia dali; papéis, papéis, empenhos, recibos e variações. Reviravolta multiplicada no ímpeto de se cumprir as necessidades populares, escaldadas nos azeites da angústia de aguardar o honesto que nunca chega.

A ganância insultuosa dos eleitos cobre de responsabilidade os ingênuos eleitores, que se justificam dizendo verem caras sem ver corações, na hora de escolher. No cômodo ao lado, os trabalhadores, que mantém o País no curso da história.

A sociedade civil (organizada?) dorme pouco, não porque ande ligada aos seus interesses, mas presa às ofertas noturnas dos jornais da madrugada. O brilho atraente/pegajoso conduz todos nas curvas de horas calmas, olhos sapecados de expectativa, mentes ardendo, ilusões guardadas nos andares altos das cidades, na antiga modernidade manufaturada em laboratórios estrangeiros.

Assim, acreditamos redividir nestas palavras ideias do momento, sabendo que raros leem, presos aos teclados eletrônicos em que se transformou esse mundo industrial que habitamos.

Para completar, embalamos certeza íntima de que não viajamos sozinhos. Um poder, superior a todos (Deus), vela por nós, palavras de Jesus: - Não vos preocupeis com o dia de amanhã; cada dia se basta às suas preocupações.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Exame de democracia

Ora só, depois de calejado de tantas vezes, mais essa. Passado o período da inocência, levado no tempo, e eu agora com reações de adolescente diante da multidão de brasileiros espalhados nas ruas em manifestações fenomenais, reclamando ninguém sabe o quê, nem para quando, onde e por quê. Sair, se encontrar e andar juntos onde antes apenas automóveis trancavam ruas e aceleravam do medo à insegurança. Uns perto dos outros, os mesmos prisioneiros dos condomínios, favelas, edifícios, cercados de obstáculos e temor. Agora, nas ruas gritando palavras de ordem, revendo a saudade das épocas da esperança política em líderes reais. Outra chance de a Bandeira tremular solta nos braços da pura nacionalidade.

Isso numa improvisação generalizada de emoções que varreu a semana dos habitantes das grandes cidades que resolveram ativar o repertório dos motivos principais da vida pública, empunhar cartazes com frases de efeito, cantar canções revolucionárias. Decidiam, de comum acordo, repactuar os sonhos de um País garroteado nas garras convencidas de raposas proprietárias da hegemonia das urnas, viciados profissionais da rotina eleitoral e práticas equivocadas.

Gestos típicos das aragens libertárias, cem mil pessoas saíam em bloco nas avenidas principais do Rio de Janeiro, que, se combinado com antecedência, por certo não aconteceriam com tamanha hegemonia e autenticidade.

Bom, que arrepiou, arrepiou. Algo de aglutinador que reviveu, nas caixas da inspiração romântica coletiva, os dias melhores ensinados a verso e prosa, nas cartilhas da luta democrática, discursos de justiça, segurança, transporte, anticorrupção, oportunidade profissional, educação, dignidade, paz social, saúde. O mote desse modelo transformador desliza pelos asfaltos em forma da brava gente de carne e osso, sangue e nervos. Talvez muitos nem saibam direito a que saíram em passeata, no entanto acreditam na verdade dos santos propósitos que lavam a alma de todos os males, isto também dos que assistam de casa, nos rincões distantes, graças ao milagre da comunicação imediata.


O mérito maior, todavia, das manifestações desta hora, no Brasil, representa a chance ímpar de testar as conquistas de gerações inteiras dos sacrificados na história comunitária. O exemplo disso são os meios pacíficos utilizados, o respeito das guarnições militares e presença massiva da juventude e suas pautas de clamor de quem demonstra confiança nas instituições e no futuro.     

sábado, 15 de junho de 2013

As pedras e a cidadania

Conta o Evangelho bíblico que Jesus, ao descer o Monte das Oliveiras quando seguia no destino de Jerusalém, onde comemoraria a Páscoa, se viu saudado alegremente pela multidão dos discípulos, que em alta voz começou a louvar a Deus: Bendito é o rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!

Nisso, ali presentes, incomodados, alguns fariseus disseram ao Divino Mestre que repreendesse os discípulos. Ao que este retrucou: Se eles se calarem, as pedras clamarão. Lucas 19:37-40

Assim também acontece com frequencia nas crises das civilizações. Povos inteiros clamam justiça, enquanto líderes cevados na vontade popular dormem sob o monturo da indiferença, responsáveis, por vezes, por desmandos das administrações do bem público aos seus cuidados.

São milhares os pretextos da propaganda política a iludir incautos. Gastos multimilionários a manter oligarquias falidas nos tronos dourados da fria aridez que fragiliza instituições criadas na intenção de servir ao cidadão. Há déficits enormes desatendidos, contudo velhas aparências ainda enganam.

O clamor de justiça no entanto detém a força do poder quando fracassam as improvisadas tratativas humanas. As populações infelizes saem às ruas nos tempos de necessidades e carências por demais contrariadas. Registros tais demonstram, nos momentos críticos da longa história das sociedades, que religiosidade natural de Lei superior a tudo conduzirá, num trilho de acontecimentos que flui qual rio sem fim.

Palcos armados nas praças refletem a importância das ações coletivas. A tessitura da paz social requer atitude individual, posicionamento claro das ideias e dos valores. Ninguém que esconda de si a realidade perante o mecanismo das horas que vivemos, pois omissão representa algo semelhante ao compromisso dos tolos.

Um princípio definitivo, independente só das vontades individuais, envolve a sequência dos movimentos gerais, e todos nós representamos seus papéis.

Paz no céu e glória nas alturas! 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Mistérios do Inconsciente

Já parou e reuniu as impressões interiores de que naquele momento seu eu lá de dentro se acharia noutro lugar às vezes bem distante de onde agora esteja? E com cuidado minucioso vem recolheu as lembranças desse outro ponto, longe no tempo e no espaço, observando que há um si mesmo que acha qual sozinho, circulando aí nos céus, independente do gosto que queira dar ao seu presente na hora em que se analisa diante da alternativa intrusa descoberta, flagrada conduzindo a célula viva que habitamos?

Em certos dias, são fiapos de músicas que vagueia nas trilhas sonoras da memória auditiva, repetindo, talvez, a frase melódica que mais lhe tocou nos instantes quando ouvira, nos programas do passado. Demora, demora, e vem novamente o som interno, espécie de vida mergulhada nas entranhas, autônoma, a lembrar belezas das notas musicais que mexeram no coração espiritual, podendo até manter sentimentos de tristeza, alegria, saudade... Quando colhidos assim de surpresa, flagrados, trazidos ao teto da consciência atual, tipo de cenário interno orienta que existirá, pois, vida plena, livre do puro foco desta vida cá de fora, dentro, bem dentro, de nós, num longe perto de causar espanto.

Dia desses, acordei da sesta vespertina e, ainda deitado, examinava as paredes da ocasião, a notar espécie de imaginação diferente, semelhante que olhasse em volta o filme da existência na forma do papel dali de junto, película em terceira dimensão que envolvesse o mundo, com a velocidade pulsante de cores, formas, sons e movimento, mas, no conteúdo definitivo, que pudesse ser aberto em forma de caverna, janela, porta, desvendando a realidade verdadeira no bojo da visão exterior que oferecia. Detrás dele, haveria outra dimensão, outras dimensões, acessíveis ao poder da gente, nas dobras do Inconsciente. Nos equivalentes a bolhas, viajaríamos nesse trem do tempo das aparências, de estação em estação das percepções pessoais, espécies de testemunhas da individualidade, cercados pelas justificativas dos sentidos acesos, a encandear o sentido objetivo quase só ignorado.

Nisso, além de tudo, a marca desses sinais de antenas e câmeras que somos significaria a essência permanente de recolher notícias da Natureza, cavaleiros andantes da transformação de seres insuficientes ruas às luzes identificadas com a definitiva e eterna felicidade.  

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Das esmolas grandes

Em épocas quase recentes, vivíamos três longas décadas de exceção política. As decisões nasceram de mãos desautorizadas, em sua maioria restando ao ser coletivo pagar pelo que comia e que nem soube quem comeu. Dirigentes nacionais se sucederam, quiséssemos ou não quiséssemos.

Depois, com uma constituição trabalhada a duras penas, em 1988, se preparou o futuro brasileiro. Jamais se esperou tanta lucidez das escolhas posteriores a isso. Sobretudo de gerações jovens de que bem carece o Mundo inteiro. Decisões aconteceram nas urnas diante de muitos nomes, todos sequiosos de poder, vontade de chegar ao ápice, e demonstrando sinceridade de propósitos até onde pode suportar a propaganda.

O conceito popular nos ensinava que de cavalo dado não se olha dente. Entretanto, tivemos de abrir a boca de cada um, em particular, para fazer a radiografia do bicho na praça, por inteiro, com equipamentos sofisticados de avançada tecnologia, que nos dominavam de cima para baixo. Vimos jogar feitiço contra feiticeiro. Caras restaram quebradas de tantas ilusões adormecidas e despertas em período de caça às urnas. Inspecionar dentes, cascos, pelagem, rabo, vazios, partes inferiores, foucinho, olhos, garganta, estômago, orelhas, tudo, de fatos a movimentos, sem medo da catinga dos animais racionais bem trajados e ansiosos de chegar à cabeceira da pista, porque depois tivemos infindáveis longos anos (lembrem-se dos de hoje) convivendo com aqueles alienígenas, vezes até irracional, a mandar e desmandar em nossos destinos.
Dizem os árabes que só se conhece de verdade quem conosco comer um quilo de sal, modo de descobrir o que as lentes escondem, porque são  passadas que machucam os pés.

Existiam os indivíduos, mas inexistiam partidos fortes e coerentes. O mais antigo não contava história de meio século. Seria detalhe primoroso dispuséssemos da crença no programa partidário respeitável, na honra e no espírito público dos candidatos.

Trabalhemos o voto, tais relojoeiros, para virmos depois usufruir de futuro sem lágrimas ou frustrações. Por serem jovens os principais protagonistas da cena, eles iriam desfrutar da sapiência de seu gesto, iniciando a nova História do Brasil, onde viveriam mais tempo e serão felizes.


Bom, esse o quadro daqueles idos esperançosos. Agora, chega o momento de avaliar com outros olhos o que aconteceu quando abriram o baú do tesouro, reflexão dos adultos que agora representam os jovens da esperança das primeiras eleições livres desta fase nacional.

terça-feira, 11 de junho de 2013

O sofisma político

Em certa ocasião, envolvido pelas tempestades políticas que teve de atravessar, Abraham Lincoln foi abordado por senador adversário, que queria impingir ponto de vista descabido quanto a matéria em discussão:

- Senador, vamos supor que uma vaca tenha cinco patas. Em sendo assim, indago de V. Exa., quantas patas tem uma vaca?

- Quatro - respondeu de pronto o estadista americano, acrescentando: - Pois não é por se supor que uma vaca tem cinco patas que ela passe a ter.

Situações análogas marcam o cotidiano de quem frequenta a escola da política em todos os países. Muitos querem que a Verdade possua a cara de sua verdade, esquecendo que, apesar de iguais termos, o primeiro se escreve com letra maiúscula e não pode ser mistificado ao sabor das conveniências individuais.

Uma disposição mórbida de viciar contas em proveito interno deve ser considerada mediocridade, não interesses perniciosos nos bastidores sustentando a maioria dessas atitudes, que depõem contra os valores da Ética, espaço onde se reclamam suas presenças.

Militantes políticos, de ordinário, no lado subdesenvolvido deste mundo, buscam a caminhada pública para defender causas pessoais ou de blocos fechados. Seriam como que bons para si e para os seus, enquanto relegam a terceiro plano faixa substancial da comunidade que vota na esperança de modificar o estado de coisas.

Dessa forma, urnas transpostas através de recompensas imediatas, no que se utilizam de capitais a ser recuperados após a vitória, estruturas reacionárias lançam âncora nos mares do serviço público e substituem os figurantes antigos.

Em dita ocasião, tudo passa a ser considerado instrumento de uso íntimo, desde a canalização das verbas para áreas particulares até o jogo de palavras e gritos, na montagem das propostas arrevesadas em defesa de atos esdrúxulos e manipulação de opiniões, fazendo passar por bons os péssimos e por maus os opositores, endossados pelos órgãos da comunidade de informação a peso de ouro (pode existir coisa mais imoral do que propaganda de administração pública? Para que divulgar o que se tem a obrigação de fazer?).

Neste universo das leis humanas, o justo anda cabreiro de pagar pelo infrator. Manchas se alastram no mata-borrão social e a bela arte do diálogo desvirtuou em demagogia ou subterfúgio, período quando sociedades estacionam, ou degeneram, sufocando ânsias de progresso.

Eis o diagnóstico de quadro preocupante, espantalho que atordoa gerações inteiras de lideranças novas. Como tratamento urgente, os exemplos bons merecem aplausos, para fomentar métodos limpos de corrigendas e recuperar a sobrevida.

Atenção fixa nos que vestem as malhas do poder e se dizem salvadores, porquanto posam de cordeiros mansos bem sucedidos e jamais avisam que aparências enganam.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Artes da medicina

Neste mundo de hoje, ficou difícil se imaginar vivendo sem os recursos da Ciência no que concerne a transportes, alimentação, comunicação, educação, finanças e vários campos mais. Nisso cabe sobretudo a manutenção e o tratamento dado pela medicina e seus inúmeros sub-ramos, fatores valiosos da sobrevivência.

A cada ano, o tempo da vida humana vem aumentando de expectativa. Meios desenvolvidos na solução das enfermidades e no zelo da prevenção ocasionam bem-estar, e as técnicas de profilaxia abrem campos novos de eliminar males antes impossíveis de contenção.

Dona de história rica e feitos notáveis, desde que as civilizações sistematizaram modos de tratamento, a ciência médica demonstra o quanto de bonomia humana quando quer servir às causas nobres, através da facilitação de instrumentos de obséquio ao próximo, na existência material.

Um simples olhar aos corredores dos hospitais faz presumir que as marcas melhoraram na saúde, vistos que sejam os índices de poucas décadas atrás. No entanto, casos afloram de deficiências clínicas no Brasil. Os governos reconhecem, porém, a importância de repassar ao cidadão médio a contrapartida necessária em termos dos benefícios constitucionais.

Vez por outra, se denunciam graves aberrações apontadas com veemência, o que implica providências e aprimoramento de métodos, lisura, competência e correções.

Os profissionais de branco, por sua vez, quais abnegados missionários, sejam médicos, enfermeiros, técnicos, auxiliares, etc., merecem o reconhecimento público do quanto doam a cada hora em favor dos pacientes. Nunca seria demasiado referendar, em nome da maioria silenciosa da população, esse valor imprescindível da ciência de curar sem discriminação, meta ideal que alimenta a existência toda hora.

Dentre as principais características desenvolvidas pelo povo caririense, à condição de importante centro médico soma também o destaque da educação e do espírito religioso de sua gente empreendedora vem à tona.


Conquanto admita o caminho longo a percorrer de transformações, aos profissionais da medicina o justo louvor naquilo que ministram em forma de carinho e bondade, mitigando, dia e noite, a carência de conforto e esperança dos que lhes procuram na busca de cuidados especializados.       

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Padre Antônio Vieira

No dia 14 de junho de 1919, nasceu no município de Várzea Alegre, no sítio Lagoa de Órfãos, atual Cristo Rei, distrito de Calabaça, no sopé da Serra dos Cavalos, Antônio Batista Vieira, o Padre Vieira, filho de Vicente Vieira da Costa e Senhorinha Batista de Freitas.

Inteligência flamejante, além de sacerdote católico, Vieira destacou-se em diferentes áreas, como filósofo, poeta, jornalista, professor, orador sacro, jurista, escritor, parlamentar e ecologista.

Iniciou os seus estudos em escola da zona rural, vindo a cursar o Seminário São José, em Crato, e o Seminário da Prai-nha, em Fortaleza, graduando-se em Teologia e Filosofia e ordenando-se a 27 de setembro de 1942. No Seminário São José ministrou Latim, Grego e Ita-liano. Ensinou também no Rio de Janeiro e em vários municípios do Ceará onde desempenhou as funções sacerdotais, dentre outros, Crato, Icó e Iguatu.

Sua participação política, na fase do regime militar instaurado com o golpe de 1964, levou-o, com larga margem de sufrágios, ao Congresso Nacional para um mandato de deputado. De verbo eloqüente e denunciador da ilegalidade e da injustiça social, marcou aquele período histórico e abalou as estruturas dominantes, vindo a ser incluído no rol dos cassados.

Em resposta a esse gesto do totalitarismo, retornou aos bancos escolares, sendo aprovado em primeiro lugar no vestibular de Direito da Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro.

Querido pelos nordestinos, dada à sua espirituosa personalidade, soube conquistar e preservar admiradores nas diversas categorias sociais. Ensaísta e cronista de rara maestria, Padre Vieira publicou muitos livros, a saber: 100 Cortes sem Recortes, 1963; O Jumento, Nosso Irmão, 1964; O Verbo Amar e suas Complicações, 1965; Sertão Brabo, 1968; Mensagem de Fé para quem não tem Fé, 198l; Penso, logo Desisto, 1982; Pai Nosso, 1983; Bom Dia, Irmão Leitor, 1984; Por que fui Cassado, 1985; A Gramática do Absurdo, 1985; A Igreja, o Estado e a Questão Social, 1986; A Família (Evolução histórica, sociológica e antropológica), 1987; Senhor, Aumentai a Minha Fé, l988; Filosofia, Política e Problemas Jurídicos, 1988; Eu e os Outros, 1988; Roteiro Lírico e Místico sobre Juazeiro do Norte, 1988; Eu sou a Mãe do Belo Amor, 1988; e Fatos Pitorescos, 2001.

Na paróquia de São Francisco, em Crato, construiu, em mutirão com os fiéis, templo dos mais belos, no bairro Pinto Madeira. 

Outra facete marcante de seu caráter: o amor extremado pelas coisas da Natureza, sobretudo pela preservação do jumento, a principal alimária sertaneja, que adotou como filho dileto e motivo de cruzada conser­vacionista de reconhecimento internacional.


Neste sábado, 19 de abril, por volta de 01h30 da madrugada, aos 83 anos, desaparecia em Fortaleza o padre Antônio Vieira, vítima de insuficiência cardíaca. Deixava, desse modo, órfão o dócil animal que nele encontrara extremado defensor.

terça-feira, 4 de junho de 2013

O andor

Desde cedo, naquela tarde, Tia Vanice resolvera se dedicar a decorar o andor de Nossa Senhora da Conceição para a festa do dia seguinte, a ter como ponto alto uma procissão pelas estradas do Tatu, percorrendo paredes dos três açudes chegando até a cancela do Xique Xique. Depois, já de noite, aconteceria a coroação tradicional, em frente da pequena capela, acompanhada de missa que reuniria, como nos anos anteriores, os habitantes e a vizinhança do lugar.

O andor, peça bem torneada, passara guardado o ano todo, a ser usado tão só nos festejos da Padroeira. A maneira de enfeitá-lo mudava de pessoa a pessoa, conforme habilidades. Uns preferiam forrar de seda rosa, azul ou branca, com algodão à guisa de nuvens. Daquela vez, fora escolhido o papel crepom de cores suaves. 

As várias folhas recortadas e coladas a grude de goma envolveram o nicho de transporte da Santa, ficando de fora apenas os braços de apoiar nos ombros dos carregadores. Tia Vanice dedicava, pois, todo seu carinho no amarfanhar dos desenhos de papel cortado, realçado as flores do arranjo colorido. Esmero maior impossível, obra-prima da sacra elaboração. No feitio da devoção agreste, lá pelos páramos celestiais, a virgem, decerto, sorria agradecida de contente.

Recolhidos os instrumentos da tarefa, agradecimentos apresentados às auxiliares da boa ação, que também haviam lavado o piso da igreja, espanado e recamado de toalhas brancas os altares, fim de tarde perfeito de quem satisfizera o dever e agora apreciava da calçada fronteira as tonalidades vivas do Sol se despedindo, no poente sertanejo.

Naquele mesmo momento, retornavam ao aprisco as ovelhas; umas mais, outras menos, apressadas, a formar, elétricas, o rebanho único, na busca do chiqueiro próximo da igrejinha, junto da casa de Seu João Preto. Nisso, alguns dos animais que catavam o que comer arriscaram uma espiada furtiva para dentro do templo que permanecia de portas abertas.

A criação, talvez tenha pressentido qualquer coisa de alimento na fofura decorada do andor, deu em cima da bela composição de papel, devorando-a até chegar à madeira, motivo suficiente das lágrimas sentidas, desconsoladas, da tia, notificada ao som das gargalhadas travessas de meu pai, que, comovido, ainda encontrou tempo e material para refazer todo o trabalho antes do início da procissão.            

Nas tempestades da alma

Há momentos em que a humanidade revela o quanto da divindade impera em nossos organismos pouco conhecidos a ponto de o céu chegar ao chão dos pés e andarmos tontos vagando nas nuvens coloridas de emoção que sacodem o ser, trazendo ao foco dos acontecimentos poder do infinito domínio que jamais imaginamos possuir, mas que precisamos dispor a qualquer preço de equilíbrio, descobrir das entranhas a saúde.

Ninguém cruza, pois, incólume adiante os desafios de mais serenidade nessas horas férteis à paz do sentimento, o que virá lá nos depois, além do horizonte. O valente, o herói, que habita o íntimo do mistério apresenta suas credenciais aos tais desafios das fronteiras onde impera o fragor das batalhas, esse eu caprichoso de explosivas definições no prumo da sobrevivência maior, bem ali defronte dos exércitos de nós, nessa planície plana, solitária, clara, que confrontam, conflagram na guerra do Si Mesmo, a mãe de todas as nossas batalhas, o interior da alma das gentes.

Descomunais vertentes de consciências pedem coerência dos amores perdidos que renasceram para sempre das doces saudades em antigas sensações e perenidade, quando as sementes se achavam eternas e desapareceram da vista, no entanto pelas fases do nascer e morrer, morrer e nascer dos instantes das outras flores que perfumarão as próximas e felizes madrugadas.

Assim, nas horas cálidas de marcas a ferro e fogo que machucam e dilaceram os corações despertam os seres da intensa renovação da ave imortal do Ser Maior que nós, primeiros guerreiros da beleza. Uma espécie de tudo raro preenche multidões andando virgem, silenciosamente, a história da germinação dentro do coração despedaçado. A transformação inevitável impera, com isso, dentro da força viva da paixão de toda a poesia das artes harmoniosas.

E sonhos despertam o ente que já mexe as pálpebras em forma de luz intensa de quais madrugadas posteriores às decepções, ainda molhado no líquido amniótico da crueldade do parto definitivo. Poucos resistiriam a tantas involuções até o dia do reaparecer da grandeza de sermos paridos em meio às dores que restaram esquecidas perante à Felicidade, amanhã... 

domingo, 2 de junho de 2013

Palavras ditas, palavras engolidas

A língua é a fronteira do dentro para fora bem aqui aos olhos e na boca da gente. Qual dispositivo genial de produzir espaços nas consciências, a boca satisfaz necessidades sociais, porém o que diz custa o tanto de engolir o que disser. Num procedimento mágico intuitivo, as palavras nascidas num gesto ganham poder de abrir as condições de multiplicar possibilidades, externas quanto internas. Daí o poder estonteante das palavras. Galvanizam multidões. Ampliam os deveres dos seus autores.

Enquanto de boas palavras nasce o alimento que invade a consciência isso produz bons frutos. Quais escadas aos céus, significariam, igualmente, descidas aos subsolos de si próprio rumo das transformações. Por isso, nada que germinam as palavras fica impune, ou sem recompensa que lhe corresponde. A sabedoria popular resume que antes de dizer, somos senhores das palavras. Depois ditas, somos delas escravos.

Poucos detêm o real conhecimento desse poder infinito das palavras.

Elas habitam a intimidade das coisas e do tempo. Atos são palavras em movimento ao instante dos fenômenos. Os sentimentos sobrevivem cheios de palavras, ditas ou contidas. Tudo possui um nome, o nome é a palavra o que o identifica. As leis da Terra surgem das palavras nas ralações dos grupos sociais.

Moeda, o símbolo da riqueza material, representa o quanto de palavras contém, pois também antes existe nas palavras, presença original dos que a determinaram.

Há estudos de linguística que contam disso, da existência acontecer circundado de um mundo de palavras em movimento ou adormecidas, que guarda semelhança do conceito de Pitágoras de tudo serem números.

Destarte, nós, consciências responsáveis pelas horas presentes na imensa Natureza Mãe, reelaboramos os universos de acordo com o nível das nossas almas, criadores de palavras. Trabalhamos conceitos em nós quais os artífices de monótonas repetições ou das possibilidades criativas, espécies de senhores responsáveis das forjas divinas do Futuro.


Noutras palavras, nelas chegamos aos extremos de nossos sonhos.