sábado, 20 de julho de 2024

Estrelas a luzir


Noves fora tudo; noves fora nada. O peso das circunstâncias vividas ao som do canto insistente dos bem-te-vis e das cigarras de outubro e os corações azuis desenhados nos muros da cidade, espalhados entre os restos da propaganda política das eleições recentes, mostraram desde cedo, na luz clara do Sol, naquela manhã, que algo diferente ocorreria antes do cair da tarde do mesmo dia.

Primeiro, cresceu o perfume agreste de flores, reduzindo a fumaça e o barulho dos carros que agitavam as ruas em volta da praça.

Depois, nuvens densas de chuva passaram numa velocidade acima da média, se é que existe uma velocidade média estabelecida para o vento deslocar as nuvens no céu, ainda que em dias de pouco ou nenhum tráfego de pessoas às portas dos mercados cá debaixo, nos dias comuns dos grandes movimentos financeiros.

Mas o mundo veio mesmo a acordar de verdade no instante posterior, quando a coisa ganhou de todo os títulos dos principais jornais. Nem o crescimento acelerado das bolsas de valores causaria tamanho impacto no povo do lugar.

Eles dois, quais duas paralelas que só se encontram no infinito, fizeram assim, fundiram suas almas num todo único, ser eterno, reconstituindo a lei natural que rege os corpos, tecidos em partes indivisíveis, produto final de se enlaçarem intensos no amor elaborado desde a essência de seres antes dotados de histórias só particulares, cada um deles a gerar síntese consistente, além das perspectivas férteis da imaginação coletiva.

Espécie de fenômeno raro de proporções gigantescas, união dos dois pólos, revelou mudanças visíveis na humanidade, advento da pretendida nova era, antecipada pelos videntes de culturas variadas, nos segmentos e lugares conhecidos até então, afirmando promessas dos oráculos remotos dos tempos passados, aumentando esperanças de o belo chegar ao poder, no seio imenso da larga população.

Este alento da imortalidade plena dos que se amam permanecerem vinculados com isso tornou-se a expectativa num salto de qualidade, sonho real de transmutar sólidos materiais em substância definitiva, imaterial, energia elaborada nos planos superiores, perene, concreta, fruto inigualável dos valores positivos, por meio do sentimento das pessoas que devera se amam.

Vieram, no momento seguinte, filósofos e poetas a considerar esse acontecimento como resultante principal da jornada, no decorrer dos séculos da vida humana, o que deixa muitos a falar sozinhos, ligações externas de quem busca contactar esferas imaginárias que apenas rolam vadias, invés de reconhecer para si as trilhas do coração. 

(Ilustração: Vincent Van Gogh).

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