De quando em vez o sono demora a chegar. São claros os tons avermelhados da distância. Preenchem o vazio de tudo ao redor. Nesse emaranhado de pensamentos nota-se apenas um espaço infinito, que neutraliza a casa onde habitamos. Cães latem de longe, repetição codificada que só eles compreendem. Nisto, a contraponto, o vento fustiga as árvores e faz do Universo enigmas que sucumbem pelos céus afora.
Vultos feitos de paisagens íntimas então invadem os sentimentos. Falam sozinhos das inúmeras ocorrências que presenciam, no entanto de nada adiantaria trazer de volta ao meio das palavras. Chegam de lugares desconhecidos, sem nexo, sem conta. Bem demonstram uma fadiga ignorada, plasmam imagens velozes a circular no presente. E sei que querem dizer algo, porém sem o poder necessário daquilo que os astros riscam no céu da consciência. E encerram a epopeia significativa das individualidades onde vivo o silêncio.
Exangue, acalmo o desejo de continuar no íntimo indecifrado, retomando pouco a pouco o curso frenético das horas. Apressadas, elas transitam dentro de mim nos pedaços em que me esfacelo ainda desperto. Muitas histórias de tudo quanto havia neste mundo esquisito ficaram atrás. Do que se foi, do que será. Entretanto, visões a repetir novas buscas noutras circunstâncias. As mesmas iguarias, talvez, dos resquícios de livros, filmes, sonhos, lá de onde venho tangido, disforme, pelas mil noites enluaradas que se foram.
Tantas e quantas vezes de reclamar falas e determinar produções, impulsos, cenas, gestos. Senhores da ausência daquelas expectativas quentes das frias madrugadas, eles ali adormecem.
As lembranças disso vivem na fome devastadora de contar os detalhes e mudanças ao som dos acordes suaves no mar das transformações. Surpreso, devagar, permaneço escutando tudo. No instante seguinte, aqueles toques leves ferem as teclas da inexistência. Vejo, nessa hora, a ocasião de ouvir suas notas intermitentes no frívolo bater do coração.
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