domingo, 30 de abril de 2017

Bom noite! (IN BOX) - Franci Gurgel/Emerson Monteiro

- O que tem feito?

- Lido, escrito, fotografado, organizado documentos. Aguardo o encaminhamento dos acontecimentos sem ansiedade. Nem sei se ficarei só ou acompanhado. Tudo assim por se dar. Mas em paz comigo mesmo.

- Aqui está tudo bem. Deixei as coisas acontecerem, sem interferir, entregando tudo ao Poder Divino. As coisas, porém, desaconteceram e eu achei tudo normal.

- Acho assim também. Somos a parte que passa até perceber que somos sempre.

- As coisas podem dar certo ou não... Ninguém explode e nenhuma estrela cai do céu.

- Bom ouvir isto. Nunca se está sozinho. E tudo muda todo momento.

- É sempre bom se livrar das dificuldades, daquilo que passa a incomodar. No mínimo nos sentimos aliviados e renovados.

- Diminui o peso do transporte. Isto. Olhar em mim sem medo. Corri muito e voltei aos mesmos lugares. Apostei em pessoas e esqueci de jogar. Mas nada se perdeu e aprendi as lições.

- E é só. Continuar amando e abençoando a todos e ver tudo de fora, como uma peça de teatro. Isso, voltar sempre para o nosso centro, que é o centro do Universo.

- Se parecem os nossos jeitos de ver o instante.

- Na verdade nunca devemos sair do nosso centro.

- Quero a paz do coração, nada além disto.

- Todo o resto vem por acréscimo.

- Aquietar a mente e esquecer de sofrer. São muitos os dias de solidão que me ensinam a ver deste modo. Estou mais calmo. Mais ausente do lado de fora. Sem mágoas ou cobrança. Deixo aos poucos de brigar com coisas e pessoas.

- Você esteve sempre casado. Tinha solidão, mesmo acompanhado?

- Sim. Espécie de adaptação às condições. Cumpria metas. Nem pensava, me deixava continuar. Gostava do momento do jeito que hoje também gosto. Pedaços de existência que circulam em nossas mãos. Livros, aulas, lugares, pessoas, instantes. Salas às vezes cheias, às vezes vazias. 

- Eu estou sozinha há uns vinte anos. Não consigo me sentir só, isolada. Gosto dessa ilha que é o meu coração, onde cabe a humanidade inteira.

- Nós, enfim, que nos sucedem e nos abandonam. Luas, rios, mares, sempre à busca do Sol. Boas as suas palavras. Me tocam na vontade de ser livre da vontade alheia. Tive medo de nunca me encontrar e me perdi muitas vezes.
Criava álibis vida afora.

- Acho que sou feliz, mas ainda preciso experimentar a vida de outras maneiras, correr riscos, mas jamais me perder de mim mesma.

- Deixava aos outros os meus sonhos. Fugia da solidão qual condenado a lá um dia não conseguir mais sobreviver. Resultado disso sou eu agora.  A cumprir a pena de existir em plena intensidade.

- É muito bom se reencontrar e se sentir inteira, completa e livre.

- Só e ciente de que sempre seria o que hoje sou, um parceiro da solidão.Espécie de comunhão com a única verdade que há em tudo, livre das ilusões que criara para nelas me esconder. Fui descoberto por mim, afinal.

- Delete essa palavra solidão. Deus é o todo e nós somos o todo em Deus.

- A realidade é o porto das perdições. Sol e solidão andam juntas, no largo do coração da gente. De tanto fugir de mim, me achei. O cachorro e o rabo e o cachorro. Meio arte, meio vida, meio arte. Bom, perguntou e fui dizendo.
Me pegou num veia boa de falar. Sem inventar, deixei as palavras se deitarem pelos dedos, manhosas.

- Legal, é bom falar, se expressar. É como arrumar as gavetas.

- São pedaços de mim, de quem nem sei se existe ou existiu.

- Sempre temos que fazer introspecção para encontrarmos as respostas. Está tudo dentro de nós.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Um coração de amar

Quisessem reunir todos os filósofos e lhes pedir a resposta definitiva quanto aos universos paralelos e todos os mistérios que circulam nestes ares, e eles quedariam incólumes nas suas elucubrações. Baixariam cabeças tão fustigadas de interrogações, exangues e submissos aos segredos naturais. Parariam defronte aos portais do Infinito e renderiam graças à pequenez da função mental, cientes da ausência pronta das contradições que buscaram desfazer, no afã de acalmar os ânimos da Humanidade.


Quantas vezes o gosto do desconhecido alimentou a vontade extrema no desejo de concretizar o sonho das novas realidades, confirmando o propósito de vencer as limitações da matéria. Firmar em bases sólidas o ímpeto de viver a coerência das espécies. Cruzar as barreiras dos impossíveis e tranquilizar as almas, na febre terçã de solucionar os limites da morte. Vencer, sobretudo vencer as fragilidades do Chão. Erguer os olhos à imensidão dos céus.

E no valor maior das existências, pousar nos planos abençoados da Eternidade, sem sofrer mais os percalços das contradições. Quanto de solicitação elevamos ao cérebro, que nem de longe responderá a tantos pedidos... Baixamos os olhos, só então, depois de reconhecer a fragilidade daqui; dobramos o cenho e aguardamos fiéis as normas justas da Verdade. Lá de dentro do coração, o laboratório da Salvação, virá a magnífica escritura da Paz.

Lá seremos reis de nós mesmos, pois a isto aqui chegamos, fruto do plano divino da felicidade maior. Receberemos da química do Amor essa luminosidade das maravilhas. Ser-nos-á depositado, no equilíbrio absoluto dos nossos seres, o alimento definitivo e prudente da elevação ao páramos superiores. Bem nessa hora tudo nos animará o senso. As situações ver-se-ão resumidas ao foco da plenitude, religião das religiões, único objetivo de tudo quanto há. Assim, o poder inesgotável da harmonia abraçará de suavidade e união os valores de que um dia seremos os herdeiros e autores desde as origens.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

A infâmia da contradição

Vejam quem me pego lendo, diante dos absurdos em que a política se reverteu neste começo de século no Brasil. Jean-Paul Sartre. O Ser e o Nada. O velho problema da liberdade e da responsabilidade de novo a levantar a crista, no auge de todas as agruras morais do neoliberalismo que dominou o mundo inteiro, não sendo aqui exceção. E a classe política estéril deita os intestinos ao terror da inutilidade. Talvez inimaginável diante de todas as ficções, tão só culpados chegam ao palco das sombras de mãos abanando, a receber prêmio do fracasso que impuseram ao tempo.

Não bastasse em que se transformou o senso clássico da administração da sociedade, herdado de gregos e romanos, apenas o interesse individual prevalece e deita seus tentáculos a credos e cores, numa sanha de ganância jamais prevista nas terras cabralinas.

O desespero pequeno-burguês de arrecadar em conta própria, confiar em quem agora?, toscos parasitas de boteco. Em que fragmento, que ideário, quais sonhos... Enquanto a massa populacional apenas repete os slogans vencidos do desespero e da alienação tecnológica. Passar aos outros embriaguez de fama, dos prazeres fáceis, na intenção da cidadania inexistente. A que santos acender as velas? Era infame esta, quando a História exige atitudes e entendimento e os filmes viraram superproduções ideológicas descartáveis. 

De cabeças enterradas na areia, o exército dos acadêmicos entediados apenas reclama melhores salários a fim de preservar a dominação do gigante Moloc, senhor das terras e dos mares de todos os continentes. Ninguém sabe mais onde mora o dono da máquina totalitária que impera nos mercados digitais. 

A liberdade, esta esqueceram nas prateleiras do passado. A responsabilidade, a transferiram aos outros por demais, aos zumbis dos subúrbios, que ainda insistem manter funcionando a máquina esfumaçada e vadia das antigas fábricas. 

Nisso, urgente, olhos postos na realidade inevitável, a consciência humana impõe o compromisso das horas aos ombros das novas gerações. Admitir o erro requer humildade e profunda reflexão de tudo, da incompetência posta em prática até que hora, onde quer que seja. Os horizontes cinzentos, sim, gritam aos ouvidos das maiorias silenciosas o dever que lhes chama, no mínimo a título da sobrevivência de uma espécie bendita. 

(Ilustração: Jogos infantis, de Pieter Brueguel).

terça-feira, 25 de abril de 2017

Há que se pensar

As mudanças de viver que restam às pessoas, os rastros da Lua Cheia nas madrugadas, os metais com que fazem as armas de matar as feras que somos nós, em tudo e por tudo há que se pensar. Diante das ilusões extremas de passar o tempo em meio a tantas inutilidades que significam transcorrer os calendários nas frias ausências, as pessoas a cruzar o caminho umas das outras, os veículos espaciais a circular nas mentes enganadas, tantos temas e coisa alguma, há que se pensar, imaginar, usufruir. Enquanto as poças do inverno enchem e secam aos sabores do vento, do Sol e dos momentos, a refletir estrelas e carrosséis, multidões indefesas perante os tribunais do dia, marcas avermelhadas no cristal do firmamento, tudo por tudo, deixa margens imensas aos horizontes da verdade, à medida que palavras nada dizem e o desejo imenso de responder aos enigmas parece fazer nenhuma diferença.

Em todo parágrafo da escrita, um passo na história da sobrevivência. Sinais de estradas escondidas nos socavões doutros mundos. Vontade soberana de achar as respostas que desaparecem sempre a toda esquina, deixando vazios abertos às novas oportunidades que sucedem. 

Aos poucos, na repetição das frases, o prazer de descobrir a inexistência da matéria que simplesmente representa apenas energia em movimento nos objetos e nas pessoas. Pedaços de reinados jogados fora, os sentimentos quase falam de vilarejos abandonados, nas montanhas mais distantes de si mesmo. Películas e películas sem nexo. Sabores inúteis de frutos proibidos. Olhos dos animais selvagens iluminando as sombras. 

Quisessem reunir assim num só e único bloco de significados tudo quanto existe, o Eu sobraria livre de solucionar os objetivos de estarmos aqui e pouco saber do final desse drama humano. Doses de indiferença das criaturas em relação a elas e às outras bem revelam quanto viver reclama de que há de se pensar muito e por demais.

(Ilustração: Salvador Dali).

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Compaixão

Diante de circunstâncias por vezes adversas temos de pensar além de nós. São dores atrozes que raiam todos os limites da capacidade humana de resistir. Quais seres pequeninos que já somos, exigem respostas de continuar a peleja desta vida. Sobreviver face tudo, inclusive aos extremos de suportar a vulnerabilidade. A quem elevar os olhos da alma? Depositar o tempo e viver em paz? Nisto é a hora de erguer a fome de amar, razão principal do percurso das vidas. Salientar dentro do Ser de que somos parte o direito da conformação. Pouco importa nomes, endereços, tempestades, há de haver conformação. 

Nesse duelo entre a dor e o amor existe vida. Nós existimos bem ali. Testemunhas dos dramas universais da consciência em desenvolvimento, nessa hora descobrimos o quanto valem bons sentimentos, a força da compaixão, da aceitação da dor qual instrumento de revelação da Eternidade em nós. Vêm daí as buscas, os segredos sussurrados nas religiões, os pousos das escolas que ensinam trabalhar a si mesmo por meio do autoconhecimento. 

Aceitemos que existem mistérios a serem descobertos. Isto significa humildade. Admitamos o quanto ainda temos a aprender no espaço que resta até chegar à Perfeição, à realização pessoal, e aos poucos alguma claridade nos envolverá. Obedecer com esforço o peso da cruz em nossos ombros representa, pois, o dever que nos cabe nessas horas.

Porém jamais desistir de aceitar a bondade qual motivo de viver tudo e todos os momentos. Nem de longe contar a fuga dentre os elementos à disposição. Só amar, e amar muito, de olhos abertos ao poder monumental da Natureza de que nós somos e conduzimo-nos aos Céus.

Uma entrega absoluta, sem precedentes, sem condicionamentos. Eis o que compete aos deuses em elaboração que despertam a todo momento.

terça-feira, 18 de abril de 2017

O sonho do impossível

Impossível no aqui do rés do chão, onde habita a desilusão da carne de endereço já conhecido. Aqui, pátria em que o limite do perecível se desmancha no ar feito matéria dos sonhos gastos. A gente alimenta a perenidade do prazer, e prazer nega fogo, quase inexistência, não virasse assunto só de memória, leito frio do passado. Nisso, correr para onde? Passado, inexistência acumulada. Futuro, expectativa. Só o presente, silêncio, teimoso, a contorcer as entranhas do desejo e alimentar os becos da solidão.

Vêm os mestres e noticiam a esperança. Nutrem a vontade e a fé, sussurram do inexistente as notícias, mesmo que diante das maquinações da sorte que insiste deslizar das nossas mãos. 

No entanto heróis sobrevivem na história, sustentam ideais ainda que impossíveis. Resistem naquilo que defendem face ao desconhecido. Avistam o que outros não vêem. Indicam alternativas nos reinos de outros mundos. Revelam municípios estranhos à ordem daqui debaixo. Dão mesmo a própria vida em favor dos segredos que contaram aos homens adormecidos. Falam de mares profundos na alma do Inconsciente. Demonstram a ciência da certeza de persistir depois que passam, portais da imortalidade plena.

Falam do que ninguém pode falar sob o peso da matéria densa do corpo só físico. Noticiam de universos imaginários inimagináveis. Dão, por isso, a vida nesta dimensão de impossibilidades, aonde chegam e voltam todos os dias os milhões de corpos físicos. De coragem admirável, eles mergulham no mistério e regressam contando de sonhos reais lá de onde não existe a morte. Além disto, equilibram o vazio na força do caráter, da seriedade, dignidade. Os místicos, salvadores e únicas alternativas perante a inexistência. 

Novidades eternas só vindas de fora, doutros ares que não desses, lá de onde o impossível inexiste, e o sonho prevalece. Reinos felizes, mundos divinos para sempre.     

(Ilustração: Wassily Kandinsky).

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Afinação

Crato dos anos 70, período em que vivi ausente do Cariri boa parte do tempo, morando em Salvador. Essa história, no entanto, chegou a mim por meio de Wellington (Etin) Bringel e Paulo Luiz (Lupeu), em uma conversa recente.

Recordaram eles de Temóteo, evidente personagem da época, músico saxofonista dos Ases do Ritmo, grupo que dividiu as honras festivas das matinais e tertúlias da cidade naquela fase gloriosa. Bom instrumentista, ele também detinha fama de ser excêntrico, dado a comportamentos inusitados, dentro outros de reunir animais, principalmente, galináceas para, em clima de lhe acompanharem os ensaios, ficar horas e horas na escuta obediente do seu desempenho ao sax enquanto realizava os ensaios. 

Figura das mais folclóricas, andava pelas ruas a transportar essas penosas pendentes dos ombros, quase a fazer parte da sua indumentária típica, causando espécie aos circunstantes, que ainda revivem as peripécias do artista e seu jeito engraçado.

Num desses acontecidos mais curiosos, lá pras bandas de Fortaleza, ao se descolocar a pé numa das avenidas centrais da Capital, após insistentes buzinadas, automóvel em flagrante velocidade terminou colhendo Temóteo, que caiu desacordado. O motorista se evadiu sem prestar socorro ao artista, deixado-o estirado ao solo. Diante da ocorrência, rápido populares cuidaram de chamar uma ambulância que transportaria a vítima à assistência municipal.

E ao ser atendido na emergência hospitalar, querendo detalhes do acidente, o funcionário quis saber maiores informações, indagando de Temóteo se observara a placa policial do carro que o atingira. Então, depois de fazer visível esforço de lembrar algo do que perguntavam, tudo que o músico conseguiu, com absoluta convicção, foi dizer:

- A placa... a placa, deu tempo não; gravei não. O que guardei na memória foi o só o tom da buzina, que ‘tava afinada em si bemol. 

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Tudo é de Deus


Esta noite, sem maiores justificativas, dormira mais cedo. E ainda mais cedo acordei. Quando acordava, senti profunda solidão e chorei. Copiosamente chorei. Nem sabia a razão, mas chorei copiosamente. De alegria, de solidão, de ausências, chorei. Algo que remexia nas entranhas me deixou escorrer pela face chuva de lágrimas que fez mais escuro o teto da noite no quarto e o panorama de tudo quanto há. Semelhante um milagre de extensões gigantescas, infinitas, senti jorrar de dentro de mim a força desta solidão do que fui, do que sou e do que serei, na sequência longitudinal de toda a Eternidade sem fim, sem limites. Espécie de grandeza absoluta, vi passar a minha existência na existência de todas as existências. Caudal de muitos rios cheios, lágrimas rolaram quais vivências do existir de objetos e pessoas. Há nisso espécie guardada do poder inigualável do amor, milagre de vidas sucessivas e presentes no Universo do inexplicável das palavras. Ser maior das existências, percorrei veias e lavei todas as faces de tantos com água e a emoção do instante que passa. 

Nisso, parei a anotar no silêncio as moléculas do movimento. Causa primeira do quanto há, vozes gritaram em mim o som das esferas. Perfumes doces, olhos acesos na escuridão dos dias, andei pelas estradas de florestas suaves, misteriosas, a falar gritos de paz nos segredos da alma. Quase inútil diante das inutilidades úteis de caminhar nos caminhos das existências, acalmei o instinto de viver e fiquei bem longe de pensamentos ou memórias. Louvor de proporções indescritíveis, entoava acordes da imensidão e tranquilizava o desejo de saber além das vidas. Só escutava os acordes da imensidão, a nutrir de bênçãos o mistério de um Eu que aceita no Infinito as dores do mundo, que regressa ao sono de que jamais acordara diante da noite dos elementos em festa iluminada.

A que servem os valores morais

Valores, ou seja, as bases sobre as quais estruturar o comportamento nas relações entre as pessoas, sociedades e natureza. Afinal se busca níveis melhores que dimensões arcaicas, de quando animais e bárbaros, dos tempos das cavernas. Eles evoluíram desde que o homem é homem, de quando resolveu aprimorar realizações no decorrer da história. São padrões mais refinados de convivência que resultam nos estados de justiça e civilização.


A que servem esses tais valores morais? Só visam estabelecer pactos em favor dos grupos, ou indicam crescimento dos indivíduos nos planos elevados da ética e do progresso de sonhos maiores?

A psicologia evita o âmbito da religiosidade, mantendo compromisso restrito ao campo das reações aparentes das pessoas. Contudo há limites inatingíveis no desconhecido. Pois a ânsia das soluções bate de cara nalgumas impossibilidades científicas, estação provisória do conhecimento. E a dor segue doendo pedindo paz aos organismos enfermos da coletividade.

Nessas horas restam os valores, decisões pessoais estabelecidas no íntimo de vencer o vazio existencial nas criaturas humanas. Algo que deve existir plantado no território silencioso da solidão visando balizar as dificuldades existenciais. Nessas paragens longas e angustiosas, luzes acendem quando guardadas. Lembram a parábola cristã das virgens loucas, que não mantiveram o azeite de acender as lâmpadas, na chegada imprevisível dos noivos. E ficaram lá perdidas nas trevas do abandono, enquanto as prudentes revelavam suas localizações.

Nas noites e febres do isolamento a que se submetem os desavisados vagando pelos mundos incertos, o plantio e a colheita bem aos moldes daqueles que aperfeiçoam valores morais servem nas ingratas situações da sorte e reduz a fome de Amor desse tempo transitório. 

terça-feira, 11 de abril de 2017

A liberdade e o sonho

Um povo sem liberdade logo perderia o direito de sonhar em ser feliz. Eis tema bom por demais, nas eras em que falam de riscos, quando povos entregaram a autonomia sagrada em mãos dos ditadores insanos. Venderam almas nos leilões da indiferença e vão vazios de querer, só, exangues, descendo ladeiras da insegurança. Precisa lutar. Sustenta a fragilidade dos amanhãs, ainda que incertos futuros batam às portas, nas noites frias dos vendavais. Entregue não, em tempo algum, seu poder sagrado de viver as imprevisões. Pense nos filhos e netos que um dia voltarão lembranças aos fracos que lhes largaram nos calabouços infectos da timidez moral. Mantenha a chama viva da esperança em brasa, no íntimo coração; preserve a dignidade que, com tanto esforço, depositam às gerações que combatem o totalitarismo. Lembre revoluções perdidas que deixaram rastros de dor e sangue, lares desfeitos e heróis esquecidos. 

Por isso, alerta sempre de olhos abertos nos aventureiros de plantão, que tão só desejam alimentar a fera das vísceras à custa da tranquilidade dos campos e dos valores da amizade fiel. Foram tantas luas de poesia e sonho nos dias melhores, e agora mais do que nunca, a Humanidade há de praticar as lições do empenho coletivo e calar a voz dos vícios e a covardia indiferente.

Credos mil clamariam aos Céus o equilíbrio necessário da sabedoria e dos sonhos numa sociedade justa. Reserve, pois, os bons ideais adormecidos e reinicie a jornada rumo ao Sol da liberdade. Ganhe o prêmio da coragem e plante amor no solo da felicidade eterna. Conduza a vontade soberana aos dias de paz, de quando nunca abandonara a certeza nas vezes de quem aceita sustentar o poderio da Natureza através do deus humano que somos todos nós, estes senhores da História. 

domingo, 9 de abril de 2017

Que é o destino

Lá certa vez, Rabi Baruch, místico judeu, afirmou: Como é bom o nosso Deus, como é doce nosso destino. E perguntam sempre o que seja destino. A alguns, pura fatalidade, porém fruto amargo ou doce das práticas individuais ou coletivas onde o plantio acontece na bondade com que Deus oferece os meios a todos de, indiscriminadamente, obter a Felicidade. Quando o agir desobedecer aos padrões da natureza, usar dos instintos malévolos sem levar em conta os valores bons, então deposita nas mãos das consequências o que virá no correr dos acontecimentos. Ou seja, liberdade existe a fim de escolher os princípios de uma coerência universal, ou divina. 


Os outros animais, por sua vez, desenvolvem as experiências que levarão, adiante nas eras, à virtude. Entretanto único aspecto nos difere deles, serem irracionais, sem o senso de escolha. Pois só agem por agir. Nós agimos e plantamos; na prática, colhemos os frutos dessa liberdade, ou existência racional. No entanto a compreensão chegará à medida que aprendermos os resultados que ofereçam os nossos atos. Há nisso o peso da responsabilidade pela consciência da dor e do prazer, dois instrumentos de avaliação e manutenção do sistema de existir e saber que existe. 

No tempo, nosso caderno de rascunho, escrevemos a nossa história imortal, porquanto espiritual. A memória guardará os frutos. Memória ou passado guardado dentro da gente-indivíduo. Acertou, segue em frente a recolher as boas safras e replantar. Errou, então se apresenta o Senhor do destino, munido da balança da imortalidade, a oferecer o saldo das existências em forma de novas oportunidades, ou reacertos.

Chegará sempre o produto final do compromisso de viver, e nisto seremos o começo e o fim em nós diante do Eterno. Quem manda ser ainda pequeno e sonhar em um dia ser maior?!

(Ilustração: Anja Stiegler).

sexta-feira, 7 de abril de 2017

A história de minha geração perdida

Quais saídos todos pelas portas do mesmo colégio, em profusão famintos audazes sonhadores, espalhavam esperança pelas praças. Os professores alimentavam a manada com o elixir da longa vida e poderes sobrenaturais. Ninguém tiraria por menos, a menos que houvesse o que houve, de alguém deixar de dizer aos donos da floresta que eles eram todos encantados e dotados dos tais poderes mágicos. Que logo mudariam em festa, trabalho e pão a sociedade inteira, a partir do terreiro de casa. Sei que éramos melhores do que todos os outros super-heróis criados depois na indústria de massa.

Acreditávamos que tudo seria diferente a partir de nós, os agregados maiores da sorte impossível. Farrávamos só alegria o ano todo, isso longos dias, longas madrugadas, pelas quermesses, tertúlias e matinais. Os gênios da amplidão afinal haviam nascido diante do domínio das bestas insensatas. E tomaríamos territórios e territórios, e que viessem os demais. 

Chegávamos aos tempos trágicos do Vietnam, quando reservistas fugiriam da grande nação americana rumo ao Canadá, à Suécia, rasgando os alistamentos. Aceitariam o inevitável do anonimato das lamas do Woodstock. Hippies espalhavam flores pelo mundo afora. A contracultura impunha derrotas ao sistema vigente. Amor livre, drogas campeando soltas nas tardes frias e noites de amargura, porres mil, alimentação oriental, jornais alternativos, mochilas e sacos de dormir viajando ao vento nos ombros emblemáticos dos dourados sonhadores, ausência de um tudo, guitarras ferindo as tradições, prisões, repressão, angústia e desespero.

Uns acharam indicado percorrer matas e organizar trincheiras. Outros montariam fazendas coletivas psicodélicas, institucionalização da pobreza e da fome, uma revoada geral de anjos alucinados pelos dramas de nenhuma possibilidade que demonstrasse a realização plena do sonho daqueles poetas cantores. Houve espécie de polarização nos festivais das canções, os autênticos das raízes populares e os santos das novas tradições urbanas, usufruto da cultura dos poetas das estradas.

No Brasil e noutros países latino-americanos, no entanto, o capitalismo internacional instalava os modelos dos regimes totalitários. O brilho desaparecera pouco a pouco, ao sabor das derrotas sucessivas. Só a saudade envolveu aqueles embriagados corações alucinados, final esse a lembrar com fidelidade poema clássico de Manuel Bandeira: - Estão todos dormindo / Estão todos deitados / Dormindo / Profundamente.

(Ilustração: Fotografia de John Olson, Hippies anos 60).

Instintos guerreiros

O lado da sombra na Humanidade deixa claro quanto ainda precisamos desenvolver em espírito até dominar todo o Inconsciente. Parcela por demais significativa de tudo quanto há dentro da gente permanece escura, sem aproveitamento na vida de relações. Isto representa o lado escuro da personalidade coletiva e individual. Em consequência, pesa sobre o território conhecido as nuvens cinza das ações nefastas, guerras, vícios, desencontros. Em face dessa realidade indomada, explodem as paixões.


No íntimo disso, impera a ausência de controle, de equilíbrio. As flutuações de humor, os momentos de insegurança, que têm a ver nessa relação dos sujeitos e dos valores negativos.

Porquanto tais considerações, duas claras respostas trazem ao tabuleiro a importância de trabalhar o lado selvagem da personalidade e a necessidade dos meios de sobreviver psicologicamente aos desafios. Ninguém que se condene diante das perdas de ânimo. Lembrar as escolas que ensinam paciência, humildade, resignação. Esforço constante e útil, todos devemos dar uma chance à nossa memória individual. Ser justos conosco, sem extremos. 

Poucas, senão raras ocasiões, carecemos de gosto no processo de existir. As religiões, por exemplo, pedem paz no coração, fraternidade, crescimento dos bons costumes interiores da alma. Os grandes mestres vieram na intenção de orientar pela busca de novos tempos.

Ainda que submetidos aos níveis inferiores de agressões e desrespeito, o modo prático de evitar o agravamento das horas amargas é controlar as respostas de vingança, maldade. Isto serve entre as pessoas e entre as populações. Fraqueza representa revides.

A descoberta da paz, portanto, acalmará o sofrimento e abrirá portas de viver em consonância aos meios ordenados nas lições da Natureza. Falar de bons instrumentos de vencer as perversões, manter a tranquilidade nos grupos sociais, no mínimo valerá de indicativo da vontade positiva que unirá as criaturas no que seja um futuro próximo.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

A palavra perdida

Se fôssemos a julgamento também pelos pensamentos que não logramos exprimir, disso ninguém jamais chegaria na divina Perfeição. Marcharíamos a passos lerdos o resto dos eternos e ainda ficaríamos devendo uma banda, visto o que já recebemos de bênçãos. Porquanto a luta sobeja no esforço de conter a lama que vem às portas dos indivíduos sem despejar no seio dos demais. São tantos fatores egoístas a prevalecer dentro dos seres humanos que inútil pretenderiam reverter o quadro da dominação dos instintos perante o sonho da esperança. Mas nisso apresentamos a face do herói que somos nós. Da casca adentro, um cipoal de química inorgânica de causar estrago à luz de qualquer dia (ver os noticiários).

Então, desse quarto de prudência habitado de monstros pecaminosos, daqui de fora, é preenche o tempo dos calendários, a desarmonia/harmonia dos tempos de comunicação. Os tais meios de comunicação de massa, mau exemplo ativo, multiplicam a valer o poder da transmissão dos pensamentos nefastos, apesar de contidos lá dentro dalguns. Acrescentaram depois a fibra ótica que circula os continentes e os tais telefones-computadores, que agora regem o mundo em velocidade estúpida. Destarte, enquanto a humana intenção trabalha duro a fim de dominar os impulsos da animalidade das criaturas pensantes, máquinas aceleraram o pecado em volta do mundo. As taras invadem lares nos horários nobres, educam/deseducam a espécie dos macacos inteligentes e fazem ponto nas portas das delegacias entrevistando líderes arrependidos do tanto do furor uterino da fama.

A palavra que dissera o Senhor no início de Tudo sumiu por encanto da memória dos tempos. Até mesmo os antropoides chegam a duvidar de que, numa manhã de Luz, Ele esteve lá do astral a comandar a elaboração das águas, dos astros, do chão, do firmamento, dos animais, e segue firme no comboio rumo do Infinito, porém guardou em Si a expressão original do poder que afirmou a plenos pulmões no dizer da Criação.

Assim, quais peregrinos que existimos na face das manifestações da Natureza, andamos de ombros baixos, porém na certeza inevitável de ter de obedecer ao Pai e só de tal modo desejar ser felizes. 

terça-feira, 4 de abril de 2017

A consciência de Deus

Um dia Ele conversaria consigo próprio e na hora quisera saber de si nas principais razões de haver querido criar tudo quanto existe. Se ninguém desobedecia ninguém, lá diante do Reino dos Céus, quais os justificativas de pintar os quadros magnânimos da Criação, permitir chegar outros deuses no Panteão da plenitude? Abrir espaço e dividir com quem nem imaginava o estilo que trariam, os modos de comportamento inesperados? 

Mas acomodado naquele universo de tanta calma... Algo pedia providências, reclamava atitude, mudanças nos quadros da história velha que dominava o território, espécie forte da monotonia divina de anjos acomodados a tocar harpas nas nuvens suaves. Mexia por dentro o sonho de possuir companhia na vastidão continental dos hemisférios equilibrados. Ah, como diferente seria se assim não fosse. Solidão transcendente, rotina de infinitos cósmicos precisava de transformações urgentes. Desse clima de considerações, logo resolveria promover novos sistemas dos que ora estão em funcionamento.

Pois entre os objetos e os sujeitos, quem saberia da existência, possuiria consciência dos objetos sem ser também um sujeito, uma vez os sujeitos, e só eles, poderem saber o que sabem e ter a consciência de saber que existem, eles e os objetos. Equação impossível de responder não fosse através das outras existências que não fosse apenas uma, o Uno criou o Verso, e nasceram de tal efeito os universos do Universo inesgotável.

Viram de que origem a origem nasceu? Sem sujeitos jamais haveria consciência... E a única Consciência decidiu criar outras consciências e permitir que também estas viessem reconhecer as maravilhas de existir, que festa a Existência. Numa ação no mínimo suprema, soberana, e Deus promoveu a partilhar do Mistério com os seus filhos que daí vieram, da ordem maravilhosa de permitir que aqui também viéssemos e buscássemos a essência dEle na experiência de viver semelhante oportunidade. O Amor é a linguagem que adota a falar no coração da gente, permissão inigualável de conviver nos céus da grandeza de ter um Pai amoroso e fiel até os limites da Eternidade. Depois disse Jesus: - Sois deuses e ainda não o sabeis.

domingo, 2 de abril de 2017

A ciência da boa alimentação

Apenas um gesto e querer assim a saúde usando da boa alimentação. Liberdade é bem isso, escolher do que é bom e ser feliz na colheita dos frutos. Mas por que tanta indiferença com essa máquina que a Natureza nos proporciona? Trocar o prazer pela dor, ninguém sabe explicar, sabe fazer, só. Deixar de lado o bom senso e meter a cara na farra das experiências do mercado, à troca de aparente satisfação pessoal. Bicho besta essa tal de massa humana, sacrifício ambulante que somos nós, pretensiosos animais da própria carga, à procura da sorte inconsciente. Tange os instintos e colhe farrapos.

Nisso de falar da capacidade seletiva dos alimentos que ingerimos a cada momento têm profecias, remédios abandonados em latas de lixo que viraram os organismos da sucata, tropas de burros a caminho dos manicômios e ausências. Ninguém ou quase ninguém raciocínio tivesse e não aceitaria ser campo de prova dos tempos de aços e tecnologia. Buchos de prova dos lucros, oferecem a vida quais vitimas do inevitável.

Ver isso, meu amigo. Repensar o que comer, estudar a reação da limpeza química no caminho dos mercantis. Calcular os prejuízos que causa o açúcar na saúde da espécie que luta pela sobrevivência contra satisfação pessoal. Invés de jogar na lama o direito do bem estar, trabalhar com força na seleção dos bocados de trazer à boca, cuidado minucioso de quem busca eficiência no que come. Fosse comprar roupa, joias, telefones, zelaria pelo melhor; no entanto, face a face com o mistério da nutrição, peca de dar desgosto. Resultado dessa imprevidência, obesidade, males tantos, doenças incuráveis e outros muitos diversos trastes.

Acordar significa, pois, lei de viver certo diante do inesperado. Abrir os olhos e a boca ao saber dos alimentos vale de importância mil, evita choros e decepções, cabe nos avisos aos que desejam bons resultados na paz das nossas mesas. 

sábado, 1 de abril de 2017

Todas as manhãs

Quando ele vem já é dia, nunca chega antes, o Sol. Claridade absoluta no tempo, revela os segredos da visão e deita claridade ao mar e seus territórios.

Mestre das possibilidades infinitas do trabalho e da criatividade, alimenta de luz as existências e transmite força aos elementos da Natureza. Assim e para sempre, abraça o compromisso de viver das criaturas em transformação.

Uns querem saber mais, e menos sabem. Ignoram as normas de sabedoria que causam a humildade, valor essencial de quem deseja paz. Ainda doutro modo, há permissão de aprender por força das carências, música das esferas em eterno movimento. Átomos da felicidade que transporta aos níveis da procura, todos seus filhos nutrem desejo de lá um dia, hoje até, compreender o gesto de sorrir.

Enquanto isto, toda manhã ele vem de olhos abertos a clamar vida no íntimo das horas. De passos firmes, alimenta de amor as colinas dos céus, a deslizar nuvens diante do azul do firmamento. Horas, suave; noutras, intenso qual quem pede responsabilidade dos filhos. Aquece esperança nas flores e afina o trinado de todos os pássaros que voam pelo céu. Um longo dia pela frente de renovação dos pensamentos, palavras e sentimentos.

Diferente fosse, poder só tivesse e depressa corrigiria o formato das esferas; acenderia de virtude os corações apreensivos à procura do mistério. Trabalharia em segundos a história surda de tantas e quantas gerações impenitentes. Imporia condições aos seus de que melhor poderia ser, conquanto teimosos e ridículos causam sofrimento aos demais sem tocar as fibras da consciência, feitos mulas desalmadas.

aJá adiante, lá pelos finais das tardes, mantém a paciência e deixa que as sombras cubram dramas humanos, de animais indecisos que são, e some esplendoroso nas fimbrias do horizonte, deixando pelos ares pequenas luzes a brilhar norteando a solidão que, de saudade, usufrui da certeza de que ele regressará sempre novo logo amanhã bem cedo.