sábado, 30 de julho de 2016

A um amigo

E depois de tudo ainda ser feliz diante das impiedades de nós seres humanos em evolução. Nesse exato meridiano entre a dor e o sacrifício ali vem o amigo. Ilha na tempestade mais cruel, repousa sobre a sempiterna elevação de todas as cordilheiras, braços abertos e coração leve, olhos aflitos nas nossas aflições, ameno desejo de paz face aos gestos desesperados, pouso das mais largas perfeições, brisa das puras manhãs de primavera e luz das radiosas alvoradas.


Que fortuna a existência do amigo verdadeiro, sem subterfúgio, corajoso e santo... Bálsamo de todas as crises, vistas de toda a escuridão, está a postos face a eternidade, braços e mãos disponíveis a mitigar sede e fome de sinceridade e apreço. Longe das agruras das fraquezas que corrompem, estendem aos nossos percalços a possibilidade do novo renascer.

Quão divinas virtudes os amigos incondicionais têm a oferecer, peças chave da infinita maravilha da natureza prodigiosa e sã, bênçãos dos alentos e da esperança, tecidos resistentes da realidade sagrada, dos alimentos sadios e das alegrias da fé restauradora.

Amigos, sonhos da felicidade em crescimento, sementes das sinfonias imortais e dos melhores contos, instrumentos da sublime criação na forma da imagem de Deus à sua semelhança, destarte eles, os amigos, suprem as carências de todos os desesperos e equilibram toda injustiça, ao sabor inigualável dos frutos de galáxias e paraísos inimagináveis.

Digo com gosto aos meus filhos que os dedos de uma só mão já sobram a contar o tanto de amigos verdadeiros que uma única vida bem pode nos oferecer, porquanto ter amigos faz nascer da conquista que realizemos, das flores que plantemos e do amigo que a eles um dia fomos até cativá-los definitivamente à única certeza de amor.

A amizade é uma longa estrada de dois sentidos. A cada conquista da amizade genuína acede uma estrela nos céus dos nossos corações, algo de perene, inviolável, superior.  

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Consciência sem pensamento

A máquina de formar pensamentos funciona 24 horas, deixando as criaturas humanas longe de mergulhar em Si a fim de enxergar a profundidade dos sentimentos. Quais ondas incessantes, os pensamentos preenchem o dia a dia longe de escutar o que o coração tem a dizer. Domina os sentidos de forma tão intensa que a civilização dos tempos atuais resolveu colocar no poder o exercício do pensamento, espécie de mandachuva efetivo das necessidades, atitude proibitiva que invade os momentos e comprime as instituições de poder.

Contudo existe a consciência isenta dessa frigidez só existente por conta dos pensamentos ditatoriais. A peleja, portanto, é praticar o exercício de contar a sanha da imaginação e oferecer qualquer que seja o espaço de valer outras condições da mente, a observação da espiritualidade, as emoções e os sonhos que formam o outro aspecto da alma, sacrificados pelo desejo efetivo do intelecto predominar o universo das existências.

Os orientes trabalham isso, de conter a duras penas o furor do pensamento, mostrando em troca as virtudes da concentração e a substituição do desejo cego de prevalecer, invés de viver com sinceridade as oportunidades que há no outro aspecto da personalidade, o caminho da sensibilidade criativa, o afã de rever as formas de existência.

Porém nunca dependerá de terceiros a descoberta do poder do sentimento, o amor, sentimento maior, a amizade e os substitutos do afeto interesseiros das ações. Superpor ao egoísmo o nexo do sentimento. Abrir as portas do coração aos valores nobres que persistem sob o nexo agressivo da racionalidade. 

Entretanto está a exigir das práticas pessoais a oportunidade desses gestos, o que mudará a face das pessoas e o cenário das sociedades, fruto das providências individuais sempre exigidas diante do marasmo em que estacionou as experiências da desejada evolução da humanidade. 

terça-feira, 19 de julho de 2016

Poder infinito do Amor

Sabor de paz no coração da gente, que evolui em transformação da profunda consciência dos que andam vagando pelo chão. Nessa extrema disposição de ver acontecer os sonhos das verdades maiores, as luzes acedem alegria que circula os panoramas da beleza universal. Sentimentos superiores de harmonia invadem os pensamentos e trazem de novo os momentos felizes da primeira infância, de quando havia inocência original. Ainda que sabendo o que depois chegaria, melhor assim, permitir renovar as possibilidades do espírito em forma dos fenômenos em movimento, a crescer o instante da satisfação de contar história cheia de solidariedade e respeito passados os pesadelos e equívocos. 


A salvação vem, pois, no seguir da humanidade, quando concretizará as promessas dos místicos face ao desenvolvimento da sensibilidade humana, portas abertas a todas as respostas positivas que nos aguardam. Sentido da inteligência universal, a força da vida eterna revelará o quanto de infinitude mora aqui do lado a falar da saída clara do final do túnel das contrações de parto que floresce no calendário das eras.

Falar com gosto da grandeza do detalhe que leva ao todo, o amor que em tudo impera e sobrevive, alimenta as chances de concretizar esperanças em forma de bênçãos. Conter a ansiedade das angústias, reter na fonte o desespero dos aflitos, reconstituir de modo sadio as tragédias do egoísmo antigo, produzir cena perfeita da tranquilidade idealizada pelas pessoas de boa vontade. 

Qual não fosse de tal jeito e jamais a certeza das vitórias depois da luta. Perdidos estariam os seres e desfeitos os cenários inteligentes da Criação. Argumento consistente, o tempo presente eternizará pleno o amanhecer das vidas que desenvolvem os planos de realização das almas, emissários da grandiosidade perene, na luz esplendorosa das menores existências. 

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Já é hora de saber

Nem sempre podemos ignorar, pois existe a hora de saber, quando todo mistério se desfaz. Sobre essa hora queremos falar, apoiados na indispensável atenção do leitor.

Tanto disseram sobre tantas coisas, enquanto o essencial permanecia posto à margem, que isso agora vem a lume, parido na força visceral da precisão, no chamado enigma humano, centro e motivo deste ligeiro comentário.

De início, abordemos o cérebro, que se compõe de uma figuração dupla, montado sob a estrutura dos dois hemisférios, que, articulados entre si, geram a sua função principal: o esquerdo e o direito, no dois da mesma concepção nas outras coisas naturais.

Chineses conheciam esses aspectos e os estudavam sob a designação de Princípio Único do Universo, ou Lei da Bipolaridade. Tudo tem que ter o seu contrário para poder existir - Yin/Yang.

No Egito Antigo, o sábio Hermes Trismegisto examinara o assunto, considerando que um mesmo princípio perpassa todas as coisas que existem.

Assim, obedecemos, mesmo que diante de aparentes desobediências, por nos achar submetidos à Lei universal.

Outros exemplos revelam as tais dicotomias complementares: mulher/homem; noite/dia; Lua/Sol; escuro/claro; doce/salgado; baixo/alto; negativo/positivo; frio/quente. Pares de equivalências se distribuem com perfeição, lições constantes dos valores eternos que os mantêm.

Onde pisarmos, cumpriremos as ordens eternas do Supremo Ser, criador do equilíbrio de tudo o que há.

Tais evidências persistem na energia elétrica, que apresenta os dois pólos: terra e fase, ou fogo. Terceira alternativa inexiste além da harmonia dessas lateralidades, totalizando a força. Quaisquer disfunções redundariam no desmantelamento e posterior inércia dos sistemas. Ao ocorrer desequilíbrio nos extremos, o barco da ordem irá a pique.

Quando falamos que o cérebro se estabelece nesses dois inter-complementos, vale observar também que são partes à procura do todo, conclusão dos estudiosos da alma nas várias escolas, isso que assegurar saúde mental por via de negociações conosco mesmos, na maior de paz interna e obtenção da almejada felicidade.

Vertentes religiosas, igualmente, indicam o nosso outro lado como a trilha do encontro rumo à evolução, plano elaborado pelos milênios afora, no processo denominado de Individuação pelo psicanalista suíço Carl Gustav Jung.

Jesus de Nazaré marcou a história sob o signo de Cristo (o Ungido de Deus), o Eu verdadeiro que nos ensina; Sidarta Gautama, por sua vez, ficou conhecido como Buda, o Iluminado da Ásia. Na Canção Sublime, dos vedas, Arjuna ouviu Krishna, a Suprema Personalidade Divina, que o conduziria à vitória maior sobre os exércitos da Ilusão. Já Saulo de Tarso mudou até de nome (Paulo) após encontrar o Cristo em pleno caminho de Damasco. Isto para citar alguns dos fenômenos mais notáveis de transformações que marcariam a História.

- Descobrirás a Verdade e ela vos libertará -, recomendava Jesus, nas suas pregações ao povo ainda voltado quase só aos atos da vida transitória.

Além destas, outras afirmações suas se voltam a esse esclarecimento: Se teu olho é bom, todo o teu corpo é bom. Se teu olho é mau, todo o teu corpo é mau, disse de acordo com os evangelistas.

O espaço das palavras, ao seu modo, reclama a economia de detalhes. Hora de saber, título escolhido a fim de escrever sem qualquer subterfúgio. Portanto, eis o que achamos devesse constar recordando a assertiva dos sábios de que Deus é a simplicidade das coisas mais simples.

Por via de consequência, ao buscar novas perspectivas da realização pessoal, avaliemos o assunto dos lados da mesma moeda, então.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Há um Pai Superior

Resta só localizar dentro de Si a existência do absoluto das existências em face das urgentes necessidades que se nos apresentam no decorrer da jornada deste chão. As evidências valem de indicativa a que nos rendamos a tal pressuposto básico de não dar os pés pelas mãos e viver sob os critérios da melhor felicidade, respeitar e corresponder ao senso do dever cumprido. Poucos, no entanto, chegam a tais conclusões, quanto andam prisioneiros dos apegos, detidos nas encruzilhadas dos destinos sob o jugo das piores dependências. Ao admitir e integrar os valores essenciais de viver com organização, nisso demasiadas criaturas vagam perante as mágoas e os desejos, no afã das conquistas mais inúteis e absurdas. 

A busca constante da incoerência no meio dos desertos do egoísmo gera desespero, angústia, náusea, aflição, equívocos, dores às quais medicamentos a bem dizer não existem, face serem afecções das almas embriagadas, onde deverá persistir, isto sim, os motivos justos da perfeição de que fogem os atores dos dramas. Plantam ilusões e colhem frustrações, alimentam feras que lhe devoram a cada instante, decorrência natural das perdições do sentido ideal da presença do Pai Superior junto de nós.

Jamais, portanto, obterão sucesso aqueles que destroem a paz alheia. A ganância de triunfar nas marcas vazias de sinceridade produzem as farpas diárias de que sabem os noticiários sensacionalistas. Caem os reis da malícia e ainda querem saber aonde largaram as possibilidades de vencer no mundo. Falsos heróis invadem a respeitabilidade e ainda assim cream na probabilidade dos melhores sonhos. Vadios equivocados, pobres mortais em crise perante o Eterno, trazem já na ignorância os males que lhes irão destruir logo à frente. 

O conceito da presença maior em nossas vidas por sua vez nutre o exercício da esperança. Felizes os que desde antes plantaram as sementes dos resultados positivos e adquiriram a amizade dos Céus em projetos de elevação a níveis plenos de religiosidade e Amor. 

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Abrir as portas do sonho

Nesse mar de letras e palavras lançadas ao vento, nas noites de mel, a inspiração sacoleja entre os ossos da garganta quais animais selvagens, impaciência que crescer até olhar o Paraíso das tardes mornas desse estio.

Pés suspensos no firmamento avermelhado, solidão de nuvens e nuvens, deslizam entre elas os pássaros que retornam aflitos aos ninhos, entre os dentes amolados da boa da noite, que já se aproxima devagar. Histórias soltas, pois, à brisa dos movimentos dentro do peito, querem iniciar as lentas longas que adormecem os deuses horas antes, nos desejos satisfeitos e marcas intensas no céu. E foram sempre as mesmas tais possibilidades, na descoberta da libertação de Si e permissão de abrir os braços ao que os demais ofereceram de liberdade, objetos de uso pessoal, porém considerados de segunda mão. Libertação é assunto de determinação individual, longe do que os outros propiciem.

Orem bem e observem o resultado forte de pensamentos e sentimentos embaralhados pelos dedos do destino; lá vão todos eles, feitos os rebanhos das horas tangidas, abandonadas no passado, pelos ponteiros da Lua crescente. Poucos deixariam, assim, de trazer parcelas e mais de verdades e as pedras preciosas que lhes jogaram na face enquanto contemplavam crédulos, inocentes, o linho fino dos raios de noite que banhavam as matas, à cata das ninfas perfumadas nas doces melodias do presente.

A bondade segue viva nas pessoas, atiçadas ao fogaréu da esperança. Heróis das epopeias siderais pisam as ruas largas de existência, mensageiros de novas oportunidades, barcos que singram os mares da Felicidade. Sempre será assim, donatários de todas as chances que praticam o evangelho da coragem encontrarão plenitude nas constantes aparições dos astros a toda manhã.

Emoções de ampla sensibilidade norteiam firmes as asas dos anjos que construíram as páginas do futuro, que batem intensamente as tábuas toscas, no cais do Infinito. 

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Alegria de reviver

Usufruir dos sabores desta vida, porém na ciência de que tudo passa e transforma os argumentos da realidade em sonhos renovados. Construir amor nos corações, função essencial de revelar o sentimento das luzes da felicidade no peito dos momentos mais abençoados. Revelar por isso o gosto de aproveitar os mínimos detalhes o Infinito à custa de trabalhar o seu interior na elaboração das possibilidades da claridade nos corações em propulsão. Acreditar sobremodo na canção absoluta da amizade entre os irmãos da Natureza. Pautar o desejo nas malhas da crença, na coragem, nos compromissos abertos da produtividade do ser.

Abrir os braços ao esplendor das alvoradas, sorrir, alimentar a paciência nos gestos de aproximação. Força constante de superação dos obstáculos que se nos apresentam, os dias rezam na intenção de oferecer lições inevitáveis de crescimento da alma. Aceitar o destino que conduz as naves eternas ao patamar da verdade plena. Espécie de tranquilidade que rege o movimento das marés, lá estará a receber em flores o que plantarmos em trabalho e honestidade; repartir com os demais a estrada dos Céus.

Enquanto isto, a beleza nos espera a oferecer brindes de paz aos muitos que venceram o desânimo e juntaram os cacos das derrotas em novas alternativas de alumiar o prazer da continuidade. Saber quando sustentar os instintos e respeitar os semelhantes nas festas da solidariedade, quermesses de fraternidade multiplicada.

Sempre orientar os pensamentos a vivências de bondade, justiça e paz. Verbalizar o calor do Sol nas ações que resultem na harmonia das individualidades e no cenário das coletividades. Saber sobretudo apaziguar as ansiedades que machucam, salvar os seres menores de lhes pisar em cima e permitir a divulgação de notícias boas pelo mundo da fama desses artistas da sobrevivência, tudo isso a gerar vontade do destino, gosto de crescer nas próprias raízes, sem tomar dos outros o direito universal de também serem gente.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

A que serve saber tanto

Vezes sem conta e os pés significam as mãos no tabuleiro da História, ainda que persista a racionalidade humana. Quantas e tantas, guerreiros surgem no palco dos conflitos e haja perdição, no entanto o conhecimento lá deixaram,  atrás nas manhãs esplendorosas dos bancos das escolas. Viver e não saber; saber e não viver, eis o contraditório das nações. Nem sempre o mais fácil é o ideal, e quase sempre o ideal é o difícil, abandonado pois. 

Daí o dilema de a que serve a educação entre os bizarros, os bárbaros. O Céu bem aqui perto dos dedos e os canhões detonam os calvários e as populações relegadas ao descaso.

Por diversas vezes, num mesmo dia chegam chances de praticar a luz do conhecimento, enquanto pernas querem andar o sentido inverso. Prudentes passos que levem ao melhor desempenho os evitam, políticos e feras, no norte do destino. Deixar de lado o brilho fosco dos punhais, contudo criar fortes razões de não mais ferir de morte a civilização entontecida no sangue até agora derramado nos matadouros públicos.

Fossem só ações individuais, achariam a porta de saída os corredores da transformação. Razões existem de sobra a sérias mudanças de comportamentos nas novas oportunidades. Restam, todavia, filmes e mais filmes de guerra nas salas de cinema. Ver iluminação perante os estertores da dor caracteriza o patíbulo da raça em largas proporções, apesar das conferências de conciliação que promoveram nas décadas anteriores. De tudo sobraram estantes cheias, arquivos abarrotados de soluções jogadas na lata de lixo da tecnologia. Pouco sonho de boas histórias que terminem felizes nos braços de Deus, eis o fruto das jornadas milionárias dos humanos rústicos.

Mas há de haver consciência que produza outras máquinas que fervilhem o hemisfério bom, que acordem aos momentos agradáveis da verdadeira amizade, da realidade do sonho auspicioso, justo, digno, pródigo de bênçãos e paz, porquanto a isto existe a Criação. Erguer os olhos a Si, no sacrário do coração, este o caminho da realização plena de todas as crenças e filosofias, à disposição dos lúcidos. A prática fiel acima de todos os limites da pequenez dos primatas, nos balcões da Esperança. 

Uma história de auxiliar

Ao tempo em que era da Diretoria da União Espírita Cearense, por volta da década de 80, Seu Zé Alves viria algumas vezes a Crato e dele ouviria contar este episódio:

De quando Lampião fracassou na invasão a Mossoró, sua maior empreitada e maior derrota, onde perderia, dentre outros companheiros, o irmão de que mais gostava, Antônio Silvino, daí entraria pelo Ceará com o malfadado bando. 

Atabalhoadamente penetrava pelo sertão do Jaguaribe numa madrugada, estando uma noite, ele e os cabras mortificados de insana sede, e depararam casebre perdido no meio da mata. Bateram à porta donde escorria a réstia insuficiente de luz no escuro da imensidão.

Senhor maltrapilho lhes abriu a parte superior da porta da casa, sustentando às mãos uma pequena lamparina, que projetou a claridade ao terreiro defronte.

- Boa noite – falou o chefe do bando. – Nós queremos água de beber. O senhor pode trazer logo, pois estamos com sede?

Indo dentro da casa, o homem daí a pouco o regressou portando um copo de alumínio e caneca com água, que ofereceu ao famigerado bandoleiro. Antes, porém, deste degustar o primeiro gole, já aproximando da boca o copo, ouviu a vozinha agoniada de criança, no escuro próximo do dono da casa:

- Não beba não, meu senhor – gritou a criança.

Desconfiado, Lampião baixou o copo e perguntou a razão daquilo. Ao que recebe por resposta:

- É que somos leprosos, e vivemos aqui isolados no meio dessas capoeiras, longe de tudo e de todos.

Lampião não só bebeu da água, como forneceu aos cabras, à medida que recebia novos canecos do sertanejo, que lá dentro corria a buscar.

Satisfeitos da sede, enquanto arranjavam o jeito de pernoitar nas imediações, Lampião notou não só uma, mas duas crianças juntas do casal, dois garotos pequenos. Nisso indagou do pai se este gostaria que o facínora os conduzisse a Juazeiro do Norte e os deixasse sob os cuidados do Padre Cícero, que lhes daria educação necessária.

O pai combinou com a mãe e permitiu que os filhos seguissem com o bando.

Segundo contou Zé Alves, eles dois estudaram e receberam auxílio do taumaturgo juazeirense. Seguirem diante carreiras de Medicina e Engenharia, quando viveriam no Rio de Janeiro vida equilibrada e próspera.

sábado, 9 de julho de 2016

Ao vento frio de julho

Enquanto sobre a serra voaram as primeiras andorinhas nas brincadeiras festivas de princípio de estio, ele andaria passo antepasso por meio das árvores do pomar.  São mais diversas as qualidades: pinhas, maçãs, mangas, cajus, tangerinas, laranjas, bananas, seriguelas; de olhos bem abertos, contempla o céu azul na silhueta da folhagem, vendo percorrer apressadas as nuvens do firmamento, afeitas à jornada constante do movimento das folhas no intenso calor do verão prematuro. 


Houvesse testemunhas, e havia, logo notariam, notaram, a sua presença de peregrino pelos olhos no futuro dadivoso das frutas, quase querendo antecipar o depois diante da imensidão sem fim do tempo eterno. Algumas delas, das meras testemunhas, na maioria de acusações incriminadoras, apontavam  dedos remelentos na direção donde vinha o vulto. Algo que significaria mera condenação prévia e execução sumária, que inundava o ar da manhã, contudo ausente de realidade pura, vista a velocidade com que exibiam os juízos alienados. 

E ele andou alguns momentos, até quando teve coragem de estirar os braços aonde os dedos pudessem adquirir os primeiros exemplares das belas frutas, porém quiçá ainda verdes; já maiores, no entanto verdes, longe do sabor típico da estação. Experimentou calcar dentes na pele dadivosa de uma manga, ou de uma maçã, o que deixaria de lado na intenção doutras mais. Estas próximas, entretanto, puxadas a maduro, a saborosas, vicejantes vivas em mãos ansiosas de novidades.

Só ali, então, sentiu de verdade a certeza do futuro maior de cada ser envolvido, das mangas doces que lhe esperaram todo o ano em ardente frutificação. Dentes ansiosos penetram com força os tecidos amarelo fogo da nova visão.

Alguns dos circunstantes, testemunhas e seus compromissos de justiça alvoroçada, logo quiseram impedir, recriminar, julgar em rápida velocidade, o ato do visitante do pomar. No que foram de pronto contidas sob a autoridade do feitor:

- É Jesus quem quer. Quem quer é Jesus - soaram leves as palavras do guardião do lugar. – O que Ele quer torna em ato contínuo.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Acordes noturnos

Nalgumas horas voltam as músicas embuçadas no tempo de quando sozinho vivíamos eu, o apartamento, as máquinas. O som, a geladeira, o fogão, o rádio, eram meus companheiros de presença física. À menor sacudida, lá estávamos a papear nos assuntos da hora. Qualquer movimento ganhava intensidade e conversavam comigo durante os vários momentos domésticos. Sete longos meses assim. Deixara há pouco a primeira experiência a dois, o primeiro casamento. Morava em Salvador, na Barra Avenida, Rua Raul Drumond, Edifício Oxalá. Televisão, nem pensar, não curtia nem um pouco, o que ainda hoje persiste, a não ser, vez ou outra, um noticiário, algum filme bom (coisa rara), documentários. Na época, saía nas noites à cata dos cinemas que exibissem filmes de diretor, o que era comum nas salas baianas. 


Solitário, usufruía do gosto pela fotografia, que me acompanha desde menino. Montava um laboratório na cozinha por cima da pia, banheiras, ampliador. Quando revelava ou ampliava as fotos, em preto e branco, naquele dia fazia fora as refeições, em restaurantes macrobióticos, donde trazia pão integral, tahini (pasta árabe feita de gergelim), leite, frutas, com que abastecia a geladeira e rivalizava o uso entre os químicos da fotografia. Entrava forte nas noites o som, ligado em Frank Sinatra. Gilberto Gil. Luiz Gonzaga. Caetano Veloso. Maria Bethânia. Gal Costa. Elomar. James Taylor. Carole King. Neil Diamond. Ella Fitzgerald. Gonzaguinha. Tomzé. Louis Armstrong. Outros e outros. Eram longas viagens noite adentro, no ventre do silêncio. Espécie da saudade do que ou de quem nem sei mais dizer. Recorria aos artifícios das possibilidades e dialogava junto aos barulhos distantes, nas ruas, nos carros que ocasionalmente transitavam rumo à Ladeira da Barra, ou à Rua Princesa Isabel. Ninguém, vivalma, a não ser tais ruídos harmoniosos e a escuridão dominando a câmara improvisada do laboratório. Exausto, lá pela madrugada, recorria aos lençóis e dormia insistindo em conhecer o mundo interno de mim. 

Quando, agora, ouço algumas músicas, lembro daquela fase de tempo, a rasgar as sombras da escuridão e chegar bem próximo de meu coração ainda impaciente na faina de existir a qualquer custo diante da beleza dos acordes. Enquanto a saudade, muita saudade, percorre as estrelas, a Lua, que vagam pelos céus, nos ventos da Serra que, então, deixara atrás no Cariri. Isso a revelar fome intensa de viver e sonhar de que tanto me conta a arte e a cultura, nas dobras do sentimento.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Esta escola da paciência

Hoje, quando recebia o almoço na loja de Flávio, ele falava comigo perguntando da vida. Como anda essa escola? E lembrei de novo da escola em que estamos matriculados, a Escola da Paciência, mundo vasto, aberto, porém onde ninguém é ainda doutor. Disse da notícia disso que aparecera ali mesmo, naquela hora, de compreender a existência de todos qual lugar de aprendizado contínuo, embora alguns dos alunos se voltem a perder o tempo mais precioso de adquirir o conhecimento necessário para chegar aos estágios posteriores. 

Neste lugar daqui os professores somos nós todos, uns mais devotos à profissão, semelhantes a tudo afinal. Com cuidado, abrimos as portas da compreensão por intermédio das dificuldades, e impomos oportunidades ao passo que marca esse chão.

Dor de alguns lados do eu, serve de instrumento das razões de estar na existência, sempre a desmistificar, mais cedo ou mais tarde, o desejo de permanecer, regressar só provisoriamente através das reencarnações, fugindo, pois, da acomodação impossível. Urgente a vontade de largar os pecados no largo do vento e do tempo das justificativas de gostar e querer ficar na prisão das salas de aula de paciência desta universidade especial, onde nos vemos matriculados, queiramos ou não, donde viemos na voragem dominante do mistério.

A gente, então, baixa a cabeça e tem de trabalhar com eficiência os desafios, os testes, os exercícios de aprimoramento, a fim de cumprir o objetivo de chegar na perfeição e sair incólume no sentido clássico da Eternidade. 

Aqui, afinal, criou o Poder sofisticação nessa escola essencial de achar o caminho da Libertação definitiva dos blocos de cimento das paixões individuais, apegos desordenados aos brilhos foscos da ilusão, impulsos e desesperos, arte de transformar mortais e deuses. Ah! Que escola fundamental e superior em que todos andamos de olhos por vezes fechados, porém acesos por dentro na luz da Consciência imortal que lavaremos conosco aos páramos celestes. Bendita escola da Paciência, amor dos amores, caminho próprio da feliz compreensão. 

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Liberdade absoluta

Já há alguns dias que as doces palavras acalmaram lá dentro das cavernas adormecidas, numa festa silenciosa de quem talvez nem queira dizer, mas que permanecem vivas no coração, feitas blocos de cores úmidas guardando a vontade das palavras para os dias melhores, quais objetos esquecidos na varanda dos sujeitos imaginários deste mundo. Ali onde marcas deixadas pelo vento quase ninguém as relembra com a mesma disposição de nutrir esperanças e desejos, flores, espinhos, espinhos e folhas azuis das trepadeiras que feriram o Mestre na hora da Crucificação. 

Bom que isso queira falar de trastes abandonados nos livros antigos, ignorados e jogados na lama do passado. Que acrescentar às pedras dos caminhos? Que novas luzes iluminar o palco da compreensão dessa gente vidrada nos aparelhos de tv? Que mais, que menos? 

Os tudos das horas fulminaram, pois, o pomo da discórdia e os exércitos perdidos seguem apenas à busca das ausências. Apenas de uma só religião a envolver lençóis e frio nas madrugadas. Portas e janelas abertas ao infinito da solidão, bandeiras desfraldas no solo do inevitável. Muitos animais ainda pastando na grama do palácio e as pegadas dos cascos ferem de sentimento as margens desse grande rio que desliza na alma das crianças, arautos do futuro, missionário da Lei.

Por isso a insistência das falas nas praças, a sustentar o impulso da sobrevivência nos seres vivos. A gratidão da justiça, o amor nos corações, a fome de felicidade que persistirá todo tempo, onde quer que se acenda o foco da bondade.

Sustentar a força da perseverança a qualquer custo. Somar fatores sadios ao instinto da realização do Ser, guerreiros da grande paz, de inigualável construção do Si Mesmo a salvar as circunstâncias.

É isto, são as proporções de raciocínio que querem descobrir o teto das nuvens e indicar o quanto faz sentido o trabalho de parto da imensa Criação.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Alegria de sonho

Leve, suave, sem chances de mudar jamais pois além das possibilidades possíveis das fragilidades deste chão, essa alegria de sonho que toca o coração da gente e mostra meios de chegar aos fins da madrugada de peito lavado. Alegria que já nasce avisando da singeleza de depois dos sonhos irreais do crivo racional que ficaram lá atrás. Direito enorme de probabilidades que vem puro das mãos do Criador, abençoada no perfume das florestas em flor, essa vontade qualificada que só indica felicidade. 


As crianças, por exemplo, agem livres das impurezas do cascalho, e elas falam nisso, da grandeza maior dos corações. Qualidade indizível das fotografias bonitas, o horizonte muda de cor ao sabor da verdade suprema, independente dos fatores materiais em queda. O sonho no sonho, a pureza dos sorrisos de quem ama sem o interesse apenas imediato da carne. 

Encontrar em si a origem do sentimento e produzir a satisfação de toda necessidade. Conhecer de dentro meandros e soluções imaginárias, rimas ricas de água pura. Aceitar assim o equilíbrio qual razão fundamental da existência e ouvir os pássaros das tardes mais silenciosas, mensageiros intermitentes de horas calmas e segredos azuis.

Sair daqui e correr léguas de achar parágrafos que ofereçam paz. Alimentar o sonhador em forma de seguidor do Bem, na entrega total a mundos transcendentais da vida, palmas abertas e almas que se aceitem criadas no projeto do bom viver. Caminhar confiante no destino que seguirá os surdos passos. 

Quantos disso ouvirão o decorrer das aventuras errantes do espírito através dos tempos, o Senhor saberá de tudo. Porém existirá sentimento puro no furor das tempestades que vasculham a história diante no caldeirão das almas mortas. E fugir sem ter aonde representará o clímax desse mistério.

Disso, dos sonhos resolvidos, serenos e definidores de opções de entrega ao tapete mágico dos filmes de final feliz, há um gosto inigualável dos alimentos sadios na paz inextinguível das emoções do movimento eterno.