terça-feira, 14 de outubro de 2025

As imagens e as palavras


A bem dizer numa distância infinita elas vivem umas das outras. Mas o espaço é que persiste  aqui desde sempre. Ao dizer isto, nalgum lugar  se formam novas imagens e nascem novas palavras. Vive-se disso, portanto, de um dizer sem conta ao largo dos rios do Universo e suas paisagens estonteantes. As próprias horas nisso desfazem seus cantos, suas pulsações. E em seguida refazem  no tempo o instinto de existir, de sonhar quando assim não acontece de seguirem adiante, porém. Palmilham ao Sol e regressam a outras galáxias na mesma intensidade das existências. Em contraste ao silêncio, sobrevivem diante do presente, nisto construindo imagens sem conta, feitas de formas e cores, letras e fôlegos.

Descritas  tais possibilidades, agora resta tão só o ser em si, no deserto imenso de tudo que há e haverá. Nós, a junção desse nada e tudo, em movimento na crosta do Infinito. Expostos às ausências constantes dessa fagulha de estar aqui, sorriem, contudo, aos olhos do definitivo e, por vezes, qual padecem desse motivo original. Longos transes acontecem no pequenino território das almas,cobertas de verdades antes desconhecidas.

Saber-se-á, decerto, aonde reviver esses sonhos inigualáveis de quantos ligados a existir sem propósitos nítidos. Sustentam a lâmina do mistério de contar as histórias ou as aconchegam ao coração. Foram tantos em surgir e desfazer-se em luzes que gritam o sentido disso pelos nos céus e, de uma hora a outra,  mostram a hora da sobrevivência definitiva.

 

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Vozes da noite


Tempos de tantas histórias, e só agora refeitos noutras imagens em movimento. Enquanto isto, nota-se aumento sucessivo na velocidade dos dias, ou nos veículos acelerados que percorrem as avenidas lá fora. De longe, sons esmaecidos preenchem de vazio o silêncio, algo assim dominado de alguém escondido nas esquinas do Universo. Nisto, tantas perguntas querem reaver o crivo dos destinos e pedem justificativas vindas dalgum lugar desse infinito estonteante, misterioso. Busca incessante, pois, de explicações desde sempre. Elas contam das respostas guardadas a sete capas sob ruínas largadas aqui nas ilusões enfurecidas. Estes mesmos seres que ora observam já foram eles próprios doutras vezes, nos princípios. Palavras. Encontros. Lendas. E uma sequência infinita de tais semelhantes a andar soltos na atmosfera dos lugares, eis o resumo deste tudo que ora somos.

Ao somar as quantas versões deixadas no sítio donde viveram, são meros fragmentos desses sonhos e aventuras sem conta que bem desejariam identificar na realidade, porém. Andaram, andaram, até chegar ao mesmo lugar e nem de si se reconhecer do tanto que ali existiram, de tocar tantas vezes, mais e mais, a verdadeira consciência que hoje são. Uns dizem carecer dominar os instintos e transformá-los em essência. Outros relembram as muitas visões do Paraíso que trouxeram consigo e, em seguida, as deixaram esquecidas no passado, enquanto cuidavam dos afazeres mil de sobreviver. Há o que saber, no entanto, disso daqui, pelas luzes da visão.

Habitantes, por isso, do vale das sombras, acreditam escolher a melhor parte e continuam a jornada rumo a isso que os alimenta de viver. Escutam essas vozes vindas de dentro e sustentam a certeza das heranças que supõem transportar na alma. Reflexos desses sintomas inigualáveis de onde procedem, nisto iluminam a imensidão e silenciam, também, as dores que antes significavam estar e partir, ao mesmo tempo.

(Ilustração: Hieróglifos egípcios).

domingo, 12 de outubro de 2025

Outras visões do Paraíso


Isso de persistir aonde rever tantas criaturas espalhadas ao firmamento resume seus significados. Às vezes, feitos de nuvens. Doutras, seres só prisioneiros de tempo e espaço, porém assustados e ariscos. Enquanto as nuvens formam castelos de sombra, os seres olham atentos o que possa acontecer logo no momento seguinte. Ainda que tanto, sustentam as hastes dos céus de modo talvez esquisito, por demais, ou em sórdidos e repetitivos gestos, séculos a fio.

Guardam consigo uma saudade, no entanto. Asseguram vir de um território neutro, onde viveram a luz da consciência e adormeceram sobre as largas aventuras dos cavaleiros andantes. Vivem quase de jeito repetitivo seus ritos sequenciados, a colher histórias que os alimentam dias e dias. Vêm daí as ditas civilizações. Criam instrumentos letais e seguem à procura da sorte nos campos de batalha do horizonte de depois.

Eles, quais criaturas errantes, entes limitados no quanto viver neste chão, sabem sobejamente dos extremos a que se submetem. Mesmo que quanto, de novo esquecem de si e plantam os restos de esperança nas fibras do impossível. Fossem, pois, avaliar cada período da História, teriam de outrora as quantias gastas em perjúrios daqueles protagonistas que preenchem de dor o solo dos contentes e desmancham as ruínas da ilusão com as próprias unhas.

Bom, decerto de aventuras e consequências vivem esses seres. Buscam o que já dispõem nas abas de si, velhos segredos que carregam nos campos afora. Sabem dentro da relatividade do que existe, porém afeitos a sonhos inesperados de mistérios os mais esquisitos. Daí, nascem afoitas palavras, sem limite, feitas de fagulhas dessa fogueira de estar aqui e haver de ser, a qualquer custo.

Bem isto, máculas em movimento pelas trilhas do Destino. Contam, portanto, as fantasias que compõem o quadro onde caminham, o que chamam determinismo. Quando saíram de lá já traziam no íntimo o roteiro completo dessa epopeia que hoje praticam, sábios autores da humana compreensão, todavia parceiros do sentido que aguarda, até trazer de volta a paz do que deseja.

Gustavo Barroso

Havia chegado ao Colégio Diocesano naquele mesmo ano de 1959, quando passara no Exame de Admissão ao ginásio, provindo do Ginásio São Pio X, que, então, oferecia apenas o curso primário. Desde cedo notava a personalidade forte de Padre Montenegro, o diretor do colégio, sempre em movimento pelas salas e ligado aos acontecimentos em volta, que chegaria a mais de 50 longos anos de serviços prestados ao ensino cearense. E naquela manhã do dia 07 de setembro, me chamara a ficar ao seu lado no palanque armado na sacada do Diocesano, no alto das escadarias, defronte à Avenida Duque de Caxias, esquina com a Rua Nélson Alencar. Dali presenciaríamos o desfile cívico-militar alusivo ao Dia da Pátria.

Conto isto porque ao nosso lado, naquela manhã ensolarada, estava Gustavo Barroso, emérito escritor cearense e amigo pessoal do sacerdote. De estatura elevada, moreno forte, calvo, alegre, trajava terno cinza claro e desenvolvia animada conversação com seu amigo e diretor da minha escola. Na ocasião, eu, menino de dez a doze anos, tive oportunidade de ser a ele apresentado pelo Padre Montenegro, junto de quem estávamos. Só mais adiante conheceria algumas de suas obras, hoje clássicos da literatura cearense, quando vim a saber que naquele mesmo ano Gustavo Barroso iria completar seus dias aqui conosco. Agora, lembro com respeito o raro momento de haver visto de perto tão destacada presença, pessoa reconhecida e respeitada nas letras da Língua Portuguesa pelo quanto realizou na pesquisa histórica e etnográfica da nossa gente.

...

Gustavo Adolfo Luís Guilherme Dodt da Cunha Barroso  (Fortaleza29 de dezembro de 1888 - Rio de Janeiro3 de dezembro de 1959) foi um advogadoprofessormuseólogopolíticocontistafolcloristacronista, ensaísta e romancista brasileiro. É considerado mestre do folclore brasileiro. Foi o primeiro diretor do Museu Histórico Nacional e um dos líderes da Ação Integralista Brasileira, sendo um dos seus mais destacados ideólogos. Wikipédia

sábado, 11 de outubro de 2025

Estes seres magnéticos


São eras sem conta. Vivem soltos pelals selvas vastas da inspiração e padecem de uma fome constante de se alimentar de si mesmos. Tem de tudo nesse meio onde vivem. As alturas significam, a bem dizer, de um padrão quase absoluto, porquanto querem, mas não conseguem, tocar as profundezas dos céus em cima, no azul. Mas observam demasiadamente essa outra vontade extrema de ultrapassar a Era Cósmica que eles inventaram certa feita, na década de 60 do século passado, e notam haver transmutado em cinzas a necessidade disto. Vadeiam no vento em volta e desfrutam da temperatura das estrelas. Criam animais doutros portes e fogem daqueles maiores que têm presas afiadas e que pensem menos, quem sabe?

Quais seres esdrúxulos querem crer se amar na velocidade das paixões, todavia fazem disso meros romances a vender nas feiras ou nos festivais cinematográficos, além de propagá-los nos festivais de música, de tempos em tempos. Fixam ideias e as desenvolvem na medida dos calendários, sempre acesos, pelas frestas do Infinito. Muitos, muitos, acham-se espalhados por vários continentes banhados de rios e mares. Desenvolvem máquinas de transmitir conhecimentos, porém no meio dessas transmissões pululam iniciativas funestas que machucam de arder o coração da espécie.

Ainda assim descrevem sítios maravilhosos de beleza rara, relíquias, talvez, a serem descobertas lá em futuras escavações nos outros tempos que depois. E pedem clemência aos deuses pelo furor dos instintos que os prendem à consciência em flor. De inteligência por vezes surpreendente, gostam de veículos acolchoados a rodar em pistas caras, cercados de admiradores e futuros clientes. Quanto é bom gostar de ser que tais, espalhados ao vento de tardes primaveris. Acordes suaves das suas canções marcantes as conservam na alma no desejo ardente dos amores inesquecíveis, do que tanto falam e mentalizam.

Por isso, pelas inúmeras experiências dessa espécie surpreendente, edificam castelos valiosos a sustentar os sonhos de chegar, alguma vez, ao país das luzes que saboreiam ao continuar aqui de olhos fixos num futuro quiçá melhor, logo ali sob o fruto das consequências do que estejam realizando agora.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Esse eu de antigamente


Outro dia, passava na minha mente as presenças dos que insistem andar pelas ruas da cidade apesar do tempo transcorrido das suas histórias aqui, e que foram embora. Fossem ver de certeza, algo acontecera e lhes arrastar dali e que disso nem soubessem, ou não quisessem saber. Nisto, vejam só, entre aqueles também me avistei, mas noutra formulação, a carregar velhas angústias de ser lotado das apreensões lá no passado, desde impaciência de aguentar o que lhe acontecia, independente da minha vontade e dos poderes humanos da ocasião. Aquele seria, (quem sabe?), uma criatura diferente por demais do que hoje sou, nesse instante. Aquele nutria outras histórias, vindas, por certo, dos muitos livros lidos, filmes assistidos, pessoas, amores, saudades, ansiedades a todo o custo e um furor de habitar algum canto desse chão naquele eito.

Quis dele me aproximar, no entanto, sendo quase repelido, a não dizer ignorado. Vivia na própria pele pensamentos de Sartre, Camus, Hemingway, Kafka, Bergman, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Manuel Bandeira, Érico Veríssimo, Machado de Assis, um turbilhão de autores, diretores, dúvidas, personagens, incertezas mil espalhadas pelo vento em volta. Lá dentro dele, um ente raquítico, apreensivo, escondido nas sombras da infância, de afetos raros e interrogações exacerbadas.

Busquei, sem me achegar por demais, reviver o lado bom daquilo tudo, porém qual estrangeiro de mim mesmo, num outro que não mais fosse aquele ali. Sentar juntos, é cogitar, no entanto, de assuntos raros, nem de longe semelhantes aos que ambos pudessem contar então. Outras lendas, novos cenários, uma existência que de nada houvesse de haver entre eles dois.

Mesmo assim, hoje revivo a tal figura daqueles instantes arcaicos, suas vivências, contradições, desassossegos inúmeros, em forma de gente. No meio deles, o véu preto e branco da distância no tempo das duas gerações; duas criaturas exóticas. Ainda que tanto, o reconforto dos reencontros. Vozes vindas tais ecos de florestas imensas, desfeitas em névoa e sonhos. Ele, não mais este eu de hoje, contudo vagas sementes de esperança dalguma transformação no percurso, neste mundo tão vasto de interrogações e ruídos metálicos. E nisto, grata surpresa, em algum se admitem possíveis amigos, conquanto nenhuma outra alternativa viesse à tona naqueles instantes esquisitos de acreditar nos universos de dentro, além dessa igualdade avassaladora do que só agora somos.


quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Pelas ruas da cidade II



O que mais me surpreende é reviver tantas e tantas lembranças ao passar nos mesmos lugares onde antes andei. São muitas as cenas, muitos os personagens; as mesmas histórias que, ali, dantes, aconteceram e as presenciei, ou vivi. Sem tirar ou acrescentar, vejo nisto memórias, trançado de figuras conhecidas lá dos idos anteriores, que agora fincam os pés naquele chão onde pisaram. Nisto, lhes acompanham os desdobramentos, as situações; por vezes ingratas, talvez. No entanto, persistem, ainda que, decerto, hajam seguido a outros planos de depois. A cidade permanece viva desde sempre nalgum lugar das presenças, relatando, horas a fio, os enredos, quais filmes já exibidos nas salas de projeção dali de perto.

Quero crer ser assim com quem insiste andar pelas ruas das cidades onde, noutros tempos, viveu suas ocasiões de estar aqui. Nisto, o que mais espanta são elas, as pessoas que foram continuar ligadas à gente, a uma espécie de sobrevivência de qualquer custo.

Dentre elas, estão amigos, conhecidos, tipos populares, criaturas preservadas nas entranhas, tais habitantes doutros momentos e também destes. Nessa memória viva estariam todos e suas contrições. Viventes perenes daquilo que foram, entranhados pelas vestimentas do tempo ficam existindo. Conquanto se pretenda achar só perante esse contingente de visagens, nos veem indiferentemente, em um arremedo calcado na ausência de, nem de longe, pretender serem avistados por quem quer que seja.

Independente, pois, da estação em que isso ocorra, às vezes cresce no íntimo impressão de ser desse jeito que passam as gerações, e que, apesar das contingências já terem preenchido as paisagens das épocas, delas ficaram a bem dizer daquilo proprietárias inalienáveis.

Porém sinto essas marcas consistentes dessas tais pessoas vagando nas calçadas, nas praças, lugares outros, fantasias em movimento incessante na alma dos seres dagora. Basta apenas fixar os entremeios de casas, comércios, e o traçado das ruas e, dali, os intérpretes doutras ocasiões se fazem presentes sem a menor cerimônia. Quiçá fruto das recordações, dos estilos e sentimentos, cores, sons, fisionomias, daí, na constância dos dias, insistem permanecer e morar lá dentro de cada um que ora exista.

(Ilustração: chat.mistral.ai).

Um tema qualquer


Desses que rodeiam o mundo ao calor das tardes ensolaradas e ferem de vontade o gosto de contar as histórias inéditas do cotidiano; ver as palavras se sucederam quais bichos esquisitos e sumiram no azul dos céus. De quando tudo acontece e quase nada parecer guardado nas margens deste rio, isso numa velocidade a bem dizer imperceptível, que, no entanto, devora os acontecimentos pelos dentes do mistério inevitável. No sítio das vontades o abismo se reveste de tantos afazeres, de antes, e brisa suave parece dizer muito mais daquilo que grita no silêncio, nessa imensidão do quanto anda em volta.

Ali estejam, pois, detalhes sem conta, os tais senhores da liberdade tão só contemplativos ao ritmo do Tempo, criaturas quase inexistentes. Nisso, vem o instinto de sonhar acordado e permanecer de olhos fixos na ausência constante e devoradora. Multidão inteira de quais seres minúsculos, porém, transforma em ruídos mecânicos as horas e desfazem caprichosamente, na força bruta, o que ainda restava nos transforma pouco a pouco imperceptíveis.

Face ao lastro imenso de solidão, conduzem seus barcos rumo ao desconhecido e aceitam de bom grado viver assim. Sei que alimentam virtudes e as fazem crescem copiosamente. Superam desejos e os transformam em fome de viver. Criam, sobrevivem, destroem, construindo logo em seguida, a destruir outras vezes. Talvez cruzem, certa feita, o Infinito e faça dele pequenos instrumentos de sopro. Refaçam novos filmes daqueles que viram lá antigamente. Sustentem o impacto das eras no próprio peito e suspirem fundo, a todo momento, na certeza de seguir a Estrala da Manhã.

Nesse vaivém da sorte, pois, a isto vieram e agora acreditem, além do que nunca, nas verdades que os alimentaram desde sempre. Sim, imbatíveis heróis do firmamento, autores de obras monumentais, astros e estrelas de películas inesquecíveis. Quanto penhor isto de permanecer intactos perante dores e desafios, outrossim cobertos de andrajos e glórias, mas sementes de uma consciência pura, lá um dia.

domingo, 5 de outubro de 2025

As muralhas azuis do Infinito


Marcas foram deixadas lá fora pelos derradeiros viajantes das estrelas, o que hoje são rasgos profundos na superfície de toda criatura que resistiu. Traços a bem dizer definitivos das luas que percorreram nos céus suas entranhas ressurgem, vezes sem conta, nas crateras das consciências. Pedem refúgio às normas do esquecimento e apenas fixam os olhos nas histórias contidas pelas forças do Tempo.

Isto do quanto existe dentro das criaturas, ora transformado em razões de estar aqui, perguntar por si mesmo, juntar os motivos que lhes trouxeram desde então, faz deles seres talvez deixados no mistério das espécies e submersos neste oceano de possibilidades, nas perguntas mil das luzes em movimento. Porém mínimas ausências que persistem naquilo que restou das tantas horas, a ferir de vivências os sons das almas absortas.

Estes que tocam adiante o destino e sustentam planos de felicidade... Motejadores daquilo que antes foram, só assim persistem nas próprias recordações, a fazer disso o senso da presença que conduzem. São muitos, infinitos, por certo, em vultos a deslizar pela superfície dos mementos. Falam vozes arrevesadas, dotam as paisagens de cores surreais superpostas, no desejo de continuar. Criam farpas nos corpos, nas escadas onde avançam a duras penas. Enquanto, ao sabor das visões, apenas distinguem a Eternidade nos entes que sejam e se assuntam de tantos sonhos.

Destarte, entre sentir e permanecer, escutam a música do vento, conquanto saibam muito mais daquilo que ouçam. Isso de guardar as gravações do que houve e viveram define a valer o critério de todos quantos existam. Conservam no íntimo a tonalidade das palavras, os dias passageiros e essa vontade instintiva de permanecer grudados nas abas do Infinito; quisessem, todavia, merecer tal sorte. Ninguém há que escute com clareza plena o ritmo das estações e abrace a leveza de responder às interrogações que transporta ao preço de sobreviver.

(Ilustração: copilot.microsoft.com).

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

A que é que se destina


Se é que se procura alguma coisa... Isto no frêmito das horas, pelas jornadas, enfim, aonde se chegar lá um dia, eis o instinto de
prosseguir a qualquer tempo. Essa a impaciência de obter algo que nem se sabe o quê. As razões de estar aqui na face desse chão das almas, em lugares estoicos, por vezes ásperos, porém sem os limites da inconsequência. Nós, quem quer que seja, então, fragmentos de memórias. Astutos perseguidores da sorte. Aventureiros do mistério. Parceiros abismados de todos os destinos que andam soltos pelos ares. A que é que se procura?!

No entanto, bem que tais, senhores abismados de quantas loterias, tocam o rebanho às próprias interrogações, aos grilhões do Infinito. Olhares a dentro, todavia audazes buscadores das hostes definitivas, espalhadas aos sóis do anonimato. Num instante, por isso, vêm à tona... as indagações consequência das falas das entranhas, gritos pertinentes de causas e justificativas dos gestos quiçá insanos dalguns, no rol das atitudes e dos impulsos do esquecimento.

...

Espécie de buscadores desses objetivos das existências, nunca há de ser tão só espasmos vários o que de quanto acontece nas tantas ocasiões. O rastro disso marca o que lhes traz até aqui o trilho da existência. Um lastro fabuloso de variações, de desejos, que impossível ser-se-ia apresentar motivos que as justifiquem, contudo.

Foram muitas histórias desse personagem inesperado a contar de uma raça aos pedaços de séculos. Encher-se-ia de letras a face do Planeta e mais houvesse de oportunidade a dizer o mesmo tanto. Daí as incontáveis aventuras pelos dias e lugares, na constância do movimento dos afoitos criadores de sonhos. Pisam, sim, as hostes do passado, porquanto ainda não visitaram o futuro. Em acordo consigo, todos vestem o traje do inevitável e tocam adiante o pendor da irreverência. Pisam, correm, voam... Depois, do quanto existe, param ao pulsar dos firmamentos e adormecem nos braços fieis de um sono em profundidade.

(Ilustração: Camille Pissarro).

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Do lado de lá de si


De tudo, esse encontro lá um dia. Importam as lembranças, os gestos deixados sob o peso das ilusões. Foram dias longos, de vazio, na ânsia de querer desvendar o prumo e suas finalidades. Elas, as perguntas nunca desapareceram por inteiro. Qual quem busca incessante. Algo ali não estava. Pessoas, lugares distantes, situações prazerosas e vivências douradas. Aquilo que o destino seguiu de perto. E saber que jamais estaria nas outras pessoas e saberia o que mesmo nelas houvesse. Enquanto aqui, do lado, esteve sempre o sentido dessa visão procurada no eito dos dias. Fugir de si tal que destinação. Certa feita, num abrir e fechar de olhos, adveio o que tanto procurava.

Pouso certo, tal expresso a chegar numa estação distante, de menos houve que descer a bagagem acumulada e viver outra vez noutro universo. Do abismo, eis que avistou os céus doutro hemisfério e nascia novo sol e nova consciência. No entanto, isso tem um preço. As histórias de quantos falaram disso, dos frutos de aceitar o impossível e continuar neste mundo. Os heróis de si mesmo que padecem disso, dos motivos de contar outras lendas, outros aspectos de igual dimensão, porém de necessária mudança.

Em tais momentos, torna-se urgente uma maior atenção em tudo por tudo, das palavras aos pensamentos, sentimentos. Espécie de azougue inverso, não atraem, repelem. São repelidos, pois. Estância transcendental do quanto existe e vaga pelo chão, espectros vivos que hão de compreender o preço a pagar de pensar diferente. Nesse tempo, percorrem as praias do destino de olhos esquisitos e passos iguais a todos, entretanto deles num outro jeito de existir.

Conto de quem suportou sobreviver aos nortes das vidas e descobrir o sentido doutras percepções até então ignoradas. Assusta ser assim, contudo parceiros de jornadas semelhantes espalhadas no Infinito. A arte possibilita, de tal modo, estes mundos diferentes que sejam. Pouco ou nada importa ter de tocar adiante o senso da outra margem bem aqui junto da gente.

(Ilustração: Castelo de Brennand, Recife PE).

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Além das contradições

 

Ferreiros que sejam da vontade, pelotões imensos de desconhecidos hão de conviver seja onde for, conquanto a isso determina o movimento, desde automóveis a falas e outros setores mais afeitos da consciência. Ninguém vive só por viver. Perenes conflitos imperam no correr da pena, e dizer jamais deixaria de significar finalidades, sinais do inesperado em flor. 

Sabe-se do espírito variado que dominar toda gente. Nalguns, puro instinto de sobreviver. Noutros, razões comerciais, desejos e produções artísticas. De ausências é que poucos, raros, raríssimos, conseguem preencher o claro das alturas deste chão em fornalha. Daí, o crivo das ilusões, de querer contar doutros paraísos que fervem nas criaturas pensantes. As euforias, os embalos, na fama incontida de reverter o quadro que vem de fora e narrar outros firmamentos, porém ilusórios.

Nisso, a linguagem impõe condições talvez inaceitáveis aos campos de batalha, entre refugiados da sorte, favelas, palafitas, tais e quais nesse mundo desigual dos humanos. Em consequência, gritam resultados parciais à busca de responder aos desafios das humanidades espalhadas ao vento. Aceitam as duras penas de ser assim o teto da raça. Perenes seres intuitivos, com isto persistem diante do inevitável e clamam aos sóis o senso de justiça que sempre há de haver.

Face a tanto, os dias representam esse confronto das almas entre si na ânsia de apurar seus destinos, vez notar que vem vindo o fluir das eras, a determinar tocas sucessivas em frente da longa armadura que somos todos. Às vezes, pasmos; doutras, circunstantes. A paisagem das horas cobiça, destarte, uma melhor compreensão. Nefastos passados ainda doem nas entranhas de tantas lembranças cruas. Todavia chega-se ao tempo de contradizer a si mesmo e desvendar esse mistério incontido que mora na presença de civilizações inteiras. Perguntar a que vieram. Desdizer os escombros ali deixados entre as rochas de sórdidos antigamentes. Conter as lágrimas e criar instrumentos de refletir a maturidade, o que trazemos lá de dentro até hoje, portanto.

(Ilustração: Hieronymus Bosch).

domingo, 28 de setembro de 2025

O luar das contingências


Mergulhar pelos mares do passado e a isto se permitir continuar. Denotar as circunstâncias que voam de algum lugar, quais atrações de um mundo à parte, depois meras recordações. Ali desfilam miríades de pensamentos, atitudes, expectativas, espécie de espetáculo que jamais findará, conquanto de testemunha. Ser-se e desfazer-se nas tantas luas deixadas ao limbo. Assim quase existir numa linha de produção de si mesmo. Esses seres em movimento, espalhados nas telas de películas segredadas aos próprios atores e diretores, fincadas que foram no solo de antigamente.

Disso, desse panorama individual, faz-se viver o vazio das lembranças, pedaços de quantas vezes ali consistentes no lugar das memórias. De certeza, mundos hão de persistir noutras horas, arquivos do anonimato das criaturas que viveram. Enquanto isto, no presente, insiste a máquina produzir novos sonhos. Estampas dos tecidos daquele pretérito é o que sustenta a lei da personalidade. Regressar lá que possível fosse, talvez nem de longe pudesse refazer o que ficou atrás e começar de novo.

Essa matéria-prima de tantos roteiros incontáveis significa, pois, estar aqui e pisar este chão. Conter os sentimentos e degustar imagens, palavras, cartel de inesquecíveis bênçãos, quem sabe?! Frutos do silêncio deste antes que sumiu inesperadamente, dali emana o repasto das aventuras e dos desejos humanos. Por certo num imaginar qual seja a liberdade que tantos aspiram, deixam escorrer dentre os dedos visagens e aventuras.

De que nunca há de duvidar, no entanto, é-se pastor do Tempo, filhos e senhores da consciência dos instantes que passam. Habitantes de um caudal infinito, tocam rebanhos de providências e aceitam vivenciar a espera de si nas estações de quantas ocasiões. Viventes, contudo, das epopeias escritas nas almas, insistem desvendar esse mistério, e, qual o quê, dobram sem compreender de vez a sinfonia dos destinos.

Ser-se-ão indagações pertinentes e lutas de querer interpretar a qualquer custo o nexo de preencher as crisálidas do desconhecido.

(Ilustração: Prometeu, de Rubens).

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

A equação da consciência


Isto do enigma que os detém desde sempre. Saber a quê. Desvendar o mistério do quanto existe e existirá. Decodificar. Decifra-me ou te devoro, da Esfinge. Simples por demais, no entanto tudo enfim. A razão das existências em volta. O princípio ocasional. Admitir se ser a quem destinada esteja toda razão de estar aqui. De algo uma certeza persiste, ao longe o destino de continuar. Noutras palavras, a aventura de viver que importa responder. Das tantas humanidades, ficam os frutos.

Em cada tempo, as respostas, os indivíduos, costumes e ciências. Qual num deserto amorfo, seguem as caravanas e suas contradições multiplicadas nas guerras, nos lances infelizes de tantos a devorar outros mais. Contudo há de haver, no senso das presenças, o ânimo de novos dias felizes. Aos impérios, seus desvarios, rastros de prazeres insanos, ingratidão das espécies na feira das criaturas. Passados que sejam, quase que se repetem as velhas e perdidas ilusões, isso a fustigar o jeito dos que imaginavam diferentes, e assim o realizariam nas horas de paz, fraternidade. Essas cicatrizes consistem nos dramas fixados nas heranças largadas ao abismo do firmamento.

Ao pressentir, ou não, no íntimo das criaturas humanas deslizam, tais meros pensamentos e perdidas lembranças, o que o fizeram do gosto de presenciar o motivo de viver, pois. Lá de antes, recordarão chances que lhes tocaram e abandonados foram, simplesmente. Heróis ou vilões de si mesmos, figuram pelo lastro de epopeias devoradas sem sentido. Esses, protagonistas dos quantos rituais por vezes sacrificam nos altares do desconhecido a esperança e o senso de distinguir aquilo a que vieram. É-se, outrossim, autores reverentes dos infinitos e senhores das próprias respostas.

Antes, porém, de fechar de tudo a cortina do Tempo, há que distinguir, vagamente, o plano doutra visão em profundidade, no desejo ardente de atravessar a fronteira do inevitável e saborear, na essência, os instantes de felicidade que os trouxeram a este lugar de um sonho só.

 


quarta-feira, 24 de setembro de 2025

A religiosidade original


Queiram quais nomes dizer, trazer à tona, o destino é um só. Nisto, o sentido de andar neste universo vem dar no mesmo lugar. Haja o que houver, lá um dia chegar-se-á ao clímax da compreensão. Pouco importam tantos impasses e divisões, no entanto ao nada de antes se regressará mais dia menos dia. Disto, o somatório de todos conceitos, esforços, derivações, conquanto do íntimo nascerá o nexo e princípio das existências. Talvez afirmações, taxativas por demais, contudo raiz do inexplicável e lógica perene.

Fossem mergulhar no quanto resta dos mistérios revelados, interpretações dos mitos, das filosofias, eis-nos face a face conosco próprios, condões dos mesmos ânimos que vagam pelo infinito das muitas histórias. Desvendar o enigma que sejam, artífices dos tantos territórios espalhados pelo chão significariam algo além de que sejam as vaidades e os quereres. Habitantes dos sonhos e das individualidades, deixam de si só pequeninos artefatos, depois desfeitos nas areias do Tempo atual.

...

Passados que foram os séculos, denominadas milhões de alternativas hoje entregues às mãos dos povos, cabe, agora, juntar os segmentos consistentes e montar novos esteios.

Sabem, na visão de Carl Gustav Jung, o que representa trabalhar a dualidade do Ser num bloco coeso, consistente. Ego e Eu Real. Concatená-los em única transmutação interior, no que vem a existir qual seja o Processo de Individuação. Isso que no Taoísmo já significava reinterpretar a dualidade do Yin/Yang no Tao, único e indivisível.

Dentro, pois, dos seres pensantes de há muito tais concatenações persistem e determinam os conceitos cristãos, a revelar: Sois deuses e não o sabeis, nas palavras de Jesus. Aquilo aparentemente tão distante, impossível, transcorre na consciência dos indivíduos, base efetiva da Natureza nos seus valores desde sempre aqui vivos juntos de todos, indiscriminadamente.

A dialética de Hegel bem que trata disto, ao seu modo, na expressão de Tese, Antítese e Síntese, base, inclusive, dos princípios científicos que prolifera e repercutem ao longo da evolução humana.

Nestas ligeiras considerações, aspectos evidentes do quanto resume a variedade plena de longos tratados em voga até então, quis trazer rápidos sintomas do ente original em cada um de todos.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Raízes das tradições


Dalgum lugar havia de vir o motivo das falas que dizem dessa necessidade urgente, do desejo até de mitos, na fome de responder, sobretudo, às expectativas doutro tempo, outro lugar, que não este. Os pensamentos são os principais protagonistas dessas respostas vagas. Buscam sem par, inventam, exercitam. Tantas doutrinas, filosofias, literaturas... Vontade quase insana de conhecer o que esteja do outro lado desse espelho dagora. Submeter-se a determinações estabelecidas no passado, calcadas em revelações do imaginário popular, das místicas de grupos, povos, vivências. Espécie de urgência, há que se viver os tratados provenientes de civilizações e suas relíquias guardadas nos séculos mais antigos.

Isto deixa bem clara a ânsia de interpretar os destinos, sejam quais sejam os meios, raciocínios de largos dizeres do que antes houvesse de haver sido, pois. Enquanto que o movimento nunca interrompe seus próximos segmentos; novas legendas vêm à tona e trazem consigo profecias, descobertas, adaptações. Seres assim cientes dos próprios limites de compreender, recriam tantas vezes o Universo, origens e percalços, nessa infinita jornada rumo ao desconhecido.

Perante, pois, o vazio das respostas, no mesmo ritmo de seguir aos destinos, hoje existe a História. Tudo quanto possível foi de alternativas, disso vivem os humanos. Trabalham de sol a sol. Constroem pontes, lagamares, desertos, e sobrevivem nos demais a idênticos amores das insistentes perquirições, afeitos que foram a desvendar as razões do quanto persistiu até então. Que outra forma se não a de tocar suas máquinas, bibliotecas, seus exércitos, nas jornadas por vezes sórdidas, noutras meros artifícios de concatenar compreensões e dominar o impossível.

Na virtude semelhante aos pendores de um aparente caos, comprimem dentro de si o instinto de prosseguir pelo trilho dos desafios, e seguem à busca dos céus. Admitem, todavia, o inevitável de estar aqui quais alimárias do Tempo, e aprimoram o ânimo de sobreviver durante as horas ainda escuras num segredo contido a sete capas pelas dobras do coração.

domingo, 21 de setembro de 2025

Rumores


À primeira vista, são as palavras que têm vida própria, sendo elas que se escrevem e não os autores. Estes, sim, meros joguetes nas suas mãos. Quer-se escutar no tempo as estampas, episódios sucessivos largados no trilho do passado, ou as aventuras cotidianas, os movimentos de pessoas e objetos espalhados pelo Chão. Mas dessa intenção resta quase nada, com isto. Ainda mais diante dos tipos mecânicos/eletrônicos desse mundo vão. Ficam fustigando a disposição de quem escreve a trazer lá de fora tratos desconhecidos, nascidos sei lá de onde. E viram isso, agrupamentos de letras e palavras, quiçá pensamentos soltos, ao comando de forças ignoradas, quis sejam. Comandos, tais trazidos dalgum lugar entre o espaço e o tempo, de mundos ignotos, então, do que querem narrar.

Porém que outro ser senão isto de transitar no meio das sílabas, gramáticas, atitudes doutros universos esquisitos, longe até da mera e comum compreensão. Fagulhas, fragmentos, repastos de raízes exóticas. Nisto, vêm as lembranças vagas dos lugares, das danças típicas, dos sussurros das noites distantes. E no esforço de continuar, nascem, doutras vezes, as ideias, formulações de juízos a propósito do que aconteceu sem dominar o impulso na escrita.

Nessas quebradas misteriosas, ruídos de vozes, latidos de cães, sons acelerados de automóveis, raros ritmos de uma orquestra perdida no escuro... Os personagens disso tudo, proponentes de aventuras errantes lugares, vidas que sejam, se tornam esse ´painel imenso de contos fantásticos deixados no eito dos dias pelas letras e palavras. Quantas legendas espalhadas na memória das gentes a bem dizer, retratos fieis do que existe preso no passado de tantos que se foram. Muitos deles, atores de dramas, comédias, circunstâncias, a silenciar em volta, e reaparecem sem contar, nas mãos do desconhecido. Falam por si só; chegam mesmo a gritar no juízo dos outros suas epopeias, talvez românticas, talvez dramáticas, no entanto feitas de laços e sonhos, um a um, milhares de pequenos pedaços dos seres que o somos, trânsitos na condição dos vários significados só depois atribuídos. Conquanto repliquem os instantes daqui, passados nas ruas, nos cantos das cidades, no campo, persistem a viver na alma deles e dos demais, num bloco consistente desses universos anônimos ora existentes no coração das pessoas dagora, fruto de palavras e conceitos.  

Os rios da imensidão


Desde lá longe que se avistavam. Largos, inteiros, limpos, a descem rumo ao desconhecido. Há mares no Infinito. Luas inesquecíveis de sonhos felizes. Lugares amenos, de paz e harmonia. Bem ali, diante dos olhos de muitos, nos pagos do eterno, florestas inesgotáveis de cores até então inexistentes. Amores mil. Sóis iluminando as derradeiras paragens dos desertos escuros; suspiro de alívio na força descomunal das realizações. Disso haviam falado as lendas deixadas ao acaso. Películas inesquecíveis. Canções inesgotáveis. Momentos de pura certeza.  Mesmo assim, as horas se passavam enquanto descreviam seus mistérios aos derradeiros transeuntes, ligados que estavam no calor dos novos dias.

Querer-se isso, reinos de tranquilidade na alma das gentes. Fardos e pessoas, a seguir faceiras rumo ao fervor das multidões. E falam, e dizem, talvez alimentados nos gestos desse próprio universo em volta. Fruto das inspirações trazidas pela aragem das manhãs mais alegres, destarte construiriam outras possibilidades.

Bom, quero falar disso, do que nos aguarda logo adiante, no frigir dos tantos gestos dessa história. Rever as intenções de civilizações inteiras; realizar o tanto de ansiedade espalhado pelos séculos. Afinal degustar a miragem dos desejos, agora no formado definitivo do que disseram vir a ser quantos e quantos tratados de concórdia deixados nas gavetas empoeiradas. Aquilo aparentemente fantasioso que viria à tona no caudal dos rios incontáveis da Eternidade.

Esses dias do que contavam os mitos de antigamente a título de tranquilizar países inteiros, aonde viver-se-á o brilho das estrelas no coração de cada ser. Não fosse isto, de que haveria só então?! Oferecer o crivo das alegrias nas mesas fartas e sinceras, fora das mistificações e descrenças. Dali, contudo, houve de cumprir seus ditames o código das alturas, encontro supremo do que haveria de se cumprir nas leis de todas as ciências vivas em movimento.

sábado, 20 de setembro de 2025

O senso do ilimitado


Esse apego ao Chão que faz de muitos só as toneladas que transportam aos ombros. Os portais da fama de estar aqui e aqui permanecer de face obscura. Ainda que diante do ilimitado, ser isso, parte efetiva das próprias limitações. E nem por isso, no entanto, de bem assim permanecer entes vagos num mar de afirmações a lhes parecer definitivas. Circulam nesse imenso território feitos formigas e largos sonhos, e menores instintos. Buscam, que sei, a bússola de andar nos astros, porém restritos ao terreiro de casa. Mais que isto, minúsculos seres afeitos aos fenômenos em volta, contudo cientes do quanto resta aonde poder chegar certa feita. Eles, os humanos.

Sabe-se do infinito das maravilhas, de braços abertos ao inesperado, tais descendentes do Cosmos. Herdeiros universais da Criação, sofisticam o ato de viver a meros argumentos de continuar nessa busca. E lá nalgum instante regressar sem saber o destino que lhes aguarda em seguida.

Isto, a fonte das palavras de querer, por fina força, desvendar o mistério tenebroso das horas e ajustar de vez os instrumentos ao código genético do inevitável que observa lá de longe junto as hostes das humanidades em movimento. Bem aos moldes dessas indagações, tudo segue inexorável ao sentido único de existir, pois.

Foram tantas as histórias contadas nas noites, as aventuras percorridas pelo desfiladeiro das lembranças aos sóis que vieram e voltaram, longos augúrios dos melhores dias, verdades verdadeiras, ajuntamento de doutrinas, viagens, luas... passos silenciosos nesse mesmo deserto das saudades, das gerações e expectativas. Depois, novos dias, novos sonhos, outras ânsias e novas aventuras.

Suaves prosseguem os deslumbramentos, as sinfonias harmoniosas do fervor, da solidão, do desejo, na subjetividade que entontece e de que nem de longe há de coincidir de todo com a resposta dos quantos que querem saber. Olhos secos das dores, perduram rogar aos Céus o momento certo de encontrar a resposta inesquecível e acalmar os sentimentos, então ser feliz, afinal.

(Ilustração: Esfinge, Egito).

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

A floresta dos sonhos


Troncos e folhagem, tendo em volta sombras inexplicáveis, no entanto. Isto a raiz da imaginação de onde, aos milhares, nascem os sonhos. Volta e meia o mesmo desafio de compreender a razão de estar aqui. De regressar, por vezes quantas, ao mesmo traçado de outras vidas. Espécie de círculos perfeitos que envolvem todos os seres neste além.

Dali, de uma a outra hora, virão gerações inteiras a navegar nos símbolos deixados. Marcas profundas, assim, ficam gravadas nesse traçado de séculos. Vêm novos seres, no entanto eles dotados de iguais possibilidades. Deixam as crenças entranhadas nessas almas que vagam nas horas. Quais duendes, silfos, fadas, de outros reinos, ali percorrem os desafios. Foram longos trechos dessa viagem que os trouxeram até fim das histórias. Nisso, as sensações de que alguma chance existe durante dos séculos. São as muitas aventuras espalhadas nessas ocasiões enigmáticas a oferecem maios de interpretar o significado desses enigmas. Vislumbres de lembranças regressam nesses filmes e contam das aventuras de estar vivo neste chão. Narram episódios inteiros das lendas guardadas no íntimo, que decidem, elas mesmas, regressar e contar de suas agruras. Viessem, pois, descrever os aspectos dos roteiros trazidos e abismariam milhares num único gesto. Construir, destarte, reinos inteiros de inigualáveis eventualidades e descer-se-ia ao abismo dos quantos mistérios. Fincar-se-ia os pés na lama do Paraíso e novamente cresceriam os sóis no horizonte da distância. Nelas, nas palavras, despontam, portanto, a verdade e virão dias feitos de desejos e esquecimentos. Nesse instante das máscaras que caem bem dali desponta o destino de tudo que há desde sempre. Um painel fragoroso de recordações atribuídas ao firmamento significar então revelar meios de continuar até o Infinito e reverenciar deuses que tais e vivê-los na humana consciência, já agora enfeixados na essência de tudo e de todos. Nos gestos seguintes, percorrem o sentimento as imagens que merecerem permanecer em definito na presença de todas as eternidades.  

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Lá de onde vem o Sol


A meio disso tudo, numa velocidade que causa espanto, as pessoas circulam pelas estradas na procura da humildade. Sei, sim, que, se ainda não encontraram, de certeza logo cedo acharão pelas calçadas da cidade, quem sabe?! no raiar de novos tempos. Ou mesmo ao abrir as janelas do dia e enxergar um círculo perfeito no alto dos céus. Nisso, misto de igualdade entre os seres, nascem os segredos ora espalhados pelo fervor da Criação.

As palavras chafurdam dentro da gente, querendo a todo custo dizer alguma verdade até então desconhecida. Elas sabem, porém das barreiras dos mistérios, e sacodem, anos a fio, o instinto de querer e iluminar a sombra que carregas consigo. Forçaram desvendar tantas vezes que numa delas há de revelar tudo, enfim. Daí esse movimento dos objetos pelas ruas, numa fúria nunca antes imaginada. Quer-se chegar, no entanto, e saber o destino que lhes aguarda no caminho.

Já se passaram incontáveis firmamentos, tantas refeições, viagens, histórias, e todos aqui nesse mesmo comboio a bem dizer infinito. Perduram, insistem, desejam, e dormem logo em seguida. Quantas sessões de cinema, livros inúmeros, séculos de transição à cata de sonhos. Enquanto isso, as florestas renovam a folhagem; animais procriam e somem; senhores de indústrias preenchem de peças renováveis a superfície do Chão.

Sob o teto das fábricas, um silêncio de gerações. Nas universidades, nos meios de comunicação, na Internet, olhos abertos ao Infinito, dali percorreram os séculos e guardaram consigo as lendas doutras civilizações desde sempre desaparecidas. Hoje, as letras viraram números e falam linguagens inteligíveis, numa transformação sem par. Afinal se reencontraram séculos depois das profecias reveladas; eles, os outros, nós mesmos.

Uma festa de reconciliação, quando desmancharam as armas em instrumentos de alimentação e modos de produção da fraternidade humana. Vistos que tal, a isto chegar-se-ia certa feita, à medida de uma nova consciência. Destarte, brilharão as luzes da realidade mais plena.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Há que haver um destino


Caravanas imensas de criaturas espalhadas ao vento e essas indagações por demais, razão de tudo enquanto habitam a vastidão desse universo desproporcional às nossas ansiedades. Desde longe, e essas circunstâncias que insistem de querer continuar. Saturação do quanto existe, nisto moram os aspectos quais no tempo a atmosfera, nas leis da natureza humana, que gritam forte e pedem interpretação racional. Daí, as tantas filosofias, doutrinas, perquirições entremeadas de dúvidas e crenças, folguedos imaginários.

Em tudo por tudo, uma crença real consiste na força de prosseguir a qualquer custo. Na sede, no frio, a essência de caminhos vários do mesmo significado. As luzes na imensidão das consciências. O trino das espécies felizes. O brilho de um significado a custos exaustos, ser-se-ia algo além de um só desejo das multidões enfurecidas que procuram do céu as alturas.

Destarte, o peso das consequências. Esse desencontro de quantas histórias feitas a ferro e sangue. O sequenciado de todas as noites reveladas no cristal das sepulturas. Num instinto de confrontar consigo próprio, ressalvam-se os séquitos de muitas dores, nos amores desfeitos. Os filmes e suas coincidências atrozes. Versos. Grupos de menestréis que revivem o passar das gerações na alma das gentes.

Qual que sempre assim, os porquês depois largados lá fora, meros ardores de sóis, esmiuçados nas legendas de seus autores jamais esquecidos. Carências insanas. Postulados sórdidos. Litanias e horas lúgubres feitas de objetos insignificantes, sucatas dos extremos. Isso, esse jogo de claro/escuro que compõe as esquinas de todos os pecados, vidas e vidas. Conquanto, pois, clareiras abertas de todas as luas, ainda que tal deparamos sonhos construídos de metais e necessidades intensas.

Nessa hora, fechado o pano do Infinito, eis-nos agora face a face conosco a decantar milhões de atitudes inúteis, porém estradas abertas do desconhecido. Ao longe, os atores dos dramas se lavam à beira dos abismos. Olhares profundos insistem nas cantigas siderais e alimentam de ânsias os reencontros logo ali, passados que sejam os espasmos disso tudo que ora existimos nas barras do horizonte aceso.

sábado, 13 de setembro de 2025

Um anoitecer no Sertão


Ali, depois do apito do fim do dia no engenho, havia qual instante de reflexão, na paz de um silêncio avassalador. Calma nos afazeres. Animais sem as cangalhas de transportar a cana. A descarga do vapor acumulado na caldeira. E as luzes do poente distante levam consigo os restos de sol daquela vez. Espécie de hora neutra no tempo em volta. As próprias fisionomias, quais a se recolher, mostravam sinais doutros lugares lá de dentro, nesse momento assim raro de solenidade.

Nisto, no longe do Açude Velho logo próximo, de cuja parede avistava-se o sombreado da derradeira claridade, vinha o trinado das galinhas d´água, das marrecas, rachanãs, escondidas pelas represas. Aquela paisagem sonora mexia com a gente, falava noutras linguagens, doutra solidão. Dizia mistérios até então serrilhados nas dobras invisíveis das lembranças.

Mais um pouco, daí a escuridão tomaria conta de tudo, enquanto as mesmas presenças também sumiriam na direção de suas casas e o silêncio regressaria contundente, coberto dos sons imaginários da noite sertaneja.

Diante, pois, dessas recordações vivas que resistem, crescem, agora, outros instantes envoltos dos mesmos e antigos pendores daqueles de antigamente, isso que vira indagações, ânsias de saber, que em todos existe, do quanto tocar os sóis em movimento nas réstias íntimas das criaturas humanas. Outro tempo, novos sonhos, outras histórias, nos céus assistem resignados o correr das viagens, naves abertas de sempre na alma e nos pensamentos.

A estender o olhar naquilo de antes, vem o desejo de perguntar pelos dias que virão depois. O que esperar das gerações, e o que estas contarão das transas em torno das gentes. Quantas máquinas, quantos deslumbramentos na vertente inevitável que persistirá, queiram ou não, porém precursora dos destinos ora atrelados ao firmamento.

As perguntas constantes, nascidas dos fervores, dos amores, e quer-se, de certeza, um nexo que rege a todos e os alimenta da vontade de viver nas várzeas daqueles dias afastados, donde vem o pio insistente das aves dos fins de tarde, no anoitecer dos sertões.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Cinema de janela


Quando criança, um dos divertimentos que adotava, nas tardes do sítio onde vivi até os quatro anos, era permanecer num dos cômodos da casa a observar, no escuro, as sombras invertidas das pessoas e dos bichos, que transitava lá fora, a se projetarem na parede defronte a uma das janelas. Nessa brincadeira me demorava boas horas, admirando o movimento da luz e suas imagens inversas que causavam espécie na minha imaginação, a criar histórias mágicas daquelas figuras animadas.

Depois de muito tempo, soube que o cinema se faz dentro da mesma concepção ótica. Através do espaço exíguo da fresta das janelas se dava a recriação do mundo lá de fora, em processo físico da inversão, qual na objetiva das câmaras. A decomposição das imagens e o sistema de elaboração dos fotogramas estabelecem o discurso do filme.

Desse modo, avalio os textos que enfeixei no corpo deste livro. Desde a posição pessoal do indivíduo, abri meus olhos a testemunhar as coisas que vão aqui em forma de prosa. Histórias que ouvi dos meus avós, li nos livros, ouvi e ouço de meus pais, irmãos, amigos, conhecidos; lendas populares, fábulas, contos da tradição oral; ocorrências presenciadas nas ruas, nos sonhos; e tantas avaliações decodificativas da imensa realidade que me cerca a todo instante.

Qual janela aberta ao mundo daí de fora, me ponho neste cômodo que sou eu a contemplar o movimento da luz dos acontecimentos a se projetar nas paredes de mim mesmo; e transformo em palavras, frases, idéias, contextos, blocos de significados contínuos, na intenção de estabelecer relações inteligíveis com o mundo, na mágica do conhecimento humano.

Pois somos testemunhas privilegiadas do Universo. Muitos contam logo a experiência; outros a guardam para contar noutras ocasiões mais indicadas. Uns escrevem; outros desenham, pintam, fotografam, filmam, cantam, bordam, colam; passeiam, compram, vendem, guardam, esquecem, conversam, arquitetam, esculturam, reproduzem; vivem...

A vida, enfim, encarta essas experiências de ler na luz da existência as figuras que se projetam cá dentro da gente. Através da infinita comunicação buscamos transmiti-las aos outros seres, no objetivo de somar e dividir a um só tempo, oportunidade ímpar de conhecer, se conhecer, interpretar e comungar da essência de viver com intensidade que o mundo oferece a cada dia.

Eis o motivo de denominar CINEMA DE JANELA a mais este livro que ora deposito em suas mãos, naquilo que consegui reunir de resgate dos meus dias já passados e das melhores imagens que deles retive na consciência.

Juntos, vivamos a experiência rica de existir.       

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

O espelho das palavras


Quais respiração do Tempo,  nos tocam e pedem auxílio, aqui. Contrafeitas, sustentam o ritmo dos destinos e se desfazem logo em seguida. Nisso, padecem as criaturas e deslizam pela superfície do inevitável, aos pedaços distantes das consciências. Cores, trinados, luas; conquanto sujeitos das artimanhas do presente inextinguível, e sustêm a válvula da Criação, desde sempre. Vêm, narram e somem. Marcam as faces de tatuagens, suas rugas amorfas, gotas do orvalho da visão que se apaga nas ausências.

Lá longe, no entanto, pelas calçadas escuras do inexistente, bem ali, atravessam as muralhas da solidão de todos eles, a querer dizer do uso que façam delas, das mesmas palavras que lhes alimentaram a solidão. Desfazem os sentimentos por meio disso, da necessidade urgente de narrar as dores do firmamento, sem saber mesmo o que esteja por trás dessa visão insistente de falar e ver acontecer. Eles, elas, testemunhas do Infinito, na história deles, delas.

Porquanto estejam em tudo, são quem vive e não as pessoas, pois estas somem e aquelas hão de permanecer ao longo das lendas, ruas e estradas afora. Acesas, impõem condições de que nem os raros dispõem desse poder de sobreviver; elas assim permanecem de junto do Ser eterno. Descrevem, depõem, oferecem meios outros que nem só os momentos fugidios dos corações.

Nisto, as massas humanas contemplam a paisagem dos dias e obedecem ter de seguir em frente. Deixam suas cicatrizes nas palavras, hálito do mistério de existir e desaparecer. Vive-se, pois, de contemplar a sequência dos desertos e das areias de tal segredo que é o transcorrer do quanto existe. Numa delas, fosca massa de manobra dos trâmites ocorre a cada segundo e, passadas que seja disto tudo, sobrevivem à voragem do definitivo. E sorriem por dentro, feitas de visões escondidas nas lembranças; a fala das palavras, resquícios dos amores e sonhos que virão depois de haver sido.

(Ilustração: Hieronymus Bosch).

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O preço da virtude


Exemplos não faltam. A todo tempo isso do impacto que causa querer transformar a mediocridade a favor de harmonizar os mistérios dessa vida. Quase incrível o descaso sobre aqueles que buscarem meios de evoluir. Disso modelos existem desde sempre na forma do sacrifício dos poucos audaciosos que desejam a paz, o desenvolvimento e a evolução da espécie. Um chão sem conta rasga as vistas através dos tantos largados fora no decorrer da História. Depois retornam em forma de livros, filmes, monumentos, adoração, modelos e lembranças tardias.

Isto, sim, bem significam os motivos históricos, os equívocos das gerações, a ingratidão desses esquecidos no tempo, fora do painel dos bons e sucedidos.

Chega-se a imaginar ser esse o destino de quem queira rever a pauta dos acontecimentos e, portanto, merecer a excomunhão que cabe aos deserdados, o amargor das tramas e sacrifícios vários. Tal seja o preço a custear, quem sabe?, a dor das tradições. O lenitivo dos crédulos. Os calendários, que andam cheios desses nomes mais conhecidos de heróis e heroínas.

Daí, abordar as consequências de quem, lá um momento, desejou escrever diferente o alfabeto das conquistas humanas. E por isso amarguraram o coro dos indiferentes. Mesmo que tal, no entanto, há de se tocar em frente o trilho da solidão desses poucos atores do anonimato. Porém restam as palavras, os trechos das narrativas, o impulso de querer dizer a toda hora que os avanços da raça vieram assim, das duras penas. e trazem consigo o custo dessa indiferença.

Bom, aqui perfaz o esforço de registrar essa característica representativa do heroísmo renegado ao longo das tradições. O panteão cresce no transcorrer do quanto existe, se não aonde buscar tantas estrelas espalhadas pelo céu, aonde fomentar o exemplo dos raros que produziram a continuidade do que ora representar esse todo da humanidade?!

(Ilustração: Rolling Stone Brasil).

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Cativos da imaginação


São infinitas essas tradições a que tantos se submetem nas entranhas de si mesmo. Epopeias por demais desencontradas. Viagens sem conta aos painéis da inexistência. Sobem, descem os penhascos do imaginário e, logo em seguida, buscam refazer os credos dali impostos, descobertas só parciais. Nem sendo assim, terreno pegajoso das ficções, deixam por menos o empenho de continuar. Aceitam, crescem nos próprios cascos e avançam furiosos nos apegos alimentados desse eu turbulento, pretencioso.

Isto que seja o instinto de ficar aqui com tanto empenho. Fome de prosseguir através daquilo que cria, imagina, prepondera mente a dentro. Lances de curta duração, no entanto alimentam o furor da consistência de viver. Padecem a fome dos desejos e nela sobrevivem alguns dias. Constroem castelos de cartas e se escondem nos porões da continuidade de tudo.

Saber-se, pois, doutros universos, contudo presos aos laços de perdições exacerbadas. Vítimas, por isso, da fúria de sustentar as teses do inevitável, dormem sobre os colchões da fama, do poder provisório. Usufruem, urram às portas doutros paraísos que mesmo sejam cobertos de andrajos.

Distantes, de si, seguem aos ecos do destino. Horas, significam visagens, seres aquáticos, animais desaparecidos na neve do impossível. Bem isto, caricaturas doutros heróis desde então inexistentes na alma das gentes. Filas imensas deles acionam esses artefatos perversos à cata das ilusões que lhes viviam. Destruir, que virou ganância de quantas gerações espalhadas desde o passado mais remoto.

Espécie de autocrítica de uma raça esquisita, simboliza os anseios dalgum tempo novo que venha de vir nalgum momento. Por mais queiramos mistificar esses aspectos sombrios do que persiste desde longe, os resultados consistem nessa herança que aí estar. Cicatrizes profundas de aventuras desencontradas. Rastros lamacentos de muitas histórias perdidas. Vontade sem conta de novas harmonias ao coro dos contentes.

Daí, essa interpretação de quantas expectativas e poucos frutos ao sabor da consciência. Isso a subsistir aos percalços e acreditar em dias melhores que sempre hão de vir.

sábado, 6 de setembro de 2025

Em que há de se pensar


As atribuições do quanto existe pesam nisso, no imaginar frio das intenções. Face continuar essa longa aventura dos humanos, um a um, dias e dias, se vai nas entranhas das horas. E buscar razão principal de tocar adiante o conceito vida. Enquanto isto, disfarces à parte, impera na distância o poente na caixa dos destinos. Causa do quanto haverá, eis às mãos o trilho, as ferramentas, engrenagens a mexer nas barbas de molho do sentido de todos.

Então, olhos vendados, seguem-se as ilusões que preenchem a vista. Tantos sejam os desafios, porém persistirá o otimismo de todas as estações. Por mais saber, maiores interrogações. Nisto, o Tempo domina e vem a Fé, certeza de um Absoluto original.

Logo depois, a Consciência, outro protagonista desse roteiro. Sol das almas, ela define atitudes e arrependimentos, até o encontro da Sorte, penhor das existências. Rios e rios haver-se-á de vencer, na medida dos séculos. Daí, o impulso natural das compreensões através deste Infinito.

A fome de desvendar o itinerário da vida qualifica o desejo de, lá num instante, acalmar o sonho e usufruir da realidade. Enquanto isso, aonde focar o pensamento, compreender e acalmar os sentimentos?!... Trazer à tona o motivo de andar pelas estações sucessivas? Querer estar onde os sentidos dominam e o coração sustenta? A quais monumentos acender luzes e entoar cânticos? Conquanto vislumbrar causas, ora tocamos a orquestra dos místicos e revemos as certezas de que a Paz repousa nos braços da sacrossanta Eternidade.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Os limites da compreensão


Um a um, todos trazem consigo o senso de responder aos reflexos da Natureza. Carregam vidas a fio sob o manto das fantasias individuais. Prevalecem disso face a face com os demais, e folgam em consequência. Todos, em volta de si, ouvem e distinguem a paisagem circundante, cientes de ser conscientes do que isto lhes traz até então. Jogam os pensamentos quais artesões da memória, cercados de anseios e sendo vítimas dos desejos que fervilham lá dentro, e desesperam, fustigam os sonhos na mesma intensidade que impõem os sentimentos aos outros. Aparentes senhores dos limites, vislumbram junto das dezenas dos iguais sem o mínimo conhecimento da humana presença que os traz até aqui, restritos ao círculo fechado da própria imaginação.

Muitos, multidões, caravanas, desfazem no tempo o princípio da vontade, que sejam por demais conhecedores de tudo se veem assim na realidade. Atores de tantos papeis, trocam passos no chão dessas intenções coletivas, crias do mistério jogadas nesse universo, às vezes heróis, doutras figurantes das incertezas vazias. As palavras falam disso, das aventuras de entes assustados que percorreram frases, parágrafos e, logo a seguir, somem nas gretas da inexistência.

Porquanto exclusivos na visão individual, mas pessoas físicas do inesperado, justo no momento das decisões correm, pois, ao sabor das muitas farsas. Habitam os vários seres na busca de interpretar o motivo que os contêm de decidir os enigmas pessoais. Bem esse querer de avaliar estigmas, pedaços de vidas espraiados ao relento. Desde que possível, experimentam o instinto de cortejar a felicidade, contudo saltam obstáculos, criam leis, as obedecem, ou não, nas hostes coletivas, porém tontos de ambição e conflito. Vencer, domar a alma e brilhar entre as estrelas no alto dos céus.

Nesse afã de um dia querer ser consciente, desfazem em fagulhas o princípio do inevitável, braços dados com as normas a que chegarem. Muitos, milhões, enxames de luzes a preencher o quanto existe; nisto sobrevivem e contam de suas aventuras errantes aos quatro ventos.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Um outro eu que mora aqui

 

Nos finais das tardes ele surge a contar suas aventuras lá pelos porões sombrios em que passa a maioria das horas. Sabe mais do que o necessário, quero crer, vez utilizar tão pouco daquilo que carrega nessas lembranças. Mergulha numa espécie de domínio até aqui inexistente aos esteja de fora, até a mim mesmo, seu pretenso sucessor, surpreso que o vejo nessas ocasiões de lhe ouvir as confidências de momentos lá de longe, da infância, doutros vínculos, doutras pessoas... Falas, músicas, paisagens... A não dizer doutros territórios mentais difíceis de compreender. No entanto, insiste existir a todo preço. Quer conversar; a custo sair daquela solidão de seu habitat... Dizer, falar, trazer histórias de filmes vistos, de livros lidos, saudades, inexplicáveis segredos guardados, sentimentos remotos deixados pelo caminho. Bem liberto qual seja, impõe condições de linguagem, de seres iguais impossíveis de ser, das vivências ali supostamente perdidas no matagal das outras tardes, manhãs e solidão.

Fala comigo, sim, na maior sem cerimônia, numa espontaneidade de causar espécie, ainda que ciente de habitar esse outro território que nem sei lá aonde fica, porém de certeza que também ocupa o juízo que ora sou, e convive no meio dos trastes e contrastes que carrego vida a fora. Transita numa intimidade de causar espanto, pois conhece de mim uma dosagem superior ao saber das recordações das tantas oportunidades muito além do que eu próprio; nalgumas delas em nitidez surpreendente. Isto porque refaz aquilo abandonado das inconveniências, dos percalços, transes a fio, e despeja em cima da mesa da sala de jantar, e traz de volta num sorriso assim maroto, meio irônico, de intimidade quiçá agressiva seja, cúmplice e reflexiva. Olha nos meus mesmos olhos e desafia a que reviva com graça essas situações de sangue frio, sem ânsias, amarguras, etc.

Bom, que ele persiste dias constantes quem eu não sou a duvidar. Silenciosamente observa da janela do alto da gente minhas reações ao que revela, isso num fastio de memória apreciável, às vezes sórdido, doutras calmo, como quem quer achar alguém que lhe escute, a vencer tamanha solidão do que é feito e se recolher em seguida ao sótão em que mora, lá no alto da escada de um dos cômodos da casa dos meus avós, na fazenda em que nasci. Um personagem arisco, livre pelos campos das chapadas, dos eitos distantes daqueles mistérios fincados dentro de mim, indo aos poucos desaparecendo ao chegar as primeiras tintas escuras da noite, decerto a me aguardar no sono, daí adiante, quando, então, tomará, de todo, o meu viver, ao despertar pelo fervor dos sonhos, seu lugar, de que será o autor absoluto.