quarta-feira, 31 de maio de 2017

A intercessão de Maria

Noite dessas, agora no mês de maio, estivemos em Juazeiro do Norte, junto a membros do Instituto Cultural do Vale Caririense, no sentido de ministrar uma palestra a propósito de Maria de Nazaré, o que abordamos sob o ponto de vista de ser a Intercessora junto a Jesus, seu filho, na consolação aos seres humanos.

Maria, a Nossa Senhora dos católicos, que significa o espírito feminino da Mãe Natureza, presente, sobretudo, no elemento água, sem o qual inexistiria a vida no Planeta. Arquétipo, ou tipo original, reflete com sua presença o elemento básico na composição das seivas, do sangue e da maternidade. Ela é o conceito da mais pura beleza e da luz primordial no painel das energias do existir. Maria trescala o poder do Mestre Divino diante das situações de sobrevivência mais extremas, aqui sempre conosco todo tempo. 

Mãe e mestra, intercede junto a Jesus no que seja o seu primeiro milagre, segundo os evangelhos, quando transformaria, nas bodas de Caná, água em vinho. Iniciava assim a devoção mariana propagada em volta do mundo. Não haveria de haver jeito de melhor interpretar o amor que tanto dedica a nós o Poder Superior através do mito da mulher em seu grau de pureza maternal quão bem substanciado nas tantas religiões, as tais que reservam panteão próprio à Senhora das Águas, colo definitivo do carinho com que contamos ao vir na carne e aqui demorar pelas experiências do crescer espiritual. 

Nossa mãe original, princípio dos princípios, Maria revela o amparo divino no decorrer das aflições, mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa. Denominações da força imensurável da bondade maior, traz significados de conformação e amor aos degradados filhos de Eva. 

As Nossas Senhoras que zelam seus filhos amados, acalmam e confortam. Desde o início, ela está junto de nós, permitindo a continuação das gerações quais anjos de Deus, ser da Suprema glória.

Eis num rápido resumo o que dissemos naquela oportunidade aos irmãos do ICVC, em Juazeiro do Norte.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Memórias do futuro

Porquanto aqui se faz o que virá depois. Bem no presente nascerá o futuro. Das nossas mãos o amanhã dará seus primeiros passos. Há um caminho perfeito que, fôssemos cientes no tanto certo, jamais erraríamos o objetivo e chegaríamos mais ligeiro aonde devemos chegar, quando nada, nem ninguém, se perderá nas trilhas do Universo. A isto o Budismo denomina o Dharma.

Noutro aspecto, de quando titubeamos e saímos fora desse caminho, então incorreríamos no Karma, outro termo da mesma doutrina, resultante de nossas ações atuais em desobediência ao princípio da Verdade, e disporíamos da capacidade infinita de gerar só os frutos bons. Porém equívocos custam caro. E a fim de voltar ao estado anterior do sentido original da perfeição, vai o sofrimento, amargura de tantos, no pagar o preço de refazer a possibilidade de concretizar os sonhos ideais, a perfeição largada nos equívocos.

Por isso, as memórias do futuro, sala de produção do depois nas horas do presente imediato. Na casa de força da realização pessoal, o agora, trabalhamos a exatidão dos resultados de amanhã logo cedo. No hoje a sequência dos acontecimentos venturosos. Tua alma, tua palma, diz o povo.

As palavras detêm o poder de contar disso. Peças mágicas dos mistérios, oferecem instrumentos de viver a felicidade num abrir e fechar de olhos. Quais os filmes na busca dos finais felizes, no momento dagora existem as sementes dos melhores frutos. Assim as palavras, os pensamentos e as ações. Construir desejos em forma de vontade firme e grandeza na alma. Revelar a si o segredo da transformação da água em vinho desde nossos primeiros movimentos neste chão. Formar do caos a Salvação, isto numa única atitude, gesto primordial da conversão pessoal na bondade, princípio nacional do Amor em todos os idiomas, todas as religiões.

Um futuro benigno, tal qual nossa prudente imaginação. Dias de paz, fontes de plenitude, luz e satisfação.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Boas palavras

Há uma ordem perfeita, pois persistirá o equilíbrio acima das opiniões divergentes. Tudo marcha inexoravelmente a um fim útil. São esses elementos de conceito que existem acima dos demais fatores aqui do chão. Eis a base do que significa em todos os quadrantes da aparente miséria humana. E olhe bem que já andamos tanto até o nível dagora que impressiona os degraus do nosso aprimoramento e os sucessos obtidos. Porém acrescente que do ponto de vista da inteligência material, a de elaborar maquinários e produzir ferramentas. Juntar capitais. Formar nações em redor do globo.

No outro quadrante, aspecto da convivência no seio das espécies, o bicho pega se formos analisar o jeito dos relacionamentos precários ainda em voga. Animal sanguinário, gasta mais com armamento do que com o bem-estar da civilização. O coração, enquanto órgão de funcionamento, vá lá que desempenhe seu papel de limpar com exatidão o sangue, impulsionar aos demais departamentos do corpo, bater no ritmo da natureza, etc. Visto doutros modos, da sede do sentimento, anda devagar de causar dó. Evoluiu pouco a velha humanidade, no que tange amar uns aos outros. Daí os pergaminhos do atraso. Tanta peleja de conter os instintos e lembrar com justiça o semelhante só demonstra longe a certeza na vitória. 

Outrossim, muito de experiência se faz no decorrer da caminhada. Decepções, frustrações, enganos, que resultam numa autocrítica urgente e necessária. Dentro da gente, desperta o desejo dos dias melhores. De tanto errar, o técnico da inteligência racional quer agora despertar aos paraísos reais. Aprender modos de produzir que atendam a todos indiscriminadamente, seja quem seja, de qualquer credo, raça, sexo, país, idade. Pastar com todos em verdes campinas. 

E quem quiser, veja os frutos bons da mais douta sabedoria. Libertar as possibilidades na escolha dos meios que renovem a face da Terra. Isto revelará um Homem verdadeiro que espera por nós nos planos da Verdade definitiva. Ele vive no coração da gente.

(Ilustração: Vincent van Gogh).

sábado, 27 de maio de 2017

Perseguição

Há pessoas que têm o costume de repassar a outros a responsabilidade pelos seus atos, quase que no papel das inocentes vítimas. Esquecem sobremodo o sentido de tudo na justa razão, equilíbrio universal da Natureza, império exclusivo da ordem; nada foge ao seu controle, vindo daí o princípio do merecimento. Colhemos apenas o que plantamos, sem subterfúgios. 

Esse hábito de transferir aos demais o motivo do que se lhes aconteça bem caracteriza o atraso na compreensão espiritual. Ignorar  os próprios atos. Fazer-se merecedor do desejo sem desfrutar do que houver feito antes. E nisso atirar na civilização, numa injustiça do acaso, noutras forças, nos ventos, nas épocas, no Mal, as causas da infelicidade pessoal, ou coletiva.

Ninguém olha a si e estabelece uma perfeita relação de causa e feito, da dependência do justo pelo justo da Lei. 

Quando Nietzsche questiona a existência De um Poder Infinito além dos seres humanos, com base na acomodação aos valores de grupos dominantes dos deuses de castas, de classes sociais e políticas. E proclamou o Super-Homem, um deus de Si, para além do Bem e do Mal, acima dessa mediocridade do fracasso justificado e cínico.

Mais do que um filosofia, quer oferecer uma reclamação aos desistentes do Poder que transportam na alma, fonte dos mistérios da Criação e da Consciência, longe de isto exercitar numa prática efetiva.

A propósito, li recentemente, no livro Histórias do Rabi, de Martin Burber, narrativa do que seria esse grau da dependência humana às próprias fraquezas, e sua transferência aos outros mortais. 

É uma história do Rabi Pinkras. Ao chegar na casa de estudos em que transmitia seus ensinamentos, acha os discípulos em discussão acalorada. Ao avistarem o Mestre, silenciaram, sabendo, no entanto, do interesse dele quanto ao que há pouco debatiam.

- Bom, Mestre, nós avaliávamos o que fazer diante das perseguições do mal a que todos estamos sujeitos – disse um dos presentes.

O rabino de pronto considerou: - Não vos preocupeis. Tão alto ainda não chegastes, para que ele vos persiga. Por enquanto sois vós que o perseguis.

(Ilustração: Filme O gato do rabino, de Antoine Delesvaux e Joann Star).

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Chegança

Chega de embromação, reunião, conversa fiada, enrolação. Tanto papel e tanto papel feio, qual se fossemos reis deste mundo antigo de endereço torto. Chega de lera, tapeação, de enganar e enganar-se. Vamos começar a trabalhar pela transformação do atraso que se arrasta enquanto de papo estamos todos de saco cheio. Aonde se vira e lá estão os mesmos levadores na conversa, querendo traçar as cartas e ganhar o jogo. Só não ver quem não quer, basta abrir os jornais e acomodar o traseiro numa poltrona, e tome enchimento de linguiça. Cada um querendo a melhor parte do erário do povo que sofre, que chora, que amarga em filas e filas, e multas, e taxas, e atrasos, e frustrações, engarrafamentos, crediários. Ninguém que veja o descaso com que tratam essa gente. Quanto abuso, suor e desgosto de políticos fora de propósito, endinheirados, farristas, gozadores. Tem hora em que a gente fica buscando a tecla de interrogação nesse teatro de bonecos em que virou esse mundo, e nada, malandro pra todo lado, nos abusos da farra e do desgosto. Enquanto arrastam a canga os simples, zé povinhos desarvorados das classes inferiores, os enganados, os abusados pelos que detêm o poder. Chega das transações vergonhosas em que reverteram esse chão de almas penadas. Erradas vítimas de si mesmos, descem a ladeira no sentido das amarguras de tomar o milho dos que plantam e só os fregueses que comem nos banquetes da injustiça comum que eles mesmos estabelecem. Alerta, macacada, até que parecia fácil confundir e dominar, porém esquecem o infinito poder que a tudo observa e aguarda a renovação dessa gente. Abramos os olhos durante a festa, pois o dono está no caminho e vem de olhos acesos ver de perto o estrago feito até agora. Chega de sacanagem, perdição e ganância. Da inteligência moral de todos que venderam a consciência daí nascerá história nova que limpará de vez tudo isso. Avisados, sim, bem, estamos há bastante tempo. Chega! Chegou!

(Ilustração: Rembrandt van Rijn).

terça-feira, 23 de maio de 2017

O chapeado indócil

Em Crato, naquele tempo, os ônibus do Expresso de Luxo, que faziam a linha para Fortaleza, saíam da esquina da Rua Nélson Alencar ao lado da Praça Cristo Rei, espécie de rodoviária improvisada no centro da cidade, também conhecida por Esquina de Chagas Bezerra. 

As malas dos passageiros chegavam trazidas no ombro e na cabeça pelos chapeados, tipos humanos forçudos, peões que também carregavam e descarregavam as bagagens do trem e os vagões da estrada de ferro. Braços musculosos, pescoços atarracados de tanto peso, cachaceiros de marca maior, esses profissionais se organizavam numa espécie de sindicato, para receber assistência coletiva e uma chapa de bronze polido com um número gravado, que fixavam bem na frente de chapéu de maça acolchoado, ficando mais conhecidos por esse número do que pelo próprio nome. 

De todos eles o mais famoso era Noventa, figura folclórica pelo jeito ligeiro de andar, falar e contar suas histórias prenhes de humor fino e malicioso.

Bom, dizíamos, em Crato, naquele tempo, os ônibus do Expresso de Luxo, que faziam a linha para Fortaleza, saíam da esquina da Rua Nélson Alencar ao lado da Praça Francisco Sá, a da Estação Ferroviária... Época quando vieram a Crato Irmã Maria Alice e outras freiras do Silêncio, assim denominadas pela ausência de hábito ostensivo, característica dessa ordem da qual participou
Tia Vanice.

Vieram em visita de poucos dias, conhecer Crato, Juazeiro de Norte e lugares típicos da Região, e nessa noite retornavam para Fortaleza, daí seguindo a Recife, casa de onde provinham e residiam.

O chapeado que transportava a bagagem da freira e das suas acompanhantes, a seu turno, não parecia viver noite das mais felizes quando chegou superlotado de malas e sacos, despejando-os sobre a passarela de embarque. Exasperado, resmungão, grosseiro, ele falava alto, chamava nome feio, respondia ríspido aos que lhe falavam, esbravejava com tudo e todos, bruto de causar espanto, coiceando até o vento.

Apreensiva, Tia Vanice, uma das anfitriãs, meio sem jeito, observou instante em que a Madre aproximou-se do chapeado agressivo, chamando-o fora do movimento e dizendo-lhe baixinho algumas palavras próximas aos ouvidos. Depois daquilo, a calma dominou o recinto aonde circulava boa quantidade de gente, passageiros e familiares, na hora da despedida. O homem terminou de cumprir sua função, recebeu o pagamento, e viajaram em paz.

Porém Tia Vanice guardou o gesto que modificou o astral do chapeado. Lembrou ainda por longo tempo da cena, força persuasiva da religiosa e sua atitude tranquilizadora.

Passados cinco anos, ou mais um pouco, achava-se em Salvador, durante bela festa de homenagem à Irmã Maria Alice, que inteirava meio século de serviços prestados, conquista marcante em prol da educação, da solidariedade... Ótima ocasião de recordar o poder de convencimento da feira na estação de passageiros de Crato... Indagação que alimentara tanto tempo. 

Na primeira chance, chamou de lado a homenageada e perguntou-lhe o transmitira de conselho ao chapeado, o que causara efeito mágico de mudar o seu humor, arrefecer-lhe os impulsos, pondo-o de volta à passividade.

Sem maiores esforços, a freira lembrou com detalhes o episódio, inclusive o que dissera:

- Não falei coisa muito especial, não. O que fiz foi mostrar a ele que sua braguilha estava desabotoada. - Daí, ele se afastou um pouco, recompôs o traje e continuou a trabalhar como se nada houvesse acontecido.  - Apenas isso.

domingo, 21 de maio de 2017

Além do infinito


A maior frustração dos romanos e fariseus foi não ter enquadrado Jesus em nenhuma das limitações conhecidas de vícios ou interesses pessoais. Cercaram de tudo quanto era lado, mas o trauma persiste no vazar dos séculos, inclusive até de querer eliminá-lo numa cruz infamante e sabê-lo vencedor da própria morte nas aflições do Calvário.

Viveu vida exemplar de prodígios e bondade, ente imaculado e perfeição absoluta neste chão de histórias que terminam em pouco mais ou quase nada. Pregou de um reino fora daqui, o reino dos Céus, onde a Verdade predomina e rege, sobretudo, o teto da feliz imortalidade. Demonstrou o quanto o Amor realiza em termos de paz nos corações, estrada de felicidade e crescimento eternos.

Os seres humanos até hoje ainda batem cabeça querendo seguir Jesus, sem galgar resultados definitivos. Mas preciso seja vivê-lo quem quiser encontrar a resposta do dilema das gerações. Ninguém dá traço em Deus. Ou aceita evoluir ou volta a reencarnar, até um dia quando desvendar o mistério da morte e vencer a história que passa dentro de ética incorrigível. 

E insistem no querer inventar maquinações e resistências, escondendo a coerência debaixo dos tapetes dos palácios da vaidade, parceiros da derrota e do tédio. É aceitar, ou deitar na lama do pecado e beber a taça de fel do infortúnio os que desejarem vencer o mundo na marra, no furor.

Todo tempo isso apresenta a face dos fariseus de si mesmos alimentam o pesadelo de trair os ideais cristãos, doutores perdidos nas falsidades. A vitória do Bem já vem a caminho, a passos largos todo momento em que caem os velhos propósitos da covardia deslavada. E o Mestre divino persiste a guiar os eleitos no prumo da realização do Ser, plena luz da condição em que existem no sentido da correção. Porquanto somos projeto da certeza nos dias da Salvação eterna. 

(Ilustração: Centro de Cultura Popular Mestre Noza - Juazeiro do Norte CE). 

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Olhos do destino

São largas, bem largas, essas ondas que a tudo dominam, revelações constantes dos acontecimentos. Sementes que nascem, dias crescem por entre os dedos das horas e os momentos vêm e vão feitos fragmentos que, unidos a único feixe, ponteiam o caminhar de todos os seres. Alguns, os humanos, demonstram quase saber que vivem assim pouco caso fazendo diante dos impasses do Senhor do destino. Deixam fluir as atitudes que produzem quase largando ao léu da sorte o direito de viver e a sabedoria imensa que organiza e equilibra.

Raras pessoas notam que desempenham papéis de valia e abandonam o gosto de querer com amor os ditames e as oportunidades. Gostam de render homenagem ao pouco caso e ferem de morte a existência livre. Vivem jogados às roletas dos perdidos. Bem que, no entanto, será diferente à medida que aceitar o prazer da liberdade. Entregar aos sopros dos ventos e marés viver a vertigem dos resultados em movimento. Querem, outrossim, achar que sobram nas curvas do acaso, quando nem isso existe, o acaso, mera insuficiência da imaginação, cobre o sonho.

A perfeição absoluta, segundo Platão, existe tão só no mundo das ideias, lá contudo existem, nesse mundo necessário dos sonhos em carne viva, o padrão universal do absoluto perfeito, reino de luz e perfeição. Guardá-lo consigo cabe a nós seres meio pensantes. Trazer a dentro, permitir mergulhos siderais nas nuvens suaves do coração do poder e da felicidade. Permitir, enfim, despertar o íntimo nas possibilidades infinitas.

E fugir de ficar preso aos caprichos da mediocridade sem cair na solidão fantasmagórica dos medos ocultos e das culpas que carrega. Alimentar o valor supremo da glória e dos amores imortais, e vivê-los intensamente. Bem nessas horas vazias, em luzes multicoloridas brilha o Sol das almas no seio de Si próprio. Acorda, então!...  

(Ilustração: Camille Pissarro).

terça-feira, 16 de maio de 2017

E tudo se transforma

Das boas conversas que mantenho com Padre Teodósio, nas oportunidades em que o visito, ficam histórias prosaicas, agradáveis, ricas de ensinamentos. Ainda que sejam leves, simples, por vezes, deixam boas notícias e lições valiosas, o que evidencia o tanto de sabedoria que detém fruto da existência que conduz vida afora. Outro dia contou episódio de uma tarde quando observava, na calçada de casa, moradora das imediações trazendo lixeira até onde logo passaria o caminhão do recolhimento.  


Ao largar o embrulho do lixo, na proximidade entre as pessoas um garotinho observou que dentro algo se mexia, objeto diferente do comum dos restos domésticos. Chegou mais perto a fim de identificar o que fosse. Era um minguado filhote de gato envolto no meio dos trastes abandonados. O menino se aproximou do invólucro, afastou os sobejos da superfície e descobriu lá mais embaixo o animal que fora descartado pela dona. Com jeito, veio puxando até fora o bichano e soprou-lhe com força a barriga.

Nessa hora o rejeitado ganhou alma nova, suspenso pelas mãos da criança, e esboçou reação favorável de querer viver ainda mais.

Nisso o garoto juntou a si o pequeno ser e, antes de levá-lo para sua casa, afirmou triunfante:

- Esse ainda presta.

...

Ao concluir a história, o sacerdote considerou:

- Deus não usa lata de lixo.

E rindo, vi que há lugar suficiente a tudo e todos neste mundo.

(Ilustração: Aldemir Martins).

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Uma nova linguagem

Isso já depois de muitas experiências que deram naquilo que está aí no mercado da carne humana, e só agora os habitantes do Planeta resolvem que será necessária a linguagem da sinceridade. O que falar, execute. Deixar de frioleiras e aceitar ser verdadeiro, sob pena de ameaçar a continuidade geral do sistema de sobrevivência na Terra. Hoje a grande ameaça que domina os balcões de negócios dos armamentos mundiais significa destruir parte da raça a fim de alimentar com rações diárias o resto que sobrar. E mais que nunca isto nada de certo tem. Há que se desenvolver uma nova consciência por meio de linguagem honesta; aquilo que se disser que se ponha em prática, e o inverso disto representaria forte tendência à perversidade, falsidade que não interessa aos selvagens do egoísmo em que se transformaram os zumbis das avenidas escuras e seus carrões envernizados da indiferença. 

Esse alvorecer de uma nova consciência, nascida do desejo forte das novas gerações de sobreviver diante das incapacidades dos antigos viventes das cavernas, agora especializa os que sobraram a promover essa mudança de linguagem o quanto antes, de se relocalizar os hemisférios cerebrais de modo a esquecer o que fora no passado a linguagem antiga que gerou tudo isso de imperfeito, que gerou a demagogia de poder que praticamente destruiu a possibilidade de levar em frente a narrativa da História abandonada por ineficaz nos moldes presentes. Os conceitos envelheceram com a continuidade dos movimentos sociais, no decorrer do tempo.

As cidades, o esforço de sobreviver em grupo, ocasionou a dificuldade atual de vencer as enganações dos enganadores profissionais, os tais políticos, que prevalecem nas urnas da falsa escolha dos grupos alienados em que se transformaram as hostes dos animais que se achavam pensantes, inteligentes... Porém longe estava disso, porquanto deveriam utilizar todo o panorama da mente, o que terá de fazer nas horas do momento.  

(Ilustração: Bruegel).

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Priorizar o tempo

Bem unido à vida e à saúde, o tempo nos é essencial. No entanto a maioria das pessoas vê com indiferença este fator primordial e o esbanja, dilapida, quais donatários do resto de toda a Eternidade. Espécie de uma vaidade antecipada, acredita no comum que viverá para sempre. Larga pedaços dos dias em tudo quanto acha de mania, qual fosse ele propriedade privada. Isso porém, demonstra contradição séria aos valores da sorte boa. 

A vida, que ainda hoje da humanidade peleja no sentido de responder às questões principais da Filosofia: Donde a gente vem; aonde vai; e o que faz aqui? nisso, queiramos ou não, dependemos um tanto da opinião dos pesquisadores da moda, e permanecemos quase na estaca zero em responder ao enigma fundamental da existência: O que é a vida?... 

Saúde, esta depende diretamente dos segredos da mãe Natureza, dos quais somos meros aprendizes por vezes incompetentes, preguiçosos. De tanto ouvir falar que o alimento significa fonte de saúde, as gerações calejaram e jogam o que bem entendem no aparelho digestivo, indiferentes parceiros da indústria química. Outra valiosa questão a ser respondida, saúde e alimentação, o binômio do bem estar físico, mental e espiritual. 

Quanto à boa utilização do fator tempo isto também precisar ser visto de frente. Quanta dilapidação das horas, quanta desfaçatez na utilização do bem tão precioso das idades. A própria demonstração de pouco ou nenhum conhecimento. Desde os primeiros instantes de vida fora do útero materno, daí inicia a contagem regressiva na devolução dos dias à matriz original.  Queiramos ou não, pouco importa nosso querer. O decreto vem assinado dentro das próprias células. E nessa hora aumenta a responsabilidade em face do que faremos das atitudes, das opiniões, dos desejos e opções individuais. Nada significa imaginar diferente. O bom senso pesa muito mais. Vamos, pois, exercitar a concentração das ideias, do pensamento, em fins úteis, porquanto chegará esse tempo da prestação de contas. E lá não tem caixa dois. Toda conversa será somada e considerada sob o crivo da justa razão.

(Ilustração: Centro de Cultura Popular Mestre Noza - Juazeiro do Norte CE).

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Sintomas de democracia

Ainda que doa o quanto de fragilidade moral vem sendo revelado em demasiados setores da vida nacional, tantas movimentações e continuidade que cheiram a fortalecimento democrático. Que prisões de políticos famosos e aparentemente poderosos do ponto de vista financeiro, inclusive imposições jurídicas a ex-presidentes, nada representa em termos da quebra da estabilidade do estado de direito e as possibilidades de uma maior apuração do que de errado existe por baixo da mesa do poder reservam novas notícias.

A gente, que atravessou regime de exceção ainda marcante na memória recente brasileira, hoje presencia a expansão das consequências dos desmandos de governos, e de certeza admite sinais de mudança que já existem em forma de atitudes e determinações, isto que sem gerar o imprevisível. Ao exemplo do que aconteceu à época da renúncia de Jânio Quadros, o desequilíbrio tônico daquela fase nem de longe parece denotar nos dias atuais. Há sérios efeitos de transformações coerentes, no sentido de virmos a trazer aos novos tempos o que pode vir em futuro próximo com maior intensidade.

Sabemos do valor, agora, dos meios de comunicações e da velocidade da informação, somados aos contatos alternativos da grande população, tudo sob a égide do progresso humano em ventos contemporâneos. A tecnologia ajuda a propagação e os instrumentos eletrônicos aprimorados revelam o desenvolvimento da Civilização.

Apesar da injustiça generalizada pela má distribuição dos recursos originais da Terra, onde grupos reduzidos de colonizadores detêm os poderes da força, equipamentos pessoais apresentam leves perspectivas de chegar ao que o idealismo científico classifica de Democracia, regime do povo pelo povo.

Cabem esperanças acesas e trabalhos coletivos de preservação dessas conquistas que sobrevivem todo momento, sob os riscos da imbecilidade das potências materialistas mundiais porem em xeque a ordem mundial. Aos indivíduos por isso reserva o futuro a tonalidade da Paz que precisamos preservar a custo de coragem e muito amor de todos nós. 

(Ilustração: Site de O Globo).

Aonde foi parar o silêncio original

Quem gosta de ouvir o canto dos pássaros e suas harmonias perfeitas, isto sem precisar de afinação ou escola, bem pode avaliar o nível atual da música popular brasileira. Longe de criticar cantores e compositores da atualidade, ainda bem que a ciência desenvolveu a preservação da espécie através das tecnologias e gravações, que eternizam o fugidio. Porém, meu amigo, a que ponto se chegou no ramo da indústria fonográfica?!. Um desastre, uma hecatombe da qualidade na produção de fracassos virou o mundo artístico dessa época. 


Conquanto haja necessidade urgente de preencher os espaços da mídia, nada justifica o que o desmantelo do desejo de cantar e compor fez dos daqui. Os pardais, chegados nos navios mercantes dos europeus, na época da colonização, passaram a imitar inimitáveis passarinhos do novo mundo. Nunca, jamais, no entanto, chegariam aos pés dos tais gênios da melodia. Aliás, os pardais apenas gritam, piam desordenados, soluçam de vontade no esforço de cantar, ficando fora de quaisquer considerações.

Assim também os nossos políticos forjados na têmpera dos vulcões da ambição. Esqueceram a ética, a moral e os bons costumes. Acharam por longa data que administrariam a sociedade ao toque dos caixas dois; venderam o que não possuíam e restam no molho dos noticiários repetitivos e processos infindáveis. Onde aprenderam a exercer mandatos desnorteados nem os marinheiros mercantes da colonização fraudulenta imaginaram isso. Largavam aqui os degredados e levavam pau-brasil, sem notar que plantavam desenganos e impurezas nas terras tupiniquins. Pardais, vindos nas caravelas, hoje estrilam nas rádios e televisões seus desenganos, e os políticos de pouca honestidade dominam o destino de populações inteiras, mais que nunca necessitadas de grandes estadistas que lhes conduzam às planícies da ordem social. Nesse tempo, acordes renovados da justiça indicariam os dias novos que virão a todos felicitar através do plantio feliz que há de vir.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

O Estádio Romeirão

Sim, Nicássio, eu estava lá naquele tarde do primeiro de maio de 1970, em meio a comemorações alusivas ao Dia do Trabalho, foi inaugurado, em Juazeiro do Norte, o Estádio Mauro Sampaio, depois consagrado sob a legenda de O Romeirão. Era numa dessas tardes cearenses agradáveis à prática do melhor futebol. No campo, duas escolas do futebol brasileiro, Fortaleza e Cruzeiro. Festa alegre, embandeirada, novidadeira por excelência. O Cariri afinal recebia sua primeira praça de esportes que mereceu o nome de estádio, graças aos esforços administrativos de quem o denominava, Dr. Mauro, então prefeito do Município.

No decorrer da pugna, lotadas que estavam todas as dependências de animado público em júbilo intenso, dos pés de Natal, o ataque cruzeirense marcaria o primeiro tento no novo gramado. Para além do bairrismo, se apresentara a maturidade do melhor dos times em campo, ainda que diante dos aguerridos craques cearenses, numa demonstração de relativo equilíbrio e boa qualidade técnica das duas forças no campo.

A sequência das tradições traria raros espetáculos futebolísticos que ora marcam a história do lugar. Valiosos atletas ali demonstrariam seus talentos, dentre outros os gênios fabulosos Pelé e Garrincha, de brilho imortal. Logo adiante, surgiriam as primeiras equipes profissionais do Cariri cearense, Guarani e Icasa, frutos da semente que se plantara.

Transcorridas algo em volta de cinco décadas, hoje permanece vigoroso o estádio juazeirense, palco de amplas possibilidades e emoções da prática esportiva. Mesmo que projetado a 15 mil, o estádio já chegou a comportar 24 mil pessoas, quando, em 27 de novembro de 1977, recebeu a visita do Fluminense carioca. 

Naquele primeiro jogo a que assistíamos, o Cruzeiro faria mais dois gols, fechando em 3X0 o resultado da partida, hoje matéria de memória dos presentes qual evento de rara beleza e notoriedade, e início de fase adiantada do nosso esporte.    

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Parar o pensamento

No meio dos ensinos budistas um existe que representa a base principal da doutrina, isto de conseguir parar o pensamento, acalmar a mente, aquietar o pensamento, que equivale ao instrumento de orientação racional, constante caçador. E quando deixado ao léu da sorte, ele predomina sobre quem o utiliza e passa a ser senhor. 

Enquanto o eu espiritual lá do coração estiver sob os ditames do eu material, a razão essencial não irá atendê-lo, porquanto esta aguardará o tempo quando houver sentimentos senhores e não pensamentos dominantes. 

A fase crítica desse período, época do domínio da matéria sobre o Espírito, significará, logo adiante, o declínio do egoísmo, da força bruta que um dia dominou o espírito, donde procederá ao desenvolvimento rumo à Eternidade evoluída. O itinerário é bem este que ora se vive, que alguns consideram desespero, angústia, ansiedade dos humanos, a fim de encontrar a Salvação.

Restringir o pensamento demarca os limites da crise aqui considerada, e abrirá condições da integração a novos níveis e possibilidades. A vinda dos mestres espirituais tem este sentido de oferecer os conceitos ainda da transcendência dos mundos a parâmetros da Esperança imortal. 

A porta estreita de que fala Jesus esclarece o quanto de poder existe na vontade focalizada numa só direção através dos pensamentos que trabalham a favor do progresso. Dessa função virão outras aquisições, vencendo os instintos e os impulsos, e fornecendo meios de obter ganhos dos sentimentos conduzidos ao sentimento maior, o Amor verdadeiro.


Por isso, o aperfeiçoamento ao máximo dos recursos mentais, clímax de um pensamento elaborado, em prol das respostas da sensibilidade, será a vitória dos sonhos e o reino das maravilhas, situando o sentimento acima do raciocínio imediato do egoísmo. O ritmo disso caberá aos indivíduos, porquanto vem de dentro de Si a superação desta fase. 


terça-feira, 2 de maio de 2017

O enigma do rei

Numa das crises de humor, o rei convocaria seus súditos em assembleia e proporia que, daí a três dias, iria fornecer enigma a ser respondido com uma só palavra, e quem não acertasse correria risco de perder a cabeça. Nuvem de apreensão tomaria conta do grupo, em seguida dispersado e convocado para daí ao final do prazo.


Naqueles termos, ninguém saía tranquilo da conferência. Portanto Camões não ficava à margem, e viu escurecer a paz tradicional que cultivava, regressando ao lar em pânico. Sua companheira observou que algo de grave se dera na conferência de Sua Majestade, cuidando de saber o motivo da infelicidade que tomava o rosto do marido. 

- Que palavra seria aquela do Senhor Rei, mulher? – indagou arrependido das proximidades com o soberano.

Ela, no entanto, a demonstrar pouco caso, pediu que esperasse até a manhã seguinte, e diria o termo que solucionava o enigma. Apenas aguardasse pouco mais, deixando aos seus cuidados resolver.

No outro dia, bem cedo o marido acordaria a esposa, passada que fora a noite de medo que viveu. Olha a mulher na dúvida se receberia a resposta que lhe prometera.

- Já sei a solução do enigma – ela afirmou.

- Pois diga logo, se não essa dor continua o dia todo. Diga, diga – apreensivo falou.

- A palavra de Sua Majestade é passará – foi dizendo. – Isto, passará.

O marido parou de olhos fixos no ar, assim meio na dúvida, porém sem outro jeito além de aceitar de imediato o termo que a esposa oferecia de salvação. 

Tranquilizou-se pelos dois dias que ainda restavam, e na hora certa comparecia ao palácio, alma leve e confiante. Trazia consigo a resposta desejada pelo rei.

- Sim, senhores, vamos ao que interessa – disse o monarca ameaçador. – Qual a palavra que serve de remédio às dores deste mundo em qualquer situação?

Nisso, de ânimo aceso, Camões gritou de uma vez por todas: - Passará!

O rei levantou a cabeça e sorriu, confirmando o acerto da resposta. E todos se abraçaram felizes.

- Passará – repetiu o rei calmamente.