segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Noites de Lua Cheia



Passar o tempo neste apartamento de livros, quadros e fotografias me deixa precisando de repouso. Os discos, bons companheiros antigos, se transformaram em trecos repetitivos, lineares e aborrecidos.

- Vida de cidade grande. CIDADE GRANDE -, argumentos anêmicos. Razões do passado, quando plástico era elemento curioso, como espelhos e fitas coloridas dos portugueses aos índios.

Hoje, tudo ficou diferente, perdido que está o sonho da combinação artificial das cores. Aquilo de se ser um pouco de humano - de necessitar da natureza - não mais pode ter compensação nas noitadas em frente aos vídeos, jogos de futebol e cinema. Quer-se viver de verdade. Viver de verdade (engraçado, não fosse trágico). Hora de decisão. Onde sobra querer demorar um pouco mais.

É noite de lua cheia. (- Mas hoje não é quarto crescente?).

Pouco importa a lua. Vivemos o expediente. Quinze para as quatro, esquina da Piedade amanhã. Viver. Vegetar. Utopia em antítese. O retorno, a síntese.

As mariposas nunca mais procuraram a luz. Luz artificial industrial. Noites de cidade. As noites de apartamento. Ausência de vida pelo ar. Um cheiro de incenso envelhecido, de mofo. Vidas artificiosas nos jornais, nas revistas. Sonhos andam escassos, esgotados pelos desanos (anos de desenganos). Ausência completa de neologismo. Um mundo de silogismo e sofismas. Saudades amarelecidas, nos varais em volta.

Como dizem os que quebraram a cara: - Do erro, a recuperação.

De uma falha burocrática de antes, a máquina tomou o lugar do Homem, dono do Planeta, na ordem natural das coisas. Alguns sacrificaram todos. Cidades em volta das fábricas. Cidades em tudo. Monstros de ferro e fogo. A própria brutalidade envidraçada.

Assim, muitos anos. Assim, em volta espiralada. Sofisticação universal de centros cercados de substâncias apodrecidas. Noites de floresta. O mundo fantasioso dos ancestrais. As histórias de Bradbury. Vida marciana. A beleza em tudo. O amor. A consciência. A justiça. A igualdade. O sonho. A liberdade. A vida. O trabalho. A honestidade. O equilíbrio. O frio. O quente. O açúcar. O sal. O som. As flores. As árvores. A criação. Deus.

A Coca-Cola gorou. A raça se levanta devagar. Levagar. O ovo. O novo. Tempo transcorrendo no vento e uma sensação de calor. Uns descem, outros sobem a Avenida Sete, às 9:00 horas de um sábado de Primavera, no fervor do comércio. O sol. A procura do não se sabe o quê. Do não se sabe onde. Preço químico dos acrílicos bocejantes nas encostas dos morros. O rapa expulsou os hippies. Salvador do turismo, como meretriz sorridente, segue pras bandas da Praça da Sé - pela Rua Chile. Cheiro baiano de África, de Continente Negro. A manhã - a manha... amores de dendê - de onda do mar - de areia branca - das madrugadas de Itapuã - de sabor de sal na pele o dia todo.

Uma noite a mais pela frente. A lua crescendo. Os discos nem sempre silenciam. Mesmo porque (de que adiantaria?)... os carros cobririam o silêncio. Apartamento é como caixa de som, tem vibração, tem tudo.

(28.10.1976 – Há 46 anos).

sábado, 29 de outubro de 2022

De onde vêm os sonhos


Desde sempre perguntei isto, mas logo depois, quando quero guardá-los nas lembranças vividas, trazer à memória, eles desaparecem sorrateiramente sob as camadas mil de outros pensamentos, a não regressar jamais. Sei são super bem elaborados nos estúdios especiais de outras realidades, com desenvoltas habilidades. Histórias perfeitas, personagens bem afeitos aos roteiros, algo de certeza que inspira romancistas, contistas, cineastas nas suas funções inigualáveis de contar as histórias deste mundo daqui, fazê-las de domínio público e sabor a toda prova. Sonhos, algo semelhante a peças que ganham vida no teatro das sombras noturnas lá de dentro das pessoas. Sobrevoam as horas quais senhores absolutos das técnicas exatas.

Ainda criança e já vivia essa indagação, de onde eles procedem, dalguma floresta, dalgum mar fabuloso, acima de todas as cogitações tão só humanas. Disseram que sonhos seriam em preto e branco; daí passei a considerar de perto e vejo que têm cores, todas elas, todos eles. Independente de querer ou não, por dentro dessa função, essas nuvens de imagens e movimentos, pessoas e lugares, pensamentos e sentimentos, ganham vida própria, fora da vontade de quem os sonha.

Chegam nos instantes improváveis, por vezes assustadores, noutras suaves, sérios, encantadores, reveladores; nos dias menos esperados, acionam suas máquinas, seus projetores, equipamentos, instrumentos, e tomam de conta das circunstâncias misteriosas do ser, procedendo qual dissemos de uma fonte inimaginável a qual denominam Inconsciente, porém sendo este país também formado de palavras e pensamentos que dizem de região abstrata criada nas normas das mesmas interrogações. O mapa desse território o qual ainda estamos à busca, entre conceitos e cachoeiras de suposições, seria semelhante a tantos valores que nutrem a alma do anseio de responder ao que inexiste nos termos ora conhecidos.

Sonhos, a soma de emoções e citações da Natureza de que participamos nos níveis individuais. Parceiros da revelação em ocasiões de crescimento  Indicação de caminhos a percorrer, neste afã de existir e compreender os mistérios da Consciência a quem pertencemos cativos. Pouso da felicidade que tanto alimentamos de descobrir uma vez as malhas perfeitas do Destino.

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Esteja em paz consigo


Vez que seja difícil estabelecer harmonia diante dos objetos e pensamentos, façamos um acordo na nossa mesma consciência e unamos a nós próprios, invés de alimentar a dualidade entre o Mal e o Bem. Criemos as mínimas condições do encontro interior de tudo quanto há, seja fora, seja dentro da pura existência. Descubramos os valores do silêncio e das compreensões que circulam neste mundo. Adotemos um padrão de respeito aos outros e a nós, numa firme disposição de vivenciar tudo de que falam os livros durante todo tempo. Superemos os níveis grosseiros das fantasias, do prazer pelo prazer sem valores espirituais.

Sei o tanto das dificuldades em trazer à tona essa recomendação dos mestres, porém inexiste fórmula que não seja esta no sentido da renovação dos dias e das vivências. Querer admitir recursos intermediários que contemporizem a obtenção da paz significa, sobremodo, fuga da essência da natureza no seu processo de aprimoramento.

Qual embate universal desse instante de todos, vivemos assim as horas que antecedem o despertar da verdadeira realidade donde viemos e ora nos encontra face a face com nós mesmos através das possibilidades íntimas da transformação de matéria em consciência. Alternativa de paz não haverá, pois, senão mergulhar este mar de revelação que já o somos e desvendar o mistério do Ser.

Deixar de lado o que ficou preso ao passado e construir história nova em nosso íntimo, único motivo de tudo quanto perpassa o instrumento que vivenciamos aqui na humana existência. Porquanto matéria prima do destino, personagens dotados da plena inteligência de cumprir o que aqui viemos, resta-nos estabelecer a sintonia com o tempo e aceitar de bom grado a felicidade, sonho de tantos vida afora. Bom, eis o resumo simples do que buscamos, causa e conteúdo de quantas lidas. Em todos esses códigos, a preencher os sentidos e as leis.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O único Eu a considerar


O Eu real é a encarnação da eterna bem-aventurança, dizem os mestres. Este eu, acima de todo objeto, inclusive do corpo material, eis a sequência de tudo, caminho inevitável da Totalidade do que existe. Eis o único Eu que destrói a ignorância. Isto resume fenômenos e ilusões que sumirão na medida dessa evolução original, a razão de todos os seres. Some, assim, também, a ignorância e vence o egoísmo, mostrando por fim a essência da Verdade dos viventes, é a porta dos sentidos que conduz essa visão clara da Realidade, de que somos o observador e a causa.

Raciocínios desse modo abrem-nos a sequência natural da nossa presença na consciência em movimento e possibilita a iluminação de um Ser superior em nós. Bem isto, a síntese universal, busca de tantos através das existências. A clareza desta compreensão identifica as buscas humanas, define a razão do que ora se vivencia e tranquiliza a mente. Os mitos da Humanidade indicam, desde sempre, essa fundamental consequência da Natureza por meio dos seres inteligentes.  

O itinerário das vivências percorre, pois, as histórias pessoais e oferece meios que, somados, revelam gradualmente o sentido de estarmos aqui neste momento. Simples de ser, exercemos papéis de alunos e professores de nós mesmos. Trabalhamos as notícias e experiências que nos chegam a cada passo dessa longa estrada. Fundamentamos a nossa própria filosofia e a religiosidade, reunindo fórmulas adquiridas no transcorrer dos milênios. Nós e a Humanidade em formação que o somos.

De modo prático, tal representa a Luz das existências, norte que justifica os fatores em andamento durante a Eternidade que habitamos na busca dessa descoberta e transformação prática. Enquanto isto, as palavras dão de conta de sua função de mostrar os setores de si através da compreensão que ilumina e estrutura o progresso de todas as leis do nosso caminho.


quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Intenções


Aquilo que move as atitudes das pessoas, o que as leva agir desta ou daquela maneira; o real motivo dos nossos atos diante das circunstâncias inevitáveis. Eis um bom instrumento de nos conhecer, o que dá razão ao que se faz.

Quase comum agir por agir, sem levar em conta a paz e o silêncio que em tudo existe na medida do bom senso. Evitar sair da inércia de modo atabalhoado e danificar a tranquilidade dos acontecimentos quais vândalos de si próprios. Isso visto qual seja assim face à experiência individual de outras e tantas histórias, quanto de equívoco poderia haver deixado de lado, acionando outros dispositivos de calma, invés das precipitações intempestivas. Retrato fiel das práticas humanas, lá depois é que reavaliamos o quadro das nossas histórias e vemos com clareza o tanto das práticas desordenadas e dos arrependimentos tardios, bem a cara de muitos neste chão.

Postos na balança de possível equilíbrio desde sempre, no entanto fazemos escola de aprender com as quebradas de cara. Aprender no fogo da peleja significa, mesmo que tal, adquirir o mesmo conhecimento pela dor, na escola da existência. São demasiadas horas de querer se dominar e perdem a oportunidade de fazê-lo. Às vezes, pelas palavras, respostas instintivas, gestos imprudentes, esquecimentos e velocidade nas estradas, pensamentos, sentimentos... Território desordenado que abrange perdas e danos quiçá irreversíveis.

Bom, são considerações que chegam pelas ondas do Tempo e demonstram o valor da vida que poderia ser diferente caso vista de lentes limpas ao momento certo. Somos, pois, senhores das nossas escolhas e cativos das suas consequências. No que tange o grande universo de nossa espécie, dispomos, por demais, de inúmeras chances e fazer o melhor, no entanto deixamos passar a oportunidade ou aceleramos o processo em favor de falsos valores que sujeitam comprometer de largo os horizontes vindouros.

O que, porém, jamais se haverá de negar são as perspectivas da humanidade de somar intenções e achar os melhores caminhos aos novos métodos e equilíbrio que a todos possam favorecer de satisfação verdadeira.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Senso de liberdade


Que larga a procura... Milênios de história e um lenitivo da continuação aos moldes dos tempos mais antigos. Há que surgir, por isso, o transe de uma real transformação do tempo em si mesmo através das criaturas que o fazem. Andar, porém de olhos abertos aos mistérios dessa concretização de novas possibilidades do ente que permeia de consciência o mundo de tantos objetos, na natureza Mãe, e da real necessidade além só desta vida.

A isso resolve chamar liberdade, a chance da perspectiva doutra que seja de transformar presenças em ausências e transcorrer o curso dos astros no sentido da luz. Construir a casa do pouso definitivo, uma vez sermos matéria prima desses tudo em nossas mãos. Quais pássaros ainda observando o horizonte e deixando crescer as asas, assim somos. Planos de um retorno à conscientização, frutos das mãos do Universo.

Enquanto isto, dispor do tanto de saber e reconstruir a primeiras impressões deixadas pelos que trafegam nos sonhos e crenças. Portais da eterna felicidade, tangem o rebanho das nossas células de encontro ao destino. De um tanto temos o inteiro dispor, desde que aceitemos o poder que ora usufruímos de criar os instrumentos da inteligência e fazer o bem nos nossos passos.

Nem sempre tão alheios a isto, galgamos o hemisfério da razão na busca do sentimento. Forjamos as máquinas da esperança do pouco de que dispomos. Liberdade vem ser isto, domínio do querer em estado puro e alimentar o respeito da compreensão do meio em que se vive. Aceitar contingências e sustentar o trânsito dessa razão maior que constituímos pela individualidade em movimento.

Pequenas fatias de humildade calham bem nisso dessa hora. Saber que todos vivem histórias de certa forma proporcionais ao estado em que se encontram. Inexiste perda, conquanto o oceano de que somos partes compõe o quadro dos dias novos em fase de plena concretização.

(Ilutração: O combate entre o Carnaval e a Quaresma, de Pieter Brueguel, o Velho).

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Cigarras de outubro


Qual quem bebe água pura, ouço assim, no ritmo das cigarras, os finais de tarde nas matas deste pé-de-serra. Num contato de dois mundos em um só, as bênçãos da natureza envolvem de harmonia as levas impacientes do pensamento. Desparece a distância entre o possível e o imaginável. Elas, que conversam consigo, trocam agora ideias quanto a temas inalcançáveis, crescem e envolvem de silêncio as nuvens, o chão, tudo em volta. Quer-se descrever esse quadro, porém de tão perfeito tão impossível, pois.  

Cá fora, ao desalento, a turba que arrasta seus grilhões pelas praças, restam de sonhos largados ao sol da escuridão ainda iluminada. Seres, vestidos em sudários de carne, tangem aos becos olhos de ver à noite. Crescem, criam longas lendas de perdidos tesouros, e deitam pelas calçadas passos entontecidos. E insistem as cigarras no seu lamento de alerta, pedidos distantes de paz aos exércitos em choque nesse mundo afora.

Nisto, há um Ser que fala pelas vozes do Tempo. Enquanto aqui tocamos jornada infinita de que conhecemos quase nada, aguardamos de nós a resposta do que somos. Sustentamos as escolhas feitas e aguardamos o resultado. Aprendemos que viver e amar significam causa e consequência do que antes existia em algum lugar. Autores da mesma criação de que fazemos parte, apenas idealizamos do pouco o muito a nos esperar na esfera dos movimentos aonde resistimos ao desaparecimento pelos mares da ilusão.

Esse mesmo ciciar das matas mergulha dentro das criaturas, também autoras da peça magistral da sinfonia das maravilhas no Universo. Volteios, notas inesquecíveis sacodem a alma do dia em constante transformação, horas que deslizam no firmamento já avermelhado.

Através dessa melodia esplendorosa resta que afinemos a nós próprios e deixemos que o manto da noite nos abrace, aconchego da certeza de todas as essências em repouso na alma dos viventes desta hora que acalma os céus e adormece os corações.

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

A luz interior


Eis uma notícia dos místicos, assunto por demais restrito às criaturas que buscam verdades superiores. Tem-se universo de pessoas a preencher o tempo das gerações com testemunhos de fé. Todos carregam sua história, alimentaram sonhos e vivem ao sabor da sua liberdade interior. Nisso, transmitem ideias, sustentam teses e conduzem civilizações, a próprio vigor, aos mistérios profundos. Outros admitem algo que seja além da simples constatação material e aspiram evoluir noutras dimensões ditas espirituais. Ali, então, sobrevivem às experiências individuais bem vinculadas nos valores de níveis de compreensão íntima, porém reduze ao mínimo a quantidade daqueles que isso admite, arraigados que estejam aos planos imediatos.

São inúmeros, pois, os penhores de quem vivencia conceitos vários da espiritualidade. Tal fosse noutra linguagem que não essa do dia-a-dia, regressam e contam versões aprofundadas, fazem revelações e descrevem estados de consciência aos que carecem de, também, vivenciar.

O que antes só as seitas, tradições, lendas, falavam, já existem agora filósofos e cientistas que afirmam quais probabilidades humanas de conhecer outro lado da personalidade, este afeito ao plano das constatações espirituais, mostrando, assim, o quanto persiste de realidade ao dispor da percepção. Ainda que enfrentem forte oposição dos valores antigos, agarrados aos poderes deste chão transitório, insistem demonstrar, no decorrer da história, o quanto de coerência trazem os avanços da ciência no âmbito das manifestações religiosas evidenciadas.

Escolas existem que negam serem os humanos mais do que carne perecível, no entanto, dada a perfeição da Natureza, resta, de uma clareza meridiana, a necessidade da transcendência. Vencer tais conceitos requer, todavia, perfazer os degraus de evolução à força desse Eu que nós somos e superar as limitações insistentes da mentalidade materialista no decorrer das muitas vidas sucessivas, as ditas reencarnações.

Nessa hora, fruto do invisível da consciência, chegar-se-á a nova concepção de vida, ao destino que nos aguarda nesta Luz interior.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

A intocabilidade dos sonhos


Matéria esquisita eles apresentam. Até de lembrar são esquivos. Desaparecem entre eles quais hábeis conspiradores. Chegam assim livres, somem libertos. São tantos que se misturam e desaparecem num abrir e fechar de olhos. Carl Jung indicava a importância de ter próximo um caderno e anotá-los, que desse jeito fica menos difícil de lhes preservar a lembrança. Falam da gente qual quem nos conhece, mas jogam duplo entre o claro e o escuro da memória. Traçam eles próprios seus enredos, invadem nossos sonos e sacodem emoções mil no palco da consciência adormecida, numa sequência de variáveis que só a eles que pertencem. E saber que nascem da gente e somem na gente. Criaturas abismais os sonhos. Por vezes trazem personagens nunca vistos ou sabidos, que trabalham situações do Inconsciente na intenção de contar algo e, por mais contraditório gesto, depois levam consigo ao tal mundo impossível de onde vêm e se perdem na voragem da escuridão noturna.

Quanto capricho há nos sonhos. Espécie de seres independente, ninguém sabe de onde tiram tamanha força a ponto de conhecer até resultados de jogo do bicho e outras loterias. Os que têm medo de assombração não imaginam que carregam consigo as mesmas visagens de que padecem temor, neles, nos sonhos, esses entes acordados que moram nas noites e nas sombras que transportamos em nós.

Cada noite eu sonho um quanto de situações. Extensões do dia, de comum mais parece que neles toco adiante ações e pensamentos desse cotidiano que vivo. Presencio momentos que dizem respeito ao comum das preocupações, no entanto preenchidos doutros aspectos e que mostram a carga de emoção, trabalho, organização dos dias lá fora. Semelhantes à continuidade em tudo, os sonhos revelam outra dimensão que a racionalidade insiste evitar, imagem nítida do conhecimento apenas relativo que ora temos do grande universo da realidade em volta. Enquanto mourejamos esse intervalo de passado e futuro, os sonhos oferecem o senso de uma estrutura plena de valores e revelações as quais ainda nos vemos longe de dominar em nosso processo evolutivo, porém, inclusivo nas ofertas que eles oferecem.

(Ilustração: Hieronymus Bosch).

terça-feira, 18 de outubro de 2022

A verdade maior

Desde sempre que os humanos buscam a paz, ânsia de todos através de muitos meios. Somos quais isto, buscadores da paz. Há indícios dentro da consciência que indicam nalgum lugar existir tal essência, e todos saem à procura, motivos vários das vidas em movimento. Nisso a História, resumo dessa aventura vidas e vidas. Vez em quando um desgarra da multidão e some pelo Infinito, deixando testemunhos de transformação, livros, realizações, legendas... Existe como que a renúncia aos afazeres só deste mundo, aos apegos aos sabores, prazeres, sonhos imediatos, e largam no tempo daqui o que mais os ligava ao Chão. Marcam gerações inteiras. Vivem jornadas de renúncia, conformação, resignação, e apenas aceitam a solidão do sacrifício de um eu material. Eles, os ditos santos, taumaturgos, mártires, a preencher séculos de nomes admirados, venerados.

Mostram bem claro que persiste horizonte doutra dimensão ao dispor daqueles que chegam ao nível de identificar, nos mistérios do Ser, chances outras além da rotina de nascimento e morte, e nada mais que fosse. No entanto, esta descoberta exclusiva deve acontecer na existência de cada indivíduo, face ao desafio de transformação que enfrenta todo momento, dele com ele. Verdadeiras relíquias de valor inestimável, as pessoas significam a Natureza desta evolução, seres dotados de poder superior na medida em que superem a terra e cheguem ao mundo espiritual, cuja ciência compõe o itinerário dos viventes afins.

Vidas que seguem, todos, indiscriminadamente, evoluem face à experiência de existir, sua função. Parcelas do grande todo, possuímos o condão de, lá um tempo, encontrar a porta e desvendar o segredo guardado na existência que ora somos, senhores de nossas ações, mas submetidos às leis maiores do Destino em formação. Pouco a pouco, vamos, assim, revelando nossa real natureza até quando ascenderemos os novos planos da Perfeição divina.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

O gosto de ser feliz


Dizem, mas tenho lá minhas dúvidas, que na Holanda houve, no tempo das carruagens, a técnica de expor na frente dos animais de tração uma cenoura pendurada na ponta de uma vara, que os animais acompanhavam pelos caminhos à espera de alcançar sabe-se quando o sabor do alimento. Sei que os animais têm sua inteligência e que, decerto, logo desistiriam de obter um prêmio só imaginário. No entanto isto serve de instrumento do que quero aqui avaliar.

Assim representam as metas imaginárias da corrida humana pelo sucesso: Cenouras em ponta de varas. Porquanto logo em seguida vêm os obstáculos do tempo dos humanos, que ficam preso aos relógios e calendários, e desmancham no passado quais lebres fugitivas nas florestas inexistentes. Miragens, sucessivas miragens, que acompanhavam inversamente a voragem das criaturas e sua infinita vontade da felicidade. Horas, anos, milênios de ruínas largadas em minérios de contradições.

Quer-se crescer, estudar, trabalhar, criar patrimônio, deixar herança, fabricar mil artifícios e lançá-los nos armazéns das esperanças tardias. Formar as estradas desse futuro sonhos que passam pelos nossos pés em velocidade estonteante. Daí essas marcas indeléveis das gerações que restam gravadas no fojo das consciências por vezes deficientes em valores, virtudes, tratados na ansiedade e no desespero de agradar aos instintos, às angústias do desconhecido que nos acompanham no girar dos astros e das idades.

Pedir que não sejam de tal qualidade os tanques do destino pessoal isto reclama sabedoria, fruto das tantas vidas aqui vividas pelas contas do mistério de onde viemos, aonde vamos e o que ora fazemos. Sob o crivo da prudência que pede o mínimo das habilidades, construímos patrimônio eterno neste mar de angústia das vidas que passam. Artífices, pois, da nossa mesma criação, trabalhamos os meios que nos são dados como matéria prima dos pensamentos e sentimentos, quereres, pendores, certezas internas de que existirá o dia de chegar ao teto da realização do Ser, quando, afinal, receberemos o galardão de há tanto sustentado nas normas dos humanos corações.

sábado, 15 de outubro de 2022

Portas e janelas


De comum vive-se do lado de fora da existência propriamente dita. Quase nunca resolver entrar em si, mergulhar no íntimo de nós mesmos, significa a opção que menos atrai insistentemente. Distrair-se, tal o verbo das massas humanas. Buscar entretenimento. Enquanto que lá por dentro vive, ainda adormecido, um ser real, a única possibilidade que seja diferente do vulgo. Porém custa um tanto de renunciar às tradições só do conforto físico, dos prazeres e das vaidades e distrações.

São essas portas e janelas que, ao serem abertas pela força de vontade individual, nos transportam a níveis até então desconhecidos. Unir o físico e o eterno numa única alternativa de busca e desvendar os mistérios desconhecidos do Universo em nós.

Muitas, muitas escolas filosóficas dão notícias desse outro lado da gente desde os primórdios da raça. Indicam meios de concentração, meditação, oração, programas terapêuticos, fórmulas e fórmulas, técnicas que levem a esse encontro consigo próprio à luz dos caminhos interiores, porquanto a Consciência requer atitude, abrir o sentimento às raias dessa oportunidade.

Vez em quando, um desgarra da multidão e some no silêncio, na disposição de resolver a equação principal do motivo de estarmos aqui. Em palavras simples, o coração é porta que apenas o indivíduo pode abrir. Nisto, resumem persistentes jornadas que denominam Salvação, Transformação, Iluminação, Purificação, na firme resposta às falibilidades do mundo em que vivemos.

Daí, vêm as crenças, opções pessoais e práticas fiéis ao aspecto místico da personalidade, assunto por demais decantado nos compêndios filosóficos, religiosos, psicológicos. Aparentemente fácil de registrar, no entanto fruto das mais profundas práticas, face aos desafios da vida na matéria.

Conquanto pertinente, pelos tantos testemunhos espalhados na História, revelar este aspecto necessário às ações da virtude, no exercício de valores constantes define a Verdade que existe, pois, no ser que somos pelo respeito aos outros, na constância nos deveres, no domínio dos instintos, dos pensamentos e sentimentos negativos. Nisto, o exercício do querer sobremodo face aos pendores humanos, sempre aqui junto da nossa natureza. 

Ilustração: The Sun Sets Sail, de Rob Gonsalves.

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Esforços espirituais


As iscas do entretenimento enchem as horas livres. Lembro bem, no curso ginasial, de um colega que, certa vez, me convidou a visitar uma biblioteca que existia nas imediações da Praça da Sé, em Crato. Fomos lá no intervalo do recreio. Na maioria, eram livros místicos, religiosos, sagrados. Eu que vinha saindo de infância acompanhada por Tia Vanice, irmã de minha mãe que morou na nossa casa, quando aprendera a rezar o Pai Nosso, a Ave Maria, a Salve Rainha, e tirávamos o Terço toda noite antes de dormir, naquela hora queria algo que fosse diferente, algo comum, profano, daquele mundo aonde fora parar, no Colégio Diocesano. Tempos bem outros, de balbúrdia, questionamentos e desobediência. E recusei tomar emprestado qualquer daqueles livros que contavam as histórias de Jesus, dos santos, as narrativas bíblicas, católicos em sua maioria. Já encontrara romances de massa entre os livros deixados pelo Tio Alberto na estante de minha mãe. Ela dizia que eram livros de adulto, que deixasse de ler só depois. Mesmo assim lia escondido, nas horas que achava oportunidade. Meus primeiros livros haviam sido dados, em sua maioria, pela Tia Risalva, que contavam de reinos encantados, príncipes, princesas, fantasias infantis. Entrei, pois, noutro universo, dos livros de adulto, esses realistas, por vezes violentos, cruéis, cheios de dúvidas, dos desencontros humanos, das guerras, revoluções, até ler Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway, autor americano que me cativou e procurei outras de suas obras. Também li O general do rei, da inglesa Daphne du Maurier, um clássico de época que atraiu minha atenção. Em resumo, buscava correr os riscos que o mundo tinha a oferecer, independente do que lá adiante sentiria da imensa necessidade em conhecer a literatura espiritual.

A bem dizer, imaginava serem dispensáveis os esforços de ordem religiosa, mística, assunto dos padres, das igrejas, no entanto, agora vejo nisso a importância crucial diante dos desafios que vivo nas grandes interrogações e esforços posteriores, nas provas deste mundo. Foram tantas as lutas geradas nas vivências que tive de enfrentar que agora ouço os gritos do silêncio a ecoar por dentro da alma, por dentro de mim, a estimular o senso da busca e aprofundamento dos estudos e conhecer de perto as experiências de muitos que defrontaram o mistério da existência. Pelos livros, compêndios de largos ensinos, os quais que chegam ao cinema, aos outros meios de comunicação, eles preenchem dias e dias do alimento de tantos pelas revelações de que somos partes integrantes. Revelam, assim, nas suas histórias e tradições, segredos preciosos e úteis aos que anseiam pelas respostas de tudo quanto há noutra dimensão vasta e inigualável.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A casa do que somos


Esse quadrado das nossas experiências, nele o mapa do tesouro. Foram tantos momentos vividos na pauta dos dias que se perdem na estrada, no entanto deparados vez por vez, quando menos esperar. Eles chegam carregados nas memórias inevitáveis, tais termos de comparação do instante atual. Foram nossas quebradas de cara, nossos sucessos, nas paradas do Universo grandioso que tão minúsculos habitamos.

Outro dia, depois de ver um documentário de entrevista com a autor do best-seller A cabana, William P. Young, que existe na Netflix, me veio de volta o longo tempo de minha infância e adolescência quando fomos morar no bairro Pinto Madeira, em Crato, logo que chegamos de Lavras. Uma longa história que permanece inteira dentro de mim. Todos aqueles acontecimentos existem bem reais nas minhas lembranças. Nada perdeu sua atualidade. Qual existissem agora e para sempre, são cenas intermitentes, carregadas das antigas circunstâncias ali experimentadas, naquele período.

Ao autor do livro, essa cabana de que fala significa isto, o território pessoal da alma da gente aonde todos caminham através das vivências adquiridas, acumuladas. Espécie de longa metragem inevitável, mourejam nelas nossas práticas, reações, emoções, a falar bem alto de nós próprios. Qualquer mínimo detalhe insiste sobreviver ao tempo, e guardamos num longo estuário do ser a sequência natural do que fomos e hoje somos.

Era uma casa de dois pavimentos, dormitórios em cima e embaixo, uma escada sombria, varadas, quintal, mangueiras em volta em amplo terreno baldio. Um lugar quase de comum cheio de gente, pois nela também moraram conosco alguns dos irmãos de minha mãe e, depois, um sobrinho de meu pai. Havia sido construída com zelo por Pergentino Silva, um odontólogo de tradicional família da cidade. Ficava um pouco afastada do centro da cidade, no entanto relativamente próxima de nossos afazeres. Existiam poucos automóveis à época. Fazíamos o percurso à escola e ao comércio sem grandes esforços.

Aquele filme fez vir à tona toda jornada que vivi naquela época. E o que mais se evidenciou fica por conta da facilidade com que revi tudo que passara, as situações, pessoas, leituras, fases, conflitos, apreensões, em um processo pouco imaginado. Eu resisti àquilo tudo o que viria formar o movimento posterior desta vida. Numa comparação apressada, nisso trabalhei e continuo trabalhando comigo a seleção dos objetos úteis e tramas achados nos despejos resistentes da memória, os quais aos poucos venho decodificando em ritmo proporcional ao que posso interpretar. Sei, no entanto, que entre esses cacarecos existe como que a vida de mil seres que significam este eu que ora sou, fruto de todas minhas experiências até aqui acumuladas.

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Condição só parcial

Lá no Paraíso, naquele dia, quando visitados pelo Criador, eles logo descobriram que estavam nus. Haviam comido de um fruto proibido. Não sei bem se pela desobediência ao conhecer o sabor de tal fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal, ou pela ânsia pura e simples de dominar a Natureza virgem. Tiveram a chance de ser orientados, o que, no entanto, descumpririam na maior sem cerimônia. Eis um conto de prudência, da atenção às leis sob as quais desfrutaríamos do mistério. Dois personagens, a floresta do Jardim do Éden, os outros animais, tudo em volta a guardar o silêncio a bem dizer absoluto.

Impera constante essa larga interrogação, o que estamos fazendo aqui? A que destino flui essa lâmina de carne em queda livre rumo do Infinito? Daí essa impaciência de revelar, no prazer da carne, a função, progressão matemática da superpopulação da espécie na face do Sol. Viver, usufruir das benesses da Criação, sem, contudo, render homenagem aos segredos do Universo. Eles quiseram correr, a que destino porém?

Isto prevalece até hoje, pelas encostas dos momentos. Prometeus acorrentados a rochedos descomunais do Tempo, todos dançam na festa do sabor imediato, no apetite de reunir as maravilhas possíveis e dormir o sono eterno. Pura expectativa de utilizar, a recurso próprio, as normas deste mundo que faz dos instintos a fuga mortal das criaturas humanas em face do seu Autor.

Achar um pouso de esconder as práticas deste chão, de sonhar com o penhor da felicidade, quanta imaginação dos aflitos atrás de quem outras árvores simulam a pureza original perdida antes? O fel da desobediência que daria satisfação entristece e mata de servidão aos mesmos heróis de antigamente. Pois somos os seres infiéis que aqui chegaram e permanecem envoltos nas brumas desse deserto e suas miragens incessantes. Nós, artesões do Cosmos e das nuvens de pensamentos a ser purificados lá um dia, nos sonhos perdidos do Paraíso que somos agora.

domingo, 9 de outubro de 2022

Tudo leva ao seu encontro


Tudo, tudo... Ao encontro consigo mesmo. Debaixo das sete capas do destino, bem ali, dorme o que se busca através de tudo. São pedaços do grande todo que perduram nas dobras de todos os descaminhos, ou caminhos. Aonde se for, nalgum qualquer das estações do Infinito, nesse lugar impera o Eu real que todos, incessantemente, cavoucam pelos chãos das galáxias. Restos de si mesmos, pois, formam essa excursão de nós ao foco de tudo quanto existirá já hoje.

E na ânsia de revelar o mistério desse mar de lembranças dorme o sentido até das ilusões menos válidas. Das madrugadas insones. Dos céus adormecidos nas normas do encontro de si consigo, pelas encostas dos séculos sem fim. Esses fragmentos de dores e saudades, apetites e ilusões, significam tudo além desse aparente nada que tritura o alimento da história, os humanos. São multidões e mais multidões afeitas nessa procura que faz das criaturas brilhos esmaecentes que escorrem pela frestas dos dias, nutrientes de carne e repastos de banquetes.

Enquanto que lá dentro, nas profundezas da alma dos indivíduos, vive intenso o jeito de sobreviver às aparências e tocar o barco da esperança. Nós, os protagonistas do filme das existências, somos esses próprios autores da felicidade na forma dos gestos e das vidas que vêm e vão. Nem que quiséssemos, disso fugiríamos, porquanto inexiste a porta doutra sinfonia senão essa de encontrar consigo mesmo e nesse pouso viver os sonhos de tantos pelas savanas daqui que se desmancham. Veja, por causa disso, o quanto de tecido temos de vestir o firmamento e reviver tudo aquilo que guardávamos nas páginas do que já o somos.

Daí a paz de que fomos feitos na oficina dos sóis, certa feita, de manhã. A chave desta perfeição a trazemos conosco e será utilizada diante das nuvens em movimento, debaixo das sete capas do destino, bem ali aonde dorme o que se busca através de tudo, portanto.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Peças em movimento


Bem nós isto que seja. Pedaços do universo que se constrói dia após dia. Única diferença entre pessoas e objetos, elas ficam por conta da consciência que determina agora e sempre. Mesmo que tal, peças vivas, significamos um painel em formação durante quanto tempo, ninguém sabe, saberá. Enquanto isso, tais palavras que formam os textos, vão surgindo significados à medida dos sóis. Afloram resultados desde os indivíduos às sociedades humanas. Caso haja outros animais que saibam disso também, eles é que sabem e poucos deixam transparecer, quase nem respondem.

E matéria prima desse jogo de armar são o tempo e a liberdade, ou a vontade solta no senso dos atores. Entre as ações dessas criaturas, dos plantios, daí nascem os ditos destinos. Maquinações e atitudes preenchem, pois, o espetáculo das horas incessantes, deliciosas por vezes.

Conquanto dotados de inteligência, capacidade e sentimento, esses pássaros de ferro da humanidade elaboram os enfeites daqui do chão e neles produzem seus sonhos, no entanto cercados das limitações que lhes constrangem os passos. Caudal de um rio imaginário, deslizam nos becos da infalível história que tudo vê e alimenta. Quantas visões individuais e tanta única visão depois de tudo. A gente olha através dos espelhos que passam e nutre novas chances, afeitas aos resultados anteriores da loteria dos séculos.

...

Nisto, durante largas datas, os humanos dão de cara nas paredes do labirinto, mar das sombras do pouco ou nenhum conhecimento. Quais toupeiras aprendendo a caminhar, ferem a própria história, que têm de seguir em frente, quisessem ou não, até a Luz que lhes aguarda de braços abertos.

Creio que ficou clara a forma de ver essa drenagem da sorte de que tantos usufruem ou padecem, bufões dos circos em ação nas praças deste mundo. Isolados no grupo, a título de glória e prazer, arrastam outros ao fundo desse abismo do Infinito. Lá adiante, outrossim, encontram fórmulas mágicas de repor as normas do Destino e dormirão em paz no seio da Eternidade. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Tudo é como tem de ser


O que mais assusta os que assim questionam fica por conta da neblina/obediência aos ditames e acontecimentos independente de opção pessoal lá nos inícios. Têm que atuar no drama da existência fora de qualquer cogitação. Somos, fomos, a bem dizer, condenados a ser livres, isto é, ser escravos da própria liberdade da qual nem conhece a origem nem aonde vem chegar. Vive-se, pois, no âmbito aberto de todas as filosofias, todas as religiões, na ciência da Natureza mais plena, porquanto dela integramos peças-chave todo tempo. Personagens envoltos nesses papeis aos quais só aparentemente optaram fazer. Donatários de capitanias imaginárias, avançam vidas afora longe de avaliar ao porto que lhes aguarda encontrar no final do corredor do Infinito. Bem nós, senhores e escravos de si mesmos pelas jornadas deste mundo.

E saber que apenas conhecemos o suficiente de sustentar o instinto da sobrevivência e tocar adiante a herança que o Destino nos fez depositários a cada quarto de lua. Seres esquisitos essas peças de um tabuleiro fantástico, jogamos e trocamos de casa à medida que pede o desejo, num aparente poder da vontade que, apenas, se repetirá ao léu da sorte. Não nos cai um cabelo da cabeça sem a permissão de um poder desconhecido ou considerado.

Bom, são cogitações que vêm e vão, à medida que os pensamentos se avolumam nos vãos do juízo e a eles pedimos paz, compreensão, enquanto se desmancham no ar dos instantes apressados quais criaturas independentes da gente pensante, por vezes após deixar caracteres, cicatrizes e saudades, sombras e luminosidade. Doutras, um vazio maior de todos, no correr dos dias, a repetir os benditos e litanias das almas em penitência.

Contudo, bom que seja tal qual, ainda que de nada adiantasse tanto esforço dos místicos de revelar o mistério a que somos submetidos, partes e autores. No entanto, todavia, porém, outrossim, a quantas andam os intérpretes dessa caligrafia maravilhosa que nos deixa aqui prontos a conhecer, seres em formação a olhar o horizonte à espera do Sol.

O elogio da honestidade


Dia desses li nalgum lugar a narrativa de certo pai a propósito da formação dos filhos pelo valor do exemplo, e contava que, certa vez, na fila de acesso de um circo, ele e o filho, quando fora pagar a entrada o bilheteiro, ao ver a criança, disse:

- De doze anos abaixo paga só meia.

O pai, então, informou: - Ele já tem mais de doze.

O bilheteiro riu e acrescentou: - Nem parece, bem que passaria por menor dessa idade em qualquer lugar.


Daí, o pai, também rindo, observou: - Mas o senhor imagine... De hoje em diante, ele iria viver pelo resto da vida a pensar, meu pai mentiu lá na entrada daquele circo da minha infância.

...

Isso mostra um pouco a importância de a gente agir com a gente mesma e com os outros. Define o valor de se ser fiel à Verdade a título de demonstração do que acontece na nossa consciência mais profunda. Nas mínimas ocasiões, essa chance vem à tona. Demonstrar aquilo que somos em realidade. Já ouvi dizer que quem é fiel no pouco assim também será no muito. As nossas escolhas são, portanto, o que demonstram o nosso caminho e os passos que nele damos a toda hora. Tanto em relação aos demais que nos observam, quanto na face de nós próprios.

Independentemente de serem valores morais, são valores essenciais em tudo por tudo. Pautamos nossa história pelas nossas mãos a cada momento.

Nos tempos atuais, impera a transmutação dos conceitos ao sabor das conveniências pessoais, nacionais, internacionais... Vive-se um tempo de mistificação, conluios, conchavos, versões, a ponto de existir uma verdade tão apenas relativa, elaborada no andar da carruagem longe das vistas.

Tempo de pouca liberdade e muita licenciosidade, conquanto o poder dos homens determina o certo e o duvidoso ao seu sabor, isso fruto da chamada e pretensiosa evolução da espécie. Hora boa de reconsiderar causas e consequências, e talvez evitar maiores dores perante a fome deslavada de uma inconsequência quase que generalizada, salvas honrosas e prudentes exceções.

domingo, 2 de outubro de 2022

Sonhos reais


Deixar de lado as meras abstrações e mergulhar em si próprio diante do Infinito. Achar a colheita de depois já agora, face ao plantio em novas atitudes e novos meios. Promover o senso absoluto da compreensão invés de entregar ao impossível o jeito de construir a eternidade que nós somos. Ajustar o firmamento aos nossos olhos e comungar do desejo pleno da continuação do que seja bom, luz nos céus da alma da gente. Bem isto de viver a mudança de hábitos mentais. Reagir ao instinto puro e simples de nunca aceitar a realidade qual norma essencial de ensinamento. Abraçar o bem que se possa fazer aos outros e comungar das boas ações em nosso mesmo território existencial. Isso qual seja o seguimento natural do quanto aprendemos no transcorrer das experiências vividas. Novas práticas de sentimentos que chegam ao comando das teclas de viver e acionam dispositivos novos até então quase desconhecidos da grande maioria dos humanos.

Pouco ou nada importa, pois, o que passou desde que ora funcione por norma de orientação face aos próximos passos. Uma positivação constante de pensamentos em forma de aceitação das infinitas possibilidades que ora somos. Virtudes mais do que só aparentes. Verdades eternas no âmbito da consciência. O poder descomunal dessa autoafirmação a considerar o momento exato de ser agora o instante da decisão tão aguardada. Longa trilha se arrasta nas nossas histórias, a dizer do quanto adquirimos de capacidade a dominar o presente eterno que já nos pertence.

Espécie de tesouro guardado nas camadas profundas do ser vem à tona e desfrutamos da individualidade em ação, fruto das horas que transpusemos em nossas luas, valores a trazer de volta cada instante. Tudo, enfim, que significam os fenômenos da Natureza de que pertencemos e partilhamos sem conhecer ainda a origem e, muito menos, aonde iremos chegar. Isto, o sonho real em nossos passos, conteúdo da gente e o segredo maior de todo Universo.