domingo, 31 de maio de 2015

Realinhar sentimentos

O desejo forte que impulsiona o coração de encontro aos momentos impõe cuidado extremo nos gestos qual quem busca equilíbrio no fio tênue dos abismos ali embaixo. As disposições do apego, intenso gosto de achar motivos de viver com alegria, exigem lucidez por vezes inatingível aos comuns mortais. Um leque de beleza rara, leves toques de brisa suave nas manhãs, respingos da água do mar numa praia clara de sol aberto, o riso da pessoa amada em nossos braços e sonhos de felicidade que escorrem das lembranças de noites agradáveis, isso tudo significa vontade determinante de amar com sofreguidão as ondas passageiras desta película incessante que denominaram existência.

Porém há que se cuidar demasiadamente de todo detalhe, nas cenas que compõem o fluxo permanente que transcorre pelos dentes das horas e nos alimentam da continuidade. Parar impossível. Conter os gestos da natureza, impossível, conquanto a determinação de obedecer aos passos das circunstâncias significa a única certeza inevitável.

O que resta de permissão ofertada aos microrganismos que somos nós, pequeninos seres diante da infinita misericórdia de Deus... Espaços a preencher de milhões de mimos à sagração da vida, dentro de coração solteiro, argonauta dos destinos.

Nesse momento, cabe cheio reordenar os sentimentos, trazer ao território da liberdade o pomo da conformação e aproveitar os melhores insumos que a história disponibilizar, no ato da visão providencial. Gostar da festa de viver onde nos encontrarmos, e abraçar de bom grado o mínimo do que chegar ao teto dos apetites, selecionar fiapos e tecer a paz de que se alimenta dos impulsos que a gente exerce... Pisar o próprio corpo do desejo e amar intensamente o que os outros permitem que façamos. 

Na pauta desses momentos, traçar rotas reais, invés de amarguras e ilusões transitórias. Firmar pés na rocha da condição humana, sem medo que se interponha o vilão da desonestidade para conosco mesmos, porquanto a exigência virá de plantar a semente fértil da tranquilidade, ainda que diante dos obstáculos circunstanciais. Amar e ser amado com firme sabedoria, no itinerário de saber que somos fruto de nossos únicos gestos.

domingo, 17 de maio de 2015

A divina conformação

Na Palestina, depois que Jesus fora crucificado e as coisas pareciam retornar à normalidade antiga, João, um dos apóstolos, não encontrava canto, qual dizem dos que enfrentam sem aceitar as situações limite.

Durante semanas, sua vida era só de amarguras, sofrimento por cima de sofrimento. Aquela ferida aberta com a perda do Mestre parecia crescer cada dia um pouco mais. Aonde seguisse, levava saudade imensa da divina presença, fugindo dele o gosto de viver, e ninguém conseguia consolá-lo. Tornara-se, por isso, preocupação de amigos e familiares.

Alguém lembrou, então, Maria de Nazaré, de quem devessem esperar palavras de conforto, pois ela revelara exemplo superior de resignação face à inominável tragédia que vitimava os seguidores do Mestre.

Incontinenti, viajou João ao lugar em que morava Nossa Senhora.

Depois de uma demorada conversação, a santa mulher indicaria que ele chegasse às imediações do Mar da Galileia, porquanto, nas suas margens acharia o motivo suficiente de recobrar as forças e a firmeza de tocar seus dias.

João aceitou o conselho. Buscou as praias daquele mar, onde permaneceu durante algum tempo. Relembrara ali os passeios felizes de vezes anteriores, absorto, porém, no transe da dor inominável. Certa tarde, preso à beleza das águas, se deixava inundar em gratas recordações quando avistou, deslizando na sua direção, sobre o espelho fino das ondas, o vulto magnânimo de Jesus.

Nesse momento, um perfume de incenso raro imantava os ares, idêntico ao que experimentara próximo da cova em que antes depositaram o santo corpo do Nazareno, lá nas proximidades de Jerusalém.

Perante o suave fragor quis esmorecer, pungido sob o peso das emoções que lhe tomavam o íntimo, raro instante. Fechou os olhos em fervorosa contrição, e ouviu nos refolhos da alma lacerada, translúcida, a voz do Verbo de Deus:

– Estimado João, jamais queira imaginar que habito longínquas paragens, longe que fosse dos que amo. Sempre saiba, quando alguém me chamar com sinceridade, ao seu lado estarei, no universo dos verdadeiros sentimentos, acima de qualquer obstáculo, pois não há distância entre os que de verdade se amarem.

Desde esse dia, tocado nos eflúvios de revelação inesquecível, o apóstolo se entregou abençoado à força da mais sublime conformação, no ponto de transmitir à Humanidade os ensinos sagrados da missão que Deus lhe confiara.

sábado, 16 de maio de 2015

A voz das ruas

Andar pela cidade, olhar e ouvir falarem do clima, da carestia, das filas quilométricas, barulho, violência e outras apreensões, traz à lume esperanças gastas de tempos idos, quando a epopeia humana machucava os lugares, parecidos com o que hoje, mas antigamente. Sempre será o que sempre foi, se assim nos parece, porquanto personagens e dramas se encontrarão no palco empoeirado de semanas, meses, anos, nas florestas ou nas praças, nas ruas. Civilização vem, impera e passa pelos corações das criaturas. Vão de volta pelos corredores, e chegam novos contingentes de guerreiros e santos.

Nisso, diante do cenário de horas e séculos, surgem mães, crianças de colo, pais jovens, risos leves, festas, música, sonhos, noutros quadros da natureza que nos tocam os sentimentos, dosando lousas por vezes escuras de lápides ou salas de aula. 

A insistência maior toca dizer que o dever da gente é sustentar a alegria, apesar dos pesares, a todo custo. Trabalhar a insistência das transformações nos destinos, pois crises houve na voragem que aqui tocamos, caravana independente do pessimismo de quantos. 

Se há palavras de ordem que precisam expandir a revolução permanente dos seres, devem contar melhores dias que aguardam as gerações. Manter firme a vontade de ver novas estradas abertas aos acontecimentos, fora o sensacionalismo perverso que, nalgumas ocasiões, parecem querer transbordar o rio da paz, na alma das famílias. 

Ninguém consciente negará as limitações da espécie, porém a criatividade predominará face aos extremos da desventura. Na aventura dos povos, escrita a ferro e fogo no chão deste Planeta, tramas cruzaram os mares e aqui rumamos aos objetivos do que, na verdade, podemos ser um dia. Entregar o direito de ser feliz, jamais. Apoiar causas de dor e repressão, destruição e maldade, nunca. Apenas o bem prevalecerá, visto contar a existência definitiva do Amor. 

Discurso que vem ao teto da imaginação significa isto, o sentido único de realizar planos de sucesso na viagem dos minutos. Senso de realidade que prevaleça, pois, ordenando o que somos em forma de semeadores do futuro, luzes a favor da fraternidade e das novas possibilidades que valem a pena viver e auxiliar tantos que necessitam de nós a qualquer momento. Os tempos passam e a Eternidade continuará vigorosa na alma das pessoas. 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Pensar com o coração

Tempos cinzas esses em que a urgência de atitude requer abnegação, dedicação extrema a ideais válidos, orientam a mudar o sentido da existência até hoje exercitado nas gerações. Pedem providências coletivas, quando a política, o Estado organizado qual solução possível, seria meio de pactuar o ordenamento das atividades a ponto de encontrar os meios de produção de benefício comum. No entanto isso nem de longe parece querer coincidir naqueles anseios de quem avaliou pudéssemos chegar aos níveis de solidariedade e justiça social equivalentes nos planos da sociedade perfeita. Quase que consideramos haver andado pouco isso de achar respostas que representem de verdade o bem estar da nossa querida civilização das pessoas, pois o Egoísmo galopante ainda segue determinando o motivo das ações em vários lugares. Egoísmo senão individual porém coletivo, de grupos isolados que impõem contradições, haja vista a necessidade imediata de correção de rumo em relação a tantas histórias mal contadas em tudo que é quadrante.

A ferocidade possessiva insiste no querer de poderosos alienados nos seus apetites, gerando resultados dolorosos e inimagináveis. Ali, com a destruição dos valores morais. Acolá, na prática de modelos perversos de subjugação de populações, ocasionando painel preocupante quanto aos preços pagos no tal progresso desencontrado.

Viver sozinhos ninguém pode, porquanto o tabuleiro exclusivo da história reserva os saldos de miséria a toda gente perdida por conta da pouca responsabilidade dos alguns que ditam as normas.

Há respostas atuais que se recebe por vezes a dizer que toda razão e toda ciência ainda foram insuficientes a melhorar os seres humanos. Crescimento da produção, utilização dos recursos naturais, dificuldades da paz instalada entre as nações, sacrifícios das minorias em favor de milhões, etc. significam clamor que exige por demais sonho melhor, destino a que trabalham os elementos da grande natureza no silêncio dos tempos. E o sentimento bom gerará energia de rever as questões sem solução de outro modo, perante o desejo sincero de achar o paraíso de nossos próprios corações.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Caminhos da natureza

Nesses tempos de pouca água nas torneiras e temperaturas ferventes no mundo aceso, mesmo quem antes nunca pensou em conservação da Natureza corre o risco sério de parar nas consequências dos tantos e tantos séculos de abandono a que relegaram as fontes da vida na Terra.

São muitos para destruir e poucos para plantar e construir, eis a principal verdade do nível de preocupação com florestas, mares, rios, ar e animais, todos fixados em descobrir meios de ganhar dinheiro no procedimento predatório herdado e multiplicado pelos senhores coloniais do poder. 

Vive a atual geração o ponto extremo da transição entre o homem destruidor e homem sustentável, fase por demais crítica, em que o menor deslize colocará em xeque a natural sobrevivência das espécies.

As ações do Greenpeace, por exemplo, bem demonstram a necessária conscientização desse grave momento, nas atitudes reprovativas do que os mercenários da hora promovem.

Bem pensassem, os líderes dos países e os acontecimentos, por certo, estariam noutros patamares. No entanto seguem as políticas visando tão frutos madeireiros de fria destruição, estiolando solos milenares e sacrificando a fauna, em acelerada devastação inconsequente, posições inclusive do Brasil neoliberal.

Existem órgãos estruturados a combater ditas ações, contudo a responsabilidade cabe aos segmentos da população através dos esperançosos conselhos de meio ambiente, de raro em raro funcionando a contento. A defasagem, que fere outras instituições, fere sobremodo as causas naturais da vida, justificando no lucro a fome de resultados nas balanças de pagamento da economia de mercado.

Tarefa hercúlea, conduzem a duras penas esses órgãos a preservação nos países atrasados, de mentalidade mais atrasada ainda. Muito se fez, e mais resta a fazer, dagora em diante. Ninguém se diga indiferente aos modos de manter a qualquer custo os nacos de mata virgem, água limpa e ar puro que restam em volta do globo mal amado, a pretexto de nada lhe dizer respeito. O assunto chega de jeito radical porque esqueceram de que o Planeta é ser vivo e merece cuidados imprescindíveis às idênticas leis universais dos sistemas.

Cidades do Nordeste vivem hoje dramas de abastecimento de água impossíveis de imaginar poucas décadas atrás. O São Francisco, denominado o rio da integração nacional, por percorrer vários Estados, desde Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, a Sergipe e Alagoas, alimentando de energia e trabalho inúmeros rincões, vê-se minguado do quanto desmataram nas suas fontes, sem que houvesse medidas pertinentes a conter os crimes cometidos.

Ainda existe tempo a providências ao gosto para começar o intuito de conter a voracidade predadora que devorou as minas e o povo do continente africano, e cresce, neste princípio de milênio, garras metálicas contra as terras latino-americanas, bola geopolítica do capitalismo selvagem da vez. Só assim, pois, descobrir-se-á que tudo diz respeito a todos neste chão.

terça-feira, 12 de maio de 2015

A obediência (Episódio do cristianismo popular)

Certa vez, Jesus viajava com Pedro e alguns outros dos discípulos. Num fim de tarde, chegaram a casa distante e buscaram hospedagem. Bem recebidos pelos moradores do lugar, quiseram ficar instalados na varada ampla que circulava o edifício, mas, devido às insistências dos proprietários, aceitaram permanecer numa dependência interna, no seio da família.

Já à mesa do jantar, observaram quando um dos filhos do casal avisava que, naquela noite, sairia com destino a festa que ocorreria nas proximidades. Os pais, no entanto, lhe pediram que desistisse da ideia e ficasse em casa, pois cedo da manhã haveria trabalhos na fazenda, com o pai e os serviçais.

O rapaz insistiu a manter sua pretensão. Oferece argumento em cima de argumento, porém os pais seguram a ordem de que deixasse de lado o desejo de sair. Ainda assim, desobedecendo aos genitores, o rapaz partiria aborrecido na direção do baile.

Depois do jantar, a família atenciosa trocaria alguma prosa com os visitantes, cuidando todos, em seguida, de buscar o repouso merecido.

Mais tarde, passava da meia noite, quando bateram à porta da casa. Traziam a notícia trágica de que o rapaz fora vítima de agressão e morrera no decorrer da festa da noite, acarretando imensa dor aos familiares.

Pedro, ao seu modo, quis considerar que poderia ser equivocada a notícia, e indagou de Jesus essa outra possibilidade.

Naquela hora, Jesus pediria a Pedro que fosse até o local da festa verificar o assunto e, chegando ao local, viria, estirado no meio do povo, corpo de homem envelhecido, barbado, magro, diferente do rapaz que conheceram. 

No regresso, o apóstolo reafirmou o que dissera, de não ser mesmo o rapaz aquele homem que perdera a vida na festa.

Nisso, Jesus acrescentou: 

- Foi sim, Pedro. Foi ele. Só que agora tu viste do jeito como estaria no futuro, caso houvesse obedecido aos pais e evitado aquele infausto acontecimento. A obediência é, e será sempre, a luz de Deus na existência das pessoas. 


(Obs.: História que ouvi de Adriano Pinheiro, o que lhe contava sua avó materna, Da. Olíria Ananias de Jesus).       

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Razões do sucesso

Existem atitudes práticas para conseguir aquilo que se pretende, mediante definições as quais a psicologia vem indicando e demonstrando o que pode servir de orientação a muitos, dentre essas o estabelecimento de objetivos claros e específicos aonde se querer chegar. 

Dizer que quer ganhar mais dinheiro e ter mais tempo livre, por exemplo, não é um objetivo bom. Ou melhor, ele é claro, mas não específico. Quanto dinheiro se quer ganhar? Até quando isso? Quanto tempo livre quer ter? Visualizar o objetivo de maneira clara e específica, pondo isso no papel, pois obriga a concentrar esforços em busca de resultados, invés de dispersá-los.

Sonhar, mas manter os pés no chão. É importante ser realista. A receita para de ter úlcera, estresse e depressão: se obrigar a atingir objetivos inalcançáveis, ou num espaço de tempo curto por demais. Vale considerar a importância de manter aguçado o senso de realidade. 

Sonhar serve para quebrar paradigmas e visualizar novas realidades, mas trabalhar geralmente significa ser bem mais produtivo.

Fazer revisões constantes, relembrar de tempos em tempos o que, exatamente, se quer. Afinal, quem disse ser obrigado a seguir até a morte um só objetivo porque este foi estabeleceu há alguns meses? A vida muda, coisas mudam, objetivos também podem mudar. Só não usar isso como desculpa para desistir da peleja.

Quando as coisas vão bem não existe nada mais motivador do que revisão de propósitos reforçada de pensamentos positivos.

Não desperdiçar recursos, outra norma de qualidade pessoal. Todos têm a tendência a centralizar principalmente tarefas importantes. Como se quer resolver tudo, esquece que muitas vezes pode existir alguém que já passou pela mesma situação - e com sucesso. Da próxima vez que estiver empacado saia do isolamento e faça perguntas. Afinal se está na era da informação; aproveitar e usar!

Priorizar atividades mais importantes, eis mais uma regra de ouro. Envolver as pessoas em volta, pois sempre é mais motivador trabalhar em busca de um resultado quando a família e os amigos dão apoio. 

Não tomar atalhos. Sucesso representa 1% de inspiração e 99% de transpiração, já disseram algumas vezes.  Sempre que ler a história de alguém que se saiu bem em qualquer atividade, preste muita atenção. Em 100% das vezes, sem exceção, vê-se que essas pessoas deram duro muito tempo. 

Se atalhos fossem os melhores caminhos, não teríamos estradas e nem avenidas. Resolver problemas, no momento atual. Colocar a cabeça num buraco e esperar o perigo passar geralmente aumenta o tamanho do problema, piorando a situação. 

Tais formulações facilitam viver e preencher vazios intransponíveis. O sucesso não nasce longe do esforço de um plantio coerente, conquanto a natureza realimenta os sonhos a cada novo dia. Mãos à obra e plantio certo!...

sexta-feira, 8 de maio de 2015

A questão carcerária

Um dia, pelas ruas de Mangaratiba, cidade litorânea do Rio de Janeiro, visualizei o passeio dos detentos da Ilha Grande, antigo presídio hoje desativado. Quadro marcante, cortejo de homens válidos, corpulentos, em marcha batida, controlados por guardas e cães, a percorrer trechos daquela cidade. Alguns traziam consigo peças de artesanato de própria fabricação, oferecidas aos circunstantes por preços ocasionais. A cena ficou gravada para voltar ao pensamento quando, como agora, enfeixo a intrincada crise penitenciária brasileira. Aqueles zumbis, de olhos vazios, trajes encardidos, quais reses de tosquia, trastes da culpa, apenas arrastavam o tropel do destino à luz da vontade dos homens.

E revivo também a sensação cotidiana dos noticiosos quando exploram o mundo cão. São raros os meses em que deixam de ocupar o cardápio as rebeliões nas celas, com registros de fugas, incêndios, perdas de vidas e homicídios. 


Tais aspectos percebidos significam o estrangulamento do sistema penal; refletem a estrutura da sociedade como um todo, onde deficiências indicam  muito chão ainda para percorrer até a perfeição final do processo vida.

Cheira mesmo a repetição dizer que as cadeias, quais viveiros de pássaros indomáveis, converteram-se no campus da monstruosa universidade do crime, imagem conhecida, onde os apenados ali encaram desafios primitivos junto de outros em condições físicas e morais deploráveis. Daí, qual onda avassaladora, estranho relacionamento impõe e multiplica a morbidez de seres vencidos, depois lançados às sarjetas, num ciclo de miséria que aumenta os custos do subdesenvolvimento mórbido.

Intenções honestas de resolver o problema, contudo, não eliminam o atraso dessa área, vistas experiências nos países ricos, mesmo sabidas quantas falhas lá também persistem.

Planos que se cogitem devam sempre vincular a participação efetiva da força de trabalho reclusa às celas, estagnando a capacidade produtiva. Em resposta, as sentenças assim deixariam de inutilizar a mão de obra prisioneira, sobrando ao Estado o mérito de soluções criativas e geração de riqueza, alimentando e estabilizando as contas da instituição punitiva, além de profissionalizar quem chegar, de comum, sem ofício. As prisões agrícolas demonstram a viabilidade desta idéia.

Restam imaginar perspectivas novas para problema tão arcaico. O gesto de segregar aos calabouços, sem outras preocupações racionais, apenas mascara uma chaga que transborda de dor e clama decência. Compromisso pesa, pois, sobre todos os ombros, sabendo que o zelo da liberdade vem assegurado como atributo essencial, dom divino que cabe manter, sobretudo a quem necessita desde criança das poucas e limitadas oportunidades vitais.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Compasso de espera

Por vezes me pego a pensar (aproveitando que ainda não cobram imposto de pensamento) nas coisas da política nacional, nos destinos manipulados pelos responsáveis das ações sociais no campo prático e lembro algumas situações vividas em campanha.

Certa vez, observei um cabo eleitoral oferecendo, a preço módico, 150 votos, cujo pagamento se daria em duas parcelas. Uma, no ato da venda. A outra, após contados, urna a urna, os votos negociados. Segundo informava, ficaria com a metade do apurado e o restante caberia aos eleitores.

Que contradição existe num quadro desses, em país como o Brasil! Onde os que mais carecem de bons representantes pouco dispõem de chance para uma escolha correta. Tornam-se presas fáceis dos aventureiros inescrupulosos, relação onde se torna impossível, nas avaliações jurídicas, de saber ao certo quem alicia e quem é aliciado. Em que político compra produto fora de comércio e eleitor dependente vende a própria dignidade.

Esse ilícito eleitoral, no entanto, bem caracteriza a vida brasileira, lugar de consciência pública deficitária, que nunca passou de matéria dos sonhos das minorias esclarecidas.

O candidato quase sempre procura os cidadãos visando galgar postos na política sob valores de ética capenga, no vale-tudo predominante. Os eleitores não confiam nos tais postulantes, porquanto a história indica os piores exemplos. Na abordagem, mesmo sabendo que seu voto pesa na seleção dos eleitos, vem a ânsia de negociar ao melhor preço imediato. Em regra, muito de raro voltará a ver o candidato, pouco lembrado das importâncias de votar certo e qualificar os padrões da sociedade.

Resultado: cada ano resta a impressão de que a democracia nacional exigirá período longo de abstinência, quando, só depois, veremos as mudanças necessárias em nossas instituições, fruto da boa escolha dos representantes.

Enquanto aguardamos esse processo salutar, resistimos no sofrimento dos juros mais elevados da Terra; de um crescimento anual em torno de l%, o que nem pode se chamar de crescimento, por ficar abaixo da multiplicação populacional, melhor denominado de recessão econômica; da desfaçatez dos falsos líderes e seus índices manipulados; de uma mídia amestrada favorável a estado de coisas perverso, gerador de grave crise social sem precedentes, em que novas gerações pouco contam em modos profissionais; de um cortejo de deficiências em saúde, educação, segurança, moradia, estradas, mazelas sociais impostas pela macroestrutura mundial que nos domina.

Anos se sucedem. Eleições acontecem. Pessoas trabalham. Há que se confiar no futuro, eis a lição titular do bom senso. Jamais desacreditar, portanto. Limitações jamais justificariam desânimo. Queiramos, isto sim, manter a firmeza nos bons propósitos e a ordem de tudo prevalecerá, livre das aparências escuras do atual cenário. Merecerão tão sós aqueles que cumprirem os pressupostos da Justiça Superior. Façamos nossa parte, mantendo limpas as mãos e plantemos as leiras do futuro, quando brotarão novas árvores. Mais que antes, eis o tempo da Esperança. 

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O limiar da Consciência

Num giro de 180 graus, desde olhar o mundo lá fora e, em seguida, passar a ver o panorama cá de dentro, enquanto que esse mero observador nada muda perante as lentes de anotar o percebimento, só quem antes via passado agora obtém ver o futuro, superpondo um sobre o outro, sem alterar, porém, a função primeira de notar no gesto perceber tempo e presença, vez ambos sumirem na mesma subjetividade e nem deixar rastros. No procedimento que tal, descobre não existir mais passado, e futuro ainda não existiu. Contudo nisso mantém, nessa barreira de território de existência, os pés firmes na presença dos dois aspectos por si inexistentes, porquanto quem reúne as formas de percepção representava o lugar do tempo de quem analisa a consciência desses momentos abstratos, ilusão de pura imaginação do ato de consignar universos. Bem isso eis o limiar da Consciência, noutras palavras a ciência de si na fase mais primitiva de elaboração da existência, concedendo o fluir das ações à natureza que delimita o senso da razão e configura nele o testemunho vivo dos fenômenos.

Essa individualidade soberana autora pessoal das presenças no íntimo da percepção, mero instrumento de registro dos acontecimentos em torno, qual máquina de criar sentidos, sabores, visões, mutações, compreensões, instintos, iniciativas, ente dotado de sentimento e racionalidade, parâmetro principal das existências, o humano ser, base das notas de significados.

Ele, os dois lados da mesma moeda do existente, arrasta na figuração das horas o direito de autor das formas e abstrações que confunde no âmago da personalidade que trabalha o grau de compreensão da história dos movimentos no painel da indefinição que lhe contorce nas frações do transitório. 

A finalidade, pois, do ser impõe a condição essencial: criar no bojo da própria consciência o poder da transformar mil elementos em único vazio de alma da gente, grito extremo do desespero que comanda o repasto de toda a infinita e eterna Criação. 

Na luz da paciência

- Experimentar viver com disposição cada momento... Um travo doce do sabor que tudo tem... Essa força de Deus dentro da gente, sendo cada um sua própria individualidade e ao mesmo tempo a extensão do grande Todo que vem de ser Só e absoluto, na integração que perfaz o chamado Universo, visão imaginável e abrangente, ainda assim de acordo com o saber humano.

- Sempre que se vivencia cada emoção, um Ser maior ocupa o lugar que lhe pertence dentro das pessoas, procurando pegar a mão da alma para andar juntos pelas estradas internas da dimensão verdadeira, diferente em quase tudo daquilo que se achava neste chão. De tal forma que todo momento é único e toda história inigualável. Porém poucos sabem, para querer desfrutar com intensidade a própria vivência, porque o nível de compreensão das criaturas vem se desenvolvendo no decorrer de muitas vidas, pelas reencarnações do espírito nos muitos corpos de matéria, em momentos diversificados, noutros tempos, noutras civilizações, nesta/nessa/naquela, herança definitiva somada ao repontar infindável, oportunidades singulares.

- Nisso, a luz da paciência que cresce no horizonte da certeza, fé do tamanho do gosto de aceitar o momento qual dádiva do presente, deita e rola no vazio de preocupações, marca poderosa da iluminação no Nascente ao vir do Sol no gesto interior das horas que fogem sem sair do lugar onde vive o aqui/agora, estágio soberano da calma interior. 

- E esse olhar de dentro a tudo observa na medida dos acontecimentos, vontade extrema de penetrar sombras e revelar a Si os raios da Lua imensa da paz que aquebranta os instintos fervilhantes de horas ansiadas. Este eu inevitável testemunha os prados da felicidade qual quem procura e acha o desejo de tranquilizar o oceano misterioso da existência, passos cadenciados no exemplo do que aprender nas trilhas do coração. Há uma luz na essência do existir, é apenas estirar as mãos e abraçar...

domingo, 3 de maio de 2015

Sessões contínuas

Novidade, iniciavam em Crato, trazidas dos cinemas da Capital, as sessões contínuas. O Cine Rádio Araripe, na Rua Nélson Alencar, adotara a prática. Das 14 até 22h, aos sábados e domingos, o mesmo filme repetir-se-ia vezes seguidas, encangado que nem cantiga de grilo, com intervalos suficientes apenas à saída e entrada dos espectadores, semelhante ao que ora os cinemas adotam.

Pois bem, luzes apagadas, disparado o zumbido longo do sinal característico, de par em par abertas as pesadas cortinas marrons, revelavam-se as cenas do jornal cinematográfico da Atlântida e as notícias de três, quatro meses atrás. Depois, os trailers de próximos lançamentos; por fim, a película principal. Beleza de perspectiva no escuro misterioso do salão. 

Sentados logo na fila da frente, para ficar mais perto e, se necessário, poder chegar junto em auxílio do artista, nos apertos naturais da luta, aos olhos acesos dos meninos presos nos bang-bangs da época.

Lembro-me delas, das minhas primeiras sessões contínuas. Um filme de sábado. No início, ritual de comprar as entradas, infalíveis bombons, chicletes e sacos de pipoca. Agitação. Calças curtas. Animação. Corações sacolejantes, alguns dos colegas do Grupo Dom Quintino, ali reunidos, formávamos a claque dos torcedores do herói e de sua amada, à espera do inefável beijo dos derradeiros quadros.

Era um cowboy de cavalaria, colonos americanos e suas tropas de ocupar territórios índios, no afã de exterminar peles-vermelhas. Fardas azuis. Espadas longas. Tiroteios. Cavalos. Poeira. Carroções. E nós, acompanhando bem de perto as escaramuças.

Envolvíamos nossa paixão infantil naquilo tudo. Cruzamos a primeira exibição qual quem toma gosto num prato delicioso. Ação de ninguém botar defeito. Meus amigos gritavam de contentes em volta da fogueira festiva da tela acesa.

Da primeira à segunda sessão, não percebemos a inteira semelhança do filme. Mudando o que mudar, valia a proposta de Heráclito de nunca se tomar banho no mesmo rio. As águas são outras. Nosso corpo é outro, nas mutações celulares. 

Atravessávamos sem estirar as pernas, ou descansar a vista, o intervalo da segunda para a terceira sessão, alheios às rotinas do mundo lá fora. Nessa altura, parecíamos parte da produção do espetáculo. Nada de chegar as lembranças da realidade, pois nos víamos esquecidos de casa, da família, da cidade. Entráramos no mundo mágico da terceira projeção, achando, isto, sim, familiarizados com os detalhes mínimos dos oestes ianques.

Acordaria com a presença inesperada do emissário de meus pais; tonto, sem graça, contrafeito, retornei ao senso antes do meio da quarta sessão, quando já passava das 20h. Aflito com a preocupação que motivara, arrastado de volta à casa, organizava baixinho os meus argumentos de defesa:

- Eram as sessões contínuas, minha mãe. Sessões contínuas... E ainda ficou faltando assistir mais uma delas até completar o filme todo – (vejam só que juízo).     

sábado, 2 de maio de 2015

Instinto materno

Algumas palavras de mãe, do que elas passam aos filhos, do calor extremoso como lidam a missão que lhes é confiada, tocando adiante o pulsar dos corações. Pela força da presença da mãe junto aos filhos se avalia o tamanho da alma e o valor da existência dos seres, isto por vezes tão pouco estimado quando tantos esbanjam a sorte e deixam passar as oportunidades que desfrutam de achar o caminho do Bem. Que dizer do que o sentimento fala e as palavras ainda são pobres no descrever? Das saudades, ausências monumentais, distâncias intransponíveis, quando por mero fator de apego esse anjo divino nos recebe nos braços e toca adiante nossos desejos e sonhos. Instrumentos de amor puro, as mães...

Prova maior da confiança na realização do filho, a mãe acarinha, cuida, amamenta, mantém, orienta, aconselha, enquanto exercitamos os anseios das vaidades até descobrir a grandeza do sentido da vida. Consciências santas, as mães querem sempre o melhor aos filhos. Quão impossível a uma mãe receber de bom grado as punições impostas aos filhos perante as leis sociais. Haverá meios de acalentar muitos, inclusive a própria pessoa, face às consequências dos atos delituosos, exceto às mães, sem alternativa.

Os filhos são pedaços seus. Jamais desagarram, abandonam, esquecem. Enquanto esses flutuam nas vagas da existência dotados de audácia, senso de aventura, impetuosidade, imprudência, testemunhas da licenciosidade humana, frutos da pouca estima e do desapego a princípios da coerência.

O tamanho do amor das mães representa o quanto impõe de responsabilidade viver e corresponder a quem nos ama. Porém quem lembra na infância depois sujeita descuidar, e o preço representa esse caminho longo à frente antes de chegar ao território de paz das boas recomendações das mães aos filhos.

Lembro, nas horas da verdade, as palavras que ouvi de minha mãe, nas despedidas, na hora de pedir a bênção, o que cala no peito em forma de sentimento guardado a sete chaves, avisos de segurança e felicidade: Deus te abençoe; Deus te faça feliz...