quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Alguns toques de amor

Isto, sim, de buscar o melhor nas nossas vidas desde a manhã dos novos dias ao romper das madrugadas seguintes, numa festa de esperança bem necessária ao decorrer das estações e da história humana neste chão de sangue e aço. Palmilhar a estrada do inesperado porém de olhos acesos no brilho do futuro aqui próximo. Andar de alma lavada e leve na brisa suave das horas que passam ávidas de sonho, esvoaçantes cortinas do continuar no coração que souber usufruir das marcas de épocas orientadoras.


Também isso de querer somar as peças do imenso tabuleiro da Criação em nós , na forma ideal, adaptação razoável dos dias que se sucedem na justa medida, em elaboração das realidades eternas, onde dúvidas signifiquem tão só expectativas de conhecer o sagrado, caudal de bênçãos do mistério de Deus.

Assim, úteis palavras contam o pulsar de muitas vezes em que o calendário abandonou as folhas antigas aos livros da consciência das pessoas que o fizeram, meros pontos azuis das águas abertas e de universo distante. Vãos largados de possibilidades em países espalhados pelo globo, e outras vindas virão renovadas aos herdeiros da Palavra que mostrem pomos de felicidade às criaturas que são. 

Transcorridos muitos séculos, anda o barco nas ondas infinitas deste mar comum das vivências, individualidades soltas dos segredos quais flores que se abrem no instante da própria paz. 

Neste painel multicor, entre razão e fé, se desenvolvem os sentimentos da gente, trabalho incansável das abelhas e do mel, nas árvores do destino. Horas e luzes que revelam a consciência nas moléculas nos diversos sítios da mesma existência onde, um dia, houver sinais de sobreviventes. Inexiste solidão, pois. Focos de pessoas desenvolvem a força da revelação nos distantes pousos, buscas anônimas e incessantes de transformação. 

Estabelecido esse quadro de imagens e tons, caberá aos seres daqui abraçar o sacrário da emoção numa realidade perene que o tempo senhor nos oferece todo novo ano. 

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Que viva a Urca

Texto produzido em 29 de maio de 1987 para o Diário do Nordeste, de Fortaleza CE.

Como no princípio, que era o Verbo, e Ele se fez carne, habitando entre nós, assim também tudo tem de passar pela ideia (leia-se esquema) para se concretizar, no mundo das coisas tangíveis. É essa a lei do mundo fenomênico, que, de forma matemática, ocorre sempre, nos ritos da Natureza.

Para que um povo tenha autonomia civilizatória, é necessário que antes organize o intelecto, salto definitivo que se equivale ao percurso da animalidade à cultura, tão bem representado por Stanley Kubrick, no filme 2001, Uma odisseia no espaço (cena dos macacos a lutarem com clavas de ossos, quando uma delas se transforma - corte cinematográfico - em nave espacial viajando no futuro).

Ponto de detalhe e vemos isso ocorrer agora, nas terras do Cariri cearense, quando, afinal, no âmbito dos séculos, surge a formalização auspiciosa de sua universidade, com todos os foros jurídicos de autarquia, homologada por lei estadual n.º 11.191, de 02 de junho de l986, autorizada pelo decreto federal n.º 94.016, de 11 de fevereiro de 1987.

Que a Região dispõe de flexibilidade e infraestrutura para a iniciativa, quem se atreve duvidar?

Foram longos anos de conquistas, desde os primeiros capuchinhos, passando pelas didáticas insurreições de 1817 e 1824, com Bárbara de Alencar, Tristão Araripe, Pereira Filgueiras, além de outros heróis, até os educadores modernos e seus tradicionais colégios (Seminário São José, Diocesano, Santa Teresa, em Crato, Salesiano, em Juazeiro do Norte, e Santo Antônio, em Barbalha).

Lideranças eméritas, como Antônio Martins Filho, José Newton Alves de Sousa, Pedro Felício Cavalcanti, Raimundo de Oliveira Borges, Luiz de Borba Maranhão, dentre outras, elaboraram os alicerces da educação superior aos caririenses.

Acatemos, pois, de bom grado, o prêmio maior que se merece.

Os intelectuais fazem história por intermédio da transmissão de conhecimentos, como os técnicos pela aplicação da Ciência; dessa maneira, admitimos a vitalidade educacional, processo que se perfaz acima da política partidária, tantas vezes razão de estagnação e retrocesso.

Alguns retóricos sugerem a incerteza como tônica do futuro. No entanto, se sabe pela livre experiência de viver que incerto foi o passado, visto seus erros acumulados, que o tempo recolheu na bagaceira dos engenhos primitivos, anacrônica agroindústria canavieira, para tempero da garapa nas caldeiras e tachos do amanhã. E somos os contemporâneos que responderemos, neste pé-de-serra, ao desafio de agora, fornecendo luz aos clientes do saber, nossos filhos e os filhos deles.



Em seu nascimento, a Universidade Regional do Cariri tem direito ao nosso mais carinhoso abraço, e sonhar com ela o verde porvir das grandes realizações torna-se uma obrigação principal.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Abraão

Há muito que Abraão reconhecia o Deus Todo-Poderoso e dEle se aproximara, isso bem nos primórdios da raça humana, quando quase ninguém admitia a existência do Soberano Poder. Contudo, essa evolução estabeleceu-se a custo, exigindo do Patriarca responder a desafio de proporções inavaliáveis em termos de sacrifício pessoal. Carecia vencer um teste para consolidar a missão, daí originar a família que ainda hoje persiste na raça judia, depois de infindas gerações e provações.

Esse preço elevado que houve de pagar veio-lhe determinado através de uma voz que ouvi onde morava, segundo narra o livro bíblico de Gênesis, a saber:

- Toma agora teu filho; o teu único filho, Isaque, a quem amas; vai à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre um dos montes que te hei de mostrar.

Pegar o filho, imolando-o no altar de propiciação, demonstrando desse modo toda a vocação às coisas eternas - consigo imaginava, em face dos tormentos daquele holocausto. Embalado na fé, após o aviso muniu-se de lenha, com ela carregou um animal e subiu aos montes distantes, acompanhado de Isaque, o filho a ser sacrificado, no intuito de cumprir o compromisso.

Três dias de caminhada e Abraão avistou de longe o ponto indicado.

Pediu aos dois serviçais que lhes acompanhavam que esperassem. Subiriam ele e o filho ao pouso da adoração ao Senhor, e em breve retornariam.

Acercou-se da lenha, do fogo, do instrumento de corte que levavam, e avançaram. Só adiante, Isaque percebeu que não levavam o cordeiro do sacrifício, indagando do pai onde o achariam. Deus proverá, de peito compungido, respondeu o pai, nos limites das forças, no gesto extremo de respeito a Deus; eliminar o próprio e amado filho. Lado a lado, caminharam silenciosos. Apenas os dois olhos aflitos se recusavam contemplar o horizonte de beleza, lá embaixo, espraiando na distância.

No sítio previsto, Abraão cuidou de fazer o altar. Arrumou a lenha. Amarrou o filho no posto sobre a lenha, enquanto pegava do cutelo afiado. Nessa hora, ouviu as palavras de um anjo dizendo:

- Abraão, chega, pois já demonstrou coragem suficiente a merecer o crédito divino - aturdido pelas emoções do momento, o homem levantou a cabeça, no meio dos sentimentos dolorosos que vivenciava, observando um carneiro que o anjo lhe trouxera deixado nas proximidades.

- Utiliza-o no sacrifício e cumpre o rito de consolidar a aliança de Deus e seu povo.

Promoveu, então, os atos do oferecimento, naquele lugar que ficaria conhecido onde Deus se deu por satisfeito com a oferta de Abraão ao obedecer à Sua voz.

Por conta disso, ao aceitar abrir mão do filho único em nome dos Céus, firmava Abraão o pacto da bênção de Deus, indo multiplicar a sua descendência e receber os filhos tantos quanto estrelas do céu e as areias das praias, válidos perante as outras nações da Terra.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Padre Nonato

Definir a personalidade do padre Nonato como excêntrica se torna algo incompleto para essa pessoa que cumpriu o seu papel de pastor de almas da forma menos usual, porém do tanto de atender aos fiéis nas paróquias por onde passou. Quando trabalhava em Farias Brito, a antiga Quixará, tinha uma burra em que, vez por outra, viajava para o Crato, longa travessia de 40 km ou mais. Percorria o caminho provando as bebidas fortes dos botecos à margem da estrada, onde merecia a atenção e o bom papo dos amigos.

Certa noite, numa dessas viagens quando atravessava o distrito de Ponta da Serra, já no município do Crato, a burra assustou-se com os latidos de um cão, meteu dos pés e levou o vigário ao solo. Alguns palpiteiros acham ter isso ocorrido em face do sono alto também do animal, na versão que diz ser hábito dos equinos também dormir viajando nos percursos demorados, hipótese ainda carente de comprovação.

Nos anos 40, começava a procura pelos transportes a motor de explosão no Brasil. Ao lado de automóveis caros e raros, havia as motocicletas. E o sacerdote quis desfrutar desse progresso, e tratou de adquirir uma BSA de 125 cilindradas.

Na estréia da novidade, escolheu para lhe fazer companhia jovem seminarista, que ocupou a garupa do veículo zoadento no roteiro das principais ruas cratenses. Rodearam a Praça da Sé, várias vezes, seguiram pela Rua Senador Pompeu, antes chamada de Rua do Fogo, e dobravam no Fundo da Maca, agora Almirante Alexandrino. De lá, aprumavam pela Dr. João Pessoa, rua principal do centro, contornavam os quarteirões centrais do comércio e de novo chegavam à Sé.

O movimento repetiu-se vezes seguidas, ao som pipocado daquela inovação, no começo despertando só curiosidade. Ambos passageiros traziam a batina preta enrolada nas pernas da calça, a copiar o roteiro ora pelo calçamento tosco, ora no barro batido, para cima, para baixo. Entretanto algo de incomum se dava, causando admiração nos circunstantes, porque, na pressa de experimentar o instrumento esquisito, o sacerdote deixara de estudar o jeito de parar o transporte, e nada de saber onde encontrar os freios e diminuir a marcha.

De tal modo que os motoqueiros, cativos, rodaram quase uma manhã inteira na espera de secar o tanque. Isto, porém, não foi preciso, pois, numa das reviravoltas, deram de frente com jegue lotado que cruzava à frente dos trafegueiros improvisados, e terminaram a aventura esparramados no chão entre as pernas do equino.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O eu e Jesus

Distância infinita que une a teoria e a prática dos ensinos espirituais no conduz refletir quanto ao tanto que já se andou nas trilhas da conversão do ego no Eu verdadeira, a Consciência dos seres inteligentes da Criação, espaço de união de si consigo mesmo. Isto do ponto de vista individual e, um dia, no estirão do tempo, que também acontecerá a nível coletivo de toda Humanidade. 

Que passos ocorrerão à busca da Luz diante da humana história que transcorre há milênios, iniciada desde os primórdios da primeira organização de vida no âmbito da Natureza? Quais conquistas reais dessa jornada do caos às estrelas que empreendemos em ritmo de aprendizados e experiências de quantas e quantas existências? Onde isso reflete positivamente nos frutos da colheita universal, nos bilhões habitantes atuais do Planeta comum? 

São perguntas necessárias à utilização dos próximos acontecimentos e ações pessoais, elas que trazem ao sentimento as práticas diárias, definições de propósitos e metas a obter, sempre visando o princípio da ordem em todas as circunstâncias deste chão.

Olhar com boa vontade os valores que norteiam sistemas em funcionamento, a tecnologia, os objetivos das massas sob o comando de blocos de poder, vezes sem conta que agem no bel prazer da fama e das riquezas, do gozo material da indiferença dos grupamentos sociais.

E pessoas formam esse grande todo, no entanto acomodadas nalgumas horas ao egoísmo das satisfações particulares, escondidas nos becos escuros do apego e da indiferença. Chefes de si e serviçais da inutilidade.

Jesus veio ensinar normas de encontrar a saída de limpar o passado delituoso. Conduzir o rebanho das almas ao núcleo da libertação de tudo quanto significava repetições desnecessárias da vivência dos séculos escuros. 

Existe, por isso, luz acesa no âmago da gente que esperar só aceitação do Reino Divino em nós, porta aberta dos páramos da plena Felicidade.  

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A festa dos animais

O entusiasmo daquela festa disfarçava-lhe a acentuada timidez. Por mais que pretendesse, ainda esquisitava dali os padrões, o movimento da cidade grande e seus ambientes abarrotados de constantes surpresas.

Moço do interior, ainda que vivendo há vários anos entre carros e prédios nunca perdera o cheiro de mato, sem, todavia, considerar nisso qualquer demérito. Amizade que é bom, embora revirasse os ambientes urbanos a procurar, tinha facilidade para as outras coisas, contudo nesse particular quase nunca funcionava do tanto certo. Assim o tempo passava levando boas chances de novos relacionamentos, preço alto que pagava, porém justificado nos modos beradeiros do rapaz.

Naquela noite até admitia deslizar com mais facilidade e desenvoltura no meio dos inúmeros convidados, talvez por conta da empolgação de música e luzes, animada nas conversas e variadas cores do lugar sofisticado. 

No auge da intensa movimentação, eis que, sem a menor das intenções, pisou firme nalguma coisa móvel que interrompia o seu caminho. A barra crescida do vestido de uma senhora retardatária lhe viera à frente da botina e os pés cuidaram de superar o tempo que ficara faltando ao especo percorrido. Dependesse apenas da vontade, pelos modos cautelosos do rapaz, noutras circunstâncias aquilo jamais se daria. Aconteceu, no entanto. O pisão no vestido da moça causou nela um mal estar e alguma contrariedade. 

Com o incidente, a dona do vestido retornou perto do rapaz. De pronto, indignada, se vira na direção do involuntário responsável pelo acontecimento desagradável e, em altos brados, para chamar a atenção das pessoas próximas, carrega nas tintas da grosseria:

- Eita, como nessa festa tem animal – a título de admoestação. Afirmara olhando o rapaz, que, sem ação, buscava compreender os motivos daquele gesto.

A princípio, quis pedir desculpas. Compreendeu, no entanto, por instinto de melhor conveniência, que talvez a moça houvesse topado com outros bichos, animais de verdade, soltos entre os convivas no meio do salão. Então, quase sem raciocinar direito, na mesma moeda, devolveu o gesto indelicado de que fora vítima:

- É verdade, sim, dona. Pois acabo de pisar no rabo de um desses animais que a senhora avistou na festa.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Compasso de espera

Por vezes me pego a pensar (aproveitando que ainda não cobram imposto de pensamento) nas coisas da política nacional, nos destinos manipulados pelos responsáveis das ações sociais no campo prático e lembro algumas situações vividas em campanha.

Certa vez, observei um cabo eleitoral oferecendo, a preço módico, 150 votos, cujo pagamento se daria em duas parcelas. Uma, no ato da venda. A outro, após contados, urna a urna, os votos negociados. Segundo informava, ele ficaria com a metade do apurado e o restante caberia aos eleitores.

Que contradição existe num quadro desses em país como o Brasil! Onde os que mais carecem de bons representantes pouco dispõem de chance para uma escolha correta. Tornam-se presas fáceis dos aventureiros inescrupulosos, relação onde se torna impossível, nas avaliações jurídicas, de saber ao certo quem alicia e quem é aliciado. Em que político compra produto fora de comércio e eleitor dependente vende a própria dignidade.

Esse ilícito eleitoral, no entanto, bem caracteriza a vida brasileira, lugar de consciência pública deficitária, que nunca passou de matéria dos sonhos das minorias esclarecidas.

O candidato quase sempre procura os cidadãos visando galgar postos na política sob valores de ética capenga, no vale-tudo predominante. Os eleitores não confiam nos postulantes, porquanto a história indica os piores exemplos. Na abordagem, mesmo sabendo que seu voto pesa na seleção dos eleitos, vem a ânsia de negociar ao melhor preço imediato. Em regra, muito de raro voltará a ver o candidato, pouco lembrado das importâncias de votar certo e qualificar os padrões da sociedade.

Resultado: cada ano resta a impressão de que a democracia nacional exigirá período longo de abstinência, quando, só depois, veremos as mudanças necessárias em nossas instituições, fruto da boa escolha dos representantes.

Enquanto aguardamos esse processo salutar, resistimos ao seguimento que nem pode se chamar de crescimento, por ficar abaixo da multiplicação populacional, melhor denominado de recessão econômica; da desfaçatez dos falsos líderes e seus índices manipulados; de uma mídia amestrada favorável a estado de coisas perverso, gerador de grave crise social sem precedentes, em que novas gerações pouco contam em modos profissionais; de um cortejo de deficiências em saúde, educação, segurança, moradia, estradas, mazelas sociais impostas pela macroestrutura mundial que nos domina.

Anos se sucedem. Eleições acontecem. Pessoas trabalham. Há que se confiar no futuro, eis a lição titular do bom senso. Jamais desacreditar, portanto. Limitações jamais justificariam desânimo. Queiramos, isto sim, manter a firmeza nos bons propósitos e a ordem de tudo prevalecerá, livre das aparências escuras do atual cenário. Merecerão tão só aquele que cumprir os pressupostos da Justiça Superior. Façamos nossa parte, mantendo limpas as mãos e plantemos as leiras do futuro, quando brotarão novas árvores. Mais que antes, eis o tempo da Esperança em todos os corações políticos. 

domingo, 21 de dezembro de 2014

A dor e a civilização

O que dói nas gentes é saber que ainda lutam com a própria carga de  imperfeição, sujeitas às intempéries morais de sofrer por conta de ciúmes encarquilhados escondidos nas folhas soltas das estradas vazias e aventuras equivocadas no trato com os demais; mascarar fachadas sujas da construção interna do coração que guardou lixos acumulados anos a fio por conta das invejas e vaidades repetitivas de nem um pouco imaginar jeito melhor de viver e com isso alimenta as fraquezas; é o que dói dentro das gentes de fazer desgosto. Enquanto observam o lago tranquilo da paz que sabe existir nas teorias, livros e religiões, carregam mágoas, desgostos, rancores, fingimentos; atiçam lembranças de equívocos dos outros também na mesma jornada de aprimoramento, porém esquecem o que transporta na caixa preta do atraso espécie de senhor do território, contudo amargurado e sem domínio de si.


Nas hipóteses de ser feliz, vivem a prévia do que acontecerá um dia, talvez hoje de tarde, ou amanhã de madrugada, enquanto alimentam as porcas magras da revolta e perdem chances valiosas de saltar fora do calvário criado nas duras penas dos desgostos, prática inútil alucinada.

Ninguém escapa de encarar a verdade face a face no decorrer dos mistérios dessa vida, escondido debaixo da lona da carroceria da nave planetária das criaturas. Correr de um lado a outro do vagão do tempo sem, no entanto, descobrir a saída cósmica de achar outro canto que não seja o endereço do coração limpo, representa ilusão. 

A indústria química pode até fabricar mil preparados de minorar crises, cólicas, todavia só por dentro da pessoa haverá uma porta de limpar o espaço aonde construir a cura definitiva. Saltos morais não resolvem o drama de aqueles equívocos transferirem aos outros a solução do enigma de todos a  responder com renúncia dos motivos antigos que prendem egoístas ao plantão da dor. 

Pegados no desejo de felicidade, viajemos juntos ao mundo das respostas espirituais.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O direito à felicidade

As cogitações humanas tendem ao efeito de se realizar no mundo visível, que disso não restem dúvidas pois obedecem a leis estudadas e comprovadas nos métodos da ciência, onde, por exemplo, nascem as bases hoje mal ou bem utilizadas na tecnologia responsável pela vida moderna. 

Uma dessas situações presentes em nossas vidas é o princípio newtoniano de que a cada ação corresponde reação igual e em sentido contrário, dinâmica evidente nos instantes mais comezinhos do nosso cotidiano.

Outra pérola de rara inspiração é o denominado método dialético, do filósofo alemão Friedrich Hegel, que assevera: O pensamento não é estático, mas procede por contradições superadas, da tese (afirmação) à antítese (negação) e daí à síntese (conciliação). Uma proposição (tese) não existe sem oposição a outra proposição (antítese). A primeira será modificada nesse processo de oposição e surgirá uma nova.

Por tais motivos, chega-se ao momento agora, em que retorna ao povo o seu direito de sonhar com a felicidade, valor inalienável da existência humana e aceito no célebre jargão da procura pela felicidade

Sintomas idênticos demonstram às claras o valor da política na transformação e no crescimento das comunidades. A importância das lideranças sérias determina o encaminhamento da coisa pública e propicia o retorno da esperança através da política. Viver tanto tempo sob a égide perversa das elites no poder gerou qual sentimento fatalista, mesmismo dominante, que parece sair de portas a fora para reanimar o brio desta cidadania conquistada em longa história de lutas silenciosas.

Podemos, sim, praticar a autenticidade. Os conceitos políticos precisam de urgentes reparos. Sonhar torna-se qualidade possível nas relações humanas também aqui abaixo do Equador. A sociedade dispõe dos mecanismos sérios da correta condição, necessários ao estabelecimento da justiça e da paz entre os seres. Nada de baixar a cabeça e abandonar a luta monumental por dias mais luminosos. 

Nisso, nesta hora abençoada em que fortes amores democráticos ampliam suas asas sobre nós, vamos reunir o ânimo de trabalho, abrir os olhos e o coração e abraçar este tempo novo que se prenuncia no vasto campo das instituições da Pátria, e exercer sem medo o direito sagrado à felicidade, sonho constante das melhores gerações, em todas as épocas.  

domingo, 14 de dezembro de 2014

Chichico

Que pássaros gostem de comer roça de cereal isso nada de admiração deve causar; mas do tanto daquele ano fica difícil de admitir com regular naturalidade. Imediato começou a pendoar o arroz e chegaram nuvens imensas dos mais diversos tipos de bicho de asa. Um deus nos acuda... Salvar o que restava se transformou no único compromisso de toda a família, à cata de solucionar o problema. Na época, ninguém falava desses venenos que hoje acabam com insetos, passarinhos e pessoas, devastando sobremodo a Natureza. 

- Vamos fazer um boneco de pau e vestir como gente – indicou o menino mais velho, metido a saber de tudo, lembrando-se de um que outro sítio avistara nas proximidades.

- Mas quem sabe fazer um trabalho assim? – interessou-se o pai, avaliando a limitação de tempo e arte dos habitantes do lugar.

- Seu Severino Carpina, que mexe com essas coisas para vender na cidade nos dias de feira – logo a mãe lembrou na busca do jeito que diminuísse a fome dos passarinhos. – Depois juntamos nele roupa folgada que balance no vento e ficará resolvido o assunto. 

Juntos correram à casa do carpinteiro e dias mais acompanhavam o feitio da peça, que dentro de pouco tempo resultou numa bela figura, até de chamar atenção pelos traços desenhados com esmero. 

Eis que posto no centro do arrozal, o espantalho funcionou que foi uma beleza, do modo previsto; às vezes chegava a causar efeito superior além do esperado, assustando gente e animais de maior porte, que, de noite, por desaviso, se aventurassem no eito do baixio entre os legumes maduros. 

Melhorava também, nesse aspecto, o sertão. Esforços se destinaram às outras obrigações, não houvesse o inesperado que deu de crescer naquele inverno, pois as chuvas, antes calmas, quietas, transformaram-se em trombas d’água monumentais, nunca chegadas do jeito daquilo.

Antes de apanhados os primeiros grãos, a enxurrada levou quase tudo, inclusive o espantalho de afastar passarinho. Deus nos acuda fustigou a alma dos caboclos para aceitar de bom grado a ocorrência qual coisa do destino e a vida seguiria adiante. 

Dentro do espírito abnegado que alimenta as pessoas simples, sua religiosidade natural, certo dia, alguns anos após o prejuízo, mãe e o filho mais velho rezavam novena em sítio afastado para onde mudaram, abaixo das terras antigas. 

Cheios de fervor, acompanhavam as palavras da beata nas jaculatórias, quando a mulher observou santo novo, diferente, num dos altares laterais da pequena capela. Admirada, reconheceu nele as feições exatas de gente conhecida. Voltou-se ao filho e falou baixinho:

- Zé, tu reconhece a cara daquele santo dali? – perguntou, indicando o andor humilde no canto.

- É ele, é Chichico, mãe, nosso boneco que a cheia grande levou – embelezado, respondeu o menino, súbito acalmado pelos olhos severos da rezadeira fuzilando eles dois.

Na saída, a mãe ainda balbuciava as palavras derradeiras dos dizeres sagrados, e acrescentou: - Que ele interceda também por nós, que fomos seus amigos bem antes – enquanto desconfiados saíam acompanhando a quermesse pelo terreiro, sem nada revelar aos outros da real procedência da imagem familiar.    

Obs.: História que ouvi de meu pai, Luiz Lacerda Leite.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Considerações familiares

No ano de 1901, dia e mês ainda para mim desconhecidos, numa das salas da residência do doutor Antônio de Alencar Araripe, na Praça da Sé, em Crato, reuniam-se os próceres locais do Partido Republicano com emissários vindos da Capital, caravana chefiada pelo então presidente da agremiação no Estado, o doutor Ildefonso Correia Lima, filho de Fideralina Augusto Lima e tio avô de meu pai. 

No decorrer daquela atividade, do lado de fora, adversários promoviam algazarra e hostilidades ao evento, adotando, inclusive, a prática de lançar fogos sem bomba, o que causava profundo desgosto nos republicanos. Ouvia-se tão só o rastilho dos cartuchos a se erguerem nos céus, desfeitos sem seus arruídos característicos.

Clima de extremo constrangimento cresceu entre todos. Meu bisavô materno, Joaquim Bezerra Monteiro, de 33 anos, achando-se à frente da solenidade, anfitrião na qualidade de presidente municipal do partido, se viu desfeiteado com a provocação; emocionando-se ao máximo, passou mal e sofreu, em consequência, colapso cardíaco que ali mesmo o fulminou.

Antônio Bezerra Monteiro, meu avô, à época desse acontecimento, perfazia três anos de vida, sendo ele e Ramiro Bezerra Monteiro os únicos filhos deixados por Joaquim Monteiro. Aos 19 anos, ficara viúva sua genitora, Maria Conceição Pinheiro Monteiro, filha de José Pinheiro Bezerra de Meneses (o Cel. Zeco dos Currais).  

Anos depois, minha bisavó Conceição, contrairia novas núpcias, dessa vez com José Fernandes Coimbra (Zezim Coimbra), de família juazeirense. Quando chegamos a Crato, inícios da década de 50, pude conhecê-los e algumas vezes visitá-los, na casa onde residiam, à Rua José Carvalho n.º 123, vizinha do prédio da Escola 18 de Maio, nome posterior da antiga União Artística Beneficente, estabelecimento onde minha mãe exerceu, no turno da noite, por vários anos, o mister de professora.    

Outro aspecto pode ser considerado nesse episódio: o doutor Ildefonso Correia Lima, em 1891, fora um dos três médicos que investigaram o fenômeno das hóstias ensanguentadas, verificado na segunda metade do século XIX, em Juazeiro do Norte, cujo laudo o bispo dom Joaquim José Vieira inseriu em uma das suas quatro cartas pastorais que consideraram o assunto. Opinara o médico pela veracidade da ocorrência, admitindo-a fisiológica e dentro das leis da natureza, registro constante do livro O Padre e a Beata, de Nertan Macedo. 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O sabor dos dias

Ao amigo Wellington Bringel.

Um sabor abstrato que os dias possuem com toda intensidade. Eles e tantos outros substantivos, pessoas, lugares, horas, meses, anos, objetos animados e inanimados, o que fala como verdades dentro dos pensamentos e sentimentos, espécies de seres vivos manifestados por vezes como causa das alterações na pulsação no coração das pessoas. 

Nesta tarde de sexta-feira de dezembro, por exemplo, ali há pouco deitado de papo pro ar repassava um tempo na memória quando trabalhara em Brejo Santo e era às sextas-feiras de tarde que vinha ao Crato a fim de rever a família e os amigos. De emoção ansiosa por demais, buscava o jeito das caronas e queria a todo custo chegar o quanto antes na cidade. Ir à tertúlia na AABB daquelas noites, passear pelas ruas e praças, sequioso dos momentos da semana ausente pela obrigação profissional, atitude dos que perderam o que não sabem em lugares onde que ignoram quais.


Repetidas ocasiões, esperava reencontrar o tempo perdido ao dobrar uma esquina, adentrar um cinema, uma livraria, sentar nos bancos das praças, mero empenho imaginário de perguntas impossíveis e respostas inexistentes. 

Dia seguinte, sábado, a nova chance de deparar com sonhadas quimeras sumidas nos porres da noite anterior, reunidas outra vez nas manhãs cratenses de inúmeras alternativas; Cascata, namorada, jornal, caminhadas pelo centro da cidade, porém ao rumo dos meios dias de tudo em vão... A morneira da tarde devoraria os programas apressados e aflitos, depois desfeitos doloridos nos finais de noite daqueles sábados desesperados.

No domingo, ah, meu Deus, cresciam nuvens escuras de esperanças diluídas nos transes de regressar ao trabalho o quanto antes de chegar, sem falta, bem no início do expediente da segunda-feira. Terça. Quarta. Quinta. Dias rentes, obrigações e saudade, poucas surpresas, raras notícias de tão perto e tão longe, naquela adolescência em queda livre. Sumidas oportunidades de aceitação das normas do tempo, senhor das razões da inteligência contestadas nos caprichos individuais dos que evitam amadurecer na idade, da responsabilidade.

Ainda assim, recordamos o gosto gostoso das tardes das sextas-feiras, de quando, nalgunas horas, os colegas comentavam chistosos: - Se a morte um dia quiser me levar, que isto só seja numa manhã de segunda-feira. 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Conselhos, o conselho

A vida somos nós. Aonde formos ela irá conosco. Ninguém foge de si mesmo. Tudo o mais é ilusão de angústia sem direção. Acreditar na vida é sabedoria pura, lucidez e verdade ao dispor da alegria que a gente pode nutrir de crescer conosco próprios. Ninguém e o destino, mistérios que superam toda expectativa de liberdade. A ciência de tais conceitos nasce de dentro do coração, cresce e se agiganta à medida que acalmamos a sede aflita de respostas, pois estas vivem juntas no íntimo da própria pessoa. Esse fluxo constante dos elementos da Natureza somos também nós, protagonistas da história individual. Saber disso pede apenas humildade, valor principal de receber todas as respostas que o mistério da existência oferece aos quatro ventos, e, no entanto, é sujeito esquecermos saber, isso por causa do egoísmo que ferve e entontece as entranhas da imperfeição. Levantar a cabeça revela, pois, disposição e gosto de abraçar os segredos abertos aos olhos de quem queira ver. A luz que ilumina os passos das horas, o poder dos Céus, também clareia a estrada dos avisados e abertos aos bons sentimentos.

Há um princípio indivisível, Consciência e Poder, enquanto habitamos a faixa de território pessoal das perguntas e respostas. Em nós nascerá Jesus, dos nossos valores positivos e grandiosos com os quais venceremos a limitação da ignorância. Eis, em resumo, o processo que existir sob o qual viajamos nas jornadas eternas do Universo. 

Faça destas palavras uma força de viver e caminhar com a firmeza da paz interior. Saiba utilizar a potência do lado bom que existe nas atitudes positivas, lute com as armas da concentração de querer apenas o que oferece meios de felicidade. Amar, sonhar e querer bem, ações essenciais dos buscadores da realização plena. Um abraço de Paz.

Cartas e passarinhos

Isso de morar perto das matas reclama alguns ajustes de conduta de quem invade o habitat dos bichos e da vegetação, e deve oferecer meios de ceder espaço aos donos originais do território. Nesse tempo de estio, quando os pássaros principiam construir ninhos e gerar filhotes, eles buscam a coberta da varanda na intenção de trabalhar os berços onde porão e chocarão os ovos. Trazem gravetos, folhas secas, restos de tecidos, penas velhas, e começam a montar os artesanatos da gestação. Que inteligência lhes acompanha nessa arquitetura só observando e ver. Tratam da casa alheia dos intrusos humanos quais antigos proprietários das imediações. Mas sabem o que querem, pela insistência de conduzir os materiais de construção sempre e com rapidez surpreendente. Às vezes o vento desmancha o que iniciam, contudo acabam obtendo sucesso nas intenções finais. 

No entanto este ano apareceram com ideia diferente, talvez saturados de preencher só o interior da coberta lá fora, acharam que devessem medir força com o pouso da correspondência, a caixa de correio. 

Primeiro, notara que apareceram gravetos, folhas e até rebarbas de sacos plásticos no interior da caixa, o que imaginava fruto de brincadeiras de menino desocupado, treta que se repetiria nalgumas outras ocasiões, ao avistar novos entulhos jogados ali dentro. 

Qual surpresa, todavia, quando, numa tarde recente, aberta a caixa, voara um casal de garriças apressadas e apreensivas. Então, nessa terceira ocasião, ficara patente a apropriação temporária do imóvel antes de chegarem as cartas, bem outra finalidade, episódio natalino da procriação de animais, garrinchas impertinentes. Conteúdo suficiente, a aceitação das ordens naturais nos fez baixar a cabeça...

Examina daqui e dali, a natureza, claro, detém o poder da razão também nessas horas. E os passarinhos permanecem arranchados na caixa de correio, formato diferente de trazer cartas inesperadas, bichos alados solicitando sobrevivência, nesses tempos de tamanhas destruições da mata indefesa.

Por favor, ponha as cartas por baixo do portão, eis o aviso que lacraria temporariamente a fresta de chegarem cartas, isto até o nascimento da ninhada dos visitantes invasores deste final de ano.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Na busca de algum lugar

Pensamentos dessas tardes quentes, enquanto o tempo silencioso passa pelas árvores quietas do verão sertanejo. Invadem com absoluta intensidade os vários lugares dentro da carne da gente, mistura adiposa dos sentimentos e das dores musculares escondidas nas dobras de viagens inumeráveis dos bilhões de seres humanos. Saberes de desconhecimento e conhecimento guardados entre as lembranças e expectativas, palavras que escorrem apreensivas perante tantas questões não resolvidas, bichos soltos nas sombras das matas do coração.

Nisto, quais setas atiradas no campo aberto da imaginação, eles seres circulam soltos à procura de manter a superfície dos olhos grudada no mundo que vai sumindo seguindo célere, arqueiros de visões alicerçadas em planos abstratos lá além. Histórias inúmeras que transitam feitas linhas de riachos em telas de fumaça e horizontes.

Há leis que a tudo regem. Ninguém que as contém pode de fugir das determinações ainda que ambicione fugir. Sim, pois a necessária invenção dos objetivos dos atores pesa mais nas suas missões valiosas de todos nós.

Em horas justas, indagação ganha os ares. Saber a que viemos neste chão solo das almas penadas. Para quem perguntar e receber respostas singulares. Andarás nas estradas da lida em forma de zumbis ou santos de ânimo forte, na crença dos peregrinos. E andamos obedecidos aos princípios que indicam pé ante pé à frente, quer chova, quer faça sol.

No entanto sonhos nascem, crescem e se desfazem, tais espumas no surgir das madrugadas frias e alvoreceres iluminados de cada oportunidade. O dom do humor vaga ora triste, ora alegre, a meio de contrariedades e deleites. As circunstâncias apontam sempre novas modificações do volteio nas curvas dos rios; encontros e desencontros; teimas, afirmações; contradições e simpatias.

Desafio à paciência, fluir refluir das eras inesquecíveis que, igualmente, calam personalidades, vontades extremas de ser o dono e senhor da jornada.  Estar no lugar certo na hora certa; agir de acordo com princípios da mais plena das realizações plenas. Querer a todo custo acertar o milhar da existência, sem perder nenhum momento da herança limpa e das virtudes que comandam o cenário.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Certezas

Antes, gostava de livros. Hoje, gosto de ler. Às vezes, chegam às minhas mãos livros que lembram pessoas. Esses demoram pouco comigo, não me pertencem.

A tal distância infinita entre as pessoas se parece com avião, de longe fica pequeno; de perto, bem maior. Quanto de pouca comunicação há entre pessoas; vazios e impossibilidades; nuvens e oceanos...

De comum, a linguagem adotada invés de reunir chega a distanciar pelas próprias limitações do processo da comunicação, cavando esconderijos profundos e trincheiras enlameadas em que chafurdam criaturas amarguradas e tristes; ou flores frágeis de doces perfumes ali abandonadas.

O ser que somos nem sempre mostra aquela cara que a gente imaginava... Somos, nalgumas ocasiões, meras sombras de nós mesmos; espectros ambulantes perdidos nas estradas da existência, que assustam e se assustam.

Isso de identificação soma quando a gente sente solidão. Saímos a bater cabeça nas paredes das vidas aqui de perto, a procura que nos abrirá os olhos da mente a as fibras de coração a vislumbrar paisagens novas.

O tal vazio das horas difíceis significaria isso, impressão de que um deus dormiu, e a gente espera que ele acorde, quando jamais a Verdade esconderá a face diante das horas, bem no íntimo o tempo todo.

Instinto da religiosidade nada mais é do que despertar de si em Si, alimento das águas claras de lagos limpos. 

Sei, não. Mas parece que perdemos o contato com outro lado da gente, meros joguetes de sorte criada pela sonhada na civilização da história. Conquanto busquemos acertar, perdemos, horas algumas, o alvo objetivo de querer chegar; e deslizamos numa pista de espumas e energia, sons e imagens, à velocidade dos raios.

Saber da presença das vidas além da muralha dessa caverna traz gosto de seguir arranhando pedras e nutrindo esperanças, motivos suficientes a persistir, ainda enquanto o calor e a secura indiquem ausência, pois moram luzes lá dentro no início das novas manhãs.  

domingo, 7 de dezembro de 2014

Infinitude de amar

Nas disposições do amor, um sentido infinito preenche todas suas possibilidades, pois como se há de restringir o que jamais será extinto diante de tudo aquilo que existe nas funções definitivas da Eternidade? Contar do amor só amando. Saber do seu sabor só vivendo a plena intensidade que disponibiliza a quem o vivencia. Rendição incondicional ao poder da Criação, amar resume o objetivo das existências durante todo tempo que nunca extinguirá. Soma do tempo em única potência estabelecida enquanto revelação das vocações no mundo de cores e sons, pensamentos, sentimentos, esperanças e desejos; maioridade do conhecimento e resposta a todas as perguntas imagináveis. 

Dimensão absoluta da condição de estar aqui, amar desfaz as fronteiras entre razão e emoção, realiza o poder da luz que perfuma a alma e totaliza o Ser na resposta precisa da maior Inteligência. Quem ama sabe que ama sem palavras desnecessárias, porquanto Amor é o verbo no sentido das formas e abstrações da Natureza, presença de sonho bom tornado para sempre, neste vale verde das existências sublimes. Amar, eis código de libertação e certeza sem dúvida na estrada das muitas vidas, clímax ideal da humanidade do um na Unidade e foco de perfeição.

A beleza transmite isso exato sem mácula, transe de iluminação, pureza das verdades verdadeiras e mistério das convicções ilimitadas, nave de amplitude e essência multiplicada detalhe às portas do horizonte claro, ciência do dia e sabor das artes e dos amores puros. 

Livro bom, imagem exata do mais real, filme que acalma e alimenta, brisa agradável e temperatura amena das sagradas relíquias, som universal; amar só experimentando o pulsar consciente das moléculas íntimas de dentro do organismo imortal dos entes e energia de corpos em movimento.

Amar, verbo intransitivo e palavra original de todas as palavras, sinal inextinguível do Deus pai na formação deste Universo, fim e começo de Tudo quanto há, amor e paz no coração da gente. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Um jeito de trazer alegria

Por vezes sentimos vontade de esquecer essa disposição de reunir as palavras e transmitir sentimentos de satisfação perante a vida, insistir que vale a pena seguir buscando a saída do labirinto da existência, a luz do final do túnel, um encaixe perfeito da personalidade individual com o sentido eterno da Natureza. Amigos chegam a dizer que há nisso otimismo talvez imaginário, no entanto claro que precisa esforço dentro de qualquer sacrifício. Larga e fácil é a porta da perdição, da desistência. Habitamos mundo de ilusão que se desfaz no cadenciado das horas. Troca-se trabalho pelas frioleiras desse chão qual atitude sem alternativas. Contudo a exatidão das maravilhas naturais sacode o desejo de encontrar a resposta tão genial quanto o autor de tudo isso. Essa a razão de continuar no propósito de desvendar o mistério de responder com sabedoria ao enigma da vida.

Todo tempo vem sendo assim, filósofos, mestres, aventureiros, em busca da interpretação exata desse itinerário da consciência entre os seres humanos. Sol nasce e lá vão eles à busca de respostas ideais ao problema maior das interrogações todo tempo. Uns batem às portas da ciência; outros, vagam dentro das muralhas do ser interior; porém a ânsia de sonhar com o bem maior da revelação predomina diante de resolver a questão da existência.

As artes, religiões, realizações coletivas de projetos diversos, preenchem a tal esperança de felicidade plena que substituirá a repetição já surrada de vir e voltar geração após geração, no aguardo das soluções definitivas. 

Nisso o instinto de seguir com positividade os passos na busca objetiva de crescer sem destruir a mesma oportunidade dos demais irmãos de raça neste Universo esplendoroso. E todo dia colher as flores do jardim da alma e distribuí-las quais doidos mansos soltos pelas ruas da cidade, a expandir sorrisos bobos e amáveis, tais pássaros insistentes no gosto de alegrar a paisagem nem sempre verde dos dias.     

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A arte de ser positivo

Nas variantes de práticas adotadas, as palavras prestam inúmeras facilidades, das quais a principal sobrevive em meios adversos, oferecendo formas de superar bloqueios e contradições. Há sempre palavras que mostram alternativas, conduzem negócios, informam possibilidades, germinam saborosos frutos inúmeras vezes, matrizes do sucesso pleno. Os desdobramentos e acontecimentos abrem, com isso, janelas e portas imensas, donde saem (das palavras) os conceitos seguidos das atitudes. 

Viver, portanto, quase significa estabelecer estados de compreensão das coisas deste mundo através das palavras formulam através dos pensamentos que a elas formularam palavras, no juízo de cada criatura humana.

Destarte, a relação entre conceitos, ações e os sentimentos, somados, determina o estilo da vida que prevalece nas vontades individuais e no plano das coletividades.

Assim, pessoas aborrecidas quase nunca sabem formular conceitos diferentes daquilo que todo dia praticam. Desempenham nas palavras e pensamentos o que acostumaram, na prática cotidiana, usar, pois o cachimbo põe a boca torta. Criam hábitos nocivos e deles se alimentam qual ficção natural, como quem diz a si não haver outro jeito de exercitar a existência senão sofrendo as amarguras e o desespero, na angústia de caminhar. 

Noutras palavras, se conformam naquilo que lhes prejudica. Mesmo tolerando altos tombos, arrastam os pés quais seres frustrados e arrependidos, em tudo e por tudo vítimas na incoerência do sistema que adotam pela condenação antecipada do medo e da culpa, primos entre si.

Navegar é preciso; viver não é preciso, considerou Fernando Pessoa, verso que casa feito luva no modo existencial do viver só por viver, ao sabor das marés, entregue às ondas tempestuosas do desânimo e das enxaquecas, desilusões ao vento.

No entanto, falar de outro jeito de viver, do viver positivo contém milhões de esperanças pulando acesas em nosso caminho. Aquilo de reagir do gesto mecânico de apenas se abandonar às vagas a pura sorte. Porquanto há o estilo melhorado de tratar a condição humana, o trato habilidoso de conceitos revolucionários. Gerar palavras e sentimentos agradáveis, tecidos na malha da vontade livre e, em consequência, elaborar atitudes de ânimo construtivas em si e na sociedade harmoniosa e progressista.

sábado, 29 de novembro de 2014

As mazelas do Estado neoliberal

Diante das complexas relações sociais, à medida que cresciam grupamentos humanos, surgiu o Estado politicamente organizado, essa macroestrutura que agora a tudo domina, vira ente de tentáculos infalíveis pelo mundo inteiro, monstro Leviatã, na concepção do filósofo político Thomas Hobbes; o Grande Irmão, no livro 1984, de George Orwell. 

E aqui vamos de goela abaixo, nós da sociedade civil, a defrontar essa entidade maior que a vontade coletiva que coordena e, por vezes sem conta, trai seus ideais e reais objetivos, hoje classificada em duas vertentes vagas de corrente liberal e corrente marxista, ora em desuso, pois estas vêm sendo substituídas pelo conceito de Estado híbrido, da China ao Canadá, após a sociedade globalizada e economia de escala, numa espécie de mutação genética classificada por Estado neoliberal, bicho de dentes afiados e dominador absoluto das relações da sociedade mundial. 

O cidadão, este se acha sendo reduzido de importância a ponto de descartar a força que teria se houvesse, ao tempo certo, exercitado a consciência políticossocial descartada há séculos (Se o elefante soubesse da força de que tem o leão não seria o rei dos animais, já falaram os sonhos, mas antigamente).

A figura do contribuinte restou esquecida, desprezada, ela, a famosa mantenedora da farra descomunal do que fazem os vilões daquilo que pagara com impostos e taxas, obediência e subserviência à Lei, desejos e desencantos ao bem-estar pessoal e de todos. Refém das próprias instituições que criara, o contribuinte amarga ondas sucessivas de malversação do dinheiro público através das instituições do Estado, pai e gestor, numa espécie de atuação de apenado nos próprios domínios, sem quaisquer instrumentos mais que surtam o efeito de conter a sanha avassaladora dos grupos ilegítimos parasitários das estruturas criadas a fim de preservar os direitos da cidadania. Após os turnos eleitorais repetitivos, grupos de poder invadem as artérias financeiras da engrenagem social e sugam gota a gota o sangue precioso dos erários quais males atávicos, vampiros das massas humanas.

Nisso, aquelas aspirações institucionais de interagir e refrear a sanha totalitária do Estado conspiram e se voltam contra seu criador original, o Povo, sumindo na irresponsabilidade, isto dentro dos movimentos populares, associações culturais, filantrópicas, empresas,  igrejas, clubes sociais, associações de classe, escolas, até sindicatos, de quem se esperou muito mais no decorrer da história, hajam vistas suas intenções justas iniciais, depois abandonadas ao sabor dos prazeres lupanares do imperialismo atávico que ainda claudicante no seio da raça humana.    

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A leveza das flores

Quais borboletas ou pássaros pousados ao meio do verde das matas lá estão as flores, belas flores, sinais de beleza da paisagem às vezes cinza, espalhadas a mexer no tom das cores ao ritmo dos horizontes da vista. Elas demonstram essa existência de um poeta no comando da elaboração das peças mágicas das horas da Criação que dormia na imaginação do tempo ao Sol. Pequenas ou grandes, silenciosas, perfumadas, neutras, de tudo quanto é cor, as manifestações do vegetal fala mais alto ao coração das pessoas que viajam à procura de conforto, nas dimensões do mistério desta vida. Tais palavras jogadas no texto, as flores significam pensamentos e sentimentos da natureza que dizem e repetem velhas lições e detalhes valiosos de respeitar o quadro universal de tudo, no entanto nem sempre assim compreendidas. 


Elas viajam no vento em pétalas de fertilidade, dizendo da manutenção da vida, deslizam em pequenos cataventos que vagam no ar pelas nuvens... Há um senso de dever cumprido nas flores, protagonistas da beleza lançadas nas sementes, uma paz de coração tranquilo que dorme feito luz nas mínimas ações do movimento. A calma que nasce do direito de dormir em paz, que envolvem de cores esparramadas ao bel-prazer as horas, que também tocam aqueles que andam nas calçadas do infinito à busca de repousar peitos doloridos, nessas mínimas histórias vivas a demorar pouco ou quase nada entre os instrumentos que fogem do seu domínio. 

Encontrar, por isso, nos mimos dos tons de cor das flores indica leveza no exercício dos compromissos deste chão. Olhar o espelho da visão através dos elementos que nos cercam e falam alto ao interior das pessoas, transmitem estados de alma a quantos observam com carinho o jeito de revelar dos segredos que tem o Criador por certo ciente da oportunidade que oferece aos passantes que começaram a abrir os olhos do dia no seio das presenças doces que já iluminam o dia. 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sem maiores explicações

Um noviço, certa vez, se dirigiu ao seu Mestre e indagou:

- Qual a pergunta mais importante que existe?

Com um sorriso nos lábios, a figuração desprendida dos mestres zen, ele logo respondeu:

- A pergunta mais importante que existe é esta que o senhor está fazendo agora (Qual a pergunta mais importante que existe?).

- E qual é a resposta mais importante que existe, Mestre? – seguiu perguntando o noviço. Ao que o superior, em seguida, lhe respondeu:

- A resposta mais importante que existe é esta que agora estou lhe dando.

E bem no interstício entre a pergunta que o discípulo fizera e a resposta que o Mestre lhe acabava de oferecer ali cabem todas as perguntas e respostas que existem ou venham a existir, quando, em gesto de pura leveza, nesse espaço hipotético, circula o conhecimento de tudo quanto há, pois o Ser que vive no que indaga já traz em si toda  explicação e todo conhecimento a propósito de tudo.

Bem no centro da fronteira entre a razão e a emoção circula o movimento do Universo, que é a luz da Eternidade que habita em todas as vidas, conscientes ou em fase do despertar da Consciência.

Enquanto explicações atendem à razão, o sentimento assiste, por vezes indiferente, o transcorrer das respostas que o Universo oferece aos olhares vagos dos protagonistas do Infinito de todas as perguntas e respostas.

A luz que um dia imperou desfazendo as trevas da ignorância vaga na noite ainda escura das consciências sombrias à busca trazer a iluminação. - Meu Reino não é deste mundo – dissera Jesus.

Por isso, no vazio das consciências, em meio a tantas perguntas possíveis e imagináveis, perdura livre o desejo da verdade mais pura, durante o caminho das gerações. De passos continuados neste solo das existências, desperta a Natureza, o sol das presenças individuais que um dia irão clarear todo Tempo.

Obs.: A historinha que ilustra este comentário me foi contada por Gabriel Kafure da Rocha.
Ilustração: João Almeida.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O arroz integral

Base da alimentação naturalista, o arroz integral apresenta vantagens em relação ao arroz branco por manter seus grãos intactos depois de retirada a casca, nisso preservando a película que o envolve e o gérmen da semente, onde há maior concentração de fibra e nutrientes. O arroz branco, ou polido, não conserva a película, esta eliminada com o polimento do grão, perdendo desse modo parte importante do valor nutricional.

Dotado de consistência pela integridade, esse tipo de arroz pede mastigação e maior permanência na boca, permitindo ao organismo desfrutar de sabores até então desconhecidos e de uma melhor digestão, porquanto a digestão se inicia já no primeiro contato do alimento com o organismo, na saliva, prenúncio do metabolismo completo.

A utilização do arroz integral no Ocidente ganhou crescimento inusitado devido à propagação da dieta Macrobiótica Zen, introduzida através da França pelo japonês George Ohsawa, isso ainda na primeira metade do século XX.

Considerado pela culinária oriental alimento dos mais equilibrados que existem, face ao teor de potássio e sódio proporcionais e das fibras que oferece, em circunstâncias necessárias poderá ser consumido nos tratamentos de cura da medicina contemporânea.

Em virtude da sua riqueza nutricional, prolonga a sensação de saciedade e estimula o funcionamento do intestino, reduzindo a taxa de glicose no sangue. Além do que, disponibiliza a vitamina B7, que permite a eliminação da gordura do fígado e auxilia na queima da gordura localizada, segundo os nutrólogos.

Quando conheci o arroz integral, ainda na década de 70, havia oferta do produto tão só em lojas de alimentos naturais raras no interior e nas capitais. Hoje, no entanto, os mercantis oferecem com facilidade essa alternativa alimentar, permitindo o conforto da saúde e da desintoxicação nos diversos lugares.

Visto pelos estudiosos qual alimento prodigioso, caberá provar de perto suas qualidades, razão de plenos resultados na saúde pessoal. 

domingo, 23 de novembro de 2014

A cruz de cada um

Diz a tradição popular que quando Jesus andava com os seus apóstolos a pregar nos diversos lugares da Terra, viajando nas cidades e vilas do Oriente, cada apóstolo transportava uma cruz às costas para dar exemplo do sacrifício que aos homens representam as coisas materiais. Provavam desse modo a renúncia dos prazeres físicos. Era aquela caravana de penitentes, a se deslocar sem tréguas pelos montes e vales.

Havia aceitação de todos para seguir o Mestre, firmes a cumprir o longo itinerário da plena felicidade do Reino.


Entre eles, no entanto, de vez em quando, surgia alguém desanimado com aquilo. Atravessavam suas provas e depois refaziam o gosto de prosseguir na peleja. Certa vez, Pedro defrontou-se com um desses períodos de maré baixa. O peso de sua cruz abateu-lhe as energias e pareceu extinguir sua imensa vontade de seguir na missão redentora da Humanidade.

A princípio, conseguiu neutralizou a grave crise. Resistiu calado o quanto pôde às fraquezas, o que se repetiu dias seguidos. O madeiro que nos ombros transportava por fim sujeitou seus sonhos de purificação. Viu-se na condição inapelável de buscar Jesus e lhe contar o drama que administrava no auge desespero.


- Mas Pedro, todos nós despendemos igual esforço, a cada dia, e só tu, meu primeiro apóstolo, me vens apresentar sinais de fraqueza?! – asseverou o Pastor Divino.


- Mestre, as minhas forças... elas não querem mais me atender – insistiu Pedro. – O Senhor, com certeza, pode encontrar alternativa nessa dificuldade, pois sabe que amo Deus e guardo no meu coração o melhor de mim para lhe oferecer. Pelo que observei na estrada, a cruz dos outros parece bem mais manera do que a minha. Se houvesse jeito de poder levar uma delas, creio resolveria o tal problema.


- Bom, pelo que dizes, eis a solução – concluiu Jesus, acrescentando: – Amanhã no raiar do dia, acorde antes dos outros e tens minha autorização de escolher a cruz do menor peso que achar entre todas, e com ela seguirás a jornada.


Desse jeito fez. Ainda com escuro, são Pedro saiu na direção do quarto em que guardaram as cruzes e se pôs a calcular o peso, de uma por uma, até encontrar aquela que achou mais leve, trazendo-a consigo. 
Seguiram adiante. Passava das nove. O sol começava a sapecar as planícies monótonas da Palestina. Pedro, respirando desafogado graças o fardo suave que trazia às costas, resolveu examinar de perto a cruz que arrastava. Maior surpresa viveria jamais. A cruz que transportara toda a manhã era não outra, porém a mesma dos seus outros dias. Agora saiba, de todas as cruzes daquele grupo a sua era a de menor peso. E sorriu assustado pela fraqueza que demonstrara ao Mestre.              

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Consciência é o próprio Ser em elaboração

Inexistem separados, pois são parte de um todo único, indivisível, Ser e Consciência. Antes de galgar a consciência de Si, o Ser apenas transita a caminho da realização própria, meta e objetivo a conquistar no decorrer das gerações. Significam peças em movimento de aproximação. Enquanto permanecer no estado transitório de percurso, adquire o conhecimento necessário a conquistar o âmbito da pura Consciência.


Portanto, Consciência é âmago e pouso definitivo da existência do Ser, cujo itinerário preenche vidas e esforços de esclarecimento, razão última da história na Civilização.

Qual cristal da Perfeição absoluta, o Ser pule a si mesmo no trânsito das eras, no exercício de revelar a essência do mais perfeito que traz consigo e lhe contém a fina essência, espécie de semente do Ser, exercício que ocorre diante dos desafios e procuras da aventura humana no tempo e no espaço.

Com isto, revela a personalidade verdadeira e eterna de Si, obtendo nisso a purificação do Ser através da integração à unidade infinita do todo universal, a quem oferecerá a individualidade qual numa atitude plena do Amor cósmico. Todos em um Ser único e indivisível se completarão, o que demonstrará, num gesto de entrega ao Cosmos, o sentido da Ordem Natural dos acontecimentos eternos.

A Consciência é, pois, o Ser em Si, a realização do Ser perene e das ocorrências quais instrumentos da Existência consciente. Começo e fim de tudo quanto há e configuração autêntica dos elementos por meio do Conhecimento, mergulho na percepção da dualidade no processo dialético de integração da individualidade ao Cosmo em Si mesmo. Sois deuses e não o sabeis, afirmara Jesus.

Eis, em poucas palavras, a interpretação da Teoria do Conhecimento adotada pelo Existencialismo, do em-si e para-si, que nos objetos o em-si já é a essência destes, quando no ser homem o para-si o levará ao em-si por opção pessoal, no parto da própria essência, porquanto nele a liberdade precede a essência ainda a ser refinada por meio da Existência, só assim obterá a consciência de-si, diferentemente das coisas que a essa plenitude nunca chegarão. O mundo é um efeito realizado; o homem, um mundo em realização.    

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O caçador de onça

Como era de se esperar, o sonho da aposentadoria também chegaria aos braços de Euletério, veterano da arte de caçar onças lá pelas brenhas do Mato Grosso, nos velhos tempos. E ele aproveitou a vez, fugindo do perigo e passando a viver no centro urbano de Cuiabá, capital moderna, de carros estrangeiros e prédios elevados, num dos quais foi residir, com elevadores e tudo de conforto. 

Mas lá um dia vieram os homens com sotaque de europeu, na busca interessada de reequipar de bichos circo internacional que exploravam nas cidades grandes do Sertão. Orientados, procuraram Euletério pela fama que ainda mantinha de maior caçador de onças das florestas mato-grossenses.

Conversa vai, conversa vem, restaria perdida a argumentação do profissional de que deixara aquela vida predatória, obediente aos rigores da legislação atual da ecologia. Diz o populacho que quando dinheiro e peia não resolvem é que usaram pouco, nisso o mateiro aceitou fácil fácil a proposta dos capitalistas circenses.

E viajaram juntos às quebradas, construindo bem no âmago da mata um barracão em que ficaram instalados alguns dias. 

Data prevista, o caçador de felinos deixaria os estrangeiros acomodados na colocação jogando carteado animado numa mesinha improvisada, enquanto, ansiosos pelo sucesso de Euletério, saboreariam vinho tinto com carne de pato, no primor da cozinha daquelas bandas. 

Ele fora na busca dos primeiros exemplares raros de onça que existiam nas brenhas escondidas, logo deparando com a primeira delas, pintada de não ter tamanho, tipo ideal que serviria de sobra aos visitantes.

Corre daqui, negaceia dali, perdeu os equipamentos de trabalho na surpresa, meio enferrujado na antiga atividade, nisso largando rede e carabina. Desesperado, arrancou na direção da clareira onde ficava o barracão, com a fera no seu encalço, pega, não pega. Faltava quase nada, quando avistou a casa improvisada e uma janela salvadora, pela qual pulou bem no meio da sala. Assustara os homens da encomenda, mas, seguido quase ao mesmo tempo pela gata feroz, ainda gritou com força, avisando:

- Os senhores seguram essa, que eu vou de volta à procura de mais outra – saindo apressado pela porta principal que teve chance de puxar e deixar o grupo reunido, empresários e onça, o bicho buliçoso que acabara de caçar.  

Xô, ilusão

Deus é fiel, qual diz o adesivo nos carros. Mas há uma constatação de que não se pode fugir: grande parte da macacada adora briga, confusão, arruaça, embuança; aprecia ver outros em beco estreito, casos que a mídia conta de boca cheia, nas manhãs bem cedo. Degusta falar de vida alheia esquecendo a sua nos armários da fantasia. Prega coerência e é incoerente com a maior sem cerimônia. Curte as peças do destino e esconde sua cara como quem sabe quase nada de tudo, e usa como justificativa de permanecer no esconderijo. Alguns, senão muitos, fazem isso, dar peia nos demais, enquanto se acha isento de prestar conta dessa malquerença que tem nome de sadomasoquismo, de ruindade.

Mas chegou o momento de dizer, em alto e bom som: - Xô, ilusão. Vamos acordar e descobrir realidades que existem debaixo de sete capas. Reservar tempo à autocrítica da raça através de nós mesmos. Buscar sinceridade a todo preço, garimpeiro da consciência que já podemos ser depois das notícias boas dos mestres espirituais da humanidade. Elevar a vibração a níveis melhores, aonde impere valores autênticos de crescer e desenvolver sonhos de felicidade durante o prazo curto quando aqui caminhamos neste chão de inúmeras possibilidades. Espantar as morrinhas que sujeitam aos atoleiros da ignorância; erguer os olhos a paisagens iluminadas de dentro da gente mesma. Enxotar as frioleiras da mediocridade que atrasam as conquistas, atrelar bons pensamentos a bons sentimentos, querendo cumprir de jeito bom os compromissos diante da existência e da história de esperar de nós atitudes honestas, livres da repetição de falsos dramas, rumo aos dias plenos de luz.

Despertar é a palavra certa de praticar esse direito de atender aos dotes da natureza que vêm ricos de juventude às nossas mãos, e por vezes desonramos o merecimento disso quais filhos ingratos, displicentes.

Começar, pois, logo cedo o dia da libertação das correntes que nos prendiam ao passado, quais vítimas da acomodação. Xô, ilusão, que hoje é dia de viver.  

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Passar a limpo o coração

Esvaziar das mágoas, dos recalques, frustrações e amarguras... Jogar nas águas do mar sagrado o quanto de contrariedades manchara a ordem dos dias, ferindo a tranquilidade e o bem estar, pobres da leveza essencial... Cobrir as palavras torpes e os sentimentos ruins que atrasaram a jornada desta vida durante o tempo em que lá fora seguia o firmamento e a sonoridade macia do vento e do cantar dos pássaros, na mais pura alegria de viver. 

Isto, sim, de reconstituir o roteiro da felicidade que, caprichosamente, jogáramos na lama por meio de reações desencontradas, esquecidos da verdade maior de se saber peças-chave do todo universal que desenvolve a evolução e a existência, valor principal da sinfonia perfeita de todas as horas, o sonho da Criação.

Enxaguar da alma sentidos desnecessários de visão, focar no que interessa realmente, no direito à tranquilidade plena de aceitar os valores justos. Isso por meio da concretização dos projetos de otimismo, norma da sabedoria antes esquecida nos jogos de poder, competições, guerras e concorrências.

Acalmar a tempestade do desespero que queria tomar conta da civilização desembestada que estabelecera o sensacionalismo de mercado qual motivo de satisfação. Erguer os braços ao bem que traz ordenamento e produz fraternidade; reavivar desejos de prazer sadio e amor verdadeiro, no brilho infinito das musas dos artistas.

Refrear o instinto de dominação e crueldade; acordar, finalmente, à sensibilidade acima do furor das feras; sacudir as toxinas do atraso; e domar a besta que insistia continuar a luta do absurdo, nas aventuras dos fracos de razão que avassalavam o mundo.

Deixar, pois, fluir a imensa exatidão matemática do melhor em nós mesmos, origem individual dos acertos, do um donde vem o milhão. Acatar os clamores de veracidade nas histórias tantas de finais felizes que contáramos aos filhos, enquanto escondíamos as bombas e os desacertos, sem querer trabalha a Terra da Promissão em nossos corações. Há, sim, que todos façam a nossa parte de Amor e Paz hoje e para sempre.