sábado, 31 de agosto de 2013

Fatalismo guerreiro

Eu, que escrevo o que quero, quando quero e porque quero, desta vez quis ignorar a sentença que outros andam traçando de começar nova guerra, e me vejo meio sem alternativa de ficar quieto. Avalio isso de liberdade, se quando acontecer já estava antes traçado, segundo o fatalismo filosófico.

Na história de Jesus, ele se rende às evidências deixando que as Escrituras surtissem o resultado previsto pelos profetas. Houve momentos, quando indagado ser o Rei dos Judeus, e respondeu sem alongar o assunto: Tu o dizes. Nada de palavras de defesa ou argumentos de explicação. Assim, calado e calmo, deixou que cumprissem nele todos os ritos da Paixão, noutras palavras: Abraçou livremente a Paixão.

A força do que deve acontecer impera por cima de toda limitação, rasgando metas que pareciam inalcançáveis, inclusive em termos de insanidade. Fábricas tão refinadas para produzir mortes e ruínas!? A espécie dos doidos inteligentes domina o chão dos homens numa farra descomunal.

Isso mostra semelhança com as razões do tempo, diante do instinto guerreiro dos seres humanos que sempre arranja motivos de lutar, nas tais guerras chamadas justas, onde o interesse dos grupos confronta a realidade pacífica do trabalho e do progresso.

O que antes dera sinais de transformação em formato de Paz, no final da Segunda Grande Guerra, por exemplo, que disseram depois de tudo aquilo jamais ocorreriam novas tragédias das armas, e os pactos de não agressão duraram pouco, de seis a oito anos, até a Guerra da Coreia, início do confronto de russos e americanos. A Síria, hoje, é a bola da vez.

Chega, no rastro das ocorrências bélicas, a antiga indagação quanto ao fatalismo: Será também o Apocalipse dessas escrituras inevitáveis? Outros profetas previram mudanças bruscas na história, com desaparecimento de bilhões de vidas. Então, penso comigo, mora no sem jeito a fome das guerras, no cumprimento dos livros sagrados, pois grandes potências continuam pesquisando e produzindo canhões, mísseis, aviões, navios, submarinos, artefatos por demais sofisticados, visando destruição em massa. O teatro, no entanto, restou pequeno diante de tanta capacidade autodestrutiva, na casa comum de todos nós. E ninguém demonstra possuir força suficiente de conter a imbecilidade reinante nos corações ferozes.

Sábio e santo, Jesus bem que respeitou a Lei e abraçou livremente a Paixão, deixando lição de Paz ainda hoje desconhecida pela maioria da gente.       

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Outono das cidades

De observar as ruas da cidade, notamos forte tendência nos atuais moradores para se transferir ao campo, escapar do barulho, dos engarrafamentos, insegurança, e respirar libertos da fumaça. Nos fins de semana, então, a coisa ocorre sem deixar dúvida. Os grandes centros viraram só compromisso de segunda a sexta-feira. Depois, fuja quem puder.

Tal avaliação sugere a falência de um sonho que alimentou muitos séculos. O instinto de procurar vilas e repartir preocupações lotou o espaço das cabeças todo tempo, que povos não pensaram em mais nada como outro modo de racionalizar o povoamento.

A proposta seria somar forças. Entretanto a sofisticação da vida em grupo gerou dificuldades, no princípio superáveis pelo trabalho partilhado, depois intransponíveis face ao crescimento, rompendo previsões e limitando alternativas para ocupação de toda a mão de obra concentrada.

Os núcleos de prosperidade em que se haviam modificado as povoações resultaram nas baías interiores, com classes sociais dilatando o fosso divisório do abismo social, desvirtuando o impulso gregário dos indivíduos subtraídos da ordem natural que ficara no campo. A tendência afluente se reverte agora num isolamento coletivo, hoje bebido com náusea nos passeios neuróticos das madrugadas urbanas.

De tal maneira as chagas têm sangrado que maioria incalculável de cidadãos passou a descrer das soluções comuns, adotando iniciativas particulares, mesmo em detrimento dos que nada podem fazer.

Seriedade não falta para o estudo de sintomas. Congressos, mesas redondas, discursos, prepotência, pirotecnia. Interesses próprios mascarados de usurpação de atribuições. Fórmulas mágicas preenchem as prateleiras - critérios exclusivos e bilionários nos programas de governo.

Em compensação, risco ocorre no achatamento dessas intenções, vez ficar difícil dizer quem pode ou quem quer só o poder; saborear o mel e descartar o fel. Do pecado na escolha ruim fica um preço a ser pago, tamanho do tempo perdido, multiplicado pelas vidas em jogo, milhares que habitam os guetos das cidades; seria, talvez, a democratização da miséria, invasora dos lares e destruidora da vida social, espécie de submissão aos valores piores, quando se descartou a chance de escolher melhor, vezes perdidas para sempre.

No passado, as guerras reviravam ordens estabelecidas e desfaziam os problemas críticos a toque de caixa. Depois, técnicas potencializaram a riqueza, comprimindo exércitos no atributo de forçar direitos. Resultado: polos urbanos transformados em campos de concentração e desavenças. Os instrumentos de lazer eletrônico restaram desmantelados nos cubículos escuros sem ar, nem paz, quais sucatas de luxo.

O retorno ao seio da floresta mais do que nunca antes parece lenitivo provável; estudiosos da alma acreditam que trazemos o mapa desse percurso, algo semelhante ao que perfizeram os hebreus, na saída do Egito empós da Terra Prometida.  

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Lampião no São Domingos

Numa de suas vindas ao Ceará, no município de Lavras da Mangabeira, Sítio São Domingos, de propriedade do coronel Raimundo Augusto Lima, Lampião acampou com o seu bando na mata acima da represa do açude. Avançava de quando em vez pelo Estado, sem, contudo, desenvolver ações de saques e violência nas cidades e vilas, em respeito ao Padre Cícero, segundo afirmava.

Para conseguir achar os caminhos de saída do sítio, o Rei do Cangaço pegara o vaqueiro de nome Pitéu e passara a utilizá-lo de guia. Quando souberam disso, as forças vieram no seu encalço.

No período noturno, esboçou-se a perseguição ao bando, através de dois grupos armados. Um comandado por tenente da Polícia e outro por Assis Viana, ligado ao proprietário das terras.

Na passagem de cancela que dava acesso à manga do São Domingos, confundiram-se os grupos perseguidores, pensando tratarem-se do perigoso inimigo e terminaram trocando tiros entre si, ocasionando alguns feridos de ambos os lados.

À distância, enquanto ouvia os disparos do combate acidental, o bandoleiro comentou:

- A canalha está se acabando com eles mesmos – e de onde se achava, pelo barulho, estimou quantos rifles, mosquetões e fuzis eram utilizados na refrega.

Daí, um dos seus comparsas sugeriu:

- Virgulino, vamos lá dar um ensino naqueles macacos.

- Não, eu não quero briga. Quero, sim, encontrar o jeito de sair desse canto.

Mais tarde, junto da cerca da manga, ao escutar a aproximação da volante, ordenou o bando que se atarraxasse no solo, em meio ao capim seco da mata, todos permanecendo no mais completo silêncio.
Junto deles, Pitéu também manteve o sangue-frio.

Nessa hora, igual com o bando inerte na sombra dos arbustos, mediante a claridade da lua, viram quando Assis Viana, agarrado em duas estacas, subiu nas varas da cerca, quase em cima deles, e mostrou-se todo, de peito aberto. Os bandidos observavam toda a cena e nenhuma reação esboçaram.

Antes de clarear o dia, tomaram outro rumo e levaram consigo o vaqueiro durante algum tempo mais. Lá adiante, em ocasião favorável, Pitéu viu-se posto em liberdade, recebendo de pagamento do famigerado bandido um rifle novinho em folha, munição, um animal de montaria e dinheiro, a título de pagamento pelos serviços prestados.


(História ouvida de Luiz Lacerda Leite).  

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Uma palavra de paz

Falar nisso nunca será excessivo, a prática efetiva da Paz nos grupos sociais. O confronto representa fraqueza e superficialidade nos sentimentos, ainda que atenda aos impulsos da valentia do desejo de vitória a qualquer custo. No entanto, de nenhuma finalidade, qualquer significação em termos de grandeza moral quer representar o instinto da destruição no âmbito da Consciência Maior. Além de sintoma ostensivo de imaturidade, demonstra nenhum autocontrole, sementes de marcas profundas nas criaturas.

Numa de suas frases basilares, o filósofo François-Marie Arouet, conhecido pelo pseudônimo de Voltaire, considerou: Não concordo com o que dizes, mas defenderei até o fim o direito de dizer. Tal se presta bem a esse mundo das ideias, quando nele divergem os pensadores em pugna.

A liberdade, contudo, presta homenagem ao direito individual das falas diversas rumo da democracia entre os povos. E quem sermos de contradizer tantas conquistas do livre pensar todo tempo. Conquanto tarefa das mais árduas aceitar que os outros nos magoem e discordem, isso auxilia sobremodo a nossa mesma evolução, pedras do riacho da evolução a se tocarem no exercício do pleno aprimoramento.

Nesse ponto, o tema da Paz calha bem. A coexistência dos povos através de instrumentos harmônicos do que escrevem, dizem, fazem, indícios de progresso e tolerância inevitáveis. Houvesse tão só o desforço das lutas primitivas e o caos reinaria qual saída definitiva das escaramuças, chaga aberta de dores sem família, solidariedade, trabalho, criatividade, aprimoramento. Mero desrespeito de bichos atrasados e sagazes.

Talvez face ao exemplo dos conquistadores agressivos, a história da raça humana aprende pela dor dos que sobreviveram. Quantas guerras preenchem as páginas de sangue em detrimento dos melhores momentos quando a Paz impera e permite saltos magistrais nas conquistas da espécie.

Cada um só dá o que possui, daí o jeito sábio de escutar e trabalhar as mensagens selecionando o valor construtivo que, em nós, surtirá os efeitos de crescimento, no sentido da Paz.  

domingo, 25 de agosto de 2013

A voz e a palavra

Das manifestações humanas, uma exterioriza nosso conteúdo individual como nenhuma outra. O homem é a sua palavra. A boca fala do que cheio está o coração.

Pensamos livres, porém, após dizermos o domínio do que foi dito não nos pertence mais.

Uma história ilustra o tema. Filósofo espirituoso, quando indagado, certa feita, a propósito de qual o mais gostoso dos alimentos, respondeu ser a língua.

- E o pior? - voltou-se à carga.

- Língua, também - foi a segunda resposta.

E se justificou dizendo que a língua pode elevar ou rebaixar, sem apelação, destruindo ou construindo pessoas, vilas, estados, civilizações inteiras.

Jesus enfatizou nos seus ensinos a importância da palavra na afirmação clássica: Seja o teu falar sim, sim; não, não, para mostrar a necessidade ímpar de objetividade no que dizemos.
Jamais falar mal de quem quer que seja.

Este esboço ligeiro o fizemos quando organizávamos o que escrever sobre a capacidade que temos de transmitir aos outros o pensamento por intermédio da voz. Montamos frases, cadenciamos estruturas de idéias, sentimentos; acrescentamos conceitos de significados conhecidos. A bela harmonia da fala.

Quantas vezes deixamos escapar oportunidades preciosas de redirecionamento de vida, por não usarmos o termo mais conveniente.

Isto sem que falemos do aspecto mágico, da força que as palavras detêm; pois, no mundo invisível, as nossas manifestações plasmam valores permanentes. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus, do Evangelho de São João.

Possuímos idêntico poder provindo da Eternidade para agir pelo condão da voz. Tudo o que falamos não fica apenas conosco só ou com quem esteja na ocasião (as paredes têm olhos e os matos têm ouvidos) e ganha o espaço vibracional sem fim, rumo de registros permanentes.

As palavras são nossas produções mais sólidas, sementes de trevas ou luzes, de realizações presentes ou futuras.

Quisemos, desta maneira, esquadrinhar o assunto e apresentá-lo para exame. Caso nunca tenha se detido antes para avaliar, aqui fica esta sugestão. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Autoestima irreverente

Aparentemente simples, no entanto esse sentimento exige humildade. A gente vive um contexto atual de tanta competição; riquezas desfilando nas cidades e vilas em naves fulgurantes; pessoas bonitas apresentadas nas telas de tevê qual saídas de ateliês mágicos direto dos braços da deusa Primavera; cifras bilionárias divulgadas na mídia, pertencentes a donos privilegiados de países fartos; construções faraônicas espalhadas ao vento das notícias; bailes encantadores de casais acima do solo; o que precisa de relativa humildade a fim de adotar as limitações naturais dos pequenos seres que restamos ingratos.

Contudo é preciso acreditar que se possui o mínimo de glamour, alimentar pingos de felicidade na constância das fraquezas dos tempos bicudos.

Gostar do próprio cheiro, por exemplo, reclama paciência quando as prateleiras dos shoppings oferecem dezenas de marcas dos desodorantes em perfumaria inigualável que rebrilha nas estantes, à espera de mãos apressadas que queiram abafar o quanto antes aquele tradicional odor de bicho selvagem dos humanos.

Nisso, a velocidade das máquinas de chegar, na intenção de mudar o rumo dos acontecimentos individuais, mostram tantos meios de transformar a vida monótona em particulares sabores sofisticados, nas casas de pasto e seus cardápios maravilhosos.

Amar a si mesmo, sem ser egoísta; possuir autoestima e apreciar o si mesmo sem fugir das condições naturais da existência; aceitar as fragmentações do espaço nos infinitos pedaços de insatisfação que fomentam o lucro acelerado. Descobrir mistério no olhar de dentro do sonho e poder praticar ensinos que a história ensina, passo a passo, livre de hipocrisia galopante. Domar o desejo de reformar só a fisionomia qual quem deseja nova personalidade ao repintar a casa, e sofre por isso.

Gostar de si e praticar, no dia a dia, o prato cheio das imperfeições que ainda carrega, sem, entretanto, judiar o freguês, expondo-o ao ridículo de se achar feio, velho, carrancudo, rabugento, fedorento, desdentado, fora de circulação. Gostar o máximo de autenticidade da casca rara em que transportamos as esperanças de realizar a todo preço, independente das opiniões alheias, o projeto de futuro que somos.     

Aprimorar o território em que ora nos conduzimos ao Paraíso, estrada inesgotável das oportunidades, quando tudo lembra bem o filósofo grego Heráclito a dizer: Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio! A água sempre será outra, e o banhista nunca será igual. 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Algumas aspirações municipais

Ouvimos sempre falar em ideias que ativem o desenvolvimento de Crato, mais indústrias, solução definitiva do projeto do Canal, reforma ou transferência do Parque de Exposições, urbanização com a abertura de ruas e avenidas, construção de conjuntos habitacionais, inauguração do Centro de Convenções, contenção das encostas do Morro do Seminário, calçamento das artérias dos bairros, ampliação das redes de água e esgoto, ampliação do abastecimento de água com mais adutoras, exploração sistematizada do potencial turístico, disciplinamento da ocupação do espaço nas áreas do sopé da Serra, tudo visando meios inovadores de progresso e sustentabilidade da querida e heróica Princesa do Cariri, etc., etc.

Há, contudo, razões de sobra a que conservemos os equipamentos ora existentes, importantes peças de funcionamento da comunidade. Os centros de abastecimento, por exemplo, exigem ampliação e aprimoramento, com projetos que modernizem valiosas edificações, apesar de ultrapassadas nos moldes presentes, prédios antigos e precários.

Antes de quaisquer voos pretensiosos, devemos manter o que já conquistamos no correr do tempo, e que oferece condições ideais à utilização, quais os nossos museus e arquitetura histórica, a pedir manutenção e funcionamento constantes, porquanto representam face conceitual do município histórico e sua cultura respeitada, conquista de largas lutas.

Depois muitos meses, o acervo do Museu de Arte Vicente Leite demora vir a público, dotado que é de peças raras, doadas pela pintora cearense Sinhá Damora, coleção renomada e apreciável.
O Bairro do Seminário, dos mais populosos, aguarda um centro de abastecimento à altura das tantas necessidades que apresenta, o que virá em hora oportuna, retribuição da espera de décadas.

Numa das artérias principais do perímetro urbano, na Rua Santos Dumont, o Camelódromo se oferece a possibilidades de modernização a fim de oferecer conforto aos que nele trabalham ou dele fazem uso, contingente numerosos de fregueses.
Deste modo, elencamos algumas vias úteis de trabalhar o ansiado progresso de nosso Município, possuidor de uma área territorial das maiores do Estado, o que também propicia adaptações a culturas até então nunca utilizadas, e introdução de espécies animais ainda fora de cogitação pelos criadores.

Enquanto isso, estudos e pesquisas decerto oferecerão alternativas inúmeras ao sonhado futuro que aguardamos de incrementar a capacidade transformadora da nossa gente idealista e laboriosa.   

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Água deu, água levou

Dentre as coisas que minha mãe conta, do tempo quando aprendia com sua avó o jeito de viver, existem provérbios os quais, à medida em recorda, pede para que os anote e transmita aos outros, ou escreva, como faço nesta oportunidade.
São brocardos populares cheios da sabedoria decantada dos tempos; alguns leves, engraçados; outros, no entanto, dotados de extremo rigor, como quem alerta sobre a malandragem dos varões para com as mulheres, num aviso de causar dó aos irresponsáveis no trato com o sentimento alheio: Não confie em homem nem quando ele está dormindo. Os olhos estão fechados, mas as pestanas estão bulindo.

Nos cuidados financeiros necessários ao bem viver social, há observações por demais pertinentes com o dia de amanhã, tornada previdência útil a ordem de poupar a riqueza, sempre importante e válida: Cada qual faça por ter na bolsa quatro vinténs; no céu só entra que Deus quer, na Terra só vale quem tem. Ditado logo seguido de outro, também versado no mesmo tema financeiro: Economize para ter e quando tiver, economize se quiser.

Filosofia prática e boa de exercitar. A memória acesa de minha mãe, em sua carga de experiências, traz à boca palavras gravadas que servem de lição aos mais atentos. E recorda dizeres do uso de seu pai, Antônio Bezerra Monteiro, exímio tocador de banjo nos festejos de Crato e nos brejos do pé da Serra. Dele pediu que anotasse um dos chistes que gostava de dizer: Sou da lei da raposa, quando o Sol se põe, ainda faço muita coisa. Ao contrário de outros, da lei da cotia, a quem, quando o Sol se põe, acabou-se o dia.

Vez por outra, ao deparar situações ocasionais, me vem no pensamento esses aforismos tradicionais, soltos na cabeça e preenchendo vazios de reflexão, a servir de alternativa com o mínimo de senso. Nessas ocasiões, a voz de minha mãe parece ali perto dizer essas falas tiradas do baú das eras: Boa romaria faz quem na sua casa está em paz. De grão em grão a galinha enche o papo. Pelos santos se beijam os altares. Devagar se vai ao longe. Nem tudo o que reluz é ouro. Quem quer, vai; quem não quer manda. Deus ajuda quem cedo madruga.

Por vezes, as expressões matemáticas da vida surgem na forma de histórias pitorescas e moralistas, do tipo da que transcrevo aqui, nas palavras textuais que dela ouvi.

Um português veio ao Brasil e aqui montou uma vacaria, passando a vender o leite que produzia misturado metade de água. Algum tempo depois, retornava a Portugal, levando um macaquinho para mostrar ao povo de lá que não conhecia o animal. Entre seus pertences, no navio em que viajava, transportava um saco cheio das moedas, fruto do apurado com a venda do leite aguado. No decorrer da viagem, sem que notasse, o macaquinho deu de mão do saco e passou a jogar uma moeda no mar e devolver outra para o saco, até deixar só a metade das moedas. Água deu, água levou, assim pensou o homem, quando viu o que sobrou da traquinagem do macaco.


Assim, de modo espontâneo, a didática da verdade vem à tona pelo discurso informal das pessoas, restando, aos que escutam usufruir as leis naturais que a oralidade tão bem demonstra.

domingo, 18 de agosto de 2013

Obesidade infantil

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a obesidade infantil virou epidemia que preocupa o mundo inteiro. Os números são preocupantes e o assunto hoje ocupa lugar de problema de saúde pública dos mais graves, quando a adoção de produtos necessários à existência vem sendo tratada como fator de comércio, independentemente dos danos que acarreta à saúde humana. 

Crianças obesas, em largas estatísticas, tendem a desenvolver mais cedo males quais diabetes, afecções cardíacas e de má formação da estrutura óssea, além da perda de satisfação e normalidade social.

Num alerta importante, os pais representam papel estratégico na educação alimentar dos filhos, através da cultura que transmitem numa fase determinante. Contudo, na tendência de superproteger as crianças, adultos tendem a repassar deficiências e excedem os cuidados de fornecer alimentos sem, no entanto, zelar pela boa qualidade em quantidades suficientes à vida saudável. Com isso, invés dos bons efeitos dessa missão que lhes é entregue, ocasionam danos irreparáveis aos entes queridos, ação proveniente do desconhecimento na utilização correta dos meios da saúde.

Há civilizações bem melhores situadas no que tange à nutrição, conscientes de valorização das técnicas de agricultura orgânica e adaptações à industrialização que ora dominam o mercado da sobrevivência.

Ao lado disso, setores do entretenimento fomentam a tal inconsciência que escraviza as massas, processo químico de calamidade jamais imaginada e política secreta  das multinacionais de medicamentos e sementes que chegaram às raias da calamidade de causar espanto aos profetas alarmados da devastação da natureza.

Alimentação fornece vida, no laboratório original do equilíbrio dos elementos naturais. Isso quase ninguém que considerar valioso nos costumes atuais da alimentação. Nunca houve tamanha dependência a cuidados médicos, em face dos desmandos praticados à mesa pela predominância do açúcar, do sal, das massas brancas e gorduras em demasia, atitude mórbida que representa a decadência da consciência no paladar.


Diante das variadas crises que atravessa a Humanidade dos tempos presentes, providência urgente da educação nutricional significa, pois, tema prioritário dos líderes e governos.     

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Aquele animal sanguinário

Sem querer, assim meio instintivamente quando chegava à porta da padaria e lá está escrito animal proibido entrar, fiquei numa dúvida inesperada se o aviso me inclui  a mim que disseram animal, no entanto animal racional? Que diferença faz? Depois do que ontem aconteceu na capital do Egito, Cairo, e dispararam conta a multidão desarmada, matando 500 pessoas, também outros animais racionais, só que os do outro lado da balança, na banda em que há crise e pedem soluções coletiva para os dramas do país milenar ora sem jeito, sem solução.

Preocupar, me preocupou, quando lembrei os tantos massacres espalhados pelas folhas encarnadas da história afora, desde que gente é gente, meio gente, meio animal. Ou, às vezes, nessas horas, só animal, e dos irracionais resistentes, insistentes.

Aonde querem chegar os ditadores já sabem exaustivamente. Querem poder, querem sangue, querem medo nas galerias, na geral da sociedade que dominam a ferro e fogo. Querem impor medo, o motor febril da civilização. A tecnologia organizada representa isso, impor poder a todo preço, não importam os danos ocasionais da geopolítica torta do drama; impor o medo a todo o custo de traumas e danos acarretados ao cidadão, credulidades em figura de pessoas esperançosas de mudança. E o querer dos ditadores não tem limites nem escrúpulos, parecido com capricho de bicho dogmático em que a tal raça de animal virou, no decorrer das revoluções e levantes tratados no plasma quente das pessoas e do Planeta.

Nos comparativos das espécies, outros animais que matam visam a sobrevivência através da alimentação com os despojos. O ser humano, contudo, reflete a sede violenta da competição nos quadrantes das guerras e agressões egoístas, escombros por cima de escombros.

Bom, agora saber que a fórmula política de dominação precisa praticar justiça, honestidade, nesse mundo escuro quando as multidões resolveram ir longe, na ânsia da procura de saídas justas... A Síria recente, haja vista o conflito que generaliza a imbecilidade humana sobre aquele povo, que exercita a opressão das massas invés de utilizar o valor do ímpeto social e promover as transformações.

Longa noite de experiências indesejáveis nas leis da evolução um dia ensinará o caminho da paz a todos nós, alimento essa certeza certa dos tempos novos em elaboração no íntimo coração da nossa Natureza imortal.    

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Romance inacabado

Os dois há coisa de várias décadas, duas ou mais, namorados, andavam juntos nas horas vagas, cheiravam um o outro, se alisavam os cabelos, os braços, gostavam de permanecer na harmonia bem ali hora de nascer a Lua no céu, sentados na calçada pouco movimentada, olhos mais lá dentro do coração do que presos no satélite entre as nuvens eventuais, puro sentimento, digamos assim, o que norteava o gosto de ficar perto nas noitadas do interior.

Isso demorou eras de aproximação, só viam as famílias quando nas festas maiores. E aceitavam companhia durante poucos instantes inevitáveis, depois buscavam os calados ermos, naquela presença fatal das duas presenças persistentes.

Conversar, eles conversavam as partes indispensáveis dos diálogos: Quer água? Vou buscar. O café ficou pronto. Quer que feche a janela? Vou embora que já passou da hora...

Numa dessas ocasiões especiais da convivência, sentados no valho banco afastado, observavam crianças correndo, carros passando alvoroçados, cães em disparada à caça de gatos afoitos e rabugentos; daí, o silêncio parece que falou uma oitava acima do de comumente. Nisso relâmpago intruso cortou o firmamento daquele universo dos dois amantes.

Ela olhou lá dentro dos olhos dele e resolveu revelar o segredo que desde sempre lhe mexia as entranhas dos planejamentos, e falou sério:

- Sabino, quero confessar alguma que sacoleja no peito quase todo dia, e dessa vez apresentou vontade que posso controlar. Vou dizer, e logo, antes que me arrependa.

- Ó, diga, diga, Maria, que já estou até querendo saber do mistério tão especial. Diga, pois, minha querida.

- Sabino, pensei, pensei. Que é que você acha, vamos casar?! – baixinho expressou tudo que guardara nas gavetas da alma sem coragem de propor fazia tempo.

O namorado estarreceu, espantou, levantou os olhos ao horizonte da praça e demorou avaliando as ideias que surgiram na consequência daquilo. Ela, ao modo tímido, baixou a cabeça junto do colo apreensivo, de imaginação acelerada ao ritmo dos corações mais aflitos. Ouvi extasiada a resposta:

- Mas Maria, casar, casar... O povo anda muito ocupado consigo próprio. E será que nesse mundão tem quem queira casar com nóis?!          


- História que ouvi de Alemberg Quindins.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O leito de Procusto

Em cada texto, busco mostrar surpresas quanto ao esperado, ou pouco esperado, somando elementos do conto na crônica, ou da crônica no conto. Tanto é que não sei dizer bem qual gênero literário adoto, se isto ou aquilo (conto ou crônica), ou se os dois juntos, ou apenas gestos reunidos de falas de quem conta no que passar aos outros, enchendo papel, decerto. Uma busca de dizer o que, não sei, recontar coisas ouvidas, vividas, afã de registrar momentos que somem e  deixem ecos grudados nas paredes do pensamento.

Sob tais considerações, quero falar em Danastes, estalajadeiro de Elêusis, da mitologia grega, apelidado Procusto – o que significa o esticador.

Modelo torto de justiceiro do mundo antigo, nas terras em que viveu habitavam anões e gigantes, daí Procusto resolveu consertar as diferentes estaturas dos seus hóspedes a um modo esquisito e cruel.

Na intenção de padronizar a estatura das pessoas, construiu cama na altura dele próprio, de tamanho médio. Quem chegasse no seu estabelecimento, nela deveria dormir. Caso não coubesse na medida prevista, por ser de estatura superior, teria cortadas as pernas. Na alternativa inversa, de ser pequeno, ver-se-ia esticado até o tamanho do leito de Procusto.

Assim, pois, os viajantes desavisados passavam pela experiência horrível de adaptação física, submetidos ao instrumento construído pelo maníaco dono da estalagem, na lenda grega.

Semelhante prática guarda equivalência com o estilo de uma suposta justiça, praticada sobretudo nos regimes totalitários, ou através das ideologias fundamentalistas, religiosas ou políticas, espalhadas no decorrer da História.

Procusto exercitava, a jeito doentio, tipo de nivelamento social equivocado, com isso aplicando justiça particular, coagindo, no tempo e no espaço, a natureza das coisas. Porém suas façanhas mereceram resposta exemplar de Teseu, o famoso herói do Labirinto, que veio de submetê-lo a castigo equivalente, proporcional ao que praticara, transformado que foi de juiz em réu, para sua perdição.

Esse mito sugere algumas reflexões quanto ao cotidiano social dos que agem apenas movidos por questionamentos individuais, no arrepio do pleno direito das gentes ao contraditório, o que permite a ouvida de ambos os lados das versões de cada situação. 

De acordo com a mitologia, Procusto usava um mesmo leito para colocar deitadas suas vítimas, cortando ou espichando seus corpos conforme fossem maiores ou menores, em face da medida aleatória a elas imposta, homogeneizando-as à força de enquadramento pecaminoso e radical.

Quantos de nós querem sujeitar os semelhantes nas dimensões acanhadas de particulares medidas, a fim de prevenir concorrências e achatar diferenças inevitáveis, causa primeira de tanta beleza, no subsolo das almas deste mundo?! Procustos de plantão, por isso deseja-se para tudo uma convenção humilhante, invés dos valores infinitos da completa verdade.

domingo, 11 de agosto de 2013

Paulo Vanzolini

Nessas tevês de assinatura passa muita, muita sucata industrial, enchimento de linguiça de baixo nível, mas vez em quando aparece alguma coisa que surpreende pela qualidade boa. O documentário Um homem de moral, de Ricardo Dias, é desses que preenchem a tal possibilidade que existe. Película brasileira; enfoca a vida e a obra do médico, zoólogo e compositor Paulo Vanzolini.

Autor de 51 composições do cancioneiro popular no Brasil, guarda no repertório páginas inesquecíveis, quais Capoeira do ArnaldoRondaCuitelinho (Beija flor)Na boca da noiteJuízo finalLeilãoVolta por cimaQuando eu for, vou sem pena, dentre outras, gravadas por nomes expressivos da nossa música e sucessos em algumas gerações. A produção reuniu vários deles num espetáculo (Acerto de contas) para homenagear o autor em noite momentosa, registros que se distribuíram no decorrer das cenas de memórias e entrevistas.

O título do filme veio trazido da letra de Volta por cimaUm homem de moral não fica no chão, nem quer que mulher lhe venha dar a mão. Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.

Ao comentar a música, já na conclusão da película, Vanzolini avalia ser importante ao homem de moral se erguer da queda, mas o que mais conta é reconhecer a lição do que passou na experiência da queda.
A mim o filme trouxe de volta oportunidade, quando trabalhei na Universidade Regional do Cariri, na assessoria de Da. Violeta Arraes, e conheci pessoalmente o cientista, motivo de alguns assuntos conversados.

Eu ouvi dele considerações das pesquisas que realizara junto do ecossistema Cariri. Falou que dispunha de dois locais para estudar na ocasião, e um deles seria o distrito de Arajara, no município de Barbalha. Nortearia sua escolha em Arajara por conta de ser um palíndromo (que se lê tanto de frente quanto de trás) do nome do lugar.

Paulo Emílio Vanzolini nasceu em São Paulo em 25 de abril de 1924, mesmo canto onde morreu em 28 de abril de 2013. Aumentou de 1,2 mil para 230 mil os exemplares de répteis que existem no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.    

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Coragem de ousar

Nesse mundo cheio das receitas prontas, acomodação representa quase toda atitude que sujeita dificultar a caminhada de pessoas e grupos sociais. Ninguém foge da mediocridade quando espera apenas a concordância dos demais, daqueles por vezes agentes do atraso. Permanece onde esteja, que anda tudo bem, dizem as regras do mercado competidor. Enquanto isso, no silêncio das noites, os tais orientadores da conformação dominam as teias do desenvolvimento. Armam as arapucas só querendo pegar medíocres desavisados e faltos de vontade pessoal.

Lá adiante, os lerdos verão que ousar caracteriza a lei dos vitoriosos. Deixar de lado as cassandras e críticas desestimuladoras de quem não entra nem quer deixar que outros cheguem ao território das conquistas serve isso também às comunidades. Os caretas propagam ideologias de contenção dos impulsos inovadores e as multidões abrem mão do ouro das oportunidades. Usam, pois, a tal pouca iniciativa no proveito próprio. Falsos líderes, pobres almas gananciosas, cevadas nos interesses particulares.

Carece, no entanto, dar passos largos que pretendam conquistas preciosas. Os maiores nomes da política, das artes, da ciência, religião, ousaram como ninguém. Acreditaram, e a história andou com eles, a demonstrar, no turbilhão das vitórias de Alexandre Magno, Napoleão Bonaparte, Tomás Edison, Paulo de Tarso, Maomé, Cristóvão Colombo, de tantos e tantos, que ultrapassar limites do imponderável vive à disposição dos fortes em vencer as barreiras humanas, marcando sobremodo a expansão das civilizações pela face da Terra. O gosto de vencer existe e alimenta a alma dos povos desde que eles aqui chegaram nos pés dos primeiros conquistadores do impossível que antes reinava.

Populações necessitam da disposição de líderes ousados que queiram evoluir nas ações, que demonstrem virtudes positivas superiores, no trabalho honesto e nas marcas que deixam às gerações porvindouras. O futuro, ao seu modo, jamais perdoará os tímidos, mornos e entregues ao vício do desânimo e do medo crônico da novidade positiva, conquanto um Sol nascerá todos os dias sempre.

Oportunidades utilizadas com sabedoria, sim, recompensam o sentido de construir, fomentar meios de progresso e de transformar desafios nas chances melhores, procedimento dos que sabem do ânimo das respostas criadoras do tempo revertido nas bênçãos da promessa

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Esses pobres amantes

Desde as pompas preparatórias, danças lotavam de nobres os salões iluminados e deslizantes casais. Os dois, a lady e o príncipe, semelhavam pássaros alegres, reflexos dos olhares longos de damas e cavalheiros, imagem milenar das monarquias, saracoteando sedas no efusivo ambiente.

Puro sonho, festa de casamento que durou três dias. Ela chegara à real família pelo amor romântico tecido nas teias da candura. Nobre, linda, porém fruto de linhagem paralela onde a fidalguia concedera-lhe o sétimo céu de ser princesa no reino da Inglaterra.
Essas emocionadas fases, conquanto depois contraditórias, cobravam da família detalhes essenciais à preservação das condições iniciais. Diana Spencer existiu para o marido, seus dotes e filhos herdeiros. Repetidas vezes, quis se arremeter de encontro ao destino que lhe tirara da história plebéia, largado-a no paço. Entretanto reservara-se discreta no silêncio das alamedas, submissa ao cerimonial, das viagens de ofício e compromissos outros.

Fluíram longos dez, doze, quinze anos de regularidade protocolar.
Numa bela manhã de primavera, na discreta cavalariça, próxima de James Hewitt, oficial instrutor dos príncipes, viu o que lhe fez recordar os livros infantis, as histórias de encanto, no reservado coração adormecido.

Dispararam em si tontas emoções retidas pelo contrato nupcial das máscaras oficiais. O castelo hostil veio no seu encalço. Saber disso jamais poderia, visto fugir da lei e, estoica  abandonar as calandras escuras do preço que pactuara.

Nalgum impulso, as carnes rasgaram a tradição do sossego. Apaixonada, a princesa amou quanto necessário, quiçá pela primeira vez. Sentimentos ganharam corpos. Dois amantes pecaram no palácio imperial. Ela jogou ao solo muralhas carcomidas de todas as convenções. Charles também derivou noutras aventuras e o conto de fadas virou crônica galante. Os filhos, sempre eles, pagam o desamor dos pais.

Separada a união do século XX, feridas abertas aos tabloides sensacionalistas, repercutiram escândalo e dramas particulares, na roupa suja lavada nas praças. Viajou pelos países, a servir de emissária que tutela os exilados desse mundo torto. África. Ásia. América. 

Uma noite a todos de novo surpreende. Em 31 de agosto de 1997, em Paris, morre Diana junto de outro namorado, após baterem com o carro nas estruturas urbanas da capital francesa.


Cinco anos do desaparecimento, jornal inglês traz a notícia de que o ex-amante da princesa fixou preço para suas cartas de amor. O diário londrino News of the World, na edição de 15 de dezembro de 2002, disse que o oficial James Hewitt buscou vender pelo valor de 10 milhões de libras (US$ 15,6 milhões) a correspondência amorosa. Esta é a primeira vez que um membro da família real escreve a um soldado que está no front, disse Hewitt, que recebeu as cartas de Diana durante a Guerra do Golfo, ao servir no Kuwait. Isso num besto desvairado de quem acolheu o amor imperial e perdeu a licença possível que houvesse para os amantes verdadeiros nos tribunais da Eternidade.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

A Empresa Gráfica Ltda.

Na segunda metade dos anos 60, houve em Crato movimento editorial que receberia o apoio da Diocese por meio de uma gráfica que funcionava defronte ao Palácio do Bispo, na Rua Dom Quintino, centro da cidade. Equipada com máquinas de segunda mão adquiridas com recursos provenientes de católicos da Alemanha, a Empresa Gráfica Ltda. publicava semanalmente o jornal A Ação, da própria diocese, e editava livros e outros jornais, dentre eles alguns órgãos estudantis, a exemplo do jornal Vanguarda, pertencente aos alunos do Colégio São João Bosco, jovens amantes das letras adiante ligados às artes e literatura brasileiras, Tiago e Flamínio Araripe, Sávio Pinheiro, Assis de Souza Lima, José Esmeraldo Gonçalves, Josimar Lionel, José Flávio Vieira, esses os de que agora me vêm à lembrança.

Juntamente com Padre José Honor, Antônio Vicelmo, Armando Rafael, Pedro Antônio, Huberto Cabral, Orlando Moura, Huberto Tavares, Aglézio de Brito, Wilson Duarte, José Matos de Mesquita, Everardo Monteiro, eu passava horas e horas entre o jornal, que funcionava no mesmo prédio, e as oficinas da gráfica, às vezes auxiliando nos trabalhos da rotina, encadernação dos livros e dobragem dos jornais.
Presenciei a confecção dos livros Roza Guede, de José Hélder França (Dedé de Zeba); História do Cariri, em quatro volumes, de J. de Figueiredo Filho; Crato Jovem 1968, antologia de vários autores ligados ao jornal Vanguarda; e edições da revista Itaytera, do Instituto Cultural do Cariri; esses os quais chegam à praia da memória.

Éramos quase uma confraria, vivendo as movimentações da firma no seu dia a dia. Conquistáramos a amizade dos operários, como quem, por vezes, nos intervalos do trabalho, jogávamos bola numa quadra por trás das instalações. Alguns desses amigos os recordo:  Chiquinho (Francisco Ferreira Nobre), que diagramava A Ação e, mais adiante, por longo período foi funcionário da Tipografia do Cariri, em Crato, já desaparecido; Sebastião e Ferreira, os dois lonotipistas; Carmélio e Clem, responsáveis pelas fontes manuais e titulares da montagem; Seu Chico, agora proprietário de uma banca de livros usados na Praça Almirante Alexandrino, em Juazeiro do Norte, com quem revivo aquele período valioso.

Ao deixar Crato indo trabalhar na agência do Banco do Brasil de Brejo Santo, senti deveras o afastamento do universo da heróica e produtiva redação, meu primeiro trabalho e a escola das ideias novas que nutria à época o idealismo juvenil quando construi na esperança de um mundo justo e solidário.  

domingo, 4 de agosto de 2013

A consciência alimentar

Na civilização do lucro a qualquer preço existe uma máquina que funciona de carga toda em buscar e manter consumidores alienados. Aonde quer se vá, o instrumento desenfreado que denominaram marketing, ou a ciência do mercado, trabalha de fio a pavio.

Essa prática mercantil explode e rasga olhos em todo quadrante, por vezes não considerando os valores comezinhos da ética mais elementar.

Vender, vender, vender, eis a palavra de ordem, repetida à exaustão, ou até adoecer e eliminar os desavisados compradores compulsivos, aqueles mesmos cidadãos comuns em demanda dos seus inalienáveis direitos universais.

No que concerne aos produtos próprios do lazer, essa coisa passa e prejudica apenas o bolso e o tempo gasto no uso. Porém, quanto à alimentação essencial à vida, os danos crescem cada ano por dentro do organismo do freguês e consequências irreversíveis invadem o prazer e destroem o que seria bem-estar, a saúde indispensável, e o estrago se completa no desaparecimento do bem maior, a existência.

Fala-se de boca cheia dos gêneros de primeira necessidade, porque deles vem a sobrevivência, na capacidade da seleção do que precisar a fim de nutrir o corpo.
Escolher alimentos sadios, quais verduras sem agrotóxicos, lacticínios sem aditivos químicos, cereais integrais, açúcares, frutas da estação, e usá-los nas proporções ideais a se sentir nutrido, numa digestão certa, dar-se-á como hábitos fundamentais em um corpo sempre disponível e livre de doenças, prática médica pessoal de primeira hora, ausente dos atropelos da obesidade, mal crônico dos países ricos e consumistas, diabetes, doenças cardíacas, etc.

Portanto, inúmeros achaques físicos e psíquicos serão abafados logo no nascedouro quando adotados mínimos cuidados alimentares, simples e corretos, enquanto a ciência desenvolve novas orientações saneadoras, em vigilância aos excessos da fome comercial que avassala os meios de comunicação, em forma de publicidade enganadora.

A consciência alimentar, pois, minimiza muitas dores quando usado o método seletivo qual norma de conduta pessoal e maior sabedoria. Assim, o saber o que lhe faz bem na alimentação significa a base da medicina preventiva.