domingo, 21 de setembro de 2025

Rumores


À primeira vista, são as palavras que têm vida própria, sendo elas que se escrevem e não os autores. Estes, sim, meros joguetes nas suas mãos. Quer-se escutar no tempo as estampas, episódios sucessivos largados no trilho do passado, ou as aventuras cotidianas, os movimentos de pessoas e objetos espalhados pelo Chão. Mas dessa intenção resta quase nada, com isto. Ainda mais diante dos tipos mecânicos/eletrônicos desse mundo vão. Ficam fustigando a disposição de quem escreve a trazer lá de fora tratos desconhecidos, nascidos sei lá de onde. E viram isso, agrupamentos de letras e palavras, quiçá pensamentos soltos, ao comando de forças ignoradas, quis sejam. Comandos, tais trazidos dalgum lugar entre o espaço e o tempo, de mundos ignotos, então, do que querem narrar.

Porém que outro ser senão isto de transitar no meio das sílabas, gramáticas, atitudes doutros universos esquisitos, longe até da mera e comum compreensão. Fagulhas, fragmentos, repastos de raízes exóticas. Nisto, vêm as lembranças vagas dos lugares, das danças típicas, dos sussurros das noites distantes. E no esforço de continuar, nascem, doutras vezes, as ideias, formulações de juízos a propósito do que aconteceu sem dominar o impulso na escrita.

Nessas quebradas misteriosas, ruídos de vozes, latidos de cães, sons acelerados de automóveis, raros ritmos de uma orquestra perdida no escuro... Os personagens disso tudo, proponentes de aventuras errantes lugares, vidas que sejam, se tornam esse ´painel imenso de contos fantásticos deixados no eito dos dias pelas letras e palavras. Quantas legendas espalhadas na memória das gentes a bem dizer, retratos fieis do que existe preso no passado de tantos que se foram. Muitos deles, atores de dramas, comédias, circunstâncias, a silenciar em volta, e reaparecem sem contar, nas mãos do desconhecido. Falam por si só; chegam mesmo a gritar no juízo dos outros suas epopeias, talvez românticas, talvez dramáticas, no entanto feitas de laços e sonhos, um a um, milhares de pequenos pedaços dos seres que o somos, trânsitos na condição dos vários significados só depois atribuídos. Conquanto repliquem os instantes daqui, passados nas ruas, nos cantos das cidades, no campo, persistem a viver na alma deles e dos demais, num bloco consistente desses universos anônimos ora existentes no coração das pessoas dagora, fruto de palavras e conceitos.  

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