segunda-feira, 29 de junho de 2020

O senhor dos acontecimentos


A cada geração há que se rever conceitos e guardá-los no íntimo da consciência até quando, lá belo dia, resolvermos praticar desse aprendizado em nossas relações. Enquanto isto, a máquina da perfeição não para de ordenar o Universo, tudo sob a primorosa exatidão das matemáticas. Aflito com essa dificuldade em localizar donde veio tudo o que existe e desvendar o propósito das existências, seguem na trilha dos destinos os seres humanos.


Sabem que o acaso jamais explicaria o quanto das maravilhas que totalizam os fenômenos da mãe Natureza. Resultado: perguntas sucessivas e respostas insuficientes. Com isso, nos deparamos face a face com o Senhor, o mestre dos acontecimentos.

Este procedimento de largas interrogações leva, pois, ao sentido das ciências e das filosofias, sem, contudo, preencher em absoluto a sede que esbarra no infinito das histórias e lendas, crenças e superstições. Ninguém a dizer-se dono da Verdade, porquanto persistirá abismo profundo até a plena noção dEle, do autor de tudo que existe e existirá. 

Entretanto, eis um gênero de primeira necessidade, revelar a si mesmo nossa origem maior, a causa cáusica do que aqui estarmos diante, esmolés da sorte em noites escuras da alma. Uma epopeia de gênio viver com maestria, tarefa para os super-heróis e semideuses. E nisso, quantas e tantas gerações já pisaram no chão ao afã de ampliar os conhecimentos da Divindade e promover a harmonia do espaço comum e das criaturas humanas.

Conhecer Deus, aprimorar nosso espírito a fim de chegar à transcendência e modificar o instinto em sentimento, sendo amor o sentimento por excelência. 

É ele o senhor dos acontecimentos a que tantos aspiram conhecer. Amaciar os valores materiais e abrir, nas gerações, o portal da imortalidade através de uma consciência clara. Destarte, tal conquista significará o clímax da aventura humana em perene evolução a regressar ao aprisco celeste e conquistar a definitiva Felicidade eterna.

sábado, 27 de junho de 2020

Querer falar dos abismos da alma

Assim qual quem quer, por fina força, mudar de assunto e se apegar a outras histórias cotidianas lá de fora; no entanto essa vontade imensa de perscrutar as trilhas da consciência. Num jeito meio impetuoso de contrariar o pensamento e deixar que os sentimentos cuidem da condição do comboio. Saber das matas virgens dos céus interiores, avançar as fronteiras da inconformação e buscar justificativas da criatura humana persistir na ânsia de conhecer mais e desvendar o mistério da Eternidade que pulula nos refolhos desse universo adormecido da alma.

Nalguns momentos, feitos autores da própria existência, queremos desvendar os tais recônditos, e nos deparamos com a inexatidão das palavras e atitudes, quais infiéis a bater às portas do sagrado, porém de mãos profanas, meros aventureiros de novas conquistas do domínio das coisas vãs, atrozes produtores de altares de barro em meio das contradições do sentimento.

Noutros, contudo, haverá doce a calma de propósitos, enquanto as dores do parto do espírito confrontam as limitações deste Chão. Nessas horas, alquebrados aos valores da matéria, fingem sinceridade, dobram a cerviz sob o lenho das farpas deste mundo, e chegam menos estridentes. Discípulos da virtude, no entanto, mourejam debaixo de solidão estonteante. Restam, com isso, profetas de si mesmo noutro nível de compreensão, porquanto cruzaram as barreiras físicas e rasgam lá de dentro os véus da Verdade. A luz intensa desse sol reduz ao Nada o que antes significa motivo absoluto de viver.

Agora são músicas harmoniosas, perfeitas obras da criação artística. Abertas, pois, as comportas daquilo que vislumbrava, tontos de felicidade, adormecem nas profundezas do Infinito, espécie de esquecidos da alma antiga, agora transformados em senhores do desejo e luzes da realidade e do Amor puro. Na epopeia de revelar a Consciência, vê-se, então, integrados na claridade dos santos que sabem a Deus e chegam numa outra dimensão.

(Ilustração: Composição (1913), de Kandinsky.

Dentro das paredes deste lugar

Ainda que visse lá de fora pela janela, era tudo, no entanto, o mundo cinza permaneceria quando vieram os primeiros raios de sol rasgando nuvens que passeiam pelo céu. Fome de tudo. Um gesto interno de pura vontade no querer transformar emoções antigas em máquinas de superação da dor. Pois o impulso de continuar vivo investe contra a vidraça feito besouro teimoso de permanecer aqui mesmo que o fastio queira tomar conta do universo em volta. 

Ele sai batendo nos objetos espalhados pelo chão. Mochilas de antigas cavalgadas, rastros de campos de batalha e marcas de sangue espalhadas nas árvores secas da caatinga. Pedaços de saudades escorregando feitas formigas impacientes através das telas do horizonte. Fiapos de melodias. Nervos e engrenagens percorrendo o corpo inteiro, por se saber passageiro preso dentro da velha cápsula rumo do céu do infinito. Enquanto isso, as pessoas, que vêm e vão, acenam pela porta entreaberta nos cumprimentos agradáveis de parceiros da jornada em outros veículos iguais. Sabe que elas gostam dele. Respeitam sua história, sem com isso poderem sentir o tamanho da dor de existir que lhe fere o peito com a intensidade dos mil sóis.

Se as frestas todas se abrissem num único instante por certo dividiriam o passado interminável por milhões, daí querer responder a questão do porquê do que atravessa premido naquelas circunstâncias. Pisa quase automaticamente os passos que caminha. Solto pelo ar, voa integrado ao corpo do bólide que conduz, na missão da vida. Passageiro, comandante, deus. Olhos acesos, de algum ponto do espaço lhe contemplam o andamento da jornada. Deixaram de compor o quadro interior dos pensamentos, pois revelaram pouca razão de pensamento. Eles desaparecem do jeito que chegam, longe de mudar o nível de energia que alimenta os motores da nave.

Com isso, dias passam, os astros, os animais, as cores, as visões fantasmagóricas do destino, as amarguras, os sonhos. Passam, passam, passam pelas janelas, mexendo nos sentimentos. Pequenos filamentos de antigos módulos formam os restos das bodas que sumiram no escuro dos mares, fora, no céu imenso. Só permanece consigo os traços deste presente que unem com o presente seguinte, quais bolhas que nunca param de formar novos mistérios do foco de existir. Só isto. E sabe que há tantas conexões disponíveis todo tempo. Elas aparecem num dos lados da tela principal. 

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Senso de justiça

Esta história a escutei de um professor, que por sua vez havia lido num livro de contos que, segundo consta, seria acontecimento da vida real e ocorrera nas terras do Antigo Egito.

Um faraó promulgara leis rigorosas a fim de conduzir o seu reinado, das quais nunca abria mão sob qualquer hipótese; que fossem aplicadas fielmente longe de favoritismos ou lisonjas. Tristes daqueles que fossem colhidos nas malhas previstas aos delitos, e tudo transcorria ao sabor das tais exigências daquele faraó que governava com determinação.

No transcorrer dos acontecimentos da história, lá um dia quem fora flagrado num daqueles crimes que mereceriam punição exemplar: o príncipe herdeiro do trono, uma figura por demais proeminente da família real.

Sem maiores intervenções do poder do genitor, seu primogênito deparava-se face a face com o tribunal maior do império, sendo tratado aos moldes dos demais cidadãos. Nisso, peremptoriamente, ver-se-ia enquadrado nos códigos prescritos e condenado, sem qualquer alternativa contrária senão ao cumprimento das penalidades previstas.

Ao erro praticado coube a letra fria da lei, e dois olhos teriam de ser cegados no exercício da pena a ser praticada pelo rei exercer no exercício da função.

Toda a corte reunida em volta do soberano assistia comovida ao pronunciamento taxativo do pai infeliz:

- Sim, sem sombra de dúvidas, amanhã, no claro do dia, dois olhos serão cegados; um do princípio culpado e o outro um dos meus olhos.

Dia seguinte, de tal jeito aconteceu diante da multidão silenciosa reunida na praça pública a fim de presenciar o espetáculo dantesco, quando o nobre soberano e seu herdeiro submeter-se-iam à horrenda sentença, com isso preservando o respeito dos súditos e coerência em respeito à Lei que deve ser justa a todos.  

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Ouvir os tempos e sonhar acordado

Alimentar a certeza de que a Civilização dos primatas inteligentes parece querer refazer os rumos da caminhada após o susto por que passamos nestes dias de momentos incertos. Que haveríamos de regressar ao mistério ninguém dispõe de argumentos contrários. Desde as fogueiras e cavernas que imaginamos chegarem os deuses e nos levar consigo. Olhos fixos nas estrelas, catamos os limites do Chão que nossa gente ainda desconhece. 

Porém o movimento das estações indica possibilidades amplas de salvar a pele das gerações mediante a vinda desses emissários das profecias, que virão dotados de tecnologia suficiente a vencer poderosos impérios no concerto das nações. Que conhecem de tudo, inclusive da missão que lhes permitirá renovar a face deste mundo.

É bem do atual instante a dúvida atroz do que virá logo ali adiante. Que outra vez o susto causará especulações financeiras, varrendo o Planeta quais guerras sem quartel, porquanto sobrou quase nada do que era no passado. Perante a periculosidade todos tratam de render homenagens à religiosidade da fé e da esperança, conquanto silenciam os astutos, escondidos debaixo da lona do circo. Avisaram os arautos que há Justiça maior, pronta a entrar em ação de uma hora a outra. Quem tem olho fundo chore cedo, no dizer popular.

E o que mais pesa nos humanos representa ter de encarar a si próprio no decorrer das horas mortas. Enquanto a volta parecia lá longe, de repente se vê bem perto, na próxima esquina, episódios e seriados assustadores. Com isso onde ficarão a fama, a fortuna e o glamour, na casa do eu sozinho às portas da inexistência dos seres? A realidade que gritava nas escadarias do Infinito ora encontra presença dos que sonharam com a Salvação. Os dias de hoje constituem essa clareza de propósito dos destinos. Nas horas críticas comporta, pois, grandes as reflexões do pensamento.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Os tempos pandêmicos e a crise social

São tantas opiniões, tantos pontos de vista espalhados pelas ruínas da mídia, das redes sociais, dos isolamentos, enquanto segue adiante o animal que acha que pensa a espalhar notícias precárias mundo a fora. Séculos e milênios passaram até chegar neste ponto exato da angústia coletiva e trazer de volta a busca de equilibrar nos pratos as desigualdades atávicas, de fera contra fera, sonhos e pesadelos; pesadelos e sonhos.

Quanto aos diagnósticos dos estudiosos, leis determinantes regem o sistema social. Riqueza. Trabalho. Luta de classes. Domínio dos mais fortes sobre os menos aquinhoados da fortuna. Que a organização política seria solução do quanto de injustiça ou desequilíbrio existe por conta do domínio dessas maiorias que detém a força e acumulam bens.

Hoje, diante da ameaça à sobrevivência física dos habitantes da Terra, face o aparecimento de vírus letal que se espalha pelos continentes, agrava-se a crise da sociedade humana, sobremodo em países mais vulneráveis por serem de extrema riqueza ou de extrema pobreza. Vê-se retornar limitações aos direitos comuns até naqueles ditos hegemônicos. Aflição inesperada, o racismo retorna em níveis preocupantes, acompanhado de explosões dos grupos sob a bandeira de furiosa indignação, a desmascarar de vez o atraso dos povos.

Décadas de aparentes conquistas regressaram à estaca zero em lugares aparentemente organizados, bem situados em cenários globais. Quais varridos por vendaval de inconsciência crítica, os detentores do comando veem o quanto frágeis resultaram as instituições mantidas a peso de ouro pelo sistema econômico.

Numa espécie de guerra sem quartel, a massa humana sai às ruas na procura dos valores até então mantidos sob a ótica de administração pública de altos custos, transformada agora nos vilões a céu aberto, sem chances de provar o contrário. Eis fase da história que se assemelha aos idos da década de 60 do século passado, quando a juventude liderava luta insana de tudo ou nada, febris desertores dos paraísos artificiais da sociedade de consumo.

E depois de tudo ainda ser feliz neste globo tão pequeno.

Afirmações e movimentos no mar das interrogações

Mediante o rolar das esferas nos céus afora, gritos ecoam além do Infinito. Ninguém de sã consciência arriscará palpites do que voa feito pássaro gigantesco de asas monumentais. Isto de que falavam arautos do fim dos tempos, pitonisas e menestréis, do pouco, ou quase nada do que resta das certezas, grandezas perderam o glamour e fortes ventos varrem as praias velhas, numa espécie de revelação das causas e consequências do inútil.

Veja bem, insisto ser um otimista. O que sobrou na estrada servirá dalgum modo à construção dos tempos que chegam. Jamais fugiria de, portanto, aceitar a força de um Desconhecido maravilhoso, do Poder por excelência. Digam o nome que acharem ideal, de Quem criou e preserva o projeto inigualável da Natureza mãe. Por tais razões, buscar compreender o que está por trás dos fenômenos se tornar causa suficiente de insistir na descoberta da História.

Ao deparar situações extremas, o ser humano mergulha à procura das respostas, entre deslumbrado e ciente, no entanto alimentando o desejo de desvendar os enigmas, insistente e impávido, que sai por aí indagando, virando folhas secas, colhendo ossos e medindo distâncias. Ele, que escolheu lutar ainda que consigo próprio, visão e fantasma, nas mais frias madrugadas.

Tantos e tantos sábios imperam nos compêndios e vidas largadas às gerações, e nisso mudam o temperamento e as perguntas, mas parecem impossíveis que fossem alimentar conflitos e guerras, sem razões que representassem os sonhos imortais das gerações sacrificadas. 

Nessas horas, de olhos ressequidos pelas visões, vamos tanger a Civilização, dotados de motivos gloriosos sob a permissão dos séculos, com fé e esperança a todo momento, algo religioso, puro e simples. Nunca descrer, mesmo frente ao furor das tempestades, conquanto há um bem maior que rege com amor a Verdade da existência.

(Ilustração: Biblioteca na República Tcheca).

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Lá um dia

Certa feita participei de um curso de contar histórias (estórias, qual diziam antigamente). A professora, depois de toda a explanação do material didático, nos passou de tarefa a elaboração de uma peça que correspondesse ao que havíamos aprendido. Dentre as determinações rígidas exigia a necessidade inevitável de que as histórias devessem principiar com o clássico Era uma vez, pois dizia que assim, e só assim, começavam as narrativas que se prezam.

Era uma vez, pois, apesar de querer contestar frontalmente a mestra daquele curso, era uma vez uma humanidade vivendo num mundo suspenso no ar dos universos, espécie de globo em movimento constante, inevitavelmente exato, perfeito e submisso a leis inderrogáveis, sofisticadas e profundas. Decerto, sem sombra de dúvidas, ambos, humanidade e mundo, criados por Ser soberano e único. 

Cercados de extremas exatidões matemáticas, somos esses tais seres humanos trazidos aqui vindos de não sei ainda onde e guiados não sei ainda aonde. Envoltos nos mistérios e segredos de tudo enquanto, olhos postos nas estrelas ou na linha do horizonte, questionam a si e esgotam as inúmeras oportunidades que os levariam a revelar do enigma a origem, vagos sábios de mentes sombrias, que buscam no tempo o que só viverão na Eternidade. 

Esses autores de histórias impossíveis apenas habitam o solo que lhes colherá as sementes de novas gerações. Heróis anônimos das próprias lendas, narram fábulas de gigantes milenares e sofrem fantásticas visões ao sabor dos sonhos, escravos e senhoras das interrogações pessoais. Sabem que são meros alienígenas que retornarão aos céus e aguardam as naves que virão sob imensa tempestade. e que lhes sofrerão de saudade maior que o firmamento que a tudo envolve. 

Por isso, passageiros da agonia e do tempo, trocam de papéis cientes de guardar na alma o senso dessa revelação que virá, passados que sejam os dias e as horas, fiéis ledores da sorte nas portas do Infinito. Os profetas e os santos, no entanto, já avisaram que nada estará de todo perdido para sempre, disso eles têm certeza.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

A hora da Razão

Dentro das minhas lembranças de criança, lá um dia, por volta dos quatro anos de idade, fui com minha mãe visitar amiga sua que morava na Rua São Francisco, próximo à igreja do santo, no Bairro Pinto Madeira, em Crato. Chegáramos ao bairro alguns meses depois de virmos de Lavras da Mangabeira. Naquela tarde, sei bem não, estávamos na pequena residência, nessa visita, onde demoraríamos só pouco tempo, mas o suficiente a que eu presenciasse passar cena que marcou momentos posteriores. Viria passar em frente à casa um enterro, féretro de algum morador daquela área. Observador contumaz, notei o movimento daquelas pessoas a transportar a urna mortuário e quis saber do que aquilo se tratava.

Até então, vivendo na fazenda dos meus avós, nunca soubera detalhes do jeito de devolver a matéria ao chão; noutras palavras, desconhecia o suplemento de viver que espera a todos logo ali no final da curva da existência. Aliás, sabia que os bichos morrem, lógico, pois via morrerem os carneiros, os animais de quintal, frangos, galinhas, que eram levados à força ao repasto das pessoas. No entanto ignorava por completo aonde terminavam os humanos, revelação vinda naquela tarde fria, em Crato. 

Primeiro contato direto com o derradeiro ato deste plano, isso mexeu nas minhas imaginações. É tanto que ainda agora lembro e conto. Causou espécie ao juízo do menino que, talvez, desconfiasse tivesse vindo aqui e permanecer feito Ahasverus, personagem de Machado de Assis, que não morreria jamais. Desde então pretendo me acostumar com a ideia da morte. Nos conventos, segundo consta das lendas, os religiosos adotavam usar crâneo envelhecido sobre os livros em que meditavam, isso na intenção de preservar em seus pensamento a imagem do que virá adiante, ao baixar o pano do espetáculo.

Muitos fazem de conta que não é consigo o drama dessa página conclusiva, e insistem nas paixões desenfreadas, nos distúrbios e nas festas. Quantas opiniões a respeito, do que poucos reconhecem inevitável. Existe até frase atribuída a um sábio que diz: Viva como se nunca fosse morrer, e morra como se não tivesse aqui vivido. Enquanto eu sigo buscando compreender melhor esse assunto dogmático e certo.