domingo, 29 de março de 2015

Um passeio de trem

Semear árvores e observar pássaros no céu azul das tardes invernais; contemplar o Sol e seus movimentos lineares, multicores, algo semelhante a sobreviver da ausência absoluta das certezas do início, do meio e do fim que ora acontece; permitir herança digna da existência de tanta beleza, no entanto livro aberto às crateras enormes do amanhã. Querer preservar ao menos dentro do coração esse legado, e remetê-lo às novas gerações. Imaginar o sonho de regressar aqui e poder assistir aos outros filmes além das falcatruas epidêmicas que oferecem os noticiários da noite. Isto que possa mostrar outra face ao neto, ao bisneto, longe de velhas artimanhas dos lobos vorazes que espreitam os viajantes nas encruzilhadas. Indicar luzes ao caminho, vendo mexer sob a pele o que chamega feito culpa em comichão. Abrir os olhos e fitar o horizonte, na busca forte de encontrar o alvo perfeito a quanta vida em forma de mistério, na alegria dos sinais, dos amigos e dos amores.

Bom, e diante disso tudo que a existência apresente forma de sonhos, no desejo imenso da vitória sobre as ilusões que ganham corpo e reclamam seriedade, no pulsar dos dias. Jamais pretender apenas manchar inutilmente o vestido proceloso em que se transformaram os dramas cotidianos. Reclamar do sentimento maior confiança junto das sombras desta noite ainda que escura; poder oferecer, no altar sentimentos, algo que demonstre o quanto de luta a fim de vencer o desânimo e o desespero vale a pena. Quer mais do que justificar o injustificável e desparecer lá no íntimo do tempo, sem deixar nem vestígios de que existiram nuvens, ou foram só e apenas miragens de segredo inconfessável. Isso que pergunta aonde descerão os passageiros que enchem  o comboio apressado, todos perto de vizinhos mudos... Quanto durará, pois, o enigma dessa estrada longa, infinitesimal no entanto, linheira, talvez cheia de curvas fechadas, em cima do mesmo trilho brilhante.

Abra a janela do vagão e respire com intensidade o ar gostoso da verdejante campina. Lá à frente um pastor tange ovelhas a cruzar o destino metálico das paralelas ao encontro no Infinito sobre as quais desliza preguiçosa a composição. Transcorrem as casas de crianças a brincar no terreiro; mães a estender lençóis coloridos nos varais em distantes; bichos vários espalhados no momento, que observam o sequenciado das luzes do nascente. Meras paisagens de finalidade desconhecida ainda, contudo portas abertas de outras dimensões. E olhar num gesto verdadeiro a imensidão de acalmar a vida a revirar pelas entranhas... Vontade soberana de transformação que lhe sacode o corpo inteiro, de tocar em frente o sistema alguns meses ou milênios afora? – voz persiste no trabalho com as palavras acesas nesse chão das almas e outras compreensões.

sábado, 28 de março de 2015

A ciência do pensamento

Conhecer potencialidades do que dispomos no sentido de trabalhar o crescimento pessoal, eis o capital da felicidade. A função do pensamento conta bem no cômputo dessas potencialidades, e por vezes ignoramos quase que por completo a força que ele possui enquanto realidade pulando à nossa frente qual cavalo já selado aguardado só o impulso inicial do cavaleiro desatento. Máquina perfeita, pensar oferece o dispositivo único da transformação. Aqui, bem aqui por perto, quando deixamos de lhe administrar, ele nos arrasta aos seus caprichos, por conta da inabilidade daqueles deveria lhe domar. 


O pensamento apresenta, pois, as duas lateralidades comuns de tudo que existe neste chão, a negativo e a positivo. Negativa, nas interferências externas vindas ao belo prazer dos acontecimentos, tais que chamam destino. Positiva, nosso empenho individual de autenticidade, fruto da concentração das forças vivas encaminhadas aos objetivos que se determinar pelo trabalho interior de personalidade e caráter. 

No livro bíblico de Filipenses (4:8) se lê: Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas. Estas palavras são pura matemática espiritual daquilo que falávamos de concentrar a gana dos nossos valores na intenção direta de produzir a energia positiva de realização.

Grosso modo desse estilo barroco de contar o que vem no íntimo, trocamos em miúdos a qualidade psicológica de que usufruímos, às vezes até sem saber utilizar, aspecto natural da pessoa humana que significa o de que precisamos na construção dos quadros favoráveis da existência. Nomes representam, por isso, valores, setas no caminho do Infinito, assinalando passos dos que pretendem obter sucesso, tudo aparentemente tão longo, porém, ao mesmo tempo, tão perto, que pede apenas que estendamos as nossas mãos e abrace com vontade a libertação no tempo de viver. 

sexta-feira, 27 de março de 2015

Estrangeiros de si

Quer saber mais dos reais propósitos, finalidade última de andar este chão de tantos mortos, em que pisar faceiro representa o desfile das gerações. Numas dessas tardes de sábado quando acontecidos seguem apesar dos trâmites equivocados e suas rotinas, imensos vazios parecem tomar conta das circunstâncias, na lembrança vaga da luz na consciência a procurar o sentido.

Contudo a quem escreve cabe o solitário dever das respostas, invés de perguntar; autor presente, leitor ausente... Leitor presente, autor ausente.

Nisso, algumas vezes, questões podem vir nos aspectos comuns, meandros e impressões onde viver significa reunir experiência.

Por exemplo, quando padecem as dores atrozes de existir, criaturas se submetem ao crivo de penas atrozes, tragédias aos olhos da rua, das residências, dos hospitais, manicômios, presídios, becos escuros, vilas descalças. Período em que outros, no tempo ao lado, riem e festejam turnos ilusórios, tronos atapetados, parques alegres, salas de espetáculo, estádios, mostras faraônicas do estado sólido da matéria, puros adiamentos.

Desta forma, entre lágrimas e sorrisos, há distância infinita, não superior, no entanto, a milímetros estreitos que dividem dois lados de uma mesma moeda.

Aquilo de lembrar vizinhos abandonados dos amantes fogosos, flagrante impõe na contradição à roleta da sorte, na escola do mundo. 

E cresce o enigma de viver diante da lei da compensação: Alimentar sonhos de felicidade perene em meio às guerras e crises, valores da busca incessante do ser. Noutras palavras, equilibrar os pratos da balança da fortuna requer mínimo de senso de justiça, princípio de não fazer ao outro aquilo que não quer a si, nas palavras de Jesus.

Afirmações exigem, pois, esforço de transmitir intenções claras, que representa a luta de encontrar o Si próprio, no intuito de superar a trajetória impermanente de morar um corpo de carne até chegar a espírito puro, sublime instante da revelação final da essência.

Todos, sem exceção, transitam nessa faixa de personalidade com destino traçado de chegar a ser eterno, percurso das vidas reencarnadas. Ninguém vem aqui só a passeio. Nas horas amargas dos conflitos, afloram possibilidades do infinito, encontro com o Eu verdadeiro, na morte da vida temporal e no renascimento para a Vida.

Este parto cósmico requer conhecimento e renúncia, qual largar a Terra rumo às estrelas, invés de peregrino. Nessa hora de chegar à casa do Pai celestial, fruto dos degraus da natureza, calados, romperão o peito os solitários humanos, nascidos no âmago do coração. Assim, primeiros raios do sol da manhã invadem a alma com o brilho das bênçãos, cessando dores lancinantes, malhas do aço resistente da esperança, em atitude certeira do amor de Deus em nós.  

quinta-feira, 26 de março de 2015

Comentário ao conto A dor do poeta, de Geraldo Urano

Eis um novo conto de Geraldo Urano, autor surpreendente do mundo Cariri. Sensibilidade. Sonho. Realidade. As histórias rebrilhantes de naves, cometas, estrelas, mistério, besta fera; letras de música, sonhos e poesia. E muito da inavaliável psicologia do esplendoroso campo dos sonhos. Eis aqui um pouco do testemunho de ser querido da nossa geração expedicionária, personagem histórico das estradas do impossível.

Mas para ele o que importava era o que pensava a sociedade, e a sociedade é cruel. Bom ler Geraldo Urano de todas as fases. Um trilho profano-sagrado que tange rebanhos incólumes ao universo dos sinos tibetanos, nova-iorquinos, venezuelanos, japoneses, transcendentais... Onde a selva de aço encontra o sideral... As damas, os valetes; e tudo nasce vivo da imaginação do texto pródigo do autor.  

...

No próximo domingo, 29 de março de 2015, às 19h30, no Instituto Cultural do Cariri, em Crato, haverá lançamento do livro O ferrolho do abismo, Poesias completas de Geraldo Urano, escritor caririense da geração de 1968, que marcou a história das artes de nossa Região.

Fruto do esforço conjunto de J. Flávio Vieira, Lídia Batista (irmã do autor) e outros amigos mais próximos a ele, o livro reúne em um só lugar toda a obra fértil e surpreendente de Geraldo, providência esta de rara importância e essencial às letras do Cariri, justa e oportuna, preito de reconhecimento a quem deu de si o máximo que as forças físicas lhe permitiram, na firme disposição de expressar a emoção de tempos conturbados e difíceis de manifestação dos reais sentimentos da sua geração de espírito libertária e criativo.

A produção de Geraldo Urano recebe, pois, formato abrangente, reunião de poemas, crônicas, contos, desenhos, em resgate fiel daquilo que tão amorosamente considerou, nutriu de palavras e pensamentos, nas larvas incandescentes da juventude que representa.

quarta-feira, 25 de março de 2015

As tantas camadas de mim

Falar de si pesa, por isso deixa uma margem às longas falas sobre ética, pois não existe ninguém que mais precise de correção do que quem se conhece melhor que é o si mesmo. Avançar passo a passo nesses escombros fumacentos do eu em profusão, largos retalhos abandonados de esquinas sujas onde a luz só de longe não dobrou, onde marcas profundas insistem ficar feitas nódoas que alimentaram o próprio ego do desgosto das derrotas antigas, e ali permanecem olhando indiferentes das janelas dos prostíbulos, nas ações mal costuradas. São remorsos, mágoas, recalques, frustrações, aquelas histórias grosserias que acumularam no lago da gente, de que inexistiam meios de fugir, pela ignorância de permanecer no erro, testemunhas que fomos de acusação do si no processo da consciência...

Bom, diante disso, no entanto, há de haver meios de reconstituir o quadro dramático das luas que transcorreram na caminhada, recursos nascidos da esperança de construir o itinerário através de sentimentos essenciais dos espíritos em crescimento. Escapar das lamas do inferno. Dar um basta naquilo que foi sem perder a condição de continuar sendo pelos infinitos da galáxia. Recorrer aos contadores de conchas mágicas nas praias siderais. Prever um novo destino aos vilões que somos. Alimentar sonhos de percurso atual e completar o caminho antes do Paraíso desaparecer da imaginação, da reconquista. 

Que houve um tempo de inocência jamais esconderia, porquanto a maldade surgiu depois quando a preguiça de fazer o bem mexeu nas entranhas dos elementos humanos, nas horas do prazer a quaisquer preços ou limites, do apetite voraz degradante da ambição tomar conta do eu... E aqueles entes vindos ainda alegres, felizes, ingênuos, quais exilados de festas, e passaram a percorrer vistas grossas pelo outro lado da muralha, olhos presos das sombras. Ali perdiam a força original da existência, caiam do equilíbrio e jogavam fora a leveza da vontade pura em favor das facilidades, esquecidos do bem maior de todos. 

Hoje sigo assim tal zumbi à busca da luz do Sol das almas, que clareia as alvoradas de paz e verdade, bem diferente das vendidas ilusões, sangue provável da vitória na persistência. 

terça-feira, 24 de março de 2015

Tipos populares de Crato II

Lembramos, ainda, de outros personagens de Crato noutros tempos: Célio Silva, boêmio integral, à maneira carioca dos inícios do rádio, no Brasil. Voz afinada, timbre da de Francisco Alves, cantava deste o repertório, se acompanhando ao violão, pelas quebradas da cidade, centro e periferia. Chegou a gravar um disco e nunca se afastou dos programas radiofônicos, nas emissoras locais, por volta dos anos 60. Expedito Magro, seu outro nome, alegre, comunicativo, cabelo liso e penteado a Chico Alves, vitimou-se cedo no uso exacerbado de bebidas alcoólicas.

Noventa, o chapeado, outro tipo indelével desse passado, empurrando uma carroça para transporte de cargas, sabia conversar com desenvoltura a propósito dos mais diversos temas, em tiradas filosóficas de humor que desafiavam o rotineiro dos dias. Morava no bairro do Seminário, onde, certa feita, fomos vê-lo. Atravessava uma fase de muita bebida, tendo, há pouco, voltado à faina do carreto após sofrer sério acidente (atropelamento e fratura numa das pernas). Exímio artista da palavra falada, distribuía satisfação ao povo.

Outra lembrança, Ramiro, que marcou momentos agradáveis, primeiro entre padres e internos do Seminário São José, com verve engraçada; enfatizava seu aspecto feio em histórias as mais divertidas e apreciadas, ainda agora merecedoras de registro. (Certa ocasião, voltando tarde da noite de festa em Juazeiro, fretou um carro de praça. No escuro completo daquele tempo, mandou parar na frente do cemitério, onde morava e trabalhava de coveiro, para ir buscar o dinheiro da corrida. Depois de longa demora, e acordando com longas buzinadas os moradores próximos, o motorista viu-se surpreendido com a informação de onde se achava, ao que exclamou: - Bem logo vi; com uma cara daquelas não podia ser deste mundo!).

Desapareceu nos fins da década de 70.

Dizíamos, a princípio, que as comunidades dispõem do seu panteão de figuras marcantes, nas várias épocas. Músicos, poetas, loucos. Artesãos, vadios, mendigos, contadores de histórias, profetas impacientes, hóspedes das sarjetas, marquises e bancos de praças, cantadores, andarilhos, anônimos da extra oficialidade, os heróis populares.

Infinidade de outros abordaríamos, por dever de justiça: Pedro Vinte e Um. Vanda. Doca. Anduiá. Expedita do Bode. Só Deus. Canena. Pereira Belém. Porrinha. Capela. Sorriso. Chupetinha. Antônio Cornim. Polícia. Cadeado. Atletas. Prostitutas. Aleijados. Jogadores de sinuca. De bozó. Camelôs. Pais e mães de família pobres e autênticos em sua aventura de viver a incerteza. Contradições ambulantes de um mundo errado, egocêntrico. Os gênios do vulgo, farrapos sociais, ferrões nas consciências culpadas que lhes passaram para trás, na vida social.

A eles, aos ídolos de nossa infância, nas calçadas, gafieiras, estações, esta homenagem, mesmo que nunca venham a nos incluir em suas conversas animadas, bondosas, sensíveis ao sofrimento alheio, nas contradições desconhecidas das massas, nos trechos biográficos dos becos solitários, que, de tão comum, desatinam e se desatinam.

domingo, 22 de março de 2015

Urgência de paz

Qual diz a música, nada muda se você não mudar. Mudar o jeito de administrar a vida, olhar para dentro de si, mergulhar nos lugares profundos da verdade que cabe a nós descobrir com ânimo e atitude. Querer ser sincero consigo e com os demais. Todos nós temos nossas carências, limitações, melancolias em horas mortas, porém é levantar a cabeça. Olhar o mundo com outros olhos. Sinta que há um Poder maior que nós que nos guia ao Infinito. Segurar a disposição de bem viver. Trabalhar. É uma luta mesmo, contra o inimigo invisível do desgosto. Consiga acreditar em algo que não seja só o imediato, as frustrações do dia a dia. Ergue a si dos próprios pés. Carinho não se acha a toda esquina, mas existe em algum lugar e esse lugar é dentro da gente. Satisfação, os seus sonhos de paz em se conhecer com vontade e disposição de refletir um mundo novo a partir do seu sentimento, seu coração. Todo tempo é dia disso, de reviver e viver com intensidade. Ter fé, consciência de que ser pequeno precisa que olhemos mais algo, no sentido de uma vida plena de luz e amor. Tudo conspira em favor dos que amam de verdade, independente das insatisfações da maioria. Somos um ser completo, precisa só que aceitemos isto com a coragem necessária. A existência que tanto desejamos já existe quando nascemos e crescemos. O mais é amizade e gosto de usufruir a história da pessoa e do Universo dentro do mais íntimo de nós mesmos. É hoje o dia dessa transformação urgente que tanto comentamos e tantos reclamam. Estirar as mãos aos lugares santos da compreensão individual, morada plena de perfeição a despertar no viver das criaturas que abrem a consciência ao Sol da clareza. Aportemos nesse lugar seguro de maravilhas e promessas, leveza e aspiração de Felicidade. Estude com carinho a vida e o tempo. Descubra um jeito de ser feliz ainda hoje.

O Dia da Água

Nos dias 22 de março, a humanidade resolveu dedicar 24 horas a um dos bens mais essenciais do Planeta. Inquestionável a importância da água nas nossas vidas. Para sobreviver, o ser humano não consegue fazê-lo sem o líquido tão precioso.

Somos seus dependentes diretos. Dela carecemos com toda a sua importância, e cuidamos pouco (quase nada) dos recursos hídricos. Abusamos. Desperdiçamos. Poluímos, indiferentes e à toa. Por causa disso, a Organização das Nações Unidas escolheu uma data para lhe homenagear. A família humana carece levar isso a sério durante cada minuto, cada hora. Haverá mil maneiras de melhorar o tratamento que damos à fonte viva da existência na Terra.

Preservar mananciais; regular o uso das fontes, assunto por demais crucial. Assegurar fornecimento próprio às populações sobretudo menos aquinhoadas (748 milhões não têm água potável). Estabelecer regras claras e praticá-las dentro dos prazos urgentes da conservação dos recursos naturais; também das águas salgadas, nos oceanos e mares (Esgotos em rio é a mais perversa forma do desperdício).

Em relatório sobre o desenvolvimento mundial da água, a Organização das Nações Unidas manifestou apreensão quanto necessidades e abastecimento, e afirma que os mananciais estão secando de modo acelerado, em face do crescimento populacional, da poluição e do aquecimento global, o que reduzirá, nos próximos 20 anos) em um terço a quantidade de água disponível por pessoa.

De acordo com o documento, a quantidade de água per capita vem caindo desde 1970. As reservas de água estão diminuindo, enquanto a demanda cresce de forma dramática, em um ritmo insustentável, considerou Koichiro Matsuura, diretor da Unesco.

Do acervo que cobre 70% da superfície do globo, 97,5% significam água salgada. Dos 2,5% de água doce restantes, quase dois terços estão congelados nos polos. Dessa água doce disponível, 70% se usam na agricultura, o que, em face da ineficiência dos sistemas, ênfase aos países em desenvolvimento, 60% evaporam ou são devolvidos sem utilização. 50% da água potável esvaem por vazamentos e sistemas ilegais, enquanto 90% dos esgotos e 70% do lixo industrial retornam às águas sem prévio tratamento.

Enquanto poderosos veem só o lucro imediato, algo clama atitude consciente na utilização dos meios oferecidos pela Natureza mãe.

sábado, 21 de março de 2015

Tipos populares de Crato I

As comunidades perenizam, em sua paisagem humana, perfis consagrados de almas exclusivas, movendo o calendário das décadas, tais marcos que servem de referência histórica, sacrários de lembranças e costumes.

Crato não fugiu à regra e testemunhos podem ser recolhidos, pois cada depoimento somado concederá uma visão da memória, comparável às fotografias diferentes de um mesmo sítio.

Nesse sentido, aqui trazemos uma contribuição, enfocando os principais tipos, por nós conhecidos, que se destacaram em feiras, bares, cafés, mercados e praças, no cotidiano da cidade, dos anos 50 até quase agora. Admitidas lacunas, no entanto sendo bom que outros contribuam, preenchendo os claros assinalados.

Muitos talvez se recordem de dois pedintes bem característicos: Pedro Cabeção e Moipen. Pedro fazia ponto na Rua Miguel Limaverde, onde antes ficava a saída do Cine Cassino; hidrocéfalo sempre feliz, estalava a língua no encontro do céu da boca, ocasionando ruído para chamar a atenção dos passantes, com quem trocava chistes e de quem merecia as migalhas da sobrevivência. Simpático por profissão, conseguiu se fazer querido de muitos, sobretudo das crianças.

Moipen (Júlio Grego era o outro nome dele), por sua vez, seguia, de casa em casa, chapéu de palha de aba larga sobre a testa, a lhe encobrir os olhos, girando na ponta do indicador uma bandeja de flandre desbotada, qual fosse um disco, adaptando o som da palavra esmola ao seu falar diferente (moi... moi... moi...) (moipen... moipen... moipen...), para significar uma esmola para Nossa Senhora da Penha.

Outra figura peculiar das ruas cratenses - Tendô, que não mais soubemos dele; representava outra época dessa história natural da cidade, nos fins da década de 40, começo dos anos 50. 

Troncudo, baixo na estatura, cinto largo de muitos adereços, fivelas variadas, e cravejado de tudo quanto era ilhós, e um chapéu de couro e barbicacho que não destoavam do exagero geral; também muito querido da população, prestativo e eficiente, vivia de recordar as proezas de seu antigo patrão, Dr. José Gesteira, a quem servira em sua casa de saúde.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Quando o amor acontece

Isso de contar tristeza nas melodias, decepções amorosas, desgostos, frustrações, já chega. É só acreditar no sonho e mergulhar de corpo inteiro na luz das possibilidades infinitas. Imaginar uma estação que toque o canto dos pássaros de cada manhã o tempo todo. Abrir as cortinas da imaginação promissora e acordar do pesadelo das noites escuras. Ver de olhos claros a beleza do dia. O esplendor deslumbrante das serras emolduradas de sol, as matas verdes floridas de sentimentos bons. Margens cheias de rios limpos e suaves. Portas abertas de novidades e pensamentos leves que enalteçam construções de mundos ricos de solidariedade e harmonia. 


Portanto cabe aos místicos de hoje em dia saber de quando haverá paz nos corações e o exercício da real democracia nos poderes em voga, desejo incontido de séculos a revivescer nas pessoas previsões dos maiores profetas, da iluminação dos poetas e filósofos nos ideais, as músicas de jeito romântico nos territórios infinitos do provável.  

O reino que ainda não é deste mundo, de que fala Jesus, habitará com isso as consciências. Máquinas de aspirações populares, elas produzirão o alimento de cada dia no trabalho, na família, no senso da esperança que prevalecerá nesse heroísmo honeste de tantos a mover o Universo. Eles, os guerreiros das madrugadas frias na busca do pão, que entregam o melhor de si à sobrevivência dos entes amados. Raspam as lágrimas do esforço e constroem alternativas, apesar do critério deficiente das escolhas políticas do passado remeto. Saem de casa dispostos a rever o plano da existência e traduzem na fé o gosto da felicidade no dever cumprido com alegria.

Chegará, sim, no entanto, esse momento de revelar a certeza em tudo que há, interpretação inevitável do enigma da esfinge que abrirá o peito à justiça mais justa, fará das tripas o coração, descobrirá o mistério vivo da religião no seio do espírito e conhecerá o quanto de riqueza se perpetuará nas virtudes. 

quinta-feira, 19 de março de 2015

Flagrantes de memória II

Do espaço nebuloso das lembranças, consigo reconstituir a primeira imagem que gravei do Seminário São José, vista de baixo, da Rua José de Alencar, entre as ruas Pedro II e José Carvalho, trecho onde primeiro morei em Crato quando chegara de Lavras da Mangabeira, em l953, ano do Centenário da Cidade.

O tradicional estabelecimento católico lá em cima se afigurava qual prédio sombrio, enegrecido pelas marcas do tempo escorrido na pintura a cal amarelecida, com manchas de lodo pela parede fronteira, meio encoberto por cortina de eucaliptos depois cortados. Destas árvores, quais frutos insólitos, balançavam ao vento urubus friorentos, vindos das imediações onde ficava o antigo matadouro público, lá nas bandas do Alto da Independência. 

Outro aspecto nítido, que não me esqueço desse Crato de algumas décadas, o footing da Praça Siqueira Campos, desfile das pessoas a circular o passeio onde afluía surpreendente multidão aos sábados e domingos à noite.

Uma expectativa quase incontida perpassava a semana inteira, sobretudo de rapazes e moças. Tão logo se punha o Sol, movimento inusitado ativava a população. De todos os lados, nos melhores trajes, jovens e adultos preenchiam as ruas do centro.

O logradouro não demorava a fervilhar de gente, qual numa quermesse mágica. Luzes fortes, jardins bem cuidados, dezenas de carros parados em volta, o Cine Cassino movimentado e o som da Amplificadora Cratense, a envolver dramas e comédias, desencontros e encontros, numa algazarra multiforme.

As mocinhas, de braços dados, principiavam a girar; grupos de três, quatro, ou até mais, num animado carrossel, enquanto os homens, atentos e conversadores, se postavam em torno, nas laterais do circuito humano, olhos acesos na beleza feminina.

Da observação espontânea que se estabelecia, se davam as trocas de interesses, nos chamados flertes, aos primeiros toques de simpatia.

Só depois, com as mudanças trazidas pelo progresso, começos dos anos 70, junto dos sinais de televisão que chegavam, sumiria essa festa interiorana, após deixar rastro de uniões feitas ou desfeitas, nas histórias familiares dos que ali se conheceram em momentos inesquecíveis. De se olharem, confirmadas as preferências, os rapazes acompanhavam a escolhida em mais outra volta da praça, seguindo ambos, depois, no sentido da Praça da Sé, onde quase sempre havia bancos vagos para o início dos namoros, umas vezes, fugazes; outras, prenúncio de casamento.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Dona Ciça do Barro Cru

Início dos anos 70 e cruzaria o Rio São Francisco pela primeira vez indo viver um tempo em Salvador. O coração, no entanto, permaneceria no Cariri, onde deixara amigos e sonhos. Vez em quando vinha de volta; férias ligeiras. Atualizava as descobertas e percorria os pontos de toque na ânsia que juntava saudades e novas amizades. 

Presenciaria, nessas vindas, o seguimento intenso daquilo que deixáramos no campo de arte e cultura bem característico da geração de 1968 no Crato. Conheceria de perto Rosemberg Cariry, Jefferson Junior, Jackson Bola Bantim, Geraldo Urano, Luíz Carlos Salatiel, Carlos Rafael, Múcio Duarte, Ivan Alencar, Meirinha Germano, Lídia Batista, Pachelly, Alberto e Abidoral Jamacaru, Magérbio Lucena, Deca (José) e Márcia Figueiredo, Célia Teles, e outros mais, que formavam o Grupo de Artes Por Exemplo e realizaram, no transcorrer daquele período, os Salões de Outubro, dentre outras marcantes atividades, revelações que abrangeriam festivais da canção, filmes, fotografia, pintura, desenho, xilogravura, escultura, teatro, jornais, livros, sob o prisma de vitalidade poucas vezes consignada, evidenciando proposta de liberdade, criatividade e contestação dos valores burgueses ainda vigentes na sociedade nordestina dos interiores.

Nessa fase buscava acompanhar as pesquisas do grupo. Sempre achava novidades, sobretudo com relação à cultura popular. Através dessas viagens, tomaria ciência de valores quais Ciça Louceira, Dona Ciça do Barro Cru, Zé Ferreira, Nino; chegaria mais próximo de Stênio Diniz, Mestre Noza, Patativa do Assaré, todos eles expoentes valorosos do patrimônio cultural caririense. 

Isso serviria sobremodo para aumentar o meu gosto pelo nosso povo e querer regressar, o que ocorreria já em 1977, quando, inclusive, ao lado de Luiz Karimai, Gilberto Morimitsu, Isabelisa Cordeiro e alguns daqueles artistas antes citados, realizaríamos Salões de Outubro, naquele ano e no ano seguinte, 1978.

Dentre os destaques que mais prezo daquelas lembranças, que trabalhava e trazia para vender suas produções nas feiras de Crato e Juazeiro do Norte, Dona Ciça do Barro Cru marca de modo indelével sua presença, dada a integração que mantinha com os seus bonecos de barro tão carinhosamente confeccionados, estatuinhas que algumas vezes levaria comigo para presentear os amigos da Bahia. Eram personagens quase vivos do imaginário popular, que, ao lado da artesã de características próprias e inconfundíveis, preenchiam o espaço nos dias mágicos da nossa geração eficiente. 

segunda-feira, 16 de março de 2015

Arte moderna

O século XX renovou as possibilidades da expressão artística, quebrando de uma vez por todas com a tradição de que apenas houvesse jeito único de se perceber a realidade. Por causa disso, o indivíduo médio pôde externar com independência seu jeito de mundo, sob padrões estéticos livres da camisa-de-força que predominava na arte mundial até aquela data. 

Essa conquista de expressão rompeu as rédeas do conformismo e trouxe alternativas ao gosto clássico e à comunicação. Nos campos da pintura, por exemplo, os criadores das obras impressionistas forçaram e conseguiram impor, na tela, outras figurações, usando de técnicas inéditas de representar a imagem real.

Aquilo de copiar a forma tridimensional do espaço transferiu-se às mãos de fotógrafos e cineastas, por força dos meios técnicos recentes. Enquanto que, ao talento dos pintores, coube o rompimento das barreiras do visível infinito. 

Nesse período, as duas grandes guerras reviraram pelo avesso os dogmas da cultura, sobretudo na Europa. Desestabilizaram do poder a senhora vaidade, dona absoluta das leis do cotidiano. Viam-se, pois, perdidos a perenidade e o insustentável que prevalecera durante largos séculos.

Tal estilo transformador de reinventar o olho levou os artistas a conquistar territórios inimagináveis, na história de representar a beleza.

Todavia, por conta dos acontecimentos dessa primeira metade de século, afloravam os mais diversos confrontos de opinião. Reações contrárias às aquisições da estética explodiam em quantidade, nos salões e nas ruas.

Grandes mestres da pintura, quais Salvador Dali, Picasso, Van Gogh, Gauguin, Renoir, Pissaro, Modigliani, Max Ernst, Paul Klee, dentre outros, amarguraram penas dolorosas, no afã de mostrar as suas conquistas ao grande público.

A propósito desse clima, registrou Stephen Nachmanovitch, no livro Ser criativo, incidente certa vez verificado, numa viagem de trem, quando cidadão francês reconheceu, no passageiro ao lado, nada menos do que o célebre pintor Pablo Picasso, responsável por inúmeras produções bem características da época revolucionária.

No instinto de aproveitar da oportunidade, o viajante principiou a resmungar e dizer o que bem pensava da arte moderna. Mostrava-se impiedoso quanto à forma dela representar a realidade. Que não dispunha de precisão, de fidelidade naquilo a que se propunha.

Nessa hora, paciente, o pintor espanhol reagiu para indagar do homem o que ele considerava ser uma representação fiel da realidade.

Na mesma hora, o interlocutor sacou da carteira uma fotografia da própria esposa e indicou: 

- Eis aqui. Isto é o que considero uma imagem real.

Picasso segurou a foto, analisou-a de vários ângulos... Frente, verso, lado... Por fim argumentando:

- Mas como a sua mulher é pequena! E, acima de tudo, chata, posso, com certeza, concluir – daí, então, devolveu ao parceiro sua fotografia, e o silêncio de novo mostrou a face.

Trabalhar o pensamento positivo

Reunir os meios necessários de criar condições de alegria todo tempo, eis função importante e urgente de transformar o mundo em volta. Criar estrutura mental de conduzir a nossa força psíquica no sentido de trabalhar a natureza em forma de valores coletivos que ofereça as condições de ser feliz. Somos o instrumento dessa produção. Dominar o poder ao nosso dispor e encontrar a matéria prima dos sonhos. 


A característica marcada dos tempos dagora, pois, nada mais indica do que fase quando a tecnologia oferece recursos preciosos de construir o futuro aumentando o conforto e as chances de produção ampla de riquezas, permitindo dilação do prazo de sobrevivência, numa democracia inigualável nascida durante longos milênios de lutas e pesquisas.

Por isso, nunca antes houve as possibilidades atuais de conhecer tantos assuntos e poder desempenhar papéis justos no palco da real felicidade, o melhor dos cenários com recursos de construção interior das criaturas quais exímios pintores munidos de bons materiais e belas paisagens.

Grandes mestres, das várias horas, refletiram a digna resposta quanto saber dispensar o supérfluo e busca a utilidade na saúde, na inteligência, na fraternidade humana, despertando métodos de evitar as sensações dolorosas do ser. A angústia que caracterizou épocas quer-se agora longe das práticas de vida, ampliando o senso das possibilidades, oferecendo ao máximo o direito à paz do coração.

Saber-se fértil no ato de produzir imagens claras de boa vontade e virtude reveste-se no rio permanente do tempo, flagrante salto de qualidade sempre esperado naqueles que aprenderam as lições.

Em épocas críticas, todos precisam levantar a cabeça e buscar forças internas, por vezes desconhecidas, mas de primordial importância na preservação do gosto de viver. Nesses períodos, as responsabilidades de um veículo de comunicação crescem, razão de lhe caber papel estratégico na manutenção do espírito elevado

domingo, 15 de março de 2015

Flagrantes de memória I

Transcorria o ano de l958 no Nordeste. As chuvas desejadas não caíram e o campo se acinzentara ao sol intenso de uma seca jamais esquecida. Rebanhos esgotados, sem pasto, sem água, eram tangidos para outras terras, que o sertão  impropriara à vida.

Foi naquele ano que presenciei um dos quadros que aqui descritos. Descia a Rua Bárbara de Alencar, em Crato, quando, no cruzamento da Tristão Gonçalves (antiga Rua da Vala), avistei surpreso um grupo de mais ou menos 200 homens, os flagelados, agricultores famintos. Todos eles, pacíficos, traziam consigo sacos vazios enrolados da mão para o pulso, à procura de alimentos.


Qual pelotão em ordem unida, o grupo passou silencioso, rumando às bandas da Praça da Sé, direção da Prefeitura, que à época funcionava nos altos da Cadeia Pública, hoje ocupado pelo Museu de Arte Vicente Leite.

A cena me causou espanto dada a presença forte daquela gente, homens esquálidos, sinceros, evadidos da cruel intempérie, embrenhados na sede do município quais corajosos soldados da sobrevivência.

Também da mesma fase recordo a prisão, nas matas da Serra, de um homem esquisito, de cabelos longos e desgrenhados, unhas recurvas, grandes e escuras tais garras, bigode e barba de anos a lhe encobrir a fisionomia selvagem. Denominaram-no Pai da Mata.

Por vários dias permanecera exposto à visitação popular, nas grades da cadeia, na Rua Senador Pompeu, para onde acorria constante multidão. Muitas histórias circularam a seu respeito. Desconfiado e soturno, a ninguém respondia, quando interrogado, apenas fixava o vazio dos olhos enigmáticos.

Depois de uma ou duas semanas, transferiram-no para outro canto, nada mais sendo divulgado a respeito.

E quase em frente ao mesmo prédio, esquina da Praça da Sé, já nos começos da década de 60, quando instalavam a rede de água, outro fato se me gravou na memória.

Vi dali ser desenterrada uma igaçaba (urna funerária de barro, com riscos de vermelho amarelado). Na avaliação dos professores que a examinaram, servira para acondicionar despojos de chefe indígena das antigas tribos regionais.

Apenas os cacos permaneceram guardados durante algum tempo, no museu histórico da cidade, onde pude avistar algumas vezes mais.

sábado, 14 de março de 2015

Registros de memória

Esquina das ruas Vicente Tavares Bezerra e São Francisco, no Bairro Pinto Madeira, Crato, em 1957 ali residia Hernildo Gomes de Almeida, então gerente da Agência do Banco do Brasil na cidade. Construíra uma bela residência, cujas linhas se mantêm até hoje, bem defronte ao terreno posteriormente utilizado por meu pai que também ergueu sua morada no bairro, oito anos depois de ocuparmos o sobrado de Pergentino Silva, logo abaixo, na Rua Padre Ibiapina, onde hoje funciona a Escola Tia Joana.


Naquele ano, fora eleita Miss Brasil a amazonense Terezinha Morango, sendo no mesmo ano, em 19 de junho, escolhida segundo lugar da Miss Universo, em Long Beach, Califórnia, Estados Unidos.

Hernildo de Almeida, ligado às atividades da Associação Atlética Banco do Brasil desde São Luís MA, quando desempenhara cargo à frente da instituição em 1953, se mobilizou e trouxe ao Crato a bela amazonense, marcando festa de galã para o clube que ainda funcionava em precárias instalações. Com isso pode obter recursos e adiante virem a construir a sede definitiva da agremiação, realizando com isso evento inesquecível da sociedade caririense.

Hospedada próximo da minha casa, tomei a liberdade de ir conhecer de perto a linda jovem, na véspera do desfile da AABB. Desconhecia, no entanto, que na mesma data seu Hernildo recebera um telegrama de parentes distantes lhe dando ciência do falecimento da sua genitora. Ele permaneceria em silêncio, evitando divulgar a notícia triste por conta da promoção da noite, o que só o fez no dia seguinte, após tudo concluído.

Um ano adiante, na Festa de São Pedro, incêndio provocado por fogos destruiria por completo a primeira sede da AABB cratense, trabalhada apenas em madeira e palha, narrativa disso que coube ao cronista Olival Honor, à época seu presidente.

Há posterior localização, já em 1963, de Hernildo Gomes de Almeida a ocupar as funções administrativas junto à Metropolitana Mauá, no Rio de Janeiro. 

sexta-feira, 13 de março de 2015

Gritos do coração

A soberba de querer durar todo tempo, predominar semelhante aos imperadores arcaicos, jamais sobreviveu para sempre nas ocorrências humanas. As prepotências de semideuses que os personagens do chão desempenham viram só frustração, ruínas, farrapo, pedaços de ego enlameados, poluição. Velhos trilhos enferrujados da sorte rápida invertem o sentido, deixando marcas, e indicam a religiosidade necessária, verdadeira, tal instrumento de salvação ao sabor do Infinito.

Por vezes, o sangue gela nas veias e reclama tranquilidade, paz de superar obstáculos que se interpõem à caminhada dos dias, contudo tais super-heróis impertinentes são chamados a cumprir as ordens do momento, e os ventos enfurecidos limitam a capacidade de enfrentar e ferir as resistências. Por mais ostentemos sabedoria, o enredo dessas aventuras pede serenidade. A certeza de saber quantos segredos ainda resta receber dos tempos, porém, conduz cada passo ao conteúdo de Deus, que fala bem alto no escondido coração, cara a cara com o desconhecido, severo apaziguador das horas hostis.

Crer se torna, por isso mesmo, razão de domínio das alternativas aos nossos olhos. Entregar a quem pode a direção dos instantes inesperados da angústia, do desespero, há, pois, coerência na transmissão dos resultados a níveis superiores de consciência o direito de receber esse gosto de piedade divina, dotes imortais da Criação. 

Diante de acontecimentos de qualquer época, quando pareceu que a terra sumiria dos pés da gente face à dimensão quase invencível
das dificuldades, bem aqui existe o sentimento forte de crer no poder maior de tudo, e as ondas imensas da tempestade em fúria repõem os elementos no seu devido lugar. Fenômenos da história cumprem assim o seu papel harmonizador qual função natural de trazer fatores originais ao total reequilíbrio, desde que se possua a frieza necessária de somar fé e confiança à equação que efetua os cálculos das vivências de toda pessoa.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Algemas douradas

Um tema que insiste retornar à preocupação, por conta da monstruosidade que representa e das dificuldades que acarreta, são as drogas. Sobretudo pessoas jovens caem nas malhas do vício e nem a sapiente ciência moderna consegue demovê-las, convencê-las de largar a isca envenenada que mata pouco a pouco, destruidora de sonhos e animal feroz que a tudo devora. Junto com vários outros entraves da organização social, tal facilidade circula sorrateira nos antros comerciais da clandestinidade, invade lares, destrói famílias, suga a seiva da juventude, sem que quase ninguém ainda  descubra alternativas de solucione o drama.

Par a par com isso, o quadro representa continuação do espírito mercantilista da civilização contemporânea. Brincar de dominador e chegar ao poder pela porta dos fundos agrada com facilidade os invasores. De modo frio, cínico,  mercadores negros justificam no lucro a qualquer custo a fome de avançar, independente do preço pago por quem sofre ganância de canibais esfomeados. Coletar ganhos e levar a melhor, saciar desejos, sobreviver e juntar patrimônio; cifra, cifras, cifrões. 

Nenhum sentimento de remorso parece acordar a consciência dos tais predadores dos semelhantes, principais vítimas das próprias unhas afiadas e do apetite indomável que nutre os doentes senhores da conquista.

Adquirir riqueza por meio de jogos de azar, exploração da prostituição, da indústria e do comércio das armas e da guerra, no desespero das ruas assustadas, na insegurança do desemprego e da miséria, poluição e destruição irracional, eis a prática dos gigantes financeiros que cozinham gerações sucessivas, de gafo e faca em punhos, diante do balcão alucinado das metrópoles indiferentes.

Quadro dantesco serve, pois, de cenário ao turno artificial do momento geral. Fumaça, acrílicos, sirenes, burburinho de cidades monótonas, cálculos estruturais, pistas asfálticas, antenas, vídeos, câmeras ocultas, vazios, sinais avermelhados, tédio e solidão.

Pessoas aflitas, com isso detonam a máquina do cérebro no uso de drogas concentradas, sob o pretexto frouxo do prazer e da falta de saída. Nada justifica, no entanto, a providência suicida, que só representa deserção e covardia. Jamais fugir; lutar sempre e chegar às soluções. Nenhuma porta se abre a quem se perdeu no caminho. Em tudo, haverá os dois lados de ver a vida seus arrodeios. Dos animais, os humanos detêm, na própria face, a luz da certeza. 

Enquanto perguntas vagam pelo ar, o comboio vence obstáculos, guiado na esperança da cura em que fermentam sonhos reais de um futuro próspero. Mesmo que horizontes pareçam distantes, meios existem que os aproximam e indicam respostas positivas na luz da Esperança sadia.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Ações pessoais

Nossa particular maneira de ver política nos leva a pensar no entusiasmo das gentes pelo direito do voto; e escolher os seus representantes. Nisto somos meio diferentes daqueles que trazem no bolso do colete a chapa pronta, de salvação, para aquecer qualquer âmbito onde se faça o merecimento sagrado de definir cabeças que pensarão/agirão pela coletividade, em determinados momentos.

Portanto, devemos respeitar todas as propostas, venham de quaisquer legendas. Cada tom compõe a paisagem harmônica e não nos deve custar ceder espaço, foro de prosseguimento ao que Deus criou sob o nome de Liberdade; assim como aguardamos desarmados o mesmo direito de poder possuir nossas próprias teses.

É dentro dessa ótica que chegamos para dizer, falar e querer fazer, na ordem universal dos destinos. Políticos corriqueiros e solertes não irão deixar de existir só para nos agradar. A própria demagogia faz parte crônica de suas naturezas; seria até um tipo de irresponsabilidade não admitir isto. Valores negativos também fazem parte desse todo, nos altos e baixos das circunstâncias. Porém cabe-nos lutar pela transformação de nós mesmos, para depois oferecer modelos de transformação. Como falar em Revolução, expandir revoluções, sem possuir os nossos estoques adequados de exemplo? Como demonstrar, pois?

Você, nesta hora aqui em frente a observar o que dizemos, talvez ainda não tenha pensado que seu voto pode construir o Mundo. Não diria apenas seu voto; seu  passo, sua palavra, seu pensamento, seu aperto de mão, sua batalha individual, sua história anônima, seu olhar (sim, seu olhar).

Todos estão na mesma nave planetária; destino das partes que tem compromisso fundamental com tudo. A janela de fugir há tempos se fechou. Municípios são as células mãe da Nação.

Disto resulta que a falta de saída da crise é a própria saída, uma vez nos fazer compreender que cada dia (cada hora) traz seu feto em gestação, para nascer a seguir de nossas carnes vivas, gotejantes de esperança.

Jesus Cristo reclamou atitudes em prol dos que carecem, sobretudo daqueles mais necessitados, que são muitos. Chegou a dizer que estariam atentos às suas palavras os que viessem a favorecê-los, fossem nos hospitais, nas penitenciárias, nos abrigos, prostíbulos, manicômios, periferias, praças e ruas. Algo se deve fazer, com urgência, providenciando até mesmo aquilo que se nos apresenta como obrigação dos governos.

Conta-nos célebre apólogo indiano que uma andorinha, ao perceber que a floresta ardia em chamas, rápida cuidou de extinguir o incêndio usando ensopar penas nas águas de lagoa próxima. Depois de insistentes e aflitivas viagens, encontrou-se com um elefante, que, curioso, quis saber o motivo de tanta agitação. Obsequiosa nos seus esclarecimentos e meio desestimulada quanto ao êxito da missão, acrescentou:

- Estou fazendo minha parte. O senhor faça a sua!

domingo, 8 de março de 2015

O sangue dos pobres

Consta da relação dos fenômenos extraordinários atribuídos a São Benedito, o Mouro, santo católico de origem árabe, que quando administrava a cozinha do Convento dos Capuchinhos onde morava, e após a ceia dos monges eremitas, sempre oferecia aos desvalidos que habitavam as comunidades próximas uma sopa noturna por demais substanciosa. Famintos, eles saciariam a fome diante da boa vontade daquela refeição caritativa, aclamando o corpo para chegar vivos ao dia seguinte. 

O meio que religioso utilizava era o de reaproveitar as sobras que ficavam da preparação dos alimentos principais dos religiosos, restos de verdura, gorduras de carnes, caldos de fervuras, substâncias que de comum seriam jogadas fora. 

Os noviços responsáveis pelas rotinas do estabelecimento, no entanto, nutriam pouca disposição de, além dos afazeres regulares, ainda pegar as migalhas dispensadas dos alimentos para constituir a sopa dos necessitados, e com isso dificultavam a mais não poder o trabalho que resultaria no sustento da longa fila andrajosa dos mendigos.

Diante daqueles modos indiferentes, São Benedito repetia com insistência que eles, os auxiliares, estariam abandonando no lixo o sangue dos seus pobres. Inúmeras vezes aconteciam esses conselhos sem significar, contudo, manifestações que produzissem os devidos frutos.

Até que, belo dia, o frade, utilizando a estopa de limpeza do balcão onde preparavam os pratos, nela recolheria os mantimentos que já iam a caminho da lixeira e, em seguida, com força, espremeu o tecido às vistas de todos em volta, reafirmando o sempre dissera:

- Meus irmãos, vejam, na verdade, que o que fazem é derramar o sangue dos pobres – e na mesma hora escorreu sobre a bancada mais puro e expressivo sangue humano, razão de espanto dos presentes, passando ser essa uma das ocorrências somadas ao mérito da canonização do santo virtuoso.   

A urgência de líderes autênticos

Isto no sentido da Paz, de práticas fiéis e do amor à verdade, sem ideologias ou subterfúgios, interesses exclusivos, particulares, longe que foram dos valores reais de progresso coletivo, dos bens da família, da saúde social e da esperança nos melhores dias que falam ser possível a todos sem discriminações e vícios. 

Lideranças que demonstrem grau de evolução a caminho da sintonia com princípios da boa convivência e da justiça reta no uso dos recursos da vida pela preservação das espécies neste chão. 

Seres que pratiquem o que dizem e aceitem a liberdade dos demais qual fator de crescimento, semeando a cultura da consciência na igualdade e dos princípios essenciais ao relacionamento sadio, todo tempo. 

Pessoas que demonstrem o senso da solidariedade, as luzes da transformação consistente, invés das aventuras de explorar de irmãos contra irmãos em favor dos desejos individuais.

Sinceros. Que digam e façam o que disser, no cumprimento da palavra de que sejam senhores e no que proponham aos tantos necessitados de compreensão, em período da história quando clamor de tranquilidade rasga os horizontes cinza que resultaram dos séculos de insanidade, conflitos e guerras, num apelo grandioso por respeito mútuo e pelo exercício de fraternidade.

Sintomas preocupantes do desamor atordoa nossa humanidade equivocada, vaidosa, caprichosa, egoísta, e há, decerto, que colher consequências dessa ausência quase absoluta do mínimo zelo por si e pelos indivíduos em volta. Degredados da ingratidão, povos inteiros arrastam dores de amargura do que lhes ofereceram os tempos na forma do caldo escuro da violência, das divisões, perseguições, explorações, marca dos excessos aplicados até hoje, diagnóstico aberto às páginas dos resultados. 

E essa urgência, pois, reclama atividade imediata da inteligência na política, nas praças e ruas, sob a coerência daqueles mais aquinhoados da sorte que julgam não ser consigo a indagação de quem virá restabelecer as coisas no devido lugar. Prudência, lucidez, harmonia, sabedoria, amor no coração, vivências de novos instrumentos conhecidos de apagar o quadro dantesco das humanas vaidades e abusos conhecidos na ignorância dos gestos. 

Bom, palavras essas que precisamos avaliar com o carinho, na intenção de dominar a força bruta antes de querer dominar a existência...

sábado, 7 de março de 2015

As tantas vidas

Conceitos a propósito do que nos espera depois de seguir ao desconhecido variam de acordo com as possibilidades filosóficas. Uns, os materialistas radicais admitem que, ao concluir a existência física, as individualidades simplesmente somem dentro do laboratório da natureza, qual objeto desmantelado em transformação. Começo e final num bloco único indivisível.

Os gregos, no entanto, trouxeram nalgumas avaliações desse que vem depois a possibilidade conclusiva de que, ao desaparecer deste chão, os indivíduos retornam ao todo universal, qual gota d’água de volta ao oceano original dos elementos, sem preservar, no entanto, aquela identidade que apresentava antes. No chamado panteísmo, essa concepção responderia pela continuação e repetição de tudo.

O Catolicismo, por sua vez, avista o prosseguimento da existência individual dos seres humanos quando por ocasião de um julgamento universal das criaturas, fase em que retomarão seus corpos materiais e serão sentenciados pela única experiência cumprida na Terra, cuja sentença determinará irrevogavelmente o destino: o Inferno ou o Paraíso, na compreensão classificada sob a denominação de unicidade das existências, da teologia da Igreja Romana, admitindo, sim, a existência de um princípio individual que sobreviverá após o fenômeno da morte física, preso, porém, à inapelabilidade do Juízo definitivo, assistido pelas forças poderosas de Deus e sua corte celestial.

Outra idealização da viagem derradeira das gerações caberá aos budistas, hinduístas, espíritas, dentre outras mais religiões e filosofias, a chamada pluralidade das existências. Nesse jeito de considerar o passo posterior à vida na carne, tais escolas de pensamento asseveram que, ao deixar o invólucro corporal, os espíritos prosseguirão a caminhada por meio de novas experiências terrenas, isto noutros corpos físicos, na hipótese da reencarnação. Com isso, receberão, noutras alternativas, o direito de se refazerem dos equívocos porventura vivenciados nas vezes anteriores, resgatando falhas e adquirindo o conhecimento imprescindível ao aperfeiçoamento necessário a chegarem ao Reino de Deus, sob o prisma da lídima justiça da purificação. Esta maneira de conceber o devir eterno cabe, também, os filósofos Sócrates e Platão, sábios atenienses.

Destarte, as quatro visualizações proféticas do futuro dos seres pensantes nelas indicam o que pensam o materialismo dialético, o panteísmo grego, a unicidade católica e pluralismo existencial dos reencarnacionistas.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Acerto de contas

Logo cedo, de espingarda em punho, o caboclo entrou na mata à busca da mistura do dia para as refeições da família. Andou muito e nada achou que atendesse o objetivo. De mãos abanando, desanimado, retornava ao casebre, quando avistou bela cabra a lhe cruzar o caminho. Sabia ser de um dos vizinhos, seu compadre, dono de muito bicho, que os vinha aumentando com facilidade. Coçou a cabeça, mediu as consequências e viu justiça no ato que planejava em nome dos filhos que precisavam urgentemente sobreviver. 

Auscultou as imediações, se viu distante, solitário: a ocasião faz o ladrão, o povo diz, enquanto o isolamento propiciou a impunidade. Armou o gatilho e derrubou a marrã de criação. Arrastou-a para o mato; tirou o couro; partiu os ossos e a carne; desfez as possíveis pistas. Quando chegou em casa, vinha consigo, às costas suadas, o alimento de duas semanas, ou mais. 

Dias transcorreram sem ser descoberto. O caçador parecia, no entanto, pouco confortável dentro dele próprio, dado o ato que praticara.  Vivia sério, sem graça, pelos cantos; de honesto, acordava no meio da noite empapado de suor frio, amargando pesadelos. A coisa tendia ao agravamento. Perdera-se sob as tenazes do remorso; sumira o patrimônio das velhas alegrias de viver.

De alma presa, bela manhã, resolveu se confessar. Procurou o vigário da freguesia e contou em todos os detalhes a história do delito de haver morto a cabra do compadre. Atencioso, o sacerdote ouviu a história, refletiu durante alguns minutos e disse:

- O senhor agiu de uma forma vergonhosa. Fez o que nunca deveria ter feito, querendo se beneficiar com aquilo. Desse jeito, para limpar o erro que cometeu, irá procurar seu vizinho e esclarecer o assunto, dizendo a ele que pagará o animal morto quando possuir recurso.

- Mas, padre, trabalhando desse modo, vou passar por desonesto - explicou contrariado o sertanejo. - Isso fica muito ruim para quem criou fama de homem sério como eu sou no meu lugar. Deve haver outra maneira de resolver – acrescentou o matuto.

- Meu filho, não vejo nada mais simples do que pagar a penitência – avisou o sacerdote. - Pois não cuidando agora, quando chegar o Dia do Juízo, lá vão comparecer, na presença dos santos, o senhor, seu compadre e a cabra que matou, lhe pondo em julgamento.

Nesse instante, ecoou no interior pela nave da igreja a gargalhada sonora do caboclo, que, em seguida, foi dizendo:

- Ah, padre, compreendi suas palavras e sei o que deverei fazer. Visto quando a cabra reaparecer viva, inteirinha, no Juízo Final, naquela hora, então, eu pego ela e devolvo ao dono, o meu vizinho, ficando tudo resolvido, sem maiores prejuízos. - E nisso, cheio de felicidade, se retirou já convencido de solucionar assim o drama que lhe doía na consciência.

Obs.: História que ouvi de Benvindo Melo.

quinta-feira, 5 de março de 2015

O princípio da gratidão

Ainda que exista fama de as pessoas serem egoístas, um senso de justiça prevalece nas relações interpessoais. Isto de quando alguém nos trata com respeito e educação doméstica, por exemplo, naturalmente traz às nossas atitudes o gosto de querer, de algum modo, retribuir a deferência na mesma moeda e responder com modos semelhantes. 

O de que mais precisa a sociedade são as atenções diante dos gestos de amizade e carinho, vistos os tantos desentendimentos em forma de crimes e guerras espalhados pelos países e raças, religiões e partidos políticos. Ninguém mais dedica esse quase nada aos outros sem querer algo em troca, os chamados benefícios sociais. As eleições servem de amostra desse comportamento. Raros líderes verdadeiros surgiram nesses tempos bicudos. Ao planejar uma campanha eleitoral o primeiro item são recursos arrecadados para investir, gerando isso feridas morais absurdas, que contaminam o corpo social, quais jamais previstas ou aceitas no bom sentido da paz coletiva.

A gratidão, o reconhecimento, instintos naturais do equilíbrio e da justiça, bem que podem curar danos deixados pela competitividade selvagem que ora parece dominar as instituições. Crise sem precedentes exige posições coerentes de todos, sobremodo daqueles voltados aos sonhos da Paz, preservação das famílias, trabalho, prosperidade, esperançosos dos novos tempos que aguardam nossos filhos e netos.

O dia a dia mostra esse quadro desalentador com vistas a suprir as carências da fase histórica de insegurança geral e ganância dos dirigentes da máquina pública. A desunião ocasionada pela complexidade moderna segrega as pessoas aos guetos de lutas individuais. A doença do isolamento já apresenta a face dos cidadãos quais seres distantes uns dos outros, presos às ferragens dos automóveis ou encaixados nos cubículos de cimento, prisioneiros no tabuleiro dos jogos de poder das massas. Horas de repouso ficaram restritas aos condicionamentos, preocupações e gestos neuróticos manipulados por máquinas frias.

Nunca antes quanto agora houve tamanha necessidade dos sentimentos verdadeiros, honestos, autênticos, razão da sobrevivência dos valores obtidos a pretexto de evoluir, que justificaram os compêndios da tão esperada civilização.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Kurt Vonnegut

Em 11 de abril de 2007, na cidade de Nova York, morria o escritor norte-americano Kurt Vonnegut. De origem alemã, Vonnegut representa para a literatura americana autor rico de imaginação, cruzando pelo território da ficção científica de ampla aceitação, sobretudo no seio da juventude mundial no decorrer dos anos 70. 

Ferrenho pacifista, viveu de perto o drama da Segunda Guerra Mundial, na Europa, quando, inclusive, preso viu-se recolhido a uma galeria improvisada em um matadouro em Dresden, durante o período final da conflagração. 

Por esse motivo, testemunhou, junto de alguns outros soldados prisioneiros, na própria pele, o bombardeio de toneladas de bombas dos Aliados à Alemanha, servindo de inspiração para o seu primeiro livro Matadouro 5, sucesso nos tempos bélicos da Guerra do Vietnam, em 1969.

O seu modo peculiar de escrever envolve severas críticas à democracia estadunidense, que não deseja aos outros aquilo que quer para si, pondo por terra toda a mística de salvadores do mundo forjada por ocasião dos combates a Hitler e sua ideologia de dominação, à época da Segunda Guerra.

Aos 84 anos, Kurt Vonnegut consagrou-se perante os tempos modernos em face do jeito humorado, satírico e engajado nos principais problemas de sua época. Nascido em Indianápolis, Estado de Indiana, em 11 de novembro de 1922, trabalhou como jornalista e graduou-se em antropologia. 

Seus livros, a maioria romances, denunciam com sofreguidão as guerras e as ditaduras. 

Eis uma lista breve de seus livros publicados no Brasil e que bem merecem leitura por parte de quem aprecia a literatura engajada com os dramas da civilização destes tempos difíceis do capitalismo ocidental: Matadouro 5, Ardil 22, Um homem sem pátria, Destinos piores que a morte, Hocus-Pocus, A cama de gato, Breakfast dos campeões  e Timequake - Tremor de tempo. Pelo menos duas dessas obras constituíram argumentos cinematográficos de largo êxito mundial.

Dentre suas tiradas irônicas, cabe aqui um exemplo, a saber: Humanista é uma pessoa com grande interesse pelos seres humanos. Meu cachorro é humanista.

Em 2003, pronunciou-se contrário à invasão dos americanos e ingleses ao Iraque.

Esses pobres amantes

Desde as pompas preparatórias, danças lotavam de nobres os salões iluminados e deslizantes casais. Os dois, a lady e o príncipe, semelhavam pássaros alegres, reflexos dos olhares longos de damas e cavalheiros, imagem milenar das monarquias, saracoteando sedas no efusivo ambiente. 

Puro sonho, festa de casamento que durou três dias. Ela chegara à real família pelo amor romântico tecido nas teias da candura. Nobre, linda, porém fruto de linhagem paralela onde a fidalguia concedera-lhe o sétimo céu de ser princesa no reino da Inglaterra.


Essas emocionadas fases, conquanto depois contraditórias, cobravam da família detalhes essenciais à preservação das condições iniciais. Diana Spencer existiu para o marido, seus dotes e filhos herdeiros. Repetidas vezes, quis se arremeter de encontro ao destino que lhe tirara da história plebeia, largado-a no paço. Entretanto reservara-se discreta no silêncio das alamedas, submissa ao cerimonial, das viagens de ofício e compromissos outros.

Fluíram longos dez, doze, quinze anos de regularidade protocolar.

Numa bela manhã de primavera, na discreta cavalariça, próxima de James Hewitt, oficial instrutor dos príncipes, viu o que lhe fez recordar os livros infantis, as histórias de encanto, no reservado coração adormecido.

Dispararam em si tontas emoções retidas pelo contrato nupcial das máscaras oficiais. O castelo hostil veio no seu encalço. Saber disso jamais poderia, visto fugir da lei e, estoica, abandonar as calandras escuras do preço que pactuara. 

Nalgum impulso, as carnes rasgaram a tradição do sossego. Apaixonada, a princesa amou quanto necessário, quiçá pela primeira vez. Sentimentos ganharam corpos. Dois amantes pecaram no palácio imperial. Ela jogou ao solo muralhas carcomidas de todas as convenções. Charles também derivou noutras aventuras e o conto de fadas virou crônica galante. Os filhos, sempre eles, pagam o desamor dos pais. 

Separada a união do século XX, feridas abertas aos tabloides sensacionalistas, repercutiram escândalo e dramas particulares, na roupa suja lavada nas praças. Viajou pelos países, a servir de emissária que tutela os exilados desse mundo torto. África. Ásia. América.  

Uma noite a todos de novo surpreende. Em 31 de agosto de 1997, em Paris, morre Diana junto de outro namorado, após baterem com o carro nas estruturas urbanas da capital francesa. 

Cinco anos do desaparecimento, jornal inglês traz a notícia de que o ex-amante da princesa fixou preço para suas cartas de amor. O diário londrino News of the World, na edição de 15 de dezembro de 2002, disse que o oficial James Hewitt buscou vender pelo valor de 10 milhões de libras (US$ 15,6 milhões) a correspondência amorosa. Esta é a primeira vez que um membro da família real escreve a um soldado que está no front, disse Hewitt, que recebeu as cartas de Diana durante a Guerra do Golfo, ao servir no Kuwait. Isso num besto desvairado de quem acolheu o amor imperial e perdeu a licença possível que houvesse para os amantes verdadeiros nos tribunais da Eternidade.

terça-feira, 3 de março de 2015

O petróleo é nosso

Hoje quando se vê a luta da Petrobras para sobreviver diante dos tantos percalços considerados na grande mídia, no caldo da memória vêm à tona os tempos dos primeiros embates no esforço da permanência em solo pátria das riquezas brasileiras, épocas heroicas da campanha O petróleo é nosso. 

Esta frase, pronunciada pelo presidente Getúlio Vargas, ganharia corpo na Campanha do Petróleo, sob o patrocínio do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo, alimentada pelos chamados nacionalistas, até a criação vitoriosa da Petrobras. Depois se soube que o autor original da expressão fora o professor Otacílio Rainho, diretor do Colégio Vasco da Gama, Rio de Janeiro.

O decorrer dos embates pela manutenção do monopólio de nossas explorações custaria 89 anos, desde a primeira concessão para exploração do petróleo brasileiro até a criação da Petrobras, em 1953. Um dos batalhadores desta conquista honrosa foi o escritor Monteiro Lobato, que, em 20 de janeiro de 1935, na célebre Carta a Getúlio dissera com todas as letras: O assunto é extremamente sério e faz jus ao exame sereno do Presidente da República, pois que as nossas melhores jazidas de minérios já caíram em mãos estrangeiras e no passo em que as coisas vão o mesmo se dará com as terras potencialmente petrolíferas. E já hoje ninguém poderá negar isso visto que tenho uma carta em que o chefe dos serviços geológicos da Standard ingenuamente confessa tudo, e declara que a intenção dessa companhia é manter o Brasil em estado de escravização petrolífera. 

Então o Brasil atravessaria fase de sérios debates quanto à preservação dos nossos reais interesses no que tange à soberania nacional e o direito aos próprios bens naturais, bases essenciais da autonomia como Nação. 

Em 19 de agosto de 1935, Monteiro Lobato, visualizando o risco de forças externas tomarem as reservas petrolíferas, também afirmaria noutra correspondência a Getúlio: Isso constitui um crime imperdoável, além de denunciar de modo esmagador que há gente paga por estrangeiros para que o Brasil não tenha nunca o seu petróleo. Em vez de, pelas funções de seus cargos, esses homens tudo fazerem para que tenhamos petróleo, quanto antes, tudo fazem para que não o tenhamos nunca. O caso é, pois, desses que pede a imediata intervenção de homens que, como V. Excia., só têm em vista os altos interesses do País.

Naquele meio tempo, houve o confronto de entreguistas e nacionalistas, o que afloraria o movimento de consolidação da campanha na formação dos valores patrimoniais da nossa gente e razão da mais rara conquista em termos de preservação da independência no concerto mundial dos povos.