quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A fuga interrompida

Conta a lenda que um perverso salteador, depois haver praticado as ações menos aconselháveis em período infeliz vivido aqui na Terra, viu-se segregado às calandras do Purgatório a fim de receber o soldo das coisas ruins que deixara para trás.

Os danos da estrada do vício lhe retornavam agressivos, por força das leis eternas, achando-o envolto nas sombras da desesperança, cheias de noites e dias tristes. Era o remorso, as mágoas, ausência de cores, emoção não resolvidas, nenhum trabalho ou realização de qualquer sorte.

Ao lado, cercava-se de fantasmas pegajosos, companhia de misérias morais em forma de gente. Quisera frutos melhores, porém plantara sementes adversas, em tudo, por tudo.

Sofria de causar dó, ritmo de relógios abandonados numa outra dimensão de pura monotonia. Nada adiantava esconder, pois essas possibilidades reclamariam rumos de procurar aonde se dirigir. Não havia, destarte, alternativas de outras chances, outros rumos quais fossem.

Bom, creio deixar clara a estagnação daquele espírito no universo, jogado às larvas do desamor que produzira na sua vida pregressa.

Nesse quadro, certo dia, lembrou-se de uma criança a quem mitigara a fome, nas margens de caminho deserto, quando quase indiferente lhe atirara resto seco de alimento. E na hora concentrou-se em sua imagem e pediu, com todas as ganas que ainda lhe restavam, um socorro dos céus de misericórdia. E foi valido.

Demorou pouco daí, viu descer, no meio da fumaça escaldante, corda grossa a balançar em sua frente, na qual se pendurou ansioso e começou a subir no rumo dos altos desconhecidos.

Qual vindo de sonho distante, o cabo a que se agarrava nutria intenções de liberdade e veio, aos poucos, alçando-se noutros espaços de brisas suáveis e claridade penetrante.

Chegava a perceber paisagens venturosas, estendidas no horizonte que suavizaram as covas fundas dos seus olhos.

Avançara metros, quilômetros, talvez, quando resolveu olhar para baixo e calcular a distância percorrida. Abaixo dele, aflitos, excitados com a chance de felicidade, novos postulantes também subiam. Vários, vários dos habitantes das sombras acreditavam, como ele, na saída próxima.

Ao ver-se acompanhado, o antigo marginal retornou aos sentimentos anteriores de egoísmo e exclusividade. Pensou muito mais em si. Calculou o peso daquela gente toda na corda retesada.

- Fora! Fora! Intrusos, me deixam sozinho - gritava empurrando com os pés quem se aproximasse. - A salvação compete a mim que descobri essa possibilidade. Fui eu que consegui de Deus o auxílio - esbravejava revoltado.

Indiferentes aos protestos, apegavam-se à corda os degredados em fuga. O salteador, aos pulos, empregava todo esforço para se livrar dos seguidores, quando descomunal estalo rompeu de vez a grossa corda, mergulhando a multidão no fosso da profunda escuridão.

Após o rápido instante de frustração, bruma friorenta envolveu no silêncio o resto de enigma, mistérios íntimos  daquelas almas à espera de luz.

Assim é que tem que ser


Uma flor cai, embora nós a amemos; e uma erva daninha cresce, embora não a amemos... 
Desta forma nossa vida deve ser entendida. Então não há problemas. Suzuki Rosh

Desde sempre que se busca demonstrar que há outro universo que não este universo visível. Por mais seja dito, persiste a dúvida quanto à vida após a morte, que quem foi nunca voltou para dizer, no entanto sobejam os médiuns que dão as notícias do além, escrevem livros, cartas, manifestam suas falas, seus segredos, etc.

Existem fenômenos que ocorrem sempre, inclusive impulsionam a civilização, porém não são tão visíveis, a energia elétrica, por exemplo. Que há um mundo paralelo a este insistem os cientistas a demonstrar. Seguem as dúvidas, no entanto.

O mundo onde vivemos, a máquina psíquica que somos, funciona sem parar e moramos dentro dela, em constante movimento de energia e formas. A música que toca nossos ouvidos, também invisível, domina o éter e quedamo-nos extasiados. O sabor, invisível. O olfato, invisível. O tato, invisível. De visível mesmo só a visão, entre os cinco sentidos. E de todo, impossível duvidar das abstrações dos acontecimentos em volta.

Que existe um poder depois de tudo, que equilibra o Cosmos, a quem resta duvidar?! À audácia dos que mantém a certeza da dúvida em todos os quadrantes, permissão do pensamento e das palavras. Espécie de dúvida sistemática, qual dizem, por adoção tocar adiante o barco dessa vida humana que envolve questionar de ofício. Um direito, quiçá um dever.

Contudo, que poder temos, pois? De duvidar é insuficiente a contrariar o argumento maior da continuidade do mistério em ação, todo tempo. Habitamos a máquina mais perfeita que existe e dela desconhecemos as mínimas equações.  Ainda que seja deste modo, nada resta senão baixar a cabeça e concordar que, na verdade, muito pouco sabemos da real inteireza das existências de que somos parte e função.  

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

As fronteiras da Razão


Entre esta uma vez e todas as outras, nesse tabuleiro estreito da terra de ninguém, lá onde impera só o êxodo das civilizações de papel, ali moram os bruxos. Eles, seres estranhos, irreais, que carregam sacos de quinquilharias, sobras de refeições dos pássaros noturnos, asas de morcegos, cascas de árvores carcomidas, extintas, chás das ervas fantasmagônicas, perfumes exóticos, garras de animais retorcidas em noites de lua nova; tudo, por fim, que diga respeito aos mistérios das sombras adormecidas. Arrastam consigo crenças disso, num absoluto que de há muito deixou de existir nos seus mesmos corações empedernidos pela sorte agoureira, vã. Assim eles tangem seu rebanho das ilusões de viver na força dos poderes inexistentes, porém que vivem numa intensidade inimaginável dentro das cavernas escuras, e aferretam o corpo sadio das verdades deixadas cá neste mundo pelos místicos que sofreram a síndrome da perfeição e sobrevivem pelos céus.

Vemos isso a cada segundo que se extingue nas dobras dos fins das tardes bonitas do Sertão. Esses encapuzados seres que transitam ao som dos derradeiros cantos das aves do Paraíso e soltam lamentos de quem sumirá pela escuridão feitos rebotalhos de exércitos derrotados nas guerras de perpetuação das espécies abstratas. Vê quem quer e alimenta esse desejo transcendente de resistir às maldições dos que desaparecem tão logo a luz refaça na claridade das manhãs.

Vivem cheios disso, das flores do esquecimento, das relíquias dos santos que contiveram a ação devastadora do tempo. São eles os dias em sua fome voraz de triturar os anseios, que contam as lendas maravilhosas de todo instante; guardam de tudo um pouco, na trilha das almas em movimento, sem, igualmente, querer presenciar o que as memórias insistem dizer pelas estradas dos sóis.

As melhores lembranças viram, pois, trastes empoeirados nas prateleiras das casas abandonadas, tomadas por entes vazios, deixados apagados nas lareiras do transitório, que de lá nunca voltaram. Recordações, saudades, apegos que foram embora e perderam aqui suas tais quimeras de contos esquecidos em reinos bem distantes e eternos.   

Registros históricos


Hoje à tarde, em conversa com Gabriel, meu neto, vim a conhecer esta história da Segunda Grande Guerra, página dolorosa da Humanidade, episódio que fui pesquisar e aprofundar, que trata do seguinte acontecimento:

Sabe-se na história que o efetivo brasileiro entrou na luta junto das tropas aliadas no dia 02 de julho de 1944, incorporadas ao 5º. Exército dos Estados Unidos, data em que embarcaram 25 mil dos nossos soltados com destino à frente da Itália. No fragor da batalha, a FEB – Força Expedicionária Brasileira, cumpriria das mais cruentas missões, dentre essas a tomada de Montese, Fornovo e Monte Castelo.

Diante da tomada de Montese foi que ocorreu a história que quero aqui contar, isto quando três soldados brasileiros, em patrulha no campo daquela região, deram de cara com nada menos uma companhia inteira do Exército alemão, algo em torno de 100 homens, e não aceitaram a rendição, partindo para o confronto direto, sem outra alternativa que fosse existir, encararam com denodo a contingencia. Era o dia 14 de abril de 1945. Assim, eles resolveram defrontar o inimigo, pelejando até o derradeiro cartucho de munição, sendo em consequência eliminados pelos soltados alemães.

A coragem dos brasileiros, no entanto, impressionou sobremaneira até o comandante germânico, que ao enterrá-los apôs sobre a cova uma placa com os dizeres Drei Brasilianische Helden, Três Heróis Brasileiros.

Eram seus nomes: Geraldo Baêta da Cruz, de 28 anos, vindo de Entre Rios de Minas, Geraldo Rodrigues de Souza, 26 anos, natural de Rio Preto na Zona da Mata, e Arlindo Lúcio da Silva, de 25 anos, proveniente de São João del Rey.

Eis uma das tantas páginas que honram a nossa Pátria e demonstram o brio de nossa gente altiva e trabalhadora, de que jamais devemos nos esquecer.

domingo, 26 de dezembro de 2021

A lenda do quarto Rei Mago


Essa história circula na humanidade desde os primeiros tempos do Cristianismo e mais recentemente veio trazida à literatura pelo escritor holandês Henry van Dyke. Aborda a existência de um rei oriental que também soube que Jesus nasceria em Belém e seguira a Estrela no rumo da Judeia. Levava consigo rico tesouro em pedras preciosas.

Ao decorrer da caminhada, porém, dado encontrar pessoas carentes pelos caminhos, cuidou de atendê-las com fraternidade (E este Rei Mago os assistiu com alegria e diligência, deixando a cada uma delas uma peça de valor), gastou com isso parte do rico tesouro e os dias necessários a que chegasse no momento certo de encontrar o Filho do Homem e os outros reis junto da Manjedoura. Jesus e seus pais já haviam fugido para o Egito face à perseguição do Rei Herodes.

O sábio, no entanto, seguiu a procurá-lo. Sempre tinha notícias da presença do Divino Mestre onde quer que passasse.

Nisso transcorreram algumas décadas. Lá um dia, em Jerusalém, presenciou Jesus sendo julgado e condenado, e avistou ser Ele pregado na cruz aos apupos da multidão enfurecida. Macerado pelas dores que presenciava, então se rendeu ao desânimo e se reconheceu à inutilidade de sua longa jornada.

Ainda permaneceria em Jerusalém, exausto e alquebrado, já sentindo próximo o seu final. Lá certa noite, no alojamento em que dormia, notou intensa uma claridade semelhante à luz de mil sóis, quando viu chegar a figura magnânima do Cristo. Ajoelhado aos seus pés, ainda tinha guardado consigo uma das joias que tão carinhosamente trazia, a oferecer ao Mestre.

Em pranto de dor, carinhosamente pediu perdão de não haver vindo a tempo de avistar o Menino Deus nas flores perfumadas da manjedoura.

Foi então que Jesus lhe dissera:

- Você não falhou, meu filho. Pelo contrário, me encontrou por toda sua vida. Quando eu estava nu, você me vestiu. Eu estava com fome e me deu o alimento. Eu estava com sede e me deu com que mitigar a sede. Fui preso e me visitou. Bem, eu estava em todas as pessoas pobres que você assistiu no seu caminho. E muito agradecido por tantos presentes de Amor que meu oferecia naquelas ocasiões! Agora, você estará comigo para todo o sempre, porque dos Céus vem o meu reconhecimento e sua recompensa.

sábado, 25 de dezembro de 2021

Quantas perguntas e o mundo


Se a ciência quer ser verdadeira, / Que ciência mais verdadeira que a das cousas sem ciência? 
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

Tempos de rigidez ao sol do meio dia, eis o tanto que nos caberia tocar adiante e viver cada vez mais com gana a intensidade dos valores eternos, ao sabor das profecias e dos deuses. Época esquisita quais esquisitas foram todas as épocas e todas as vezes em que a história das imprevisões foi narrada em volta das fogueiras, nas horas das mil desatenções dos homens e das máquinas, e de todas suas tradições arrevesadas.

Na verdade, a existência de tudo nada representaria além da formação das nuvens pelos céus da consciência humana em um mero jogo de claro escuro entre partes alucinadas, em noites de ambição. Bandos de hienas soltas nas matas do desespero de que nada há de conhecer além do fim que lhes aguarda nessa comédia bufa e seus desejos e ambições.

...

Sempre que as palavras querem, assim, tomar e despejar o fel dos instintos e desesperos, acalmo, pois, os pensamentos e peço que compreendam a fome de viver de todos, também dos insetos, das lesmas e dos gigantes. A vontade que o sentimento impõe, nesse querer insano da falta de amor, de sonhos bons, trazer a intenção de saber o quanto é necessário acreditar na melhor sorte dos dias que vêm ao sabor das manhãs ensolaradas, donde nascem os mistérios de sorrir e ouvir do silêncio as confidências de que tudo anda no melhor dos mundos, e somos seus passageiros em movimento pelas fantasias que criam pássaros e flores sempre.

Das certezas que persistem, face ao que até hoje aconteceu em todos os lugares e nas florestas do passado, nada representa em vista da verdade real, a não ser que sustentemos a condição de parceiros dessa agonia em invenção que chamam vida. Ampliar o senso nos nossos passos e abraçar de vez o Infinito. Veja então o que resta fazer, e durma em paz no seio doce da divina Criação.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Há um mistério no dizer


Nessa vontade que a gente alimenta de querer dominar o impossível, vez em quando resta suportar os rigores das limitações do pequeno e do grande que já o somos. Daí vem aquilo de a gente pensar que diz o que esteja dizendo e que o outro pensa ouvir o que esteja ouvindo, na distância quilométrica das duas paredes que se interpõem na comunicação dos seres humanos. Lao-Tsé afirma que o verdadeiro Tao é indizível. E que o que é dito não é o verdadeiro Tao (Tao, a razão e fonte encontrada em tudo o que tem existência no mundo. www.dicio.com.br).

Bem estas as circunstâncias do processo da Comunicação que nos vemos a ele submetidos todo momento, inclusive, da gente com a gente mesma. Quais dois eus, em constante busca de compreensão, sofrem-se nisto conflitos monumentais. O resumo da história da raça vale tais confrontos de consequências dolorosas tantas vezes. Causa principal dos resultados diários da existência, esse improviso domina todas as instituições e ocasionam marasmos e pelejas. Quando, no entanto, haverá outros resultados que mereçam frutos melhores eis o império da razão.  

Desde sempre vem sendo deste modo, tais pratos de uma balança cósmica em constante oscilação, as teses filosóficas provam sobejamente o conflito das gerações consigo próprias. Hegel traz a dialética de Tese/Antítese, que geram a Síntese, uma nova tese, que enfrentará nova antítese, de que sucederá nova síntese. O Mal e o Bem, das religiões maniqueístas. O Inferno e o Céu, dos místicos. A Sombra e a Luz. A Lua e o Sol. O ego e o Eu superior. Anticristo e Cristo.

Porém nisso habita a fonte do equilíbrio universal de que somos fontes,  instrumentos e coautores, dentro da ciência da perfeição absoluta, tão logo identifiquemos o Eu verdadeiro, o fiel desta balança fantástica, nossa origem definitiva. A isto nos vemos e porfiamos à busca da harmonia dos contrários pelo sentimento puro e fiel do Amor, única fonte do Silêncio e da Paz. Isso tudo no simples dizer...

(Ilustração: Um baobá de mil anos).

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Os doces percentuais da sorte


 A isso que também chamamos de livramentos, em que tantos falam e que nos ocorrem à medida que defrontamos situações extremas e delas saímos ilesos quais miraculadas criaturas aos cuidados de forças ainda desconhecidas. Todos têm inúmeros momentos de que lembrar, quando o tempo fechara e, de uma hora a outra, surgem meios de permanecer livres dos dessabores do tempo. Ocasiões várias são desse jeito.

Ao furor permanente da Justiça suprema, existem as ocorrências do movimento que tudo rege. Sem sombras de dúvidas, a quem queira ver e sentir existe uma perfeita concatenação de fatores que gera o Infinito. Numa ordem mais que matemática, cresce o vento e balança o mar, e novas chances vêm aos céus de quem merece.

Bem isso de merecer, qual diz a população, fazes por ti que os Céus te ajudarão. Daí o senso de justiça que domina os acontecimentos mundiais e individuais.

Pois o Poder maior a tudo pode. Nisso vem de perguntar: - O que deduzem das leis do Universo aqueles que teimam e as confrontam na maior sem cerimônia? O que se passa no íntimo secreto daqueles que agem ao bel prazer das satisfações pessoais, tais fossem autores particulares da ordem que movimenta o Cosmos? Bom, paro e fico examinando a mim mesmo, que tantas vezes foco apenas em mim os interesses e esqueço os momentos e o senso. Então, segundo as Escrituras Sagradas, disponho nas mãos essas sementes de frutos bons e as escondo. A semeadura é livre. A colheita, obrigatória. Ouvimos quantas vezes e ignoramos essa Verdade.

Diante desse território do tempo nas vidas, o Eu é o presente, porquanto o passado passou e o futuro ainda não existe. Aqui, neste exato instante imperam todas as possibilidades dos acertos, enquanto muitos dormem sob o manto escuro da desatenção e da ausência de Luz.

É isto, ficam essas poucas palavras aos poucos que param nos textos e buscam sentido nestas parcelas do Tempo que nos são determinadas a que alimentemos Esperança e Fé, e colhamos Alegria e Paz na consciência.

(Ilustraçao: A persistência da memória, de Salvador Dali).

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

As funções deste Universo


As funções deste chão em que a gente vive, onde movimentamos de tudo, ao sabor das nossas ansiedades. Quase comum se imaginar que sabe tudo, e agimos feitos autores. Trabalhamos o tempo à medida que chegam as ideias. Fazemos, fazemos, daí o quadro atual dos acontecimentos. Quais quem acredita conhecer os mistérios da Natureza, essa estrutura maravilhosa, as lições passam longe de uma geração a outra.

Nisso e disso, dessa constante improvisação acentuada, deixamos de lado os aprendizados e encetamos sempre novas tentativas e erros ou acertos, mas sem gravar na consciência o velho sonho da Liberdade com responsabilidade. Daí, vêm os sofrimentos.

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Em face do Universo, eis o que somos. Tudo, diante do eterno das existências. Valiosos seres em ação nos trilhos do Infinito. Enquanto agir permite construção dos passos seguintes, tocamos as folhas em branco do Destino quais instrumentos da perfeição em movimento sob nossas mãos. Viver, pontear os céus em forma das nuvens que transitam pelo teto azul do firmamento, e sentimos em nós mesmos tamanha possibilidade.

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Os místicos falam que a realidade é mais adiante. Isto que vivemos equivale a mero sonho de que precisamos despertar. Espécies de seres improvisados neste tudo enquanto, só lá adiante distinguiremos o que seja a Verdade. Tais luzes em formação; um dia iluminaremos nosso interior e despertaremos da longa jornada rumo a nós mesmos. No campo das individualidades vive o plano da Criação universal, do qual significamos protagonistas. O espaço, o nosso palco. O tempo, o roteiro. Há conceitos importantes a fim de compreender o seja isto. Dentre eles a Reencarnação.

Muitos reclamam dessa possibilidade, no entanto bem representa o que há de perfeito entre as tantas noções. De uma vida a outra, os espíritos crescem da própria experiência e somam valores. Com isso, aprimoram a pertinência de trabalhar com os segredos deste Universo e distinguem o errado e o certo, até às raias da Felicidade plena.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Aceitar o silêncio


Essa a necessidade imensa que parece trazer à tona o que silenciosamente acontece lá dentro de si, e bem reflete a chama viva dos pensamentos e sentimentos. São eras e eras de esforço em transformar o silêncio do Tempo na matéria prima de estudos pessoais. Buscamos aflitas formas de responder ao desafio dessa continuidade, no entanto presos quase só aos conceitos repetitivos de outros e de outros tempos. Tais instrumentos de neutralizar o desespero dessa vertigem do desaparecimento constante, que morde sem descanso a alma das criaturas, insistimos vencer o silêncio da história que passa e ficamos atônitos de largar no passado ruínas e monumentos do que somos e antes fomos. Ah, quantas luas mais hão de vir até que despertemos da ânsia de encontrar o sentido de tudo isto que aqui ora experimentamos.

Enquanto que, ininterruptos, desfilam ao nosso lado os passos harmoniosos do quanto testemunhamos sem desvendar o tal mistério e estar e desfrutar de todos os meios da revelação que nos espera de olhos abertos na claridade do Sol de todo dia. E saber que a resposta mora no íntimo de todos sem nenhuma exceção, seres determinados ao Eterno que já o somos e ainda carecemos desvendar.

Horas, vidas, nuvens e pensamentos, e sentimentos, ruídos mil a inundar as clareiras do Silêncio, durante sua presença nas consciências em movimento. Quais câmaras de eco desse infinito ainda adormecido, tateamos o escuro das multidões às vistas de achar felicidade no varejo das horas mortas.

Ouvir, contudo, que a voz de todas as certezas grita forte no nosso coração, a pedir realização de um Eu maior que aguarda de braços abertos o final do corredor dessa longa aventura errante. Calar um tanto a pressa de desejar o domínio e viver intensamente com Amor no coração, quantos aguardam esse momento definitivo das respostas que habitam perenes na paz do Silêncio presente a todo instante no penhor das gerações.

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

O sol da Consciência


Sejam elas quais sejam, luzes ou substâncias, o que lhes dá claridade é a força viva da humana consciência. Sem qualquer distinção, tais expostas à luz do Sol, nós as iluminamos ao contemplá-las. Pouso das naves dessa percepção, sobrevoamos tudo em volta e divisamos a presença da nossa própria história naquilo em que fixamos a visão. Este sol, pois, somos nós mesmos, o que dá qualidade às coisas, pessoas e lugares, numa velocidade equivalente à velocidade da luz. Assim que notamos o mundo, dele fazemos objeto da nossa compreensão em movimento. Mágicos e videntes, tangemos as bordas dessas existências ao instante atual e alternamos a oportunidade que lhes oferecemos de preencher o espaço da nossa identificação, recriando mundos e universos instantaneamente, no fluir das intenções.

Criadores do espaço, no decorrer do tempo escrevemos a história à medida que nela projetamos esse poder infinito de identificar e produzir as cenas da realidade que nasce de dentro das pessoas e ganha essência na proporção em que essa consciência se faz ação efetiva, a lhes oferecer existências, no correr dos gestos de quem age e denomina. Em tese, sem que existíssemos jamais haveria existências.

Esse dom de produzir universos durante as horas equivale ao que denominamos poder, razão maior de ultrapassar as limitações físicas e desvendar o mistério das individualidades. Interpretar o significado e a motivação de vir aqui e tocar adiante o princípio da vida, causa primeira de tudo quanto há. Espécie de labirinto em formação, percorremos todas as estações da natureza através de nossa consciência criadora.

Contudo essa tal compreensão necessita da mesma condição de a gente denominar também esta significação no interior, dentro de que fazemos parte, a preencher de percepção o que vemos e sentimos na alma, existências vivas nesse espaço interior que somos nós desde sempre, até que iluminemos a nós próprios, motivo de todas as existências em nós.

sábado, 11 de dezembro de 2021

Tática de avestruz


Quem não sabe é como quem não vê.
Sabedoria popular

Tanto tempo a passar pelos mesmos corredores e as gerações deixam claro que praticamente exercitam muito pouco daquilo que aprenderam na longa estrada de tantos séculos e milênios de peia. Qual quisessem enganar a si, multidões repetem fórmulas vencidas e padecem das mesmas deficiências. Esquisito se não fosse o tanto de dolorosa verdade que isto encerra. Pouco ou quase nada desvendaram das leis que regem este Universo. Numa espécie de Lei da Gravidade espiritual, vemo-nos a ela submetidos, isto sem ter que pedir explicação. Essa a luz da consciência, o que por demais carecemos durante toda Eternidade.

No entanto há limites intransponíveis que sustentam as bases das existências, independente de soberba dos humanos, e estabelecem as fronteiras e os destinos. Quiséssemos justificar as leis da História e ver-nos-íamos diante desses limites indevassáveis além de toda vontade individual.

Existem, portanto, evidências definitivas as quais pressupõem valores até então vulgarmente desconhecidos. Quedamo-nos tais cegos de nascença no reconhecimento desse Poder, aprendizes da sorte em condições primárias. As filosofias, os mestres, santos e místicos buscam aprofundar a compreensão geral, porém submersos às restrições generalizadas da grande massa. Daí, ainda que vítimas das próprias alucinações, a horda segue, passos largos, na direção dos abismos que criam constantemente, esquecidos das dores do passado.  

...

Assim, embriagados no desconhecimento, ignoramos todas as evidências dos segredos e mistérios da Natureza, querendo reinventar aquilo de que somos meros aprendizes, num improviso de causar espanto; deixamos, pois, o corpanzil da raça humana à mercê das consequências dos seus atos e escondemos aquilo que seriam as normas da inteligência debaixo das sombras, na incerteza. Vítimas, pois, desses equívocos, tocamos a vida ao encontro de uma razão maior que nos espera sem qualquer dúvida.

O resumo da história conta disso, das carências de lucidez nas atitudes, quando são urgentes outras práticas sob os princípios da paz, revestidas nos hábitos de aceitação dos valores que façam notar a importância dessa transformação. Saber, sabemos. Que dia resolver, isto reclama dos sonhos a coerente providência neste mundo antiquário.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Aflição populacional


Desde que os grupos de poder observaram que o excesso de gente na Terra ocasionaria mais e mais demanda por alimento e pela divisão dos recursos naturais, pondo a risco os lucros do capital em detrimento do trabalho, passaram a maquinar urgências de conter o crescimento desordenado da população. Vieram, com isso, as teorias políticas materialistas, sobretudo após a Revolução Francesa, quando, então, foram sendo questionados os valores arcaicos do domínio dos impérios, e que custaram logo adiante duas guerras mundiais de horripilante memória. Evidenciou-se que a explosão populacional traria desconforto aos donos das bases econômicas, e as elites se insurgiriam e manipulariam sobremodo os bolsões de pobreza, por meio das táticas políticas e legislativas na grande maioria das nações menos desenvolvidas, como ficou evidente na história.

Nisso, dentre alternativas visíveis, haveria a divisão das fontes de produção pela coletivização, no entanto as ditas revoluções socialistas, nessa perspectiva, resultaram infrutíferas e geraram novas elites de poder, o que hoje basicamente caracteriza o quadro mundial da geopolítica, fruto de tentativas frustradas nessa redivisão da riqueza através das lutas de classe.

O panorama atual persiste, pois, sem maiores modificações, com as nações ricas a gerir o poder econômico agora sob o símbolo das avançadas tecnologias da informação e do monopólio severo dos bens de produção e dos mercados, sempre nas mãos dos abastados poderosos. Ao mesmo tempo, as populações pobres seguem ao largo sem um lugar ao sol, num crescimento de progressão geométrica desordenada, face a face com o crescimento econômico apenas em nível aritmético.

A esse tempo, os métodos de dominação e redução humana continuam pensados e praticados através das divisões étnicas em conflito, nas guerras de extermínio, da fome avassaladora e do domínio das lideranças perversas e dos profissionais da ganância política.

Até esta data, todavia, nenhum recurso racional de equilíbrio populacional coerente se fez valer além de teses universitárias isoladas, por vezes distantes da realidade e de uma justiça esclarecida, deixando à margem os dotes clássicos da inteligência e dos espíritos evoluídos.

Vivemos, a bem dizer, o marco zero da igualdade tão necessária ao exercício desses conceitos sociais honestos, onde o sonho de todos da tão desejada paz da Humanidade venha a ser posto em prática. De certeza, isso não virá através da redução populacional bárbara a troco das atitudes insanas ou discriminação de qualquer natureza. Há de haver bom senso e princípios solidários que a todos atendam sem qualquer distinção, através das virtudes significativas do amor e da fraternidade, razões essenciais de tudo que existe e existirá perante a verdadeira natureza espiritual dos seres humanos.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Este ser que somos nós


Uma réstia na vastidão dos infinitos; o transporte das individualidades que desmancham no firmamento das horas feito relâmpagos nas noites escuras da solidão. Pessoas, indivíduos, criaturas... Rastros de perfeição inimaginável, sequenciamos viver sob esse teto de pensamentos e sentimentos, ondas inteligentes formadas pelas praias do talvez.

Mergulhar esses nós que somos equivale existir dentro das paredes em movimento onde habitamos, escafandros de matéria, quando ora administramos conduzir a consciência em elaboração e classificar objetos e lugares, ideias e pessoas, numa efusão aparente de liberdade, no entanto cercados de limites invisíveis, inexpugnáveis. Quais autores de nós mesmos, apenas exercitamos a ginástica das horas, mágicos na essência de que nem conhecemos a origem e os motivos de estar neste chão.

Nisso, vem fome de conhecer que impera no desejo de eternizar os momentos que nos fogem apressados no tempo, contudo meras alimárias de rebanhos invisíveis, debaixo de leis que quase desconhecemos e, de modo bárbaro, fazemos delas largos esforços de cumprir o leu da sorte, no roteiro das ausências. Claudicamos assim submersos a normas que contrariamos, e temos de responder nas vidas que se repetem, escravos e senhores desta humana condição.

...

Nessa vontade forte por demais de a tudo superar, chegam ânsias de interpretar o destino abandonado em nossas próprias mãos de aprendizes da felicidade, entretanto ainda só pacientes da dúvida. São muitos os dias de expectativa que batem insistentes nas paredes foscas da gente, tateando na escuridão dos mistérios e parceiras da loteria das ilusões; quase nunca detentores de marcas inatingíveis, outrossim lutadores nos ringues de um prazer insaciável da carne.

A pretensão, portanto, de lá certa vez desvendar de todo esse enigma de que nascemos e junto de quem adormecemos e acordamos, vamos estudando as lições, selecionando o clima das atitudes, porém já cientes de haver apenas isso de persistir na busca do sentido absoluto da certeza que nos traz até aqui e, pacientemente, espera que despertemos do sono cataléptico das almas aflitas, e participemos dos frutos da vitória a mais esplendorosa.  

domingo, 5 de dezembro de 2021

Neste universo da gente


Há um rio a correr dentro da gente, formado de tudo quanto se viveu, amou, padeceu, acreditou, e que nunca interrompe seu curso indefinidamente. Cenas marcantes de relacionamentos com a realidade, com as emoções, enfieira dos dias, que a memória grava nas paredes da alma. São sinais desses mistérios ocasionais de tudo que se experimentam sem interrupção, num movimento interminável, pelo vasto oceano das vivências sucessivas. Marcas e pessoas, entranhadas nos sentimentos e lugares das circunstâncias vividas, demostram as lições de que sempre assim existimos depois de conhecê-las, numa espécie de cenário das histórias e dos momentos, territórios onde representamos as peças de nossa humana condição. Força descomunal constrange esse itinerário, assegurando todo tempo que existimos, portadora do saldo das experiências de que haveremos de nos libertar tão logo encontremos o foco essencial de uma consciência clara lá adiante.

Nisto, sim, num objetivo certo, a razão do tanto de existir eis o sentido natural desse encontro consigo que resta basicamente desvendar; do ser pessoal que adquiriremos durante a presença neste mundo. Nada existe de mero acaso. As proporções originais do labirinto em que movemos nossa consciência significam este curso original das existências, peças-chave de onde nascemos a construir um novo e definitivo Ser. Somos quais navegantes de nós mesmos, autores do que resta descobrir nestas águas sacrossantas de onde advêm os instrumentos de nossa libertação.

A isso, na busca do encontro a que os místicos e conhecedores das profundezas do Eu interior trazem luzes, nessa revelação em movimento, a Civilização afirma seus conceitos culturais. Cabe, pois, elucidar os refolhos da alma e achar de vez a forma de solucionar os dramas atuais da personalidade em crescimento.

(Ilustração: A queda dos anjos rebeldes, de Rubens).

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

A intuição


Dessas variantes que chegam em ocasião necessária e trazem consigo milhares de pequenas partículas de longas jornadas mentais, invadindo o deserto da gente e esfacelando de vez a sequidão do silêncio. Chegam, e determinam. Impõem, até podemos dizer, qual sonho que se houvesse real sonhariam longe das mais vagas previsões. Trazem de junto, no entanto, respostas a quantas perguntas que viviam vagando os céus da consciência, talvez fora de propósitos, mas que pediam resultados, a fim de escolher um caminho a seguir. Então, abrem alternativas de modo que restam disso tão somente andar pelo espaço da imaginação na busca de conhecer aonde ir nessas paisagens da existência.

São assim as intuições tais inspiração de momento a momento, resgando clareiras nessas florestas dos dias, talhos imensos no teto do universo em movimento de dentro das pessoas. E daí, surgem questões de querer saber também o que nadaria no íntimo das outras criaturas, que diriam a si que presenciassem da própria história. Mesmo que sejam só figuras de preencher o território que ocupem, no entanto se não iguais pelo menos que sejam tão parecidas com a nossa identidade.  Gente, afinal.

Nisso, nos observando, queremos conhecer que, se somos iguais às outras criaturas caminhando ao nosso lado, ao menos saber quem o são, e nós iguais dessa forma seremos. Essa procura insana de revelar o ser de dentro, se nem saber o que eles, os outros, sejam, de maneira semelhante vagam todos no tempo feitos fervilhantes pensamentos em ação inevitável.

Intuir, pois, eis o formato de transcrever no sentimento aquilo que as horas quiseram falar e deixamos de interpretar, esse esforço sobre-humano de salvar a pele e trazer à tona conteúdo às nossas almas vazias. Sustentar o enredo das histórias individuais, porém só meras peças soltas de descomunais quebra-cabeças, numa constante agitação. Fagulhas de fornalha acesa sob camadas sucessivas de terra em que antes fomos o abismo desse nada que bem ali permanecemos até desaparecer.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Dias melhores já vêm


Nesses mecanismos das horas durante os quais ocorrem os fenômenos da natureza, dentro deles existem reservas inesgotáveis de possibilidades abertas todo tempo aos seres humanos. Inclusive vindas do âmago desses mesmas criaturas tão ricas de modificações aos quadros existentes, haja vista o quanto de evolução da técnica desde sempre vem acontecendo, abrindo espaços às maravilhas dessa natureza humana, sua comunicação, seus transportes, sua ciência revolucionária. Que mais esperar dessa evolução sem limites, a não ser perfeição dos métodos e a prática dos novos conhecimentos na área da psicologia voltada ao progresso das coletividades, à divisão da riqueza, herança comum a todos, e a uma paz e amizade fraternas como jamais imaginado diante dos acontecimentos antigos. São chegados, pois, esses momentos de solidariedade que tantos aguardamos no transcorrer das gerações, quando seremos, então, irmãos de verdade, e ampliar nossos conhecimentos de viver em grupo, voltados ao bem de todos, sem exceção ou divisão.

A isso nunca será demais mergulhar nos nossos sentimentos e desvendar segredos da consciência que imperam no nosso íntimo, razão de estar aqui, motivo da persistência desta vida no seio da história mãe. Trabalhar meios de somar esforços pelo sentido da confiança e dos valores positivos. Vêm de longe tais esperanças, isto por meio da cultura, das artes e do senso de aprimoramento das instituições.

Sem sombra de dúvidas, agora isto repousa nas atitudes dos indivíduos, quando aceitem renovar os métodos de trabalho e de compreensão de que os bens da natureza da Terra pertencem a todos, nisto suficientes à causa principal de aceitar as contradições e trabalhar a igualdade de condições pelos favores do tempo. Foram muitos séculos de expectativa até desvendar a urgência de voltar nossos esforços pessoais ao interesse da sociedade como um todo. Por isso, perante a inevitável percepção de que somos um ente único e indivisível, chegam dias de pura transformação das mentalidades em universo pleno desta visão igualitária e fértil dos dias de hoje.