domingo, 28 de setembro de 2025

O luar das contingências


Mergulhar pelos mares do passado e a isto se permitir continuar. Denotar as circunstâncias que voam de algum lugar, quais atrações de um mundo à parte, depois meras recordações. Ali desfilam miríades de pensamentos, atitudes, expectativas, espécie de espetáculo que jamais findará, conquanto de testemunha. Ser-se e desfazer-se nas tantas luas deixadas ao limbo. Assim quase existir numa linha de produção de si mesmo. Esses seres em movimento, espalhados nas telas de películas segredadas aos próprios atores e diretores, fincadas que foram no solo de antigamente.

Disso, desse panorama individual, faz-se viver o vazio das lembranças, pedaços de quantas vezes ali consistentes no lugar das memórias. De certeza, mundos hão de persistir noutras horas, arquivos do anonimato das criaturas que viveram. Enquanto isto, no presente, insiste a máquina produzir novos sonhos. Estampas dos tecidos daquele pretérito é o que sustenta a lei da personalidade. Regressar lá que possível fosse, talvez nem de longe pudesse refazer o que ficou atrás e começar de novo.

Essa matéria-prima de tantos roteiros incontáveis significa, pois, estar aqui e pisar este chão. Conter os sentimentos e degustar imagens, palavras, cartel de inesquecíveis bênçãos, quem sabe?! Frutos do silêncio deste antes que sumiu inesperadamente, dali emana o repasto das aventuras e dos desejos humanos. Por certo num imaginar qual seja a liberdade que tantos aspiram, deixam escorrer dentre os dedos visagens e aventuras.

De que nunca há de duvidar, no entanto, é-se pastor do Tempo, filhos e senhores da consciência dos instantes que passam. Habitantes de um caudal infinito, tocam rebanhos de providências e aceitam vivenciar a espera de si nas estações de quantas ocasiões. Viventes, contudo, das epopeias escritas nas almas, insistem desvendar esse mistério, e, qual o quê, dobram sem compreender de vez a sinfonia dos destinos.

Ser-se-ão indagações pertinentes e lutas de querer interpretar a qualquer custo o nexo de preencher as crisálidas do desconhecido.

(Ilustração: Prometeu, de Rubens).

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