quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Encontro consigo mesmo


Quase que esquecemos a gente no decorrer dessa vida. Vagamos soltos nas florestas onde vive o ego e deixamos que as sensações nos conduzam estrada afora. Nalgumas vezes, até que tomamos a iniciativa de parar e enxergar um pouco além. Contudo cheios de dedos, olhos à frente e atrás, numa marcha corrida de fugir da gente própria, quais alimárias doutros rebanhos que não o nosso. Mínimo bichos esquisitos esses tais de seres humanos. Dotados de almas e se pelam de medo das outras almas que apareçam nas noites caladas e escuras. Cabe de tudo na descrição das pessoas; nalgumas horas, ingratas; noutras, indiferentes; lá adiante, circunspectas, dedicadas a causas nobres e ideias nunca imaginadas, e jamais vistas noutras ocasiões que fossem, missionárias de tanta luz que chegam a encandear as multidões, a merecer altares, cerimônias, cultos, reverência, e sendo um semelhante de tantos que agem no sentido contrário no igual período.

Nessa peleja de viver (existir), trombam diariamente com outros e esquecem-se de si. Mourejam pelas bordas e nunca aceitam mergulhar de corpo inteiro nos dramas individuais, na sede constante de contar histórias maravilhosas e dormir no paraíso das ilusões. Bom, mas nem de longe pensam assim, ainda que digam, escrevam, que haja desses próximos, distantes ou dentro das criaturas que pensam. Cantam loas, tiram benditos, sacramentam cerimônias, e olham desconfiados da hora em que haverão de abraçam a condição exorbitante de ser para sempre.

Ao transcorrer dos céus, igualmente, dão de cara com o destino que lhes aguarda de olhos enviesados, sonhando nas películas inimagináveis de esperança de que, certa feita, resolverão silenciar de vez o burburinho das festas profanas e abrir o livro das circunstâncias, e nisso abraçar o que desse jeito haveria de ter sido no correr das gerações.  Pois a tanto estamos nesse barco de procelas e calmarias, atores dos roteiros fantasiosos de alternativas várias, porquanto o itinerário já veio traçado nas tábuas do Destino. Quando, nisso, bela manhã de sol intenso, aceitaremos de tudo a definição do quanto de sonhos nos reserva o Infinito.

(Ilustração: Casa abandonada, reprodução).

Caprichos da memória


O nosso corpo demonstra as riquezas inestimáveis do poder da Criação. Nos cinco sentidos, por exemplo, quanta magnitude a todos envolve, sem havermos contribuído em nada para sua concretização! Quantas sofisticações demonstram olfato, tato, visão, gustação, audição, perfeições absolutas em ponto graúdo.

Na inteligência. Na imaginação. No senso do equilíbrio. Na fala. Nos órgãos internos, coração, pulmões, fígado, intestinos, baço, rins. No sentimento. Na concentração do pensamento. Em tudo por tudo, mistérios insondáveis bem demonstram o infinito valor da Ciência Universal.

Porém dessas maravilhas do corpo humano uma se sobressai pelas atribuições que lhe competem, a memória, dona de lugar preponderante em nossas vidas. 

Isso porque, além de vivenciarmos pelos sentidos as possibilidades de conhecer o mundo, é a memória quem cuida para que esses registros permanecem guardados, eternizando as experiências individuais, num arroubo de enorme sabedoria...

A respeito disso, estudos realizados com pessoas idosas atestam existir como que dois níveis específicos na memória, quais sejam: uma memória antiga, de guardar os mínimos detalhes das épocas da infância, adolescência, juventude. E outra memória, essa mais recente, ou atual, responsável pelos dados relativos ao tempo presente, inclusive dos que chegam na velhice.

De comum, no decorrer da vida, haverá perda progressiva da energia mental, manifestando-se em forma de amnésia quanto aos acontecimentos próximos, enquanto persistem intactas, nítidas, as lembranças daquilo verificado nos tempos pretéritos.

A ilustrar esse fenômeno de decadência física, num sábado desses, ouvia do radialista Antônio Vicelmo, no microfone da Rádio Educadora, em Crato, história engraçada de três senhoras idosas que comentavam a propósito da senilidade, lembranças atuais.

- Com o tempo, venho ficando esquecida até das coisas que no momento estou fazendo – afirmava uma delas. – Às vezes, vou subindo a escada lá de casa e paro sem saber se ia subindo ou descendo. Coisa desagradável de experimentar – comentou preocupada.

A segunda também quis trazer um exemplo e disse: - Comigo acontece parecido. Já me peguei, numa dessas manhãs, sentada na beira da cama sem saber direito se estava acordando ou se me preparava para dormir – considerou.

A terceira simpática vovozinha, por sua vez, orgulhosa da sua vitalidade, estabeleceu: - Eu falar em velhice?! Nisso de perder memória... Nem imaginar – e foi logo se apressando em bater na madeira, jeito do povo afugentar coisas aziagas.

Ao ouvir as três batidinhas que ela mesma acabara de produzir, não se conteve e rápido perguntou: - Quem está aí? – ao tempo em que se dirigia à porta da casa, na certeza de atender alguém que chamava lá de fora.

Falassem, pois, de incidentes da mocidade e essas ilustres senhoras decerto reviveriam falhas outras bem menos involuntárias, admito neste ponto sobre essas considerações.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Santa Felicidade


Ela viveu num tempo de martírio. Felicidade era escrava; estava grávida de oito meses e deu à luz a uma menina, no cárcere, dois dias antes de morrer. Nos seus gemidos durante o parto, um soldado, zombando lhe disse: “Se te queixas agora, o que será quando estiveres diante das feras”; ao que ela respondeu: “Agora sou eu que sofro, mas lá fora, um Outro estará em mim, e Ele sofrerá em mim eu sofrerei por Ele”. https://cleofas.com.br/o-martirio-de-santa-perpetua-e-santa-felicidade/

Um dia, conheci uma senhora (Dona Felicidade) que vivia cercada de sérias dificuldades físicas. O nome de tudo tem seu significado. A gente existe, mesmo nessa intenção, de chegar à estação da felicidade, por ser disso a origem. Tudo só depende de nós. Desde querer até realizar. Nisso, as tais interrogações do caminho: aonde chegar, quando chegar, bases tantas da realização de todos.

Gosto de conhecer a história das pessoas. Trazem riquezas valiosas que falam também de nossas vidas, porquanto aqui vamos à disposição de, lá um tempo, achar a porta e ganhar a libertação dos limites. As técnicas ditas pelos mestres, santos, filósofos, revelam bem a que viemos. Dão notícias dessa jornada dos humanos. Ainda que perante os desafios, equivalemos a buscadores da plena salvação que ora habita nas pessoas.

E felicidade corresponde a isso, ao encontro definitivo conosco próprios, na sede da alma, ali onde moram o senso e resumo das histórias individuais, enquanto que as palavras oferecem a oportunidade que carece de interpretar os destinos. Quais mães de novas esperanças e perpetuações, ela persiste pela força do conhecimento, seres abençoados de paciência, honestidade, confiança, gestos firmes da Natureza em volta da consciência.

O mito da Felicidade fala, pois, de quando seremos novas criaturas, seres livres, exemplos e luz da Humanidade que ora trazemos adiante. Esse momento sublime só depende aceitar, de uma vez, essa luz que mora em nós.


terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Essa fome de viver


Uns que se alimentam de passado, outros de ilusão, na doce vontade que só cresce no decorrer do tempo. Carência tanta de encontrar o lenitivo de tudo quanto existe nos hemisférios, pensamentos e sentimentos amontoados, guardados na alma. Aonde for e lá ressurgem esses entes ansiosos das criaturas humanas, encapuzados nas folhas secas do mistério. Repórteres de si mesmos, mordiscam as migalhas jogadas fora no transcorrer dos dias. Claro que acreditam no que fazem. Sustentam as teses que nasceram consigo quais vendedores das próprias carnes. Luzes que piscam na escuridão das consciências ainda adormecidas. São cores infindáveis na tela das individualidades. Porém ser assim eis o motivo de andarmos nesses precipícios da iluminação. Viemos numa missão a ser interpretada no decorrer das existências, aceitemos ou não de bom grado.

Há um sentido de estar aqui, sentença em movimento que somos nós. As árvores dos momentos às nossas mãos oferecem variados frutos. Dotados de valores, plantamos ações e colhemos destinos. Nada importa o valor que nos demos e o que outros queiram julgar. Peças de um quebra-cabeças móvel à nossa liberdade, apenas seremos quando encaixar nos lugares certos aquilo a que estamos neste chão.

As palavras falam disso com absoluta propriedade, no entanto ao sabor das interpretações que bem dependem do grau dos desenvolvimentos pessoais. Nada de pura moralidade. Apenas atitude da Natureza mãe e criadora desse nós que cá habita dentro da gente. Quanta disposição que fossemos o autor de tudo. A Terra vive cheia desses pequenos seres cheios de fome de viver à busca do alimento que transporta no íntimo no processo de conhecer e utilizar com sabedoria. Demora, precisa de prática, de atitude, experiência e de nada depende a não ser da disposição de ler no silêncio e viver em Paz.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

O Cariri místico


A região denominada Cariri, situada no sul do Ceará, fronteira dos estados de Pernambuco, Piauí e Paraíba, possui características diferenciadas no seu entorno geográfico por apresentar clima menos tórrido, vegetação de cerrado e vale fértil, isto em face da Chapada do Araripe, em torno da qual se estabelece.

Suas principais cidades, que formam um triângulo próspero, Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, surgiram nos rastros do Ciclo do Couro, desvinculada, pois, dos primeiros europeus que chegavam no litoral norte da Capitania.

As tradições originais, talvez por tais motivos, reservaram costumes bem característicos, em parte ligadas ao passado medieval português e ao catolicismo romano, em parte forjada nos remanescentes indígenas dos antigos habitantes.

Da miscigenação das duas culturas resultaram mitos ainda hoje anotados nas lendas correntes da caipora, protetora dos animais das matas; o lobisomem, mistura de humano com lobo guará; das mães d’água, locais onde se formam poças remanescentes, nos rios, escondidas entre pedras e barrancos, cobertas de vegetação; e do carneiro de ouro, que, dizem, surge ao pôr do sol em lugares de pedras e de rios.

Com relação à fundação da cidade de Crato, há versão de que a vila se desenvolvera de antigo ponto de pouso de viajantes, carregadores em lombo de animais, tangedores de gado, onde vivia primitivo bruxo de nome Fidelis, arruado que depois conhecido por Curato de São Fidelis, até a Crato..

Sabe-se pelos estudos geológicos que, do outro lado da Chapada, onde hoje existem os municípios de Santana do Cariri e Nova Olinda, no período Cretáceo, há milhões de anos, havia cobertura de mar, movida com as transformações da superfície do Planeta.

Alguns aspectos da herança popular trazem à baila, pela mitologia, notícias da existência, embaixo do altar mor da Catedral da Sé, em Crato, do que nomeiam a “cama da baleia”. Quando os primeiros capuchinhos construíam a igreja, ao realizarem as obras iniciais, depositaram imagem trazida de Portugal da Nossa Senhora do Belo Amor no altar principal. Os habitantes questionavam a localização, porquanto a santa dali desaparecia, do dia para a noite, indo ser achada em sítio diferente do escolhido.

Dentre o que divulgam de visões do Padre Cícero, contam que, certa vez, viajando a cavalo entre Crato e Juazeiro, teria, em rápido cochilo, presenciado em sua frente um peixe graúdo, à altura de seu rosto.

Um incidente histórico registra que o Sítio Caldeirão, mais adiante sede da comunidade Caldeirão do Deserto, liderada pelo Beato Zé Lourenço, ficou assim nomeando em face de nele haver sido encontrado o corpo sem vida de um jesuíta fugitivo das perseguições do Marquês de Pombal. Nos acontecimentos do Caldeirão do Beato, comunidade rural mística veio se ali organizada, depois extinta, nos finais da década de 30, pelas forças militares.

O beato José Lourenço possuía animal, o Boi Mansinho, motivo de reverência pelos seus seguidores, o que estudiosos identificam com a figuração do Boi Ápis da Antiguidade Egípcia.

Há, também, aquele que pode ser classificado como o mito maior da região, a Pedra da Batateira, que diz respeito à maior da numerosas fontes de água que jorram das encostas da Chapada. Segundo consta do imaginário popular, ao se verem vítimas dos colonizadores portugueses que lhes tomavam as terras, a natureza e a liberdade, os índios lacraram com pedras, madeira e resinas a boca do vertedor, amaldiçoando os estrangeiros com a profecia de que, um dia, essa fonte ressurgiria com maior intensidade e explodiria como a nascente de rio volumoso, a levar de roldão as povoações que encontrasse em seu curso.

A propósito, segundo hipótese corrente, no interior da Serra do Araripe existiria mais água, em reserva geológica, do que no espaço da Baia da Guanabara, no Rio de Janeiro.

Juazeiro do Norte, município estabelecido sob a égide do sacerdote católico Cícero Romão Batista, caracteriza-se pelo aspecto místico de sua cultura, agregando romeiros, beatos, rezadores, pagadores de promessa e, até, uma ordem religiosa surgida sob o título de Aves de Jesus, com trajes e regras próprias.

O território caririense revela, portanto, universo propício a pesquisas detalhadas quando aos modos de seu povo manifestar o Inconsciente Coletivo por meio das artes visuais, do artesanato, rituais, danças, literatura oral e religiosidade fervorosa.

O fenômeno do Padre Cícero, suas romarias anuais e os locais sagrados de Juazeiro do Norte, por exemplo, guardam estreita ligação com as mais ricas manifestações e buscas dos seres humanos na busca de desvendar os mistérios do Desconhecido.           

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

O Tempo e o Infinito


Há momentos quando resolvo exercitar algumas avaliações daquilo que significa estar aqui e poder considerar as tantas qualidades deste mundo. Algo assim tal, no mínimo, admitir o quanto de maravilhas nos envolvem e de que quase nada sabemos interpretar. Desde mínimos detalhes desse todo onde habitamos e nele seguimos quais peças, porém sem o poder de compreender.

Isto desde a vida em que existimos até esse Universo estonteante de fenômenos que nos cercam e que carecemos dominar a nosso próprio proveito. Quais espécimes imaginárias, mergulhamos neste mar de atmosfera, vemos o céu, os astros, a natureza em volta, formamos um corpo exato de rara fabricação, falamos, sonhamos, criamos, procriamos, enxergamos, nos alimentamos, tudo sob leis inevitáveis. Pássaros deste firmamento ilimitado nele divagamos, por vezes erramos ou acertamos, livres e prisioneiros de destinos inarredáveis. Seres que somos, indagamos e chegamos a conhecer mistérios profundos de que, tarde ou cedo, haveremos de largar ao sabor das novas interrogações.

Deles todos, de todos os  artefatos que compõem a inelutável sinfonia dessas tradições milenares, duas evidências rasgam as vistas da consciência humana, dado o esplendor de sua grandeza, o Tempo e o Infinito.

O Tempo que transcreve tudo em nossos pensamentos, memórias e realizações, e nele sumiremos como num passe de mágica no para sempre da Eternidade. Tempo, o Senhor Tempo, autor das tradições, das civilizações, que vêm e vão ao sabor da História. Que revela segredos ocasionais e tange a barca do Destino no furor de muitas eras. Em que nele passamos e ele, por si, permanece impassível nas rochas do depois qual se nada lhe fizesse diferença entre o ontem, o hoje e o amanhã. A que os gregos denominaram de Cronos, o deus que pare e devora seus próprios filhos.

E o Infinito, por seu turno, o Cosmos, inextinguível, de todas as luzes e todos os amores qual revive para sempre pelo Tempo que segue seus passos. Quanta beleza, poemas escritos de um autor Supremo, senhor absoluto do quanto persiste ad eternum, fulgor e paz no coração da gente. São, pois, meras cogitações em que busco, lá um dia, me encontrar comigo e comungar da Natureza na presença das ideias e palavras, neste silêncio profundo de quantos corações, o que nos acalma e sustenta diante das horas e dos lugares.

Uma só e aparente solidão


Nessas manhãs de dezembro, dia chuvoso, frio, daí a gente lembra outras ocasiões de manhãs de dezembro, dia chuvoso, frio, e se imagina de novo a viver aquelas ocasiões. Revive o que existia no ânimo através dos pensamentos. Lembranças vagas de angústias, saudades, ausências. No entanto jamais, que seja, estaremos sozinhos face às existências em movimento. Acalmar os sentimentos e observar em volta. Os sonhos falam disso, de viver as horas na forma de poder aceitar que tudo estava seguindo certo no objetivo exato.

Afinal permanecemos sob nosso comando e colhemos o plantio daquilo que plantarmos de paz. Foram muitos momentos quando ouvimos dos mistérios seus segredos. Sempre haverá o pouso das razões no intimo, lugar do que tanto buscávamos que já estava aqui conosco. Excessos de procura enquanto permanecemos no mesmo universo que somos.

Um a um, compomos o quadro deste mundo. Partículas em ação que persistem na busca das causas definitivas. Encaixes perfeitos dos sentidos que procuramos e precisamos compreender o que trazemos na face. Desde que olhemos dentro dessa presença de ser, acende a luz da Criação, porquanto senhores da revelação.

Desejos e aspiração de harmonia moram na consciência. Contudo haverá ao nosso dispor as atitudes perante o Infinito. Uma simples providência, as escolhas, determina o resultado que quisermos. O mais serão os frutos do futuro. As sementes, os pensamentos, as palavras, as práticas, vêm abrindo nossas estradas e acalmando a sequência natural da evolução.

Nessas manhãs frias, chuvosas, de dezembro, ao escutar o canto dos pássaros pelas encostas da serra e observar pequenos detalhes dessa imensidão, um pouquinho de lembrar-se de si fará enorme diferença. Oferecerá fortunas de bênçãos. Trará o que desejamos. E as cores da natureza em volta ganharão novo brilho de amor e paciência.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

O fascínio das palavras


Quem lá um dia criou a primeira palavra reconheceu que ali perto havia uma razão de ser e expressou o sentimento do que vinha gravado no bojo dos eterno significados s. Desde então que elas nascem quais seres vivos, expressão do silêncio de que resolve transmitir, de um a um, no senso dos seus significados. O mais veio na forma de acréscimo, espécie de gestos naturais das memórias guardadas pelo Tempo, nesses minúsculos seres animados em constante que somos.

No transcorrer de tudo, justos motivos de continuar em ação, a própria Natureza se encarregou de levar adiante o sentido das palavras, águas dos rios da existência, a formar esse caudal imenso de histórias e segredos que têm, obrigatoriamente, de vir à tona, frutos das raízes bem profundas. Não houvesse e que motivo de conhecimento preencheria as florestas do Infinito?! Que outro alento haveria de organizar o mundo, os objetos inanimados, as dores, os momentos, as pessoas e as festas de tanto anonimato espalhado neste mundo?! Aonde esconder os sinais do que nunca antes fora levando em conta?! A quem contar o passado que alimentou as fornalhas do futuro senão através das palavras atiradas ao vento, a meio de tanta solidão de seres angustiados na ação de viver?!

A quem dizer, pois, das perdidas e tamanhas ilusões e ter de sustentar a fome de viver, de prosseguir e somar as experiências no mesmo palco cheio de luzes que acedem e apagam?! Elas, as palavras, que cuidam disso com maestria, em meio do quanto do desespero humano afeito a essa chuva de novidades da memória. Falam baixinho na alma e confidenciam certezas e livros santos. Revelam possibilidades, nutrem sabores de perguntas aos laços do Destino. E eles, os autores das cartas, no teto da Consciência, apenas fitam o vazio e aguardam calados a esperança dos dias incessantes.

Colher de onde e plantar aonde essas sementes que multiplicam o doce alento de sustentar o desejo e achar Deus; elas respiram e renascem a todo instante.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Ficção científica


Dentre os livros e filmes que nos fizeram a cabeça em uma geração, alguns permanecem vivos nas lembranças quais instrumentos de expandir a mente em construção. Isto numa época quando quisemos voar mais longe e chegar às raias das estrelas lá no Infinito. De alguns, sobram ranços de pessimismo. De outros, uma busca de compreensão dessas distâncias de tudo o que existe nos céus e em nós mesmos. Filmes e livros, afinal impulsos de conhecer os segredos. 2001 Uma odisseia no espaço. Contatos imediatos de Terceiro Grau. Gravidade. Crônicas marcianas. Utopia 14. Os frutos dourados do Sol. Avatar. O predador. O vingador do futuro. Doutor Estranho. O exterminador. Eu sou a lenda. Gremlins. Entre tantos e tantos outros.   

São emoções que ainda sacodem a imaginação desta época, diferentes das ficções e lendas de antes, de quando contavam as histórias dos reis, príncipes, fadas, duendes, feiticeiras, viagens fantásticas a países exóticos em volta da Terra. A necessidade que existe de conhecer outras dimensões do Universo sem fim toca na casa dos sonhos e singramos espaços quais meros habitantes primitivos de mundo isolado à busca de novas esferas, conquanto a ficção vive disso, de querer mergulhar no vazio e descobrir sua extensão.

Mediante os limites constrangedores da matéria, seres humanos desde sempre padecem sob as couraças deste chão. Querem transcende a todo custo. Vieram mitologias. Vencer superstições. Crenças vagas. Desde o crivo insistente da razão que carregam vidas afora, querem desvendar as entranhas de si por meio das interpretações imaginárias que sejam. Daí, nasceram as ciências; primeiro, as ostensivas, das suposições exteriores; depois, as invasivas, dos aparelhos eletrônicos. No rastro, as ditas ciências ocultas. Vasculhar a essência do Ser pelos recursos dos pensamentos, raciocínios, percepções místicas, frutos das interrogações que comprimem a vontade de encontro às ânsias de interpretar a Natureza.

Ainda agora, quase nada se sabe de certeza dos mundos internos da Consciência, livre das ficções, por vezes pessimistas ou otimistas, com relação ao que há de vir. Na célebre interpretação de Descartes (Penso, logo existo), além dos fenômenos individuais da sensibilidade, dos quais só resta dizer e que seja aceito, de pouco sabemos, em verdade plena, que possa atravessar com êxito a barreira até hoje do intransponível de um eu sozinho perante a ficção, pois.


domingo, 18 de dezembro de 2022

A barca dos sentimentos


A música fala disso com facilidade. Ouve-se hoje uma música e ela acode em si carga de profunda emoção. Daqui a alguns anos, de novo a gente encontra a mesma música e cresce multiplicada saudade da mesma emoção. Doutras vezes, as fotografias. Os filmes. Os livros. Em tudo, a voltagem imensa, incessante, de sentimentos iguais navegando nesse mar de recordações e vontade inigualável de reencontrar o tempo no íntimo da alma. Ver de novo as velhas emoções ali guardadas com zelo. Nisso tem a arte larga participação, nessa recomposição do repertório que a vida conduz carinhosamente neste mar do Tempo. São falas, perfumes, jornais, revistas, fotografias, a levar consigo o ser que somos ou fomos, nós de vidas afora.

Quantas horas de satisfação deixaram atrás na forma de presenças/ausências, num movimento sem limite nem fim. Sabores pessoais vindos de dentro desse continente das pessoas a ferver no caldeirão das existências. Tantos fios de esperança e paz que sucedem através das pessoas, dos momentos, dos lugares espelhados pelo firmamento da consciência.

No instinto da autopreservação das alegrias, sustentamos o itinerário das embarcações que significamos e alimentamos nas quermesses das frações de viver que parecem esfarelar a gente na gente mesma nas muralhas do Destino. Sujeitos dessas contradições e saudades depositadas nos cofres de nossas histórias, assim revemos em nós a tradição do que muito gostaríamos de que seja parte integrante da Eternidade.

Em face disso, nascem as culturas, os trilhos das lendas que sustentam o fervor pela continuidade diante das transformações aceleradas que impõem dores, amarguras e dúvidas em forma de imaginárias estrelas que cintilam nos céus. À distância, na imensidão das próprias criaturas, ali a certeza do que permanecerá depois que nada mais prosseguir. Afinal a sede que preserva o movimento dos astros habita também o imo dos corações na forma dos sentimentos, enquanto o Amor cristaliza os sóis da Luz maior, a iluminar a vontade firme de jamais largar da essência de sonhar com a imortalidade.

sábado, 17 de dezembro de 2022

Aonde


Nessa busca de respostas os rios correm cá dentro das criaturas humanas; aonde chegar, no entanto? A que finalidade isso tudo espalhado pelo mundo invisível das horas nas emoções largadas aos trilhos e destinos individuais? Sim, dentro de toda roupa da carne habita um ser vivo, pessoa igual às demais, tangendo mesmos sonhos de sonhos e vivendo mesmos questionamentos... Alguns até respondem com alegria o crepitar dos corações, porquanto meio outro impossível seria. Que fronteiras físicas existem e são a fim de superar as distâncias, vez que somos do tanto suficiente de precisar saber aonde chegar, ali, isto, principalmente, pesa que nem dores e credos incrustados no cérebro. Nas faces as interrogações do sentimento, vez por todas revelando a si a função de pisar e sacudir a poeira dos passados de raças e culturas.

Dúvidas persistem nesse trocar de passadas, depois dalgumas contradições, e imaginar que fosse do jeito que imaginavam, noutras avaliações e possibilidades, mas nem sempre se apresentam no horizonte e fazem um frio de silêncio a percorre de tremores o corpo, ânsias de encontrar a resposta do desejo febril nas entranhas adormecidas. Parar um pouco e estudar isso dos resultados daquilo que antes existia e agora nunca mais existirá. Examinar os movimentos internos da matéria, células, moléculas, bactérias, pensamento, que ocupam os espíritos e percorrem as florestas virgens e desconhecidas quais aventureiros da alma em crescimento. Olha daqui, olha dali, e param na face dos barrancos das rudes de jornadas heroicas, e aceitam, porquanto, nenhuma outra condição que não seja essa de apresentar alternativas nascidas no fogo dos segredos a si revelados de todos ainda somos mistérios adormecidos.

Mudar de parágrafo e animais vivos inclementes preenchem a tela da memória e pedem compreensão a todo momento. Máquinas de pensar que, de vez em quando, também sentem, e sorriem, e amam.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Efeitos sonoros


Eu só quero pensar que ainda nem de longe saibamos utilizar a contento essa parafernália de mecanismos que, num abrir e fechar de olhos, nos chegou às mãos na atualidade. Primatas deste período de tantas alternativas de ter o que contar e serem tão poucos os assuntos de que assim o merecem, aonde correr, portanto, e aceitar de bom grado a farra de mensagens que invade o éter e nossos lares, nossas individualidades, nossa paz... Hoje todos têm seu jeito particular de revelar o interior de si, no entanto meio trôpegos, capengas, apressados... Dizem, é do direito, contudo, dotados de pouca ou nenhuma prudência, a não dizer conteúdo, finalidade. Um escarcéu de efeitos sonoros cobre as páginas da Web e pronto. Atrás disso vem o andamento de um tempo prenhe dos resultados controversos. Nem sabemos quem somos, e somos o que nem sabemos o quê. Porém tudo, enquanto. Veio desse jeito que desse jeito tem que ser.

Há quase a inexistência de conteúdo, que se possa avaliar seja. Em época não muito distante, uma massa infame de músicas estrangeiras preencheu as ondas do rádio brasileiro. Entre dez, uma seria nacional. De igual maneira o cinema, pouco ou nada de filmes daqui. A cultura suporta isso, das invasões sucessivas e descaracterização das origens. Quando agora resta ser isso de perda a bem dizer total de finalidade histórica e reais objetivos de povos inteiros, destruição das identidades culturais. Ao que nos parece, são ecos de fim de era, esgotamento de possibilidades construtivas. Início de políticas de terra arrasada entre as culturas.

Todos têm o que dizer e ninguém resolve os dramas do indivíduo, as respostas, conclusões da finalidade, das experiências reunidas e formuladas. Espécie de marketing insistente (lucro a qualquer custo) comprime os cérebros e as criaturas numa ausência de harmonia e beleza. Entretanto, saturados estamos de saber que o jeito que é representa o que haveria de ser, porquanto existe um fim útil que prevalecerá para sempre.

(Ilustração: Vazio existencial https://amenteemaravilhosa.com.br)


quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Linhas de raciocínio


A evolução dos tempos deixa margem aos pensamentos que se desprendem feito camadas sucessivas, cascas e filamentos. Querer, todos querem dizer o que seja no sentido de clarear o silêncio que sussurra em volta. Quais pássaros batendo asas no céu, vivem os seres pensantes a procurar repouso na ânsia de contar o que lhe vem à imaginação. Leilões de ofertas aos milhares, que preenchem dias e noites, alimentam a fome de continuar, que seja. Parece até puro exercício de movimentar o corpo do espírito. Correm. Dançam. Vagam. Ficam restos de momentos pelo monturo das horas. Aonde quer, existem essas fábricas de raciocínio em movimento.

Na busca incessante de responder ao desaparecimento inevitável, dela vêm perguntas largadas ao vento. Burburinho incessante, sentimentos viram pensamentos e pensamentos, palavras. Das ideias refulgem os argumentos. Sempre assim, seres da espécie que rasgam as vistas a falar das regiões desérticas lá de dentro, sustentando teses de prosseguir a todo custo. Mas deixam bem claro o jogo de intenções a que submetem a função de viver aqui neste lugar. Vontade insana de levar adiante o barco do destino através da força de arrecifes dos motivos de sobreviver.

Essa aventura da existência, pois, significa representar o senso por meio da alimentação e do sustento dos demais. Juntar, arrecadar, dominar. Daí, as normas e os conceitos, filosofias de utilidade. Argumentos valem enquanto instrumentos de domínio sobre os demais. Criam com isso justificativas costuradas às pressas de prevalecer e impor condições.

Isso em tudo, enfim. Grupos organizados na forma de multidões, naves que percorrem o Infinito recolhendo materiais suficientes de reger o firmamento da inteligência. Barcos vazios de compreensão, muitos séculos até iluminar de todo o sol da Verdade, que só hoje vem à tona pela eventualidade dagora. Na busca da paz, quantas vezes fizemos de conta e perdemos a oportunidade. Noutras, no entanto, concretizamos o sonho e viveremos felizes.

(Ilustração: Xilogravura de Nilo).


quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Arquétipos


Na 
psicologia analítica, é um conceito do suíço Carl Gustav Jung para se referir a conjuntos de imagens psicoides primordiais que dão sentido aos complexos mentais e às histórias passadas entre gerações, formando o conhecimento e o imaginário do inconsciente coletivo;agem como estruturas inatas, imateriais, com que os fenômenos psíquicos tendem a se moldar, e servem de matriz para a expressão e desenvolvimento da psique. Também é associado a experiências universais, como nascimento e morte.[ Jung cita precedentes do uso do termo entre Plotino, FílonIreneuDionísio Areopagita e o Corpus Hermeticum.
Wikipédia

Carl Jung pressupõe, pois, a existência nos seres humanos de dois fatores essenciais à totalização a Consciência, quais sejam: ego e Eu Superior (ou Self). Enquanto o ego representa o eu da matéria humana, o Eu Superior vem significar o arquétipo da Libertação da consciência. Isto se dá no decorrer das vidas, num procedimento psíquico que denomina Processo de Individuação, através do que haverá o preenchimento das fases necessárias à efetiva realização do Ser (Deus) em nós.

Este arquétipo do Eu Superior transpõe a história através dos personagens mitológicos tais Jesus, Sidarta Gautama, Rama, que perfazem os modelos marcantes de credos e filosofias, transcendência pura da revelação suprema da personalidade, marco indelével da Verdade plena.

Nalgumas escolas tal objetivo qualificam de Salvação, Iluminação, Purificação,  no entanto esse estado só será obtido mediante a superposição da matéria, dos desejos imediatos da carne, obtendo a transcendência. Nisto importa a vitória sobre o ego, justaposição quanto ao corpo físico, o que define a conquista, pelo conhecimento e autodisciplina, da pureza do Espírito, encontro da plenitude e felicidade até sempre..

Esse itinerário exige, contudo, a admissão de existirem planos superiores  os quais, entretanto, a ciência oficial ainda não conheceu dentre os mistérios da Natureza, dificultando destarte a aceitação absoluta dessa compreensão, restrita que ora permanece ao âmbito da rude matéria.

(Ilustração: Carl Gustav Jung).


Uma só e aparente dualidade


Depois da unidade vêm todos os outros números, o dois em primeiro momento. Nisso, a Natureza. Detalhes mil que se transformam a todo instante, reúnem as quantidades e qualidades em um único todo essencial. No entanto, haveremos de percorrer a longa estrada que levará à inteira e una compreensão desse todo. Nesse meio tempo, existimos e divisamos os caminhos por vezes lotados de aparentes realidades em conflito.

Bom de avistar essa conceituação também nas parábolas, lendas, fábulas; nos mitos e contos deste mundo. Dentre esses, recentemente li, em Fábulas filosóficas, de Michel Piquemal e Philippe Lagautrière, um conto indiano a propósito de árvore que tinha duas galhas. Numa dela, produzia frutas envenenadas e na outra, frutas boas, sadias, saborosas. A população daquele lugar, temendo as frutas envenenadas, deixava a árvore de lado durante todo tempo. Porém, numa fase de seca e falta de alimento, todos observaram que a safra daquela árvore nada sofria com a ausência das chuvas. E todos ansiavam poder colher as frutas vistosas, chamativas.

Um ancião em idade avançada resolveu, então, que experimentaria as frutas de uma das galhas, em benefício dos demais. Viriam, assim, qual delas produzia as frutas sadias e festejariam a colheita. Saiu vivo da experiência. Daí, verificaram que, quanto mais utilizam a produção da galha sã, mais nasciam dela novos brotos. Com isto, dessa constatação, uma noite resolveram cortar a outra galha e evitar de vez as frutas doentes. Mas qual o que, logo no dia seguinte a árvore começou a murchar, morrendo em poucos dias.

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Assim mediante a leitura, lembrei da Parábola do Joio e do Trigo, que contou Jesus. Tudo tem um tempo certo de plantar e colher. Conhecemos a escuridão porque existe a luz. Num realce perfeito, as normas da existência demonstram a bipolaridade tal componentes do mesmo todo, meios claros de percepção da Unidade Original, o que preenche, em tudo, as normas fundamentais das lições do Universo.  

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Luzes na madrugada


Antes de tudo, somos estes seres em evolução. Isso porque ninguém se arvore de já possuir a resposta plena desse enigma que decifraremos mais adiante, sem nem saber agora de sua origem fundamental. Uns agarram aos destroços em movimento e sustentam meros traços da impermanência qual solução. Alegam a necessidade de uma autossuficiência no impulso do intelecto e seus fenômenos de que usufruem e passam. Outros sobrevoam e crescem dentro de si na busca de decifrar as emoções atuais, feitos argonautas da realidade abstrata. Padecem da renúncia aos instintos, porém cientistas experimentais do mistério que guardam e querem descobrir de tudo.

Enquanto ouvem o silêncio, falam das conquistas pessoais de um mundo vasto porém ainda envolto nas brumas da subjetividade. São eles os místicos, platônicos, que descrevem os conhecimentos que, um a um, haveremos de achar em nós próprios.

Bem isto essa fase dos humanos. A perfeição só existe no mundo das ideias, segundo Platão. Daí, tocar em frente merece cogitação. Até quando Nietzsche dispara, milênios após, críticas às ideias puras e propõe o amor ao destino (amor fati), ao alimentar a Verdade ser uma ilusão e a Liberdade o estado puro das vidas que aqui vivemos.

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Desse mergulho em si mesmo, através da intuição e do aprimoramento moral, entretanto, vem o encontro de outra dimensão que não seja essa de agora. Contudo a exigir do autoconhecimento, que pode apenas ser transmitido em palavras, palavras que carregam o crivo da subjetividade, onde todo código permanece restrito ao que, individuo a indivíduo, todos tem o seu próprio. Eu digo o que penso que esteja dizendo. Você ouve o que pensa que esteja ouvindo, pois.

Quais limitações determinam as regras desse jogo de pensamentos fátuos? Os mistérios viram segredos e os segredos são mistérios em andamento no meio das criaturas. Aqueles que chegam à Verdade veem-se restritos ao território da inação, quando, nessa hora, densa névoa envolve a compreensão e determina avanço tão-só pessoal nas vidas afora. Bem isto o limite da existência e matéria prima do aprimoramento de todos, esses senhores exóticos do Absurdo em revelação lá dentro da individualidade.

(Ilustração: Superman, o retorno, direção de Bryan Singer).

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

A certeza dos acontecimentos


De que tudo está onde deveria, nada existindo fora do lugar e só se tem o que merece do plantio das nossas experiências. Quando assim, existir ganha outro fôlego, novas perspectivas. Deixar correr o tempo e assistimos o desfile dos resultados de todo instante, olhos postos na herança que trazemos. Tão puro, simples, revelador. Aceitação qual norma de tranquilidade. Admitir a presença constante das determinações de um Poder acima de qualquer suposição relativa, vez dominar e fornecer o suficiente do quanto de perfeição e beleza persiste diante do Universo inteiro. Nós quais notas dessa composição magnífica de ocorrências silenciosas, sob o crivo da razão absoluta, que rege e determina, desde sempre seremos seus filhos e coautores daquilo que chega passo a passo.

Isto presente na nossa consciência de que somos os habitantes do Infinito e temos plena condição de realizar o que viemos, transpira compreensão necessária de sonhar e ser feliz já neste momento. A inteligência funciona, pois, tal instrumento de equilíbrio e percepção dos mistérios em torno das nossas vidas. Ouvir a voz do coração e comungar do destino que conduz os dias da pura realização dos valores desse plano divino.

Sempre foi desse modo e continuará sendo pela Eternidade. Interpretar a valsa do destino em ponto maior. Rever todas as ocorrências que nos trazem até aqui e aprender de corpo inteiro a pauta da sinfonia inigualável que escutamos na alma da gente e participamos. Acreditar de bom grado no que experimentamos no transcorrer da História, donde vem o aprendizado que guardamos e praticamos. Quanto é bom ser isto o suficiente a distinguir segredos reunidos de nossa evolução, força do que podemos sustentar perante o futuro de paz que nos espera.

sábado, 10 de dezembro de 2022

Os melhores professores


Não tenho amigos, não tenho inimigos, todos são meus professores
. André Luiz (Chico Xavier)

Sob esse aspecto, valem algumas considerações. Por exemplo, no que tange ao ego, a força vital ligada à matéria, aos prazeres da carne, aos apegos individualistas. Segundo consta, a matriz da ilusão. Por mais que haja afirmações de sua transitoriedade, mesmo assim nele grande número se apega, isso a não dizer a maioria dos viventes deste chão.

Certa vez, ao assistir palestra de Huberto Roden, quando das perguntas, alguém indagou se em significamdo Maya o princípio da ilusão, isto é, a própria inexistência nela da realidade, mera farsa passageira, por qual motivo tanta preocupação. Ao que o orador respondeu ser ilusão pensar que a ilusão inexiste, se ela tem quanto poder que domina e praticamente rege pessoas e acontecimentos nos moldes atuais da humanidade.

Disso, imaginar, pois, a força que o ego dispõe nos níveis das presentes circunstâncias humanas, quando impõe, a bem dizer, larga monta das decisões das pessoas e dos grupos sociais, voltados aos fatores imediatos dos tempos.

Falando de maneira prática, a alma condicionada tem que se defrontar com o mundo material; ela não pode simplesmente dizer que ele não existe. (...) O mundo material é um estágio desse drama (humano). Ele é real, pois é energia do Supremo, e é ilusório pois é temporário. Uma miragem pressupõe a existência de água verdadeira. Satsvarupa dasa Gosvami (in Introdução à Filosofia védica)

De tal modo que as ditas contradições deste mundo entre os dois planos (material e espiritual) servem de realce ao encontro do Definitivo. Enquanto uns consideram aqui um mundo verdadeiro, há nisso a essência do que virá em seguida, em um mundo de amor e amizade, lar da eterna Sabedoria. Nisto, viver significa ansiar esse algo que, dada a ausência de perenidade, instiga a que cheguemos, um dia, no céu de plena Felicidade, após conhecer dela a existência no que antes não encontramos nas ilusões.

 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

As voltas que dá o mundo


Mudanças profundas todo momento. Vezes, um pensamento, um passo, e tudo se transforma. Um gesto, uma palavra, uma escolha. Enquanto desliza o tempo, ente por demais inexplicável nos termos dos calendários, onde agem as pessoas e fenômenos da Natureza procedem uma busca sem fim.

Nisso, impera dentro da gente esse instinto de justificar o afã que leva tudo ao nada num abrir e fechar de olhos. Daí as músicas, os livros, museus. Pouco importa quem, todos rendem homenagem à pretensa perpetuação da espécie no decorrer da História.

Um silêncio magistral assim percorre todas as fases do tempo. Conquanto possamos preencher esse vácuo contínuo que deixa logo adiante, apenas observamos a pele ressecada dos frutos das ações insistentes de marcar presença onde quer que seja. Dizer, fazer, perder, ganhar, sorrir, gargalhar, contudo meros artesões da obra-prima da qual fazemos parte e de que poucos conheceram até aqui. Uns realçam as dores. Outros somem nas ausências, carregando fardos de saudade, lembranças de emoção eternas, relíquias raras dessa aventura de viver.

Em havendo oportunidade, aprendemos do uso de nós mesmos a não repetir aquilo que nos fizera sofrer. Das frações de tempo reunimos só migalhas que nos escorrem pelos dedos. Atores, pintores, fotógrafos da sorte em movimento, arrefecemos os ânimos e sustentamos teses, nalgumas horas absurdas, ansiosas, suaves, etc. Porém ninguém quer passar em branco. O carrossel do tempo percorre, pois, as lâminas dos destinos e traz resultados na forma de objetos e produções que, logo em seguida, viram folhas secas na floresta do mistério.

Ao coordenar o tempo nesse ritmo das voltas do mundo, de algum lugar chegam vastas esperanças que vão alimentando de sonhos a barriga do depois. Juntos, a gente e o deslizar das horas, conduzimos o barco dos acontecimentos. O que mais fascina disso, no entanto, fica por conta das histórias que restaram e dos trajes dos vultos que passam nas gerações em forma de seres imaginários que também respiravam, riam e defendiam as mesmas teses das quais ora realizamos o nosso expediente neste chão de tantas maravilhas fugazes.

(Ilustração: Composição VII (1913), de Wassily Kandisky).

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Numa visão maior


Tudo é de Deus. Face ao desconhecimento do Absoluto, essência do Ser em formação, as conclusões chegam devagar. Pouco importam as considerações diversas, conquanto ainda nos batemos conosco diante do Eterno que virá na medida dessa compreensão. A observar com zelo, todos os conceitos de todos os tempos e civilizações revelam partes do mistério infinito no qual vivemos agora. Buscamos a paz, enquanto ela está dentro de nós, e buscamos fora nas revelações que nos chegam pouco a pouco, e vivemos longa a estrada desse conhecimento em formação. Tocamos em tudo, a descobrir presença constante do sentido exato de viver; no entanto persistem as circunstâncias materiais do que fomos e somos e o que viremos ser. Gradualmente viemos ver a Luz. Dispomos do senso das contradições e só devagar descobrimos a que estamos neste chão. Muitos, senão todos, no mesmo afã de encontrar a resposta que trará a Paz que individualmente desejamos.

Vidas e vidas em formação. Pequeninos seres no procedimento de encontrar a que viemos, pois. Nem de longe comporta fugir da pura realidade, vez também compormos o quadro da Criação e significar o próprio mistério em elaboração. Paremos um pouco e avaliemos desde sempre o quanto de milagre representa a nossa existência. Nossos pais. A vida em si. O mundo em que habitamos. A perfeição da natureza mãe. O equilíbrio do Universo. A família. A saúde. Os alimentos. A beleza. O Amor. Tudo, enquanto. Meros instrumentos da Consciência maior, detemos em nossas mãos força suficiente de interpretar tamanha evidência que impera e conduz. Nisso, ora damos os primeiros passos rumo à Eternidade, da qual viemos e regressaremos dotados dos melhores valores e novo aprendizado. Reunimos assim experiências e praticados com a medida de nosso aprimoramento. Tais páginas em branco, neste lugar da nossa história perfazemos os sonhos de, lá um dia, viver a plena Sabedoria, na vitória dos justos e fieis.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

As vertentes da memória


Vez por outra, passam pelas minhas lembranças situações que ficaram lá atrás no tempo desta vida. Muitas vezes me revejo naquelas horas onde possa considerar, de novo, minhas reações, meus comportamentos, guardadas em mim. De uma clareza admirável, encontro pessoas, atravesso dificuldades,  acompanho histórias, momentos que ficaram presentes sem a mínima intenção. Na sua maioria, são acontecimentos carregados, por vezes, de sofrimento, dificuldades, contradições. O máximo que faço de tais respostas do tempo passado, admito que, nalgum lugar, ficam gravados, dando margem a um novo aprendizado, talvez ao arrependimento, gratidão de me haver livre de tantas e boas, e continuar nos estudos de existência já noutras situações, noutros quadrantes.

Creio ser comum de isso ocorrer no juízo de todo mundo. Daí, prudentemente, na medida do possível, essas ocasiões permitem rever o trilho através da memória e aprender o que seja, numa revisão das mais importantes ao crescimento individual. Vejo com nitidez que ninguém foge de suas mesmas circunstâncias lá detrás. Qual sermos plantadores e coletores em mundo exclusivo. Os frutos de nossas ações voltam por meio de vivências e registros. Tão forte isto que me impressiono de não haver descoberto há mais tempo essa função. E chego a perguntar se ainda haverá oportunidade a uma retrospectiva, num maior aproveitamento desse itinerário da gente com a gente. E o que fazer diante daquilo de equívocos plantados.

Sempre venho insistindo em aceitar a força de ser uma matriz da sonhada liberdade. Patamares de escolhas e colheitas, vamos recorrendo ao seguimento de cada um por si. Espécie em evolução, dispomos da possiblidade infinita de nos reconstruirmos a todo instante, feixes de instintos e vontades, elaborando gradualmente o que denominamos destino. Criaturas restritas à individualidade, trabalhamos esse microcosmo da existência rumo aos novos tempos da inteira realização, desde que esgotemos esta finalidade pessoal e inalienável de evoluir.      

A força da escrita


O que faz com que alguém resolva escrever, nisso que chamam literatura, significa mais que meros gestos mecânicos ou falta de outra finalidade aos momentos que voam. Isso carrega em si algo além. Qual instinto de sobrevivência de falar consigo próprio,  representa névoas que percorrem a lembrança e impõem vontade que diga daquilo que fustiga o sentimento; de depor no tempo suas instruções; de narrar pensamentos porque mexem o íntimo da criatura, nessa fome de continuar; e reunir os demais à volta das fogueiras dos dias. Desejo quase que desnecessário, no entanto urgente, nos que escrevem.

Bem que, em tudo, persistirá uma razão. Nada de inútil prevalece, porquanto mesmo passar, de comum, fala do que há de seguir; contudo face da herança do que somos e dos que constroem a sua formação na medida dessas observações e dos detalhes. Quais primatas a braços comum com o futuro, fazem do pensamento ainda primitivo o que trazem centenas de milhares de anos depois, até o que ora somos, nesta hora de elaborar o que vem por meio do pouco que podemos construír, daquilo que utilizamos da natureza, seja a consciência ou os instrumentos outros às nossas mãos.

Tais aqueles primeiros artesões da Civilização, de igual maneira cruzamos o rio das contradições e formulamos meios novos do que nos espera. Isto de escrever, pois, transmite, uns aos outros, o formulário das vivências e algumas correções, e fornece a matéria prima do aperfeiçoamento. Quisessem ou não, compõem o quadro da Criação no modo original das vivências e lançam ao mar da Eternidade histórias em movimento. Eles que escrevem deixam, assim, rastros de coração na superfície plana do Infinito.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Conceitos complementares


Ao meio deste chão e das concepções do que seja um outro tempo lá depois que nos aguarda quando tudo inevitavelmente passar daqui aqui nós estaremos de que jeito? Ainda existiremos?. Estes seres imaginativos, persistentes na procura da resposta do enigma que ora vivemos seremos nós. Tantos conceitos, considerações diversas, milhares de concepções (em cada cabeça uma sentença). Uns a viver o jeito que lhes chega à consciência empedernida. Face aos desafios, as respostas. Os que asseguram ser apenas aqui todo trâmite do existir, sustentam isto só até a hora derradeira. Já aqueles que asseguram teses de outra dimensão vivem provisoriamente este roteiro da matéria e investem valores ao nível da esperança em um futuro de eternidade plena. Bem claros, pois, os dois princípios, segundo a Filosofia, o dionisíaco e o apolíneo.

Essas concepções se estendem no tempo desde sempre. Na filosofia grega, por exemplo, na visão de Sócrates e Plantão, há o mundo das ideias, em superposição ao ponto de vista de Nietsche, que, tempos depois, reclama da evidência do homem secular qual razão principal de estarmos vivos, de sermos heróis em potencial em tempo presente.

Essa busca evidencia o quanto de interrogações conduz a existência humana. Entre o concreto e o abstrato, entre matéria e espírito, o que percorre as civilizações e suas igrejas, credos, formulações políticas, ideologias, estudos. Espaço estreito de evolução das possibilidades, nele imperam as práticas sociais, a estruturação das raças e dos valores.

(Dionísio (ou Dioniso) é o deus grego do vinho, das festas e um dos mais importantes deuses da mitologia grega.

Além de ter os conhecimentos de preparação do vinho, ele possuía o poder de criar drogas poderosas. Dionísio é considerado também o deus grego da natureza, da fecundidade, da alegria e do teatro.) Todamatéria.com.br

(Apolo foi um dos mais importantes deuses da Grécia Antiga, sendo conhecido como deus do Sol, das artes, da música, da profecia, medicina etc. Era filho de Zeus com Leto e era conhecido por sua beleza e por ser um exímio arqueiro. Apolo também tocava lira e foi aquele quem matou a serpente Píton.) Brasilescola.uol.com.br

 

(Ilustração: Cristo como Orfeu (filho de Apolo), catacumba de São Marcelino e São Pedro, Roma)

Sem maiores explicações


Um noviço certa vez se dirigiu ao seu mestre e indagou:

- Qual a pergunta mais importante que existe?

Com um sorriso nos lábios, figuração desprendida dos mestres zen, ele logo respondeu:

- A pergunta mais importante que existe é esta que o senhor está fazendo agora (- Qual a pergunta mais importante que existe?).

- E qual é a resposta mais importante que existe, Mestre? – seguiu perguntando o noviço. Ao que o superior, em seguida, respondeu:

- A resposta mais importante que existe é esta que agora estou lhe dando.

E bem no interstício entre a pergunta que o discípulo fizera e a resposta que o Mestre lhe acabava de oferecer, bem ali, cabem todas as perguntas e respostas que existem ou venham existir, quando, em gesto de pura leveza, nesse espaço hipotético, circula o conhecimento de tudo quanto há, pois o Ser que vive no que indaga já traz em si toda  explicação e todo conhecimento.

No âmago da fronteira entre a razão e a emoção circula o movimento do Universo, que é a luz da Eternidade e habita em todas as vidas, conscientes ou em fase do despertar da consciência.

Enquanto explicações atendem à razão, o sentimento assiste, por vezes indiferente, o transcorrer das respostas que o Universo oferece aos olhares vagos dos protagonistas de todas as perguntas e respostas.

A luz, que um dia imperou desfazendo as trevas da ignorância, vaga na noite ainda escura das consciências sombrias, à busca de lhes trazer a iluminação.

Por isso, diante do vazio das consciências, em meio às tantas perguntas possíveis e imagináveis, perdura livre o desejo da verdade mais pura De passos continuados no solo das existências, desperta a natureza, o sol das presenças individuais que um dia irão clarear por todo tempo.

 Obs.: A historinha que ilustra este comentário me foi contada por Gabriel Facure da Rocha.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Aventureiros do destino

As tais florestas de todos em seus mundos particulares. Uns, avançam contra a maré e sobram pelas vertentes dos rios. Outros, contudo, amargam solitários as cercas que os limitam e dormem aflitos diante de conflitos internos da própria criatura humana. Histórias inúmeras do tanto de todos, pois. Aventureiros do destino, eles viajam pelos céus à procura da sorte. Perguntas. Respostas. Perguntas... E ninguém que sustente de certeza no teto das dúvidas. A gente percorre o universo interno do que seja, porém qual quem avalia encontrar, mais cedo, mais tarde, uma porta de libertação. Prisioneiros dessa cápsula que somos, reconhecemos exatidão na existência, inclusive aceitando o quanto de estreito esse cômodo onde habitamos.

Daí vêm as tentativas de vencer o labirinto aos nossos pés. Todos, sem exceção, sob o mesmo crivo das interrogações. Ainda que pequenos, significamos um mar de finalidades aos olhos da consciência. São visões, buscas, desejos, pessoas, lugares, tempo, cores, luzes, formas, dores, trabalho, família, objetos, sons, animais, clima, pensamentos, palavras, livros, sentimentos, instrumentos, tudo enfim.

Painel infinito de cenas que se sucedem interminavelmente, nós, esses equipamentos no que vivemos e seguimos a levar adiante. Estrangeiros de si, alimentamos de valores as paisagens do Infinito. Sustentamos o penhor do que nem conhecemos e haveremos de aceitar  ser assim durante o viver inteiro.

Dissemos prisioneiros dessa cápsula, a cápsula que contém o que já somos, células em ebulição dentro de todos. Pouco ou nada importam nomes e números que sejamos, conquanto sempre sejamos nomes e números. Vasos comunicantes da gente com a gente, formamos seguimentos do que logo existirá aonde quer que seja. Blocos de notas do mistério, inscrevemos na alma e no coração, em letras brilhantes, segredo guardado debaixo de sete capas. Vidas provisórias, paraísos em transformação, no entanto que seguem o trilho da Realização do ser que ora somos em nossas mesmas mãos.