sábado, 31 de maio de 2014

O rio do tempo

Estudiosos de mitos e lendas consideram ser a mitologia uma religião coletiva dos povos. Isso traz à lembrança o deus Cronos, da civilização grega, aquele ente que pare e devora os próprios filhos. Cronos, deus que entre os gregos clássicos representa o Tempo, e este que, por sua vez, no candomblé, religião afro-brasileira, merece devoção das mais intensas no culto das divindades. Bom, o quadro deste modo iniciado esboça aquilo que pretendemos: Observar o tempo sob o ponto de vista de rio do tempo, qual diz o título do comentário.

Heráclito, pensador nascido na Grécia, afirmou que ninguém toma banho duas vezes no mesmo rio. Pois as águas de antes não são as mesmas, a paisagem mudou a cada instante; mudaram os pássaros, o vento, a luz, as cores, as moléculas da existência, porquanto tudo vive em eterna mutação celular. Assim, o rio do tempo, incansável, imperecível, constante na ação de viver, ritmar a vida, dentro e fora da gente.

No instante seguinte, tudo pode está noutro lugar. A leveza mil da mudança perpassa a existência universal de todas as manifestações, no tempo. Uma dualidade esta que envolve todas as outras dualidades, em pulsação permanente quais batidas de um só coração unido por vasos, artérias e veias da Natureza imensa.

Tais avaliações levam a reunir os conceitos de outras afirmações, as do dito Efeito Borboleta, por exemplo, onde fala que um simples bater de asas de uma borboleta na Nova Zelândia mantém ligação com acontecimentos diversos, noutros lugares, a ponto de iniciar reações e fenômenos próximos ou distantes. Espécies de gota d’água que sujeitam causar inundações dentro da ordem natural, pois mínimos detalhes compõem oceanos que se comunicam entre si.

Portanto, o que une a esfera de raio infinito do Universo circula através do filtro do momento, no tempo, o pulsar de cada coração e átomo. Enquanto isso, nós, seres ditos conscientes, é quem dá nexo ao poder magnânimo do tempo, à medida que plasmamos a existência por meio de pensamentos e sentimentos, o sentido único da História.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Há um Deus

Ele, o fiel Pai criador, o mentor da Realidade. Há um Deus, sim, nas cores e no Céu, Luz dos corações apaixonados ou solitários, que vagam vida afora. Um. O Centro universal de Tudo. O Tempo e as formas que nele se diluem ao seguir dos instantes permanentes. O pintor das alvoradas e dos crepúsculos, artista da Perfeição absoluta. Presente nos todos lugares todos Infinito cósmico sem esquecer de habitar qualquer um deles. Eterno, que jamais teve princípio e jamais terá um fim. Senhor dos fenômenos da Ciência, mestre das multidões em festa. Onipotente, dominador das existências possíveis, imagináveis e inimagináveis. Dono da plena Sabedoria que transcende a consciências das criaturas humanas. Ele existe por ser o sustentáculo das horas e gestor das circunstâncias; o guardião da Justiça suprema, acima do Bem e do Mal, precursor dos Sonhos e guerreiro dos ideais da Igualdade dos seres da Natureza mãe. Existe e existirá em tudo quanto os olhos possam ver ou a escuridão esconde, nas profundezas dos mares ao mistério das esferas profundas das máximas direções e dos sentidos alertas. A emoção das emoções, Senhor dos sete mares, Astronauta das eras, no passado, no presente e no futuro das eternidades inevitáveis. Ali, aqui, todo lugar, trescala o sabor das madrugadas e dos sóis do meio-dia, imanência e transcendência dos sentimentos humanos, Amor no conceito pleno das mentalidades e superior a tudo quanto viaja pelas ondas na calma dos oceanos azuis e no Cosmo. Ele, o amigo da Verdade e orientador das bússolas e astrolábios. A razão e suas consequências inigualáveis; o pulsar dos corações e raiz dos pensamentos; autor das imaginações e administrador dos momentos que nunca sumirão do movimento dos barcos, nos portos da Esperança. A rudeza do Caos e o branco mais puro das almas que se salvarem. O início do desejo e suas tantas realizações. A brisa, o temporal e as manhãs de lucidez e tranquilidade das famílias. O furor das guerras e a Paz dos povos justos. Há um Deus que afugenta do limbo as mentalidades, e incentiva o estudo e o trabalho quais motivos de crescimento e prumo da bem superior Felicidade.  

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Pasquim

Houve um tempo no Brasil, anos 60 e 70, em que as gerações concederam-se no direito de ir, vir e pensar. O País inteiro virara espécie de campo de concentração a sol aberto, diante de forças de direita arvoradas na tutela da sociedade. Então, as pessoas notaram que a realidade era excêntrica e nela predominavam os interesses mecânicos de aceitar aquilo imposto por sabidas influências com bases no combate sistematizado ao chamado Comunismo internacional, idos totalitários da Guerra Fria.

Nesse período difícil da história recente, se destacava, a meio do fogo cruzado de subversivos e aparelhos repressores, um jornal nanico que marcou época a servir de oráculo aos tantos que se perdiam pelas estradas existenciais do medo e da noite obscura dessa fase: O Pasquim. Seu primeiro número chegria às bancas em 26 de junho de 1969.   

Aqueles que vivenciaram tais contradições recordam nomes quais: Ziraldo, Jaguar, Luiz Carlos Maciel, Paulo Francis, Henfil, Ferreira Gullar, Sérgio Cabral, Flávio Rangel, Ivan Lessa, Tarso de Castro, Millôr Fernandes, Fortuna, Juarez, Zélio, dentre outros, time de profissionais que, inclusive, alguns deles, passariam pelas grades do regime, no auge dos enquadramentos oficiais daquela hora.

O Pasquim reuniria nas páginas de tabloide médio a fina flor da intelectualidade engajada na luta pelas liberdades civis, no decorrer do processo ditatorial. Ainda em finais da década de 60, após participar da Passeata dos Cem Mil, astros da Música Popular Brasileira (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Geraldo Vandré e Edu Lobo, para citar os mais conhecidos), ver-se-iam na condição de exilados políticos no continente europeu, o que motivaria maior crescimento do jornal, dado o espaço que ele abriria a esses ídolos, em artigos e correspondências, a servir de desaguadouro das vanguardas culturais e da oposição política sobrevivente.

Através de O Pasquim circularam as modas inovadoras que dominavam os países desenvolvidos, trazidas pelos aventureiros sem pátria, que saíam a vagar pelo mundo, os denominados hippies, vagabundos românticos em voga, frutos das idéias resistentes do Existencialismo europeu, da Geração Beat americana e do crescimento do uso de drogas alucinógenas e de novos ventos que varreram o mundo em resposta ao desespero das guerras e ao agravamento da corrida armamentista entre os impérios. 

No seu bojo viriam também os conceitos do psicodelismo, das religiões orientais (Zen, Taoísmo, Sufismo), alimentação natural, em maior intensidade do que antes, quando só chegavam em formato acadêmico e das escolas lítero-filosóficas da segunda metade do século.

Memoráveis entrevistas, elaboradas de modo informal, evidenciaram o conteúdo de personalidades da cultura de massa vicejante e dos meios artísticos dos momentos críticos vividos, permitindo abordagens e interpretações na linguagem popular, ao gosto da grande população, o que transformou o jornaleco de aparências irresponsáveis no ícone de uma classe média vilipendiada, sem ideias próprias e destituída da autodeterminação, submetida que fora ao crivo do modelo político praticado naquele instante.

Após vinte e dois anos de oposição a quatro presidentes militares e dois civis, em 1991 O Pasquim deixaria de circular, ainda retornando, depois, com outras feições, em 2001, sem, contudo, lograr o sucesso da primeira vez, editando 117 números e fechando suas páginas em definitivo. 

domingo, 25 de maio de 2014

Reformas estruturais urgentes

Neste tempo de tanta nudez, há que se deixar cair as peças íntimas que cobrem a mistificação e domina os legislativos. Vamos começar a fazer o dever de casa, adotar comportamentos realistas diante da grave crise e de tantas coisas fora do lugar, que andam soltas, nos títulos vespertinos dos jornais e na edições sensacionalistas de televisão, desde crimes de morte a sequestros, isto em todo o território nacional. 

Quase pensaram que nada acontecia de perverso depois que voltaram os ventos democráticos, que resolveriam o déficit das calamidades anteriores, na claudicante história brasileira.

Quando abrirem os olhos e virem os muros totalitários, cruéis, em volta da vida e dos sonhos, irão enxergar de qualquer jeito o esforço inútil até hoje despendido tão só a mitigar feridas e sintomas do cancro imenso, mantido pelos detentores dos privilégios, elite carcomida e vaidosa. 

Invés de grandes mergulhos às causas primeiras dos erros que refreiam o senso da solidariedade e os objetivos da felicidade social, o cidadão resiste prisioneiro dos líderes que ascendem ao poder. Apenas adotam comportamentos parciais, à margem das decisões que, no entanto, permanecem longe da essência do que importa de promover.

O País precisa, com a máxima urgência, das reformas ditas estruturais: reforma política, reforma tributária, reforma judiciária, reforma previdenciária, reforma agrária e outras mais. Agir de modo claro, sem o engano dos séculos que se arrastam, na sombra dos reais objetivos do Estado, sociedade politicamente organizada que se forma a custas do atraso da consciência de milhões, manipulada por profissionais inescrupulosos.

Queiram chegar a lugar ameno de justiça e paz social, rendam-se a estas evidências, o que reclama atitudes coerentes, honestas. Nunca a força do progresso exigiu tamanho esforço da nacionalidade quanto agora, por conta dos males impostos por macroestrutura deficiente.

Ninguém que se preze em dignidade acredita, por exemplo, que apenas a redução da maioridade penal, por si, resolveria os descalabros da injustiça social instalada. Nada menos justo do que impor só à juventude pobre, desempregada, rejeitada pelas instituições, os erros da violência, das drogas e da prostituição que invadem programas de televisão, praças e estádios, qual maré desordenada, subproduto da elite política inoperante.

Caso recluir adolescentes resolvesse os problemas da criminalidade, ninguém melhor do que o povo de São Paulo para responder ao desafio, com Febem's superlotadas, conflagradas. Presídios parcializam os males do crime a quatro paredes, contudo o fogo da miséria humana sujeita seguir seu curso de cobranças e desigualdades, haja vista a maior democracia do mundo, os Estados Unidos da América, onde 1% da população vive dentro das grades. Os resultados disso: exportação constante da violência a outras nações, em forma de guerra, para utilizar a mão-de-obra e as armas da indústria, especializada em tirar vidas que aflora sem disciplina onde menos se espera.

Às reformas, portanto, brasileiros, que veremos em algumas gerações a retomada do crescimento econômico e estabeleceremos a esperança no coração de todos!


sexta-feira, 23 de maio de 2014

Transportes e passageiros

Dos efeitos colaterais do crescimento populacional um se impõe na forma de problema agudo e com respostas defasadas, em face dos inúmeros fatores econômico-financeiros que o circunscrevem; é a questão do transporte de massa.

As cidades incharam devido à ocupação de modo desordenado e arbitrário. O poder aquisitivo desocupou o solo rural, expulsando pequenos proprietários e agregados ao exílio das vilas e metrópoles. No caso brasileiro, a equação campo-cidade inverteu-se no período de 70 anos. Contingente ímpar de criaturas empobrecidas pela estrutura injusta da exploração agrícola deixou o campo à agroindústria de exportação, incentivada no modelo urbano-exportador, a partir dos anos militares.

Na conta desse esvaziamento da atividade primária de produção, o espaço citadino repercute hoje as formas aleatórias de expansão geográfica, afavelado em velocidades vertiginosas. O setor de serviços, por sua vez, também ampliou algumas possibilidades do fenômeno, sem, contudo, reabastecer de meios a geração de renda. Destarte, o homem apenas ocupa funções quantitativas, mas quase nunca dispõe dos instrumentos que antes o campo lhe propiciava.

Nisso, desenvolveram-se os números em detrimento da qualidade vital. Mora-se longe, trabalha-se mais longe e diverte-se a distâncias infinitas, no lazer das praias e montanhas, forçando percorrer longos, esburacados, engarrafados caminhos, imprevistos.

Em consequência, vista a estagnação do poder de compra, os transportes ora se apresentam ao nível dos fregueses. Mínima minoria usufrui do transporte individual-familiar e uma máxima maioria se submete ao transporte individual-individual, no caso a motocicleta, ambas modalidades que superlotaram as vias caudalosas e arriscadas, calamidades presentes na roleta em que se tornou o trânsito das metrópoles.

Países desenvolvidos, sinônimo de ricos, administram o pandemônio por meio dos custos elevados das ruas e autopistas construídas nos padrões ideais. Todavia, nos países em desenvolvimento, outro nome dos subdesenvolvidos e periféricos, o drama da circulação de gente reveste características calamitosas jamais consideradas.

A civilização deste tempo depende agora quase só do petróleo, geradora das guerras expansionistas em demanda dos poços, ambição das mais ricas e poderosas nações.

Avaliação contundente, de animais econômicos mudamo-nos em animais pneumáticos, a correr do nada a lugar nenhum, condicionados sujeitos de multas, cruzamentos e semáforos, olhos aflitos nos painéis iluminados e ouvidos acesos no tique-taque das bombas de combustível, quais seres que apenas fogem.do final dos tempos conhecidos.



Entretanto a coletividade carece de continuar a peleja dos dias na força motora do amanhã, lotando coletivos, pendurada na matriz eterna matriz da esperança democrática igual a todos nós.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Profundezas da alma

Recantos distantes de nós mesmos aguardam a visita do Eu, viajante das estradas do Universo mergulhado no âmbito desta vida. Ali repousam as melhores pedras, tesouros maravilhosos das mil e uma noites de Aladim. Território franco às investigações da alma, deslizamos nele nossos sonhos de, um belo dia, encontrar, a luz plena de todos os sóis da esperança intensa de continuar a construção do Infinito em tudo. 

Pé ante pé, transcorremos pelas ruas dos dias no passo misterioso da existência, aventureiros da própria essência de um Ser quase todo desconhecido de Si mesmo, seres abstratos morando temporariamente nas habitações da carne, às vezes senhores, outras, escravos de vícios e locação dos piores desmandos que ferem a paz Universal. Ao sabor inigualável dos ventos da vez, observadores das galáxias, pisamos este chão comum quais pela primeira vez. Olhos atentos nas satisfações imediatas, transferimos aos semelhantes essa vontade imensa de amar, no entanto sujeitos de equívocos e possíveis virtudes da verdade maior dos corações em festa.

Enquanto a beleza expande Luz, o pulsar dos sentimentos pede autocontrole, conduzindo desejos a lugares seguros. A vontade do querer impõe condições ao viajor, indicando as pessoas que falam em nós linguagem pura dos anjos, amores permitidos. Músicas perfeitas nos envolvem, contudo se carece de clareza interpretar as sinfonias das horas cá dentro do íntimo existir. 

Nisso, horizontes de certeza acalma o ímpeto de superar as imperfeições que ainda somos, e erguemos o espírito a pensar em novas oportunidades invés das perdidas ilusões de um passado já distante.

A gente acredita no amor, contudo precisa dominar os instintos. Admitir que há criaturas ocupadas em funções necessárias ao crescimento das vontades que também elas são. Contar a dominação de se imaginar o rei das vontades alheias. Encontrar no âmago da consciência o outro ser que completa sem tomar dos demais o gosto de viver e amar.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Pequenos apontamentos

Autor: Heitor Feitosa Macêdo. 

Emerson, com todo respeito, sou obrigado a fazer alguns comentários, não por soberba, nem por pavonice, mas pelo simples compromisso com a ciência histórica e com tudo o que se aproxime com a verdade nesta mesma seara.

Conheço o produto de sua pena e de seu punho, que, aliás, é de muito boa qualidade, e, por conseguinte, como é natural aos bons escritos, espalha-se rápido, alcançando longas distâncias e propagando-se no tempo. É uma grande responsabilidade ser um escritor do seu calibre. 

Então, sobre a Guerra entre Montes e Feitosas, é inevitável a paixão pelo tema, principalmente para gente como nós, descendentes diretos desses gladiadores do sertão. Porém, este assunto vem sendo tratado de forma inexata, principalmente na internet, onde os fatos são distorcidos e oferecidos ao público em dose cavalar, contaminando as massas com foros de verdade.

Sei que a verdade é relativa, e alcançá-la seria quase impossível, mas aproximar-se dela pode ser uma tarefa executável, principalmente com o uso do método científico, com investigações escafandristas.

Ultimamente, velhos fatos têm ganhado novas narrativas, sendo a história recontada a cada gole dado diretamente na fonte. A exatidão do documento e a capacidade da crônica em preencher hiatos, quando cimentados pela interpretação histórica, possuem o condão de gerar apreciável verossimilhança, promovendo uma maior aproximação da realidade.

O seu belo e bem escrito texto, sobre o referido conflito clânico é uma obra de arte. Mas, data vênia, preciso fazer algumas ressalvas.

1- Os Feitosa que chegaram ao Ceará eram nascidos no Brasil, e o pai destes era português;

2- Os Montes eram de origem espanhola;

3- O conflito entre as duas famílias não se deu na primeira metade do século XVII, mas na primeira metade do século XVIII;

4- Para a maioria, os Feitosa eram Pernambucanos, vindos de Serinhaém, da Fazenda Currais de Serinhaém. Alguns afirmam que eram sergipanos, da Fazenda do Buraco. Outros acreditam que eram Alagoanos, de Penedo;

5- O primeiro patriarca dos Montes em terra cearense foi Jorge de Montes Bocarro e não o Coronel Francisco de Montes (Famílias Cearenses, p. 279);

6- João de Montes Bocarro, pai do Coronel Francisco de Montes Silva, era natural de Penedo/AL (Idem);

7- As primeiras sesmarias dos Feitosa foram dadas entre o Icó, Iguatú e os Cariris Novos;

8- As causas da contenda entre as famílias se deram pelas terras do Cariri, pelo menos no primeiro instante da luta;

9- A luta armada começou depois de 1716, com a morte de Manoel Rodrigues Airosa, cessando em 1719 agosto de 1724, quando ocorreu a maior batalha, resultando muitos mortos da parte dos Montes;

10- O Capitão-mor Manoel Francês foi, na verdade, subornado pelos Montes;

11- O Bacharel José Mendes Machado (1º juiz do Ceará e Ouvidor-geral), foi obrigado a buscar aliados contra os Montes, pois estes tinham a intenção de rasgar os processos elaborados pelo ouvidor, bem como assassiná-lo. Assim, há época, os Feitosa aram a mais forte opção;

12- A Câmara de Aquiraz era dominada pelos Montes, como, por exemplo, o Licenciado Domingos Ribeiro, casado com uma integrante da família Montes;

13- A guerra não teve fim no ano de 1725, com as ameaças do Capitão-mor, mas muitos anos depois, entre o final de 1730 e início de 1740;

14- Os Montes eram muito ricos, e seus bens não se dilapidaram como dizem os cronistas. O que ocorreu foi a dissolução do clã entre outras famílias, pois, posso provar que, ainda hoje, as antigas elites no Cariri têm algum parentesco com os Montes.

Emerson, desculpe-me se eu estiver sendo ofensivo, pois esta não é a minha intenção. Meu único compromisso é com a pesquisa. E para provar tudo o que afirmei, estou te enviando um texto, no qual transcrevo o mais antigo relato sobre a batalha, narrado por testemunhas oculares. 

No mais, um forte abraço, com demasiada admiração.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Minha mãe

Quando casou, em 1944, ela deixou a casa de sua avó, em Crato, e foi morar com meu pai em Lavras da Mangabeira, no sítio do sogro, meu avô Amâncio Lacerda Leite, numa fazenda típica do sertão cearense. Lugar dotado de açudes, a casa grande dos ancestrais da família, engenho movido a vapor, situações de cana, algodão, feijão, milho e arroz. E casas de taipa dos moradores espalhadas em mais de 1.500 tarefas de carrasco e baixio. Curral. Gado. Chiqueiro de criação. Uma capelinha próxima da casa que meu pai construiu em outeiro defronte da antiga estrada Crato - Fortaleza, que cortava as terras.

Nesse pouso, permaneceria por dez anos, tempo em que vieram os quatro dos cinco filhos do casal.

Quando engravidara do terceiro filho, nos afazeres de ensolarada manhã, varria o terreiro da casa e se surpreendeu com a presença, nas imediações, de tio Edson, irmão mais novo de meu pai, que sofria de epilepsia. Vivia na fazenda coberto dos mimos de minha avó, a dar trabalho aos pais pelos caprichos que lhes impunha. Andava por volta dos 18 anos de idade esse tio, que dispunha do físico desenvolvido das pessoas adultas; olhos espantados, rosto bochechudo, roliço, cabelos escuros, aparados, conforme os registros fotográficos que existem.

No meio das suas manias, antipatizava minha mãe, causa da apreensão nas suas aproximações furtivas, cheias de surpresas e gestos agressivos, pois pouca reserva de tolerância demonstrava para com as pessoas. Perante mínimas contrariedades, se excedia nas proporções da reação. Existe a notícia de haver sustentado uma marrã de cabra pelas patas traseiras e matado batendo com ela de encontro ao chão.  

Desta vez, ao avistar minha mãe no terreiro da casa, lá de longe atirou banda de tijolo na sua direção, projétil que só pararia quase lhe chegando aos pés. Surpresa com o gesto descabido, ainda que recobrasse a tranquilidade seria vítima do susto e perderia o filho que carregava no ventre; abortou sem maiores apelações.

Um ano depois, em 1949, grávida de novo, na fase da gestação do sétimo para o oitavo mês, seguiu de montaria até a cidade de Lavras para, acompanhada de minha avó paterna e de uma cunhada, ir de trem a Aurora comprar tecido para o enxoval da criança a nascer.

Na casa de tia Nildes antes de viajar, nesse dia chegou o tio Edson já aborrecido por motivo de que seu cavalo de estimação haver torcido uma das patas. Exigia de imediato do cunhado, tio Expedito, outro animal. Aos gritos, adentrou o quarto onde viu minha mãe e outras pessoas reunidas. Incontinenti, aproximou-se e desferiu-lhe soco violento do lado da cabeça, jogando-a no solo.

Acalma daqui, acalma dali, chamaram uma parteira, por ausência de médico, que indicou chá de gergelim tostado como antídoto às possíveis consequências do abalo sofrido. Mesmo perdendo líquido, o que esconderia dos demais, fora na viagem programada. Ao regressar, se houve do jeito que pode também para retornar à fazenda, e se restabeleceu no suficiente de controlar a gravidez. Teria o filho no período certo.

Não demorou muito além desses acontecimentos e tio Edson morreria dormindo. Dentre as suas condenáveis peripécias, cegara um dos olhos da própria mãe, munido de canivete, nas atitudes desvairadas com que exteriorizava os instintos celerados.

Em 1953, a família fixaria residência em Crato, onde minha mãe, pessoa inteligente e aplicada, exerceu o ofício de professora da rede pública estadual, partilhando com dedicação seus conhecimentos na formação da juventude daquela época.

domingo, 18 de maio de 2014

He-Man

Surgido nas páginas dos quadrinhos norte-americanos, esse herói remonta os tempos dos castelos e lutas da mitologia nórdica. Porém o tipo circense, que passou pelas noites de Crato, na década de 90, nascera no Paraguai, filho de uma índia guarani com um pai cigano de origem soviética, de nome Lenine Alves Baptista. 

Avistei-o de primeira vez quando ele, sentado no capuz de um velho Opala, circulava pelo Conjunto Novo Crato, onde morei dez anos, anunciando as sessões noturnas do circo que levava o seu nome, montado na área da RFFSA. 

Louro, meio calvo no início da cabeleira, deixava os cabelos grandes escorrerem para trás e cair aos ombros musculosos. Rosto anguloso e avermelhado, guardava no semblante algo da ingenuidade infantil, num ar que se somava a corpanzil bruto, longo, 1,80m de altura, 95kg, 57 anos de idade. Ali se escondia o lutador experiente e bravateiro dos sopapos da noite.

Em trajes exíguos, calção de pele de animal, pés descalços, desfilava pelos bairros e centro da cidade à frente do séqüito de atores, convidando a população para o espetáculo onde desafiaria, num enfrentamento coletivo, turmas inteiras de adversários, todos de cada vez. Grupos de lutadores de academias e bairros periféricos aceitavam o confronto e punham-se no rinque, em prova de habilidade e força, no gênero de luta livre, vale tudo aos moldes das feiras medievais e arenas greco-romanas.

De comum, saíam diversos carretos aos hospitais, a cada apresentação. Eram adversários de ossos quebrados, machucados, cheios de escoriações, hematomas, luxações... Segundo consta, no que restou da memória desse tempo, ambulância até permanecia lá fora, de plantão para atender à demanda em consequência das pegadas do gigante louro das Américas; é pau, é porrada, é madeira de dar em doido, bradado aos quatro ventos no som do carro votante, nos fins de tarde, diante dos olhos atentos de crianças e adultos.

Nesse período, eu colaborava com Sérgio e Josane Ribeiro na revista Ceará New, vinda daí a idéia de entrevistarmos irmos entrevistá-lo, o que se publicou na edição dos meses de março/abril de 1997. Aquele artista mambembe que demoraria semanas com o Circo do He-Man em terras do Cariri, nos receberia com natural interesse. E soubemos detalhes da sua história e investigamos aspectos da sua personalidade. 

O que causou maior impressão naquela figura, fruto da mitologia pop do He-Man dos anos 90, redivivo no mundo interiorano, foi a coragem de afrontar pelotões e mais pelotões de oponentes num tempo só, sem, contudo, sofrer qualquer revés durante o período em que permanecera nos ringues.

As lutas eram acompanhadas por bom público entusiasmado e fiel, cujos gritos de longe se ouviam, das casas cheias, e não faltava quem registrasse em vídeo o desenrolar das cenas, para oferecer, em fitas VHS, através dos vendedores ambulantes nas calçadas do comércio central, no dia seguinte. 

Eis, portanto, instantâneo social de Crato da década passada, estabelecido por personagem itinerante e ligado às raízes do imaginário dos meios de massa do século XX, a merecer esta consignação. 

...

Lá adiante, alguns anos passados, soubemos da morte do herói na cidade de Ouricuri, Pernambuco, em circunstâncias adversas.



sábado, 17 de maio de 2014

Do direito de sonhar

Cabe-nos perguntar, em que madrugada deixáramos fugir a esperança nos dias melhores, naquilo chamado de transformação que deu em tanta música de esperança e encheu festivais, ruas e mentes, na vontade de renovar o mundo?

Nisso em que buscávamos as utopias sinceras no tablado cinzento de lutas heroicas e debates acalorados? Será que desta vez lideranças autênticas levarão chance, quem sabe? Haverá comandos de largas mudanças e realizações autênticas? Só Deus. Ele sabe tudo.

Aguarda-se, pois, ainda hoje, a preservação dos valores da justiça social, dos direitos humanos, dos postulados de igualdade, liberdade, segurança, fraternidade, do crescimento econômico partilhado e das oportunidades de todos, da ética em mãos que cumpram os compromissos do dever.

Que se responda à altura o desafio da máquina capitalista, na esperada resposta humana através de projeto real que aguarda séculos. 

Reconheçam o caminho, sem dúvida, quais bichos acostumados de volta à casa do dono. Depois do que se viveu o que vivemos nós, nada parecerá novidade. Se tivermos boa-fé, ficará a palavra com o futuro próximo.  

Aos homens públicos, eis imposto o senso de buscar metas livres de comprometimentos só ideológicos e particulares. Exigem-se muita sinceridade e coragem, além das outras qualidades essenciais ao homem público.

Sonhos claros, aspirações infinitas, compõem o quadro. A responsabilidade disso exige altivez, coerência e rumos independentes. Os eleitos enfrentarão momentos críticos, situações extremas, porquanto nunca antes se viu importância tamanha de escolher pessoas e determinar destinos.

Discursos e propostas não enchem barriga. Quer-se o exercício. Fora com a subserviência a regras dos mundos injustos, prepotentes, pragmáticos, oportunistas. O País possui condições determinantes, da inteligência à criatividade. Reclama, no entanto, praticados da verdade, porquanto somos nós o sistema que dizem nos dominar. Com trabalho e disposição se reverterá o curso dos perdidos acontecimentos. Querer juntos fazer o mínimo que pode a lucidez da democracia oferecer durante todo tempo. 

sexta-feira, 16 de maio de 2014

A medicina da selva

No mês de junho daquele ano, Manu e Galvão, um mateiro que com ele abria a estrada de seringa do Guaribal, no meio de muita mata virgem e longe das outras todas colocações; ali ainda não tinham colocação certa. Distante do lugar deslizava o rio Jurupari, questão de um dia, ou pouco mais, de viagem.

Eles passavam o tempo no eito. De madrugada, saíam do barraco e só de manhã chegariam no lugar do trabalho. 

Naquele dia, deixaram de molho umas espigas de milho para quando, no fim da tarde, voltassem. Durante a noite, na véspera, haviam cozinhado jabuti caçado no caminho. Ficara, pois, mais ou menos encaminhado o comer de quando regressassem.

À tardinha, isto aconteceu. Manu ralou o milho e pôs em fogo brando na cuscuzeira. 

Produziram muito o dia todo. Com tudo pronto, arrumaram os trens do rancho e comeram jabuti e pão de milho na largura da boca, no custo da fome. Depois do jantar, resolveram dormir dando pouco espaço na digestão do alimento. Pegaram no sono solto.

Lá pelas tantas da noite, Manu acordou ouvindo gemido forte e repetido. O colega emitia sons esquisitos dentro do mosquiteiro, na rede. Gemia de fazer dó. 

Horas se passavam e nada de o homem respirar melhor, nem falava; mal gemer conseguia. Desaparecera o espaço de entrar ar nos pulmões. Empachado, se via, na luz escura do candeeiro, o bucho do homem que subia e descia, mais parecendo prestes a estourar. 

Ele, naquela aflição enquanto Manu, que na época começara a fumar e carregava fumo brabo numa bolsa de seringa, o chame da moda, dispunha de pedaço enorme de fumo de rolo. Vendo a situação do parceiro, lembrou de certa história que seu pai lhe contara, e perguntou:

 - Galvão, se eu fizer um remédio, tu bebe? – acrescentando: - Só vou fazer se você beber. Se não, eu também não faço, não.

 - Faça – ouviu resposta sair das entranhas do homem quase moribundo, lá longe da civilização.

 - Vou fazer chá de fumo – disse. Foi ao interior do barraco e reativou o fogo. Era algo em torno de uma hora da madrugada. Desfiou algumas peias de fumo e botou na chaleira em boa quantidade d’água. A beberagem log fervia. Ferveu bem. Pronta, com ela encheu até a risca um copo desses maiores e estendeu ao doente dizendo:
-
 Agora beba sem tomar fôlego ou querer saber o gosto. Daqui a dez minutos vem o resultado – porém já sabia que demorava menos.

Era sua única chance de sobreviver. O mateiro se achava nas últimas e engoliu o cozimento do jeito que pode. Nem procurou tomar fôlego. 

Ao bateu no estômago, a reação viria rápido, que embriagou na hora; demorou nada além de dois minutos. Não deu dele sair da rede. Bateu dentro e desonerou o estômago. Tanto vomitava, quanto defecava a um só tempo. Poucos instantes do movimento, a barriga murchou qual houvesse passado três dias sem comer nada. 

Na manhã seguinte, Manu iria longe buscar alimento mais fino, manteiga, queijo, coisa assim, no trato do paciente. Eis o recurso da cura que, na noite longínqua, dispunha a gente heróica nos seringais da Amazônia. 

(Episódio ouvido de Manoel Ferreira da Silva - Manu).

terça-feira, 13 de maio de 2014

As duas faces de uma só natureza

A mulher e o homem são aspectos distintos, porém integrais, da natureza que os dois formam e se repetem ao infinito. Houvesse ausência de um, e deixaria vazio de não ter tamanho, a ponto da total interrupção dos acontecimentos biológicos que representam a longa história de todos nós.

No decorrer do tempo, contudo, devido aos motivos dos que buscam aprender das condições normais, invés de somar, excluem e criam divisões, a pretexto de reinar a fria competição, a concorrência desleal, da selvageria de um dos sexos, quando eles mesmos sozinhos se completam.

As características da mulher e do homem representam perfeição em termos de organização social, na elaboração da célula mãe da família e dos grupos. De sã consciência, ninguém levantará bandeira de superioridade entre esses dois aspectos essenciais do casal humano à procriação e educação das gerações, no sentido da construção ideal de uma sociedade justa.

As definições de cada um desses distintos elementos compõem a vida e pedem apenas que se respeitem no tanto certo de estabelecerem a felicidade ideal das pessoas. Exemplos haverá aos turbilhões de quem compreendeu tais características próprias da mulher e do homem, frutos da ciência universal. Isso põe a pensar no quanto ainda precisam conhecer dos segredos da paz, até rezar do jeito correto nas cartas das existências coletivas.

A riqueza dessas peculiaridades dos sexos rasga vistas dos que querem aprender o objetivo da lei da Criação, seus sabores e suas normas dignas da mais lúcida exatidão matemática.

Ao observar, pois, a ação amistosa entre os irmãos, o viajante das estrelas conclui que sem a mãe ou sem o pai nada existiria para merecer nome de filhos, e nenhuma história nasceria antes de tudo para se conhecer.

Eis, por isso, qual a solução das crises que sustentam a ilusão de serem opositores as duas manifestações dos que vierem morar algum tempo neste chão comum de dois.

Imediatismo

Na Bíblia, há exemplo clássico de imediatismo. No livro de Gênesis, exausto e faminto, Esaú, neto de Abraão, aceitou de bom grado a proposta de Jacó, irmão seu, para trocar o direito de primogenitura por um simples prato de pão, caça guisada e lentilhas. Sem medir as consequências do gesto, se rendeu ao impulso do momento, refugando o futuro melhor que lhe aguardaria.

Tantas e tantas histórias existem dessas atitudes irreverentes que não custa notar o quanto rotineiro virou comportamentos de pessoas agirem por impulso, a considerar apenas irresponsabilidade, preguiça e má fé como coisas naturais para si e os demais. Esquecem, na prática, que a vida é longa e o pensamento, breve, palavras sábias do cancioneiro popular.

A política disso preenche inúmeras páginas, com homens e mulheres, nas suas funções profissionais consagrados médicos, advogados, sacerdotes, jornalistas, artistas, exímios e valorosos, largar tudo para demandar as tetas do erário público. Lá, longe de origens reais e vocacionadas, trafegam alienados peixes fora da água, zumbis de gabinetes e corredores, que se põem perdidos no campo das vaidades e do poder escorregadio, em detrimento da competência necessária ao exercício do comando.

Outras formas de imediatismo acontecem nas aventuras e conquistas das civilizações colonizadoras. Espanhóis a destruir os povos do Novo Mundo, astecas, maias e incas, à cata de sonhos materiais e botins da ganância. Portugueses, na febre das esmeraldas, em matanças e destruições dos primitivos da Vera Cruz. Invasões bárbaras da Europa. Ingleses e franceses na espoliação da Ásia e da África. Tudo somado aos crimes ambientais há décadas promovidos na ocupação dos recursos naturais de matas, rios e mares, em prejuízo da rica e dadivosa Natureza, e reações da existência na Terra.

Isso também vista a jornada coletiva que devolve o pensamento a estados melancólicos, diante dos equívocos cometidos: Então replicou Esaú: Eis que estou a ponto e morrer; logo para que me servirá o direito de primogenitura? Jacó deu a Esaú pão e o guisado e lentilhas; e ele comeu e bebeu; e, levantando-se, seguiu seu caminho. Assim desprezou Esaú o seu direito de primogenitura, confirma o texto bíblico (Genesis 25, 32) lá no Antigo Testamento.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Um golpe frustrado

Na época em que foi prefeito de Lavras da Mangabeira, Gustavo Augusto Lima precisou seguir até Fortaleza, deixando a substituí-lo José Augusto de Oliveira (Zé Borrego), seu primo e esposa de uma de suas primas.

Algumas semanas passadas na solução dos compromissos que o levaram à Capital, Gustavo regressa ao município, pronto a retomar as atividades executivas.

Nesse meio tempo, contudo, grupo político adversário convencera Zé Borrego de não mais lhe devolver o mandato, coisas de quando sucessões municipais ocorriam na ponta do punhal e na boca do cravinote, de tão precário modo que o peso da força prevalecia em contrário aos ditames democráticos dos tempos adiante, dominância da rebeldia oportunista.

O líder Augusto chegara à noite. Ouviu de aliados a confirmação dos boatos que corriam soltos no lugar. O coronel Gustavo seria, com isso, vítima das demarches praticadas na sua ausência.

Dia seguinte, às primeiras horas da manhã, se dirige ao paço, sentido fixo nos afazeres do cargo que lhe cabia.

De longe, visualiza bem no curso da porta principal da Prefeitura a pessoa de Borrego, corpo franzino, calvo, olhos fundos, sagaz e impaciente no ânimo de manter a fúria golpista que desenvolvera.

Atitude própria de quem ignorava o motivo dos acontecimentos imprevistos, Gustavo chega ao prédio na intenção de reaver o posto que confiara às mãos infiéis do parente.

Imbuído no propósito de manter a sublevação, Zé Borrego não arredara os pés e, menos ainda, transparecia qualquer satisfação com o retorno de Gustavo, lhe bloqueando a passagem. Nessa hora, face a face, nos desejos do poder, obstinado, manifestou aos quatro ventos da praça sua intenção avassaladora:

- Gustavo, para entrar aqui você terá que passar por cima do meu cadáver – isso falado num tom duro, deixando claro que pretendia sustentar até o fim a manobra e possíveis consequências.

Ciente, pois, da teimosa disposição de quem antes dele merecera confiança, Gustavo Augusto esqueceu alternativas. Passo rápido, determinado, empurrando nos peitos, afrontou o que visse pela frente, de jeito que readquiriu no muque o domínio da ação e penetrou no recinto, após lançar ao solo, qual traste inútil, o afogueado usurpador, asseverando abusado entre os dentes:

- Sai do meio, Zé Borrego! Que tu nem cadáver possui – e de novo se investiu no cargo de Prefeito da localidade, restabelecido às condições anteriores.

domingo, 11 de maio de 2014

Revista Itaytera

Editada pelo Instituto Cultural do Cariri, a revista Itaytera disponibiliza um bom acervo de estudos quanto a literatura, história, antropologia e cultura da região do Cariri cearense. Circulou com seu primeiro exemplar em 1954, ano seguinte à fundação, em Crato, Ceará, do ICC, a 04 de outubro de 1953, por iniciativa dos intelectuais J. de Figueiredo Filho, Irineu Pinheiro, Pe. Antônio Gomes de Araújo e Raimundo Girão, instituição que reúne apologistas da arte, cultura e ciência de abrangência regional, além de promotores do desenvolvimento social ambientalmente sustentável. Atualmente, congrega  mais de uma centena de associados fundadores, efetivos, efetivos acadêmicos, correspondentes, honorários e beneméritos, distribuídos  em cinco secções: letras, ciências, folclore, artes e ofícios e filosofia.

No ano seguinte à sua criação, o órgão lançava esse livro-revista que preenche espaço de pesquisa essencial ao conhecimento do Cariri, preservando a memória dos valores imprescindíveis à formação de mentalidade universalista da comunidade durante todo tempo.

Até o ano de 2000, circularam 44 números da publicação. Em 2014, marco comemorativo dos 250 anos da fundação de Crato, a publicação circulará sob 45, equivalente ao período de 2001 - 2014, quando seguirá, ano após ano, em ritmo regular.

Com temas abrangentes da Região, atualizará notícias relativas à ampliação do quadro de membros do instituto e enfocará desde paleontologia a matérias históricas inéditas e de interesse do grande público, edição substanciosa e digna da fase antecedente.



Entre as iniciativas do ICC, se destacam: a fundação do Clube de Amigos do Folclore, a criação do Festival Folclórico do Cariri, a promoção do Seminário de Estudos do Cariri, a criação, com a Prefeitura Municipal do Crato e o Museu Itaytera, da Fundação Cultural J. de Figueiredo Filho, além da participação efetiva em ações visando o desenvolvimento regional.    

Fim das reservas

Os recentes aumentos recordes do preço do petróleo fazem emergir a antiga questão de quanto tempo ainda vão durar as reservas da matéria-prima. A propósito disso, alguns especialistas se manifestaram, gerando apreensões em todo o mundo sobre o assunto.

A OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) declarou que uma estabilização do preço e do mercado não estaria ao seu alcance. O preço do barril aumentou 41% nos Estados Unidos, sendo cotado em 44,23 euros. Trata-se da maior marca desde 1983.

Em se tratando desse tema, existe pelo menos um ponto consensual: as reservas naturais são finitas. Todas as conclusões tiradas deste fato não passam de especulações. E uma das questões centrais levantadas desde o início do século XX é por quanto tempo ainda vão durar tais reservas.

Uma das conclusões mais frequentes se baseia na premissa de que as reservas de petróleo estão se reduzindo em função do aumento da extração e do consumo nas últimas décadas. A categoria principal das reservas comprovadas se divide em reservas desenvolvidas e reservas subdesenvolvidas. Enquanto o desenvolvimento das reservas comprovadas pode ser demonstrado com facilidade, a outra categoria principal, de reservas não comprovadas - subdividida em reservas prováveis e possíveis - é difícil de ser demonstrada cientificamente. Desde que eu era pequeno, sempre houve um certo rumor em torno da previsão de escassez de petróleo, mas mesmo assim a produção dos anos seguintes aumentou ainda mais que antes, já dizia J. Howard Pew, presidente da Sun Oil, em 1925. A era do petróleo está longe de acabar, reitera Rainer Wiek, do Serviço de Informação sobre Energia de Hamburgo, Alemanha.

É evidente que as firmas estão se preparando intensamente para uma época sem combustíveis derivados do petróleo. Mas essa época ainda não chegou. Os especialistas partem do pressuposto de que os recursos comprovados durem pelo menos meio século. No entanto, é praticamente impossível fazer prognósticos sérios. Nas últimas décadas, houve um salto tecnológico. Antigamente era impossível extrair petróleo a três ou quatro mil metros abaixo do fundo do mar, mas agora as reservas da costa oeste da África, por exemplo, podem ser exploradas sem nenhum problema, explica o analista da Helaba Trust.

Rainer Wiek, do Serviço de Informação sobre Energia, elucida o rápido desenvolvimento através de um exemplo numérico: Antigamente, apenas uma em dez perfurações tinha êxito, hoje são oito em dez. Além disso, ainda existe outro potencial de desenvolvimento: de acordo com os especialistas, nem todas as regiões do globo foram investigadas em função da existência de possíveis jazidas de petróleo.

Em vista, portanto, dos aumentos recentes, cresce a incerteza quanto o tempo de duração das reservas dos combustíveis fósseis, ocasionando urgência de políticas compensatórias para a solução de uma inevitável crise do ouro negro, visando a manutenção do estágio de dependência de energia a que chegou nossa humanidade.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O arroz integral

Base da alimentação naturalista, o arroz integral apresenta vantagens em relação ao arroz branco por manter seus grãos intactos depois de retirada a casca, nisso preservando a película que o envolve e o gérmen da semente, onde há maior concentração de fibra e nutrientes. O arroz branco, ou polido, não conserva a película, esta eliminada com o polimento do grão, perdendo desse modo parte importante do valor nutricional. 

Dotado de consistência pela integridade, esse tipo de arroz pede mastigação e maior permanência na boca, permitindo ao organismo desfrutar de sabores até então desconhecidos e de uma melhor digestão, porquanto a digestão se inicia já no primeiro contato do alimento com o organismo, na saliva, prenúncio do metabolismo completo.


A utilização do arroz integral no Ocidente ganhou crescimento inusitado devido à propagação da dieta Macrobiótica Zen, introduzida através da França pelo japonês George Ohsawa, isso ainda na primeira metade do século XX.

Considerado pela culinária oriental alimento dos mais equilibrados que existem, face ao teor de potássio e sódio proporcionais e das fibras que oferece, em circunstâncias necessárias poderá ser consumido nos tratamentos de cura da medicina contemporânea.

Em virtude da sua riqueza nutricional, prolonga a sensação de saciedade e estimula o funcionamento do intestino, reduzindo a taxa de glicose no sangue. Além do que, disponibiliza a vitamina B7, que permite a eliminação da gordura do fígado e auxilia na queima da gordura localizada, segundo os nutrólogos.

Quando conheci o arroz integral, ainda na década de 70, havia oferta do produto tão só em lojas de alimentos naturais raras no interior e nas capitais. Hoje, no entanto, os mercantis oferecem com facilidade essa alternativa alimentar, permitindo o conforto da saúde e da desintoxicação nos diversos lugares.

Visto pelos estudiosos qual alimento prodigioso, caberá provar de perto suas qualidades, razão de plenos resultados na saúde pessoal. 

domingo, 4 de maio de 2014

Ossos do ofício

Grande conflito se dá na consciência do advogado na hora de aceitar a causa, por mais que se pretenda exercer o postulado soberano do contraditório, onde todos merecem defesa. Há ou não culpabilidade? No entanto existe sempre um lado em que prevalece o senso da justiça em sua mais ampla nobreza. Daí o anseio do trabalho limpo, em favor dos que merecem.

Sobre isso, outro dia Dennis Hartnett me contou caso ocorrido nos Estados Unidos, país em que nasceu, com um amigo de sua família, advogado recém-formado, idealista, disposto a ficar do lado bom das causas, pleiteado em prol de quem esteja correto, no pugilato da Justiça.

Dentre seus primeiros clientes surgiu cidadão indiciado como suspeito de contrabando de bebida. Meticuloso desde o início da defesa, o paladino do direito procurou se acercar de todos os elementos que evidenciassem a lídima inocência do constituinte, lacrimoso na justificação de ser apenas vítima de trama insidiosa, porquanto não lhe pesasse o mínimo de responsabilidade quanto às acusações formuladas. Seria mais um dos casos onde se verifica perseguição do fisco contra alguém inexpressivo e de parcos recursos e da insistência em prosseguir no ramo do comércio.

Ciente dessa isenção, o advogado cuidou logo de produzir a tese no tanto necessário ao melhor convencimento do juiz, coletando provas, estudando mais e mais doutrinas e arrecadando as melhores jurisprudências. Seguiu bem de perto cada passo, ocupando-se do andamento da ação como quem zela por assunto de ordem pessoal, até alcançar admirável vitória com a absolvição do réu.

Após o término do feito, ainda emocionados com a forte argumentação apresentada no processo, resolveram acertar honorários. E qual não foi o espanto do causídico ao ouvir seu cliente oferecer a proposta reveladora de lhe pagar os serviços com caixas de vinho estrangeiro da melhor espécie, só que sem a correspondente nota de fornecimento, pois haviam transitado por meio da clandestinidade!              

Extrema inabilidade

De parar e olhar em volta, neste mundo, um quadro mostra identidade reveladora, a imensa maioria dos terráqueos que demonstra profunda falta de habilidade no trato com as coisas da natureza. 

Fôssemos analisar os detalhes do progresso, existem áreas da atividade humana que atingiram raias de perfeição. Como exemplo, as tecnologias da medicina moderna e dos meios de comunicação, além de outras faixas da ciência, aplicadas ao voo e à captação de sinais atmosféricos.


No entanto, quanto à utilização harmoniosa dos recursos naturais, o trato com as matérias primas e os convívios das raças, estes itens demonstram amadorismo pecaminoso, a ponto de se imaginar riscos enormes de desorganização do sistema global. Os passos da história oferecem escuridões inaceitáveis, quais a Idade Média, as Grandes Guerras, a Guerra Fria e, agora, o esgotamento dos combustíveis fósseis e poluição desenfreada das águas e da atmosfera.

Houvessem que passar por testes de sobrevivência, dos seres humanos sobrariam poucos. Destruidor voraz das florestas nativas, os chamados macacos inteligentes vestem suas túnicas de imaturidade qual quem derriba árvores seculares para comer uma safra só. Para enriquecer e usufruir as tocas douradas dos continentes ricos, verdadeiros museus da inutilidade, as raças ricas puseram povos inteiros na linha de tiro, sacrificando multidões e gerações aos caprichos de sua ganância. Resultado desse egoísmo de grupo é a casa inteira do planeta Terra ameaçada de sumir com todos nós debaixo, vítimas de uns poucos e débeis líderes, que pensam em si, herdeiros da imbecilidade que fragiliza a existência dos outros e de todos, na comunidade humana deste chão.

Dessas aulas de inabilidade no trato com as coisas naturais uma conclusão nítida permanece grudada no céu-da-boca do ar, em letras garrafais: os técnicos da racionalidade ficaram longe de resolver os problemas entregues em suas mãos de ilusão. Crianças da improbidade, levam consigo o barco aos rochedos da amargura. Usam interesses próprios nos orçamentos públicos e gastam pensando sempre em manter os destinos, sem indicar soluções da crise instalada no poder.

Deste modo, autocrítica que rasga os olhos de quem quiser ver, vive-se hoje fase histórica das mais melancólicas de que se têm notícias. E, o que de causar espanto, num período fruto dos milênios de aprimoramento e experiências acumuladas no zelo da cultura e da civilização. Todo o cabedal reunido vira equívoco, e sucessos deram nisso, de reconhecer que andamos no sentido contrário da realidade real.

Porém nada diz que se desista, esperança pródiga dos dias melhores, vez que existência justa implica em persistir rumo à convivência dos seres, unidos que somos uns aos outros, na sábia Criação. 

sábado, 3 de maio de 2014

A história do Padre João Sem Cuidado (conto popular)

Certa vez, quando visitava província distante do seu reino, o soberano percebeu que as armas do Padre João Sem Cuidado assinalavam a maioria dos bens daquela região. Notou também que esse senhor detinha tantas posses e não levantava sequer uma palha para dar conta de suas propriedades, fazendo-se, por isso, justo merecedor do nome de Sem Cuidado sob o qual todos lhe conheciam.

Após investigar a situação, achando-a deficiente irregular, chamou aquele religioso para prestar maiores esclarecimentos.

- O senhor possui esses troços e nada cuidar no seu merecimento. Isso que dizem de vossa senhoria corresponde mesmo à realidade? - quis o monarca saber.

- Alteza, meu senhor, essa é a mais pura verdade - respondeu o sacerdote. - Minhas propriedades cresceram e continuam a crescer independente dos meus cuidados. Entrego sempre a Deus as preocupações pelo trabalho, pois a Ele sirvo e nem confio.

Ao soberano pareceu que houvesse alguma coisa errada naquilo. Decidiu, portanto, impor ao súdito uma série de questões as quais não respondidas o levariam, sem apelação, à forca, dentro da autoridade rigorosa do reino.

- Quero saber de sua capacidade - impôs o soberano. - Dentro de um mês, o senhor deverá vir ao palácio me dizer: Quantos balaios medem a montanha mais alta do reino, qual o peso da Lua no céu, onde fica o centro da Terra e, por fim, o que estarei pensando na ocasião do interrogatório.        

O padre João ficou triste com as palavras que ouvi desconsolado. Recolheu-se em casa durante vários dias, examinando as charadas a resolver. Nisso, um dos seus irmãos, Felipe Doido, que perdera o juízo de pensar nas coisas da natureza, reagiu àquelas exigências reais enigmas e pediu a Sem Cuidado que mandasse ele no seu lugar, para responder aos enigmas propostos.

No dia em que vencia o prazo estabelecido, Felipe paramentou-se todo, indo à presença da solene corte. Cumpridas formalidades iniciais, o rei indagou: - Quanto mede a montanha mais alta do meu reino? Daí Felipe Doido respondeu: - Não chega a medir um balaio dos meus.

Sem poder prever o tamanho do balaio de que cogitava, nenhuma alternativa sobrou ao rei senão aceitar a resposta do súdito. - Qual o peso da Lua? - quis logo saber, no entanto.

- Sete arrobas e meia - respondeu Felipe. - Caso V. Alteza duvide, pague a despesa de trazer a Lua aqui e pesar. Eu pagarei o tanto de levá-la de volta. O rei abismado, também aceitou a correção da segunda resposta. 

- Então, agora diga onde fica o centro da Terra.

Felipe tirou do bolso da batina um compasso, com ele traçando ele no chão círculo exato e apontou o centro da figura dizendo: Estar aqui o centro da Terra. O rei mais uma vez aceitou a resposta, demonstrando contrariedade pelo sucesso do interrogado.

- Por fim, quero que o senhor diga o que penso neste exato momento – argüiu ressabiado o monarca, acreditando impossível qualquer resposta. 

- V. Alteza neste momento pensa que está falando com padre João Sem Cuidado, quando, devera, fala é com Felipe Doido, um irmão dele.

Vista a sagacidade com que o vassalo se manifestara, o rei baixou a cabeça, admitindo a derradeira resposta. Em seguida, felicitou o Padre João Sem Cuidado, que chegava solitário. Como justiça, a partir desse dia, ele e sua família se transformaram em fiéis e queridos servidores da casa real.       

Nota: História ouvida de Manoel Ferreira da Silva (Manu).

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Novo livro de Jorge Emicles

Dessa vez em uma temática diferente da do primeiro (Intuição do Direito), que fora sua dissertação de mestrado, editado através da BSG, no Cariri, vem agora com livro instigante, questionador da condição humana diante da sua interrogação principal, o desaparecimento deste mundo. Passara dificuldades na saúde, no entanto essas que ocasionariam marcas de profundas reflexões, e o autor, agora, as transforma num romance intimista, próprio de quem interpreta as rupestres inscrições das entranhas humanas.

Conversas com a morte, eis o título do mais recente livro de Jorge Emicles Pinheiro, advogado e professor de Direito, que vive em Crato e ora exerce as funções de Procurador da Universidade Regional do Cariri. Nessa obra quis e obteve êxito em plasmar as impressões deixadas pelo itinerário que cumpriu junto aos estágios da peleja pela vida entre as instituições que lhe cuidaram quando houve de cruzar os desafios da sobrevivência.

Atento aos percalços que lhe foram oferecidos naqueles dias sombrios, recolhe os inúmeros solilóquios investigativos da existência, olhos fixos na possibilidade renovadora dos mistérios da alma.

Dividido entre o caos da saúde pública no Brasil e as esperanças da cura, persistiu na ânsia da atravessar a barreira dos costumes médicos, zelo dos trâmites em consultórios, hospitais, exames, tratamento, indagando critérios a veleidade dos critérios mais angustiantes, por vezes agressivos e selvagens.

Jorge Emicles revela, por isso, nas proporções equivalentes da sua vocação literária, outro marco da escrita universal em terras cearenses. Trabalho de fôlego, exemplar de mais de 300 páginas, produzido na Chiado Editora, de Lisboa, Portugal, com distribuição aos países de língua portuguesa.

Entre ficção e realidade, Conversas com a morte prima por estilo esmerado, leitura indicada a quem aprecia as viagens de longo curso, páginas abertas a esses largos voos, um estudo subjetivo, imperdível e sincero. Com a mesma naturalidade com que Sartre avalia o transe derradeiro (A morte é a continuação da vida, sem mim), Emicles esquadrinha segredos de quem observa o ritmo desses chãos comuns das estações finais do processo vida, matéria por demais empolgante, de que se poderá estender, no entanto noutras ocasiões menos limitadas


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