terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

O crivo das palavras soltas

A bem dizer, somos quais significados do que fomos e que adiante seremos. Meros significados, pois, em transição deste a outro universo. Naves de sons, visões, contos, letras, números, aventuras. Blocos inteiros da ação dos tempos em volumes dispersos pelas ruas do Infinito. Olhos postos nas próprias páginas, quase nunca imaginamos o que, na realidade, viremos ser. Conteúdos, isto sim. Conteúdos de significados na gestação inabalável do Tempo, este senhor absoluto do quanto existe (existirá) durante as eras sem final conhecido.

Desses conteúdos, formamos, por isso, as criaturas individuais, mergulho das espécies neste Chão de tantos seres que aceita as contingências e as espécies. Um a um, sujeitos da ação acolhedora das inúmeras circunstâncias. Elaboramos o que avaliamos ser, no entanto. Todos e nenhum, a braços com os ditames da sorte na loteria dos destinos. Vestimos, grosso modo, os diversos trajes. Representamos infinitas histórias através da arte de viver, sejam através de música, arquitetura, literatura, dança, pintura, escultura ou cinema. Nisto fazemos da existência uma fórmula de viver dalgum jeito. Disso nascem os dias quando aqui movemos a massa informe que ainda somos.

Através disto, da ação do Tempo em nós, recriamos ou destruímos o mundo em volta. Aceleramos e diminuímos o ritmo dos dias nos textos que criamos em nós por meio das palavras que articulamos. Joguetes de nossa mesma ignorância, plantamos e colhemos os frutos das atitudes e largamos ao léu o bastão aos que chegam com igual necessidade de conhecer a que viemos.

Foram muitos e mais serão os que vêm com iguais expectativas de, lá num momento, desvendar o vão das dúvidas e revelar a outros as camadas e significados que encobrem nosso alvedrio. Que bom que seja destarte, que chances sobrevivam ao nosso desespero, nossas angústias. Quem sabe achemos o senso dessa plenitude e descubramos de todo o pouso da compreensão definitiva, desejo de todos nessa imortalidade que ora somos e precisamos trazer à tona por meio das palavras exatas. Só então daremos de conta das estatísticas parciais que conduzimos na alma, de que nem sabemos em essência.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Fantasmas da solidão

Do Amor procedemos, e com Ele fomos criados. Assim, ao Amor tendemos, e a Ele estamos consagrados. Ibn Arabi

O medo que, de si mesmo, isso ocasiona, de querer fugir sem ter aonde se esconder. Instinto do ego, a luta de esquecer o passado e correr ao futuro prevalece. À medida do tempo, vem o gosto de conhecer o abismo da Consciência. Desejo ardente de neutralizar a ausência incontida, fonte de tantas angústias, daí esse fator que permanece no querer das criaturas. Ninguém que seja capaz de avaliar a importância de querer algo com toda força. Nas doses extremas de dor, correm à embriaguez, à fome de conter, neutralizar, o que restringe descobrir o gosto do equilíbrio. Mascarar a própria presença. Esses fantasmas chegam, passo a passo, diante da solidão. Quando seria o instante de encontrar o ser que somos de verdade, nesse momento avançar nos apetites da matéria é desfazer a oportunidade do encontro.

São muitos os nomes a isso, à feliz realidade no encontro consigo mesmo. O vazio deixado pelo tempo que escorre no firmamento somos nós. Aprendizes do Destino, e apenas observamos um jeito de responder à maior das interrogações. Frutos doces da Eternidade, contemplamos o Infinito feitos peças ocultas desse imenso painel das luzes em movimento. Quantas vezes, olhos postos no mistério, observamos finais do dia sem conhecer a raiz do que nos trouxe aqui. Fronteira entre o tudo e o nada, tão só avaliamos grosso modo o motivo da estar neste mundo. As causas, os valores que viajam pelos céus.

Talvez por isso de ser assim, padeçamos, questionemos a forma ideal de tocar as fímbrias das madrugadas e que possamos despertar, de uma vez por todas, deste sono que nos envolve e, nalguns lugares, embriaga. Nem de longe há o prumo definitivo de conter o desenrolar dos séculos com facilidade. Pulseiras do teatro desse tempo, avaliamos constantemente a solução de tudo. Fitamos longe as luas e adormecemos nos sonhos. A música das nuvens que passam bem que pode, lá um dia, tocar o nosso coração e revelar o enigma que ora somos. Estejamos atentos, pois.

(Ilustração: Ibn Arabi, reprodução).

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Razão e sensibilidade


Duas peças em um só corpo. Enquanto habitamos essa casa, há que aprender, trabalhar, com essas duas forças de uma mesma existência. São aspectos distintos da Natureza à nossa disposição, no sentido de encontrar a vertente de união e transcendência. Funções distintas, mostram meios de aprimorar o ser individual que ora somos. Escolas vivas. Marcos divisórios da compreensão absoluta. Dois à busca de revelar em si a Salvação na face do Tempo em movimento do qual usufruímos a oportunidade maior da Consciência.

Lição bem simples, porquanto esse rio desliza dentro da gente mesma. Duas margens do grande Todo, luzes acesas da pura revelação. Ninguém haverá de fugir de uma apenas aparente contradição. Nisto, herdamos a melhor parte de tudo quanto existe durante todo tempo. De todos seres, significamos os únicos mais próximos da essência e detentores dos instrumentos da Libertação. Contamos, assim, a epopeia da própria realização, da cura do desparecimento.

No mesmo período quando a fria razão instiga a que nos sujeitemos à matéria, outra vertente, tão poderosa quanto, o sentimento, motiva a que cuidemos de buscar a compreensão daquilo a que se vive aqui. Nisto, o resumo de todo conhecimento e fonte do equacionamento das aparentes contradições sob as quais persistimos. Almas em eterno recomeço, até desvendar o mistério de viver, operários da Iluminação, vagamos pelas malhas do Infinito. É de tamanha perfeição e valor o compromisso das pessoas consigo, neste afã de se encontrar, que, de antemão, recebem constante orientação e notícias do que lhes aguarda logo ali adiante, no sentido único da Criação.

Portanto, autores e protagonistas da missão de achar Deus no ente que ora seja, o prazo deste encontro definitivo está bem no íntimo de cada um. Sublime existência e herói da persistência, resta, pois, desvendar o código de que são os autores, no próximo capítulo de uma história tão sublime. 

(Ilustração: A noite estrelada, de Vincent van Gogh).   

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Entre o Ser e o Nada


Bem ali entre esses dois personagens da Filosofia, numa cabana esquecida pelo Tempo, perdida na floresta do Infinito, vive um serzinho desgarrado, o Amor. Faz da história e desempenha a lenda dos que sonham no colo da imaginação. Amarfanhado, silente, livre da posse de objetos e paixões, diariamente prepara seus afazeres e sobrevive às custas das ausências e saudades de antigos momentos largados nas encostas do firmamento, só, a se debater, perene, no entanto, e feliz para sempre.

Foram muitas as festas a que comparecera, cercado de sons e ametistas, vícios e virtudes, porém na busca de si mesmo, o que veria de encontrar lá bem depois nas raízes do esquecimento. Cessadas as vidas de inconsciência, que restaria das segundas-feiras diante do expediente repetitivo? Acreditar, e acreditou. Susteve a vontade do ser, contudo firme nas certezas dos dramas que afronta, daí que acharia o que tanto procurara nos sertões dessas vidas cheias de lances e imprevistos. Seguiu, no entanto, a braços com o silêncio das madrugadas e das películas estonteantes da memória, séculos sem fim amém, até chegar aqui, face a face com as partículas desse Nada entontecido na distância, que veio nas sombras e filas da solidão. Sei que foram dias de sobressalto, quais alimentara na sede da visão, nos segredos e mistérios, impérios que preencheram o ser de livros a estantes nas horas dos noticiários enfurecidos, das normas inúteis de soberbas e aflição.

Depois de tudo aquilo, agora o Sol nessa planície aberta de um coração fervilhando das cores vivas da certeza. E todos viverão disso, alimento dos deuses e das fadas. Quantas luas mais ainda virão no transcorrer de momentos alegres das almas em flor. Que palavras iluminem as horas, olhos acendam de novas luzes e haja união feita nos desejos desfeitos através das vidas. Só então saberemos o quanto de realidade existe na consciência, pouso eterna da presença de todos os motivos,

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Paisagem interior

 


Para o Amado, o herói e o tolo são a mesma coisa. Rumi

Sabe-se bem dos limites humanos. Aonde olhar e perdura o império das razões só restritas ao consumo do imediato. As nuvens aparecem e desaparecem numa velocidade incontrolável. Vontade imensa de acertar naquilo que lhe vem, todavia o fruto das causas atuais, que expandem o desejo e nele terminam em pó. Daí, tocar em frente, independente do que virá, esse o objetivo da aventura que aqui trilhamos a todo instante. Séculos de pura agonia, projeções desse ânimo nas telas do Infinito. Um a um no mesmo impulso de acolher o que nem sabe o quê e quando.

Doutro lado, aqueles pródigos que mergulham em si e demonstram calma e significam muito aos demais. Exemplos de paz, contam lendas do Alto na linguagem que apresentam. São peixes de outras águas. Conhecem do passado o tanto de aprender o motivo de estar neste chão e viver no presente todo futuro. Almas libertas, podemos assim falar. Chegam e saem à medida em que alimentam um ser interior, o que demonstram nas histórias que encarnam e delas contam maravilhas.

Narram cenas inigualáveis, descrevem lugares perfeitos, quais merecedores das jornadas que empreendem, até galgar os páramos dessa exatidão ainda no crivo da carne. Diante dos tais, vemo-nos passo a passo perante o sonho do Ser de quem recebem a luz de uma consciência bem maior. Hoje são muitos deles a compor o calendário dos santos. Os místicos, iluminados. Enquanto a multidão prossegue na luta cotidiana do ser pelo possuir, nada mais. O que reflete esse fator de sobrevivência daí afloram os tantos outros lenitivos de tocar adiante os passos de tudo enquanto.

A resumir os preços das existências, vem isso de contar a própria lenda e exercitar o espírito de todos. Seremos partes de um tempo em movimento, porém dotados da luz que nos acompanha, viagem esta de cunho individual rumo das estrelas.  

sábado, 18 de fevereiro de 2023

A raiz das contradições


Isso bem de dentro das individualidades, dentro de nós. Enquanto a gente quer ser deus apenas arrasta em si o fardo rústico de cascas e nós que, de comum, bloqueia a estrada onde passamos. Noutras palavras, vemos luzes lá adiante, mas sujeitos a nos alimentar das ilusões daqui do Chão. Sonhamos com a pureza e acordamos no seio dos excrementos por nós mesmos produzidos a qualquer momento das histórias pessoais. Julgamos os demais porém esquecidos daquilo que produz de nós o que julgamos. Nisto é claro sermos as próprias contradições.

Imediatamente tão fácil botar o dedo sujo na cara dos outros e viver as fantasias da hipocrisia... Bem humano que seja laborar assim, no entanto a criar ruídos à música da Verdade que perdemos de ouvir. Sujeito dos dramas que produz a cada gesto, nadamos nesse mar de lodo feitos rascunhos do que nos chegará à frente face ao poder da Justiça superior.

Pois sim, daí as razões das dores do mundo que transportamos. Poucos, raros, podem ver com real compreensão os motivos de ser de tal modo. É que precisamos superar a condição atual dos animais em evolução e chegar aos céus da Realidade. Eis ao que nos destina o princípio de tudo. Aprender a cruzar os limites da matéria e obter as bênçãos espirituais. Quem aguentar ouvir que leve em conta. Além disso, resta aquele cipoal das contradições no embate do ser com Ser.

Aparentemente tão claro esse panorama. Dele, contudo, vêm os gestos e as feras que ainda somos. Escravos e senhores de cenários barulhentos e parciais, sórdidos e pegajosos, a cara de multidões inteiras rumo aos fins e recomeços, até quando, então, deparar com o barco da certeza e reverter à transformação. Nesse meio tempo, a névoa das vidas supostas e salobras. Outrossim peças dos mistérios deste Universo perfeito onde habitamos e crescemos a todo instante, sem outra alternativa senão evoluir.   

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Sementes de perfeição


Bem isto, sementes de perfeição lançadas no solo do Tempo. Das lamas do passado, ali nascemos a cada momento. Olhos postos na luz dos olhos, firmamos em continuar, traços da profecia espalhadas aos sóis. Livres até de nossa mesma imaginação, fustigamos as docas do mistério e colhemos de dentro a sobrevivência do Ser que aqui transportamos vidas sucessivas. Essa vontade imensa de sonhar com a continuidade sem fim faz de todos blocos de gelo que flutuam rumo aos céus.

Diante das perguntas do vento, formulamos as tantas respostas que montam e desmontam a história das criaturas. Meras definições provisórias do que seria o sentido de tudo, conduzimos o barco da sorte aos paredões do Destino.

Assim, quais nuvens desta humana perfeição, sonhamos no colo da Eternidade os dias que nasceram de nossas próprias notícias, fiapos da colcha descomunal da Natureza. Portanto, nós, sementes de perfeição nas hostes do desejo absoluto. Firmes nas malhas desse tear inigualável, eis o que precisamos ao romper a casca que ora somos.

Lá longe, nas memórias, havemos largados ao firmamento essas antigas tradições de encontrar uma paz constante no coração da gente. Estradas por vezes escuras, doutras cheias de ilusão, andamos a passos largos de vencer os invernos frios da esperança. Aprendemos a plantar, pois, nas hostes da alma o furor destas sementes e sorriremos, de certeza, belo dia, que aprendermos a exatidão desse equilíbrio que presenciamos no íntimo da existência.

Painéis libertos, escrevemos o quanto de belas histórias contam as felizes recordações, a braços com o fluir das gerações. Já sentimos nas entranhas esse movimento dos astros nos pagos da consciência, até quando sorriremos face as manhãs de plena luz, vasto itinerário da Verdade.

(Ilustração: Monte Santa Vitória, de Paul Cezanne).

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

A história das tantas histórias


Nesse movimento constante das ondas que não se apartam do mar, assim vive a vida nas pessoas. Pedaços entrelaçados nas horas, vagam soltas pelas esquinas das histórias. Contam a si e aos outros os quantos de vivências, no entanto ansiosas de que assim não fosse, porém. Espécies de moléculas de um todo desconhecido, passam no Tempo numa velocidade esquisita de quem jamais desejaria.

Lembro sempre de mim noutros momentos, contudo feito das interrogações que lá me acompanharam. Nisso, insisto de perguntar a quem responder senão a mim próprio, que pouco, ou nada, ouve que signifique aquelas respostas que busquei pelas vagas em movimento. Revejo as ânsias de que Sartre falou no tempo de A Náusea, tão só desfeito nas malhas do mistério, na fria intenção de justificar as lembranças diluídas nas letras.

Ah, tal a fome de realizar os desejos invés de testemunhar o mero desaparecimento entre os dedos e ver o impossível firmar os pés na consciência de todos. Quando sabem, entretanto, silenciam.

Ao contemplar, pois, as quedas sucessivas de cenários e fantasias, nem os mares e muito menos as montanhas deixam de ser e prosseguem na faina desse viver esdrúxulo. Quisessem não fosse que tal e de pouca valia a não ser encontrar as respostas e também ficar em silêncio nas horas que desmancham os ares e padecem da síndrome desse invisível. Nós, aventureiros do Destino, protagonistas das longas aventuras de heróis ausentes nas sombras do firmamento.

Quantas folhas, quantas flores, e agora?! Em que mundo, em que estrela Tu te escondes embuçado nos céus? Foram mundos, civilizações, enquanto isso... Ainda que padeçam das existências nas existências, sobrevivem ao mistério que ocultam as dobras do coração. Eles, os autores das narrativas que acontecem aos seus próprios olhos e neles adormecem ocultos do Infinito.

domingo, 12 de fevereiro de 2023

A música da Verdade


Bem na essência de tudo persistirá essa dimensão definitiva, ou equilíbrio, o valor que sequencia as existências, a Verdade. Sem maiores esforços, ainda que diante das interrogações, a medida pura do Universo vaga solta nos arredores, mesmo que o juízo de todos ainda carece de compreender. Porém há que ser assim, pois quem somos a querer mudar?! A força desse poder infinito a tudo rege, portanto.

Enquanto isso, todo esforço humano persiste em continuar à busca do sonho de uma verdade pura e definitiva. Um misto de passado e futuro, contanto que sobreviva diante da crise continuada de viver entre si feito fera, no senso de resistir ao passar dos dias. Restos de ilusões carrega consigo vidas e vidas. Insiste alimentar de sobras o desejo das noites largadas aos sóis nas manhãs seguintes.

Dotados das possibilidades infinitas de criar heróis, joga ao lixo trajetos imensos de largas histórias, às vezes místicos, noutras castiçais de bronze nos templos da amargura. Esses encapuzados personagens das trevas sustentam, outrossim, epopeias inigualáveis de conquistas e mistérios. Avançam existências a fio semeando desejos e sustentando batalhas sob o crivo da solidão. Eles, os anteriores ocupantes da banca do Sol. Vagueiam nos mares bravios munidos das angústias de que se fazem senhores, todavia apenas serviçais.

Abismam os infinitos e realizam sinfonias de almas aflitas, esses seres que resistem ao desparecimento e nisso demonstram muitos mais do que veem nas trevas do instante. Dormem a sono solto o ritmo das festas. Pousam abandonados ao relento dos desertos. Constroem o imaginário pelas frestas do firmamento. Sabem que logo ali adiante virá o crivo das promessas e viverá para sempre nos pagos da esperança e ao sabor da felicidade.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Nessas manhãs ensolaradas

                        

E segue a fome do absoluto na alma da gente nesses tais. Tudo tão perfeito em volta que se sente na alma a forte urgência de encontrar o sentido do que vê, o Sol, as aves, as flores, o vento que sopra suave na folhagem ao som distante do riacho; as pessoas que passam e seguem no afã de viver quanto possível. Desejo forte de acalmar os pensamentos e vislumbrar, no mínimo que seja, a silhueta do divino que avisa nesta imensidão os destinos, que avança pelos dias e deixa seu crivo das lembranças bem plantado em volta. As visões do Paraíso, que insistem gritar a serenidade do Tempo. O âmago avassalador das horas em movimento, face ao equilíbrio que reina a cada momento.

Algo de misterioso que fustiga, pois, o coração e diz o que queremos ouvir e ainda não temos o poder de compreender, isto nas folhas vivas da imensidão que domina o firmamento. Desejo por demais intenso de interpretar as normas dessa caligrafia, querer deduzir, por menor que fosse o querer, a voz do Infinito em nossos ouvidos.

Pássaros, quais interpretes de tudo isso, transmitem lá longe os segredos, no entanto apenas escutamos nas vozes doutro universo, a fustigar a angústia e sede saber desses códigos secretos. Daí, o eterno movimento do quanto existe, inclusive em todos nós, aprendizes da ciência de Deus. Queremos, porém de pouco valia só e apenas isso. Há que saber do tamanho deste Ser transcendente que esconde sua face diante das tantas maravilhas.

Enquanto isto, trilhamos inconformados antigas práticas de reverter nos meros improvisos da sorte o que fala aos nossos olhos e reclama dos nossos gestos, esforço de afinar a ilusão e transformá-la num mar de luz, aos moldes dessas manhãs. Assim, mendigos desarrumados da luz que nos alumia, baixamos os olhos e conduzimos mais longe o que agora pede sintonia com a paz reinante nos céus, andarilhos que somos da eternidade de nós mesmos.