quinta-feira, 28 de setembro de 2023

A culpa condena


Desde sempre que é e assim será. Consiste num equilíbrio no Universo, independente de todas discussões filosóficas. O sentido dessa busca bem caracteriza o quanto existe e seja desconhecido nas limitações humanas, animais em fase de aprimoramento e novas descobertas. A pobreza da linguagem no entanto persiste no qyerer dizer o que não pode ser dito. Porém milénios de culpa respondem pelos atos e deixam o que compreender do Tempo e da Justiça. Seres cometem práticas e o Tempo é o senhor da Razão, qual disse Felipe Camarão certa feita. O transcorrer das circunstâncias nasce disso, de ocorrências no andar do Infinito e tudo vir à tona, na medida em que surtem efeito
e trituram o passado ao pó das estradas humanas. Das atitudes incoerentes, portanto, vem a responsabilidade e os próximos movimentos, admitam ou não.

Isto que vale bem resumir dos mistérios à nossa frente e que as gerações irão, pouco a pouco, juntar as respostas aos valores. Um desses, o da justiça verdadeira, perene, real, a que todos somos submetidos e muitos ignoram. Daí os tantos comportamentos equivocados, restritos ao senso comum de achar que existem alternativas de sobrevivência fora da condição apenas atual. Vemo-nos pautados de tal sorte aos parâmetros da Eternidade e nem por isto haveremos de fugir ao Destino das determinações ainda inalcançadas pela nossa restrita percepção.

A balança das práticas dos indivíduos nisso ver-se-á no âmbito da própria Natureza, exemplo do que nos aguarda logo ali nas curvas dos sóis em perene contrição, longe mesmo do que possamos identificar nesta oportunidade...

domingo, 24 de setembro de 2023

O silêncio dos fins de tarde


Algo solene que enche de paz as ausências e deixa rastros de solidão por todo lado. Um vazio dos itinerários que foram mergulhados no passado apenas percorre lentamente as razões de estar aqui. Nalgum momento mais e os pássaros acalmam seus trinados por causa da noite que se aproxima corajosa em véus de mistérios e interrogações. Nisso, as visagens vestem os trajes de assombração e começam a reler o roteiro das localidades aonde irão percorrer nas sombras, olhos cinzas e sustos. Enquanto que da calma dos movimentos renascem os sonhos, todos retornam aos lares na busca da certeza que guardam consigo.    

Raras vezes essas ocasiões querem se revelar no senso das pessoas e suas histórias preenchidas nos lagos da individualidade, nas infinitas jornadas vidas afora. Dotados de vontade, desejam consciência. Mergulham na saudade de si e persiste a semear esperanças dos dias melhores, amáveis. Os pensamentos vivem disso, dessa intenção dos equilíbrios de lhes dominar o mar da procura e restringem o sol de suas almas.

Mesmo assim as palavras que deslizam pelos céus e contam da distância lá no horizonte tardio. Quantos, multidões de quereres a vagar nos raios do dia que sumiu pouco a pouco, sussurrando as indagações que falam nos labirintos das pessoas novas possibilidades a todo tempo. Um próprio de expectativas envolve, pois, o nexo que carregamos conosco a qualquer instante e todos lugares.

Conquanto haja de tudo nas sombras que invadem o dia, somos seus personagens principais, revelações em andamento no turno das visões adormecidas. Isso que pede respostas e pacientemente reservamos espaço na alma que afirme o instinto de continuar pelos caminhos que avistamos. Letras, sons, canções, algo distante a demonstrar alegria e força de tocar o roteiro que existe nas mãos dos quantos vivem aqui.

sábado, 23 de setembro de 2023

O crime do aborto


O saber natural em sua ação persistente criou as condições de gerar filhos e os seres humanos em sua ignorância os expelem a sangue frio natimortos, quais eliminassem animais desnecessários, seus próprios semelhantes.

Houvesse leis pela preservação da vida em soberbas características de contenção dos desmandos praticados em redor do mundo e, decerto, a história mostraria inegáveis oportunidades de felicidade a esses tontos mortais esfomeados de prazer imediato.

Jamais, senão agora, demonstrações de ausência de lucidez parecem crescer no horizonte esfumaçado da destruição na flor da idade, em meio aos escombros da barbárie que toma conta dos séculos. Símbolos de paz viraram motivos de ausência de critério, nas promoções desencontradas de minorias vencidas.

Mas falávamos da covardia do aborto... Que pouca honestidade para com os semelhantes a nascer essa atitude dos legisladores lusitanos... Nem de longe se deve imaginar uma coisa dessas para o Brasil, povo originário dos avôs do outro lado das marés, que desta vez desistem de querer renovar a espécie. Exemplos melhores já nos deram, com certeza... Lições práticas de vida, a língua, o sentimento latino, o fervor, a musicalidade. Agora, contudo, quebraram a cara, e nós nos negamos a segui-los.

Tirar a vida, como querer? Não sabemos repor o viver de quem morre, por isso não se devem eliminar os seres humanos que aguardam as mesmas chances de brotar, crescer e conhecer.

A morte dos inocentes em gestação clama consciência, portanto. Falar na esperança dessas vidinhas em sumidouro, desejos de viver na lama dos ausentes, dói e requer disposição de ânimo aos que lutam pela paz. Aquilo que seria a festa das famílias, chegarem novos filhos, torna-se chama apagada no vento abusivo de vazias palavras soltas, derramadas.

E falar em amor exige coerência a uma civilização bandida, revirada nos laços das armadilhas, caminhos tortuosos, vilã matreira de poucas luzes. Gritos de promessas, entretanto, rasgam o espaço de sombra. A força de sobreviver, falando alto nas entranhas das gentes, indica o valor carinhoso de novos sonhos.

Quisessem reverter os quadros fantasmagóricos da indigência e praticassem hábitos justos e alegres de salvar os que, mais que antes, precisam nascer...

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Mundo de ficção



Tem hora que chego a pensar seja fruto de tantas histórias que contaram que a realidade virou mera fantasia e a lenda tomou de conta de tudo. Ninguém mais pode assegura que o que andam narrando nas mídias signifique verdade. Um painel de conjunturas variadas passou a dominar o senso e as pessoas andam desconfiadas se existem ou não, ou seriam outras talvez desse mundo vasto de tantas e inventadas versões que andam de boca a boca, na maior sem cerimônia.

Isso daqui seria outro filme dos laboratórios internacionais? Os terremotos, maremotos, tufões, tsunamis, incêndios, naves misteriosas, fachos de luz intensa que rasgam os céus, e nós expectadores de películas criadas a fim de reverter a monotonia de ganhar, correr, comer e jogar?

Que situação em que tudo se tornou, espécie de circuito externo de maquinações a favor de quem quer que deseje dominar e domina as naves desse gênero que peleja estrada afora na face do Planeta. Uns noctívagos à procura do Sol.  Uns neologismos do discurso das gerações.

Esperar não sei de onde, chegar não sei aonde, porém dentro das cápsulas em que fomos montados, artesões do imprevisível, senhores de razões imaginárias, sujeitos de inúmeras transformações em carne viva. Cidades cheias de bólides metálicos, avanços histéricos de glutões irreverentes. Bem assim escorre o tempo nas fronteiras deste mundo, sonhos soltos de ouro e ferro, cobre e lítio, a persistir na busca dos esclarecimentos mais do que necessários ao final feliz com que justificam estar aqui e continuar até o fechar da empanada.

Bem assim, nesse buscar de roteiros a ferver o juízo de quem seja em um mar de estranhos fenômenos. Refletir por demais, eis o momento. Admitir que existirá respostas coerentes e viver a antecipação dos mistérios de que somos criaturas e autores enquanto houver consciência.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Limites da inteligência


Os primeiros passos do Espiritismo no Cariri registraram reuniões em Crato e em Juazeiro, com a participação de nomes conhecidos da sociedade da época nessas comunidades. O primeiro centro espírita propriamente dito, devidamente constituído e em funcionamento regular, terá sido o do Seu Luiz de França, que ficava nas proximidades do Salgadinho, imediações de onde hoje existe o Memorial Padre Cícero. Daquela época, dentre outros trabalhadores estava minha amiga Laís Cardoso, filha de Seu Roldino, uma médium criteriosa com quem eu viria de contar alguns anos nas atividades do Associação Espírita Allan Kardec, em Crato, de que fora dirigente.

Daquela fase em que compareceu ao centro de Seu Luiz de França, Laís me contou um episódio pitoresco o qual pretendo narrar agora:

As reuniões do centro de Seu Luiz ocorriam às terças e aos sábados, sempre com atividades mediúnicas, de tratamento e doutrinação de espíritos obsessores, a fazer retiradas em pacientes que buscassem a casa espírita no sentido de obter a cura espiritual com o afastamento de necessitados que por ventura os acompanhassem.

Assim, certa feita, ao chegar para abrir o centro, passados alguns dias, Seu Luiz se deparou com um espírito que ficara ali desde a reunião anterior. E este veio todo insatisfeito a reclamar do dirigente da casa:

- O senhor, além de me trazer aqui sem que eu quisesse - protestou veemente ao responsável pelas reuniões e também um médium vidente, - foi embora e me deixou trancado esse tempo todo.

Ao ouvir aquela reação da entidade que viera no tratamento mediúnico da reunião passada, Seu Luiz reagiu com severidade, a dizer:

- Deixe de ser ignorante! Paredes e portas não aprisionam os espíritos desencarnados, que podem circular livremente e atravessar os obstáculos físicos na hora que pretender.

Laís fora testemunha do entrevero, pois estava na ocasião, o que me contou como uma das lembranças que guardava das primeiras ações espíritas kardecistas de que participou na nossa Região.

(Ilustração: Reprodução (https://chicodeminasxavier.com.br/espiritismo-a-condicao-para-uma-reuniao-mediunica/);

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

A voz do Tempo


Dalgum jeito ouve-se o sussurro desse ente maior que preenche o espaço tanto de dentro quanto de fora da percepção das pessoas. Em tudo quanto há, o Tempo demonstra o senso das escrituras e fala na alma das criaturas, a dizer desse infinito generalizado que percorre suavemente as vísceras dos acontecimentos a cada instante. Espécie de ser imaginário além do próprio mistério,  e circula livremente nas sombras, a falar dos credos e sonhos que invadem a distância numa velocidade jamais comparada senão através de fórmulas ininteligíveis e surdas. Multidões de vultos persistem na ânsia dos duendes que formam as nuvens e deslizam pelo azul das consciências; apenas aceitam o inevitável e adormecem à sombra de ilusões sucessivas.

Os tais seres encapuzados, que presenciam o afã dessa força enigmática do Tempo, saem à solta feitos fagulhas a envolver os momentos e desaparecem logo em seguida. Longe de conhecer a existência em toda sua luminosidade, aguardam suarentos as consequências do que existe e que lhes devorarão as entranhas sob determinações infalíveis. A sentença da liberdade é bem esta, de usufruir os fatores que enchem a História de zilhões de fragmentos, páginas soltas deste livro oculto das gerações, numa soma expressiva dos destinos em decomposição visível feitos lâminas e cicatrizes.

Quiséssemos, pois, ouvir do Tempo suas canções e dormiríamos contentes, mesmo na face obscura do que ainda não admitimos e que nos devora a todo passo, na tal decadência dos séculos. Seremos desse modo só os observadores das circunstâncias e senhores da solidão pessoal. Marcaremos de monumentos a sequência dos sóis que nos seguem apressados de não saber aonde chegar, que trazem manchas e modificam os fenômenos ao sabor dos seus caprichos. Enquanto isto sustentamos a luz dos sentimentos puros no íntimo de nossas individualidades.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

O ser interior


Só na aparência existem eles dois. Raros desvendam o mistério que transportam em si vidas e vidas até chegar à essência deste ser que somos nós. Quer-se elaborar uma aparente liberdade e padecem. Mergulham e regressam vezes sem conta à procura de um sentido pleno sem obter o êxito necessário. Aventuram milhões de experiências no exterior e sempre veem terminar em nada. Nisso padecem das próprias limitações no aspecto material que representam, utilizam e fazem profissão. Bem isto a existência daqui.

As notícias de quem chegou aos páramos espirituais com êxito circulam nas mentes desde muito longe. Volta e meia alguém revela o ente sagrado que traz consigo. Espécie de nível mais refinado, mostra sua face nas artes, nos ideais, nas conquistas da consciência, deixando ver o quanto há de verdadeiro na presença dos seres junto da Natureza. E o ser humano representa essa oportunidade melhor evoluída, apesar dos tantos que insistem claudicar e morrer na praia, por conta dos desmandos que ocasionam através da força bruta que já detêm.

Mesmo assim há vitórias que significam a razão de estarmos aqui. A perfeição do que somos impõe condições ao que venhamos de receber certo dia. Em vista disso, navegamos esses mares revoltos da História e, vez em quando, nos sujeitamos aos valores menores e às dores que persistem entre os humanos e suas coletividades. As orientações dos que galgaram tais parâmetros luminosos de transformação informam dos motivos que isto lhes permitiu, a qualidade dos sentimentos e o sentimento maior do Amor que conhecem e exercitam.

Dessas duas vertentes do Eu, o lado exterior e lado interior, há uma delas que consiste na grandeza absoluta de tudo que perfaz a certeza maior, causa de todo avanço possível já em nossas mãos. As escolas que estudam a alma têm trabalhado isto, de mostrar meios que esclareçam e superem o estado de torpor em que vivem as multidões à procura de ser feliz e a realidade definitiva que lhes aguarda logo adiante.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

À frente batem as malas



Vezes outras, advém o instinto de querer olhar o mundo de olhos menos assustados. Diante do movimento dos astros, seguem os acontecimentos. Folhas nascem. Folhas secam. Pessoas fingem ignorar o Destino e sujeitam agir de jeitos tontos. A sociedade humana é isto, fruto disto, dos desejos talvez desencontrados. São momentos largos. Momentos estreitos. E os atores adotam tipos esquisitos dos mais variados comportamentos. Quase nunca acertam em tudo. Praticam aprendizados de táticas esdrúxulas, resultando disso o que aí estar no meio do chão do Planeta.

A gente observar, fica tonto das práticas vistas e vividas. Quer correr, não tem aonde ir. Todavia o lugar de estar são os pés de quem anda. Linhas de observação variadas, olhares ainda sem significados, mãos apressadas. Sempre foi assim, no entanto. Peguemos a história conhecida e avaliemos. Uns sobem, outros descem, outros chegam...Nem um segundo se garante do que fazer de certeza plena.

Isto de existir por si já significa o tanto suficiente de presenciar o que vem logo ali. Enquanto as gerações seguem em frente no processo contínuo de superação. Todos em seus propósitos à busca da sonhada paz.

Há mil oportunidades de ser feliz, sendo a principal delas o Amor. Essa firme vontade interna de crescer aos páramos de expressar tudo de bom que nos trouxe até este dia, em um processo contínuo de superação dos nossos limites. Quantas vitórias já obtidas, tantos aprendizados construídos à força de sonhar e conhecer a razão de tudo isto. Uma luz que acende em cada coração. Seres dotados de inteligência a exercer a função de reconhecer em si e nos demais o motivo de novos planos. A esperança dos melhores dias que somamos quando em vez. Nós, os artífices desses ideais em constante transformação. Tudo de bom que podemos ser e transmitir aos outros. Destarte, a vida segue e dispomos dos meios necessários de realização do Ser que habita em nossas consciências.

domingo, 10 de setembro de 2023

A propósito da sobrevivência


As mágicas do pensamento concedem ao homem direito de se observar, na faina de viver. Isso lhe permite autocrítica e refazimento das expectativas, como iremos, juntos, concluir nas palavras abaixo, a propósito da sobrevivência.

Tais formigas em movimento incessante, cada manhã todos saem de suas tocas para lutar pela vida, como gostam de dizer.

São milhares, milhões, bilhões, de estômagos para encher, uns maiores, outros menores; uns lentos, outros apressados. Porém deverá haver, em qualquer lugar, o comestível, a lenha da continuidade da espécie, nesse pano comum. Nisto somos todos iguais perante a necessidade. O que não difere... sim, o que não difere (veja onde se concentra a crise tão comentada) é o modo de alcançar essa permanente conquista: respirar por mais um tanto.

Quem chegou primeiro cercou sua parte. Algumas opiniões sustentam até que Deus criou a terra e o "Pula Moita" criou a cerca. Os que chegaram depois, por virem mais lentos ou menos interessados em acumular, ficaram do lado de fora da propriedade. E o resultado, temos à mão.

Os dias se sucedem, a permitir vidas em profusão, nossas e de nossos filhos, enquanto patrões determinam regras de jogo quase sempre ganho por eles mesmos.

Aqui entra em cena o outro lado da questão. O que fazer face a tais circunstâncias, pois saber pensar e não usar esse recurso equivale a não saber. O que fazer, portanto?

Caso contemos, dentre nossos aliados, com os que alçamos ao poder, fácil se torna a superposição dos valores e a cura do mal, isto é: puxar o piso nacional de salários de uma faixa para outra mais compatível, porque esse valor fixado não supre o essencial, só revolta e contraria a quem o percebe.

Como os representantes políticos servem a outros interesses que não os populares, façamos diferente. Busquemos modificar as coisas, partindo de nós. Vamos mudar de lado e agir para nossa redefinição pessoal.Sejamos empresários menores, nas tantas profissões do catálogo.

Ao se deter na complexidade cotidiana, por cada esquina uma coragem de sobreviver. Pipoqueiros. Vitrinistas. Merendeiras. Balconistas de conta individual. Bombeiros hidráulicos. Mecânicos. Corroceiros. Cambistas. Engraxates. Jornaleiros. Livreiros. Alfaiates. Doceiras. Borracheiros. Bombonseiros. Roleteiras. Verdureiros. Nos países desenvolvidos, essas profissões deixariam o suficiente para manter a família.

Nesta altura, chegamos ao miolo do assunto. Sem mudança interna no conteúdo das gentes, mudanças jamais haverá no coletivo da Humanidade. Por isso, a resposta deverá vir de dentro das criaturas.

Restam-nos poucas linhas, mesmo assim suficientes.

Tais formigas ou abelhas, por se parecerem no modo de fervilhar, teremos de reconstruir o Mundo com a soma dos trilhões das iniciativas particulares, que somos todos nós.

(Ilustração: Operários, de Tarsila do Amaral).

sábado, 9 de setembro de 2023

A terapia do sentido


No seu livro 
A Busca do Homem por Sentido (publicado pela primeira vez em 1946), Frankl relata suas experiências como interno de campo de concentração, descrevendo seu método psicoterapêutico para encontrar sentido em todas as formas de existência (mesmo as mais sórdidas) e, daí, uma razão para continuar vivendo. Em suas próprias palavras "O homem, por força de sua dimensão espiritual, pode encontrar sentido em cada situação da vida e dar-lhe uma resposta adequada”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Viktor_Frank

... e, daí, uma razão para continuar vivendo. Bem isto de que mais necessitamos durante todo tempo, de uma causa a que dedicar tudo de si. Quantas vezes vemo-nos face a face com os extremos de tocar em frente no gosto de existir, ao ver fechadas alternativas alimentadas vidas inteiras. Porém nessas ocasiões, tais seres espirituais que o somos, sustentamos a força de sobreviver através desse meio transcendente de um sentido de sustentar a essência do Espírito e abrir novas possibilidades.

Nisto, o psiquiatra austríaco promoveu seus estudos, vistas as contradições da condição humana sob as quais houve de resistir às provas durante a Segundo Grande Guerra. Foi prisioneiro dos nazistas em quatro campos de concentração, aprofundando os conceitos dessa terapia e desvendando o sistema com que criou a Logoterapia, ou Terapia do Sentido.

A base de sua formulação firmou (a Terceira Escola de Psicoterapia Vienense) ao observar o quanto importa ter um motivo fundamental que ofereça o conceito de um fim otimista e útil, fora mesmo do próprio indivíduo, e que lhe permita desfrutar deste sentido na própria existência.

Ao presenciar os outros prisioneiros, notava o quanto de valioso poder esperar pela realização dos seus sonhos de, lá um dia quando readquirissem a liberdade, reencontrar os entes queridos. Enfrentava às mais ingratas condições físicas, baixíssimas temperaturas, trabalho árduo, ausência de agasalhos, fome, completo desconforto, no entanto ainda sabendo das notícias dos familiares queridos que os aguardassem nalgum dia. No entanto, ao saber de suas perdas, esqueciam-se de viver e força nenhuma achavam a que continuassem vivos.

Assim tais os dias dos demais, a preciosidade com que contamos ao dispor dos nossos sonhos na forma de um sentido de viver as agruras deste Chão.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Amor ao destino


Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas.
Amor-fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!“  Nietzsche, Gaia Ciência, §276

Ver a vida face a face. Reconhecer o inevitável e as limitações de compreender. Admitir quais fatores significam o sentido de viver. Tal o conceito em que Nietzsche resume o senso da existência, resumo e princípio de tudo. Invés de confrontar as normas do destino, aceitar suas origens e consequências. Amar a plenitude da Natureza em um grandioso aprendizado que leva à aceitação pura e simples.

Mesmo de que representaria contradizer a evidência em movimento, o presente qual consequência do passado e o início de novos futuros?! De algo nasceu a essência, desse retorno eterno ao princípio, causa e motivo do fluir dos acontecimentos.

O sagrado existir impõe, pois, suas leis e define a importância de abraçar o momento no afã da transformação do Ser em Consciência. Esse bem-estar que se sucede à medida do tempo, e dispõe a qualidade principal do reconhecimento de Si, o segredo da plenitude do quanto existe durante um Infinito atemporal, irretocável.

Nisto, o filósofo reconhece o exercício da Vontade na realização do Ser em Si. Perante tudo quanto existe, os seres humanos desvendarão a solidão e o princípio da presença diante do que seja o instante eterno em movimento e uma perene renovação.

Conquanto inevitável, amar ao destino é desvendar o mistério da paz no coração. O necessário não me fere; amor-fati é minha natureza mais íntima“, de Ecce Homo, 1888. Acatar o Eterno tal razão das existências e causa primeira de tudo o que a isso determina.

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Estranhos a si mesmos


Depois de tudo isso que foram os turnos de produzir as ruínas desde então abandonadas, insistem agora desvendar o mistério desse drama em andamento na alma. Eles (nós) aqui lançados, mortais estabelecidos apenas moralmente diante do Eterno, uns buscadores de álibis quase perfeitos na visão individual, vigiam as feras em forma de gente que, no entanto, se purificam na agonia do tempo. Acham que desvendarão os códigos das pirâmides na medida extrema, quando despertarem certa madrugada cientes da consciência que transportam pelos quadrantes sem fim.

Conhecer a natureza humana que conduzem no íntimo, vivem todo o risco de tal pretensão. Iguais escafandristas desses mares de quantos filmes, arcaicos fatores de transformação, padecem da fome dos valores que reclamam nos demais. Vultos assustados que comovem a tantos e deixam escondida a verdade que imaginavam possuir. Eles (nós), atores de películas escuras e saudades arrevesadas, persistem no querer aos outros o sonho das próprias descobertas imaginárias.

Carregam consigo, no entanto, a sombra comum que lhes refaz o senso, projetando santidade pelos trancos e barrancos, mocinhos de civilizações desaparecidas. Bem isto, meros escultores de heróis que desconhecem. Alimentam a certeza de haver chegado ao Céu, enquanto dormem sob os louros alheios fugazes da solidão que lhes acompanha todo instante.

...

Carecemos de um maior entendimento da natureza humana, pois o único perigo real existente é o próprio homem. Sua psiquê deveria ser estudada, porquanto somos a origem de todo o mal vindouro. Carl Gustav Jung

Transpostos ao sentido daquilo que mais queiram imaginar, se refugiam em santidade e fama, porém submissos aos parâmetros de fuga da realidade, fazedores de ilusões e trituradores de pó. Até obter a compreensão plena da liberdade ainda cruzarão muitos rios de contradições e padecerão os frutos das amarguras que pensavam ser tão só dos infiéis. Dias claros, tempos de Paz e Luz lhes esperam logo ali noutras voltas do caminho que percorrem nos segredos absolutos do Universo.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

A maioria silenciosa


Vez em quando a gente se contraria à toa querendo mudar o mundo enquanto a grande maioria o quer do jeito que acontece. Uma das razões principais, senão a principal, de tudo andar qual segue, fica por conta de todos e não de apenas um único. Nem de longe adiantariam os longos discursos filosóficos, as tiradas reflexivas, pois, no somatório, resta pouco de seguir outras estradas senão essa. Isso, tal forma de ver, facilita um tanto no bem-estar pessoal, sobretudo daqueles ditos idealistas que pretendem ver adiante doutro modo, esquecidos que quem manda é a totalidade e não as partes isoladas. Tem sido assim desde sempre. Mesmo porque a perfeição serve só de parâmetro, e gosto não se discute.

Machado de Assis escreveu um conto a propósito disto, O alienista. Nele, o personagem via detalhes que deveriam ser diferentes, modificados, refeitos. Buscava respostas convenientes a tudo. Achava incoerências, imaginava transformações, idealizava novos métodos. De tanto achar defeito ou necessidades, acaba isolado em si próprio qual o motivo das imperfeições, deixando a sociedade tocar seu curso rumo ao que quer que seja.

Os políticos idealistas são semelhantes. Acreditam nas transformações sociais, nos novos métodos de corrigir as condições insuficientes dos grupos humanos, em jeitos novos de mudar o mundo, isto durante as práticas que vê em voga. No entanto, lá um dia reconhecem o peso da voz geral que determina, e nisso baixam a cabeça e passam as gerações na História humana que fala disso desde as primeiras experiências da raça.

Os hábitos e costumes individuais pesam sobremodo em relação aos acontecimentos, porquanto ninguém será um ser sozinho na multidão. A multidão significa o resumo da opinião de todos. A cara da civilização mostra o somatório geral, e nisto o barco dos erros e acertos, que preenche os livros e reserva as lições do Tempo. A quem se queixar, a todos e a cada um em particular, pois.

domingo, 3 de setembro de 2023

As cidades

                            

De tudo um pouco. São as ruas, praças, casas... Um rio de vidas reunidas em lugares cheios do que necessários sejam outros que se formaram nas malhas do tempo às nossas mãos. Estradas a elas convergem. Avançam a passos largos na direção de continuar dalgum modo diante das luas que circulam pelo céu. As pessoas, seus habitantes, autores das novas lendas que esvaem pouco a pouco através das lembranças do que ainda permanece. Cores, muralhas, ruínas, guetos abandonados. Muitas vezes só em passar nos recantos faz com que revivam as mesmas cenas de antes. Um museu a céu aberto, e as cidades.

Enquanto que, dentro da gente, outras cidades se formam todo momento. São restos de tempo guardados no útero das existências, criaturas vivas que desgrudaram da sorte; que, à medida do querer, jogam no íntimo os detritos das horas. Sentimentos. Pensamentos. Sonhos. Imagens de situações. Chamas que seguem a triturar o passado em forma de leis intransponíveis.

Daí existirem tantos em movimento neste solo do Infinito que aqui somos. As histórias é o que nos contam. Descrevem um mar das recordações do que vivemos, do que saboreamos pelas florestas escuras das pessoas. Mundos acesos lá dentro de todos, às vezes o silêncio das eternidades, em forma de individualidades deixadas quietas ao próprio silêncio. Ondas de mares invisíveis aos outros, padecem os instantes e fixam as horas, constroem seus palacetes na antiguidade da alma dos seres vivos que ora somos.

Nisto, as cidades fervilham o Cosmos e imperam nas consciências a descrever a que vieram. Elaboram esse calendário eterno e segue seus dias vidas afora. Nuvens que deslizam no céu imenso de todos, neste azul monumental de quantas e quantas aventuras que fizemos persistir através do Ser magnânimo de que compomos a essência. 

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Os sons do inesperado


Escrever, no mínimo, é prazeroso, instigante. Oferece ímpetos de a gente correr em busca de novidades e encontrar alternativas de jogar com as palavras, em meio às rotinas, viagem por vezes surpreendente. Os sons das palavras saem batendo nas paredes da visão, escarrancham sótãos de lembranças, notícias, pensamentos, sonhos, assim quase vadias, destituídas de propósitos ou direitos, no entanto firmes na intenção de revelar os segredos guardados nas sete capas do inexistente. Muitas, inúmeras, as chances de acalmar o instinto dessa função de transmitir, porém, ainda que tranquilizem durante algum tempo, lá adiante vêm de novo neste desejo de saltar fora e trocar em miúdos o que restara das refeições cotidianas, e tem mais, acham que queiram parar aqui e dividir a solidão das existências, nesta comunhão de pensamentos na mesma aventura das revelações interiores. Palavras, palavras, palavras...

E quando, outra vez, elas descobrem a gente presa da angústia de querer contar o inconfessável, psicografando junto o séquito de andarilhos, de longe, observam os desavisados e trazem sons do inesperado ao texto.

Outro dia, Ceci me falou que, recentemente, ouviram profundo estrondo nas imediações do litoral norte da Bahia, quando identificaram naquilo a queda de um meteoro de maiores proporções. A notícia gerou empenhos dos estudiosos em localizar os pedaços do corpo celeste, disso pedindo à população que tragam às pesquisas tais pedras de corisco que recolheram. Eis dos tais sons do inesperado em que falei. Quantas e tantas ocasiões correm nos céus as estrelas cadentes, riscos de luz desses corpos que penetram a atmosfera da Terra e incendeiam nos fachos luminosos. Deles veem-se os claros, no entanto há dias em que deles também se ouvem o estrondo ao tocarem o solo das proximidades dos núcleos humanos. Gabriel até me disse que todo o ferro que existe na Terra veio do espaço, que leu nalguma revista.

Isso lembra os sons das palavras quando invadem o silêncio em volta e chegam ao coração, no instinto de serem transmitidas uns aos outros, pela escrita, no discurso de papel. Algumas viram coriscos e chamegam o território íntimo de quem escreve e adiante dos que leiam.