As obras de arte são, assim, peças do que restou do que passa indecorosamente nos dias, nas gerações. Totens indeléveis, significam nosso eu no tempo que se dissolve aos nossos dedos. Chegam e vão numa velocidade impressionante. Grandes angústias daí atravessam os que as produzem, de querer mantê-las eternas, no entanto só frustradamente. Os pintores, por exemplo, anseiam descobrir pigmentos que possam suster as criações, deixando ao máximo que desenvolvam a permanência, lá depois, porém, sendo retocadas ao léu no intuito de chegar mais adiante pela sobrevivência dos museus.
Outro dia escutei na televisão que dos registros humanos apenas 3% permanecem após o transcorrer dos anos. Enquanto isto, li numa entrevista de Steve Jobs, o mago das comunicações digitais, que esta fase da história será a que menos registros deixará, tendo em vista o excesso de confiança na mídia eletrônica, pois esta finge conservar seus nos frágeis back-ups o valor da fixação, instrumentos estes que longo irão apagar e nem saudade deixarão, em flagrante contrariedade ao que antes se imaginava das invenções.
Mesmo desse modo, contudo, ficam na memória obras imortais da literatura, da música, do cinema, que se não fossemos nós já haveriam desaparecido desde tanto tempo. Isso de Eternidade perpassa a consciência do que fizemos que restou, e seremos, sim, os autores dos autores da continuação de tudo.