domingo, 5 de outubro de 2025

As muralhas azuis do Infinito


Marcas foram deixadas lá fora pelos derradeiros viajantes das estrelas, o que hoje são rasgos profundos na superfície de toda criatura que resistiu. Traços a bem dizer definitivos das luas que percorreram nos céus suas entranhas ressurgem, vezes sem conta, nas crateras das consciências. Pedem refúgio às normas do esquecimento e apenas fixam os olhos nas histórias contidas pelas forças do Tempo.

Isto do quanto existe dentro das criaturas, ora transformado em razões de estar aqui, perguntar por si mesmo, juntar os motivos que lhes trouxeram desde então, faz deles seres talvez deixados no mistério das espécies e submersos neste oceano de possibilidades, nas perguntas mil das luzes em movimento. Porém mínimas ausências que persistem naquilo que restou das tantas horas, a ferir de vivências os sons das almas absortas.

Estes que tocam adiante o destino e sustentam planos de felicidade... Motejadores daquilo que antes foram, só assim persistem nas próprias recordações, a fazer disso o senso da presença que conduzem. São muitos, infinitos, por certo, em vultos a deslizar pela superfície dos mementos. Falam vozes arrevesadas, dotam as paisagens de cores surreais superpostas, no desejo de continuar. Criam farpas nos corpos, nas escadas onde avançam a duras penas. Enquanto, ao sabor das visões, apenas distinguem a Eternidade nos entes que sejam e se assuntam de tantos sonhos.

Destarte, entre sentir e permanecer, escutam a música do vento, conquanto saibam muito mais daquilo que ouçam. Isso de guardar as gravações do que houve e viveram define a valer o critério de todos quantos existam. Conservam no íntimo a tonalidade das palavras, os dias passageiros e essa vontade instintiva de permanecer grudados nas abas do Infinito; quisessem, todavia, merecer tal sorte. Ninguém há que escute com clareza plena o ritmo das estações e abrace a leveza de responder às interrogações que transporta ao preço de sobreviver.

(Ilustração: copilot.microsoft.com).

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