sexta-feira, 29 de setembro de 2017

A descoberta de Machu Picchu

Em setembro de 2015, tivemos a grata oportunidade de conhecer uma das sete maravilhas do mundo moderno, as ruínas da cidade sagrada dos Incas, no Peru, numa montanha denominada Machu Picchu, ou Montanha Velha, situada a 2.400 m de altura. Tal experiência, por demais gratificante, marca em profundidade a alma dos que ali chegam aos milhares, vindos de toda parte. 

Com a derrocada do Império Inca, face à colonização dos espanhóis, isto no século XVI, aquela civilização dispersara-se pelos Andes à cata de sobrevivera. Esta cidade sagrada de Machu Picchu, ao que deduzem os estudiosos, haveria de ter sido destinada aos nobres do Império, visto o difícil e secreto acesso. Os Incas foram povo que não dispunha de escrita. Os sinais de referências que deixou foram suas construções, seus símbolos e monumentos, e nós em cordas, tudo, no entanto, carecendo até agora de maiores interpretações.


Quando em 1865, Antonio Raimondi, naturalista italiano, teria visitado as ruínas, no que supõem os registros ser desse época a presença dos primeiros  estrangeiros a visitar o lugar. Adiante, em 1867, um empresário alemão, Augusto Berns, criaria empreendimento que visava explorar as riquezas descobertas, isto segundo informa o explorador e historiado Paolo Greer. Apoiado pelo governo peruano, a dita companhia transportaria a colecionadores da Europa e dos Estudos Unidos a relíquias que vieram arrecadar. Porém o achado permaneceu mais algum tempo sem largas divulgações, apesar de menções nos mapas do tempo qual a cidade inca perdida na selva peruana.

Em 24 de julho de 1911, um professor norte-americano, Hiram Bingham, conduziu ao sítio uma expedição da Universidade de Yale, o que divulgaria ao mundo inteiro através do livro Cidade perdida dos Incas. Bingham procurava a capital da resistência dos Incas contra os europeus entre 1536 e 1572, Vilcabamba, quando chegou ao Rio Urubamba, no sítio de Mandorbamba, e conheceu o camponês Melchior Arteaga, de quem ouviu as primeiras notícias da existência das ruínas, cujo acesso, no alto de montanha íngreme, dar-se através de intrincada vegetação. Ainda assim, insistiu na busca, guiado por outras pessoas que também residiam nas proximidades.  

No seguimento dessa expedição, em 1913, a National Geographic Society publicaria revista com 186 páginas e centenas de fotografias daquelas ruínas sagradas e, desde então, milhares de visitantes vêm conhecer esse que é o reduto arqueológico mais importante das Américas. 

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

As paisagens da casa

Ao regressar aos lugares, sentimo-nos quais viajantes de uma extensão d e um próprio corpo que antes habitamos; a casa, a pele, o chão em que pisamos nos tempos anteriores valem isto. Até no escuro sabíamos aonde andar e achar os mínimos detalhes. Às apalpadelas, reuníamos pelo tato a nós mesmos, na amplidão do território em que vivêramos. Algo assim parecido qual estando presos a uma caixa acústica e conhecendo todos os sons de velhas melodias nas acústicas de larga mansão. Olhos no escuro. Pés ligeiros nas superfícies conhecidas. Locais dos amores de si, quando dominávamos o espaço com a habilidade dos animais farejadores. Conhecíamos os cheiros, as lufadas de vento que ali circulavam suaves, nas tardes quentes, os caminhos do Sol e o firmamento, no lar das manhãs frias.  

Reconheci tais motivos nas vezes em que regressei aos ninhos vazios onde morara e só o silêncio contundente respondeu aos apelos do sentimento indagador que nada encontrava. Saudade enfurecida pareceu querer tomar de conta de tudo em volta. Bicho ausente de garras afiadas saltou por cima das minhas costas tipos de afetos desencantados, abandonados atrás, frutos da ingratidão dos que vão embora e os deixa largados na vastidão do passado inexistente. 

Nisso, o desejo agoniado de reencontrar aquele eu que circulava pelos cantos conhecidos, nas estantes, nos livros, discos, filmes; nos pontos de repouso; nas cadeiras de meditação; nos bancos da varanda; pelas plantas inesquecíveis, vistas dos outros animais a vagar soltos no terreiro; as folhas secas espalhadas no outono dos séculos; as máquinas, que funcionavam nos instantes exatos da presença de nunca mais; a mesa das refeições; os ambientes íntimos; o leito; a solidão; as músicas de tantas horas; as outras pessoas; a escada; o movimento natural da limpeza, das roupas, dos dias; as noites, as horas em constante atividade; as madrugas, e o coração da gente; e o telefone a tocar perdido; as histórias; as visitas; estações do ano; frutas temporãs; fortunas inigualáveis abraçadas aqui na memória guardada nos cômodas imortais das criaturas humanas que viviam, viveram e viverão.

Ah, paisagens da eternidade na alma da casa. Ah, paisagens da alma da gente espraiadas no que fomos e sempre seremos. Cantinhos gostosos de viver dessa casa em que fomos dentro deste lugar de ser e existir que haveremos de habitar em definitivo certo dia, o nosso Eu verdadeiro.

domingo, 24 de setembro de 2017

Setembro de 2017

Nas parecenças deste chão comum, ouço bem cedo o tocar dos sinos na distância e o marulhar das águas que passam. Quanto aprendizado todo dia. As quebradas de cara. Os ditadores da inconsciência que sacodem as velhas ameaças de bomba. Bravatas de ambos os lados na insensatez das gerações. Sofrer de quê, dos males da ausência de luz nos vendavais das vaidades. No entanto, sim, no entanto o quê? Justificar a insatisfação dos momentos na busca das harmonias deste mundo farto do isolamento das outras estrelas e outros planetas longínquos, poetas, profetas, cientistas, santos, vadios, saudosos, abandonados...


Qual querer doutras horas de instantes de menos culpa nas dores dos partos e nos lamentos. Enquanto isso, pássaros voam, fazem ninhos, cantam nas madrugadas; falam do Universo à casa das criaturas humanas. Acordes e sons desesperados; só os olhares aflitos quanto ao que virá depois, depois de quê? Sombras que passam. Desencontros de sentimentos em fúria. Pensamentos. Nuvens de flores. Ah, quanta reivindicação ao poder da infinita vontade.

Deu no saco as histórias surradas das novelas e dos cruzamentos do inesperado com o ausente. Muitas foram as festas, os tronos e reinados diluídos no tempo. Marcas e cicatrizes espalhadas na pele deste solo de tão pouca responsabilidade no uso dos bens da Natureza. Nisso, mudam o clima, as marés, as migrações das aves aos polos. Formigas impacientes carregam as folhas partidas sem saber nem mais a que vão. Trabalho a quê, à sobrevivência de quê? De quem?

Uma série dessas interrogações invade, pois, o teto das angústias dos animais que vagam ali no pasto. Acham que chegarão um dia a algum lugar. Mas seguem assim à força de continuar. Salivam discursos e mordem a carne das línguas. Riem a bandeiras despregadas, vistas turvas e sal debaixo das pálpebras. Vão que vamos todos ao lugar de um dia regressar, mecanismo das inexistências nacionais. Nisso, colher a semente boa de plantar esses dias de setembro de algum dos séculos que esfacelam o presente nas muralhas do futuro.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Valor incalculável das democracias

Na idade dos povos o que conta são as realizações da liberdade. O estabelecimento da paz entre os cidadãos. Paz obtida a largas penas. Maturidade adquirida na força das gerações. Quantas e tantas madrugadas insones. Horas aflitas de campos de batalha. Marcas profundas no tecido social. Mesas de negociações. Cicatrizes. Assim se medem as democracias no teatro deste mundo.

O trilho brilhante dos sonhos feito realidade, desse jeito são as democracias. Dores de partos extremos, milhares, milhões que sofreram a dor desses partos de realizações promissoras. A ninguém cabe, no entanto, o crédito dos nascimentos dessas conquistas dos humanos. A todos, isto sim. Quanto de renúncia dos que acreditaram nas transformações da sociedade, e fizeram sacrifícios, sofreram holocaustos, a fim de ver nascer plenitude. Bem sabe quem presenciou as epopeias em volta das fogueiras acesas do desejo das multidões. 

E jamais largar de lado a responsabilidade disso, comum a todos. Sustentar as verdades da Justiça e da Paz. Alimentar a vontade da autodeterminação qual fator essencial à vida. Preservar as conquistas da história dos que perderam a vida em nome do ideal dessas revoluções fundamentais. Nem de brincadeira nutrir ódios ou fome de vingança. Os países chegam a degraus mais elevados de institucionalização dos valores obtidos a ferro e fogo.

Agora vivemos novos dias, resultado das experiências, erros e acertos. O futuro reserva às famílias a sabedoria dos seus líderes que substituem os que fracassaram. É disso que ora falo, dos dias de prosperidade que construímos durante todo tempo, desde a colonização. Isto em mundo livre, nação continental, plena de oportunidades e orientação de verdadeiros governantes que aceitam cumprir a delegação da autoridade. Consciências que despertam nesta condição da vitória dos valores justos. Nem dizemos que demorou, pois tudo só vem na hora certa, sob o manto abençoado das luzes deste Milênio tão esperado com fervor. 

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Tensões psicológicas

Eles falam disso quanto aos descompassos que o ambiente influencia, que o corpo influencia, mas o que conta, na verdade, são os jogos de dentro da inconsciência da gente. Esse que vai e vem dos dias, nas praias dos movimentos psicológicos mora dentro. Os impasses e as tensões psicológicas contam muito mais. Aliás, determinam quase tudo. Aspectos externos integram, porém o peso maior vem das tais formações individuais das criaturas, do que elas juntaram no depósito da existência tangendo os animais dos momentos e despedaçando o passado. E que o reequilíbrio dos setores internos dos nossos arquivos pessoais permite convoquemos os instrumentos da criatividade e produzamos o suficiente de viver em paz com a gente e com os demais seres humanos.

Normal mesmo de plenitude ninguém assim considere a si que seja, porquanto essa medida do perfeito normalizado ainda não consta das determinações da natureza humana. Umas pedras em profusão ladeira abaixo, nada que fuja aos propósitos dos sonhos, tais equivalemos. Buscar as vocações, os talentos, os dons, eis o que compõe o direito soberano de existir. Ser acima de tudo. Animar viver com sabedoria e habilidade. Nos altares das ocasiões, elevemos os desejos às emoções de ser melhor que antes fomos.

A interpretação do objeto vivo que fomos pede, portanto, autossuficiência no palpitar dos corações. Indica permanentes estradas novas. Nem de longe acusar outros, clima, lugar, indigestão face aos tumultos do estômago perante as angústias daqui do Chão. Reclamar só que seja do próprio freguês, e olhe lá se, de jeito alguém suporta a realidade.

Daí, perante o choque dos dois lutadores no ringue do Destino, adotemos o valor da liberdade. Consideremos a importância do fluir dos nascimentos. Guerreiros, pois, do numeroso exército da individualidade, procedamos quais águias que perderam a dimensão do voo e sumiram nas quebradas do Infinito. Nem adiantaria olhar lá antes, que aquilo desapareceu nos trilhos do depois. Permanecer no instinto de jamais voar de volta e nunca chegar ao amanhã. Aqui e agora. Um ser solitário liberto pelas asas silenciosa da mãe Eternidade.
  

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Histórias alheias II

Isso de gostar de contar histórias vem de longe, desde meu tempo de criança maior. Dentre os primeiros autores que li, incentivado pela minha mãe e por Tia Risalva, irmã do meu pai, aprecio as lendas orientais. Recentemente, em visita a Seu Chico, amigo livreiro que mora aqui próximo, em Juazeiro do Norte, eu adquiri Lendas do Povo de Deus, da autoria de Malba Tahan, daqueles autores lá dos inícios do meu gosto pela literatura. Uma surpresa de qualidade a cada página. São narrativas surpreendentes dos místicos judeus do hassidismo, vertente dos rabinos israelitas. Na obra, li a história Meia fatia de pão, que aqui quero partilhar. 

Rabi Haniná educava seus discípulos ensinando a descrença nos feiticeiros e adivinhos. Lá certo dia, dois desses discípulos precisaram adentrar a floresta na busca de lenha. Antes, porém, depararam com astrólogo que os solicitou a ouvir previsões lidas nos seus estudos. Foi, então, avisando que desistissem do intento a que se propunham, pois não iriam sair vivos da tarefa. Os discípulos, ouvindo aquilo, preparados pelo mestre, desconsideraram a instrução do vidente e sumiram mata adentro. 

Lá frente, deram de cara com pobre ancião faminto, que lhes pediu uma esmola. 

Os discípulos levavam tão só o suficiente ao passar do dia. Inda assim, partiram ao meio o pão do mantimento, e prosseguiram na missão. 

Mais tarde, feixe de lenha às costas, ao sair da floresta avistaram o astrólogo, que se abismou ao reconhecê-los vivos. Pessoas que observaram as previsões, contudo, questionaram a seriedade do homem no que ele antes dissera.

Naquele instante, o astrólogo pediu aos discípulos que desfizesse o feixe de lenha que traziam. No meio das madeiras ali achou restos de serpente perigosa, morta, partida ao meio. Nessa hora, quis saber o aconteceu no decorrer da viagem. 

E eles contaram do velho e o que deram a fim de que saciasse a fome.

O astrólogo, contrafeito, reclamou: - O que posso fazer, se o Deus de vocês deixa se influenciar apenas por meia fatia de pão?!...

Paisagens escondidas na alma

Nalgumas horas, ao ver, na distância, o desenho das nuvens, árvores e cores espalhadas no firmamento, chegam de novo saudades tão antigas das quais nem lembrava que soubesse. Elas nascem outra vez, lá de dentro das fibras da gente. Falam daqueles sonhos de inocência dos instantes antigos, camadas adormecidas que revelam o sabor da felicidade de quando imaginávamos ser ali perto o pouso da esperança e que a leveza entre os seres pudesse tocar. Mostram quanto mudou o panorama dos dias, nos passos dos caminhos. A família, antes porto seguro, os pais, os irmãos, todos dispersos nas soleiras deste chão do Infinito. Marcas, no entanto, ficaram grudadas nas grutas das lembranças, que regressam pelas impressões das tardes silenciosas, vistas de olhos macerados nas tantas visões do inesquecido.


Isso dos seres que nós somos, a deslizar nas pautas das cantigas, melodias do tempo, em forma de gente, quadros incontáveis de verdades eternas ainda por concluir. Junto delas, essas impressões que desvelam da visão comum seus personagens, as falas, os lugares. Cantos de pássaros, expectativas e sonhos. Brinquedos da criança traquina, filha dos deuses, que somos, peças e joguetes de ondas e ventos, parceiros do destino intrépido de naus e estrelas do horizonte longínquo. 

Na fresta dessas ocasiões tão inevitáveis, ressurgem olhares das certezas do quanto é bom viver, construir e reconstituir os filmes da consciência através de formas e luzes, atores audazes do desconhecido. Às vezes que nos vêm à ponta dos dedos, destarte, inúmeras oportunidades se nos oferece o barro da existência e resta construir dessas horas os elementos de cura. Somos, por isso, os artífices das estações seguintes, sinfonia de possibilidades, nos planos do para sempre. Acalmo, pois, as moléculas do sentimento e busco aqueles amores jogados fora; faço do clima as horas em novas circunstâncias bem mais visíveis, conscientes e libertárias.  

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Instituições do Eterno

Há construções que demoram a acontecer, mas quando o tempo oferece meios suficientes, elas perenizam e determinam os demais acontecimentos. São as instituições sagradas dos grupos sociais. Nasceram diante da fria necessidade dos tempos e ganham raízes na força que possuem, a demonstrar que têm outra razão de ser além do puro desejo dos humanos. Tais edifícios recebem o nome de instituições e oferecem estrutura ao enraizamento da evolução nas civilizações. Resolvem as ansiedades parciais por conta do potencial que possuem, dos frutos que oferecem de verdadeiro e que geram a paz das nações.

Dentre tais instituições eternas vale considerar, dentre outras, a saúde, a família, o sexo, o silêncio, a própria paz social, o respeito e o entendimento dos grupamentos e das pessoas, a justiça, as religiões, o sagrado de todos nós, a liberdade, a ciência.

Quais balizadoras do progresso dos seres no decorrer história, as instituições ganham consagração face ao poder que demonstram no correr das eras. A escrita, a arte, a beleza, as matemáticas, a natureza, valores de poder no plano da evolução. Significam sobremodo a decodificação dos sistemas e da harmonia de tudo quanto há. E denotam o que existe de consistência e seriedade no respeito a essas determinações originais que vieram a fim de fornecer elementos de tecnologia prática aos povos, na faina de sobreviver aos ditames das penúrias originais. 

Daí, contextualizar o senso de aceitar isso, integrar na vida a instituição sagrada do direito de viver e permitir um tanto de modificações no comportamento das criaturas a partir de si. Perceber que ninguém é só mero joguete das circunstâncias, peças de reposição dos que se foram. Receber de bom grado o plano do crescimento dentro do contexto do universo bem mais amplo e justo, harmônico e sábio.

Assim, virá o dever das criaturas conscientes às instituições da prudência, da fé, da esperança, das virtudes, instrumentos de plantação do sonho maior da Felicidade no solo fértil de tudo em todos.

(Ilustração: Museu de Paleontologia de Santana do Cariri CE).

domingo, 10 de setembro de 2017

A grandeza de Deus

Pelos caminhos da existência, seres inteligentes buscam compreender o mistério da divindade. Tão antigo quanto o primeiro dos humanos, de uma certeza sabem, sem dúvida, Ele é maior do que tudo quanto há, isso em termos de percepção através dos sentidos físicos. Dizem ser Deus a simplicidade das coisas mais simples. De tamanha simplicidade que a razão jamais, por si só, daria de conta da compreensão do Absoluto. Qual saber de existir um ente que esteja perene desde sempre, incriado e Criador, onisciente, onipresente, poder superior que sustém todos os fenômenos e presenças em quaisquer universos possíveis e imagináveis. A luz e a beleza; o Bem e a pureza do amor maior; a certeza e o objetivo do quanto existir e existirá eternamente.

Face ao princípio e o fim, sustentação dos postulados a que persiste viver, a maravilha dos valores das crenças e das pesquisas dos mestres e profetas, Ele predomina e domina, sustém e encaminha os objetivos do quanto cabe no espaço infinito da Ciência, e aqui nos vemos a meios com descobertas de Deus, esta supraconsciência orientadora dos destinos. O conceito do equilíbrio fala nEle, porquanto está acima do bem e do mal das decisões dos homens. No centro da Natureza, ali habita o senso de Deus. Houvesse um código que resumisse todos os demais códigos, e ainda assim restaria longo caminho a percorrer até obtenção plena do conceito desse Pai supremo e criador eterno.

No entanto perpassa tudo, que crianças conhecem na inocência e a inteligência material sofisticada ignora por soberba. Um valor acima de tudo e de todos. Um instrumento que vive no íntimo das criaturas e os humanos podem conhecer na leveza da Fé e na Humildade, únicos motivos de existir e crescer em verdade e justiça. As religiões sinceras, pois, são setas que bem indicam os sentidos que mostram a presença de Deus. 

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Episódio espírita

Nos primórdios do espiritismo kardecista na região do Cariri, os simpatizantes da doutrina realizavam suas reuniões nas próprias casas, onde se encontravam  ocasionalmente, isto em Crato e Juazeiro do Norte, segundo soubemos. Eram as décadas de 40, 50 e 60. Inexistiam centros que promovessem com assiduidade as reuniões. 

Na década de 60, em Juazeiro do Norte, nas proximidades do Rio Salgadinho, funcionaria o primeiro dos centros espíritas caririenses pela iniciativa de Seu Luiz de França, de tradicional família da cidade. Organizaria as atividades evangélicas, doutrinárias, de desenvolvimento mediúnico e de desobsessão, a oferecer meios da divulgação da novel crença, somando forças ao movimento que hoje dispõem de cifra considerável de casas espíritas nas várias comunas regionais.

Naquela fase, Seu Luiz trabalhava com vários médiuns, aos quais desenvolvia e dava chance de servir à causa redentora através dos trabalhos que promovia naquele que fora o primeiro dos centros espíritas do Cariri. Dentre esses médiuns alguém que depois tornar-se-ia trabalhadora da Associação Espírita Allan Kardec, em Crato, na qual exercemos a Presidência por sete anos, Laís Cardoso, filha de Seu Roldino, comerciante cratense, e estimada amiga minha. 

Nalgum momento, Laís contou esse episódio, que ouvira de Seu Luiz. Ele, que era médium vidente, lá um dia, ao regressar às reuniões da casa espírita, cujo prédio permanecia fechado durante o dia, pela vidência depara entidade espiritual ainda dentro do recinto, inclusive a demonstrar sinais de aborrecimento, e que foi dizendo ao vê-lo:

- Sim, senhor. O senhor além de me trazer aqui contra a minha vontade, - pois os espíritos necessitados vêm involuntariamente para o tratamento da desobsessão, – ainda vai embora e me deixa trancado todo esse tempo.

O religioso da Terceira Revelação, ao ouvir aquilo, indignado reagiu, querendo logo esclarecer o espírito carente: 

- Ora, só. Deixe de ser ignorante, pois espírito não precisa de portas, janelas ou paredes para sair, que eles, sem esforço algum, vivem libertos da matéria, e podem circular facilmente por entre coisas e objetos, já fora do mundo físico.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

A hora da Verdade

Vamos, vamos erguer os olhos e trabalhar, reconstruir nossa nação. Rever nossos objetivos. Preservar nossos sonhos. Aceitar a condição de seriedade do momento, que exige valores positivos, honestos e justos no soerguimento. Se erramos na escolha do passado, de que virou representante de si, vamos dedicar nosso empenho na seleção prudente de pessoas autênticas, centradas no que permite refazer caminhos, seguir novos rumos. Jamais esquecer o quanto de sofrimento acarretamos a todos, devido aos equívocos das oportunidades que jogamos fora. 

A política é a grande estrela que ilumina as sociedades no aperfeiçoamento de instituições e países, e fórmula limpa do proceder da verdadeira democracia grega. Tempos são bem vindos em que adotaremos esse instrumento de forma ideal, alertas nos que quiserem usar nossa confiança a interesses mercenários, qual fôssemos massa de manobra dos vícios e ganâncias indivíduos ou grupos. Além de outras horas, vivemos agora fase de larga importância na redenção da pátria admirável, de tantos e tantos amores, de filhos nobres, laboriosos e sábios.

Noutras épocas, noutras nações, a exemplo de Japão, Alemanha, Itália, Rússia, França, do pós Segunda Guerra Mundial, líderes bem intencionados e dignos chamaram a si o ímpeto de retrabalhar suas populações e hoje vivem o notório desenvolvimento. No clamor das fogueiras insanas, somaram ao poder da família o trabalho, a fidelidade, reergueram da cinza o progresso e paz. Longe, lá longe, larguemos o pessimismo e a desistência, só do agrado daqueles que se prevalecem da desgraça alheia a título de favorecer as carcomidas ideologias da dominação selvagem. 

Cabe, sim, aos bem intencionados preservar o peso infinito do voto popular e distinguir, por meio das grossas lentes da certeza, as raposas dos cordeiros, e alimentar o rebanho nos propósitos superiores; mostrar aos herdeiros do futuro que as luzes da Consciência abrir-nos-ão possibilidades renovadas. De ânimo forte, unidos na voz da Sabedoria, seremos sempre os parceiros da Esperança e da Fé, postulados da transformação que aguarda todos nós às portas da Verdade. 

(Ilustração: Cândido Portinari).

sábado, 2 de setembro de 2017

A ida do meu pai

Tal qual em tantas das outras manhãs, também naquele dia visitava a casa deles, dos meus pais. Ele há dois dias estivera no hospital, a fim de receber transfusão de sangue, visto o estado em que se achava. Acompanhei de perto, com dois dos outros filhos. Vira o quanto de dor sentiu ao ser transportado na maca. Sempre forte, valente, resistente, daquela vez exprimira, nos olhos e nos gestos, o tamanho da dor dos males que atravessava. Demorou pouco e regressou ao lar antes do anoitecer.


Assim, no terceiro dia, cheguei, ao meio da manhã; entrara no quarto de minha mãe, recolhida ao leito, e vira que a enfermeira, numa outra das dependências da casa, a ele ministrava a refeição matinal. E saí à varada, onde permanecia, quando, logo em seguida, a enfermeira me procurou apressada, chamando a que fosse aonde, minutos antes, estivera observando alimentá-lo. 

Entrei de imediato. Sentado, apoiado num travesseiro e exangue, esquálido, a primeira impressão do que via naquele corpo era que ele não mais se achava presente na própria matéria. Sumira pelo ar, quero dizer deste modo. Cabeça pendida para trás, olhos vazios, fixos no teto, e a boca entreaberta. Síncope. Um susto tomou-me de vez, invadiu as percepções de mim. Toquei-lhe no braço, quente de vida, porém imóvel, inútil. 

Emoção profunda contorceu meus sentimentos. A realidade real, a dura realidade da morte face a face na geografia das coisas. Uma ausência indesejada tudo envolveu num átimo. Quanta solidão, milhões de distâncias percorridas; mero exclusivo segundo de relógio que nem existia, afinal. Qual filme vertiginoso, transcorrera a história inteira da nossa existência familiar. Então, explodi de pranto desconhecido, misto de amor e saudade. As servidoras cuidaram logo de me oferecer uma cadeira. Sentei e pedi água.

Sem nexo, apático diante do inesperado, aos poucos regressei de volta ao solo. Fora de outras cogitações, fui tratando de ligar aos irmãos, a dividir, em passos lentos, o impacto do acontecido. 

Tudo que posso dizer, no entanto: - Ele já não estava mais ali. Retirara do espaço dos outros a fração de eternidade que o tempo lhe trouxera, e, de chofre, agora só a ele pertenceria.   

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O rabi e o carpinteiro

Uma história que lemos no livro Lendas do povo de Deus, autoria de Malba Tahan, conta episódio na vida do Rabi Joshua, de quando ele, lá uma noite, sonhou chegar aos páramos celestes e ser recebido em festa pelos habitantes do Paraíso. Isto numa festa de rara felicidade, ainda mais a ele que tão zelosamente cumprira os deveres religiosos, fiel em tudo por tudo aos regimentos das santas leis. 

Em reconhecimento pelo tanto que exercera, Joshua, desde logo, seria conduzido aos lugares de honra do salão das luzes superiores, pouso de claridade, harmonia e beleza. 

Satisfeito com a recepção, sobremodo consciente do quanto praticara aqui neste chão, o rabino observava a solenidade, quando viu ser, também, a vez de receberem outro dos judeus de seu tempo, o carpinteiro Simão Anas, o qual mereceria destaque ainda maior do que o que recebera, a lhe causar espanto, face conhecer o carpinteiro e tê-lo como rude, analfabeto, descumprido das exigências sagradas e nunca haver visto que comparecesse à Sinagoga nos dias das obrigações. Lógico, para si, que algo errado acontecera, e nisto despertou do sonho. Ainda sonolento, examinou os aspectos do que sonhara. 


Dia seguinte, após os deveres de praxe, resolveu visitar Simão Anas, sempre recluso na humilde oficina de ponta de rua onde trabalhava. 

Aproximou-se, saudou o artífice e, depois dos cumprimentos, demorou quase nada deixando vir à tona pergunta que lhe mexia por dentro:

- Seu Simão, pode dizer quais as obras de caridade que pratica em gratidão às bênçãos de Deus?

O operário, meio sem jeito com a interrogação inesperada, veio dizendo: - Rabi, a maior dificuldade é o tempo que disponho. Vivo do meu trabalho, que toma o dia inteiro e entra pela noite. Isto impede até de eu ir visitar a Sinagoga e cumprir as obrigações da Lei.

E continuou: - Quando saiu da oficina, o quanto resta de força eu aplico no cuidado a meus pais, dois velhinhos que vivem sob meu teto e só têm a mim para cuidá-los.  São eles o motivo de minha existência, pois lhes tenho muita afeição – disse baixando as vistas contrariado.

Nessa hora, o sábio rabi Joshua bem Ilem apenas considerou, segundo Malba Tahan: - Que importa isso, meu amigo, que importa? Afirmo, ó carpinteiro!, afirmo pela glória de Moisés, que se algum dia, amparado pela misericórdia divina, tiver o meu nome incluído entre os eleitos do Senhor, terei muita honra de me sentar ao teu lado no Paraíso!