Ali, depois do apito do fim do dia no engenho, havia qual instante de reflexão, na paz de um silêncio avassalador. Calma nos afazeres. Animais sem as cangalhas de transportar a cana. A descarga do vapor acumulado na caldeira. E as luzes do poente distante levam consigo os restos de sol daquela vez. Espécie de hora neutra no tempo em volta. As próprias fisionomias, quais a se recolher, mostravam sinais doutros lugares lá de dentro, nesse momento assim raro de solenidade.
Nisto, no longe do Açude Velho logo próximo, de cuja parede avistava-se o sombreado da derradeira claridade, vinha o trinado das galinhas d´água, das marrecas, rachanãs, escondidas pelas represas. Aquela paisagem sonora mexia com a gente, falava noutras linguagens, doutra solidão. Dizia mistérios até então serrilhados nas dobras invisíveis das lembranças.
Mais um pouco, daí a escuridão tomaria conta de tudo, enquanto as mesmas presenças também sumiriam na direção de suas casas e o silêncio regressaria contundente, coberto dos sons imaginários da noite sertaneja.
Diante, pois, dessas recordações vivas que resistem, crescem, agora, outros instantes envoltos dos mesmos e antigos pendores daqueles de antigamente, isso que vira indagações, ânsias de saber, que em todos existe, do quanto tocar os sóis em movimento nas réstias íntimas das criaturas humanas. Outro tempo, novos sonhos, outras histórias, nos céus assistem resignados o correr das viagens, naves abertas de sempre na alma e nos pensamentos.
A estender o olhar naquilo de antes, vem o desejo de perguntar pelos dias que virão depois. O que esperar das gerações, e o que estas contarão das transas em torno das gentes. Quantas máquinas, quantos deslumbramentos na vertente inevitável que persistirá, queiram ou não, porém precursora dos destinos ora atrelados ao firmamento.
As perguntas constantes, nascidas dos fervores, dos amores, e quer-se, de certeza, um nexo que rege a todos e os alimenta da vontade de viver nas várzeas daqueles dias afastados, donde vem o pio insistente das aves dos fins de tarde, no anoitecer dos sertões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário