terça-feira, 31 de maio de 2022

A coragem da fé


Vejo bem isso na missão de Paulo de Tarso, o apóstolo da cristandade no Ocidente. Antes vivia de perseguir os primeiros cristãos, pouco tempo depois o sacrifício de Jesus, às suas primeiras manifestações. Destacada autoridade no Sinédrio, exercia com veemência o mister de reverenciar seus conceitos judaicos em Jerusalém, sendo com isso levado até a execução dos mais devotos do Cristianismo primitivo, qual fez no apedrejamento de Estêvão.

Daí, achou de conveniência ir até Damasco, em demanda dos fieis do lugar. Nisto se daria o instante da sua conversão, quando, à frente dos que formavam sua tropa, avistou intensa luz e caiu por terra, a ouvir o Divino Mestre a lhe indagar:

- Saulo, Saulo, por que me persegues?

Nessa hora, diante de tamanha manifestação do Poder, sente de perto o quanto de magnitude assim presenciava, rendendo-se de uma vez à grandeza do Mistério, e exclamou:

- Senhor, que queres que eu faça?

Permaneceria cego e seria conduzido a Damasco, orientado a buscar a casa de Ananias, onde receberia cura da cegueira e iniciaria de todo a missão que Deus lhe confiaria.

Desde então promoveria sua existência a uma verdadeira epopeia de heroísmo místico, liderando com vigor a expansão da doutrina do Cristo, sendo ele o principal instrumento de trazer a Roma e suas possessões o conteúdo de tudo que hoje conhecemos da Boa Nova, a mensagem viva da Salvação.

Viveria em constantes viagens também pelas cidades do Oriente, a coordenar os conversos e formar novas comunidades, num trabalho primoroso de testemunho, na expansão dos ensinos cristãos, líder inconteste do quanto promoveu do conhecimento das verdades advindas pela presença de Jesus-Cristo.

Foram décadas de inteira dedicação, por vezes submetido a graves perseguições, prisões, torturas, no entanto sob dignidade e coragem inabaláveis, tudo numa prova do quanto aceitou o ofício a ele determinado, sempre a conclamar:

- Não sou eu quem vive. É o Cristo que vive em mim..

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Há sim poesia na existência

Meras tardes do que se foi pelas horas menos previstas. Ruas de ladeiras que descem às sombras de nós mesmos quais veias do infinito da alma. Elas que realimentam de desejo o sol das consciências e somem quais crianças levadas que esqueceram a que vieram, e foram a gargalhar. Depois, essas dúvidas que acumularam nas raízes do coração e insistem produzir novas sementes. Sonhos, os sóis que nos resolvem lá por dentro e aguardam reações inesperadas todo momento. Um nós que voa às estrelas e traz de volta novas certezas e indagações de viver, doces repastos da presença em forma de criaturas errantes, cabeças pensantes. Pequenos seres assim livres, leves, que desfilam aos olhos dos dias na busca de, num tempo qualquer, achar a si nas curvas sombrias das longas jornadas nesse universo que esconde suas respostas. Esses antigos sinais de que guardamos bem pouco e que significam tudo, pedaços da gente grudados nas árvores que já foram embora deixando apenas o perfume de suas flores e a saudade no canto dos pássaros que insistem dizer no silêncio das manhãs ensolaradas. Milênios que formam as muralhas donde gritaram as gerações adormecidas. Sobras do repasto dos dias largadas nas estradas do firmamento. Luzes insistentes na fogueira acesa dos sentimentos a dizer as falas desse instante. Perfume dourado das entranhas que movimentam o sentido das histórias aqui contadas pelas nuvens dos pensamentos. Todos, filhos do mistério nas lâminas vivas da realização do ser durante as jornadas do invisível bizarro. Tais múltiplos jornais que incendiavam o mundo, agora dormem a sono solto no fulgor das gerações esquecidas. Estes seres exóticos que pensam e desconhecem os motivos de todos os sons, bruxos de outras dimensões que ainda persistem nesta fome de viver para sempre. Nós, pois, os heróis da ausência no íntimo de revelar aquilo que nem conhece o que seja. Nós... 

domingo, 29 de maio de 2022

A perpetuação dos momentos bons


Eles jamais desaparecem da memória, exato de onde nada desaparece para sempre. Ali ficam assim guardados, acondicionados nas fibras do coração e se estendem à Eternidade quais partes dela, os seus componentes. Felizes são, pois, os que dispõem das lembranças inesquecíveis, ainda que agora hajam aparentemente sumido nas curvas de antes, nas dobras do passado remoto. Ficam, no entanto, perpétuas na leveza do que há de melhor durante todo tempo. Mesmo que os poetas insistam nas dores da saudade, bem que sejam eternas as recordações, porquanto ninguém tem saudade do que não seja bom, prova nítida dessa força viva do que descobrimos na real intensidade da alegria, nas horas de carinho, afeto persistente no íntimo da ali acesas, tais flores bonitas, perfumadas, propriedade inalienável dos que sobrevivem diante das ilusões das existências transitórias. O valor da consistência dessas heranças, adquiridas a troco do merecimento positivo, muitas vezes trazemos na história pessoal, essas ocasiões agradáveis de rara beleza que fertilizam o solo da consciência, alimentando o regresso a horas inigualáveis da certeza de que o amor existe, porém reservado aos que dele fazem jus.

Numa demonstração da força do que possui de essencial a verdadeira esperança, vivemos na busca da realização deste ser que somos através dos frutos favoráveis da natureza onde habitamos. Conquanto ocorram circunstâncias desafiadoras a essa vontade do bom e do melhor, no entanto carecemos sustentar a lucidez das bênçãos que produzimos no decorrer das vidas.

Invés de imaginar algo que contradiga o senso desta perfeição absoluta de que já participamos, sustentemos, por isso, o desejo forte de achar de uma vez por todas o pouso na satisfação de nós mesmos nesse território definitivo do encontro com as virtudes imortais da humana plenitude. 

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Temas da atualidade


Agora, as informações circulam numa outra velocidade. Raros são os que ficam fora das notícias. Antes seriam as cartas, os boatos, os editos. Neste momento, há assunto a todo gosto. Ninguém queira afirmar que não sabia disso ou daquilo. Aonde se virar, entram noticiários invasivos. Nos grupos, nas redes, nos sites, no escambau a quatro. E tem mais, carregados de intenções propositadas, visando interesses em geral só particulares. Eis os temas da atualidade, que são impossíveis de saber até onde chegam os fakes, os jogos de mídia, as variações de pretensões. Nisso hoje desliza o fio da civilização internética, cibernética, a não dizer irresponsável com os resultados daquilo que querem que seja a tônica dos dias. Só fome de poder, de manipulação, a comprometer o próprio dito avanço da tecnologia dos meios de comunicação. Enquanto isto, as grandes marcas perderam altura. Os jornais famosos de algumas décadas sumiram nos tabloides, ou sumiram mesmo, virando meros boletins de notícia perdidos na multidão das mensagens da rede mundial. Quem diria chegássemos a isso?! Tanto poder nas mãos dos empresários da mídia que some pelos ares, diluído na massa geral das versões espalhadas neste chão impessoal.

Uma mudança jamais prevista veio de acontecer. As máquinas feitas pelo homem estenderam seus tentáculos ao cidadão médio, que também criou os seus tentáculos, numa queda de braços de causar espécie. Ao surgir o cinema quiseram que sumisse o teatro. Ao surgir a fotografia imaginaram desaparecer a pintura. Assim sucessivamente, no entanto com espaço a todos. As cartas, os livros, as artes, os gritos humanos de conhecer e divulgar aquilo que conhece e espalha. Bem nos moldes dos avanços da necessidade. Outro dia, assisti a um vídeo em que falavam não existir inteligência artificial, porquanto tudo isso vem da inteligência da raça, que multiplica a força da informação e quebra as barreiras do anonimato. Isto, por demais, indica o quanto podemos em termos de conhecimento e progresso, quando soubermos usar com sabedoria os valores de que dispomos.

(Ilustação: Picasso em 1951).

terça-feira, 24 de maio de 2022

As luzes do silêncio


A inspiração que você procura já está dentro de você. Fique em silêncio e escute.
Rumi

Quanta sofisticação em poder transmitir o que nasce da inspiração, senhores que somos de nossos predicados. Força descomunal disso vem nas artes, ciências, criações do próprio punho. Ao mesmo instante quando muitos largam de lado a chance de estabelecer novos padrões na presença deste lugar que ocupamos, outros mergulham fundo na perspectiva de buscar as pedras raras do mistério de si mesmo na essência da alma. Acham, sim, tanto de paz e luz na consciência, oportunidade que temos de vasculhar as profundezas do ser e minerar as distâncias do eterno infinito aberto no íntimo. A isto chamam inspiração. Coragem de aceitar o conteúdo que dispõem sobre nós as luzes da existência.

Durante todo tempo, essa condição vive solta na percepção, restando tão só estirar as mãos e colher seus frutos. Já está dentro de você.  O ritmo do tempo quer isto significar, o pulsar do mistério nas criaturas humanas. De um lado, a escuridão mental. Do outro, a luz do sol desse fator aqui em nós.

Por mais pareça distante, tamanha profundidade vive no ser que testemunha o pouso onde esteja; bem nele reside tudo quanto há, desde antes e sempre.

A prova disto impera nos moldes da Natureza, e seguiremos assim. Nem de longe caberá desistir, mesmo porque nem existe aonde ir nessa fuga imaginária. Será do nada a coisa nenhuma. Porquanto, vemo-nos restritos à existência que isto significa, nas planícies da Criação. Vivemos, pois, no seio da nossa revelação que nos aguarda de braços abertos, quando ali aportar, nessa longa jornada cósmica da Felicidade que já trazemos conosco.

Quer-se admitir outros eus que andem vagando nos limbos do Universo, no entanto há apenas este qual somos, razão de tudo quanto existirá durante todo tempo. Nisso acertamos a cada momento o que seja, diante das imaginações e percalços, viagens e motivos, isto que agora somos, e deixemos fluir a luz dos acontecimentos na alma da gente, fruto de todas as recordações reunidas a um só Eu, num só instante.

Vencer a si mesmo


Vencer a si próprio é a maior das vitórias
. Platão

Nas filosofias do autoconhecimento essa busca de dominar o instinto e chegar ao sentimento significa, pois, deter a força bruta e reduzir tudo ao pó das ilusões que antes conhecemos, nas lutas desta vida. Quer-se vencer, eis o empenho. Superar o desgaste do tempo e transcender a pura matéria. Achar o desiderato de uma razão maior, condição dos que já trazem consigo a luz da consciência qual variável que os orienta pelos caminhos da virtude, da imortalidade. Espécie de espelho dos demais seres, tocamos adiante o desejo de existir, porém longe da conformação inoperante face ao desconhecido. Ninguém, por si só, entrega o corpo ao chão sem antes refletir numa saída mais honrosa de responder ao enigma do desaparecimento puro e simples, sem haver pelejado no esforço de revelar a si mesmo o mistério de existir.

Nisto se resume, todo momento, o que equivale possuir a presença pessoal e administrar um corpo e suas nuances. E conhecereis a verdade e ela os libertará. João 8:32 Libertará de tudo quanto representa a inutilidade, a ausência de uma compreensão plena do que nos traz até aqui e daqui nos conduzirá perante o Eterno das infinitas gerações.

Enquanto isto, sofrer sem a consciência de transcender o sofrimento de comum eis o retrato fiel daquilo que vivemos durante a permanência neste chão. Além disso, pouco importam as justificativas parciais ofertadas pela razão corriqueira, conquanto dá de cara na inutilidade dos argumentos trazidos à tona. Tal afirmou Salomão, Vaidade das vaidades, tudo é vaidade.

Derrotados pelo tempo que nunca passa, vez que quem passa somos nós pelo tempo, instrumentos frágeis das limitações, os humanos atravessam vidas sucessivas até quando, lá um dia, desperta à verdade que guardava dentro da presença e acha de uma vez por todas a plena Libertação.

(Ilustração: Bhagavad Gita).

segunda-feira, 23 de maio de 2022

O dragão e o riacho

                                                                                                           


                                                                          Dedicado ao meu neto Ian
.

Ainda pequeno, sairia nessas aventuras de primeira vez; o dragãozinho mergulhou na floresta. Anda que anda, e logo enxerga o brilho claro de um riacho entre troncos e folhagens. Tímido, medroso, aproximou-se devagar daquelas águas brilhantes, sonolentas, suaves. O riacho, de começo, fez de conta que não avistava ninguém. Nisso o dragãozinho chegou mais perto, mais perto. Experimentou as águas limpas do pequeno rio, depois lavou o rosto, bebeu um pouco do líquido e tomou susto quando o riacho lhe deu um “bom dia” cuidadoso.

- Que fazes nessas bandas, seu menino? – perguntou o riacho.

Sem saber direito o que responder, o dragãozinho quis correr, mas demorou um pouco e resolveu aceitar a conversa.

- Vim ver até onde vão dar os caminhos da floresta – retrucou desconfiado.

- Então quer aprender dos encantos das matas – acrescentou o riacho, - apreciar o que a natureza tem de belo.

- Sim, e descobrir como crescer, voar, do jeito que voam os meus pais.

- Que bom. Só com o tempo resolverá este desejo.

Nisso, ao escutar algum barulho mais forte vindo das ramagens em volta, o dragãozinho correu pela mesma estrada de onde viera, afastando-se do riacho.

...

Dias e dias, na primeira oportunidade que surgiu, ele busca aquela direção em que encontrara o riacho. Desta vez com outra disposição, agora compreendendo que ali havia alguém conhecido, quem sabe um amigo?!

- Bom dia, seu riacho! – animado, gritou ao chegar próximo. 

- Bom dia, dragãozinho – ouviu de resposta.

Daí, foram conversando, conversando:

- O que o senhor pretende nessa viagem que sempre faz com suas águas? – quis saber a criança dragão.

- Bom, dentre outras vontades, a maior delas é que quero chegar ao oceano, longe, longe daqui, de quem ouço as melhores notícias. Um lugar enorme, sem fim, espalhado pelo mundo afora. Azul, movimentado, animado – respondeu o riacho. – E você, dragãozinho, qual sua grande vontade maior?

- Ah, quero aprender a voar, qual lhe falei da outra vez. Com isso, pretendo chegar no Sol, ali no alto, bem nas vistas – em poucas palavras o dragãozinho desenvolveu seus pensamentos.

- Isto, que bons seus planos. Acredite neles, pois. O maior motivo de viver é saber aonde quer chegar. Ter um sonho. Viver esse sonho.  – suspirou o riacho.

...

Desses vieram vários outros encontros deles dois, do dragãozinho e do riacho. Na verdade fizeram estreita amizade, que seguiu crescendo e trazendo bons frutos, bons ensinamentos.

...

Passados que foram alguns anos, eis que certa vez o dragãozinho, numa voz forte de quase gente grande, informa ao riacho haver aprendido a voar.

- Que notícia boa, meu amigo! – exclamou eufórico o riacho. – E agora, quando pretende realizar sua viagem, visitar o Sol? – quis saber.

- Sim, sim, será meu próximo passo. Estou juntando uns mantimentos e praticando exercícios, e você saberá o dia dessa nova experiência – ouviu do dragãozinho.

...

Dias continuaram e o riacho a marulhar suas águas sucessivamente, enquanto esperava paciente a ocasião de ver o seu grande amigo subir no azul do céu e chegar na superfície do Sol, o que custaria um tanto mais das suas águas a escorrerem na direção do Oceano.

Até que esse momento, a bem dizer impossível, veio acontecer numa manhã de intensa luminosidade, com pássaros cantando felizes e ventos primaveris soprando agradáveis.

Ao observar o alto de montanha próxima, eis que um vulto pequenino ganharia as alturas e subiria aos céus numa coragem jamais vistas naquelas proximidades. Era ele, o amigo, o dragãozinho, agora maior, um dragão já feito, que deslizava pela imensidão no objetivo maior de conhecer bem de pertinho o Sol, o rei do Universo.

...

Ninguém sabe dizer de quem foi maior a emoção, se dele, do dragão, ou do Sol propriamente dito. Foi um abraço que ganharia as histórias de todos os tempos na imensidão cósmica. No princípio, nem souberam direito o que dizer um ao outro. Só no transcurso de alguns instantes conseguiriam solta a voz:

- Quanta maravilha, seu Sol, vir lhe ver de perto, sentir o calor de suas emoções, de sua bondade, seu poder... – assim que conseguiu, o dragão desse modo expressou seus sentimentos comovidos.

- Ora, ora, imagine o quanto da minha felicidade vejo aqui – falou o Sol também dizer do que sentia -, eu que vivo tão distante, tão solitário, de tal maneira, agora ao receber visita de quem acreditou no seu sonho precioso de vir até aqui, isto representa uma hora única na vida de tantos infinitos.

E desenvolveram boas conversas, as quais ecoaram pelo firmamento, ouvidas na distância do silêncio da água do pequeno riacho, a comungar de igual felicidade inédita dos dois lá em cima.

Com isto, o dragão permaneceu alguns dias na companhia do Sol, vivenciado a rara chance daquele primeiro encontro. Quando satisfeito de haver realizado seu maior desejo, o dragão buscaria o Sol e lhe perguntou aonde ficar instalado naquela superfície tão abençoada, rica de paz e amor.

- Bom, agora que me conhece, que pode vir até aqui sempre que pretender e fizemos amizade sem fim – veio respondendo o Sol -, lembre-se daqueles que ficaram lá embaixo precisando encontrar a resposta das vidas que vivem no tapete escuro do Chão.

Atencioso, o dragão foi escutando: - Agora organize sua viagem de volta e regresse aos seus, na intenção de dar minhas notícias daqui, e que eles possam, um dia, realizar tamanha travessia e vir me conhecer, como fizeste com a exatidão dos que amam.

Até meio tristonho, porém obediente, o dragão se sentiu de novo pequenino e embalou seus pertences para, de novo, levantar o voo de volta ao firmamento e pousar no mesmo lugar de onde partira naquele dia de rara beleza.

...

Tempos de cumprir a distância de muitas horas, a primeira lembrança das que deixara atrás antes de partir veio a ser o leito suave do seu amigo, o Riacho, que lhe recebeu de braços abertos, numa felicidade sem par.

   

sexta-feira, 20 de maio de 2022

A solidão dos que amam

 


Às vezes me pergunto a respeito de como vivem os que se dedicam de corpo e alma às ideias religiosas com ânimo de pô-las em prática. Viver de renúncia, bondade, fraternidade, serviço, esperança, fé... Isto em um mundo onde de comum mais prevalecem os interesses individuais, projetos pessoais, intenções de lucro e competitividade... Mesmo assim existem esses exóticos que buscam desenvolver outra compreensão que não seja apenas o materialismo vigente e resolvem ser em vez de apenas ter, e saem vagando, nesse meio tempo, até chegar aos páramos de uma verdadeira espiritualidade.

Andam que andam, persistem nos propósitos que adquirem nas visões, nos estudos da visão interna, pessoal, pela descoberta dos mistérios da consciência. Atravessam contradições e desafios; sustentam as barras do cotidiano quase igual desta civilização; e estudam a história que o tempo registrou, de tanta repetição de conflitos, guerras e conquistas, destruição egoísta de povos e nações. Veem o exercício das funções da humanidade que precisa desenvolver, no entanto até parece que pouco ou nada aprende no exercício justo deste chão de quantas lutas.

Daí nascem os místicos, poetas, visionários, profetas, mártires, a contar dos segredos que aprendem de dentro de si, numa vontade férrea de conquistar meios da tão sonhada felicidade. Há sempre novos e novos missionários dos tempos e das promessas. Seres iguais a nós que desgarram do grupo social e vão arrastando pelos campos um viver de explicar modos outros que permitam desvendar o enigma profundo do desaparecimento de todos no abismo pelo sumidouro da morte. Empregam os trunfos da certeza aos meios de revelar trilhos da sonhada transição a planos superiores, ainda que também guardados a sete capas na constituição das gentes.

Isto faz com que, nalgumas ocasiões, os vejamos quais bichos esquisitos, seres surreais, pessoas alienadas, dementadas, sequeladas, cartas fora do baralho, porém de todos a quem podemos dar um crédito de confiança e esperar sinais de boas novas, de que falam os livros sagrados.

(Ilustração: Santo Afonso de Ligório).

quarta-feira, 18 de maio de 2022

No mar do esquecimento


Tantas vezes são estas cenas que se repetem na vastidão das memórias fieis. Andar pelas ruas e rever pessoas e lugares do pretérito que nunca morreu. As mesmas cenas assim perduram claras no teto infinito da subjetividade. As histórias de antigamente, nos pagos soltos da saudade. Nisto, hoje achei de caminhar um pouco, em face do carro na oficina, e pausei alguns momentos desses de idos tempos, pelas calçadas onde pisava nos cotidianos dalgumas décadas. Até os prédios velhos ganharam alma nova. Outros desapareceram envoltos nos vestígios de construções renovadas e lojas de artesanato dos dias que desgrudam das ausências e sobrevivem aos desejos insaciáveis do abandono.

Ali as pessoas vivem nos pedaços de lembranças semelhantes ao que foram pelos desvãos das consciências adormecidas. O prédio onde ficava minha primeira escola, por exemplo, agrega uma igreja evangélica em formato diferente. As casas revestidas de taipa de antanho, três quase iguais, num repente mudaram aos moldes das argamassas cinzentas, brilhosas. O mais incrível, a força resistente de grudar por dentro feito pedras irreversíveis, tijolos de metais incandescentes, não acaba nunca nos quereres aqui jogados fora.

E sai a caminhar no calor escaldante de um sol do meio-dia, a meio de silêncios e solidão, nos recantos de mim que restou enternecido às folhas dos pergaminhos das horas outras que regressam ao presente que fossem as velhas ruas deste dia, tal existência das criaturas que permanecem gravadas nas lâminas eternas de cada instante, entre aqui e jamais, formas daqueles engenhos de emoção que fervem as rapaduras da memória e as deixam abandonadas no açúcar das ondas deste mar de eternidades.

Via com nitidez pessoas ali naqueles muros onde as deixara largadas no sonho desse filme insistente. Legiões de afetos, fisionomias, sorrisos; um coração ainda pulsando às aproximações, nos caminhos, nas páginas desse conteúdo que agora sou, de velas ao vento na sequência natural de tudo. Que nem de procurar, me resumo longe nos céus nebulosos dos outros dias, este ser único de quem preciso a fim de ouvir os murmúrios, e viver sempre nesta sede perpétua da continuação das espécies.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

A resistência da vontade


O querer desde sempre impõe condições. Qual quem obedece a uma força desconhecida, tem-se a nítida impressão que somos comandados por entes até então desconhecidos, neste mar de fenômenos inevitáveis. Depois da prática vem a virtude dos que praticam. O desejo de acertar naquilo que a vontade determina fica aquém dos que a exercitam. Tais blocos de pedras que descem das montanhas, as atitudes crescem na medida em que os resultados sujeitam os que os deram origem à força de tê-los praticado. Algo assim de receber os próprios frutos, porém quase sem compreender a força que impõe a sua produção. Espécies de consequências de si mesmos, seres pensantes vivem no mar das consequências e adormecem debaixo das suas ações.

Nisso a visão de sermos produtos de nossas ações no decorrer de todo tempo. Sermos o que fizemos do que ora somos; seres agidos, antes de seres agentes. Uma matéria prima da individualidade, fazemos do que nos é dado fazer através das nossas escolhas. Então seremos os frutos das escolhas que tivermos feito. A pretensa liberdade vem nesse ritmo, de termos liberdade a fim de acertar, porquanto errar não é liberdade, mas escravidão.

E a vontade corre solta nesse viver a vida que nos é dada. Após escolher, resta receber os resultados. Nem, muitas vezes, sabe-se o que lhe moveu a agir. Seremos, pois, vítimas ou senhores do que fizermos, e não donatários exclusivos das ações.

Daí a importância da vontade férrea no caminho que desejamos nos sujeitar. O plantio é livre, mas a colheita obrigatória. E longe de alegar que desconhecíamos a Lei do Retorno. A facção do bem reporta o merecimento do Bem. São leis da existência durante qualquer época e onde quer que seja. Fazes por ti e os Céus de ajudarão.

Há de se pensar que o materialismo desconhece a realidade maior, invisível, por conta de alimentar ignorância dos reais propósitos de tudo quanto determinam os acontecimentos, no entanto a eles deverá, sem alternativa, obedecer e render graças ao processo em movimento.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Acreditar no imponderável


Quanta distância entre o visível e o inalcançável pelos sentidos da matéria. Nesse espaço imenso ali acontece a evolução do espírito humano. Dali nascem as buscas, filosofias, religiões. O que um de nós percebe torna-se exclusividade individual, porquanto por mais que digamos, descrevamos, resta uma própria presença de quem ouve dentro da vivência pessoal. Nisso o direito inevitável do respeito a ambos, vez ser impossível só duvidar, vez que ninguém é proprietário do outro na sua essência. São muitas as narrativas das descobertas através dos tempos. O materialismo, a seu modo, impõe limite particular a dizer que existe o que possa cruzar a experiência sensória, o que é pouco face ao aspecto abstrato da existência, a subjetividade da experiência humana.

Ainda assim, persiste a necessidade premente do método, larga conquista da Ciência, a impor a demonstração do fenômeno antes de aceitá-lo qual definição de uma verdade conclusiva.

Porém negar, por si só, é insuficiente a provar a impossibilidade, conquanto conhecesse unicamente uma face do poliedro infinito nas normas do Universo. E negar, apenas negar, em minuto algum oferece inviolabilidade aos conhecimentos científicos, também humanos, aferidos através dos mesmos elementos que pretendem contradizer a imponderabilidade.

Ao afirmar seu absoluto desconhecimento (Sei que nada sei), o filósofo Sócrates testemunha     a insuficiência da percepção diante do Tudo magnânimo da Natureza. O puro raciocínio, raiz do pensamento, estabelece bases relativas ao que o ser humano sustenta de certeza perante o Cosmos. Enquanto isto, outros fatores de compreensão existem que propiciam navegação noutras dimensões, às quais se nega foro absoluto face à subjetividade, a percepção através dos sentimentos, das emoções, dos sonhos, visões que pouco requer da participação dos sentidos materiais.

Todavia há quem afirme que se diz o que pensa que está dizendo, e que o outro ouve o que pensa que está ouvindo, deixando, destarte, a percepção definitiva de tudo quanto há, numa margem de profundidade que afirma a clareza das palavras do filósofo grego que citamos, no mundo particular de cada um.

(Ilustração: Mussorsky - Uma noite no Monte Calvo, de Hieronymus Bosch).

quarta-feira, 11 de maio de 2022

Uma embriaguez coletiva e as redes sociais


Já ouvi que tempo de guerra é tempo de boatos sem conta. Isso nesta hora a mim me parece semelhante. Cada usuário passou a ser uma fonte de notícias. Ninguém quer ficar por baixo e tomem versões, desencontradas ou não, do cotidiano em jogo. Sei mesmo que quase chegamos a um tempo da casa do sem jeito em matéria de notícias bem concatenadas, porquanto a todos foi dado o poder de emitir seus boletins diários numa velocidade cibernética, graças ao avanço imediato da tecnologia. De todos os lados vêm páginas e acontecidos, sempre a corresponder no gosto de quem os administra, espécie de revelação de profissionais da comunicação numa concorrência surda aos anteriores ocupantes das faixas, das colunas e dos canais, febre de revelações jamais vista no âmbito do jornalismo, desde quando surgiram as páginas impressas, agora virtuais. Ninguém que cheque as fontes, qual dizíamos nos passados ainda próximos das redações coletivas.

Quer-se crer mesmo serem sinais dos tempos, de avalanches de apropriação desencontrada dos meios de massa da informação. Órgãos de elevada credibilidade e tradição hoje viraram meros tabloides informáticos, sob a igual concorrência dos emergentes individuais e só há pouco conhecidos. Raros ainda mantêm edições impressas, com retiradas das ruas, bancas, alamedas, e desaguando apenas no salve-se quem puder da mídia contemporânea instantânea dos computadores e celulares (computadores de bolso).

Ao lado disso tudo, o que eram notícias bem investigadas sob o crivo dos jornalistas de plantão ou pesquisadores fervorosos, às vistas dos chefes de redação, virou meros arremedos. A depender dos interesses em jogo, o próprio direito de opinião atual disputa com o passado em jogo. Os custos dos recursos e a distância das bases saturam tribunais e escritórios advocatícios.

A origem noticiosa trocou, pois, de lugar com a paixão desenfreada dos autores das notícias, o que, decerto, dificultará sobremaneira, mais do  que antes, a narrativa histórica deste ciclo de tanta guerra de critérios e pecados à Ética e aos reais valores na busca dos caminhos conscientes da Humanidade.

(Ilustração: R7 Internacional).

terça-feira, 10 de maio de 2022

As tardes assim


Das que deixam aqui de junto da gente a larga margem de compreender o som cálido das manifestações que acontecem no bojo da imaginação. Tons pálidos de cinza que esvoaçam suavemente pelas gretas do sentimento e revelam a intensidade maior que tem em tudo de um mistério imortal. Qual pulsar dos mecanismos das horas dentro dessas pessoas, persiste o ritmo monótono da existência enquanto mergulha nas ondas o inesperado; velhos guerreiros que regressam aos pousos de todas as batalhas chegam devagar. Uma espécie de ficção olha de frente a cada pessoa e deixa que desista de acreditar nos segredos apenas guardados a sete capas nas florestas da ausência, que aos poucos some pelo abismo da tarde. Algo que tal, sons cavos das longas noites que virão logo depois ali no deslizar frágil dos dias. Tardes definitivas das doces lembranças só agora trazidas ao silêncio das horas que não terminam nunca. Voos de pássaros invisíveis nas estradas que sustentam, pois, esse calor de sol na alma das criaturas humanas, caudal insistente do somatório das inúmeras vidas espalhadas pelo mundo.

Pudessem determinar os próximos passos e jamais reuniriam tamanhas sombras, que descem pouco a pouco nas encostas do poente avermelhado. Ao fechar os olhos desses viajantes, o dia alimenta para sempre as bordas do firmamento nas entranhas do Paraíso. E adormece dentro de si feito senhor da vontade que arrasta o cordão dos séculos afora. Ele, o autor da solidão que transporta no peito as criaturas a quem deu origem, guardião do próprio sonho de que não quer dele desprender as amoladas garras.

Isto de seguir adiante sob o signo dessas alucinações reunidas no tempo e que ainda irão permanecer estiradas nos desejos das luas inevitáveis e novos sóis, e outros apegos. Assim, tais mantos rubros formados nas pequeninas células que sustentam as individualidades, além do que tenhamos de certeza, restam palavras que se sucedem nas malhas da consciência, adormecida na escuridão das noites. Nós, prudentes anônimos das aventuras deste chão, peças do tabuleiro das dúvidas e mestres na Criação em movimento, eis algures os mártires das epopeias que se desfazem na sombra imensa das árvores em volta. Profundos textos das sinfonias das muitas cores, sussurros cálidos aos ouvidos surdos, melodias do Infinito de que somos agora uma pauta no coração do Universo.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Clareza e paz na consciência


Com a medida com que medirdes, medir-vos-ão também a vós
. Jesus-Cristo

Das conquistas individuais uma merece destaque, vistos seus frutos diante dos acontecimentos que vivemos a todo instante, qual seja, o mérito de uma consciência tranquila face às nossas atitudes. Nos livros místicos, o que mais guarnece a vida de uma pessoa bem significa o fiel cumprimento dos sentimentos bons nas histórias dos viventes. Face à Justiça maior, que tudo comanda no transcorrer dos acontecimentos, isto aonde quer que seja, obedecer às leis da existência favorece sobremodo a evolução e representa vitória sobre as armadilhas do inesperado.

Porém não poucos insistem ferir as malhas da ordem através dos improvisos e casos pensados, a calcular possam escapar pelos caprichos do que queira fazer quando queira. E nisso a consciência exerce o papel de agente preservador da espécie, a indicar prudência e honestidade aos que avançam o sinal da sorte e ficam assim na linha de tiro dos destinos. A consciência é este filtro balizador constante que alerta os incautos e clareia o caminho.

Ninguém, portanto, que alegue descaso à Natureza, pois ninguém foge das malhas desse instrumento de absoluta perfeição que já carrega consigo bem dentro do íntimo. Que existem os testes sucessivos de aprimoramento isto traspassa o limite da ignorância, e mostra com insistência, aos que precisam, as consequências das ações tresloucadas, impondo condições e preço ao que virá em consequência.

Aqueles que atentam contra a justiça natural, com isto recebem de volta o custo que terá de pagar no regresso ao caminho do qual nunca houvesse abandonado. Tal o mérito infalível das reencarnações, invés das calandras do fogo eterno. Nas vindas das muitas existências aqui na matéria, virão resgates ou recompensas do quanto das práticas exercidas nas vidas. Daí o tanto de exatidão na matemática das gerações, lugar de plantio e colheita neste solo da nossa própria consciência. 

quinta-feira, 5 de maio de 2022

A escrita e os sentimentos

Do jeito de ver a vida tal seja o jeito de escrever. Se com otimismo, alegria, as palavras acompanham tais sentimentos e os transmitem na vontade dos que escrevem. Sem deixar que o estado de espírito circunscreva a escrita é difícil criar um texto que isso não transpire, no ânimo de quem a utiliza. De tal modo a força de escrever tem esse condão de influenciar o leitor e permitir que ache no que lê o alimento que lhe acrescente naquilo que pretenda.

São quantos, são tamanhos os resultados da escrita no decorrer da civilização, que daí nasceram as religiões, filosofias, doutrinas, raízes dos caminhos de quem conduz os grupos. Filões de instrumentos, os textos perpassam turnos da História de modo constante, inclusive nas versões posteriores dos acontecimentos, resultados de quem a conta, a dizer que a história é dos vitoriosos, dos que permanecem no poder após embates de povos e nações.

Há também as angústias dos desesperados que recusam ficar em silêncio. Contam de suas dores, frustrações, seus percalços, desde que possam chegar adiante e relatar dramas e perdições por que houvessem de transcorrer, deixando, assim, a canção dos sofrimentos na forma de poemas, romances, narrativas atiradas aos mares ignotos em busca doutros incertos destinos.

Escrever... Gestos aflitos dos que recusam o vazio da ausência. Vem disso o desejo de preservar a consciência dos tempos na viagem pelas mentes e épocas. Em decorrência da escrita, provêm os outros meios de ir mais longe às pessoas através dos folguedos populares, cinema, teatro, imagens visuais, fotografia, sempre a descrever momentos e plasmar os dias que somem céleres pelo abismo do passado.

A narrativa, por isso, sustenta a memória das gentes e reflete os sentimentos que vivem soltos na imaginação. Este o sonho da Salvação que há de, eternamente, revelar à aventura humana o encontro das palavras e dos pensamentos nas praias do definitivo.   

(Ilustração: William Blake).

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Viagens pelas cavernas da alma


Nas circunstâncias dessas daqui do Chão, lugar onde moram as nossas presenças, vive-se entre árvores de pensamentos e palavras, num processo ininterrupto de registrar os pedaços de tempo que escorrem todo momento. Elas, as florestas de acontecimentos, também nos envolvem; julgamos isso constantemente na medida em que trocamos a solidão pelas suas versões individuais no movimento dos dias. Todos, sem qualquer exceção, singram os ares e produzem neles os seus habitantes, crostas de si mesmos. Quanta imprevisão, pois, a todo tempo. Ainda fora de uma visão definitiva, preenchem esse espaço aberto, artesões das histórias imaginárias. Avistam até onde a visão pode chegar e se prendem aos instintos de sobreviver. Assim revelam as dores e os amores deste mundo na carcaça que jogam no lixo.

Quer-se reunir as tais versões individuais através dos documentos escritos, das paisagens fotografadas, dos quadros, filmes, músicas, no entanto estes sendo meros escolhos do que resta bem longe da realidade, daí nascendo outras e novas realidades, fabricadas no vazio das criaturas. A ânsia de não perder o rio dos dias força as multidões a plantar flores nos jardins da humanidade. Nisso, marcas profundas invadem o mistério das histórias e somam ao que antes foram presenças, mas que sumiram no limbo do passado. Espécie de vultos sombrios, lá nas ruas desce o séquito desses que foram e aqui permanecem na memória dos entes vivos.

Ora seres esquisitos, contudo, tocam adiante o fardo das horas em forma de imagens que persistem no solo dessas pessoas iguais que somos. Qual figuração de si mesmos, os humanos tecem o mar das existências com essa mesma linha do que sejam eles e que depois restarão tão só as mãos das outras criaturas que nem existem mais. Daí as melodias desse tempo inesquecível dos animais que pensam e continuam a produzir o Eterno das próprias entranhas, fragmentos extintos de antigas tradições que já desapareceram.

Quando vemos ao nosso lado o reflexo de cada um de nós nas individualidades que nos acompanham, vem isto de saber que nesses outros ali de junto também reviveremos para sempre. E dormiremos em paz no coração das ausências imortais.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Quando nascem os sonhos

 


Tudo são sonhos dormidos ou dormentes!
Cecília Meireles

Agora, quando a necessidade obriga, todos passam a viver dias de sonhos bons que precisam a fim de orientar os humanos. As horas se desmancham pelos ares e uma fome de novos momentos que sejam felizes cresce no peito das criaturas que ora vivem a gênese disto, de atravessar os dias de angústia e revelar aos sentimentos da vontade extrema de acreditar em novas possibilidades que moram vivas no coração das pessoas e adormeceram sob os escombros dos conflitos doentios da sociedade. Isto acontece, na maioria das vezes, quando impera esse drama das feras de violentar o equilíbrio da espécie, deixando tantos só a imaginar tempos outros dos dias de paz e querer de ser feliz qual vocação da espécie.

Assim nascem os sonhos, lá de dentro das salas escuras dos gabinetes que planejam destruir, em nome da prepotência, os desejos de dominar a riqueza e sucumbir aos instintos de perdição de que são eles responsáveis. Tal agora, quantos viajam nas trilhas misteriosas de alimentar sonhos de amizade, solidariedade humana, auxílio de uns aos outros, face os trâmites das guerras que nunca param, no seio da mesma humanidade da qual fazemos parte. E querer construir a esperança nos que vagam pelos países, sem teto, sem pão, vítimas da truculência deslavada dos bárbaros que sustentam armas construídas com a riqueza das populações em sacrifício.

Agora, nesses turnos de ignorância, o desejo do bem serve de instrumento da revivescência dos séculos em nossas próprias mãos calejadas. Esperar, que deixa de ser um verbo atual. Carecemos de praticar o que aprendemos; revelar todo tempo o que já adquirimos de conhecimento, independente dos quereres injustos dos brutos. Sejamos, por isso, a razão que possa faltar naqueles em quem não mais acreditamos que possam reviver os anseios de todos na face da Terra, à procura das teorias tão propagadas dos dias melhores sem as vivências de fraternidade e progresso. A hora é esta e protagonistas já o somos, longe das sombras que eles são. A ocasião ideal de vislumbrar essa força de que somos dotados eis o atual instante, pois.