quarta-feira, 30 de março de 2022

Fidelidade doutrinária


Dentre as argumentações de Allan Kardec a propósito da verdade espírita como instrumento divino de redenção, uma há que, por si, suficiente seria à defesa da tese: a concordância dos ensinos, na mesma ocasião em todos os lugares onde eram recolhidos através do fenômeno mediúnico.

Quando as guarnições do Espírito da Verdade se lançaram a campo, nos diversos centros, distantes ou próximos, sobretudo na Europa, médiuns foram acionados e o confronto das comunicações coincidiu em seus postulados essenciais.

Os temas abordados deixaram entrever, com clareza, conceitos reencarnatórios, de mundos habitados, escala dos espíritos, leis morais, dentre outros, sem contradições que comprometessem a brisa nova que percorria a crosta terrestre.

Depois, o trabalho veio se materializar com a participação firme de Kardec, o bom senso encarnado, no dizer de Camille Flammarion. Em O Livro dos Espíritos se localizam as estruturas basilares da filosofia transformadora, em l.0l9 perguntas, feitas pelo Codificador, numa visão científica da necessidade humana de conhecer os segredos universais e respondidas pelos espíritos a serviço da Terceira Revelação.

Em tudo, e por tudo, há coerência lógica. Os membros da Sociedade de Ciências de Paris, no ano de l857, na ocasião do lançamento de tal obra, foram unânimes em asseverar que ali estavam respondidas todas as perguntas que qualquer estudioso, de sã consciência, faria sobre a vida após a morte.

Esse patrimônio, hoje, supre as interrogações que se arrastaram durante tantos séculos, herança benfazeja daqueles que têm o merecimento de alcançar. Portanto, digno do respeito das coisas sublimes, alívio dos aflitos, alimento dos famintos, bálsamo dos feridos e código do Amor de Deus, a informação espiritista deve ser, desta forma, apreendida e praticada, para mostrar toda a sua pujança transformadora.

Pois se trata de edifício doutrinário que não contém reparos, nem os comporta, uma vez apagar as dúvidas com fachos luminosos de transparência sem precedente na história dos humanos.

Felizes dos seres que galgarem a compreensão da Doutrina dos Espíritos, estabelecendo vidas em suas pautas de Luz. Quando assim se der com a Humanidade inteira, a Terra será morada de uma raça espiritual superior, e Jesus-Cristo voltará a viver no meio de nós.

Dina


Depois de servir a Labão tempo suficiente para receber em casamento suas duas filhas Lia e Raquel, Jacó decidiu retornar ao país de Canaã, onde deixara seu pai.

Aproveitou uma ocasião de ausência do sogro, quando este saíra na tosquia dos carneiros, e fugiu em segredo, levando consigo tudo o de que se achou digno, a título de remuneração pelos vinte anos em que ali passara.

Três dias depois, ao saber da retirada intempestiva que custava a perda de filhas e netos, nada satisfeito, Labão reuniu seus irmãos e perseguiu Jacó sete dias, indo alcançá-lo no monte de Galaad.

Antes, porém, fora avisado em sonho que deixasse Jacó e suas filhas continuarem a jornada, se despedindo deles com forçada amizade, após formalizar pacto no monte Galed, denominação dada por essa razão:

- Este monte, a partir de hoje, é testemunho entre nós dois - com isso, Jacó deu andamento à caravana, tangendo seus rebanhos até chegar à cidade de Salém, no país de Canaã, armando acampamento nas cercanias da povoação.

Logo adquiriu, junto aos filhos do governador Hamor, pela quantia de cem moedas, uma gleba de terra, instalando-se no novo país.

Alguns dias mais, e Dina, uma das suas filhas Jacó, ao sair na busca de fazer amizade com as mocinhas da localidade, viu-se notada por Siquém, filho de Hamor.

Tomado de arrebatadora paixão, Siquém resolveu se apoderar da jovem, violentando-a de inopino, com isso precipitando os nefastos acontecimentos que daí sucederiam.

Praticada a injúria, só então Siquém resolveu dirigir-se ao pai dizendo querer a moça para sua esposa. 

Na seqüência do incidente, o pai de Siquém buscou Jacó. Queria contemporizar as greves circunstâncias ocasionadas pelo filho. Sua proposta: que fizessem a aliança das tribos e pudessem entrelaçar as famílias, desde aquele que seria o primeiro dos casamentos entre elas.

Mal satisfeitos, os filhos de Jacó protestaram, no entanto, por conta de Siquém ser incircunciso e nisso não merecer casar com sua irmã. O motivo propiciou a que estabelecessem as bases de acordo onde todo varão daquele povo aceitasse o dever da circuncisão, a partir de Siquém, caído que andava de amores por Dina.

E procederam segundo o estabelecido.

No terceiro dia, contudo, deu-se terrível contradição. Simeão e Levi, filhos de Jacó e irmãos de Dina, traindo as bases do combinado, armando-se de espadas, marcharam contra Salém e eliminaram seus cidadãos ainda abatidos pelo ritual da circuncisão neles pouco antes executada.

Nas ações agressivas também eliminaram Hamor e seu filho Siquém, enquanto Dina, que fora residir na casa de Siquém, nisso trariam de volta. Despojaram corpos, saquearam a cidade e os campos, e apropriaram-se dos rebanhos e dos bens que encontraram pela frente. Nada restou incólume, nem crianças, ou mulheres, transformadas em prisioneiras e despojos de guerra, isto segundo o livro bíblico de Gênesis (34, 26-29), onde há registros do trágico drama.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Perquirições arrevesadas


Perquirições é o plural de perquirição. O mesmo que: devassas, pesquisas, averiguações, indagações, inquirições, investigações, perquisições. Dicio - Dicionário Online em Português

Nesses tempos que é de apuração dos resultados eis aqui o termo melhor indicado às ações de observar e viver cada momento útil. Reunir as estações, os infinitos e as luas numa só direção; plantar o solo fértil de tudo quanto até então aconteceu diante dos fins de tarde inebriantes e manhãs primaveris, enquanto nossa humanidade alimentava o sonho de dominar o quanto existiu. Longas essas noites de alucinações, festejos e desapreço pela determinação do que virá, pedaços de matéria largados no horizonte das mais febris indagações.

Assim, a gente... Sujeitos de tudo, senhores de nada, que seguem sorrateiros nas frestas das madrugadas, sombrios vácuos da realidade que se desfaz numa velocidade sem dimensão. Enquanto isto, à mesa das refeições, os pratos da exatidão matemática dessas criaturas vindas do desconhecido sobrevivem nas custas da ausência que em si mesmas transportam vidas afora.

Daí, paramos face ao monturo desses restos de passado que voejam na fuligem de tantas guerras, vítimas da incúria e da ignorância que parecem querer a tudo dominar e nos digerir na lama de uma inanição artificial. Nós, senhores do absoluto de nós mesmos, máquinas de contrição, sobras do baquete das horas em movimento. Pequenas fagulhas de todas as compreensões, que deitam braços aos sóis e dormem sobre os espinhos do egoísmo. Andamos, pois, rumo ao Norte desses sinais misteriosos, contudo muitos afeitos aos erros das lutas insanas, dos gestos de dor que impõem o limite da condição humana em desenvolvimento.

Utilizamos as vasilhas dos dias a julgar tantos equívocos, porém há que lembrar com gosto o quanto dos acertos já creditamos às nossas atitudes, neste crescimento de conhecer aquilo que nos resta examinar com carinho. Mesmo que vítimas da imprudência, no entanto reconhecer o valor inestimável do que já produzimos nesse decorrer de gerações, e guardar no íntimo coração o brilho forte da esperança e da fé.

terça-feira, 22 de março de 2022

Escrever tem disso


De recolher pensamentos no decorrer do tempo e formar nova realidade por dentro, através das palavras que descem ao papel. São lembranças, emoções, sentimentos; retalhos da presença da gente com a gente mesma, num processo de contar o que se passou no tribunal da consciência. Às vezes, são duras penas, saudades, angústias, etc.; e doutras, alegrias, doces recordações, planejamentos e encontros consigo próprio, nessa jornada de viver e aperfeiçoar  o sentido das horas no íntimo. Viram imagens mentais que as letras reúnem por meio do discurso e das falas escritas. Nisso, as previsões de um futuro que nascerá de nossos braços e que nem nós sabemos o quê ou quando virá.

Esse jornal que vem e vai no território interno das pessoas serve de motivo a imaginar o ser que somos, longe, no entanto, da realidade plena que todos buscam sem saber direito o que seja. Representa a produção de significados de onde colhemos as experiências e transformamos no diálogo interno, a fim de construir um eu melhorado, aprimorado, que, lá certa vez, fará de nós alguém que venha merecer a vida de novos seres. Um processo de aperfeiçoamento em que revisamos as atitudes e modos de plantar as sementes da evolução.

Escrever, pois, qual quem analisa a si e trabalha o ente que ora seja na personalidade, no caráter, longe de poder esconder a verdadeira natureza que já conhecemos agora. - Quem engana se engana, qual diz a sabedoria do povo. Autoconhecimento, autocrítica, isso bem representa o instante atual de todos, em fase contínua de revisão, nos textos que produz.

O que vejo de maior destaque nisto de mergulhar na alma e desvendar seus mistérios demonstra que estamos onde precisamos estar e que existe um itinerário a cumprir no decorrer de tudo. Nós conosco, nesta empreitada rumo a níveis mais adiantados de perfeição. Limpar o ser que aqui vemos e aspirar graus maiores de esperança e felicidade, à medida que pratiquemos as virtudes adquiridas em cada existência. Nós, senhores da realização do Ser em si mesmo. E as palavras a servir de instrumento a tais avaliações continuadas.

(Ilustração: O jardim das delícias terrenas, de Pieter Brueguel, o Velho).

domingo, 20 de março de 2022

Olhos postos no Infinito


Ninguém foge de si mesmo. Porém aonde ir que não seja ao sumidouro da ausência, quando lá estaremos na certa. Conclusões nítidas face aos céus da alma da gente, avaliações por demais necessárias a que cheguemos à conclusão definitiva da importância de existir. Conjugar todos eles os tempos na primeira pessoa, vez que de olhos no universo o Tempo alimenta o presente na máquina de contar segundos e sustentar as colunas de tudo a desmanchar sem chance alguma de dominar o momento.

Assim, passa aos olhos o circuito inextinguível de acompanhar nossas ações e seus resultados, as ações da Natureza pelo visor dos acontecimentos. Nós, de tão pequenos a tão grandes, por contar essa virtude da presença e de ter consciência a escorrer no caudal, aparecer e desaparecer na tela de uma nossa mente contínua. Vítimas e privilegiados, pois, no único ser que o somos e deixamos de ser em seguida enquanto iscas incessantes de transformar sonhos em realidade, nesse túnel que liga passado e futuro e que nos engole devagar pelas suas células das entranhas.

A quantas anda, portanto, o destino, essa casa constante que domina e que a ela nos rendemos sem qualquer alternativa senão dominar a um só tempo a dor e o prazer. Escafandristas de nós, por isso invadimos territórios e distâncias, e mergulhamos nesse mar sem fim, estonteante, escravos e senhores da própria sorte, de olhos postos no Infinito da história que constróe sempre novas saudades e novos amores. Daí, sermos todos meros vazios em preenchimento no decorrer do mistério que ainda de longe ignoramos o que resta.

Quando ouvimos o que contam de outras horas, de outros lugares, outras dimensões, alargamos as horas da imaginação e persistimos de continuar feitos autores de roteiros adormecidos aonde desaparecem luas e sóis. Pedimos de nós a paciência de que tudo isto dará aonde nasce a esperança e fé, e viveremos a nós mesmos numa longa espécie em evolução.

Deixar, contudo, que flua esse pulsar do Tempo no íntimo das criaturas, eis o modo prático de escutar a voz do silêncio e dormir o sono solto das certezas de que, logo ali adiante, reviverá na paisagem.

sexta-feira, 18 de março de 2022

Origens da Fé


Diante das circunstâncias deste mundo, perante os impasses talvez intransponíveis, vem o senso do absoluto que toca o coração da gente. Ninguém quer desistir inteiramente face às barreiras com as quais se depara no decorrer do tempo. Há que existir essa força descomunal que a tudo transpõe e no oferece alternativa a que superemos as crises, os desenganos.

Outro dia, me avistei com uma senhora, uma mãe, que narrou suas dores. Ouvi de olhos acesos o quanto padece vista perda irreparável de um filho ainda jovem face um homicídio. Além do que, outros impedimentos de viver em paz, conquanto tenha saúde debilitada. Porém poucas vezes presenciei tamanha vontade de viver e atravessar tais sofrimentos. Nem ela sabe explicar direito o que lhe mantém viva. Sentados na sala de espera de um consultório médico, conversávamos após ela chamar minha atenção a uma notícia da tevê de alguns romeiros que chegavam a pé desde Alagoas até Juazeiro do Norte, devotos do Padre Cícero. Jornada de 500 km.

De novo me veio à memória uma peça que assisti na década de 70, em Salvador, O que mantém um homem vivo. (... uma coletânea de textos do dramaturgo, poeta e encenador alemão Bertolt Brecht, com músicas de Kurt Weil, Hans Eisler, Paul Dessau e Jards Macalé, com adaptação de Renato Borghi e Esther Góes, à época recém-saídos do Teatro Oficina.) Jornal da USP

Esta a grande interrogação dos humanos na face do mistério de tudo quanto aqui encontram, e que resolveram denominar de “viver”, o bloco de notas do Destino. O espaço, o tempo, as cores, o som, as memórias, os astros, o Infinito cósmico, as sociedades, a vegetação, os enigmas e os séculos, a ciência, mil determinações, o que quase só de longe a gente participa e, no entanto, se vê na condição exclusiva de responder por si mesmo ao pedaço de céu que preencha durante as idades presentes. Querer saber mais disso, o que classificam “liberdade”, “existência”, sobremodo.

Bem desse modo, no centro dessa estrutura indeclinável, foco essencial de toda história dos indivíduos, bem ali, bem aqui, vemo-nos pelos olhos do invisível à busca incessante da Fé real, sentido e razão de estar nesse lance imbatível dos segredos de alma aberta ao que possa nos acontecer de hoje em diante.

(Ilustração: O que mantém um homem vivo, Teatro da USP).

sábado, 12 de março de 2022

O sonho e as gerações


Ainda que eu queira aceitar de bom grato tudo que chegue à caixa do juízo, mesmo assim reajo qual quem deseja que de outro jeito pudesse ser. Nem de longe pretendo mais admitir falta de razão nos segredos da Natureza. A mim o que quer que aconteça tem lá suas claras razões de acontecer, e pronto, assunto resolvido. Isto porque o mundo e as ações fluem de modo pleno ao sabor do tempo, feito dentro da leveza do que de nenhum outro modo, porquanto nosso poder é pequeno. A gente busca, de verdade, respostas precisas, no entanto limitadas os padrões de desconhecimento em fase de aproximação do que venhamos, certo dia, a descobrir e viver. Se existe o imperfeito é que existe o perfeito, causa do equilíbrio universal.

Dito isto, revejo este momento exato, quando meu amigo José Roberto França de Sá houve de fazer sua passagem a outro plano. De início, quis ficar constrangido, só isso de viver e sumir sem deixar vestígios de aonde foi. Porém o simples aspecto de estarmos aqui significa que qualquer dia desses estaremos noutro lugar, pois existimos bem dentro de um ser em movimento que o somos. Desvendar esse mistério eis o motivo de virmos à consciência que assegura os passos do nosso ser em movimento.

Disso vêm as religiões, filosofias, mergulhos muitos de tantos no infinito da compreensão. Ajuntaram milhões de códigos que perfazem a humana aventura. Uns chegam primeiro a esse outro universo que lhes aguarda e aguarda todos. Num devir constante, as estradas e os destinos. Vislumbro, por isso, a possibilidade da redenção do que viemos trabalhar neste Chão. Seres pequenos à procura da Luz. Fora dessa possibilidade inestimável, cá tocamos adiante o barco das horas e sorrimos prudentes em plantar sementes de Amor no coração das pessoas.

Uma calma me invade ao saber desse amigo que ora cresce em novas paisagens, no sonho de guardar consigo o quanto viveu e desfrutou das belezas deste lugar com gosto e boa vontade. Sempre na certeza das luzes de novas experiências, siga em Paz, José.


terça-feira, 8 de março de 2022

Intactos


Há, sim, um bloco indivisível na origem de tudo. Daí o que denominam perfeição absoluta. Do nada vem o um; do um, o dois; dos dois, o três. Deste, o Infinito, donde tudo recomeça dentro da mesma condição irreversível de vagar do Eterno e regressar ao Infinito. Destarte, não importa aonde ir, que o regresso é parte integrante do todo que, de novo, restabelece o sentido de ordenamento do Universo. Isso de tão simples já nem precisa mais que se volte a dizer, de tão óbvio e significativo nas ações da Natureza. Uma página virada na compreensão da maioria dos que abriram o olho e anotaram tamanha qualidade nos blocos que formam a base de tudo quanto há, em todos os quadrantes.

Assim, o percurso de achar a casa da Consciência dentro de todos representa esse movimento de revelar a si mesmo a sonhada perfeição que de tudo emana. Pois bem, ainda existe a opção de querer ou não compreender, e refastelar-se no seio da acomodação, esconder a cabeça no areal dos desertos, vícios e perdições desnecessárias da inanição, conquanto está aí por demais o senso de aceitar a quem disso queira.

A ordem do Universo vem certa na hora certa a todos. Tantos sofrem a consequência dos desinteresses, o que passa a ser escola dos que cedo abriram os olhos à virtude. Nem de longe resta justificar o atraso de esquecer a si em nome dos prazeres inconscientes. Os códigos falaram, as lições ensinaram, as gerações repetiram, enquanto a história continua sua marcha acelerada rumo às interpretações e conclusões definitivas. As respostas percorrem o nosso ser numa velocidade sem limite, a nosso favor.  

Tais fontes do próprio itinerário, toquemos a trilha da sorte nas condições que ora atravessamos, passados que foram tantos milênios, e acharemos o destino certo da realização com o que sonha o nosso coração.

sexta-feira, 4 de março de 2022

Um clássico da história do Sertão


Dentre os principais livros que tratam da história do Sertão do Nordeste brasileiro, Império do Bacamarte, de Joaryvar Macedo, merece destaque pela operosidade e pelo aprofundamento do seu conteúdo. Elaborado na pesquisa séria dos acontecimentos do Cariri cearense, sobretudo desde os finais do século XIX à primeira metade do século XX, mergulhando com intensidade nas situações contraditórias das comunas interioranas em suas nas lutas marcantes pelo domínio dos grupos de comando, durante o feudalismo nordestino, evidenciando aspectos sociológicos e etnográficos de soberba importância, a serem estudados nas atuais e futuras gerações. Portanto, vejo com satisfação a nova edição deste trabalho, acrescida de vasto material fotográfico por demais característico daquele período, de uma riqueza visual exemplar.

Joaryvar Macedo, o nome literário de Joaquim Lobo de Macedo, foi exímio genealogista e historiógrafo, natural de Lavras da Mangabeira, Ceará, graduado em Letras pela Faculdade de Filosofia do Crato, Ceará, e Mestre em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Católica de Salvador, Bahia. Professor colégios de Crato e Juazeiro do Norte, Ceará, foi Secretário Estadual de Cultura do Ceará, Presidente do Conselho Estadual de Cultura, além de Presidente do Instituto Cultural do Vale Caririense (Juazeiro do Norte) e membro do Instituto Cultural do Cariri (Crato). Ele viveu longo tempo juntos aos sítios referenciados na citada obra, apurando, junto às fontes vivas de época, os registros originais aqui consignados, presenteando a História brasileira com trabalho típico da melhor história.

Destarte, vemos agora em nossas mãos este material traçado numa linguagem típica, dotada de características autóctones, que temos a satisfação de reencontrar, documento autêntico de época memorável de cunho essencial aos que desejam conhecer a formação de nosso povo heroico e lutador. Assim, desejamos ao leitor que usufrua desta oportunidade literária de sabor próprio das riquezas sem igual.

 


quarta-feira, 2 de março de 2022

A grande busca de adaptação


Desde sempre que o ser humano peleja na intenção de achar o seu lugar no Universo. Isso bem caracteriza toda a história durante todo tempo. Desejo sem limites de revelar a si mesmo o melhor jeito de viver. Viver sem medo, com facilidade na aceitação dos segredos que a vida impõe. No entanto, longe de qualquer dúvida, no processo de perceber com clareza o que seja isso de existir, vem sendo a grande interrogação de todos nós no diversos quadrantes. A resposta de ontem não serve nos dias de hoje. E a resposta de hoje não servirá nos dias de amanhã. Daí a luta insana de acertar, contudo fora de cogitação, que muitos notem o melhor lenitivo.

Por isso, nessa loteria dos mistérios, a Humanidade experimenta de tudo, porém quase nunca descobre o modo ideal de responder aos enigmas do momento. Razão fundamental de ser assim é que em cada um há seu próprio foco de anotar as muitas ações da Natureza. Uns falam desse modo, outros, daquele, enquanto gira a roleta da sorte nas mãos de tantos. Grupos inteiros veem-se submetidos aos caprichos dos líderes, que, por sua vez, veem-se limitados nas condições imprecisas da razão. A Ciência oficial prova isso com facilidade. Ninguém que se preze aceita por inteiro todas as versões da História. Qual pedra que desliza na imensidão do Tempo, todos nos sujeitamos a essa estação inevitável de padecer as normas das razões de cada povo, de cada tempo aonde quer que for.

Qual dizíamos, vem sendo assim desde muito. O intuito de acertar denota o instinto de encontrar a resposta ideal que favoreça, sobremodo, a que esteja no comando. Depois, pouco importam os frutos das experiências, algo que demonstra a escuridão dessas mentes de conduzir os destinos de tantos jogados em suas mãos e manipulações. Os grandes traumas humanos nascem desse procedimento irresponsável de quem chega no alto e esquece dos que ficaram lá embaixo. A dor do próximo deixa de ser dor quando distante das classes que dominam.

Nisso, os embates da condição humana pelas vidas afora. Ao indivíduo investido de poder quase nada representam os interesses das multidões. Persiste então o grosso modo de abandonar fracos aos seus alvedrios de vítimas da solidão particular que têm de transportar consigo nas crises e hecatombes, às indiferenças dos gigantes. São grupos de poder que determinam os trilhões gastos a todo ano em armas e mecanismos de defesa dos países, em detrimento dos menos aquinhoados que amarguram fome, fragilidades mil, vítimas da perversidade e indiferença dos poderosos. Arrastam famílias inteiras à miséria, ao sofrimento coletivo, ralés do atraso da espécie de que aparentemente fariam parte.

Essa autocrítica poderia significar algo, entretanto vaga solta nas mentes de alguns alienados dessa carga pesada que domina e impõe por milênios, por vezes comentada, criticada, até confrontada, sem, com isso, acontecer práticas diferentes. A seara da política, que no início parecia desvendar o grande lance de transformação necessária, hoje merece baixos qualificativos, usada a interesse de alguns, talvez a marca de negociatas e níveis inferiores adotados na intenção medíocre de favorecimento dos mais ambiciosos que abiscoitam as posições.

Quiçá perente fase de sacrifício de gerações, o movimento do barco desses dias indica novos desafios aos que prosseguem acreditando em horas melhores, quando as riquezas naturais sejam revertidas em prol de todos, do tipo que Jesus quis ensinar, de sermos irmãos e um só rebanho de paz neste mundo de tantas maravilhas a que, na certa, estamos longe de merecer, até provarmos o contrário, que deverá vir do coração de todos, sem distinção de credo, raça, cor, nacionalidade, poder aquisitivo, direito de todos e sonhos de poucos.