segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Além das contradições

 

Ferreiros que sejam da vontade, pelotões imensos de desconhecidos hão de conviver seja onde for, conquanto a isso determina o movimento, desde automóveis a falas e outros setores mais afeitos da consciência. Ninguém vive só por viver. Perenes conflitos imperam no correr da pena, e dizer jamais deixaria de significar finalidades, sinais do inesperado em flor. 

Sabe-se do espírito variado que dominar toda gente. Nalguns, puro instinto de sobreviver. Noutros, razões comerciais, desejos e produções artísticas. De ausências é que poucos, raros, raríssimos, conseguem preencher o claro das alturas deste chão em fornalha. Daí, o crivo das ilusões, de querer contar doutros paraísos que fervem nas criaturas pensantes. As euforias, os embalos, na fama incontida de reverter o quadro que vem de fora e narrar outros firmamentos, porém ilusórios.

Nisso, a linguagem impõe condições talvez inaceitáveis aos campos de batalha, entre refugiados da sorte, favelas, palafitas, tais e quais nesse mundo desigual dos humanos. Em consequência, gritam resultados parciais à busca de responder aos desafios das humanidades espalhadas ao vento. Aceitam as duras penas de ser assim o teto da raça. Perenes seres intuitivos, com isto persistem diante do inevitável e clamam aos sóis o senso de justiça que sempre há de haver.

Face a tanto, os dias representam esse confronto das almas entre si na ânsia de apurar seus destinos, vez notar que vem vindo o fluir das eras, a determinar tocas sucessivas em frente da longa armadura que somos todos. Às vezes, pasmos; doutras, circunstantes. A paisagem das horas cobiça, destarte, uma melhor compreensão. Nefastos passados ainda doem nas entranhas de tantas lembranças cruas. Todavia chega-se ao tempo de contradizer a si mesmo e desvendar esse mistério incontido que mora na presença de civilizações inteiras. Perguntar a que vieram. Desdizer os escombros ali deixados entre as rochas de sórdidos antigamentes. Conter as lágrimas e criar instrumentos de refletir a maturidade, o que trazemos lá de dentro até hoje, portanto.

(Ilustração: Hieronymus Bosch).

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