terça-feira, 31 de outubro de 2023

Essa tal de realidade


O que fazem dela em novas versões?! Todos têm a sua própria, que nem sempre coincidem. São frutos de extrema necessidade que afirmam de só estarem vivos, vagando pela face do Planeta. Assim, as mídias, os versos e as miragens. Criaturas fantasmagóricas que andam soltas pelos ares desse tempo tão aberto às horas, que dele ninguém mais pergunta do senso e do que seja talvez nalguma ocasião. Sei que há mil amores, há consumo, festas, viagens, permissões e limites à toa no passar dos firmamentos. A realidade individual que se repete nas calçadas e nos alpendres. Chega e some à medida dos desejos de forças abstratas que a determinam e utilizam dela ao sabor das pretensões.

De longe é de admirar o que antes foi nos tempos das caravelas, tudo longe, de meses depois quando navios buscavam os portos e descarregam suas especiarias. Agora existe um clamor de verdade nas longas histórias imediatas que são contadas, largadas nesse mundo afora, numa espécie de roteiro fabricado com antecedência nos gabinetes, a fim de suprir as urgentes determinações. Meio parecido com roupas que vestem e despem, deixadas ao relento de novas aventuras que sejam melhores e convenientes.

Nisso, a fome de verdade campeia nos ares à medida em que outras urgências interponham outras atitudes, e as multidões vão acima e abaixo, tais barcos em mares convulsos.

Nada melhor, no entanto, do que ensinam as escolas místicas, de buscar dentro de si a essência do que seja a todo momento, na hora presente, o mistério entre o que passou e o que há de vir, isto nas malhas das consciências individuais, matrizes da longa jornada que virá logo então. Enquanto de fora os dias acontecem e deixam as marcas profundas da impossibilidade face aos destinos em jogo forjado pelos pequenos grupos dominantes, nas dobras das criaturas, lá no íntimo da compreensão, onde habitam séculos de procura em forma de resposta que chega ao instante certo na plenitude e na Paz.

(Ilustração: O desenho extraviado, de Hieronymus Bosch).

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

A certeza dos sonhos


As lendas nascem disso, da certeza dos sonhos. Os filmes, os livros, as histórias gerais. Primeiro se apresentam no meio das noites, avassalam o espaço incontido no sono e convergem às derradeiras luzes da noite em forma de enredos por vezes guardados na memória quando não desaparecem do jeito que chegam. Peças metálicas de engrenagens fantásticas. Superam as avaliações imediatas e acrescentam esperança naqueles que a perderam no transcorrer das gerações.

Eles, os sonhos, que falam das verdades ocultas sob escombros monumentais de longas caminhadas pelos desertos da solidão. Propugnam. Transmitem fantasias de roteiro inalcançáveis logo ali de imediato. Abrem espaço no passado. Encobrem as letras escuras do Destino. Superam as dúvidas, os vacilos e constrangimentos abandonados entre os rebotalhos que ficaram esquecidos no tempo e nas gavetas dos trastes mais antigos.

Espécie de fé que sobrevive às cascas do desespero, sonhos trazem fortuna, marcas d’água no colo das luas enamoradas, alimento do mistério que constrange e atropela desejos da humana felicidade. Têm tudo consigo. Vêm nas religiões. Nos ventos alvissareiros da sobrevivência. E fornecem orações poderosas que vencem o quanto ainda resta de saudade naqueles que atravessaram as pedreiras e o semi-árido das ausências.

Sonhar, afinal, contém o senso da realização do Ser. São partículas que circulam os ares do Inconsciente e substitui a insistência em viver só o que o pensamento quer determinar no íntimo das criaturas. E supera o fastio repetitivo de imaginar que haja algo de intransponível durante todo tempo. É a matéria-prima da renovação do existir às nossas mãos, porquanto fala uma linguagem coerente de valores nascidos na lama escura do chão que nos abriga. Algo, assim, que nos transporta a outros planos nunca antes considerados, quais abismos de profundidade sem fim.

(Ilustração: Sonhos (https://www.sonhos.com.br/sonhar-com-barco).


domingo, 29 de outubro de 2023

A prática do conhecimento


Outro dia, li que apenas 3% dos registros humanos permanecem fixos na memória dos tempos. Sei, no entanto, ser mais uma estimativa, fruto das avaliações e estatísticas aleatórias, ou até suposições constantes. Bom, vamos aceitar que seja assim, que persista na memória da raça tão só pequena parte de tudo quanto pensaram, viveram, imaginaram, escreveram, guardaram as gerações seguintes.

Vemos que algumas civilizações preservaram um tanto além disso, face às técnicas então desenvolvidas. Temos, de várias fases, as inscrições dos egípcios, árias, astecas, incas, gregos, chineses, romanos, hebreus, etc. Isso deixado em pedras, paredes, túmulos, monumentos, papiros, objetos, tradições, inscrições, instrumentos, suportes vários, etc.

Disso tudo, num apurado concreto, fica nítido o desejo de dar continuidade a quantos valores culturais, hábitos, técnicas, materiais, aprendizados, aprimorando, pois, o panorama do que houvesse de vir nas fases sequenciadas. Isto que agora se transforma em ciência, religião, escolas de iniciação, didática, filosofia, história, psicologia, vivências, afinal a herança de tantos adquirida do que foi preservado, no instinto de conservação da experiência dos milênios findos.

Sob esse prisma, interpretaríamos, na visão do conhecimento, que aconteceu um progresso, vista a marca obtida do que a Humanidade vivera nesse tempo que ficou da Civilização. Que haveria melhorias, aperfeiçoamento dos costumes, das iniciativas e práticas. Seria a interpretação lógica desses mesmos estudos desenvolvidos.

Entretanto, pelo andar dos acontecimentos, a impressão verificada de todos esses meios e provas, dados andamentos posteriores ao que no passado ocorreu, vem uma margem a considerar doutro modo, que estaríamos contradizendo o que vivenciaram e registraram os conceitos acumulados desse universo do aprendizado. Aonde foram gravados os resultados das perversidades, da arrogância, violência, ganância, orgulho, prepotência, ninguém consegue ver e modificar na direção ideal do progresso. Chegam até a prescrever que andaríamos no sentido contrário ao que aprendemos, e talvez nem evoluindo estivéssemos, senão retroagindo, face ao quadro atual dos desmandos praticados e divulgado à fartura pelos meios contemporâneos de informação por demais ricos em eficiência e aperfeiçoamento, no entanto sujeitos a testemunhar o próprio desaparecimento por causa dos gestos letais dos líderes e grupos dominantes nos dias dagora.

sábado, 28 de outubro de 2023

Noite escura


... enquanto nos portais um garoto mendigo devora o bolor de esmolas e ri sem saber o motivo.
Fernando Namora

Essas histórias antigas que se repetem até o fastio, de pessoas que querem o poder e dominam pela fome de paz uma humanidade bizarra. Eles, nós, espalhados nesse mundo atônito. Armas em profusão. Desejos ardentes de camas e colchões amarfanhados. Ares de reis que padecem de refluxo e seguem a devorar as próprias entranhas espalhadas nos campos de batalha à espera da Justiça Maior que tudo mantém diante do Eterno e sustentará o resultado na balança do Destino. Multidões esquálidas lançadas aos campos febris a desconhecer completamente a que lançam bombas e foguetes incendiários apenas em gestos famintos de nada ou coisa alguma achar logo em seguida. Só sabem das notícias parciais desse drama das almas em fúria. Mar de chamas que desfaz o senso e a fome de tantos.

Isso de querer que assim não fosse, todavia ninguém sabe o porquê de ser qual seja. Ausência de luz e compreensão. De todos e de tão poucos. Horas escuras. Fantasmas de destruição e quantidade. As palavras que significam perdas, dores, amarguras. Bem isso, a face pálida das feras devoradoras espalhadas nas sombras amortecidas.

Querer contar outras versões desse tempo, na acidez dos ventos contrários. A gente busca dentro das fábulas alguma que fale de outros afazeres, porém que fogem feitos algozes enfurecidos.

E deixar aqui uma mensagem de esperança, paz, fraternidade... Quase que imaginar houvesse de ter acontecido como escrito nos textos sagrados das religiões. Os sonhos interpretados de faraós e soberanos que desmancham o andar das gerações. Admitir, pois, dias melhores que vêm naturalmente fora de outras cogitações. Com isso, acalmar a consciência e deixar correr o barco, mesmo porque outro jeito não existe a ser levado em conta nesta hora esquisita...

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Na trilha dos pensamentos


Um a um, e todos, rios a deslizar pelo Infinito sem conta. Ao encontrar alguém, saber que, ali com ele, seguirá um mar de histórias tantas as mais diferentes das nossas, vidas que possam ser e preencher o espaço ilimitado das consciências em formação neste Universo de luzes intermitentes. Seres, vontades, pensamentos... Cadências sem final. Sonhos. Desejos. Bem assim o mistério de tudo isto que o somos e existimos, fragmentos de um grande todo de moléculas em organização à busca da Unidade primeira que deixaram no início. Quaisquer que sejam os próximos passos, ver-nos-emos a braços com a realização de nós mesmos. Disto a importância da harmonia das conquistas e dos contrários que em nós persistem, nos dando a oportunidade que fará das nossas histórias a plenitude única do Ser.

Espécie de painel de proporções monumentais, inexistem outros aspectos senão este, único, sofisticado e simples, de trabalhar a essência em si mesmo. Damos a tonalidade e o ritmo que signifiquem o instante presente, conquanto exercemos, através dos instantes, a maestria de reger a orquestra do Destino. Elaboramos a pauta de todo dia. Maquinamos os sons do que sentimos. Aguardamos a resposta do que deixemos ao longo do leito inigualável do Tempo. Rios e seus habitantes, somos nós o conteúdo daquilo que forma as consequências de viver e aprender no transcorrer das gerações. As nossas feições, os nossos traços nessa tela imensa das possibilidades humanas diante do silêncio que traz as horas e os amores, nesta epopeia das vidas em movimento.

Sabe-se dos redemoinhos, das cachoeiras, das águas profundas, caudalosas, no entanto sempre dentro da gente, autores e protagonistas das aventuras perenes à cata do oceano que nos aguarda logo depois de tudo enquanto ficar nas margens definitivas do sentimento. O valor inestimável, pois, das criaturas perfaz este segredo que guardam consigo nas entranhas e, disto, compõem os hemisférios aberto das lendas em eterna transformação.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

O eu e as circunstâncias


Vontade por demais de participar intensamente de tudo quanto há, momento a momento, eis o pacto de detalhar os dias e tanger os rebanhos do Sol. No entanto, bem assim, existirá sempre essa Lei absoluta que determina nos mínimos valores a confecção dos destinos. Sustentar, contudo, a força viva de continuar, vencer a nós mesmos diante da insistência de determinar o indeterminável. E ainda desse jeito ser feliz, achar a causa de estar aqui e preservar a firmeza de rever as circunstâncias. Aceitar condições sob as quais viemos e continuamos, na certa que venceremos o desaparecimento.

Acho, às vezes, de querer perguntar se Jó houvesse contrariado a ordenação do Poder aonde encontraria razão de tocar em frente as provas sob as quais teve de resistir até seus próprios limites. Conquanto estejam no Tempo os instrumentos de sobreviver à situação humana, aguentar em todo aspecto o espaço restrito da história individual, erguer os olhos aos Céus e clamar... Indagar a causa de existir e buscar a todo custo realizar as ideações de todo instante. Saber um tanto mais, evoluir perante os desafios e ser um herói... Disso, as ânsias de conhecer a Natureza; dela, a nós mesmos, entes parciais que só testemunham as maravilhas em volta.

São princípios e fins em movimento de que fazemos parte e construímos os motivos. Todos, a seu modo, saber dalguns conceitos, porém insuficientes à plena iluminação da Consciência, até então. Sem sombra de dúvidas, algo haverá superior ao senso comum. Do pouco vivido, guardamos lições que somam compreensão e estrutura as horas posteriores.

Essa força viva de se saber em um corpo que vê, ouve, observa, pensa, caminha, fala, imagina, sente, sonha, aspira a longas intenções, e o que disso seremos depois do quanto aqui acontecer. Outrossim ausências, descasos, guerras, incompreensões...

... Se Jó houvesse contrariado a ordenação do Poder, o que dele sobraria, pois?!

(Ilustração: Multidão, reprodução).

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Colagem


A paisagem da humanidade vista do alto. De tudo, ou quase tudo, um pouco. Sinais da existência de seres animados. Nem sempre inteligentes. Cargas de afeto em movimento. Esforços de sobrevivência. Ansiedades. Esperanças. Desencantos. Certezas. Blocos de empreendimentos espalhados pelo Chão. Almas aflitas. Famílias. Perguntas sem resposta. Nuvens ativas no céu. Sons variados. Cigarras. Pássaros. Flores que se abrem ao clarão do Sol. Música do tempo. Vozes distantes. Brisa leve da manhã que invade a casa entrando pela janela. E lá de dentro vêm vozes do Destino. Muitas histórias ainda acesas, lições gravadas a ferro e fogo. Pessoas que sumiram nas horas. Situações inesperadas. Frustrações. Sucessos. Desencantos. Encantos. Painéis de longas ideias que vieram e depois desaparecem entre os momentos, quais bichos assustados de tempos atrás. Olhares. Paixões. Desejos. Atitudes. Esquecimentos. As ruas. As praças. Os carrinhos de quinquenárias. As lojas e suas portas abertas quase sempre. Vozes. Ordens. Argumentos. Dúvidas. Profecias. Rezas. Igrejas. Perdão. Possibilidades. Palavras. Pensamentos. Sentimentos. Esse filme sem final dos dias. Os expedientes. Os colegas. Trabalho constante. Finanças. Automóveis. Estradas. Viagens. Praias. Expectativas dos dias mais amenos quando a Paz voltará a reinar entre os países. A espera das notícias boas. Da poesia que vive solta na literatura. Os romances. Contos. Lendas. Fotografias. Delírios musicais. Amigos. Jornadas pela vida, enfim. A infância. O passado de memórias vivas. Todos nós espalhados pelo Planeta. Sonhos. Vontade insistente de novidades boas. Galeria de afetos fixados na imaginação. Textos de lugares místicos que habitam dentro de todos à espera dos instantes em que venham à tona e tragam a luz de que tantos necessitam todo tempo. Nisto, sustentar o princípio da Fé que alimenta. Seguir nas ondas do presente que deslizam pelas águas do futuro imediato. Orações. Visões positivas que nutrem o ser interior e conduz o barco de tudo isso, a fonte e condição de saber que somos uma fagulha da Eternidade na busca de perfeição.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Os degraus da Consciência


A mente, na verdade, é a causa da escravidão e da libertação.
Maitri Upanishad

E saber que isto somos nós, à procura de Si nos vagos da Eternidade. Caminhar, caminhar sempre. Andar aonde for e ver-nos-emos face a face com nós mesmos, universos em formação. Lá outra vez, quando disseram: Deus não pode conhecer a si mesmo sem mim. Eckhart

Daí, na busca da consciência de Si, os mundos a isto foram feitos e percorrem livres os pavilhões Infinitos, no espaço e no tempo, através de suas próprias criaturas em crescimento, a guiar os passos pelas fronteiras das interrogações. Nisto, marcas profundas são fixadas nos céus e as almas definam seu grau de compreensão. Todos, indiscriminadamente, pululam diante das horas e refazem o trajeto a todo momento.

Entre o Tudo e o Nada, bem ali transitam tudo quanto há desde sempre. Nem o Tudo, nem o Nada, só meros traços do inexistente na essência indizível que percorre o plano das existências. Os serres, as consciências em elaboração até o pleno desaparecimento no silêncio das virtudes, espelhos que não conseguem olhar a si mesmos, sombras do vazio original no domínio do Absoluto.

E saber que isto somos nós, à procura de Si nos vagos da Eternidade. Fagulhas, transparências de vultos fantasmagóricos a circular dentre a luz e as trevas dos instantes inextinguíveis, a preencher de pensamentos e imaginação os penhascos da memória. Laços que desmancham os sóis em movimento, até então; seremos afinal o limite, e desfar-nos-emos nas cores dos fins de tarde, entre pássaros e nuvens incandescentes.

Qual o quê, sem que menos esperemos, viveremos a beleza do Amor e ouviremos os carrilhões da Felicidade, a meio de tantos que a tanto desvendaram na trilha de vencer o Destino inevitável.

(Ilustração: Hórus, reprodução).

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Almas divididas



Tempos e costumes nas horas que se repetem desde sempre nos painéis da fama de uma humanidade esquisita, apegada aos conceitos e presa às divisões, nesse longo aprendizado que denominaram Civilização. Apegos sucessivos das gerações que deixam aqui marcas profundas de interesses próprios.

Enquanto isso, cresciam as populações estigmatizadas pelos velhos costumes das almas divididas. Fome de poder, fama, riqueza, prazer, guerra, num transe por demais característico de quem agarra os derradeiros fiapos de uma história contrafeita de dramas e fúria. A floresta de si mesmo restou qual território de esconder as misérias humanas de entes fugitivos perdidos na consciência, que distraem os séculos ao seu modo; sarcásticas ilusões.

Agora tudo isto vem à tona diante dos acontecimentos, povos a buscar sobrevivência no seio de tudo. Criaturas iguais que enfrentam a mesma espécie perante os sóis, que preenchem de amor uma já natureza esquecida. Nós em nós mesmos, na ânsia de esconder propósitos e frustações. Um tempo de interrogação jamais vista cresce nesse horizonte, consequência do quanto até então os povos obtiveram das suas respostas às indagações da existência inteira.

Regressamos lá dentro de nós, somos os que iniciaram a epopeia da Criação e ainda buscam achar o motivo de muitas aventuras errantes. Bem na essência, ser isto, formação face a face aos perjúrios lá de fora, mantidos no íntimo dos homens que desfazem sonhos a duras penas. O tão sonhado desejo de paz agoniza nos braços de pobres e ricos, tristes e alegres, à força da esperança que padecia nos sonhos mais antigos.

Visões espantosas parecem evoluir. Razões enigmáticas. Armas. Desespero. E saber que significamos irmãos em crescimento aos olhos da Eternidade perfeita.

Aguardar, pois, o que possamos construí da certeza que isto representa em termos de continuidade e refazimento, aos olhos assustados desta época em que vivemos antes tantas vezes.

(Ilustração: Gustave Doré).

terça-feira, 17 de outubro de 2023

O anonimato das crenças


A velha intenção de chegar ao poder através do que se acredita vem constituindo séculos de constrangimento, diante da fragilidade que elas, as razões e justificativas, sejam coletivas, quando nascem de dentro das pessoas, e dentro delas há que continuar. Esse esforço de querer o aval dos demais deixa margem a desejar que outrem afirme o que só no âmbito interno poderá acontecer.

A fragilidade impôs a urgência de encontrar respostas que sustentassem o drama das virtudes em face da escuridão das ilusões. Vem de sempre, desde as primeiras fogueiras e suas histórias. Depois, das lendas aos hieróglifos, nuvens que vagaram no terraço do tempo e das civilizações. Pessoas que utilizaram as afirmações particulares a pretexto de deter a verdade e com isto determinar grupos pactuais nos avanços e na colonização dos outros.

Assim, bem que chegaria a época de viver por viver, sustentar as próprias atitudes, na sequência dos acontecimentos, independente de teóricos e contrições. Nisso, o que há de ser? Buscas, buscas... entre a liberdade e a felicidade, numa peleja constante da gente com a gente mesma. Invés de pura expectativa pelas ideias propaladas, que seja uma afirmação de si para consigo. Pensar e construir a compreensão perante o Infinito. Não poucos foram aqueles que chamaram a si próprio o poder da Criação.

Passados que foram tantos titubeios do pensamento, hoje persiste o propósito comum de achar no ser realidade pura e dela concluir as interpretações necessárias, sem o dever de abrir mão dos valores na existência. Noutras palavras, o víeis do definito imperando nas consciências e forjando o momento; livres, pois, das determinações anteriores de que houve um tempo em que as imposições de crenças e virtudes dependiam das potestades que sustinham o mundo aos seus pés. Cada ser em si e sua percepção individual, agora....

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Aldeia global


Quando, nos idos de 1969, o professor canadense Marshall McLuhan considerava, em seu livro Os meios de comunicação como extensão do homem, que vivemos em uma aldeia global, isso mais parecia ficção. Hoje, no entanto, com o predomínio da Rede Mundial de Computadores, vemos comprovada aquela assertiva que ganhou as mentalidades da época, em momentosa esperança de que dali sugeria o tão sonhado entendimento desde sempre sonhado no transcorrer da História.

Mas, qual o quê, passadas que foram cinco décadas desde então, outra vez o mundo se vê constrangido pelas ações globais diante das atrocidades verificadas no Oriente, face aos desafios à paz, num momento por demais crucial do equilíbrio das nações. O que se imaginou fosse progresso tudo conquistado pela civilização, o que agora aconteceu, em termos de ciência, pesquisas, realizações tecnológicas, demonstra, doutro lado, o quanto de atraso e amarguras adveio dos decantados avanços.

Nuvens escuras crescem nos céus em face dos tais instrumentos de manuseio do potencial bélico desenvolvido, poder destruidor qual jamais, numa fúria escatológica de causar espanto e apreensão. Aquilo que pudesse significar bênçãos da inteligência humana representa unicamente capacidade bélica de imposição a inimigos, que deixa marcas profundas em todos os quadrantes do Planeta.

Nisto, aquela tão sonhada aldeia global reduz-se a pó e poeira, moldes evidentes da atual Humanidade. Em mergulho autocrítico, representa o nível de evolução dos dirigentes de países, a risco das graves consequências ora em andamento, demonstração cabal das limitações de multidões inteiras quanto à sua própria sobrevivência.

Após seis longos anos de incertezas, a Segunda Grande Guerra serviria de modelo a uma geração inteira de produções cinematográficas espalhadas pelo mundo, o que preencheu as salas de exibição nas décadas de 50 e 60, retratos históricos de que ninguém desejaria, outra vez, presenciar tamanhos absurdos e perversidades. Contudo, neste tempo atual, são cenas reais transmitidas de imediato através da Internet, a causar dores atrozes nos que veem e sérias dúvidas quanto ao futuro de todos que vivem neste Chão.

(Ilustração: 2001, Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick).

domingo, 15 de outubro de 2023

Dominar os instintos



Aprender a conduzir o ser que somos através da evolução, bem isto de dominar os instintos. Há que se supor sejamos deles instrumentos, no entanto até a consciência individual disponibilizar o mecanismo dessa conquista. O mito das histórias de todo tempo, eis o resumo de tal epopeia. Os mistérios da Natureza, que atravessam a condição humana, gradativamente superpõem essa possibilidade de domínio no decorrer das vezes quando aqui estivermos, nós, criaturas ímpares, vertentes do Universo em formação.

Quando ocorrem situações extremas de agressividade, por exemplo, aonde foram parar esses meios de controlar as ações. Isso no que tange os instintos perversos, destrutivos, vez existir outros valores, estes positivos, que crescem e sobrevivem diante do mal. Visto assim, o mal nada seria qual instrumento de apego aos instintos só carnais, invés de aos que nos levam à sublimação de conquistar níveis espirituais, e com isto a libertação.

As guerras testificam tais limitações do homem aos padrões do poder, da riqueza, corporificando a fixação no imediato, sem notar o quanto a compaixão revela amor ao próximo e à raiz da Salvação. Quanta grandeza atirada ao monturo e perda do melhor de si, atitudes por demais destituídas do mínimo de compreensão.

Mesmo que tal, outras providências demonstram a ausência de crescimento da consciência entre tantos, a indicar a distância que será percorrida no sentido da evolução, conquanto todos pressentem a dependência de fatores além dos meros instintos, na grandeza do Infinito aos nossos olhos. Com isto, vemo-nos face a face em abismo profundo, a suster em si o enigma de que fomos criados, segredo perene que o somos.

Muitas essas considerações a propósito do furor que espera quantos sejam vítimas da própria incúria, do desrespeito a leis que ainda desconhecem, e resta a todos identificar, na luz da Consciência.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Viagem ao Inconsciente



Ninguém se torna iluminado por imagina figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão. Carl Jung

Nós por nós mesmos. A epopeia crucial das existências. Mergulho vulcânico na sombra do desconhecido que o somos. Tudo, enfim o que resumirá a ânsia intempestiva de viver e conhecer a si mesmo. A soma de todos os fatores que compõem esse quadro dos dias e acontecimentos, e nos conduzirá às raízes do mistério da existência. Nisto, tangidos pelo desejo de identificar a razão das horas em nossos passos, abrimos comportas à Consciência através da sede infinita de compreender o motivo de termos vindo e de possuir a vontade voraz de clarear os céus à nossa frente.

Após o impacto de aceitar os limites das vidas, iniciamos a busca angustiada do senso absoluto, companheiro constante dos dramas desta hora. Assistimos o transcorrer das presenças que se desfazem aos nossos pés e, apáticos, fugimos de nós quais cativos da ilusão em movimento. Quantas vezes, e deixamos ao relento a possibilidade, talvez, de aceitar que assim seja, que somos folhas ao vento a percorrer o espaço também enigmático da História. Contudo, nisso impera o segredo essencial da imortalidade dentro da própria matéria ora em decomposição. Cabe-nos, tão só, substituir as vestimentas da alma e transcender a fragilidade insaciável dos sonhos.

Quiséssemos resumir o roteiro dessa viagem, quedar-nos-íamos ao abismo sem fim, feitos seres de um poder sem conta. De tal modo, unidos em nosso ente primoroso pelos ritos e celebrações inesgotáveis, seremos coautores das maravilhas e dos sóis de todo tempo. Numa jornada individual, nos faremos o sentido que tantos preveem, intuição que fala persistente ao sentimento dessa luz que brilha nas trevas. Momento sublime, haverá, então, a salvação do puro desaparecimento das passadas gerações.

(Ilustração: Alegoria da luxúria, de Hieronymus Bosch).



Tempos tecnológicos


Quanta novidade existe agora, depois do progresso das técnicas desenvolvidas. Graças à pesquisa e ao esforço do trabalho, temos instrumentos de realizar desejos e viver dias de satisfação e paz. Foram muitos séculos até chegarmos aqui. Enfim, junto das maravilhas da Natureza, a Humanidade concretiza as possibilidades científicas e acalma o senso da vontade com a prática do que aprendeu. Que bom que seja assim!

Aonde se virar, dali vemos a planificação do saber humano. Claro que em superação dos limites, o que, decerto, também contribui no crescimento da sociedade. Antes, havia obstáculos praticamente intransponíveis, a desafiar o desenvolvimento. Agora, no entanto, quando menos esperar e chegam as alternativas ideais, e com isto a evolução.

Mesmo que admitir haver limites ainda por vencer, contudo novas perspectivas bem caracterizam o fazer e motiva novos sonhos a todo dia. Dispomos, pois, dos instrumentos de solidariedade que facilitam viver e ampliar as chances de aproximação entre os povos. Isso bem aos moldes do que ensinam as leis da existência, aprendidas a todo momento. Bom estar presente nesta hora de felizes resultados, passadas tantas gerações.

Hoje, a medicina avança dia após dia, oferecendo oportunidade a todos; os meios de transporte, as novas formas de comunicação, de aquisição de conhecimento, novas técnicas de construção; as viagens, o lazer, as artes, em tudo por tudo são fórmulas que só enriquecem a História e o discernimento da espécie humana. Dúvidas não existem de que estamos seguindo à busca dos reais objetivos sempre ansiados.

Sabe-se que temos um tanto mais a vencer no decorrer da caminhada, porém as vitórias falam alto aos corações e conquistaremos espaços à medida em que pusermos em ação o que já trazemos conosco das quantas vitórias. Destarte, um lastro de firmeza e transformação demonstra o valor da inteligência e a virtude fruto da experiência e dos princípios revelados pela Consciência.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Ler no tempo


Qual trilha sonora impecável, tudo permanece gravado nalgum equipamento do Universo. Tudo, sem exceção, ali sobrevive na mesma intensidade com que se viveu. Horas sem fim de gravação ininterrupta resiste ao desaparecimento e preserva todas as vivências, sobretudo que se dão no sentimento. Uma saudade guardada sobre as demais une a gente ao todo e fixamos nas horas nesse mapa de eternidades.

Vezes sem conta nos deparamos conosco noutras chances e as emoções nos dominam por dentro, a demonstrar que ainda existem na mesma proporção original. Matéria de estudo das existências, repassamos, tantas vezes quanto necessário, o caldo desse conteúdo enigmático. Ele que fervilha intenso feito seres em atividade inextinguível, a recontar o que houve naqueles instantes antigos, pela busca de atualizar sempre as consciências.

A impressão que predomina é de sermos dois, invés de um só. Enquanto caminhamos agora, passo a passo outro eu nos acompanha no que vivemos lá antes, a impor coerência à atualidade. Isso identifica as saudades de outras vezes sem conta. Vêm personagens, vivências, situações as mais diversas, num caleidoscópio infindável. Em um retrabalho constante, fazemos disso novos significados e resistimos ao furor desse caldo fiel que cresce à medida do tempo vivido.

Quantas ocasiões, e me vejo na primeira infância, na fazenda onde nasci, em Lavras da Mangabeira; noutras, na minha vida em Crato, durante a segunda infância e adolescência; nos idos de Brejo Santo, quando trabalhei por quatro anos; na sequência posterior, em Salvador, em Crato, de novo; nas viagens que fiz onde andei; e os diversos momentos, livros que li, filmes vistos, histórias ouvidas; as amizades; os cursos, reuniões, participações políticas, os relacionamentos familiares; tudo bem preservado, intacto, pedaços reunidos de mim que atravessam incólumes o transcorrer das estações.

São esteios nítidos do que sou, numa correnteza insistente, força inesgotável dos céus na alma, nos dias. Com essa matéria prima agora me reconstruo gradativamente, tal quem aprimora o senso da Natureza no íntimo, e nisto preencho o barco de minha história à luz do que aprendo e pratico, do que vivo e obtenho dos frutos acumulados, no silêncio do Infinito.

(Ilustração: Sucatas eletrônicas (reprodução).

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Visões


As histórias foram escritas em tábuas de argila e jogadas ao mar da Eternidade. Vagaram a perder de vista. Romperam a barreira do som e chegaram até hoje. Estágio esquisito de tantas conflagrações. Isso entre irmãos da mesma raça. Desde o Egito mais antigo, sinais descrevem o sentido das atitudes humanas. Fazem experiências a título de evoluir e evoluem. No entanto somente de forma individual. Material. Depois vieram as ficções a contar dos riscos desta civilização.   

Houvesse mais escrúpulo, ou evolução, e seria diferente. Mas isso dependeu doutros fatores. Doutra compreensão que ainda se desconhece lentamente além das teses publicadas. Domínio qual trazido à tona indica a necessidade maior de novas mudanças. Depois do quanto houve.

O painel desta época vaga solto pelos credos e pelas redes sociais. Notícias do mundo inteiro espraiam dúvidas. Algo que virou resposta comum do quanto resultou das práticas espalhadas pelo mundo. Conflitos. Armamentos. Pilhagens. Destruição. Enquanto a Natureza rege os momentos, sempre. Novas chances. Outras oportunidades. Pouca ou nenhuma mudança que signifique coerência.

Nem precisa querer saber doutros detalhes das tamanhas atrocidades cometidas pelos próprios humanos. Algo está em andamento, logo se vê. Guerras ao vivo, aflição, contradições. Decerto o Poder do Infinito a tudo observa e deve agir na História. O que antes parecia tão só mera imaginação, agora ressurge num jeito extremo, profético, e requer situações inesperadas.

A geopolítica ferve de tamanhas arbitrariedades, a parecer que a Humanidade precisa, o quanto antes, de equilíbrio vindo de algum lugar então desconhecido. As escrituras das religiões preveem isso. A dinâmica dos acontecimentos acelerou, pois, a urgência dessa intervenção superior. Bem se sabe que existe a perfeição absoluta.

O seguimento disso que ora acontece entre os povos deixa margem a compreender o andamento em ebulição. As peças de um grande quebra-cabeças vêm encaixando umas nas outras. A tal percepção faz admitir que fora um plantio de milénios a ser inteirado nalgum momento. Isto na sequência natural de tudo.

(Ilustração: Fahrenheit 451, de François Truffaut).

domingo, 8 de outubro de 2023

Na busca de Si Mesmo


O esforço humano do auto-conhecimento resume todos os demais esforços. Numa longa jornada, que demanda existências inteiras, se trabalha o itinerário de encontrar a resposta crucial das quantas vidas. Ouvimos, lemos, estudamos o conceito generalizado de que somos um universo em desenvolvimento. Sois deuses e não o sabeis (Jesus). Isto bem significa a razão primordial de existir. Tudo o mais da aventura humana vem no decorrer desse princípio.

Sejam quais sejam os desafios com que convivemos desde sempre, eis o caminho desse encontro com que desvendamos o motivo de estar aqui. São tantos argumentos que falam disso, na filosofia, nas religiões, nas escolas místicas, e tudo isto representa as formas diferentes de chegar ao princípio original das vidas. Por demais sintetizados no mais simples das ciências, resta aos indivíduos desvendar o maior de todos os mistérios.

Esse objetivo, no entanto, tem vínculo direto com a evolução pessoal, independente do que possam considerar, na medida do tempo e do aprendizado. Seremos, pois, artífices de nossa história eterna, espiritual, verdadeira, além que esteja das ilusões que nos desafiam todo instante, conquanto é a missão que definirá a nossa felicidade, no princípio da busca, durante nossa história.

A que identifiquemos tais princípios, atravessamos mil alternativas e plantamos ações por vezes equivocadas, até presenciar por inteiro a finalidade do mistério essencial. Pouco a pouco, tateamos na escuridão dos inícios desta vida, maquinamos atitudes (tentativas, erros e acertos). Através do filtro da Consciência, um dia distinguiremos o real motivo da presença e conheceremos a causa original de tudo quanto há.

Vezes sem conta, a epopeia das lutas em voga trará de volta a inocência que nos identifica aos valores fundamentais, por fim revelando de todo o sentido de viver e sonhar com dias melhores que nos aguardam no transcorrer dos séculos

sábado, 7 de outubro de 2023

Padrões de compreensão


As produções artísticas vivem disso, das diferentes formas e dos diferentes autores. Muitos, a dizer infinitos, que mergulham nas águas ainda turvas da imaginação, a trazer aqui fora seus multiformes testemunhos do que se passa no seio das consciências. Eles, os artistas, que resistem até o limite da inspiração e artefazem o senso de contar o que lhes acontece lá dentro da criatura. Contam. Desenham. Escrevem. Pintam. Compõem. Executam. Encenam. Filmam. Esculpem. Vidas e vidas a isso destinadas em monumentos mil espalhados pelo chão.

Enquanto há tantos e diferentes seres, o Infinito da beleza grita na presença de todos uma herança de gerações sucessivas. Isso na busca avassaladora de identificar o que signifiquemos diante das interrogações imensas dos nossos sentimentos.

Nalgum conceito, essa aventura do conhecimento vem preencher todas as civilizações que sumiram no decorrer dos séculos, onde executaram seus estranhos desejos de viver e achar a resposta do que estamos a fazer no transcorrer do Tempo inesgotável. São marcas deixadas nas paredes do Eterno, quais frutos do gesto de existir e querer permanecer dalgum jeito nas páginas do Depois. E quando os meios de preservação desses registros ganham força de perpetuação, tal vemos hoje nesses tempos digitais, a possibilidade dessa leitura ganha maior força e poder de síntese.

Quase uma deslinguagem, eis a que vivemos agora. Algo assim a bem dizer de uma comunicação além dos suportes só materiais. Qual o que espécie de espiritualização da história até então vivida, dispomos de patrimônio inigualável dos valores criativos de todo tempo às nossas mãos. Milhões, Bilhões de livros, composições musicais, galerias, produções, multiplicadas muitas vezes e propagandas aos borbotões, invadem as mentes e reconstituem as vivências, numa probabilidade jamais imaginada. Isto tudo graças ao avanço dos meios científico-tecnológicos, aumentando, desse modo, as chances de aprimoramento das consciências e o exercício dos valores construtivos no seio da espécie de que somos sua parte integrante.

(Ilustração: Cristo crucificado, de Diego Velázquez).

É domingo (comentário ao livro)


De Vânia Fernandes

Somos da companhia Sopa de Letrinhas e gostaríamos de comunicar ao senhor que sua obra foi posta para avaliação por um dos nossos fundadores, o que será exposto na nossa coluna de domingo. No entanto, venho informar que essa pessoa que faz avaliação da leitura de sua obra não é nada literária; suas escritas são de botequim; seus textos são de uma produção com viés de romance de folhetim e, com certeza, seria a pessoa menos indicada para referenciar um texto que segue normas, pois suas escritas não seguem normas, seus gostos musicais são completamente opostos à doutrina que acompanha, contudo isso a ela não faz muita diferença. Seus gostos por filmes ainda são os mais obscuros, mas vá lá saber porque; cada um com seus gostos.  Dessa forma segue abaixo a análise que fez:

 

O livro É domingo, escrito por Emerson Monteiro, cheio de textos rápidos, é uma junção de suas decifrações as mais diversas; é agradável de ler, através de uma composição das mais variadas leituras, indo de uma mistura de contos e crônicas, anedotas e histórias de vida, a textos bíblicos; traz em si o entusiasmo de um escritor assíduo e comprometido com quem lê. Seus textos trazem a simplicidade de quem escreve com a leveza da alma e produz com o sentir de quem demonstra a emoção de vivenciar os acontecimentos narrados, e quem escreve a letrados ou não; segue sua forma própria de abrir espaço a novos leitores, com a sutileza entre o universo da escrita e os enredos pré-ensaiados de seus textos, nisto suas leituras ocupam os espaços no vazio da imensidão. Cada texto, escrito de forma característica e própria, representa um pouco de si. Ele é assíduo no compromisso com a sensibilidade de embarcar no universo da leitura. Dotado de habilidade e calma, viaja pelo próprio interior e diz ao mundo a que veio desde lá do pé da serra, na Chapada do Araripe, região do Cariri cearense, de Crato, no sul do Ceará. Com a fineza de um homem culto, moldado nos hábitos do seu tempo, traz uma linguagem interiorana e nos remete à simplicidade que cada homem traz no coração. Essa capacidade e inquietante missão de conduzir o leitor ao aprendizado, permite-nos, assim, fazer reflexões intensas de quem somos e viajar dentro de nós mesmos, buscando compreender esse universo imenso que abriga cada ser. 

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Atualidades


Certamente já ouviu o burburinho do povo, mas jamais o burburinho da terra; quando conhecer o burburinho da terra, ainda não terá ouvido o burburinho dos céus. Chuang Tzu

Ânsias de conquista mais que nunca parecem dominar os bolsões da presença humana nestes dias. Fome desesperada de controlar o incontrolável cresce numa velocidade extrema face aos instintos do raciocínio em voga. Daí, vieram as máquinas, e o poder político agride, sem limites aparentes, o que seria do futuro previsível. O resultado disso significa o estado atual de tudo quanto existe sob o prisma da visão material.

A imaginar o nível das incoerências praticadas no âmbito externo desse drama que já atravessa milênios, espécie de ausência de compreensão avassaladora, voraz, colonizadora dos fortes sobre os fracos, quer-se ter paz, no entanto perdura a ganância qual fator exclusivo de competição e tirania.

E saber que somos parte disso tudo, e que continuamos, nós e os nossos, a tecer linha de questionamentos da incapacidade desta raça na face do Planeta. Correr em que direção, ou fugir, não faz sentido. Não há aonde.

Nessa hora, pesa por demais a longa busca de tantos pela felicidade. Na pauta dos sentimentos, perdura, pois, o sonho de harmonia, sobremodo aos que amamos mais expressivamente. Desejamos dias de tranquilidade, porém os detentores do poder veem a seu modo o destino dos interesses em jogo.

Portanto, são dias de indagação que prevalecem, no seio das multidões. Claro que valores positivos existem, contudo ao modo de quem esteja a braços com os afazeres de luta entre os povos, esses instrumentos de hegemonia nem de longe são levados em conta. Há sempre versões que a eles justifiquem as consequências de seus atos. Sustentam a parcela de alucinação que põe os grupos nos pedestais. Querer admitir outros conceitos até agora perdura nas raias da imaginação idealista, apenas.

...

Numa visão objetiva, o panorama dominante significa a busca de um firme propósito de encontrar, quanto antes, fórmulas que representem atitudes coletivas no exercício de opinião lúcida e prática, a ponto de influenciar o momento e reverter as alucinações até aqui exercitadas.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Reservos da memória


A bem dizer, impossível de controlar a sequência dos momentos anteriores que regressam insistentes às lembranças vivas da atualidade. Quais vigilantes efetivos, tudo persegue a rever aquilo que o tempo arrastou e nos deixa vacilantes de compreender. Vez em quando, por exemplo, me vêm ocasiões da infância no Tatu, onde nasci e fiquei até os quatro anos. Retornávamos nas férias de julho, ao menos durante minha adolescência. Depois, quando comecei a gostar dos filmes que passavam nos cinemas do Crato, ia mais a fim de satisfazer minha mãe, que nunca esqueceu a época que lá vivera, nos inícios de nossa família.

E hoje, ao ler Perfis sertanejos, livro de José Carvalho, no primeiro capítulo, quando conta a respeito de Inocêncio, um senhor que conhecera na infância, que muito influenciara na sua formação, me veio à memória um tipo sertanejo lá dessa fase no Tatu, Seu João Preto, dos agregados de meu avô.  

Dos moradores da fazenda, ele nos recebia com satisfação na sua casa, um casebre de taipa que ficava vizinho ao chiqueiro das ovelhas, ao lado da capela. Um senhor animado, de baixa estatura, a usar chapéu de couro escuro amaciado pelo uso, de rosto alegre, família numerosa, trabalhador nas várias funções, desde cuidar das vacas, das ovelhas, plantar no inverno e atender a outras atividades, principalmente em época de moagem.

Foram eles, os moradores, meus primeiros professores; e seus filhos, meus primeiros amigos de peraltices. Nisto, tal gravação persistente, esse fio de tantas histórias desfila diante das situações dagora, a narrar conteúdos guardados a sete chaves pelos corredores distantes do pensamento. Espécies de segundos seres em mim mesmo, são contações de infinitas histórias que ativam a consciência, numa procura constante de interpretação do que ficou lá atrás nos dias que se foram sorrateiramente; pessoas, vivências, lugares, sentimentos, ocasiões, um aglomerado informe de continuidades que nos dá a nítida certeza de sermos as testemunhas de um roteiro exato que jamais terminará.

terça-feira, 3 de outubro de 2023

O enigma do Inconsciente


                         

Esse ente que somos nós até que nós o sejamos, e que vive ali dentro, escondido e agindo solto feito eminência parda, a comandar todos os gestos, eis que predomina e faz da cena o seu repasto. De memória farta, guarda de tudo no reservo de suas lembranças, e constrói o próprio castelo de sonhos onde habita. Vive e espreita todos os gestos, sentimentos, pensamentos, emoções, desejos; se acredita que lhe atendem, faz de conta que nem existe. Impera, simplesmente. Tal ente clandestino nas próprias leis deixa acontecer dia após dia o fluir das gerações.

Quando, no entanto, deduz de suas dúvidas que algo não corresponde ao que deixara escrito nas hostes do amanhecer, parte, vai em cima, quebra, arrebenta, faz e acontece, feito vilão contrariado dos filmes de bang-bang. Torna-se o que chamaríamos de nefasto, indiferente, arruaceiro.

Daí, esses farrapos que cruzam as linhas das melodias de sofrência; tristeza só, arrependimento, angústia, e tudo enquanto. Um adversário perigosíssimo do cotidiano das almas destronadas. Produz a cada gesto. Põe na perdição os galãs, desespera, deprime. A isto que dizem ser o mal do século, a depressão, disso ele significa o autor intelectual. Comanda e desmanda.

Bom, assim visto sob o prisma da contrariedade, o Inconsciente, que acumula todo o passado das criaturas sem deixar fugir nada que fosse, fica ali detrás do espelho dos dias e determina silencioso. As visões psicológicas já definiram com fartura sua existência, uma espécie de si mesmo que mora no âmbito das pessoas que precisam de vir a conhecê-lo e ser ele mesmo, e de seus caprichos se libertarem. Daí estarmos existindo onde quer que estejamos. A função primordial, pois, de todo vivente será sua descoberta e dominação, numa atitude de quem reconhece um ser interior que lhe preenche em toda sua grandeza, aceitando de bom grado vir a ocupar o espaço da Consciência, que, desde sempre, aqui estivera e que dele ainda não se dera conta.


domingo, 1 de outubro de 2023

Sonhos, a voz da consciência


A urgência de ser feliz bem isto significa o exercício dos sonhos. Olhar de frente a necessidade constante de ter paz e paz transmitir, num senso 
de amar o tanto de amar a si e aos outros. Essa disposição de alegria está às nossas mãos, ainda que nem tão perfeitos sejamos. Sustentar o fio da consciência sob o prisma da positividade.

Nessa disposição, trazer de volta o poder infinito de que já temos notícia e que significa a transformação de nós em nós mesmos.

É que todas as palavras têm vida e transmitem força superior à sua capacidade em ver passar por dentro de quem somos e ainda não sabemos de tudo. Elas dizem de si e dos outros e coisas tantas, na velocidade do Tempo. Mergulham nas águas turvas da humana compreensão e, logo em seguida, passam a serem fenômenos, vulcões em ebulição através das criaturas.

Daí, e em igual velocidade, são as histórias que percorrem os dias à procura da Luz. Avançam tais ferventes circunstâncias pela mentalidade aberta aos firmamentos. Fileiras imensas de fagulhas acesas que percorrem o Universo, dotadas de expectativas de lá, num momento único, serem ouvidas e guardar dos sonhos a energia da imortalidade.

E nós seremos sempre essas virtudes que fazem das ausências um diálogo conosco, na ânsia de revelar a que somos e descobrir o mistério das funções em movimento, a existência. Nisso, palavras viram canções, objetos, sentimentos, e vagam soltas pelo ar na busca de sentido e desejos de salvação.

Noutros valores, as palavras e os sonhos, quais subsolos das almas. De um instante a outro, o quanto existe vem à tona e fala nas noites o que persiste nas lembranças eternas.

(Ilustração: Darsu Uzala, de Akira Kurosawa).