sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Bem dentro de mim

Nesses corredores daqui de dentro, entre painéis e luzes incessantes, vou mundo afora rumo desses desconhecidos enigmáticos do futuro. Tanjo os sonhos quais folhas soltas viradas no calendário do Destino. Por vezes, prego peças a mim mesmo, diante dos desejos de ser feliz. No entanto, de comum, busco incessante as fagulhas que iluminem erros do passado, isso através dos espasmos da religiosidade, que mantêm intacto o instinto de sobrevivência durante todo tempo. São aos deuses gravados nos tais painéis que ilustram as salas e os corredores que recorro nos momentos de solidão, a bater nas portas da escuridão que pede luz. 

Quase que adormecido sob os ponteiros do relógio das horas, insisto em contar as histórias da tradição de quantos nos trouxeram até hoje nos braços estafados de depois, e resistimos a qualquer preço, no mercado das condições humanas. Firmo pés nos barrancos escarpados e transmito aos outros o poder de alimentar antigas visões. Conquanto dotado dos meios necessários a reviver, nas manhãs, os ideais que morreram na véspera, nalguns amanheceres ainda doem as cicatrizes dessa batalha de viver. 

Há, igualmente, o pulsar pertinente do coração, olhos postos no amor das criaturas, talvez o valor inestimável que arrasta todos aos campos de produção. Cercados de espiões da vigilância, somos espécies de trabalhadores forçados da lide imensa. Desconfiados, apressados e submissos, cabeças baixas às determinações do inexplicável, cá iremos nós ao foco dos céus. Sísifos a rolar pedras ao cimo das montanhas, silenciosos, presenciamos nascer o Sol e deixamos escorrer o suor das almas rios abaixo, nas ladeiras do Universo. 

A isso, porém, de amar e ser amado, eis a única razão de ser e estar em quaisquer das circunstâncias. De nada adiantaria o que quer que fosse não existisse amar e ser amado, viver e continuar em frente, face as bordas do abismo e das eras. 

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Amanhã a esta hora


Lá, bem ali, já nada mais de hoje haverá para sempre. Tão só o senso da memória fala nos sinais adormecidos de antigas refeições. Doces amargos que descem vida afora nesse mar de poesia que se dissolve no andar superior. E nós aqui na busca da lógica universal das criaturas.

Esses mesmos senhores de si haverão de conduzir o absurdo das horas vividas além da própria vida. Olhos postos entre o antes e depois, quedam os dentes diante das pedras do caminho. E veem que nem de qual maneira existirão daqui a pouco no correr dos ventos. Enquanto os sentimentos dormiam no seio das almas, elas iam sem saber aonde chegar, porém teriam de tocar em frente luz o que alimenta essa história inacabada.

Elas, as palavras, no entanto precisavam possuir a força de permanecer superpostas nas trilhas do horizonte, finalidade de tudo e ausência de quase nada. As palavras, que gritavam na alma da gente e pediam passagem no claro das manhãs. Pássaros soltos no imenso coração das multidões, avançavam no silêncio feitas feras ansiosas de sobreviver ao desaparecimento constante das manifestações dos elementos. 

Os muros, pois, persistem a determinar limites às individualidades. Querer ser livres todos querem, contudo apenas isso de não fazer o mínimo esforço de conhecer o existir logo ali por detrás das conveniências. Nisso morar nas profecias aguardadas que voam no ar dentro do mar das tradições. 

Quais chamas de fogo nas dores deste mundo, os pares evoluem nos céus e revelam em si a força da criação de novas ocasiões que desvendaram do sonho das hecatombes e nunca transformaram a esperança em fé, sustentaram de amor o desejo. Os deuses de cada um por isso trazem guardados segredos de poder só pouco a pouco nascendo no íntimo de tais seres humanos.