quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Libertação interior

Busca incessante, existir. Tantos detalhes, tempo veloz em câmara lenta. Baixas, elevações, pensamentos, sentimentos, vontade aberta e limitada, a um só momento. Dizem muito, dizem mares de palavras, no silêncio disso tudo. Seguir, correr, prosseguir. Voar no vento e regressar de mãos vazias ao dia seguinte, presos às bólides metálicas da carne. Aos olhos vulgares, mera prisão dos dias e das noites, novas chances e velhas ilusões. O escafandro amarrado às mangueiras de oxigênio, máscaras de vidro das esperanças que renascem nas outras manhãs. Daí o desejo monumental de saber o motivo de vir, ou já estar, ou nunca ir, a milhões e milhões de séculos vagando neste caos. Ser das perguntas, vidas em movimento, chuvas de gente, de números, de nadas.

Mas há quem fale diferente, que chegue mais à frente e veja distante, lá depois das montanhas que molduram a vista. Revelam certezas maiores do que todas as dúvidas. Acalmaram em si o jeito com que descrevem as práticas do que é bom, amar as coisas e criaturas, perdoar, acalmar os temporais, alimentar alegres sonhos de paz e aceitar o firmamento. Descrevem territórios luminosos, recantos aprazíveis, belezas mil, apenas mergulhando nas planuras da Consciência e penetrando as cores e maravilhas jamais até então imaginadas pelos mergulhadores da imaginação delirante que antes foram. Dizem haver, nos refolhos da alma da gente, o alimento que satisfará a fome dos gigantes e a sede dos desertos.

Lugares quiçá inatingíveis, fossem noutros universos inexistentes, que habitam o solo fértil das criaturas, de nós mesmos vem a forma de altares de oferendas aos deuses do coração, a que chegar por meio da Verdade aceita. Dotados das melhores alternativas dos elencos e das cortes, dispõem os voluntários da coragem no véu da Eternidade, enquanto agora. Logo hoje. Sempre terno poema de graças e felicidade, são os valores do Bem, das aspirações dos santos, avisos dos profetas, doutrinas dos místicos, criação do Divino, aqui no íntimo chão-oceano da pessoa humana que ora lê, pensa, e quer.

(Ilustração: Nicholas Roerich).

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Fulô da Aurora

Na noite do sábado (26.08.17), no pátio da RFFSA, em Crato, assistimos a apresentação deste grupo, Fulô da Aurora, de música característica das melhores tradições populares do Nordeste. Criado em 2003, inspirado nos brincantes do Cariri cearense, a banda, composta por sete exímios executantes, traz a mais pura alegria, isto nos moldes das bandas cabaçais sertanejas, com baiões, frevos, cocos, xotes, xaxados. De harmonia e ritmo admiráveis, reacende a força viva dos maracatus, reisados, maneiro-paus, das festas dos terreiros, e o que é melhor, sob controle rigoroso de quem sabe o que faz, e faz.

A música sempre refletirá o nível cultural das populações. No entanto a repetição mecânica dos meios eletrônicos sujeitou a gerar distanciamento das origens autênticas e produziu aberrações e artificialismo perverso, qual o que hoje constrange o mercado da civilização de massa. Espécies de arremedos daquilo que poderia ter sido, o mundo artístico musical tendeu aos absurdos da agressividade perdida, tanto nas letras, nos estilos repetitivos e sem graça, quanto na intensidade extrema da utilização dos equipamentos dissonantes. Retrato desta fase escura nas artes em geral, o que agora chamam de música passa longe da dignidade artística do bom-gosto e da beleza.

Porém nada está perdido. Vez por outra a gente encontra resistentes dos tempos e costumes medíocres. Fruto da necessidade primal da estética limpa e verdadeira, sobrevive almas da inspiração original. Daí os arautos, semelhantes a heróis imbatíveis da essência sublime, que jamais perecerão. Queremos assim classificar este exemplo da Fulô da Aurora, que aguardava o momento certo de conhecer. Tem dois cds gravados, Querendo tem e Cabocô, estando esgotado o primeiro deles. Liderados por Fabiano de Cristo, um dos executantes do grupo, cumprem com maestria a função de contemporanizar ritmos saborosos os quais traduzem no som de rabeca, viola caipira, percussão, pife, violão, vocais, numa musicalidade feliz, rica, fértil, sublime.

Bom presenciar os sabores da nossa imortal oralidade nas letras e nos naipes sonoros de tão consistente manifestação artística deste momento. 

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Sementes do desconhecido

Escravizado às camadas inferiores da varada, algum animal escondido ali buscava acordar dos entulhos, dos galhos e folhas secas, até obter êxito nos esforços e surgir à vista de quem olhava interessado em descobrir o que adviria daquele movimento estranho de debaixo das entranhas do chão. Espécie alimária entre ressequida e semelhante quase à textura dos galhos e das folhas secas da entrecasca do solo, dali surge médio corpo de um jacaré filhote de boca grande e dentes afiados. Assim inesperado, preenche o espaço das apreensões de quem assistia. Algo de se recolher com cuidado ao espaço que lhe restava, em defesa dos botes do estranho visitante vindo das entranhas da terra. 

Mas achou por bem de suportar na casa a presença do inesperado ser. Haveria de superar a visita e seus modos, sempre em favor da instituição doméstica. E o tempo foi deslizando no correr dos dias, nas linhas das horas intermitentes, meses, levando a novo acontecido. 

O bicho ainda pequeno lá numa incerta ocasião acharia de se meter em um buraco de outros insetos no encontro de uma parede do lado sul da casa e nele permanecer algum tempo, sem mais, nem menos. Sumiu desaparecido dentro do furo qual houvesse terminado de tudo o drama. Que durou outro tempo, talvez longo, talvez breve, no juízo de velocidade da testemunha que acomodava os sucessivos inesperados. 

Ora só o que viria ocorrer. Daquele buraco, aonde penetrara o filhote de jacaré aparentemente inofensivo pela idade, sairia já no formato de espécie maior da mesma família dos dinossauros, mas noutras e maiores proporções, esse de pele enegrecida, consistente qual o casco dos bichos do passado geológico dos antigos predadores, e com aparência agressiva de apreciador de carne sangrada, de gente que fosse e achasse pela frente. 

Ele, que acompanhara tudo a partir do nascedouro da primeira visão, notou a gravidade dos sucedidos, presenciou em si o risco da sobrevivência em xeque, e somou as peças do enigma. Deveria sobreviver, sim, no intuito primeiro maior de cumprir a missão lhe destinada. Fugiria na primeira nave que lhe viesse recolher face ao desencanto das populações em volta de fogueiras acesas nas noites frias do estio da Terra. 

domingo, 27 de agosto de 2017

A certeza da convicção

Nos primeiros séculos do cristianismo, quando a fé em Jesus galvanizava multidões inteiras necessitadas de esperança, quais as de hoje, a força com que aceitaram a transformação interior entre as pessoas a ponto de marcharem altivas às primeiras perseguições. Iam aos circos romanos de almas livres ao sacrifício. Seriam ali vítimas das feras famintas, dos gladiadores insanos, das fogueiras, o que divertia sobejamente aos instintos dos césares e da massa ignara, delirante nos poleiros dos estádios superlotados. Cenas de horror, a pão e circo, que alimentavam o sadismo dos ignorantes, a troco da exploração política e ditatorial de profissionais da descrença.

Hoje as manias dos humanos nivelam as épocas parecidas. A própria fé mudou de espírito. O que fora amor extremado na busca da Salvação virou interesse desnorteado pelas posses materiais. De que vale ao homem ganhar este mundo e perder a Eternidade? – indagou Jesus nos evangelhos.

Espécie de loteria da religiosidade, o valor das consciências pende aos paraísos artificiais do dinheiro, da fama, do sexo, dos vícios de outras espécies. O prazer pelo prazer, pouco ou nada importa o preço de pagar no correr dos ponteiros. Meros bonecos de marionetes absurdas, seres se exaurem na lama da autodestruição.

Daí apresentarem os tempos espécie de mutação moral que reclama inteligência. Quantas aberrações nessas fases críticas. Valores perdem o sentido, e enquanto nos tempos antigos desciam aos circos, de olhos abertos, os mártires da perseguição em nome da fé, agora carece de razões até às vítimas abandonadas nos guetos, paupérrimos e marginais. Fase escura de esperança, onde os vendilhões oferecem as almas no mercado da desonra e exploram o povo a mantê-lo escravo da mesma ignorância que lhes possui.

Mais que nunca, o presente requer a certeza da convicção, em que os princípios cristãos sejam o motivo forte de salvar si e aos irmãos de humanidade.

sábado, 26 de agosto de 2017

Vamos acordar!

Certa feita, assisti pela televisão a uma entrevista com um senhor que vivera na Alemanha no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Ele descrevia o clima reinante no país naquela ocasião. Espécie de letargia dominava a grande população. Enquanto isso, escaramuças da política ditavam as cartas e Hitler chegara ao poder, logo demonstrando a agressividade dos seus instintos de dar início à conflagração que custaria 70 milhões de vidas, entre mortos e desaparecidos. Mas o povo acompanhava aquilo tudo sob a relativa normalidade. A militarização e o crescimento armamentista que caracterizavam os desejos do ditador rápido prevaleceram através da propaganda e das mobilizações do Estado.  

No auge dos avanços agressivos em relação a países próximos, lá um dia os nazistas reuniram grande massa no Estádio de Berlim no sentido de apresentar os planos da propaganda e consultar os presentes quanto ao apoio à guerra iminente.

Os alto-falantes bradavam hinos e discursos, até o instante da consulta coletiva de apoiar à escalada do conflito mais cruento até hoje acontecido na Terra. Quando consultados, o estádio em peso levantou-se favorável à ação deletéria. O tal senhor de quem faláramos da entrevista na televisão, ali no meio da multidão desvairada, nenhum gesto esboçou, permaneceu sentado no seu lugar das arquibancadas, pois fora voto vencido. Inútil a qualquer cogitação. E o andamento dos acontecimentos seria danoso para toda a Humanidade.

Assim é sujeito a ocorrer em qualquer época diante da maioria silenciosa que dorme acomodada diante das situações da história. Nada vê. Nada ouve. Nada fala. Embriagada nos braços dos prazeres fáceis, acha que tem nada com isso.


Entretanto se sabe da importância da conscientização das pessoas na conquista dos direitos, na obtenção dos resultados da paz, do progresso. Há tempos durante os quais todos nós seremos responsabilizados pelas atitudes de todos. A coerência exige participação, movimentação. Os próprios governantes necessitam saber as aspirações populares, a fim de promover ordem e justiça que farão os dias melhores que construiremos às novas gerações.a

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Karim Aïnouz

Este cineasta cearense que vem ganhando destaque no cinema mundial tem suas origens na família Augusto, de Lavras da Mangabeira CE. Karim Aïnouz nasceu em Fortaleza a 17 de janeiro de 1966, filho de mãe brasileira e pai argelino. Roteirista, diretor de cinema e artista visual mais conhecido pelos filmes O Céu de Suely e Praia do Futuro, iniciou carreira como co-roteirista de filmes nacionais Abril Despedaçado (2001), de Walter Salles; Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), de Marcelo Gomes; e Cidade Baixa (2005), de Sérgio Machado. 

Seu primeiro longa foi Madame Satã , em 2002, que veio a público na mostra Un Certain Regard do Festival de Cinema de Cannes do mesmo ano. 

Como palestrante, Aïnouz participou de eventos na Universidade de Princeton (Estados Unidos); Birkbeck College (Londres); Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Estados Unidos); EICTV (Cuba) e San Francisco Art Institute (Estados Unidos), entre outras.

Em 2008, escreveu e dirigiu a série de televisão Alice, em parceria com Sérgio Machado, para a HBO América Latina. Seus curtas-metragens e instalações foram exibidos em mostras e museus pelo mundo, incluindo no Whitney Museum of American Art, MoMa Nova York, Bienal de São Paulo, Bienal de Sharjah, Museu de Arte Contemporânea de Fortaleza e Festival Videobrasil.

Depois de Madame Satã, seus longas seguintes foram O Céu de Suely e Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (co-dirigido com Marcelo Gomes), que estrearam no Festival de Veneza, na Mostra Orizzonti, em 2006 e 2009. 

Em 2010, o diretor foi homenageado na 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes e teve retrospectivas na Espanha, Suíça, França e Estados Unidos.

Em 2011, o filme O Abismo Prateado teve sua estreia mundial no Festival de Cannes, na Quinzena dos Realizadores, e recebeu o prêmio de Melhor Diretor no Festival do Rio. Realizou, a convite da Sharjah Art Foundation, o filme Sonnenallee, exibido na Bienal de Sharjah, de 2011.

Em 2012, foi convidado a integrar o júri da Cinéfondation e da Competição de Curtas-metragens do 65.° Festival de Cannes. No mesmo ano, participou do projeto Destricted.br, - inspirado no projeto Destricted de Larry Clark , - com Adriana Varejão, Janaína Tschäpe, Julião Sarmento, Lula Buarque de Hollanda, Marcos Chaves e Miguel Rio Branco.

Foi convidado para o júri do Heiner Carow Award durante o 63.° Festival de Berlim e em 2014 foi presidente do júri do Festival do Rio. Seu último trabalho de documentário experimental, Domingo, é resultado da parceria com o artista dinamarquês Olafur Eliasson durante o 17.° Festival Videobrasil, teve sua estreia mundial no Festival do Rio 2014.

Em 2014, lançou o filme Praia do Futuro, feito no Brasil e na Alemanha, e estreou na Competição Oficial do 64.° Festival de Berlim e é um de seus trabalhos mais conhecidos. Ainda em 2014, participou como co-diretor de Cathedrals of Culture, que explora como seis edifícios significativos e diferentes refletem nossa cultura. A película tem como produtor executivo Wim Wenders e estreou no Festival de Berlim, na seção Berlinale Special do ano de 2014.

São estas algumas das informações a propósito de Karim Aïnouz as quais recolhemos do site Wikepédia (Enciclopédia Livre) em 23 de agosto de 2017.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Padrões mentais

Face às limitações do conhecimento material que conduz muitas das ações humanas, por vezes atitudes sujeitam causar dores e dificuldades, tanto individuais, quanto coletivas. Usam nisso o aspecto negativista dos padrões de pensamento; daí tender a resultados pouco recomendáveis. Conflitos. Desuniões. Atrasos de várias ordens.

Jamais, quanto agora, instrumentos de equilíbrio já pertencem ao saber das coletividades. Estender a mão e sustentar os valores maiores do Espírito, das crenças. Certo pesquisador indagava a pajé de tribo da Amazônia se ele acreditava num ser superior, num deus que criou e mantém o Universo. Ao que recebeu uma resposta afirmativa.

- Mas em que deus, o deus dos tauístas, dos hindus, dos budistas? – seguiu perguntando o antropólogo. E, então, escutou do selvagem:

- Não, não. No Deus mesmo, o que está à frente de tudo e tudo pode!

Assim, em quantas horas, acontece de escolher passar aos outros a própria responsabilidade do que cabe a cada um. Nunca fugir do compromisso com a Verdade da sabedoria. 



Na filosofia, após o Positivismo, iniciado por Augusto Comte, a concluir apenas pela racionalidade do pensamento, houve como que retração da fé sob a condenação dos excessos da religião dos poderosos, que dividia tronos com as elites. Daí, mais adiante, Nietzsche preencher as lacunas da moda e centralizar na ação individual o girar dos movimentos, até o desencanto definitivo que ora se vê do Super-Homem, quando um novo ser de humildade ressurge a dizer do tempo futuro qual fruto das ideias e praticados só das criaturas humanas.

No entanto a liberdade em trabalhar esses padrões também pode resultar nas melhores escolhas. Bem perto, o vizinho do lado aguarda luz na consciência que limpe a estrada e exerça o procedimento justo. As psicologias, desde suas origens, indicam tais recursos. Trabalhar as formulações mentais. Utilizar valores naturais de modo inteligente. Menos instintivo; menos egoísta. Saber e praticar as maravilhas da Natureza. Passo seguinte, querer esse potencial infinito de força transformadora dentro de si.

Usar o pensamento com toda disposição, e desenvolver a concentração mental, eis a tônica da Fé.

domingo, 20 de agosto de 2017

O bode e o sonho

Esta história a ouvi de Dora, que ouvira de Mestre Herculano, e quero agora contar:
Um bode, vivendo no Sertão, deparou seca de proporções avassaladoras. Mesmo sendo caprino e sobrevivente nas dificuldades achar alimento, bichos esse que digerem as substâncias mais imprevisíveis, atingira os limites da fome sem alternativas.

Desconsolado, o animal vagava buscando o de comer nas quebradas daquele verão ingrato, quando avista juazeiro verdinho no meio da garrancheira da mata. Só que com dificuldade por certo intransponível, porquanto as folhas da árvore ficavam lá no alto, longe do alcance do faminto animal.

Pensou, pensou, olhando pra cima e calculando modo possível de chegar até a bela e apetitosa folhagem. Nisso, pegou no sono, de inanição e fraqueza. E dormiu... que sonhou. 
  
No sonho, descobria que dispunha da capacidade física de subir nas árvores. Via-se ali debaixo do juazeiro enfolhado e, pelo seu tronco, cuidava com isso de aproveitar as folhas verdes numa apetitosa refeição.

Instantes atrás, porém, Deus sentira dó do pobre vivente e resolvera auxiliá-lo. Bem nessa hora, o bode acordou do sonho, na fiel certeza de que vivenciava agora a realidade do sonho, e que podia, sim, subir em árvore. Foi quando Deus lhe indagou se queria aprender a subir nas árvores.
Certo de que dispunha da tal capacidade, o bode respondeu ao Criador que precisava não, que já tinha a habilidade ofertada.

Assim, naquele exato momento, perdera o caprino a rara chance de aprender a subir em árvore e, nas horas difíceis, superar a fome, talento que o Bom Deus disponibilizou na ocasião daquela necessidade.


Muitos de nós somos parecidos quando perdemos oportunidades de saber, porque, convencidos na ilusão, fazemos de conta que sabemos. Gesto mínimo de humildade é fator decisivo a quem quer adquirir a sabedoria verdadeira. 

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A hora da Razão

Dentro das minhas lembranças de criança, lá um dia, por volta dos quatro anos de idade, fui com minha mãe visitar amiga sua que morava na Rua São Francisco, próximo à igreja do santo, no Bairro Pinto Madeira, em Crato. Chegáramos ao bairro alguns meses depois de virmos de Lavras da Mangabeira. Naquela tarde, sei bem não, estávamos n pequena residência, nessa visita, onde demoraríamos só pouco tempo, mas o suficiente a que eu presenciasse passar cena que marcou momentos posteriores. Viria passar em frente à casa um enterro, féretro de algum morador daquela área. Observador contumaz, notei o movimento daquelas pessoas a transportar a urna mortuário e quis saber do que aquilo se tratava.


Até então, vivendo na fazenda dos meus avós, nunca soubera detalhes do jeito de devolver a matéria ao chão; noutras palavras, desconhecia o suplemento de viver que espera a todos logo ali no final da curva da existência. Aliás, sabia que os bichos morrem, lógico, pois via morrerem os carneiros, os animais de quintal, frangos, galinhas, que eram levados à força ao repasto das pessoas. No entanto ignorava por completo aonde terminavam os humanos, revelação vinda naquela tarde fria, em Crato. 

Primeiro contato direto com o derradeiro ato deste plano, isso mexeu nas minhas imaginações. É tanto que ainda agora lembro e conto. Causou espécie ao juízo do menino que, talvez, desconfiasse tivesse vindo aqui e permanecer feito Azaverus, personagem de Machado de Assis, que não morreria jamais. Desde então pretendo me acostumar com a ideia da morte. Nos conventos, segundo consta das lendas, os religiosos adotavam usar crâneo envelhecido sobre os livros em que meditavam, isto na intenção de preservar em seus pensamento a imagem do que virá adiante, ao baixar o pano do espetáculo.

Muitos fazem de conta que não é consigo o drama dessa página conclusiva, e insistem nas paixões desenfreadas, nos distúrbios e nas festas. Quantas opiniões a respeito, do que poucos reconhecem inevitável. Existe até frase atribuída a um sábio que diz: Viva como se nunca fosse morrer, e morra como se não tivesse aqui vivido. Enquanto eu, sigo buscando compreender melhor esse assunto dogmático e certo.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Instinto de posse

Os seres-objeto que circulam pelas avenidas reconhecem de pronto o que seja tal instinto de posse. Nada mais que desejo exacerbado de possuir, dominar, escravizar quem apareça pela frente, seja freguês, cliente, seduzido. Domar as outras pessoas quais ensinam animais brabos. Amaciar as máquinas. Cercar as invasões. Será mesmo que tem que ser assim a versão corrente de amor que vendem televisões e canibalismo? Às vezes paro e fico espiando o desejo de carne dos bichos humanos. Querem porque querer ter animal de estimação de junto; exibir fetichistas as recentes aquisições de possuir pelo possuir, a troco de grana e outros aliciamentos. A prática nefanda mexe nos escombros da patologia de churrasco de gente, no que inventaram chamar de amor, romance, paixão, taras e furor. Andam sorrateiros pelas matas da civilização feitos lobisomens esfomeados. E quais pistoleiros desalmados, vão riscando no cabo dos revólveres a ânsia maníaca de conquistar almas alheias.

O drama dessas histórias resvala nas covas do dantesco. Arrancam de dentro dos lares as vítimas e as executam em praça pública. Quanta ausência de conhecimento das leis que regem o todo universal... Quanta preguiça moral de conquistar, pela razão do sentimento, o amor das criaturas. Esses monstros que desconhecem alguma verdade, enlameiam as estradas do próprio fel. Ignorância, palavra que resume a falta de consciência das feras. Plantam hoje dores no amanhã. Vendem as ganâncias da perversão e recebem, logo na saída do pavilhão dos andrajosos, o troco desse plantio de bárbaros.

Ninguém, que se preze, espere da Natureza mãe o aval dos erros brutais além da Justiça absoluta e infalível que determinará as sentenças dos equivocados. Conhecer só auxiliaria essas horas de alimentar a satisfação de quem aceita o carinho de modo puro dos bons sentimentos.  

A realidade e o sonho

Quantas vezes, tantas, a gente acorda longe daqui deste chão, dada a qualidade inesquecível do sonho em que viveu o prazer dos sentimentos inimagináveis durante realidade interna. Sonhos de sonhos, que assim pode dizer. Suave beleza de vivências impossíveis, ou possíveis nos sonhos. Quer, porém sabe pouco da qualidade sublime das viagens interiores propiciadas no decorrer do sono nessas ocasiões. 

Estudiosos afirmam que nos sonhos concretizamos, na psiquê, aquilo que gostaríamos de fazê-lo no decorrer da existência física. Platonizamos os ideais através da experiência onírica. E considerando bem, quanta habilidade em ser dessa maneira. Quanta perfeição da Natureza. Pois sonhar o que atende aos nossos melhores desejos acalma, cria objetivos, aumenta o gosto de viver e esperar dias felizes se ainda não os tivermos. Meio de extrema sabedoria sonhar a plenitude dos momentos que queremos ver e sentir acontecer.

Mesmo porque o essencial vale nas emoções, e os sonhos produzem emoções.  Neles penetramos o mundo abstrato, intangível, matéria prima das percepções da alma, setor, aliás, de satisfações superiores aos instintos. Seriam o equivalente ao prazer da música, do olfato, dos sentimentos. Pelos sonhos portas abrem ao território da imaginação mais fértil. Trazem aos universos espirituais de que trata a metafísica, áreas de luz, vibração, ondas magnéticas. 

O amor significaria o fruto principal desses níveis de compreensão e sentimento, ponto máximo da percepção humana que nos sonhos a gente pode sentir de jeito salutar. Quantos místicos revelam ditas emoções, contam de padrões superiores que obtêm por meio das meditações, até do sofrimento, do sacrifício da carne, das visões, da renúncia dos prazeres físicos. A entrega ao serviço do próximo, à dedicação das missões redentoras, ao desapego. Que noutras situações isto também pode demonstrar, nos graus da emocionalidade exacerbada dos gênios, dos heróis, das mães, dos enfermos. Sonhos, a realidade na origem de tudo, bem no mais íntimo do Ser, na casa da Consciência, o foco principal da realização subjetiva.

(Ilustração: Nicholas Roerich).

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A liberdade individual

Os conceitos definem bem que a minha liberdade termina aonde começa a liberdade do outro. Essa fronteira representa o princípio do respeito entre os seres humanos e desenvolve uma série de avaliações por demais importantes nos âmbitos do direito, da sociologia, da filosofia, etc. O respeito aos valores, por sua vez, significa paz social, até chegar à regra áurea de nunca querer para o outro o que não quer para si próprio. 

Entretanto a consciência individual carece desenvolver tais valores no decorrer das existências. A desobediência a tais princípios ocasiona situações que exigem respostas até coercitivas, punitivas, do controle social, porquanto são criadas as leis que regem os comportamentos. Daí todos sermos sujeitos de direitos e obrigações. Nisso, meu direito termina aonde começa o direito dos demais. Estendidos às instituições, aos países, virão os compromissos que regem as normas internacionais, por exemplo.

Segundo postulados existencialistas, na filosofia, todos temos a liberdade que os outros nos permitem ter. Que o ser humano é condenado a ser livre, contudo diante do espaço de razões sociais determinantes. O que significa livre-arbítrio seria, diante disso, a possibilidade contingente de ser livre, porém na face das permissões e circunstâncias. Eu e o outro em movimento, em evolução. Isso impõe dependência a determinações do respeito mútuo e das normas, além da obtenção, pura e simples, das nossas pretensões individuais.  

Destarte, condenado que somos a ser livres, os humanos hão de se render aos limites da liberdade qual padrão inevitável de reunir direitos em função das suas obrigações. Durante o exercício dessa liberdade tão apreciada, o grupo social impõe condições, ou contrapartidas, aos cidadãos que visam merecer a vida em sociedade, porém a pagar uma espécie de taxa de condomínio pelos benefícios auferidos de utilizar os serviços das vilas, das cidades, das nações. No transcurso dos tempos, em consequência, vêm as tradições, os sistemas e as civilizações. Homem nenhuma é uma ilha nesse mar de conformações e utilidades públicas

Um Eu sagrado

Todo tempo, séculos sem fim, os humanos buscam conhecer o lado de dentro da criatura de Si, às vezes com sucesso, vide sábios e santos. Até hoje ninguém questiona a existência desse parâmetro do Inconsciente persistente no íntimo pessoal. Vêm disso as tantas escolas religiosas espalhadas pelo mundo. As inúmeras aventuras, na amplidão do universo do Ser, através do conhecimento. Matéria prima de pesquisas constantes, voam depois da capacidade dos estudiosos, que ainda tateiam entre a sombra e a luz da alma. Fascinante isto de que dispomos a fim de aprender os passos verdadeiros da vastidão infinita.

Pouco importa a inteligência mais genial, entretanto permanece em aberto descobrir a equação do mistério. Criam teorias, aperfeiçoam os conceitos, editam livros, porém a revelação vive liberta no seio do sentimento, sede da emoção, planos do coração. Na distância do sentir ao dizer, o caminho da Iluminação. Os mestres espirituais falam, por isso, do drama tenebroso da transmissão dos ensinos, porquanto antes do que transmitir existe a necessidade do solo de quem irá receber, senão será tão só informação e não saber o que se passa. Ausência de solo fértil, eis a crise na estrada de mão dupla, a exigência de conhecer o Absoluto. Ter aonde guardar o que aprender.

Há, pois, que ampliar o Eu sagrado. Jesus falou através de parábolas, a mostrar a Verdade além do mero raciocínio mental. Falou em um Reino que aguarda que visemos a Luz e a compreendamos. Aspecto místico das individualidades, diversos cientistas abordaram o tema. Sócrates. Santo Agostinho. Paulo. Jung. E mais que vieram e virão. Outros já oferecem o exemplo de viver, os nomes essenciais ao aperfeiçoamento das religiões. 

Nisto, ainda que difícil de conhecer, porém sendo possível, notícia alvissareira admite quais perspectivas, sobremodo em épocas escuras, durante as fases de aprendizado que atravessamos. Pressentir a existência perene da porta da Libertação, indiscriminadamente, transportamos em nós a Imortalidade, vez sermos deuses, e carecemos dizer a nós mesmos este sonho definitivo. 


(Ilustração: Angelus, de Jean-François Millet).

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Os sons do inesperado

Escrever, no mínimo, é prazeroso, instigante. Oferece ímpetos de a gente correr em busca de novidades e encontrar alternativas de jogar com as palavras, em meio às rotinas, viagem por vezes surpreendente. Os sons das palavras saem batendo nas paredes da visão, escarrancham sótãos de lembranças, notícias, pensamentos, sonhos, assim quase vadias, destituídas de propósitos ou direitos, no entanto firmes na intenção de revelar os segredos guardados nas sete capas do inexistente. Muitas, inúmeras, as chances de acalmar o instinto dessa função de transmitir, porém, ainda que tranquilizem durante algum tempo, lá adiante vêm de novo neste desejo de saltar fora e trocar em miúdos o que restara das refeições cotidianas, e tem mais, acham que queiram parar aqui e dividir a solidão das existências, nesta comunhão de pensamentos na mesma aventura das revelações interiores. Palavras, palavras, palavras...


E quando, outra vez, elas descobrem a gente presa da angústia de querer contar o inconfessável, psicografando junto o séquito de andarilhos, de longe, observam os desavisados e trazem sons do inesperado ao texto.

Outro dia, Ceci me falou que, recentemente, ouviram profundo estrondo nas imediações do litoral norte da Bahia, quando identificaram naquilo a queda de um meteoro de maiores proporções. A notícia gerou empenhos dos estudiosos em localizar os pedaços do corpo celeste, disso pedindo à população que tragam às pesquisas tais pedras de corisco que recolheram. Eis dos tais sons do inesperado em que falei. Quantas e tantas ocasiões correm nos céus as estrelas cadentes, riscos de luz desses corpos que penetram a atmosfera da Terra e incendeiam nos fachos luminosos. Deles veem-se os claros, no entanto há dias em que deles também se ouvem o estrondo ao tocarem o solo das proximidades dos núcleos humanos. 

Isso lembra os sons das palavras quando invadem o silêncio em volta e chegam ao coração, no instinto de serem transmitidas uns aos outros, pela escrita, no discurso de papel. Algumas viram coriscos e chamegam o território íntimo de quem escreve e adiante dos que leiam.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Tempo e Eternidade

Esforço mínimo de concentração é o que exige a compreensão do que se lê. Ler é investimento na percepção da sabedoria. Aprimorar conhecimentos e praticar o que aprender. Dissemos isto na intenção de avaliar alguns conceitos que pedem a atenção de quem ler. Por vezes a gente acostuma com o que dizem sem mergulhar nos conceitos essenciais. Exemplo disto vem das definições que adotamos sem questionar. Quero aqui observar tal aspecto no que diz respeito à preocupação em definir o que seja tempo e o que seja eternidade. 

Tempo está ligado ao espaço, segundo o que está consagrado nos costumes. Será o tempo do relógio, o tempo do calendário, das eras. Enquanto eternidade permanece firme no centro do Universo. Durante a ação do tempo a eternidade permanece estática. Tempo, numa comparação, significa a paisagem que transcorre pela janela do trem. Eternidade, a janela do trem. Assim, o que passa será o tempo. A janela permanece.

Na mitologia grega, Cronos, que representa o deus Tempo, pare e devora seus próprios filhos. Os filhos (nós) passam; o Tempo permanece. Veja bem, já tem outra conotação. 

Daí o que dissemos, a necessidade do aprofundamento dos conceitos essenciais. Na linguagem popular, o tempo não para, quando a Eternidade vive da perenidade, permanência, constância. Noutras palavras, o tempo que não para diz mesmo respeito a espaço, que existe num constante movimento de moléculas e células.  

Quem escreve busca comunicar o que pensa. Isso pede habilidade pouco encontrada neste mundo. Há uma vontade forte de escrever e chegar a quem ler. Nesse esforço alguns têm sucesso. Venho procurando chegar ao nível de me fazer compreendido.

Aonde quero chegar? Quanto a tempo e eternidade ambos são lados de uma só realidade. No círculo, quanto mais distante do centro maior o espaço a percorrer pelo ponto em movimento. Regressar ao ponto central significa achar o eixo, o polo principal. Entre indígenas das Américas, o símbolo de Deus indica o Sol, Tupã, portanto o centro do Sistema Solar, o que também encontramos entre os Incas, que adoravam INTI, o deus Sol. Bem ao centro de tudo, a Eternidade. O tempo inicia logo em seguida, à medida que o espaço se afasta e ganha corpo. Revelar esse foco central poderá ser aplicado a todos os demais sistemas, inclusive ao sistema vital do corpo humano. Outras comparações dessa dicotomia, ou dualidade, universal, iremos localizar entre o som e o silêncio. Entre o tudo e o nada. 

No empenho de simplificar o raciocínio, eis nesta a Lei originária da Criação. Antes de existirem as 10 mil coisas, ali havia Paz, a Eternidade do silêncio absoluto, do nada e de ninguém. A lei da Bipolaridade, do Taoísmo (Tudo tem de ter o seu contrário para poder existir). (Yin e Yang). Deste coração central vieram as existências, das quais os humanos são componentes. Da paz primordial, portanto, nasce o movimento em ondas e partículas.

Desvendar este equilíbrio entre o tudo e o nada indicará a Ciência do sentido entre o espaço e o tempo. Entre o tempo-calendário e o tempo eterno. Entre tempo e Eternidade. Entre as existências que passam e a perene Eternidade.

A fim de estabelecer uma conclusão a estas rápidas indagações, segundo Santo Agostinho, o outro lado do Tempo para o Homem é a Eternidade divina.

domingo, 13 de agosto de 2017

Tudo de bom

Super gratificante existir diante do tempo que alimenta a esperança das horas felizes. Luz radiante, o Sol brilha no céu. Pássaros. Rios. Mares. Mundos em andamento no fluir das gerações. Fenômeno exemplar, histórias acontecendo sempre, no prumo da luminosidade. Saber que há um equilíbrio diante de tudo quanto persistir. Viver já agora este paraíso dos contentes, pois alimenta a felicidade que mora no peito em forma de sementes em perene crescimento. As sementes da certeza dos justos, que nutrem a vida nos mínimos detalhes atuais e futuros. Crianças, células do amanhã melhor que hoje. Flores. Brisa suave. Calor no Infinito. Cores. Formas. Bênçãos em volta. Música. Beleza. Natureza. Justiça suprema que rege o ordenamento das mudanças e transformações do mistério em lições acesas no sentimento e nas criaturas, o prosseguir guiados pela consciência universal, razão das existências. Só bondade, por vezes ainda em revelação, mas que sinais demonstram a sabedoria de quem os permite usufruir da Ciência. Bem de junto da gente, na paz em que vivemos, a intensidade harmoniosa da Criação. 

Novo parágrafo de emoções verdadeiras. Telas alegres de cores vivas, que transmitam claridade ao amor das pessoas através de pintores geniais, coautores da sinfonia do eterno sentimento da Verdade absoluta. Fortes laços de amizade sincera, amigos na plenitude e no vigor, corações em festa. Lua, estrelas, nuvens de coerência e tranquilidade. Sabores de frutas maduras, odores de perfumes raros espalhados no horizonte dos dias a cada momento que continuará em voo livre. A paz que santifica os valores da inteligência. Palavras colhidas nos jardins da prudência e do perdão. Tintas de grandeza que superam os limites da visão e penetram as dimensões do Ser. Abrem as portas do conhecimento e viajam no tempo da Eternidade. Tocam as fibras sagradas do Amor e acordam os santos da nova Humanidade. 
  

sábado, 12 de agosto de 2017

Dias alegres

Os olhos que enxergam a paisagem são os nossos olhos. A cor da paisagem quem vê somos nós. O mundo existe independente, mas nós lhe damos o tom, a melodia. A paisagem existe lá fora, no entanto de dentro quem a vê seremos sempre nós. Daí a imaginação de que fomos criados a fim de dar sentido aos mundos e seres. Isto é, o panorama existe objetivamente, não fosse, contudo, a nossa existência ninguém registraria tais existências. Somos o sujeito das existências, inclusive de saber da nossa existência. 

Dizem os existencialistas que, nos outros seres, a essência precede a existência. Vêm do jeito que serão. Já nos seres humanos a existência precede a essência; ainda não sabem o que virão a ser ao sair de volta. Animais, coisas e lugares nascem animais, coisas e lugares. O ser humano haverá de se fazer ser humano, deixar de ser só um objeto em movimento ocasional. A essência, o ser, nos humanos virá depois que existir, condição necessária. Se não, estará sendo tão só mais um animal, ou coisa, ou lugar, em que a essência estaria em potência sem realização daquilo que trazia quando chegara à existência.

Bom, essas tiradas conceituais resolvem o desejo de contemplar a paisagem do dia, uma manhã bonita de nuvens de chuva, chão molhado e frio gostoso pelo ar. Os dias que sucedem aos dias. As belas manhãs que enchem de vistas a alegria, quando a gente abre o coração e recebe de bom grado viver com intensidade o deslindar do tempo. As certezas, as pessoas integradas no gesto de viver em paz que elas delas conseguem obter. Horas de boa vontade. 

Todo instante traz frutos bons, desde que plantemos à luz dos sóis em nossas almas, trabalho de quem busca inteiro o motivo de viver. Há, no que há, religiosidade plena, que nos resta desvendar através da sabedoria. Oferecer o melhor de si aos acontecimentos do Universo. Espécie de doação boa a nós próprios, viver pede inspiração. Dias alegres durante as existências, eis, em resumo, a razão principal do ato de existir. 

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O fogo da Consciência

Quando Prometeu roubou o fogo para trazê-lo aos homens, assim abriria neles o poder de conduzir a luz da Consciência, portal dos valores eternos. Daria à Humanidade a dádiva de revelar no íntimo o mistério restrito só aos deuses. Jamais se sentiriam afastados da estrada que permite à libertação definitiva. Tudo, enfim, até então reservado aos Céus, que agora estaria também ao dispor dessas criaturas antes animais sem razão. Prêmio, porém, além dos limites permitidos, isso custaria, a quem o ofertou, preço de enorme suplício.

Julgado pelos deuses, Prometeu seria, por isso, acorrentado ao Monte Cáucaso, tendo a devorá-lo o fígado, que sempre se recompõe, um abutre esfomeado. Esta a rotina em que vive o deus, dia após dia, até a consumação dos séculos, no cumprimento da sentença de infringir a Lei.

Enquanto que, entre os seres humanos, existe o poder de abrir a Consciência, este fogo, e transpor o Infinito, graças ao gesto de Prometeu, é essa a penalidade que terá que dividir com o herói, nas encostas do Cáucaso das existências. E padece com o doador a tarefa extrema, vítima do abutre do tempo que lhe devora, e se refaz pelas reencarnações. Isto durante o período em que durar conhecer a Luz que transporta e libertar de vez o deus da amargura ingrata.

No decorrer das existências, os humanos padecem a angústia de saber que possuem o condão da Salvação, contudo ainda vive prisioneiro das dores da inferioridade, ligados aos apegos da carne, e arrastar consigo o pecado de Prometeu.


Mito dos mais brilhantes do passado clássico, norteia as interpretações dos porquês da ansiedade, do desespero, nas vidas sucessivas. Houve de haver, pois, quem aceitasse infringir os ditames imortais, na missão de oferecer o fogo sagrado aos cativos e libertá-los da condição humana. 

(Ilustração: Prometeu, de Rubens).

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Esses mundos mecânicos

E no entanto é preciso cantar / Mais que nunca é preciso cantar / É preciso cantar e alegrar a cidade.
                                                                           Vinicius de Moraes

Os livros de ficção, ah, os livros de ficção, livros dos destinos, que tanto falaram nisso, naquele mundo de hoje, quase ninguém admitia que nele fôssemos viver, integrados à máquina do jeito das máquinas, e não do jeito dos homens. E as profecias só agora resolveram acontecer de verdade. No embate da criatura versus o criador, e venceu a criatura. Bom, mas temos de adotar o comportamento das máquinas, a título de sobrevivência. Quer algo melhor? Vamos e venhamos, não existe o acaso, tão só a necessidade. E quando fundamos isto, esse reinado de absurdos, as máquinas, decerto já imperava este princípio no âmago do aço e das correntes contínuas e alternadas. Conhecia antecipadamente os significados secretos daqueles códigos siderais.

O que fazer, então, senão incorporar os princípios da termodinâmica e viver intensamente a ausência de jeito dos habitantes do planeta de subúrbio em que transformamos o Planeta? Aceitar os métodos e manuscritos do Senhor dos Engenhos dos tempos bíblicos logo agora? Afinal as cidades cresceram na proporção geométrica e nós atrofiamos na proporção aritmética. Fabricamos guetos de morar a fim de ganhar o pão sobre rodas. Gastamos a vida e a saúde presos às bólides envidraçadas, dentro do emaranhado das cidades grandes.  Nada de ruim, conquanto ganhemos altura de voar e nos elevar aos sonhos. Consumir combustíveis fósseis, vez nada ser objeto do acaso. Havia de contar, desde os inícios, com o instinto dos elementos de que seríamos escravos sobre rodas e máquinas de propulsão, no sentido de andar mais rápido e chegar à perfeição dos lugares mais distantes. Tudo estava escrito, guardado nas gavetas do Cosmos.


Enquanto isto, um deus vive cativo nos nossos corações. Nas gretas dessas cavernas escuras, onde mora o rei clandestino de Si mesmo. Ouve sozinho, saudoso do futuro, as cascatas da circulação do sangue das ruas e avenidas, e aguarda, lendo nos velhos livros de ficção, o dia de ser libertado afinal. Sabe que não existe a injustiça na Lei. Que uma nação feliz acordará em Paz bem no instante das consciências em festa. 

As conversas esquisitas

O que seriam essas conversas esquisitas?! Elas existem e assustam. Elas, as em que mexem no sistemão das futilidades, que dizem da sinceridade, da verdade, do amor, dos sinais do que acontece no íntimo das criaturas. Que não repetem o ramerrão velho das facilidades imorais dos toscos. Ferem de morte os interesses vadios das cabeças agressivas, interesseiras. São as conversas esquisitas de que falam os salteadores da moralidade pública. As que procuram alternativas reais a esse mundo troncho. Que azucrinam os pretensos donos do poder, do poder que já tem Dono, desde antes até das palavras existirem e se fazerem carne e habitarem este Chão. Lá nas origens, quando esses ditadores terminais dormiam de toca. 

Bom, histórias esquisitas que querem acordar os sonâmbulos nos becos escuros. As epopeias dos que lutam a fim de transformar a ilusão em concretude. Nessas horas, eles, os caretas, sobem nos cascos e querem mandar onde nem lhes cabe. Donatários alienados que invadiram os salões da felicidade, porém com horário certo de descerem ao fundo. Respiram os derradeiros haustos do gás carbono que lançaram na atmosfera dos vivos. 

Ah! Conversas esquisitas, que longe delas a esperança sucumbiria de vez. No entanto elas enchem as almas reunidas em volta das fogueiras. Os contos de sonhos. As visões do Paraíso. As viagens impossíveis ao mundo da plenitude. Lindas narrativas de quem alimentou a transformação que ora advém sorrateira, contudo verdadeira e sã. A literatura da beleza que salvara os orixás da renovação.

Enquanto os mercenários vacilam e padecem da inanição, autores das histórias esquisitas tocam adiante o ofício luminoso de narrar memórias que merecem se ouvir. Missionários do ofício de contar, alimentam novas gerações de humanos que irão salvar a História e viver tudo de bom quanto há neste Universo de meu Deus.

(Ilustração: Valdimir Kush).

Heróis da solidão

Por mais que a realidade fria daqui de fora queira falar no que se avista e toca quais garantias exclusivas, nalgum lugar do impossível existe o essencial que outros aceitam no íntimo. Andássemos abandonados aos instintos e saberíamos há longa data o que nos reserva o futuro. Persistem, no entanto, as experiências dos que se distanciam do visível e palpável, e se lançam ao invisível, quais doidos varridos, proscritos da real aparência, isto por sua conta e risco. São eles esses que buscam a solidão distante, na intenção desenganada dos valores daqui de baixo, e sobem às montanhas, esquecidos de todos os apegos mortais. 

No carinho do desencanto, ali fixam moradia, religiosos da enorme solidão. Viverão a orar, no pressuposto de chegar ainda além do que quiseram, ao deixar de lado as vidas comuns. Houve um tempo em que isso acontecia nos mosteiros, conventos, monastérios de lugares inalcançáveis. Lançavam dardos aos alvos da transcendência, e desvaliam quaisquer possibilidades quanto a vaidades, aparências, contravenções. 

Nisto, cabe perguntar onde adquirem tamanha certeza do mistério de Si mesmos, a ponto de tudo abandonar, à busca da Perfeição através, única e somente, por meio da consciência? Vagueiam no rumo certo do Infinito, na opção contrária da verdade conhecida, deixando de fora referências que a tantos significam favas contadas. Porém choram cedo e afundam os olhos na desistência deste lugar de ilusões, entregues na alma da religiosidade. Eles, os ermitões, anacoretas, reclusos, que viajam no universo de dentro, virtuosos rebeldes da matéria perecível.

O que nos causa espécie será esta coragem inexpugnável dos tais argonautas do espírito, a viver da renúncia dos modos físicos e aceitar a paixão do amor pelo eterno. Soldados doutro exército, representam a conclusão de muitas vidas, em gesto de prudência e sabedoria. Anônimos da ausência, somem dos turbilhões sociais e entregam aos ermos afastados o que a tantos seria imprudência, desespero. Modos de alucinados sem causa, testemunham, num gesto extremo, o que só as borboletas, no se imolar aos faróis que iluminam a escuridão. Projetam o ser lá no abismo profundo da luz intensa, e desaparecem no sol da convicção em claridade.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Palavras positivas

Mergulhar no coração e trazer as melhores compreensões da existência. Buscar qual quem pesca peixes bons e nutritivos. Rever o universo em volta e crescer no sentido absoluto da Razão. Aceitar as contingências quais valores inevitáveis do aprendizado perene de tudo. Cruzar os maiores obstáculos, no entanto manter a calma. Viver em permanente certeza de que Alguém superior guia os passos dos que querem viver a paz no interior de Si. Usufruir das oportunidades que revelam o lado bom e fértil.

Ouvi uma vez a história de quem havia perdido o gosto pela vida. Resolvera dar cabo de continuar. Afastou-se a lugar ermo e contemplava o panorama daquele deserto. Desencantado. Sem norte, sem nada. Quando viu, vindo no vento, uma folha de papel. Voava solta pelos ares. Veio chegando até tocar as pernas do tal homem solitário. Despretensiosamente, ele pegou o papel; quando observou, se tratava da folha de um livro espírita. Nela, uma mensagem de orientação espiritual. E deu de ler. As palavras lhe calaram nas profundezas da alma. Respondiam as suas maiores indagações do drama que vivia naquele instante, além de abrir espaço a novos pensamentos, e regressar ao bom senso que se lhe ausentara dos planos durante algum tempo. 

Desde aquela hora, sentiu de perto a presença maior da força do Amor de Deus e reconstruiu sua história sob outras percepções. Havia sido o bálsamo que precisava a fim de acordar e caminhar de olhos abertos pelos caminhos deste mundo.

Na sequência dos acontecimentos, tratou também de prestar serviço à causa do livro, sendo fundador de uma grande distribuidora de livros espíritas que ainda hoje segue na missão de oferecer as obras da Doutrina dos Espíritos aos carentes de consolação.

Entre os divulgadores desses livros religiosos há dístico que afirma: Livro, presente de amigo. Livro espírita, presente de irmão.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Sinais e evidências

Às vezes chegam pelos sonhos, pelas intuições, aparições, vozes, músicas, conversas; telefonemas, jornais, televisões. Algo está acontecendo, ou vai acontecer, e avisos aparecem nas proximidades e sensações. Nem sempre de assuntos agradáveis. Mas que jeito, se ainda estamos em evolução no sentido do que sejamos bons um dia? Lembro dalgumas vezes em que fui surpreendido pelos traços desses acontecimentos. Sobretudo acontecimentos momentosos, marcantes no cotidiano. Eis algumas citações destes: 

Raramente ligava o rádio cedo da manhã antes de ir ao colégio, quando naquele dia 01 de abril de 1964, ao sintonizar a Rádio Nacional de Brasília, ouvi que o País estava convulso diante das movimentações que culminaram na chamada Revolução Militar, que alteraria o curso da história brasileira. Fora impulsionado a ouvir a emissora em hora que me fugia ao costume. 

Também quase nunca ligava o rádio no meio da madrugada, mas naquele dia 18 de outubro de 1978 resolvera fazê-lo. Isso na ocasião em que emissoras estrangeiras noticiavam a descoberta do suicídio em massa de 918 pessoas, induzidas pelo líder religioso Jim Jones, em Jonestown, na Guiana, acontecido que assustaria o mundo inteiro.

No dia 06 de outubro de 1981, na ocasião em que chegava à casa dos meus pais, em Crato, a televisão noticiava o atentado em que Anwar El Sadat, Presidente do Egito, ao assistir da tribuna a desfile militar, sofria atentado que lhe custou a vida, isso mostrado através de cenas de brutal realismo ainda hoje exibidas pelo Youtube da internet.

Cleriston Andrade, prefeito de Salvador na época em eu vivera na Bahia, na década de 70, era candidato ao governo do Estado, quando, em campanha pelo interior, seria vítima de acidente aéreo envolvendo o helicóptero no qual viajava com assessores. Sem mais, nem menos, naquele dia 01 de outubro de 1982, me vira compelido a ligar o rádio e lá estava a notícia do desastre.

Ao chegar à casa dos meus pais, domingo 01 de maio de l994, no momento em que passava defronte ao televisor onde Everardo, meu irmão, assistia à corrida de Fórmula Um, presenciei os instantes seguintes ao acidente fatídico em que Airton Senna perderia a vida. Estavam terminando de removê-lo dos destroços de seu carro, creio que já sem esperança de sobreviver.

Mais recentemente, regressava de João Pessoa a Crato, ao adentrar restaurante nas imediações de Sousa PB, a televisão exibia reportagens extras do acidente aéreo em que, há poucos instantes, no dia 13 de agosto de 2014, em que Eduardo Campos seria vitimado, então em campanha à Presidência da República. Era a mesma data em que seu avô e mentor na política, Miguel Arraes, também deixara este mundo no ano de 2005. 

São algumas considerações a propósito dos sinais que cercam os acontecimentos traumáticos, ou felizes, que possam oferecer condições de demonstrar o entrelaçamento de tudo quanto envolve a existência dos seres que vivem neste Universo. Ninguém está desconectado do grande todo. Há entrelaçadas responsabilidade e escolhas naquilo que façamos, visto sempre gerar consequências individuais e coletivas. A Ciência busca compreender tais vínculos invisíveis em pesquisas sob a denominação de Efeito Borboleta, motivos esses de hipóteses e avaliações, evidenciando o valor espiritual da continuação desses estudos. 

domingo, 6 de agosto de 2017

A alegria acima de tudo

Qual disse Oswald de Andrade, a alegria é a prova dos nove. Sem ela, só ela há de mudar o mundo. Nem bomba, nem fogo, nem nada. Só ela. A alegria, mãe das felicidades e das cantigas emocionantes. Esperar de quem tem a oferecer de bom, a doce e querida alegria. O norte das criaturas. Uma manhã de sol aberto, brisa suave, pássaros no céu. Luz, muita luz, nos corações, a alegria. Festa no campo, no tempo. Amor preenchendo o firmamento. Esqueça nunca não, meu amigo, minha amiga, longe de tudo, mas perto da alegria. 

Uma história boa pede alegria na hora de serem felizes para sempre, na derradeira cena. Aquele beijo gostoso do mocinho com a mocinha, depois das escaramuças, qual se jamais houvesse mudança. O final feliz que nos espera de braços aberto, no dia em que descobrirmos que a alegria tem saúde moral, mental, sentimental, espiritual. Aceitar de peito aberto a nave da alegria e o dever de ser alegre, animado, sorridente. Quão bom será o momento em que deixaremos de lado as estações do passado e atualizaremos nossos desejos a um só desejo, o altar da deusa Alegria, e viver isto intensamente no coração das pessoas. 

Falar de quantas anda seu gosto por mais alegria no seio da Humanidade. Vem plantando o quê até obter o sucesso da alegria nos seus passos? Viver de realizar bons propósitos, amar a vida, o próximo, a si. Usufruir da consciência nos dias melhores que começam agora... Erguer as vistas aos cimos da montanha dos bons sentimentos... Produzir o peso justo na alma... Querer praticar os ensinos da paz, das virtudes. Pois somos ativos agentes da renovação através dos nossos praticados.  Alegria, irmã da Felicidade. 

Exemplo da natureza que fala o idioma dos dias de alegria, esquecer preocupações e exercitar valores sadios, prósperos. Isso depende da honestidade e da sinceridade da gente com a gente mesma. Abraçar a vida e viver a sabedoria de todos em uma só comunhão. Alegria, praça principal do Universo; o Sol a raiar dia limpo em tudo.

sábado, 5 de agosto de 2017

Nesta vida de tanta beleza

Ademais existe uma certeza maior do que todas, a de que somos o sal da Terra, e se ele perder o sabor com que se irá salgar? – afirmou Jesus. Enquanto que o Verbo se fez carne a habitou entre nós, isto já, por si, apresenta a fisionomia de que somos os artífices escolhidos da felicidade perene, sem quaisquer sombras de dúvidas. Resolver tal qual resolveram os grandes místicos, de achar o caminho da paz interior dentro de Si, e nele o infinito da Luz, quanta razão de viver alegre está assim nos motivos de sonhar na cor da tranquilidade em tudo quanto existe.

Eis o prumo da realização dos vivos, achar a paz no coração, morada de Deus, mar da Eternidade e portal das bênçãos que alimentam o Universo inteiro. Abraçar o gosto de viver e tratar a todos quais irmãos, o que o somos desde sempre. Tempero das melhores histórias, aceitar a essência espiritual e cuidar de ser melhor do que antes foi. Agradecer as razões de estar neste mundo, com carinho e reconhecimento. Quantas luas no céu ainda restam passar até o dia quando acalmaremos as ansiedades, aceitar os milagres da Natureza e mergulhar nas águas do Amor.

Bom, são horas de regressar ao gosto de crescer em nome da Criação. As horas de plantar os frutos da Verdade neste solo vejam nisto o sentido de tudo. Abrir a consciência aos sinais desta possibilidade e cumprir a determinação da vida que transportaremos a dias próximos de uma certeza maior. Construir as novidades que esperávamos, e veremos abrir o clarão das possibilidades. Debaixo da árvore da Iluminação ali Sidarta permaneceu tempo suficiente de receber, no silêncio dos pensamentos, a presença de quem sempre guardara no íntimo, os olhos abertos da Revelação definitiva. 

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Ânsia de liberdade

Quando liberdade possa ser vista como desejo extremo de resistir e criar novas esperanças ao mistério maior de viver. A vertigem da liberdade. O inabalável pressuposto de estar condenado a ser livre, que o considera Jean-Paul Sartre na ênfase dos valores humanos. Razão de existir, o homem qual instrumento da mais plena obtenção da essência primordial através da existência.

Nisto, uma pergunta fundamental, o que justificaria a disposição humana de rifar tão precioso bem nas atitudes as mais medíocres, exemplo dos dogmatismos e comportamentos coletivos e individuais de escravos passivos? Abrir mão de ser livre em troca das comodidades física, psicológica e sentimental, a três por dois, nas malhas da ilusão. Vender alma por qualquer tostão de mel coado e ainda se acha poderoso, bonito, famoso, glamouroso, tal cativos das limitações de si mesmo a troco de ganhar este mundo e perder a Eternidade. Deixar de lado o real sentido de viver a pretexto das felicidades aparentes e hipócritas. Passar vidas e vidas em brancas nuvens, no objetivo exclusivo de acomodar os negócios das dúvidas, forma de mascarar a liberdade e dormir sobre os escalpos da covardia. 

Quantos e tantos que nem pensaram nisso, porém haverão de devolver a vestimenta da carne e os patrimônios da lascívia que aqui receberam a título de evolução, por medo da angústia de ser livre. E aceitar a tutela de pacientes iguais, ou piores, enterrados na patologia da ignorância. Fugir às normas de ouro da sonhada realização de Si, quando, na verdade, amarram aos pés mós dos moinhos da alienação. Seres humanos, nós, alimárias do futuro, que sujeitam a tanger esses laços de pescoço tão só no desespero de continuar adiamentos da sagrada liberdade, esquecidos charlatões da civilização de poeira e ferrugem. 

Por isso, abaixo dogmas estéreis que enganam os enganados, matilhas de feras idiotas que apenas somam repastos das dores e depositam joias falsas nos bancos da Realidade.

Longe, pois, das dúvidas que vaquejam pecados, e rasgar os véus da coragem, dos seriados heroicos. Salvar a pele dos androides. Erguer altares à Liberdade, pura dama, no tropel luminoso dos Céus. 

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Tempos depois

Cá estou onde há 40 anos vivi durante sete anos. Em Salvador, a terra dos deuses, a Boa Terra da Bahia. Tempos de outras lutas. Horas de tantas contradições existenciais, atitudes arrevesadas, experiências por vezes bem sucedidas, poucas vezes, quem sabe. Muita fúria, muitos desejos inábeis. Tudo novo, tudo diferente da vida que vivera no interior do Ceará. Trabalho. Estudos. Amizades. Mundo por demais instigador de vivências inesquecíveis e equívocos que hoje regressam a cobrar, daquela fase, mais habilidade, melhores sentimentos, mais juízo, correção, objetividade.

E nisso vejo passar por dentro dos pensamentos o filme de tudo aquilo vivido naquela hora. Bom que seja ainda nesta reencarnação (quero pensar), quando ainda posso ressignificar os trapos dos erros antigos e tratar de reaproveitar o que possa ser reaproveitado. Sem dó, nem piedade, quais promotores de justiça rigorosos, os próprios comportamentos agora vêm de volta ao cerne das lembranças e crescem feitos visagens, a cobrar com juros providências morais e discernimento à época pouco considerados. Hárpias enfurecidas me fazem impostor do meu passado, qual houvesse desempenhado papéis que a outros pertencessem, e com o gosto amargo da ausência naqueles que me reclamavam, quando, talvez, outros os cumprissem de jeito menos oneroso que o fiz.

Que longas distâncias de mim agora constato, isso em ocasiões por demais importantes a que construísse futuro dadivoso, e jogara no ostracismo o meu dever de assim realizar. Evito aumentar o tamanho da conta, porém tenho que ser justo comigo mesmo, a fim de resolver o que deixei lá atrás naquele período, vista a chance rara de reencontrar o eu que preciso ainda trabalhar e ser nesta vida atual. Horas distantes, contudo tão de junto, no íntimo de indivíduo que continua a nascer e morrer a todo instante.

Os acertos, sobre eles transcorro de modo rápido, buscando ganhar tempo de solucionar os deslizes em aberto. Chegam fiapos de conversas, de músicas, de filmes, viagens, saudades, decepções, relacionamentos, expedientes, lições fartas de sentimentos crepitantes nas dobras da alma de então, que fustigam e mexem os entes das entranhas, e com isto baixo a cabeça. Luzes, quero luzes que os possam iluminar, e clarear o que o futuro me reserva, neste presente de rara intensidade e vigor, numa prenda que a vida ora me oferece.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

A Doutrina dos Espíritos

Em 18 de abril de 1857, em Paris, França, fora lançado O livro dos Espíritos, obra esta que daria início à Doutrina dos Espíritos, ou Doutrina Espírita, da autoria de Hippolyte Léon Denizard Rivail, sob o pseudônimo Allan Kardec. À época de sua divulgação, ao ser analisada pelos membros da Sociedade de Ciências de Paris, receberia o parecer que ali estavam respondidas todas as perguntas que qualquer cientista de sã consciência faria sobre a vida após a morte.


Em O livro dos Espíritos se encontra a base de nova concepção que, além de científica, também se propõe a ser filosófica e religiosa, porquanto aborda princípios universais da Fé e busca responder as três principais questões da Filosofia: donde vem a Humanidade, aonde ela vai e o que está fazendo aqui neste mundo. 

Graduado em Ciências e Letras, Allan Kardec voltou-se à Educação, inclusive tendo trabalhado junto ao cientista Johann Heinrich Pestalozzi, no Instituto de Yverdun, na Suíça, durante parte de sua existência. 

Ao conhecer o fenômeno das Mesas Girantes, que galvanizaria as atenções dos franceses depois que surgira nos Estados Unidos, com as Irmãs Fox, em 1848, Kardec dirigiria atenções ao aprofundamento da matéria, visto considerar que por trás de fenômenos inteligentes decerto há causas inteligentes, seguindo os estudos das primeiras evidências mediúnicas. 

Elaborou perguntas, que apresentava aos espíritos que se comunicavam através da psicografia, e recolheu as respostas cujo conteúdo formaria O livro dos Espíritos, posteriormente lançado com 1.019 perguntas e respostas.

Adiante traria a público outras obras, sendo as principais, O Evangelho segundo o Espiritismo, O livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno e A Gênese, as quais, somadas ao primeiro livro, estabelecem o chamado Pentateuco Kardequiano, em que reúne os conceitos da doutrina que se propagaria desde aquela data. 

No frontispício de O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec fez constar o dístico que Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face em qualquer época da Humanidade.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

O mar da Bahia

As lembranças têm vida própria. Chegam sorrateiras e invadem o horizonte do pensamento lá onde este se encontra com o sentimento, e passam a trazer fragmentos de ondas. São pessoas, acontecimentos, lugares, emoções, borbulhando de universos tardios quais animais vivos, que reconstituem o tempo e desfazem saudades escondidas. Mágicas, as lembranças. A gente sente que havia existido e nem sabia que sabia aquilo tudo antes. 


Bom, isto no sentido de falar das sensações de lembranças que hoje de manhã, na Boa Terra, resolveram, de si mesmas, aflorar até o meu coração. Eram os anos 70, quando aqui vivi. Nessa hora, especificamente, memórias do Curso de Comunicação, da Universidade Federal, que cursei. Foram vindo imagens, sons, retalhos, horas, professores, colegas, ocasiões. Aulas, situações, expectativas. Passei a perguntar ao oráculo das memórias que seria feito de Reynivaldo Brito, Fernando Portugal, Othon Jambeiro, Antônio Loureiro, Jairo Gerbase, Raul Sá, Porquinho, Cid Teixeira, Wellington, Fábio Camelo, Linda, Letícia Mohana, Guido Araújo, Florisvaldo Mattos, Milton Cayres de Brito, Chico Viana, Fernando Perez, João Carlos Teixeira, Sérgio Mattos, Albino, Carlos Libório, Renato, Ruy Espinheira Filho, outros, outros muitos, sinais marcantes das existências de então. 

Agora, por demais, quero rever os personagens de época tão valiosa, quando, decerto, reviverei, também, sonhos a percorrer veias do íntimo e aquecer o impulso de acrescentar um mínimo que fosse ao panorama dos dias. 

Quanta lição a aprender das boas companhias, dos momentos ricos em conversas animadas e grandes ideais. Um mundo transcorria nos intervalos das aulas. Planos mil de reestruturar o jornalismo, a história, a política. Palestras, diálogos, matérias. Trago tudo bem guardado no melhor de mim. As aulas em outras unidades, por conta da famigerada reforma universitária. Em Direito, Filosofia, Economia. Minha dedicação à fotografia; o grupo constante que formávamos, Dilton Mascarenhas, Fábio Camelo e eu, numa fase áurea do preto e branco. O jornal Coisa Nostra, de Nildo, em que publicávamos. 

Só aos poucos, a placenta da memória abre o juízo, deixa desgrudar sua membrana, e permite ver um pouquinho além das limitações físicas. Focos de luz debaixo dos escombros assim denotam vivências e oportunidades, abrindo o leque da ausência e permitindo olhar o todo. Uma Bahia que renasce feito folhas novas das árvores secas às primeiras chuvas. Bons sentimentos vieram juntos, misto de alegria e reconquista.

(Ilustração: FLORISVALDO MATTOS e seu novo livro. Foto de RAUL SPINASSÉ | Agência A Tarde – 12.4.11).