segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O abismo de Chicago

Quando menos se espera, regressam momentos de filmes, trechos de livros, lembranças dos idos tempos. Invadem na maior sem cerimônia o salão da realidade e tiram a gente das horas e das rotinas. Por exemplo, agora há pouco chegou vontade de escrever quanto à distância homérica da comunicação entre as pessoas, ainda que elas pretendam não existisse. Existe, no entanto, vazio imenso entre os dois polos, quais estrangeiros fugitivos das circunstâncias de que sejam parte. De comum, querem ser próximos, irmãos, companheiros, amigos, contudo pesa o ânimo particular dos dois, e seguem tão próximos e tão distantes tais astros espalhados lá nos céus dos dias. 

Nisso, lembrei um conto de Ray Bradbury que li certa vez, na década de 70, fase em que descobria a beleza da literatura fantástica. O livro de contos traz esse título, O abismo de Chicago, e narra a presença de personagem no burburinho de uma estação dessa cidade, isso numa madrugada fria, nevoenta, de tempo escuro, fechado. Ninguém via um palmo à frente do nariz. Vindo de voo cego, uma ave noturna depara face a face aquele viajante; fica no ar poucos segundos e fixa nele os olhos assustados, logo desaparecendo em seguida. A Bradbury, nenhum dos dois jamais seria os mesmos depois do encontro furtivo em meio à bruma espessa do inesperado.

Assim quero crer acontece no processo da comunicação... Vencer tamanho abismo de dois seres afastados no espaço é nunca mais voltar ao ponto anterior então desconhecido. Vidas em formação; os humanos arrastam a si nesse universo particular de interrogações, a transmitir gestos e falas apenas aos pedaços do mistério que os envolve perante o desespero da existência. Daí aprender no impacto de dois corpos vagando soltos no Universo. Nesta ânsia frenética de sobreviver ao tempo que escorre, só raros acertam aonde largar fantasias, descobrir a essência de que ser portadores, e viver o Ser real que também somos. 

domingo, 25 de fevereiro de 2018

O outro eu

Mora em ti, mora em mim. Vive nas palavras desde o princípio. Eu sou, tu és, Ele é. Bem aqui, raiz das decisões e das razões definitivas de tudo quanto há. Matriz da sonhada esperança, resistirá a todos os desafios e os vencerá. Pressuposto das religiões, caminho do mistério, a palavra que não pode ser dita, diga ao seu coração, que ouvirá. 

Dizer na voz das circunstâncias, nos sonhos, enquanto há paz que alimenta o canto das aves durante as horas frias das manhãs. Saber que o labirinto tem portas e uma delas conduzirá ao campo da libertação. Correr cada canto da existência na condição de vencer as distâncias e chegar no dia da conciliação consigo próprio. A pauta dos credos e o silêncio da consciência.

As barreiras das limitações humanas jamais impedirão de achar o destino absoluto de tudo quanto existe diante do Sol, porquanto as peças do imenso Universo a isso conduzem, numa certeza de perfeição. Os vagões percorrem os trilhos e as horas se sucedem sempre. Meros instrumentos de nós mesmos, tocamos aqui árias de transformação. Uns distantes, outros próximos, experimentam o sabor inesquecível da experiência.

Perante o Tempo, essa fagulha inextinguível da Eternidade em que habitamos e tudo habita, exercitamos papéis da verdade eterna de que somos depositários face a face com a individualidade ímpar de merecer existir. Ser além de saber; praticar o que souber. Revelar de si a luz. Permitir a manifestação do Poder através da individualidade que somos nós. Habitar o teto do mundo que nos espera. Salvar a si na forma das atitudes.

O fio de ouro que une as existências também atravessa o ser que nós somos. Ninguém vive sozinho, porquanto esse motivo principal a todos reúne e indica os caminhos a seguir. Resta apenas estender as mãos e abraçar o Infinito.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

A segunda vinda do Cristo

Um dia fui falar nisso e riram de mim. Os adventistas assim o disseram que estava próxima e há 150 anos aguardam de almas contritas o que buscaram nas profecias de Daniel e no Apocalipse, verdade maior, porém erram na data, ainda que cientes de que esteja perto a segunda vinda do Cristo. Enquanto muitos esperam, Ele já veio e os homens fizeram dEle o que quiseram naquele tempo de antes. Isso em nós o que bem significará viver a chance do reencontro consigo mesmo, na luz do Divino Mestre.

Existe nos tempos esse credo de ser a Terra o início de profundas transformações morais nas criaturas que vivem aqui. Esse Apocalipse de depois hoje acontece nas revelações pessoais. O passo seguinte da mutação de pedra em luz desde sempre acontece nas estradas internas de todos, peregrinos das almas do Ser que lhes alimenta na força da esperança e nas consciências da continuação. Enquanto muitos apenas entorpecem o senso do desejo nas folhas secas do chão, outro, no entanto, sustentam na vida o sonho de superar as limitações da matéria e nutrir de fé a jornada rumo das estrelas.

E Ele virá quando menos estejam à procura, embriagados de tédio nos becos das cidades hospício. Clareará de Sul a Norte, de Oeste a Leste, o firmamento, e receberá os eleitos no Reino dos Céus de que nos dissera lá certo dia. Parâmetro de sonhos, reviverá nas firmezas dos santos o sal da Terra, luz de Tudo, Leão de Judá. Neste dia, matriz da renovação dos seres da Criação, comprovará as verdades eternas e será o tempo de festa nos salões da Felicidade. Pastarão juntos lobos e cordeiros, aos olhos maravilhados de um Deus de perfeição. Eis a única certeza da existência e de todos os sacrifícios humanos. 

As asas do tempo


Há que existir uma imagem nalgum lugar a que se possa escrever. Meras palavras soltas ao vento jamais dariam certezas de pisar o chão das almas sob o teto das maravilhas. Decerto que tem sido assim desde sempre, de quando grupos cantavam nas noites em volta do escuro das cavernas. Pensamentos vagos, ansiosos perscrutariam as alturas que a tudo invade e em todas as direções, no saber das impossibilidades e querer sair da imensa bolha onde estamos retidos dentro da bólide vadia que percorre o firmamento das eras. Blocos de infinitas circunstâncias, pessoas e objetos, claros deslizam ao peso das garras do tempo pelas carnes da existência. As paredes são comuns, granito e nada, que importam os credos, as raças e as cores?... Lei sem exceção comprime os céus de concreto e pó. Olhemos aonde chegam as vistas, e lá perdurarão paisagens de horizonte descomunal. Pelotões das visagens vacilantes constrangem de sonhos algumas migalhas da aventura e deixam levar, nas marés inevitáveis, o resto dos que se forem.

Porém, ah! os porém que justificam tal mistério tenebroso que a razão não pode responder, e que contêm as normas da Salvação. Salvar de se deixar só escorrer na lama e nas gretas do pecado, e reviver o senso real das criaturas humanas. Persistir até chegar ao cálice pleno do eterno Ser que em nós habita escondido no mais íntimo coração. Eis, então, a alternativa única de revirar essa história, no firo de cruzar a barreira da matéria e avistar logo, ali adiante das vaidades que fogem, o nexo das virtudes, que disso contam os místicos, as lendas e o impossível das epopeias de gigantes e fadas; às portas de Si mesmo, a caravana erguerá, pois, braços além das muralhas de Jericó e receberá o fruto doce das próprias descobertas na certeza doutras vidas de felicidade intensa.

Enquanto isso, o rufar das penas enormes desse pássaro descomunal das gerações soará através do abismo, e das nuvens da esperança virão novos sóis e séculos da consciência hoje ainda adormecida no frio dessas manhãs invernosas. Quando, bem nessa hora, calados, quietos, ouviremos ao longe os acordes suaves de um sax a dedilhar em surdina o mais apaixonado bolero.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Nesses dias nublados

Em que até os pensamentos parecem nadar nas águas das chuvas persistentes e dos pássaros que cantam mais de frio do que do calor da calma, quando a gente busca nos sonhos recentes o nexo dos efeitos em volta. Há sempre isso de um lado bom no roteiro dos contos. Enquanto na tela principal transcorria o filme, logo ali de junto o making off revelava a real felicidade na forma de crescimento do quanto valiam os séculos do sem fim. Independente, pois, dessa casca fosca de fora, um sorriso aberto da natureza deslizava no peito dos amores e avisava que de amor ninguém morre, livre quem vive e resiste ao território das memórias, pousos definitivos da humana consciência. 

Nessa vontade presente e o caderno das gerações que ferve de furor ao doce das melodias no coração nas pessoas, debaixo de toda história cinza, virão sonhos de noites anteriores, que resistem ao vento das sortes. 

Nas espécies, o desejo de continuar perenes nalgum universo paralelo. A folhagem das matas crescerá aqui comigo, enquanto revejo o crescimento das matas lá na serra. Passavam anos seguidos durante a estiagem prolongada e só agora esta força de esperança se derrama fiel ao longo das estradas. 

Enfim o instinto das estações que resolve alimentar o sentido que dormira durante décadas, porquanto seria de ser o que jamais existiu no gosto das criaturas humanas. Deixavam acontecer ao sabor dos desleixos o agir no hábito das destruições necessárias. Porém o poder só apenas, calado, degustava as páginas do tempo nas malhas de Si mesmo, Ser magistral das criações geniais. Foram e serão horas de aprendizado neste mar dos desafios. Guardar consigo o gesto puro de alegrar os quadros das manhãs do Paraíso e de novo significar certeza de verdades eternas. Nisso, deixar fluir o verbo da Criação nas formas que chegava quentinho o pão nas padarias já de portas abertas e nas notas soltas dos jornais da verdade plena de tudo enquanto...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Um amor a mais

E acordar na velha estação em que aguardam o comboio da sequência natural do que existe e existirá para sempre. Sacos de dormir espalhados pelo chão frio do alpendre imenso. Pessoas e olhos ainda entumecidos se olham quais ouvissem pela primeira vez a chuva fina que cai na serra em volta. Crianças andrajosas. Malas. Caixas e flores. Armamentos. Instrumentos musicais silenciosos. Nuvens. Muitas nuvens escuras a circular em volta de tudo, tais bichos de estimação dos futuros passageiros da nave que lá vem do espaço sideral distante. E todos brincam naquela praia no mar da certeza bem certa. 

Bom, a notícia percorreu as consciências dos viajantes. Sabem por demais que serão recolhidos através da bólide gigante que percorre o Infinito desde o nascer das primeiras horas. Ninguém restara abandonado pelas estradas do tempo. À medida dos elementos, as escolhas da vontade serão traduzidas agora ao poder do Mistério Tenebroso e revertidas em resultados no palco principal das histórias individuais. Espécie de julgamento de si mesmos que trataram de promover naquilo que praticaram, pesos atômicos espirituais, a cada um conforme o merecimento. Sabem disso à fartura. Nunca enganaram à própria consciência. Receberão, daqui a pouco, o soldo que lhes competirá.

E eles entreolham a massa de corpos, luzes em potencial, na grandeza de que jamais passarão impunes do mal e do bem que praticaram na balança do barco em vieram até aqui. Enquanto isso, a nave percorre o espaço na velocidade da luz. Chegará infalivelmente na ocasião prevista na ordem dos traços largados ao acaso que nem existe, pois do mínimo ao máximo há um só sentido absoluto nas lendas em que habitaram desde as cavernas. 

Dentro dos corações sabem disso. Apenas agora esperam chegar os enormes vagões que os recolherão de portões abertos. Cobertos da fuligem das eras em que viveram, aceitarão o preço da liberdade, espécies de alimárias da Natureza mãe. Filhos do Pai Eterno, sabem, portanto, que amar é ser assim. Aceitar o momento de existir quando ninguém viveu abandonado hora nenhuma durante o caminho que restou nas outras madrugadas, porquanto somos dotados de gosto na escolha do destino, isto que significará a sorte de sonhos que alimentávamos todo momento à busca dos resultados definitivos. 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

O mito da liberdade

Disto nasceria a ilusão dos desacertos de quando achamos tudo poder fazer e não ter a quem responder por isso. Agir ao sabor dos impulsos, dos instintos, daí produzir os achaques de vidas inteiras, seguidos de remorsos inconsoláveis e dores as mais atrozes. Afrontar leis da natureza virgem quais feras perdidas nos desalentos amargos da violência e prostrar o senso da responsabilidade em jogar lá longe o gosto de viver com arte e sabedoria.

São esses nós, os humanos, que pisamos este chão das almas em viagem infinita. Eles, nós, que sujeitamos o amor da perfeição ao desvalor dos caprichos imediatos. Nós, eles, os párias da ingratidão, que abandonamos os braços dos perdidos nos destinos e chances de regressar aqui noutras vidas talvez bem melhores, através do princípio da reencarnação. Animais ensinados nos hábitos selvagens dos antigos salteadores da floresta e formadores de bandos agressivos, torpes suicidas da sorte. 

No entanto há de achar logo ali imensa na maravilha de Deus em nós, seres espirituais que já somos. Juntar as luzes das experiências em construir futuro promissor, brilhante. Artesões dessa harmonia de sábios em evolução, e nisso abraçar de bom grado a justiça do equilíbrio em querer a si o que que aos demais, a reciprocidade da quietude na felicidade. Reunir momentos bons e deles retirar a alegria dos dias abertos aos sonhos da Paz. Sorrir o riso dos santos e adorar céus de esperança naquilo que produzir dos melhores tratados sociais de viver em sociedade.

Isto, o mito da liberdade em plena flor das manhãs de primavera. Nossas ações positivas que falam alto das sementes boas que plantarmos no coração das outras pessoas. Cabe, entretanto, aos planos superiores, o julgamento dos que falharem, e nunca a nós próprios. Existem patamares além das únicas atitudes desesperadas dos insolentes. Liberdade de ser bom e agir quais ensinam os mestres de maior Consciência.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

A visão interior

Desde antes, bem antes, que os humanos buscam a certeza da fé inquestionável, a transformar isto na força maior do Universo. Eles batem nas tantas portas que nunca abrem, e ainda assim persistem no dever soberano de continuar, conquanto muitos reconheçam as limitações diante do tempo e firmam seus propósitos de, um dia menos dia, revelar em si o mistério da Eternidade consciente. Lendas existem, religiões, filosofias, no entanto o sonho principal significará uma firmeza nas constatações e um mergulho definitivo na virtude plena da imortalidade.

Nesse território interno do ser que habitamos e somos, acontecem as grandes aventuras da Consciência, no patamar de dentro das criaturas humanas. Face à subjetividade, isto é, à versão bem pessoal das descobertas intransferíveis, quem de si revelar a verdade tremenda dessa busca de resposta quase nada significará em dizer os demais não viverem a experiência singular da transcendência. Isto sobremodo representa a visão interior, dado essencial das conclusões individuais.

Durante toda trajetória de vida o fator preponderante representa, pois, oferecer a si os motivos da certeza do eterno em suas experiências particulares. São inúmeras as possibilidades, entretanto raros humanos demonstram conhecer em espécie a solução do tal enigma raiz e a justificativa de superar o que seria estação final do percurso vida. Somos quais viajores das estrelas, porém na galáxia do ser íntimo em que exercemos o papel desbravador da consciência. 

Horas em conta aplicamos bem nisto, de equacionar o mistério das dúvidas em prol da certeza das certezas, o que acalmará e justificará tudo quanto aqui vivermos. Aguçar, todavia, os olhos da alma na gente apresenta fase que pede empenho, renúncia e desejo pleno. Nessa jornada pelas vidas impera, por isso, a causa fundamental de todo o conhecimento. Através do mecanismo da espécie que ensaiamos advirá, nalgum momento das felicidades, o acerto final e êxito inquestionável de tudo quanto há e em todos os sentidos. Isto por si só resume e esclarece as infinitas práticas e os elementos universais da Civilização. 

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Só alegria é para sempre

Isso é o que ouço dos pássaros da Serra. De tanto insistir em contar essa revelação, os sabiás chegaram a revelar em profusão a determinação de Deus. Só alegria, e para sempre. De tanto ouvir deles o gorjeio pude interpretar a função do que diziam com tamanha insistência. Alegria é para sempre. O mais das situações outras também serve, mas só durante algum período, até que a verdade tome de conta de tudo, no âmbito da natureza imensa. A gente vaga solta nas sombras por determinado tempo; persiste por vezes nas estradas da procura dos aguerridos soldados da existência; quando certa feita descobre o país da ciência interior, e nele constrói a morada definitiva da sorte.

Andar nas trilhas do Universo ocasionará esse dia, neste momento de rara felicidade, no encontro consigo, longe das agruras das outras histórias largadas nas ilusões. São tantas a folhas caídas no chão das almas que elas fertilizam a safra da paciência. Geram meios de selecionar a nós mesmos e saber das linhas do destino escritas nas mãos dos mistérios. Fruto das escolhas entre os nadas que esvaem e a disposição de continuar, o herói abraça o próprio ser num ato de amor pelas montanhas e nuvens. Ressurgirá das cinzas e das dores feito a melodia perfeita dos pássaros da Serra. Nos traços exatos da criação absoluta, reconhecerá as obras imortais do coração e acalmará em si o som dos céus.

Bom, é bem isso o canto absoluto dos pássaros, a contar desse reino interno das criaturas humanas, no país da plena felicidade, território livre da alegria incontida dentro das normas do tempo. Braços fortes do rio da Eternidade, somos aqui apenas senhores da descoberta de Si. Haverá, pois, instante de total harmonia, ocasião da sagração deles, dos elementos aparentemente soltos no ar. Nessa oportunidade, as portas do Infinito abrir-se-ão qual maravilhosa sinfonia dos gênios e a força irresistível da Paz envolverá a todos os viventes na luz esplêndida de fulgor dos sonhos bons, pura alegria de pássaros felizes.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Moacir Braga

Ao chegar no Aeroporto de Fortaleza dia desses, segui em um taxi dirigido por este senhor, Moacir Braga. Conversa vai, conversa vem, no decorrer da trajetória, vim saber de termos algumas afinidades, dentre elas o ano de nascimento, o mesmo número de filho, de casamentos e também de gostar de ler e, observem, gostar de escrever. Pois então. Soube até que Moacir já tem um livro publicado, A saga de um amazônida

No decorrer da nossa conversa pelas ruas da Capital cearense, início de noite, ele demonstraria seu interesse nos assuntos do interior cearense, de onde procede nascido em Aratuba. Saberia do seu interesse pelos livros, inclusive de autores quais Albert Camus, Dostoiévski,e Nietzsche, Aristóteles, Santo Agostinho, dentre outros. Afim de instruir outro dos livros que produze no momento, perguntou a propósito de Fideralina Augusto, bisavó do meu pai, sem que soubesse desse meu parentesco. Nisso, estendemos o bom papo até o Meireles, aonde eu iria ficar. Tinha comigo alguns exemplares de Histórias do Tatu , meu livro recente, com o que lhe presenteei.

Marcamos de ele vir me buscar daí a duas semanas, no sentido de regressar ao Crato. Com isto, pode me ofertar com o seu livro, para minha satisfação em conhecer a sua escrita num romance recheado das boas histórias da Hiléia Amazônica, o que ora leio cheio de gratas surpresas. 

Sou entusiasta da literatura do povo, das pessoas autênticas do meio da população, testemunhas efetivas da vida ao sabor dos acontecimentos, dotados de ocorrências verdadeiras, cheios de emoções e heroísmo. Desse filão perpetuado em obras raras de pouca ou nenhuma distribuição pelas livrarias e bancas, nascem os livros os clássicos dos autores de gabinete, dos salões acadêmicos. Da realidade nua e crua dos becos e vilas, das florestas e praias distantes, ressurge o homem na sua essência primeira. 

E ao chegar em casa, logo tratei de conhecer a produção de Moacir Bandeira Braga, obra prima de aventuras pelo universo da Floresta Amazônica, ali onde sobreviveu, na profissão de vendedor, através das pequenas comunas e dos interiores remotos. Por demais preenchido das histórias simples daquelas ribeiras típicos, o livro relembra as legendas de Gastão Cruls, Thiago de Melo e Afonso Arinos de Melo Franco, dos bons momentos da nossa marcante literatura etnográfica. 

Destarte, para enriquecimento das produções originais, aguardamos novos livros de Moacir Braga, mais este anônimo romancista brasileiro.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Aos deuses do esquecimento

Lembrássemos tudo e seria isto a maior de todas as torturas. Vagar quais depositários de todos os momentos, e carregar-se-ia o farto inominável das ausências em jornada cruel através das vidas. Nisso, recorrer aos deuses dos imemoriais, das neblinas que cobrem de sombras os trilhos deixados fora por força do passado impiedoso que sumiu de ingrato. Tanger a bem longe quiçá até momentos dadivosos e ricos de alegria, porquanto ninguém suportaria reviver de felicidade os pagos do desaparecimento do veio e não permaneceu. 

Nalgumas horas, clamar aos céus esse esquecimento ainda que de ricas e doces emoções, pois o coração quer descanso diante dos dias, mesmo entontecido nos braços da boa sorte. Ali a gente recorre a essas divindades que apaziguam na alma a sede dos enlaces só de amabilidades e flores. Isto sem querer também deixar de lembrar as amarguras deste chão de inesperados acontecidos, pátria de ingratidão. 

Há, sim, entes invisíveis que zelam pela sorte dos humanos, guardando deles o que seriam as lembranças mais plenas do quanto viveram. Apaziguam lá por dentro das almas ansiosas o desejo de constância nas realizações de antigamente quais responsáveis pela saúde das pessoas, que decerto nunca suportariam a ação inclemente do tempo sobre as horas que fogem na velocidade estúpida dos elementos incansáveis. 

E a gente, atores e personagens das peças que encenam, larga no presente os sons, as paixões, o furor das gerações, sempre rumo ao desaparecimento no fluir de ondas e partículas. Espécies de lâminas jogadas aos mares das existências, preservam o quanto podem no dever de continuar, porém cientes das curvas do inesperado. Nutrem de sonhos os fiapos de memórias que restarem durante o processo da inexistência que lhes aguarda menos dias, menos horas. Solos férteis de ilusões, dobram os joelhos sobre as pedras rudes deste mundo e rezam fervorosos aos santos deuses do esquecimento, nisso aquietando o pulsar das saudades a troco da esperança definitiva.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Sonhos de paz


Quão poucas vezes, à medida das suas necessidades, os humanos vivem períodos de plena paz. Desde sempre, vieram primeiro as urgências de sobreviver diante das intempéries e do meio. Lá adiante, com o exercício da posse das terras e dos bens perecíveis, chegaram os apegos patrimoniais e a ânsia da prepotência sobre os demais. Nisto cresceram as dependências abstratas ao poder temporal. Eis o quadro atual. Ricos versus pobres; nações desenvolvidas versus emergentes e miseráveis. O cenário é um só, o circular das gerações perante o definitivo do que nunca vem, aos limites deste chão. Vaidades mil. Supérfluos versus fome. Leveza contra ansiedade.

Nisso resta clara a ineficácia da imaginação dos acadêmicos. E os frutos vagam soltos pelo ar das multidões enfurecidas nas guerras de conquistas e manutenção dos domínios, largando longe o direito dos simples de querer tranquilidade. Paz vira sonho, só sonho. Só ilusão dos desamparados, de artistas visionários, enquanto eles planejam novas desavenças, pouco importando o custo de vidas e harmonia.

No entanto se sabe o quanto de ilusão isto significa em termos de verdade. Espécies de celerados no comando, bobos enfurecidos, detonam as armas que eles mesmos planejaram e fizeram a troco da destruição. E saber que tudo isso representa única e apenas a falácia das ideias e dos direitos todos sabem, na esquizofrenia das feras famintas de civilização. Destroem a natureza, ferem, dominam a inutilidade, nos empreendimentos falsos. 

Salvar a si, eis a que estamos aqui. Este o sonho de paz na imensidão. Reverter a origem do sonho e preservar o amor nos corações. Toda a arte, todos os folguedos têm este itinerário certo, na reluzente universidade do tempo. Fugir não tem aonde. Meros bichos de aventuras errantes, coçam suas feridas debaixo das sombras e ignoram o futuro, longe da esperança. 

Riem do quanto até agora produziram, e olham os céus, em clamor de misericórdia. Mas isto também conta, nos tribunais da felicidade. Nada estará perdido, jamais. Há os sonhos de paz livres, soltos pelo ar.