quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O Mandarim

Na página do livro que lia, Teodoro deu de cara com a improvável perspectiva de, ao tocar uma campainha mostrada pelo Tentador, virar herdeiro universal dos cabedais infindáveis de Ti-Chin-Fu, um Mandarim mais rico que a fábula e a História contam.

- Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia – acrescenta Eça de Queiroz, no conto que leva o nome de O Mandarim. – Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição de um avaro.

Nesse trabalho, o escritor narra vivência fictícia de funcionário que se depara com trecho de obra antiga onde via a oferta de ganhar aquela fortuna sob a única condição, em pacto perverso, acionar o dispositivo e eliminar, bem longe, na China, nobre ancião que brincava de lançar papagaio em campos verdes de relva.

Sem hesitar, o mero sonhador aciona aquele instrumento letal:

- Foi talvez uma ilusão – segue o texto; - mas pareceu-me que um sino, de boca tão vasta como o mesmo céu, badalava na escuridão, através do Universo...

- ... E nos braços frios tem o seu papagaio de papel, que parece tão morto como ele – desfecha o autor português.

No seu torpor, Teodoro ainda notou o sujeito saindo da sala, carregando um guarda-chuva debaixo do braço.

Dentro de breve tempo, veja só no que se deu.

Com o passar de um mês, quem antes sofria diante das míseras exigências da mediocridade financeira, pôs-se a juntar milhares de contos de réis rápido tornados milhões, da noite ao dia, na outra vivência, pondo-se a cogitar real a visão em que se metera, naquela chance ofertada pelo Vadio. Arriscara ao menos para saber da verossimilhança do que agora lhe fervia de remorsos cruéis face ao critério vigoroso da consciência.

Depois disso, choveu na horta do ex-amanauense, a viver mundo de repetidos sonhos. Disparara o botão da pequena caixa e na remota Catai dera fim aos dias do velhinho brincalhão em suas campinas solitárias. Gesto simples, caldo infeliz; igualmente, tornara-se o dono absoluto de toda sua fortuna.
Antes disso avaliara prováveis conseqüências de coisas sonhadas e não via porque admiti-las transpostas ao mundo físico. Uns admitem a possibilidade; outros, não; e era do segundo grupo, ainda que nele a vida fosse mais difícil, nas contas, nas repartições, na cidade. À sorte em poucas esquinas sorrir. Estudara os detalhes do conflito, as condições morais da resposta que dera na dimensão impossível.

Contudo, mais adiante viajou aos países longínquos do Oriente. Chegou na China, buscou comprovações e o mandarim na verdade existira, para seu desconsolo.

Até que um dia também volta aos braços da morte e abandona os bens que reunira na desventurada atitude.


Para desfechar o conto, resume numa frase seu genial autor: Só sabe bom o pão que dia-a-dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!

Ninguém foge de si mesmo

Há essa preocupação nos humanos, de escapar à própria sombra. Corre acima e abaixo, e ela segue de junto feito animal de estimação. Ninguém muda só ao transferir os pés de um chão a outro (Mas a vida não mudava mudando só de lugar, diz Geraldo Vandré na música Ventania).

Nessa era tecnológica de tanta inovação ainda não obtiveram êxitos nisso, de achar subterfúgios onde escondesse a carapuça do remorso. Algumas medicações provocam esquecimento, porém os enganos dia menos dia regressam até mais intensos, quem sabe?

Quer-se rever o planejamento de viver e sumir no oco do mundo, levando, entretanto, consigo marcas de consciência adquiridas nesta ou noutra vida espiritual. Até nisso de fugir por meios espúrios da existência tem limite, igualmente ir-se-á encontrar mesmo noutros rincões do Universo, seja na Terra ou nos céus.

Assim, esse ser acossado da gente conduz o barco do destino através das tantas vidas, acumulados de tantas vivências. O Autor de tudo determina em forma de leis o furor das eras. Trabalha a consecução do objetivo da Salvação dentro de critérios, valores eternos. O freguês busca burlar os ditames e dá de cara com o resultado das ações nefastas.

Contudo sabe considerar o outro lado da moeda, sobremodo quando também bons frutos produz quem abre cedo os olhos da presença e descobre que a justiça funciona também no sentido pertinente. O castigo do vício é o próprio vício; o mérito da virtude é a própria virtude, dizem os sábios. 

Nada existe, por isso, fora do tempo, senhor absoluto da razão. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Um outro chamado à razão

Só que agora doutro tipo, pois novo ano político começou na propaganda eleitoral. Cada um desses começos representa a fase dos maiores pesadelos da classe média. Falar em fase de maiores pesadelos não exclui a classe baixa, de pesadelos o ano todo.

Bom, mas a que fase se refere quem diz isso?

Trata-se do período de matricula nas escolas da democracia dominante e aquisição do material escolar. Ufa! Que tempo esse, que sufoco de pouca grana e muitas lojas... Candidato a querer comprar voto, eleitor a querer preço melhor.

Correria desenfreada pelo comércio das consciências, com listas quilométricas de tudo que diz respeito, fitilhos, papel celofane, sede, acetinado, aluminizado, atravessando tubos de tinta com os dedos, pincéis atômicos, lápis, canetas, cartolina. Porém as rédeas da égua parecem escapar das mãos da gente estúpida, sacolejando rasantes as ancoretas no cascalho das grotas, deixando pensar que nada mudou nas novas regras da educação nacional.

Quem reclama em casa e deixa de reclamar na rua, nada diz, aborrece a patroa e o patrão. Buscar as mobilizações, praças de maio, a defesa da cidadania, quem chega de lá que descreve.

Há necessárias defesas do bolso de quem sofre viver trabalhando para sustentar o padrão e pagar as taxas e prestações, férias dos meninos, pensões, consórcios, supermercado, parque de diversão, o escambau a quatro, coisa e tal.

Procurar a quem, diga logo. Dormiram muito de lado, afundaram o colchão de espuma e perderam o bonde da história. Em algum reino distante do passado, haverá fórmulas menos drásticas, mais gloriosas, de encaminhar gerações que se sucedem.

domingo, 21 de agosto de 2016

Querer o bem

Diversos caminhos todo tempo indicam alternativas. No entanto só interessa chegar aos pontos essenciais. Jamais agir à toa, com isso que passa a significar força vital que existe; deixar de lado os verbos da indecência e abrir espaço no prazer de agir dentro do respeito mútuo, o que vale a pena, sobremodo perante as portas abertas. Escolher o valor da Verdade. Esquecer ausências de sentido desse chão das almas. Largar lá longe o desejo de usar velhas práticas que doem além de machucar, fora de produzir resultados favoráveis momento algum. Face ao poder da força ao dispor das criaturas, luz das energias vitais adotar a prudência do querer o bem, na precisão de sentir o gosto das respostas boas. Norma de vida honesta e sadia, desde o alimento, a usar as boas práticas. Fugir ao desânimo, janelas de abusos e incompreensões. Lembrar os outros quais irmãos e abraçar as causas justas em vista da importância de mudar o panorama da época torta. Quantas oportunidades jogadas na lama. Selecionar com precisão os instrumentos de transformar o desnecessário em chances. Evitar repetir comportamentos de tempos tumultuosos, escuros. Noutras palavras, amar, amar através do exercício das elaborações em satisfação do viver feliz. Qualificar a história. Tender aos aspectos positivos da existência tal definição do enigma desse ginásio que aqui viemos cursar. Ver com olhos limpos as maravilhas da natureza mãe quais protagonistas da renovação. Adotar recursos precisos sob o prisma de sabedoria e bom senso. Mais que nunca, agora isto se revela necessário, na trilha da história o jeito individual do que fizermos, eis a parcela inevitável de construir um mundo superior. 

sábado, 20 de agosto de 2016

Alegria qual fator de sobrevivência

A todo momento vem a urgência de uma visão positiva da realidade qual fator inevitável da sobrevivência. Isso por conta das demandas negativas que ainda preocupam, quando isso nem procura. Nuvens de desencontros sujeitam a barra dos dias. No próprio relacionamento com os demais, nódoas de incompreensão e aflições diante do enredo cotidiano que fustiga o humor a ponto de criar bichos tortos pelas frestas do tempo.

Daí ser importante ser feliz numa vocação pouco utilizada. Bloquear o senso de agressividade, numa certeza firme da precisão de sorrir aos dissabores. Interpor gosto pelos bons instintos, livre das situações. Isso até parece meio irresponsável, porém sábio. 

Olhar o Universo de olhos limpos, eis a condição para evitar dissabores, desavenças, abusos. A depressão, na opinião corrente, virou o mal da atualidade, covardia moral no papel de vítima. Erguer a mente para cima da linha do horizonte, porquanto acontecerá nas áreas do cérebro encarregadas de gerar a satisfação. Longe de apenas pensar no bom, viver o que é bom no instante presente, a base da positividade.

Por isso, trabalhar nos detalhes o momento seguinte. Saber e praticar, norma primeira da alegria. Querer e poder, nas providências. Pequenas doses de bom humor representarão saúde, paz e resultados produtivos dos pensamentos e sentimentos, quando é o sujeito responsável pela visão existencial.

Com isso, sendo o método da permanente felicidade ocasionar os filmes de qualidade boa, no firmamento individual se produzirá a peça da vontade positiva, primeiro na pessoa, depois na sociedade inteira. 

Esta a ideia principal do comentário, aprender na experiência que querer bem, pensar bem e agir bem resultarão na força da alegria, matéria prima do sucesso.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Luzes no sentimento

Diante das tormentas deste chão, lá um dia adveio o senso do amor no peito dos desesperados habitantes do desconhecido. Chegou com vontade de permanecer a fim de transportar a outra dimensão aquilo esquecido nos romances antigos. Interrompeu todo o processo de decomposição da civilização e abri espaço aos sonhos mirabolantes. Espécie de estranho no Paraíso, ainda assim clareou almas e refez o desejo de esperar a vinda do novo. Concretizou as profecias do Messias em forma de amplas possibilidades que de verdade mudaram tudo. Nisso, aqui os degredados rumam ao futuro. Reúnem derradeiros troços e entram no comboio das estrelas. Talvez cautelosos, saudosos, sei lá, refeitos no entanto através dos impulsos da fé. Sobreviver conta qual motivo soberano de trabalhar o mal e o bem no território do coração, raias do sentimento. As criaturas nisso investem o Si Mesmo, somam derradeiras economias e jogam na casa principal do tabuleiro. 

Cruzam, sim, os limites da impossibilidade. Atravessam as raias do tribunal da Consciência sem querer mais culpar a si nem aos demais. Mera dança cósmica de salvação, resta só intacto o momento. Recolher as gentes e deixar amigos escolher entre ficar ou desaparecer. Força viva de acreditar acima do horizonte, contudo alimenta os velhos planos da arte de erguer monumentos a deuses eternos.

Justo na ocasião de partir significa dias atuais, quando alguém dentro de si carece aceitar o trilho do Infinito e deixar o invisível conduzir aos séculos doutras horas imortais. A festa do Eu que já se aproxima impressiona pelos modos até hoje improváveis que disseram fosse. Deixar porém as notas dissonantes contar e prever o quê da realização de Si. Permitir prevalecer essa vontade imensa de subjetividade, invés das entregas rudes aos seios secos da matéria inerte.

Um salto de charme e conhecimento receber de bom grado as luzes que forneçam os elementos da felicidade real, permanente, perpétua. Tudo muda. A Vida permanece.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Amar é assim

A força de viver que tudo arrasta, isso é amar. O poder infinito que revela o pulsar da Criação, fulgor de todos os sóis reunidos numa estrela única, temperatura que aquece corações em chama, razão do Universo. Força exponencial, propulsão das máquinas, trepida em proporções cósmicas ao tronco das árvores e circula livremente as cavernas do mistério. Ele, o amor, razão primeira que move as circunstâncias e preserva as existências. O amor que supera, sobrevive e transcende a dores dos corpos. Ele, o princípio único das leis e das filosofias. 


Estado de graça dos santos, refulgir das estrelas, esplendor das alvoradas, cores dos firmamentos em festa, o amor preserva adiante milhares de sonhos e os planos de elaboração dos deuses. 

Olhos acesos da virtude, ele mostra a face leve das violas nos pingos misteriosos da felicidade. 

Bem maior de todos, alimenta de luz as consciências. Revela os segredos aos sábios. Inspira os gênios. E resiste às intempéries da ingratidão. Amor dos amores, inteligência dos sentimentos, sentimento das inteligências. 

Acordes dos menestréis nas mais noites sombrias e seus amores, tons das tintas iluminadas da Renascença, motivo dos poetas, conter das emoções que explodem o peito dos apaixonados. Amor, símbolo da Perfeição, justificativa dos mártires, guia dos peregrinos pelos caminhos inevitáveis da Luz. 

Metal das vozes que cantam as fervorosas procissões, lâmpada dos oceanos, amor e persistência do mundo. Amar e sofrer, sofrer e amar, braços da mesma cruz que os humanos transportam nas estradas.  

Claridade, harmonia, alegria; amar, que mata a morte e supera fatalidades, subverte corações e salta aos olhos dos amantes a porta da Salvação. 

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Crise e oportunidade

Àqueles desenhos da escrita chinesa chamam ideogramas. Pois bem, o mesmo ideograma que os chineses utilizam a significar crise também significa oportunidade. Porquanto difíceis, as crises oferecem meios de mudança que transbordam de novas possibilidades. Desgarrar da praia levará ao mar profundo. Sair da flor das águas e achar os recantos íntimos do largo oceano, eis a lei fundamental da coragem de fazer acontecer. Sair, transferir as perspectivas de dentro ao horizonte. Erguer os olhos ao seguimento dos acontecimentos. Deixar ferver de dentro a pressão das transformações quais razão da sobrevivência. 

No entanto raramente essa leitura é feita diante dos dramas humanos. De comum evitar o luto passar a representar apego desesperado aos postulados que o Tempo impõe e disso queremos fugir a todo custo. Há, na aceitação das contingências, o conforto da aceitação, a entrega incondicionada. Passo a passo crescem as estradas, os destinos. E que justificaria o confronto das determinações que impõem só pequenas modificações no fluir das normas?! 

Nietzsche deixa bem claro quando afirma: - Incrível a força que as coisas parecem ter quando têm que acontecer. Por que, então, restringir as ocorrências às próprias determinações, conquanto quase nada do que podemos consta do cardápio do futuro?! Fluir, verbo das horas sem fim.

Igualmente o gosto do inesperado, a riqueza da inspiração dos artistas e gênios. Menos esperar e vem logo a correnteza da história e determina o pulsar dos corações. Demasiados exemplos de casos fortuitos e força maior a todo o momento ocorrem. Ansiedade maior não existe além do instinto de vencer o desconhecido do depois, porém restrita à marca das crises. Daí o imenso poder de respeitar a força dos acontecimentos e a ela prestar reverência. Convicções permitem que seja desse modo, nas fibras do coração. Acrescentar sentimento aos pensamentos e vibrar com emoção o querer do melhor. Viva a fé e o agir com amor!

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Na paz desse olhar

Limpa de mim toda mágoa, alimenta os novos sonhos do meu coração. Traz as bênçãos dos dias plenos que abrem a luz do horizonte. Nutre de amor os que anseiam carinho. Oferece tranquilidade aos caídos, esperança aos feridos, força e fé nos relacionamentos humanos. Consciência aos homens do poder. Cura aos doentes. Mitiga as dores que ferem as almas culpadas. Piedade, misericórdia aos ditadores, aos carrascos e terroristas. Leveza aos truculentos. Paciência aos que padecem o desespero. 

Abre os caminhos aos perdidos. Honestidade aos políticos, persistência aos eleitores. Força aos que trabalham. Inteligência aos cientistas que pesquisam o futuro da Humanidade. Humildade aos donatários da justiça. 

Aos quantos que abrem o espírito à imortalidade e aceitam o sentimento da reencarnação, mostra sempre mais dos mistérios infinitos da Natureza. Clareia os céus da boa vontade aos ricos, aos detentores da força das armas. Desses teus olhos iluminados que venha a renovação dos dias que sucedem. Que as histórias sejam boas, que os benditos dos crentes surtam o efeito da bondade divina. Que jamais desapareça a solidariedade no coração de todos nós, espelhos da infinita graça da Eternidade. 

Fidelidade aos que espalham as notícias nos meios de comunicação. Habilidade aos cirurgiões, amabilidade aos enfermeiros, fervor aos religiosos. Constância aos casais, aos pais, aos filhos. Imensidão fiel aos que se amam. Veemência aos administradores e seus operários na execução da tecnologia e crescimento do progresso. Partilha ao pão, respeito aos recursos naturais. Aproveitamento da energia solar, fonte limpa e renovável que ainda espera decisão dos países em beneficiá-la com sabedoria. 

Perdão aos arrependidos, coragem aos que querem refazer seus passos nesse chão de provas. Amizade e sinceridade aos irmãos de todas as línguas e todos os credos. Reverência aos imprudentes e agressivos. Cordialidade aos que desempenham cargos públicos. Tudo de bom a todos que respeitam a sempiterna coerência dos fenômenos da Criação. Amém.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Falar de luz e paz

Das principais características dos dias tempestuosos é que um dia passam, e vem a bonança, qual o povo diz com tanta propriedade. Desse jeito são os textos às mãos dos que escrevem; chegam fortes, cheios de furor, adiante renascem calmos, tais manhãs de sol. Este, por exemplo, quero que venha dotado de leveza, penugens de samaúma nos estios. E que fale de coração tranquilo, alma lavada após torrentes de emoção. Tratar de sorrir, reconstruir a caminhada de incertos passos. Traduza canções que falem de serenidade, amor, momentos da infância alegre que guardo comigo. Pisar maneiros pastos ainda molhados do sereno, em meio a animais inocentes. 


Bom, que dizer quando o coração felicita, corre de novo as trilhas perfumadas e os sonhos auspiciosos?! Que doces abraços das crianças em festa. Olhos fixos no desejo de saber mundos bonitos, sinfonias afáveis e claridade no sentimento. Isto de bom que a vida oferece na forma de sucesso, quando acontecimentos conspiram a nosso favor e a mão invisível afaga nossa cabeça em gesto de puro carinho. Colher, pois, flores da esperança do que plantamos belo dia. 

Daí a lição de confiança que ensina o mistério. Silenciar as vencidas ilusões e receber direito de paz no íntimo. Amar com a intensidade que a alma possui. Frases simples, curtas, que digam do infinito em nós. Pousar a ansiedade nas praias ensolaradas de palavras livres e sons abertos.

Quis falar de outros padrões de pensamento e sentimento, ser positivo, de afirmações sinceras. Abraçar amigos com animação e fidelidade. Há uma história que nunca estacionará. Avenidas de luz que abrem chances de recomeços e oportunidades. As águas revoltas seguiram ao mar sagrado. 

Bom dia, de trabalho honesto e sabedoria!

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Tudo é santo

O deslizar das notas musicais no sopro do vento traz à noite elementos de única página que soma tudo quanto há. Desde gotas invisíveis do orvalho que voam no escuro, seres circulam as matas misteriosas da escuridão. Alentos, sinais luminosos do céu indicam os dotes do Infinito. 

Única chance de salvação do inevitável das horas, os párias da dor carregam consigo esses farnéis das ilusões. Olham uns aos outros na parceria dos movimentos. Uns vão agora, outros irão logo adiante ao mesmo corredor do desconhecido. Ninguém que se preze alimenta eternidade em si, porquanto jamais se nasceu para se ser semente. Desejo, sim, todos têm, uns mais, outros menos. No entanto meros protagonistas da inconformação. 

Ainda assim tudo é santo, desde mínimas quanto máximas ausências, tudo santo, mágico, sublime. Levas de objetos a percorrer o espaço deste sonho, a santidade a tudo sobrevive na alma do mistério. Lá dentro nas camadas abissais da infinitude, o eterno grita poemas ao som das ondas e do silêncio.

Nós alimárias que observam e passam, sentem permanecer o definitivo, e disso clama sóis da permanência. Elevam aos céus vozes da clemência e reclamam sorte de vencer a morte que espreita. Estendem braços ao cântico suave da perfeição que ainda necessitam. 

Destarte, face à santidade que revolve fibras do coração, moram os deuses que somos e saberemos aceitar no futuro. São as portas da permanência que revira e sofre. Uns nem sabem que irão, animais sem razão. Outros apenas somam dias e olham apreensivos a velocidade quais fantasmas impacientes do tempo imortal.

Contudo, há santidade, sim, no transcorrer das gerações... Nunca haverá nunca, segredo que mora junto às notas musicais da Natureza.

Os enigmas da dor

Nem sempre é o que se quer ver, mas o que a verdade quer mostrar. Perante tais pressupostos, ele saiu a caminho da Luz, o emissário da dor. Levava consigo poucos instrumentos, porquanto pesava na bagagem o cilindro de aço bem lacrado onde mantinha a dor acondicionada, seu principal sentido de andar. Acordou cedo e fez estrada. Sempre de olhos fixos nas surpresas das estradas, entrou passo a passo no pavilhão imenso das ruas daquela gente. Sabia, no entanto, que aquela dose de dor que transportava tinha um destinatário certo. E buscou, quase ao estilo dos relojoeiros, dos mergulhadores de pérolas, o dono dela. Jamais erraria contar com isso, achar a pessoa. Perlustrou multidões, atencioso e longe dos outros que pudessem não ser a quem o cilindro destinava.

Até que, então, feito os caçadores das histórias de florestas medievais, lá avista o homem certo bem no lugar certo. O herói da mensagem ali à sua frente. Figura espectral, forte, desenhada nas dobras do pensamento clínico do emissário. Chegou leve, assim ingênuo, indiferente ao que viesse. O protagonista dele se aproximou, costado a descoberto, e fez a pausa suficiente de receber o prêmio. Naquele instante, rápido qual soldado das estrelas, acertou o alvo à frente. Correto semelhante ao voo das aves dos finais de tarde, ferira com precisão o herói da jornada.

Cumprira com justeza a missão destinada só aos eleitos. Realizara o desejo do destino feito máquina inevitável. O destinatário do objeto que transportara com tamanha matemática enfim lhe arquejava aos pés, imagem perfeita da solidão iluminada pelas primeiras réstias do Sol. Um gigante atordoado de lágrimas, olhos esbugalhados e gritos na garganta. Guerreiro fendido pela navalha de todos os metais, sangrou até quase o fim, sem, todavia, rejeitar que devesse haver de viver aquilo. De bom grado abraçou o os estilhaços que ainda vagavam soltos no espaço do coração arrebatado. Reuniu as forças imagináveis e desfrutou o benefício da dor em vórtice de absoluta felicidade.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Houve lá um dia

Sim, e naquele dia tudo começava o movimento de sobre a terra dos homens. No entretanto de árvores e outros animais, aquelas feras feridas correriam soltas mundo afora na cata do alimento feitos caçadores de si mesmo. Daí, seguiram espécies de macacos sem pelo, porém dotados das ardilosidades que ainda hoje sacodem os becos e por baixo dos viadutos. Gente sorrateira, desconfiada, às vezes sabida, que tange rebanhos de búfalos nas montanhas rochosas, sem, contudo, conter a sanha de correr mundo na invasão do petróleo dos demais, das melenas cheirosas das damas aquinhoadas pela beleza que a outros convêm. Levam, contudo, no bolso dos casacos, a catinga perfumada artificialmente nas bocas de fumo, nos lixões e nas latas de betume das latrinas.

Eles, os homens, nós, os macacos aprimorados nas bolsas de valores, vamos aqui tangendo o que houve lá um dia, de corações endurecidos, outrossim alimentados de sentimentos revirados, aquinhoados nas propriedades dos outros e à força nos pleitos eleitorais de cartas marcadas. Dotados, sim, de artimanhas esquisitas, cacoetes e manias adquiridas no passo das tartarugas e dos grous centenários, eles, nós, os outros de nós, as velhas feras dos supermercados da origem, esfomeados de desejo, gananciosos sacripantas de dentes limados nas noites de horror, vivem dramas cruéis de pecados. Dançarinos que aguardam o troco das ações equivocadas, vamos abaixados, tais mariposas clandestinas, enfeitiçadas na luz da ilusão. Entocados pelo pó das sandálias que cheiram todas, vomitam bêbados as farras siderais do eterno.

Bom, é isto, falar dos leões envilecidos das savanas africanas durante as guerras de libertação e extermínio, dessas vítimas ambulantes que nós somos de um dia que houve em algum lugar neste universo das tantas maravilhas, significa olhar as madrugadas ensurdecedores de luz alaranjada e dormir sobre contos antigos que insistem mexer em nosso apetite nefasto de canibais inveterados.  

Quantos e tantos desses bípedes sorrirão antes do nascer do Sol de amanhã cedo só Deus sabe e saberá...