Li certa vez, na revista Seleções, a história de um lobo-rei, espécie rara existente nos Estados Unidos, de tipo graúdo, muito esquivo e feroz, que principiou a dizimar os rebanhos de determinada região daquele país. Dada a sagacidade do animal, o esforço de vencê-lo tornara-se obsessivo, porém inútil. Nesse clima de repetidas ameaças e destruição, assustados, os rancheiros da redondeza cuidaram de montar intenso plano de mobilização, a fim de liquidá-lo a qualquer custo.
Muitas armadilhas ficaram espalhadas em pontos estratégicos da
circunvizinhança; todo tipo de mecanismo, possível e imaginável; artimanhas
diversas se utilizou, sem produzir, no entanto, quaisquer resultados efetivos.
Unidos, os perseguidores seguiam à risca cada rastro da fera, enquanto
seus estragos prosseguiam nas fazendas, gerando sérios prejuízos à atividade
agropastoril do lugar. Em muitos momentos, eles quase chegaram no seu encalço,
dias a fio, ainda que nada de concreto obtivessem.
Após vários meses de investidas, os caçadores descobriram, numa
montanha distante, a caverna que servia de refúgio ao lobo e sua companheira,
local que lhes protegia da implacável perseguição dos vaqueiros.
Numa noite, enquanto o parceiro saíra à cata do alimento, a fêmea
permaneceu na furna, aguardando seu retorno. Vieram os homens que agiram com
rapidez, aprisionando-a, imaginando desse modo fazer a coisa ideal. Contudo isso serviu apenas para
espertar ainda mais o lobo, que acrescentou seus ataques ao gado das fazendas,
intensificando o terror que imperava. Debalde os caçadores vigiaram a sua volta.
Como o passar do
tempo, todavia, ao notar a prisão da companheira, o lobo alterou seu modo de
agir, modificando pouco a pouco as rotinas de proteção que lhe preservavam,
cautelas infalíveis, e numa noite de lua, terminou por se entregar de frente
aos perseguidores, que o abateram com relativa facilidade, quando se aproximou
em demasia da jaula onde haviam posto a fêmea para lhe servir de isca.
Guardei muitos anos essa história, pois ela me despertou na busca das razões para tantos comportamentos da vida silvestre em que animais se manifestam qual motivados por senso moral superior, prenhes de emoções raras, enquanto nós, seres humanos ditos racionais, sobejas vezes, no cotidiano desta vida, agimos a níveis tão baixos, destituídos da menor civilidade, que envergonharíamos qualquer bicho bruto que pudesse nos avaliar.
(Ilustração: Floresta Amazônica).
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