sexta-feira, 12 de abril de 2024

Nós, por nós mesmos


De comum, planeja-se com empenho a perfeição individual, fruto das mensagens recolhidas nas religiões, do ensino dos grandes mestres, dos manuais de auto-motivação, que existem em profusão nas bancas de revistas, livrarias e templos. Colhem-se daqui e dali notícias do possível de cada um, na força da superação dos baixos instintos e começo de uma vida nova, o que convida à realização dos melhores dias, no rumo da sonhada felicidade.

Porém essa vontade constante de transformação de sonhos em realidades esbarra, vezes e vezes, nos limites da personalidade, nos hábitos antigos, arraigados costumes rotineiros, caracteres empedernidos na lei do menor esforço, acomodação e conformismo, modelos frouxos que nos impusemos ao nosso tronco, que, dizem, nasce torto e morre torto, da linguagem dos becos. Uns sonhos impossíveis, portanto, quer-se impor. Justificar a persistência nos descasos consigo próprios, outro método inútil, faminto e sem virtude.

Há, no entanto, as fórmulas válidas ao dispor dos que pretendem realizar, independente das sereias tentadoras do atraso.

Erguer-se nos próprios passos e determinar estradas novas ao deserto agressivo da mediocridade. Criar o incriado, no território íntimo do si mesmo. Reelaborar o instinto da salvação, no peito interno, e fluir outros metais liquefeitos, em formas antes inexistentes.

O que distingue os inertes dos realizadores será, por isso, a coragem de ousar. A matéria prima sempre se compara; carnes, sangue, ossos, vida. O que muda, apenas, o eu que comanda, o indivíduo. Jamais haverá dois “eus” iguais entre os seres. Ainda que clonadas, as ovelhas saem sozinhas do ventre que as pare. A natureza-mãe doa, constante, suas leis à vaidade dos homens, a deixá-los na doce ilusão de sábios e deuses, meros exploradores da ciência, aventureiros da razão.

Conquanto se desejem todos vitoriosos, a queda participa das jornadas diárias desses seres viventes humanos, o que indica valiosa lição de humildade. Ninguém queira exclusividade só nos acertos, pois habitando este chão vive o risco da queda. A força desse conceito reserva, a seu modo, um aprendizado claro. Sabedores falíveis, a diferença representa a capacidade em refazer os caminhos e começar outra vez a viagem. Da tempestade à bonança, retomar o fio da meada e dar a volta por cima.

Aula das gerações, desistir do que vale a pena demonstra fraqueza. Já que cair é lei da vida, ter forças para se levantar e recomeçar, eis a grandeza que simboliza a essência de nós mesmos. Que sejam, pois, garra e persistência em tudo o que se proponha de bom os motivos principais de construir a história desta vida rica de tantas variações e sonhos.

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