De comum, planeja-se com empenho a perfeição individual, fruto das mensagens recolhidas nas religiões, do ensino dos grandes mestres, dos manuais de auto-motivação, que existem em profusão nas bancas de revistas, livrarias e templos. Colhem-se daqui e dali notícias do possível de cada um, na força da superação dos baixos instintos e começo de uma vida nova, o que convida à realização dos melhores dias, no rumo da sonhada felicidade.
Porém essa vontade constante de
transformação de sonhos em realidades esbarra, vezes e vezes, nos limites da
personalidade, nos hábitos antigos, arraigados costumes rotineiros, caracteres
empedernidos na lei do menor esforço, acomodação e conformismo, modelos frouxos
que nos impusemos ao nosso tronco, que, dizem, nasce torto e morre torto, da linguagem
dos becos. Uns sonhos impossíveis, portanto, quer-se impor. Justificar a
persistência nos descasos consigo próprios, outro método inútil, faminto e sem virtude.
Há, no entanto, as fórmulas válidas
ao dispor dos que pretendem realizar, independente das sereias tentadoras do
atraso.
Erguer-se nos próprios passos e
determinar estradas novas ao deserto agressivo da mediocridade. Criar o
incriado, no território íntimo do si mesmo. Reelaborar o instinto da salvação,
no peito interno, e fluir outros metais liquefeitos, em formas antes inexistentes.
O que distingue os inertes dos
realizadores será, por isso, a coragem de ousar. A matéria prima sempre se
compara; carnes, sangue, ossos, vida. O que muda, apenas, o eu que comanda, o
indivíduo. Jamais haverá dois “eus” iguais entre os seres. Ainda que clonadas,
as ovelhas saem sozinhas do ventre que as pare. A natureza-mãe doa, constante,
suas leis à vaidade dos homens, a deixá-los na doce ilusão de sábios e deuses, meros
exploradores da ciência, aventureiros da razão.
Conquanto se desejem todos vitoriosos,
a queda participa das jornadas diárias desses seres viventes humanos, o que
indica valiosa lição de humildade. Ninguém queira exclusividade só nos acertos,
pois habitando este chão vive o risco da queda. A força desse conceito reserva,
a seu modo, um aprendizado claro. Sabedores falíveis, a diferença representa a
capacidade em refazer os caminhos e começar outra vez a viagem. Da tempestade à
bonança, retomar o fio da meada e dar a volta por cima.
Aula das gerações, desistir do
que vale a pena demonstra fraqueza. Já que cair é lei da vida, ter forças para
se levantar e recomeçar, eis a grandeza que simboliza a essência de nós mesmos.
Que sejam, pois, garra e persistência em tudo o que se proponha de bom os
motivos principais de construir a história desta vida rica de tantas variações
e sonhos.
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