A inocência dessa folha em branco, à minha frente, no mínimo realça o gosto travoso de caju na boca do estômago. Algo semelhante a ondas que persistentes parecem me devorar por dentro, sentimento ou pensamento de ser vivo que se mexe por si só. As palmas nervosas das carnaubeiras sacudidas no Poente, retalhos de crônica antiga, acenam aos meus instintos, pondo iscas miúdas aos derradeiros raios de sol, pássaros em seus voos apressados na busca aflita do pouso noturno.
Nisso, a vontade antiga de querer contar coisas guardadas nos sonhos que se revelam de manhã cedo, pedaços de enigmas não resolvidos, restos de naufrágio que chegam a uma praia deserta, ignota, lenços acenados à distância, nas estradas vesgas do futuro.
Figuras amarelecidas de gestos insistentes permanecem jogadas nos cantos da memória, certezas de outros universos, porém jamais demonstrados com a pontualidade necessária que acalme o frio das ausências de um sentido pleno.
As folhas de zinco da dúvida, portanto, aproveitam esse tempo vago das convicções e invadem a sala de jantar da memória com ilusões agressivas e comportamentos alucinados, tentações soltas que voltam à vitrine dos dias. Os poços de lama das primeiras chuvas do Verão refletam as nuvens avermelhadas do Nascente.
Quisesse dormir sempre e pouco restaria de prosa para encher os cadernos de viagem, nas idas e vindas da esperança.
Desde ontem, a espiral da vida forma seus calendários a encobrir os primeiros vestígios do alvorecer. Brisas suaves, frias, enovelam os códigos e sacodem as árvores próximas. Pastos verdes conduzem, pois, reses que deixam o curral. Ninguém mais aguarda chegar notícias e profecias, depois que vulgarizaram dizer serem do tamanho da perfeição que controla a presença das certezas nas pessoas humanas.
Por conta dessas aparências enevoadas, notas estridentes agora comprimem os tons harmônicos das esferas, lá adiante, e pouco a pouco os fiéis resistem aos desejos que passam no tempo. Querem, a qualquer custo, novidades, contudo impõem condições para as receber.
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