Quem escreve, ao reler o que publicou depois de algum tempo,
nota o quanto de modificações se evidenciam no que lhe passava antes pela
mente. Assim, de meus primeiros textos publicados, lá na segunda metade dos
anos 60, no jornal A Ação, em Crato, vi um instinto diferente de encarar a
realidade entre aquilo que hoje avalio do que vivi e ora vivo. Quando reuni a
produção da época, em torno de 50 crônicas publicadas numa coluna (Páginas
da Vida), encontrei espécie de intranquilidade febril que, de logo, hoje
chegam quais reações aos valores e acontecimentos em alguém restrito só às
incertezas políticas e à inexperiência de um adolescente desavisado. Daquilo
até pensara editar em livro, porém contive a pretensão face ao quanto hoje vejo
diferente, com outro sentimento, outras interpretações menos agressivas e
dolorosas.
A escrita transmite bem esse querer dizer do que acontece
dentro da gente, os impulsos, as percepções, sentimentos, lutas, pendores, a
significar espécie de relatório da alma na vontade explícita de chegar a
outros.
A propósito, também assim traduzem as cartas que trocávamos
entre os amigos, único instrumento acessível de vencer as distâncias. No
período, inclusive, prevalência apenas o correio, a manter os relacionamentos
intelectuais e minorar as ausências. Entre aquelas pessoas próximas e de
interesses semelhantes, contava, entre outros, com Tiago e Flamínio Araripe,
Assis Sousa Lima, Pedro Antõnio Lima, José Esmeraldo, os mais aproximados. E em
2020, de São Paulo, Assis Lima, que conservara esse material, reuniu as
correspondências desses amigos e editou bela produção, Cartas da Juventude,
obra inesquecível para nós e documento vivo de uma fase daquela geração
empedernida, contestadora, que teve o cuidado minucioso de conservar inteiro e
a sapiência de publicar em rara iniciativa antropológica.
O texto alimenta, nisto, as relíquias incontestes dos tempos
atuais. Tal qual as músicas e fotografias, representa monumentos valiosos da
paleontologia das gentes, disso a importância dos livros e outras publicações
durante as eras que fogem sem cessar. Sempre que me vem oportunidade, incentivo
a quem escreve de reunir sua produção em edições, tão possíveis nestes dias
tecnológicos de fácil acesso. Lá adiante irão agradecer a si próprios pela
iniciativa.
Valeu a lembrança, amigo! Memórias do ontem no hoje, a vida se fazendo no instante presente.
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