Nas suas origens, a cidade surgia como solução dos problemas de uma humanidade solitária, assustada em face das intempéries naturais. Quando os seres humanos notaram que a ordem individual das pessoas precisava encontrar alternativas comuns para seus problemas, naquele momento decidiram abrir mão dos valores da paz pessoal em nome da formação dos aglomerados coletivos e seguros.
E agora, transcorridos milênios de experiências, o que vemos
são essas cidades lotadas de interrogações quanto a um futuro melhor, onde os
dramas de que as pessoas fugiram ao deixar a selva apresenta face talvez tão
pavorosa quanto no início da grande aventura social.
Às portas das residências urbanas batem hoje demandas de tão
difíceis respostas que agoniam o espírito moderno como garras afiadas a pescoços
descobertos. Em velocidade estúpida, o crescimento desordenado das populações já
invade áreas de risco inadequadas e inóspitas; a construção de moradias anda a
passos lentos em relação ao número de habitantes; as distâncias impõem milhões
de transportes que abarrotam vias de circulação e tornam lentos os percursos
entre a casa e o trabalho; a sobrevivência reduz conceitos morais em níveis
jamais suportados de perversão, ocasionando guerra de classes e desconfiança
mútua entre as pessoas, num somatório desordenado de vícios e violência, na coletivização
da insegurança e da promiscuidade, tudo levando de roldão o sonho dourado da
paz às raias de pesadelos e desencantos avassaladores.
Diante disso, os caminhos da política, velha reserva das
respostas negociadas na praça pública, tornam-se tortuosos e ineficazes para
oferecer frutos doces de honestidade a que se propunham nos primórdios.
As cidades, em consequência disso, acordam, dia após dia, na
longa fila de espera dos novos meios promissores, e a natureza humana apenas amargura
pela vida o descumprindo de seu papel de aprimoramento em grupo na força da
paciência e da esperança.
Sob este impacto de mais desafios do que de satisfação segue
o barco da história, a repassar às outras gerações aquilo que caberia aos
contemporâneos resolver com habilidade, concluímos a título de um diagnóstico
antes das soluções urgentes necessárias.
(Ilustração: Crato, subida do Seminário São José).
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